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CAPITÃES DA AREIA (1937)

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Prof. André de Freitas Barbosa
Análise literária
CAPITÃES DA AREIA (1937)
Jorge Amado (1912-2001)
A obra revela um idealismo de raízes românticas ligado à
literatura engajada da década de 1930. Na abertura, o livro
apresenta 5 cartas fictícias: assim, o jornalismo se alia à ficção. O
gênero romance se mistura ao epistolar e ao jornalístico. A
estrutura é episódica e dividida em 3 partes, colocadas após as
fictícias “Cartas à redação”:
“Canção da Bahia, canção da liberdade”
- Os líderes do bando seguem suas vocações; Sem-Pernas morre;
- Pedro Bala se torna um importante líder popular.
GÊNEROS, INFLUÊNCIAS E ESTRUTURA
“Sob a lua, num velho trapiche abandonado”
- Apresentação de Pedro Bala e explicação de sua liderança;
- O carrossel de Nhozinho França (reconhecimento da infância);
- O surto de varíola (morte de Almiro).
“Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos”
- Surgimento e ascensão de Dora (crimes e amor com Pedro Bala).
Um ambiente de sincretismo
A Justiça se mostra indiferente aos meninos, só se
preocupando quando importunam alguém importante.
A Igreja também não se mostra preocupada com os
Capitães da areia; somente o humilde padre José
Pedro se interessa por eles.
A Imprensa é porta-voz de problemas relacionados
aos Capitães da areia; mas o espaço dos jornais é
sempre utilizado para acusá-los.
Todos os meninos se mostram envolvidos com o
folclore e a religião da Bahia. Ao mesmo tempo,
relacionam-se com o padre José Pedro e a mãe-de-
santo Don’Aninha (exemplo de sincretismo religioso).
Poderes opressores
Narrador – 3ª pessoa onisciente, mas com uma
perspectiva parcial, favorável ao ponto de vista
dos meninos.
Tempo – contemporâneo à escrita (meados da
década de 1930). Predomina o tempo
cronológico, com recorrências ao psicológico.
Espaço – o principal cenário é o trapiche; há,
ainda, o Corredor da Vitória, área rica assaltada
pelos meninos delinquentes. Os cenários são
claramente opostos.
Dados estruturais
Pedro Bala – jovem loiro, marcado com uma cicatriz no rosto.
Era o chefe do bando, do qual saiu para comandar os Índios
Maloqueiros de Aracaju (Barandão tornou-se o novo líder).
Depois, Bala ficou conhecido por organizar greves, sendo
considerado um perigoso inimigo da ordem.
Professor (João José) – dotado de grande inteligência, planejava
os assaltos do bando. Depois de muito tempo, aceitou um
convite e foi pintar no Rio de Janeiro.
PERSONAGENS PRINCIPAIS
João Grande – negro alto e forte. Quando chegavam pequeninos
cheios de medo, era escolhido seu protetor. Ao sair do grupo,
tornou-se marinheiro.
Dora – única mulher do grupo. Conquistou todos, como uma mãe
ou irmã; para Bala, porém, era uma noiva.
Gato – malandro puro, mantinha um caso com a prostituta Dalva.
Tempos depois partiu para Ilhéus, onde se tornou um conhecido
criminoso, aplicando diversos golpes.
Sem-Pernas – coxo, agressivo e individualista. Entrava nas casas de
família fingindo ser um pobre órfão. Suicidou-se atirando-se do
parapeito do Elevador Lacerda, ao ser encurralado pela polícia.
Volta-Seca – afilhado de Lampião, era um sertanejo autêntico. Chegou a
integrar o cangaço.
Outros personagens
Pirulito (Antônio) – tinha vocação religiosa e se atormentava com a
criminalidade. Seguiu a fé católica, tornando-se frade.
Boa Vida – outro malandro nato. Gostava de tocar violão, compor
sambas e contemplar o mar e os barcos. Sobreviveu à varíola (segundo
Professor, tinha “uma estrela” no lugar do coração).
João de Adão – estivador e antigo grevista. Através dele, Pedro Bala
soube de seu pai, que morrera baleado numa greve. Ao lado do pescador
Querido-de-Deus, desfrutava da total confiança dos meninos.
