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2009_RaimundaBeneditaCristinaCaldas (1)

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB 
INSTITUTO DE LETRAS – IL 
DEPTO. DE LINGUÍSTICA, PORTUGUÊS E LÍNGUAS CLÁSSICAS - LIP 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA – PPGL 
 
 
 
 
 
 
 
UMA PROPOSTA DE DICIONÁRIO PARA A LÍNGUA KA’APÓR 
 
 
 
 
Raimunda Benedita Cristina Caldas 
 
 
 
Orientadora: Profª.Drª. Ana Suelly Arruda Câmara Cabral 
 
 
 
 
 
 
Brasília – DF 
2009 
ii 
 
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB 
INSTITUTO DE LETRAS – IL 
DEPTO. DE LINGUÍSTICA, PORTUGUÊS E LÍNGUAS CLÁSSICAS - LIP 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA – PPGL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UMA PROPOSTA DE DICIONÁRIO PARA A LÍNGUA KA’APÓR 
 
 
 
 
 
Raimunda Benedita Cristina Caldas 
 
 
 
Tese apresentada ao Departamento de Linguística, 
Português e Línguas Clássicas da Universidade de 
Brasília como parte dos requisitos para a obtenção 
do título de Doutor em Linguística. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA/DF 
Dezembro/2009 
iii 
 
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB 
INSTITUTO DE LETRAS – IL 
DEPTO. DE LINGUÍSTICA, PORTUGUÊS E LÍNGUAS CLÁSSICAS - LIP 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA – PPGL 
 
 
 
 
 
TESE DE DOUTORADO 
 
 
 
 
 
UMA PROPOSTA DE DICIONÁRIO PARA A LÍNGUA KA’APÓR 
 
 
 
 
Raimunda Benedita Cristina Caldas 
 
 
 Orientadora: Profª Dra. Ana Suelly Arruda Câmara Cabral 
 
 
 
Banca examinadora: 
Profa. Dra. Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, UnB 
Prof. Dr. Aryon Dall'Igna Rodrigues, UnB 
Profa. Dra. Maria Risolêta Julião, UFPA 
Profa. Dra. Luciana Gonçalves Dourado, UnB 
Profa. Dra. Dulce do Carmo Franceschini, UFU 
(suplente) 
 
 
 
 
Brasília - DF 
 2009 
 
iv 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho ao povo Ka’apór. 
 
 
 
 
 
 
v 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço à Professora Dra. Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, minha orientadora, 
pesquisadora permanente de línguas Tupí-Guaraní, pela dedicação com que esteve à frente 
desta pesquisa desde os meus primeiros contatos com os Ka’apór. 
Ao Professor Dr. Aryon D. Rodrigues, pela preciosa colaboração e empenho com que tem co-
orientado este trabalho. 
À banca examinadora Professora Dra. Luciana Dourado, Professora Dra. Maria Risolêta 
Julião e Professora Dra. Dulce do Carmo Franceschini. 
À Professora Dra. Tânia Clemente pela preciosa colaboração na correção deste trabalho. 
À Universidade de Brasília, pela referência de trabalho, especialmente ao Laboratório de 
Línguas Indígenas; 
À Professora Dra. Enilde Faulstich pelo incentivo, sugestões e pelas discussões que me 
incentivavam a estudar cada vez mais. 
Aos professores indígenas, colaboradores de pesquisa, pelo apoio e incentivo junto ao povo 
Ka’apór; 
Aos colaboradores da CASAI, FUNASA e do Pólo Paragominas que intermediaram e 
minimizaram as dificuldades ocorridas durante os deslocamentos. 
Aos funcionários da FUNAI dos Postos Indígenas e da Sede Belém e Maranhão; 
À Fundação Nacional do Índio – FUNAI, pela permissão para entrada na Terra Indígena Alto 
Turiaçu; 
Aos Ka’apór, a quem serei sempre grata pela empenho em colaborar com este estudo e de 
ressaltar a importância deste trabalho para o seu povo. Agradeço especialmente a Seu 
Valdemar Ka’apór, cujo nome na língua é Wyrapytang, por incentivar e apoiar esta iniciativa, 
pela paciência em esclarecer as minhas dúvidas, mas também pela confiança e colaboração. 
Aos colegas do Laboratório de Línguas Indígenas e às amigas Tabita e Eliete, as quais, assim 
como eu, desafiaram seus limites para o alcance deste percurso acadêmico. Às amigas do 
mestrado Márcia, Jessiléia e Ivanete pelo incentivo. 
Aos meus pais Benedito e Maria, por me permitirem chegar a essa caminhada; a vocês 
agradeço imensamente, por me ensinarem a lutar, a ser forte, a dar mais valor à vida e a 
reconhecer na natureza humana a capacidade de amar e a respeitar as pessoas, valores 
fundamentais nessa caminhada. 
À minha família, às minhas irmãs Regina, Betânia e Silvia, à memória de minha tia Tereza 
Caldas, às minhas sobrinhas Talissa, Gareza e Gabriela que muito me incentivaram para que 
pudesse alcançar mais essa etapa deste trabalho. 
Aos meus colegas de trabalho pela compreensão e incentivo, fundamentais para que chegasse 
a essa etapa. 
Aos meus amigos, fundamentais pelo apoio e incentivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
vi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“De todos os caminhos da vida há um que 
importa mais: é o caminho que nos leva ao 
verdadeiro ser humano”. (Indígenas moicanos) 
 
vii 
 
RESUMO 
 
 
Esta tese de doutorado apresenta um modelo de dicionário bilíngue Ka’apór-
Português, em resposta ao anseio da comunidade Ka’apór de ampliação da descrição e da 
documentação de sua língua nativa, tendo em vista o ensino desta nas escolas das aldeias. A 
língua Ka’apór é um dos membros do sub-ramo VIII da família linguística Tupí-Guaraní 
(Rodrigues 1985), falada por aproximadamente 600 pessoas que se distribuem atualmente na 
área Indígena do Alto Turiaçu (no Estado do Maranhão). Outra motivação para o presente 
estudo foi a preocupação da autora em contribuir para o aprofundamento do conhecimento 
linguístico da língua Ka’apór, o qual era fundamental para uma proposta de organização do 
léxico dessa língua que ora apresentamos. A presente proposta consiste em um modelo de 
dicionário geral de língua, que seja abrangente e organizado em conformidade com propostas 
metodológicas adequadas às necessidades dos alunos e professores Ka’apór, como as 
propostas de Dapena (2002), Zgusta (1971) e Landau (1989) para dicionários de língua. A 
análise linguística dos dados desenvolveu-se sob uma ótica funcional e tipológica das 
estruturas da língua, consideradas no contexto discursivo em que se inserem e observou 
critérios de análise como distribuição e contraste. A análise gramatical foi orientada pelos 
estudos reunidos em Shopen (1985, vol. I, II e III) e nos trabalhos de Comrie (1976, 1981 e 
1984), Desclès e Güentheva (1996 e 1997), Dixon (1979) e Mithun (1999), dentre outros. 
Levou em consideração os estudos descritivos de línguas Tupí-Guaraní próximas ao Ka’apór, 
como os desenvolvidos sobre o Guajá (Magalhães 2002, 2005), Tembé (2001), Emérillon 
(2000), Wayampí (1989) e sobre o Zo’é (Cabral 1996). Fundamental para a análise gramatical 
dos dados Ka’apór foram os trabalhos de Rodrigues sobre o Tupinambá (Rodrigues 1998). Os 
dados da língua Ka’apór utilizados neste estudo foram coletados em Belém, entre 1999 e 
2006, e nas aldeias Ka’apór Itarená (2000-2004), Xié Pyhún Rená (2003-2007) e Gurupiúna 
(2004). 
 
 
Palavras-chave: lexicografia - dicionário bilíngue - língua Ka’apór - Família Tupí-Guaraní 
 
 
 
viii 
 
ABSTRACT 
 
This doctoral thesis shows an model of bilingual dictionary Ka’apór-Portuguese, in 
answer to the claims of Ka’apór community to amplify the description and documentation of 
their native language, having in mind its teaching in the Ka’apór villages. This language is 
member of the sub-branch VIII of Tupí-Guaraní linguistic family (Rodrigues 1985), spoken 
by approximately 600 people who live in the present moment in Indigenous area of Alto 
Turiaçu (High Turiaçu) (in the state of Maranhão). Another motivation to this present study 
were the concerns of the author to contribute to a deepest linguistic study of this language, 
which was crucial to a proposal to organize the lexicon as we present here. It consists in a 
model of general language dictionary, wider and organized according to methodological 
proposals more adequate to Ka’apór students’ and teachers’ needs, as suggested by Dapena 
(2002), Zgusta (1971) and Landau (1989). The linguistic analysis of the data developed, based 
on a functional and typological approachof the structures of the language, considering the 
discursive context in which they are inserted and it was observed the criteria about the 
analysis as distribution and contrast. This grammatical analysis was oriented by the works 
researched on Shopen (1985, vol. I, II and III) and the studies of Comrie (1976, 1981 e 1984), 
Desclès and Güentheva (1996 and1997), Dixon (1979) and Mithun (1999), among others. It 
was also considered the descriptive studies of Tupí-Guaraní languages close to Ka’apór, as 
the scientific works developed about the Guajá language (Magalhães, 2002, 2005), the Tembé 
language (2001), the Emérillon language (2000), the Wayampí language (1989) and the Zo’é 
language (Cabral, 1996). It was fundamental to grammatical analysis of Ka’apór data to see 
the Rodrigues’ studies on the Tupinambá (Rodrigues, 1998). The data of the Ka’apór 
language used in this research were collected in Belém, between 1999 and 2006, and in the 
Ka’apór villages of Itarená (2000-2004), Xié Pyhún Rená (2003-2007), and Gurupiúna 
(2004). 
 