A VARÍOLA: símbolo do abismo social
Numa epidemia de varíola (“alastrim” ou “bexiga”)
surge a acusação dos males da riqueza: os ricos da
cidade alta têm vacina, mas o pobres sofrem no
lazareto. Do bando, morre o menino Almiro. Boa
Vida, depois de quase morrer, volta ao trapiche, pois
no lazareto quase ninguém se curava.
Por tentar ajudar os meninos, o padre José Pedro
é acusado de “comunismo” e começa a se questionar
sobre a própria vocação religiosa. Neste ponto, a
narrativa faz um retrato crítico da Igreja, insinuando
que, como a polícia e a imprensa, ela é apenas um
instrumento dos poderosos.
O destino de Volta-Seca é impressionante: afilhado
de Virgulino Ferreira, o Lampião, ele se junta ao
cangaceiro, pois odeia a polícia e quer vingar-se dela,
bem como dos fazendeiros que roubaram a terra que
sua mãe tinha antes de morrer.
“VOCAÇÕES”
Esta parte descreve os caminhos distintos
tomados pelos membros do bando: Professor segue a
vida artística no Rio; Pirulito torna-se frade; Boa
Vida é mais um malandro. Gato vai para Ilhéus com
Dalva, sua amante, para especular com terras alheias.
Pedro Bala se inspira no passado de lutas sociais
de seu falecido pai, Raimundo, e fica atraído pelas
atividades de João de Adão.
Jorge Amado recorre à linguagem coloquial, que aparece
geralmente nas falas de personagens (expressões populares):
- Tu não vai hoje ao Gantois? Vai ser uma batida daquelas.
Um fandango de primeira. É festa de Omolu.
- Muita boia? (...)
- Se tem... mirou Pedro Bala.
- Por que tu não vai, branco? Omolu não é só santo de negro.
É santo dos pobres todos.
O narrador se mistura ao discurso das personagens (discurso
indireto livre), o que constitui um recurso de onisciência:
O dono da loja tinha tantos Meninos, tantos... Que falta lhe
faria este? Talvez nem se importasse, talvez até se risse quando
soubesse que haviam furtado aquele Menino que nunca tinha
conseguido vender, que estava solto nos braços da Virgem (...).
COMENTÁRIOS – A linguagem de Jorge Amado
As tensões que movem a sociedade
latifundiária, em Vidas secas,
correspondem às tensões sociais das
grandes cidades, como a Salvador de
Capitães da Areia: eis o ponto de
contato entre os romances de Jorge
Amado e Graciliano Ramos. Ambos
denunciam a luta de classes e a crise
das instituições na Era Vargas (1930-
1945).
Intertextualidade
Prof. André de Freitas Barbosa 
Análise literária
Graciliano Ramos
(1892-1953)
VIDAS SECAS
(1938)
Vidas secas (1938) pertence a um gênero
intermediário entre o romance e o conto.
Não são apenas as personagens que se
ressaltam, mas também o narrador (em
discurso indireto livre), sempre objetivo e
enxuto.
A obra possui 13 capítulos quase
autônomos, ligados pela repetição de alguns
temas e situações, como a paisagem árida, a
opressão exercida pelos poderosos e a
brutalização dos oprimidos.
- Espaço – semiárido nordestino, sem indicação
precisa de município ou vilarejo. Vale muito mais o
papel opressor exercido por tal cenário do que o
cenário em si.
Dados estruturais
- Narrador – 3ª pessoa onisciente, com recorrências
ao discurso indireto livre.
- Tempo – predomina um enredo circular e, por
assim, dizer, atemporal.
- Sobre as personagens – como pouco falam, o autor
utiliza o discurso indireto livre:
“Então porque um sem-vergonha desordeiro se arrelia, bota-
se um cabra na cadeia, dá-se pancada nele?”
(cap.3 – Cadeia)
Personagens principais
Fabiano – chefe da família de retirantes, homem rude, grosseiro,
embrutecido, quase incapaz de expressar seu pensamento com
palavras;
Sinhá Vitória – mulher de Fabiano. Possui inteligência superior à
do marido, que a admira por isso;
Menino mais novo – quer realizar algo notável para ser igual ao
pai e despertar a admiração do irmão e da cachorra Baleia;
Menino mais velho – sente curiosidade pela palavra “inferno” e
procura se esclarecer com a mãe, já que o pai é incapaz; o
menino é um deslocado no mundo ao seu redor;
A cachorra Baleia completa o grupo de retirantes.