 
Keywords: lexicografy – bilingual dicitionary - the Ka’apór language – the Tupí-Guaraní 
family 
 
 
 
ix 
 
SUMÁRIO 
 
 
RESUMO ..................................................................................................................... vii 
ABSTRACT ................................................................................................................ viii 
LISTA DE FIGURAS E QUADROS ....................................................................... xv 
ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ............................................................................ xvi 
MAPA 1 - Localização das Terras Indígenas do Maranhão ................................... 25 
MAPA 2 – Localização da Área Indígena Alto Turiaçu ........................................ 26 
 
 
0. INTRODUÇÃO: A proposta do modelo de dicionário ....................................... 17 
0.0 Considerações iniciais .................................................................................. 17 
0.1 A proposta do modelo do dicionário ............................................................ 17 
0.2 Metodologia ................................................................................................. 18 
0.3 Trabalhos linguísticos sobre o Ka’apór ......................................................... 19 
0.4 Aplicação do resultado deste estudo ............................................................ 20 
0.5 Organização dos capítulos ........................................................................... 20 
 
 
CAPÍTULO 1: Sobre o povo e a língua ka’apór ...................................................... 22 
1.1 Breves informações etno-históricas sobre o povo Ka’apór ........................... 22 
1.1.1 O povo Ka’apór e suas relações com outros grupos indígenas 
– A situação sociolinguística ......................................................................... 
 
 24 
1.1.2 Localização geográfica .................................................................................. 25 
1.2 A classificação genética da língua Ka’apór ................................................. 27 
1.2.1 Traços tipológicos da língua Ka’apór ........................................................... 27 
1.2.2 A escola Ka’apór ......................................................................................... 29 
1.2.3 O perfil dos professores Ka’apór .................................................................. 30 
1.2.4 Materiais de apoio ........................................................................................ 30 
1.3 Conclusão ..................................................................................................... 31 
 
 
 
 
x 
 
CAPÍTULO II – Fonologia da língua Ka’apór ........................................................ 32 
2.1 Fonemas e alofones ..................................................................................... 32 
 Fonemas Consonantais ............................................................................... 32 
 Fonemas vocálicos ..................................................................................... 33 
2.2 Representação fonética dos fonemas do Ka’apór ..................................... 33 
2.2.1 Segmentos consonantais ........................................................................... 34 
2.2.2 Segmentos vocálicos orais ....................................................................... 34 
 Segmentos vocálicos nasais ..................................................................... 35 
2.3 Acento ........................................................................................................ 43 
2.4 A sílaba ....................................................................................................... 43 
2.5 Conclusão .................................................................................................... 45 
 
 
CAPÍTULO III – Aspetos da morfossintaxe ........................................................... 46 
3.1 Classes de palavras .................................................................................. 46 
 a) Temas flexionáveis ................................................................................. 46 
 b) Temas nominais e posposicionais e os prefixos relacionais ................... 46 
 c) Critérios morfológicos para identificação de classes de palavras ........... 56 
3.1.1 Nomes ......................................................................................................... 57 
3.1.2 Adjetivos ..................................................................................................... 61 
3.1.2.1 Adjetivos como epítetos .............................................................................. 65 
3.1.2.2 Adjetivos como predicados ........................................................................ 65 
3.1.3 Verbos ....................................................................................................... 66 
3.1.3.1 Verbos intransitivos .................................................................................. 68 
3.1.3.1.1 Verbos intransitivos monovalentes ........................................................... 68 
3.1.3.1.2 Verbos intransitivos bivalentes ................................................................ 71 
3.1.3.2 Verbos transitivos ..................................................................................... 76 
3.1.3.2.1 Verbos transitivos bivalentes ................................................................... 76 
3.1.3.2.2 Verbos transitivos trivalentes .................................................................. 76 
3.1.3.3 Verbos posicionais ................................................................................... 79 
3.1.4 Posposições ................................................................................................ 84 
3.1.5 Advérbios .................................................................................................. 89 
3.1.5.1 Advérbios temporais ................................................................................. 89 
xi 
 
3.1.5.2 Advérbio intensivo hũ ................................................................................ 92 
3.1.5.3 Advérbios de modo .................................................................................... 93 
3.1.6 Dêiticos ..................................................................................................... 95 
3.1.6.1 Dêiticos locativos ...................................................................................... 95 
3.1.6.2 Dêiticos não-locativos ................................................................................99 
3.1.6.3 Dêiticos referenciais: pronomes pessoais ................................................ 100 
3.1.7 Palavras aspectuais ................................................................................... 102 
3.1.7.1 Perfectividade e imperfectividade ............................................................. 102 
3.1.7.1.1 Perfectividade – as partículas  e i ........................................................ 105 
 a) A marca de perfectivo em orações de sentenças complexas ................. 107 
3.1.7.1.2 Imperfectividade - a partícula rĩ ................................................................ 109 
 a) As partículas rĩ e  em orações no modo imperativo ......................... 111 
 b) Iminente – A partícula ta ..................................................................... 111 
 c) Progressivo .............................................................................................. 112 
3.1.8 Palavras modalizadoras .............................................................................. 113 
3.1.8.1 Modo de ação ............................................................................................. 113 
3.1.8.1.1 O frequentativo .......................................................................................... 115 
3.1.8.1.2 O intensivo ............................................................................................... 117 
3.1.8.2 Modalidade ............................................................................................... 120 
3.1.8.2.1 Modalidade epistêmica ............................................................................. 121 
 a) A partícula naĩ ..................................................................................... 121 
 b) A partícula mi ........................................................................................ 121 
 c) A partícula nahã .................................................................................... 122 
 d) A partícula je ........................................................................................ 124 
3.1.8.2.2 Modalidade empática .............................................................................. 125 
 a) A partícula kĩ .......................................................................................... 125 
 b) A partícula mã ...................................................................................... 126 
3.1.8.2.3 Outras noções de modalidade ................................................................... 128 
 a) A partícula tee:tee ............................................................................... 128 
 b) A partícula tĩ ......................................................................................... 129 
 c) A partícula rikí ..................................................................................... 131 
 d) A partícula pragmática ke ..................................................................... 134 
 e) A partícula tipe ....................................................................................... 137 
xii 
 
 f) A partícula we ......................................................................................... 138 
 g) A partícula ko ........................................................................................ 139 
3.1.9 Palavras quantificadoras ........................................................................... 140 
3.1.9.1 Expressões numéricas ................................................................................ 140 
3.1.9.2 O Quantificador -eta .................................................................................. 141 
3.1.9.3 A partícula upa ........................................................................................... 141 
3.1.10 Palavras subordinadoras ............................................................................. 146 
3.1.10.1 A partícula rahã ......................................................................................... 146 
3.1.11 Palavras privativas ..................................................................................... 146 
3.1.12 Ideofones e interjeições .............................................................................. 148 
3.1.13 Palavras fáticas ........................................................................................... 150 
3.2 Coordenação e subordinação .................................................................. 150 
 a) A conjunção pe ..................................................................................... 150 
 b) Orações seqüenciadas por justaposição .............................................. 151 
 
 
 
CAPÍTULO IV – A lexicografia e a lexicologia: considerações ............................ 153 
4.1 Lexicografia e Semântica .......................................................................... 154 
4.2 Dicionário e Gramática ............................................................................. 154 
4.3 As aplicações de um modelo lexicográfico: a língua .................................. 155 
4.4 Critérios lexicográficos ............................................................................... 155 
4.5 A significação no contexto .......................................................................... 156 
4.6 Conclusão .................................................................................................... 156 
 
 
 
CAPÍTULO V – Os dicionários bilíngues .............................................................. 157 
5.1 Classificação de dicionários bilíngues ........................................................ 157 
5.2 Propostas de dicionários bilíngues .............................................................. 159 
5.3 Comparação de dicionários bilíngues indígenas ........................................ 160 
5.4 Conclusão ................................................................................................... 170 
 
 
 
 
xiii 
 
CAPÍTULO VI – Metodologia e enfoques teóricos ................................................. 172 
6.1 Tipologia .................................................................................................... 172 
6.2 Relações de significado .............................................................................. 173 
6.2.1 Semasiologia e onomasiologia .................................................................... 173 
6.2.2 Homonímia e polissemia ............................................................................. 173 
6.2.3 Sinonímia e antonímia ............................................................................... 174 
6.2.4 Macro e microestrutura ............................................................................... 175 
6.3 Conclusão ................................................................................................... 175 
 
CAPÍTULO VII – Proposta de dicionário bilíngue Ka’apór-Português .............. 176 
7.1 Aporte da macroestrutura ........................................................................... 176 
7.1.1 A forma das entradas .................................................................................. 176 
7.1.2 A seleção das entradas ............................................................................... 177 
7.1.3 A forma das palavras .................................................................................. 177 
7.1.4 Homonímia e polissemia ............................................................................ 178 
7.1.5 Neologismos e empréstimos ...................................................................... 179 
7.2 Aporte da microestrutura ............................................................................ 180 
7.2.1 Tipografia dos verbetes............................................................................... 180 
7.2.2 Entradas e subentradas ................................................................................ 180 
7.3 O sistema de remissivas .............................................................................. 181 
7.4 Programa e fonte ......................................................................................... 182 
7.5 Ilustrações ................................................................................................... 182 
7.6 Conclusão .................................................................................................... 182 
 