Representando a sociedade local, há o soldado amarelo, corrupto
e covarde. Tomás da Bolandeira (referido em memórias) era um
conhecido da família, homem relativamente culto, que sabia
empregar as palavras.
Capítulo 1 – Mudança
Temos a descriçãoda terra árida e do sofrimento da família de
Fabiano. As personagens não se comunicam; apenas o pai,
irritado com um dos filhos, xinga-o. A escassez de diálogos
permanece por todo o livro, como também a intenção de não dar
nome às crianças. Fabiano e Sinhá Vitória, porém, sonham com
uma vida melhor:
“Sinhá Vitória vestiria uma saia larga de
ramagens. A cara murcha de sinhá Vitória
remoçaria, as nádegas bambas de sinhá
Vitória engrossariam (...) Os meninos se
espojariam na terra fofa (...). A caatinga
ficaria verde.”
ESTRUTURA E RESUMO DOS 13 CAPÍTULOS
“Fabiano ia satisfeito. Sim senhor,
arrumara-se. Chegara naquele estado, com a
família morrendo de fome (...).
- Fabiano, você é um homem, exclamou em
voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam
perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o
falar só. E, pensando bem, ele não era
homem: era apenas um cabra ocupado em
guardar coisas dos outros.”
Capítulo 2 - Fabiano
Mostra o homem embrutecido, mas ainda capaz de analisar a si
próprio. Fabiano tem consciência de sua animalização: ele mal
consegue se comunicar com as outras pessoas.
Capítulo 3 - Cadeia
Aparece o soldado amarelo (autoridade governamental).
Também se insinua a ideia de que não é somente a seca que
oprime a pobre família. Fabiano é preso injustamente e passa a
analisar sua situação de homem-bicho. Mas desta vez não tem
mais coragem de sonhar com um futuro melhor.
Capítulo 4 - Sinhá Vitória
Se as aspirações do marido resumem-se em saber usar as
palavras adequadas, as de Sinhá Vitória se limitam a uma cama
igual à de Tomás da Bolandeira. Essa desejada cama será um
motivo diversas vezes repetido no decorrer da narrativa.
Capítulo 5 - O Menino Mais Novo
Ele também possui um ideal: ser igual ao pai. O início do
capítulo já diz: “Naquele momento Fabiano lhe causava grande
admiração.”
Capítulo 6 - O Menino Mais Velho
O nível dos desejos dos membros da família decresce cada vez
mais. O ideal do menino mais velho é o de ter um amigo e ser
compreendido. A cumplicidade da cachorra Baleia já lhe servia.
Capítulo 7 - Inverno
Temos a descrição de uma noite chuvosa e os temores que
desperta na família de Fabiano. A chuva inundava tudo, quase
invadia a casa deles; porém, todos sabiam que dentro em pouco a
seca tomaria conta de suas vidas novamente.
Capítulo 8 - Festa
Apresenta os preparativos da família, em casa, para ir às
comemorações de Natal na cidade e, em seguida, a família se
dirigindo à festa. É um dos capítulos mais melancólicos do livro:
as personagens centrais, em contato com outras pessoas,
sentem-se mais humilhadas e ridículas. Percebem a distância a
que se encontram dos demais seres.
Capítulo 9 - Baleia
Narra a sofrida morte da cachorra. Ela estava só pele e ossos,
o corpo se enchera de feridas. Fabiano resolve matá-la para
aliviar os sofrimentos. Os filhos, magoados, percebem a situação:
“Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três,
para bem dizer não se diferenciavam.”
Já ferida e delirante, Baleia espera a morte:
“Baleia queria dormir. Acordaria feliz,
num mundo cheio de preás. E lamberia as
mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As
crianças se espojariam com ela, rolariam
com ela num pátio enorme, num chiqueiro
enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás
gordos, enormes.”