CAPÍTULO VIII – Modelo de dicionário bilíngue ka’apór-português ................. 183 
8.1 Orientações sobre a obra ............................................................................ 183 
8.2 Organização do dicionário ......................................................................... 185 
8.2.1 A ordem das entradas ................................................................................. 185 
8.2.2 Convenções da microestrutura .................................................................... 185 
8.2.3 Estrutura do verbete ................................................................................... 186 
8.2.4 Abreviaturas e símbolos .............................................................................. 188 
8.2.5 Tipografia dos verbetes ............................................................................... 189 
8.3 Conclusão ................................................................................................... 190 
xiv 
 
 
Modelo do Dicionário Ka’apór-Português ................................................................ 191 
A – a .......................................................................................................................... 192 
E – e .......................................................................................................................... 204 
H – h .......................................................................................................................... 208 
I – i .......................................................................................................................... 212 
J – j .......................................................................................................................... 216 
K – k .......................................................................................................................... 231 
' .......................................................................................................................... 244 
M – m .......................................................................................................................... 247 
N - n .......................................................................................................................... 261 
O - o .......................................................................................................................... 264 
P – p .......................................................................................................................... 266 
R – r .......................................................................................................................... 280 
S – s .......................................................................................................................... 283 
T – t .......................................................................................................................... 290 
U – u .......................................................................................................................... 299 
W – w .......................................................................................................................... 303 
X – x .......................................................................................................................... 309 
Y – y .......................................................................................................................... 312 
Considerações gerais .................................................................................................... 316 
Referências ................................................................................................................... 318 
Apêndice A: Textos Ka’apór ....................................................................................... 325 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xv 
 
LISTA DE FIGURAS E QUADROS 
 
Figura 1 Representação do padrão silábico V ...................................................... 43 
Figura 2 Representação do padrão silábico VC .................................................... 44 
Figura 3 Representação do padrão silábico CV ................................................... 44 
Figura 4 Representação do padrão silábico CVC ................................................ 45 
Figura 5 Representação topológica do Perfectivo ................................................ 103 
Figura 6 Representação topológica do Imperfectivo ........................................... 103 
Figura 7 Modelo de ficha do banco de dados ....................................................... 184 
 
 
 
Quadro 1 Fonemas consonantais ........................................................................... 32 
Quadro 2a Fonemas vocálicos orais ....................................................................... 33 
Quadro 2b Fonemas vocálicos nasais ..................................................................... 33 
Quadro 3 Segmentos consonantais ....................................................................... 34 
Quadro 4a Segmentos vocálicos orais .................................................................... 34 
Quadro 4b Segmentos vocálicos nasais ................................................................... 35 
Quadro 5 Relacionais do Ka’apór adaptado de Rodrigues (1981) ........................ 47 
Quadro 6 Prefixos pessoais ...................................................................................... 66 
Quadro 7 Os verbos posicionais descritos por Kakumasu .......................................... 79 
Quadro 8 Advérbios temporais .............................................................................. 89 
Quadro 9 Dêiticos locativos em Ka’apór ................................................................... 95 
Quadro 10 Dêiticos não-locativos ................................................................................. 99 
Quadro 11 Pronomes pessoais ...................................................................................... 101 
Quadro 12 Noções aspectuais .................................................................................. 104 
Quadro 13 Noção aspectual e modo de ação em Ka’apór ....................................... 114 
Quadro 14 Expressões numéricas ........................................................................... 140 
Quadro 15 Ideofones ............................................................................................... 148 
Quadro 16 Interjeições ............................................................................................. 149 
 
 
 
 
 
 
xvi 
 
 ABREVIATURAS E SÍMBOLOS 
AFT = afetado 
AFST = afastando-se de 
ASS = associativo 
ATEN = atenuativo 
ATEN.AF = atenuativo afetivo 
CAUS = causativo 
CC = causativo comitativo 
D.NOM = derivador de nome 
DES = desiderativo 
DUB = dubidativo 
ENF = enfático 
FRUST = frustrativo 
IMIN = iminente 
IMP = imperativo 
IMPF = imperfectivo 
INT = intenção 
INTS = intensivo 
LOC = locativo 
NEG = negação 
PERF.1 = perfectivo de não-exclusividadePERF.2 = perfectivo de exclusividade 
PL = plural 
PROB = probabilidade 
PROSP = prospectivo 
POS = possibilidade 
R
1
 = relacional de contigüidade 
R
2
 = relacional de não-contigüidade 
R
3
 = relacional genérico e humano 
REF = reflexivo 
RETR = retrospectivo 
SG = singular 
SIM = similativo 
V = vogal com baixo grau de nasalidade 
VER = verdade 
: = dois pontos seguindo um tema corresponde à sua reduplicação 
 
 Introdução – A proposta do modelo de dicionário 
 
17 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
0.0 Considerações iniciais 
Este trabalho propõe um modelo de dicionário bilíngue Ka’apór-Português tendo em 
vista a ampliação dos estudos linguísticos sobre essa língua, assim como a sua aplicação ao 
ensino da língua nativa nas escolas das aldeias. A ideia de uma tese de doutorado dessa 
natureza decorreu da necessidade de desenvolvimento de uma proposta de dicionário de 
língua que pudesse de fato servir à comunidade Ka’apór, tanto na qualidade de material de 
apoio ao ensino da língua nativa nas escolas, quanto na qualidade de fonte de conhecimento 
do léxico Ka’apór e do seu uso em diferentes contextos gramaticais e enunciativos. A escolha 
por um dicionário bilíngue foi feita pelos Ka’apór, que vêem, por um lado, a necessidade de 
ampliar os registros de sua língua e, por outro lado, a necessidade de um registro do português 
traduzido em sua língua nativa que fosse de utilidade na aprendizagem da língua nativa nas 
escolas da aldeia. 
 
0.1 A proposta do modelo de dicionário 
Propomos elaborar um modelo de dicionário bilíngue Ka’apór-Português que 
compreende um acervo lexical representativo da língua e da cultura ka’apór. Trata-se de uma 
proposta de dicionário que considera o povo ka’apór como seu principal usuário, embora se 
destine também a linguistas e a outros usuários, razão pela qual são incluídas informações 
fonéticas, além das semânticas e gramaticais correspondentes a cada entrada. As abonações 
são ilustrativas para que sejam observadas as estruturas usadas em situações reais de fala da 
língua Ka’apór. O dicionário dá tratamento especial aos nomes de plantas e de animais, cujas 
entradas são ilustradas, quando possível, com imagens, além de apresentar o campo semântico 
e o nome científico. 
Este dicionário deverá ser de utilidade nas atividades escolares voltadas para o ensino 
e para o fortalecimento da língua nativa, bem como deverá constituir uma referência 
importante da língua e de aspectos da cultura dos Ka’apór. 
 
 
 Introdução – A proposta do modelo de dicionário 
 
18 
 
0.2 Metodologia 
Os dados linguísticos que fundamentam a presente proposta de dicionário foram 
coletados ao longo dos últimos dez anos, principalmente por Caldas (1999, 2000, 2001, 2003, 
2005, 2007, 2008, 2009), mas também por Silva (1999, 2000, 2001) e por Cabral (1999, 2000, 
2001, 2002). Esses dados integram o Banco de Dados de Línguas Indígenas da Universidade 
de Brasília (LALI). Os dados consistem em palavras isoladas, frases e sentenças elicitadas e 
dados de fala natural, como conversas, relatos históricos, relatos descritivos de aspectos 
culturais, relatos míticos, músicas, dentre outros. 
 Os dados foram coletados junto a vários Ka’apór de sexo e idades diferentes, de modo 
que fossem representativos da comunidade de fala Ka’apór. A coleta do material linguístico 
foi beneficiada pelo questionário do South American Indian Languages Documentation 
Project Questionnaire (Kaufman & Berlin, 1987) e pelo questionário de autoria de Comrie & 
Smith (1977). 
 Todos os dados do Ka’apór que fundamentam o presente estudo, os quais consistem 
em 100 horas de gravação, ou foram originalmente gravados em sistema digital (Md’s Sony 
Portable Minidisc Recorder MZ-NH700) e em fitas cassete (Sony Cassette-Corder TCM-200 
DV e Sony TCM-5000). O material gravado em fita cassete foi posteriormente digitalizado 
através do Projeto Banco de Dados da Universidade de Brasília (CNPq). 
Os principais colaboradores Ka’apór do presente trabalho foram Wyrapitáng Ka’apór 
(Valdemar), Wyrimý Ka’apór (Marisa), Xuperá Ka’apór, Oky Ka’apór, Herino Ka’apór, 
Jupará Ka’apór, Ma’éwarixã Ka’apór, Yra’ý Ka’apór, Xĩ Ka’apór (Petrônio), Awaxí Ka’apór, 
Pinairán Ka’apór, Wahú Ka’apór, Te’õ Ka’apór, Atunín Ka’apór, Akaju Ka’apór, Xa’ĩ 
Ka’apór, Herár Ka’apór, I’ahu Ka’apór, Kixĩ Ka’apór. 
O presente projeto só foi possível graças ao estudo descritivo da gramática Ka’apór 
iniciado em 1999 (cf. Caldas; Silva), de forma que a elaboração dessa proposta de dicionário 
consistiu em duas etapas principais: (1) a descrição da língua: léxico, fonologia, 
morfossintaxe e semântica e (2) a elaboração do modelo de dicionário. A macroestrutura do 
dicionário foi organizada em conformidade com as características da língua fonte – o 
Ka’apór, dependendo desta as escolhas para a representação de entradas, da forma das 
entradas, do conteúdo a ser descrito de acordo com o estabelecimento da norma, da 
ordenação, do tratamento do lexema quanto à polissemia e homonímia, entre as demais 
escolhas necessárias nessa elaboração. Os estudos sobre essa língua foram fundamentais para 
 Introdução – A proposta do modelo de dicionário 
 