Capítulo 10 - Contas
São duas as reações de Fabiano ao se notar roubado pelo
patrão: primeiro, revolta; depois, conformismo. Vale a pena
ressaltar um fato: é a esperta Sinhá Vitória quem percebe os
erros nas contas do patrão.
Capítulo 11 - O Soldado Amarelo
Temos uma descrição mais profunda desta personagem.
Observa-se que, fisicamente, é muito mais fraco que Fabiano;
moralmente é uma pessoa corrupta, enquanto Fabiano é
honesto; contudo, é por este respeitado e temido, por ocupar o
lugar de representante do governo:
“- Governo é governo.
[Fabiano] tirou o chapéu de couro, curvou-se e
ensinou o caminho ao soldado amarelo.”
Capítulo 12 - O Mundo Coberto de Penas
A seca está para voltar, anunciando mais miséria.
Fabiano faz um resumo de todas as desgraças que
têm marcado sua vida. Há muito tempo não sonha
mais. Seus problemas agora são livrar-se de certo
sentimento de culpa por ter matado Baleia e,
finalmente, fugir de novo.
Capítulo 13 - Fuga
Continua a análise de Fabiano a respeito de sua
vida. A esposa junta-se a ele e refletem juntos pela
primeira vez. Sinhá Vitória é mais otimista e
consegue transmitir-lhe um pouco de paz e esperança
por algum tempo. E, numa mistura de sonhos,
descrenças e frustrações, termina a narrativa.
Vidas secas começa por uma fuga e termina com
outra (assim, a narrativa é cíclica). No início, Fabiano e
sua família fogem da seca:
O capítulo Fuga descreve cena semelhante:
“Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo
carrapato (...). Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro
fugido.”
O romance decorre entre duas situações
idênticas: a vida do sertanejo se organiza como um
retorno perpétuo.
“Entrava dia e saía dia. (...) Miudinhos, perdidos no deserto
queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram-se as suas
desgraças e os seus pavores.” (cap.1 – Mudança)
Comentários e interpretações
Vidas secas é, portanto, a dramática descrição de
pessoas que não conseguem se comunicar. Nem os
opressores se comunicam com os oprimidos, nem cada
grupo se comunica entre si.
Os diálogos são raros e as palavras ou frases que
vêm da boca das personagens são apenas exclamações
ou até mesmo sons animalescos.
A terra é seca, mas sobretudo o homem é seco. Daí
o título Vidas secas.
As personagens são focalizadas uma por vez, o que
mostra o afastamento existente entre elas. Cada uma
tem sua vida particular, acentuando-se a situação de
incomunicabilidade em que vivem.
1. (FUVEST) “Inimigo da riqueza e do trabalho, amigo das festas, da
música, do corpo das cabrochas. Malandro. Armador de fuzuês.
Jogador de capoeira navalhista, ladrão quando se fizer preciso.”
(Jorge Amado, Capitães da areia)
O tipo cujo perfil se traça, em linhas gerais, neste excerto, aparece em
romances como Memórias de um sargento de milícias, O cortiço, além
de Capitães da areia. Essa recorrência indica que:
a) certas estruturas e tipos sociais originários do período colonial
foram repostos durante muito tempo, nos processos de transformação
da sociedade brasileira.
b) o atraso relativo das regiões Norte e Nordeste atraiu para elas a
migração de tipos sociais que o progresso expulsara do Sul/Sudeste.
c) os romancistas brasileiros, embora críticos da sociedade, militaram
com patriotismo na defesa de nossas personagens mais típicas e mais
queridas.
d) certas ideologias exóticas influenciaram negativamente os
romancistas brasileiros, fazendo-os representar, em suas obras, tipos
sociais já extintos quando elas foram escritas.
e) a criança abandonada, personagem central dos três livros, torna-se,
na idade adulta, um elemento nocivo à sociedade dos homens de bem.
EXERCÍCIOS – Capitães da areia
2. (UNICAMP) Os guardas vêm nos seus calcanhares. Sem-Pernas sabe
que eles gostarão de o pegar, que a captura de um dos Capitães da
Areia é uma bela façanha para um guarda. Essa será a sua vingança.
Não deixará que o peguem. (...) Apanhara na polícia, um homem ria
quando o surravam. Para ele é este homem que corre em sua
perseguição (...). Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão.
Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas
não para. (...) Sem-Pernas se rebenta na montanha como um trapezista
de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio.
(Jorge Amado, Capitães da Areia. 19ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 242-243.)
a) Levando em conta o trecho em questão e a obra como um todo,
qual é a imagem dos socialmente excluídos de quem Sem-Pernas é
representativo no trecho?
Sem-Pernas representa a imagem heroica e oprimida dos
marginalizados, possuidores de um ímpeto romanesco e idealizado.
Nessa perspectiva, o garoto, como seus companheirosdo trapiche, é
vítima de uma sociedade violenta e hipócrita. Nesse sentido,
portanto, as ações marginais desses meninos de rua constituem uma
resposta aos vários tipos de violência de que são vítimas: violência
econômica, social e física.
b) “Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam”. Diante
dessa lembrança recorrente, evocada durante sua perseguição pelos
policiais, qual é o sentido da simbólica vingança de Sem-Pernas?
A “vingança” de Sem-Pernas (que, para não ser pego pelos policiais,
atira-se do alto do morro), representaria mais que uma resposta à
sociedade, pela injustiça social de que ele fora sempre vítima: o ato
final do garoto explicita a agressão e a violência praticadas pelo
Estado. A ação dos policiais ganha um contorno de sadismo
paradoxal; isso porque, quando seria de se esperar que a polícia
representasse proteção e zelo aos cidadãos, sobretudo a crianças e
jovens, encontra-se, na cena rememorada, um policial que surra uma
criança deficiente enquanto outro policial ri. Além disso, deve-se
ressaltar que a opção de Sem-Pernas pela morte resgata sua
individualidade na massa de excluídos e marginais, na medida em
que lhe confere igualmente um aspecto de herói.
3. (FUVEST) Um escritor classificou Vidas secas como “romance
desmontável”, tendo em vista sua composição descontínua, feita
de episódios relativamente independentes e sequências
parcialmente truncadas. Essas características da composição do
livro:
a) constituem um traço de estilo típico dos romances de Graciliano
Ramos e do Regionalismo nordestino.
b) indicam que ele pertence à fase inicial de Graciliano Ramos,
quando este ainda seguia os ditames do primeiro momento do
Modernismo.
c) diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que
dificultam uma visão adequada da realidade sertaneja.
d) revelam, nele, a influência da prosa seca e lacônica de Euclides
da Cunha, em Os sertões.
e) relacionam-se à visão limitada e fragmentária que as próprias
personagens têm do mundo.
EXERCÍCIOS – Vidas secas
4. (UNICAMP) Leia os excertos a seguir.
Um dia... Sim, quando as secas desaparecessem e
tudo andasse direito... Seria que as secas iriam desaparecer
e tudo andar certo? Não sabia.
(Graciliano Ramos, Vidas secas. 118ª ed., Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 25.)
Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia
defender-se, botar as coisas nos seus lugares. O demônio
daquela história entrava-lhe na cabeça e saía. Era para um
cristão endoidecer. Se lhe tivessem dado ensino,
encontraria meio de entendê-la. Impossível, só sabia lidar
com bichos.
(Graciliano Ramos, Vidas secas. 118ª ed., Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 35.)
a) Nos excertos citados, a seca e a falta de educação formal afetam a
existência das personagens. Levando em conta o caráter crítico e
político do romance, relacione o problema da seca com a questão da
escolarização no que diz respeito à personagem Fabiano.
O problema da seca não se restringe à ausência das chuvas, mas diz
respeito à organização da sociedade brasileira, que priva seus
cidadãos dos meios necessários, no caso, a educação formal, para
lidar com os imensos desafios postos pelo ambiente físico e pela vida
social.
b) “Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar
as coisas nos seus lugares.” Descreva uma passagem do romance em
que, por não saber ler e escrever, Fabiano é prejudicado e não
consegue se defender.
Uma cena paradigmática, que vincula a opressão social à falta de
educação formal, encontra-se no capítulo 10 (“Contas”), no qual
Fabiano não consegue negociar com o patrão os valores calculados por
Sinhá Vitória, justamente por não dominar os códigos da escrita e
leitura.

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