19 
 
que fossem contemplados os fatos linguísticos, assim como a adoção de um critério de 
praticidade no uso do dicionário. 
A microestrutura do dicionário é pautada em um conjunto de informações que seguem 
as palavras-entrada: informações fonológicas, fonéticas, morfológicas, morfossintáticas, 
semânticas e pragmáticas, incluindo remissivas e equivalências, e dando tratamento à 
homonímia, à polissemia, a neologismos e empréstimos, assim como a variações dialetais e a 
remissivas de sinônimos, de antônimos, de hiperônimos e de outros aspectos relacionados à 
semântica. A microestrutura foi organizada por meio do levantamento e seleção dos itens da 
língua fonte, o ka’apór, a fim de ampliar informação sobre a língua e relacionando-a a 
informações sobre o português. Outro aspecto implementado é a ampliação do vocabulário da 
fauna e flora. Foram pesquisadas as espécies vegetais e animais mencionadas pelos falantes 
Ka’apór e comparadas às informações de classificação dessas espécies na literatura 
especializada. Esse procedimento foi imprescindível para o fornecimento de uma base de 
dados sobre os recursos naturais da área geográfica em que os Ka’apór se localizam. 
 
 
0.3 Trabalhos linguísticos sobre o Ka’apór 
O material de registro sobre os Ka’apór inclui os vocabulários de HURLEY (1932), de 
HUXLEY (1963) e KAKUMASU (ILV), os artigos de RICE (1930) e o de HURLEY (1932), 
uma publicação do SIL, do International Journal of American Linguistic (1968), um esboço 
gramatical de KAKUMASU (1986), um dicionário por tópicos de KAKUMASU; 
KAKUMASU (1988), três coletâneas de textos (1990a, 1990b, 1995) e sete artigos: 
KAKUMASU (1968), CORRÊA DA SILVA (2000a, 2000b, 2002), CALDAS e SILVA 
(2001, 2002), CALDAS e CABRAL (2006). Há ainda uma gramática gerativa preliminar 
KAKUMASU (1976), as dissertações de mestrado de CORRÊA DA SILVA (1997), SILVA 
(2001), CALDAS (2001), os livros de narrativa de autoria de CALDAS e SILVA (2004 e 
2006), além de um livro de narrativas e a tese de doutorado de LOPES (2009). 
O Dicionário por Tópicos Ka’apór-Português (Kakumasu 1988) é o primeiro trabalho 
de caráter lexicográfico do Ka’apór, o qual inclui um conjunto de entradas lexicais relativas a 
aves conhecidas por esses índios, fundamentado no trabalho “Sistemas indígenas de 
classificação de aves”, de autoria de Allen Jensen (1988). A adoção de um tratamento especial 
para as aves do Ka’apór aproxima esse dicionário do dicionário Wayampí-Francês de autoria 
de Françoise Grenand, que continua sendo um dos dicionários mais densos de uma língua 
 Introdução – A proposta do modelo de dicionário 
 
20 
 
indígena também falada no Brasil. Por outro lado, por ser organizado de acordo com campos 
semânticos, é, naturalmente,uma fonte lexicográfica de difícil manuseio por alunos e 
professores Ka’apór (conforme discussão na seção 6.2). 
 
0.4 Aplicação do resultado deste estudo 
Os resultados deste estudo deverão servir de material de apoio às escolas Ka’apór, seja 
ao ensino da língua nativa seja à pesquisa da mesma, mas também para o ensino português. 
Atualmente os Ka’apór buscam uma aprendizagem escolar nas duas línguas. A partir desse 
trabalho considera-se a possibilidade de direcionar o dicionário da língua-alvo, o português, 
para a língua-fonte, o ka’apór. 
 
 
0.5 Organização dos capítulos 
 
No capítulo I desta tese reunimos breves informações acerca do povo e da língua 
Ka’apór. No capítulo II é apresentado um esboço contendo aspectos gerais da fonologia 
Ka’apór considerados na elaboração do modelo de dicionário que ora apresentamos. No 
capítulo III são tratados aspectos da morfossintaxe da língua Ka’apór, com ênfase no 
levantamento de classes de palavras e das relações sintáticas dessas classes no discurso. 
 O capítulo IV versa sobre o papel da lexicografia e sobre algumas teorias atuais sobre 
a constituição e funcionalidade de um dicionário. 
 No capítulo V fazemos considerações sobre bilinguismo e sobre aspectos de situações 
diglóssicas na aplicação de modelos lexicográficos. Este capítulo apresenta ainda 
considerações sobre alguns dicionários bilíngues indígenas, especialmente os de línguas da 
Família Tupí-Guaraní. 
O capítulo VI contempla a abordagem teórica e metodológica adotada nesta proposta 
de modelo de dicionário, a qual leva em conta a tipologia, a seleção e forma de entradas, a 
exemplificação, as informações gramaticais, a sequência de entradas e as relações de 
significado envolvidas nas escolhas efetuadas na micro e na macroestrutura do dicionário. 
 O capítulo VII apresenta a proposta do dicionário bilíngue ka’apór-português em que 
argumentamos em favor das escolhas adotadas na elaboração da micro e da macroestrutura do 
 Introdução – A proposta do modelo de dicionário 
 
21 
 
dicionário, assim como as implicações destas escolhas. Nesta seção também é descrito o 
aporte da microestrutura do dicionário. 
 Finalmente, no capítulo VIII é apresentada uma amostra do modelo de dicionário. 
Inicialmente é detalhada a estrutura do modelo proposto, seguida de sua exemplificação. 
Adotou-se neste modelo de dicionário a estrutura interna de entradas lexicais proposta por 
Kaufman (2005), em que são considerados os seguintes aspectos: lexema sem flexão, 
pronúncia, variantes fonológicas, forma subjacente com chaves para classes de morfemas, 
glosa morfêmica, raiz, classe de raiz, glossa de raiz, assim como informações de cunho 
sociológico e lexical, além de dados do informante – fonte da informação, do pesquisador e da 
coleta desses dados. No entanto, algumas adaptações foram necessárias para que fossem 
supridas as diversas relações semânticas observadas no levantamento de dados, como a 
indicação de remissivas, tanto as de relação de significado quanto as de uso lexical, além de 
subentradas e exemplos de subentradas, todos relevantes para o estabelecimento de uma 
representação dos itens lexicais da língua. O capítulo IX apresenta algumas conclusões sobre 
o trabalho realizado e projeta o desdobramento do projeto mais amplo de dicionário bilíngue 
da língua Ka’apór. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
22 
 
I 
SOBRE O POVO E A LÍNGUA KA’APÓR 
 
 
Introdução 
Neste capítulo apresentamos algumas considerações sobre o povo Ka’pór, tendo por 
base informações encontradas na literatura especializada. As informações etno-históricas vão 
desde os primeiros contatos desse povo com a sociedade regional até a atualidade e focalizam 
aspectos de sua distribuição geográfica, de sua cultura e de sua língua. 
 
1.1 Breves informações etno-históricas sobre o povo Ka’apór 
Conhecidos como um povo indígena falante de uma língua Tupí-Guaraní desde a 
década de trinta do século passado (cf. RICE 1930), os Ka’apór foram localizados no final do 
século XIX em uma região que abrange o nordeste do Pará e o noroeste do Maranhão (cf. 
DODT, 1981 [1873]; ARROJADO LISBOA 1935), embora tenham vindo muito 
provavelmente do interflúvio Xingu-Tocantins (cf. BALÉE, 1994). 
Em sua dissertação de mestrado “Urubú-Ka’apór da Gramática à História: A 
Trajetória de um Povo”, Corrêa da Silva (1997) faz um apanhado sobre a história e a 
geografia do povo Ka’apór, em que evidenciam aspectos importantes da etno-história desse 
povo. Dentre as considerações que faz, Corrêa da Silva (p.6) observa que 
 
 
...embora tenham entrado para a história do Brasil com o nome de Urubú – 
designação pejorativa do ponto de vista dos não-índios que escreveram a 
história, mas não necessariamente na visão indígena, em cuja mitologia o 
urubu é um animal importante – foram tratados na literatura especializada, 
por Urubú, Urubú-Ka’apór e, mais recentemente, Ka’apór. 
 
 
Corrêa da Silva (p.8) ressalta que Gustavo Dodt em sua viagem de exploração do rio 
Gurupí, realizada em 1972, dividiu os indígenas da região em dois grupos, os Tupí – os 
Tembé e os Amanajé – e os Tapuia – os Timbíra, os Ka’apór, os Guajá e os Guajajára –, fato 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
23 
 
que revela o desconhecimento que se tinha na época da origem etnolinguística desses últimos 
grupos. 
Segundo os relatos de Dodt, os Ka’apór eram arredios até o final do século XIX, tendo 
estabelecido contato definitivo com não-índios na primeira década do século XX, quando 
foram “pacificados” pelo Serviço de Proteção ao Índio, em 1911. Rice (1930 apud Corrêa da 
Silva p.11) diz que os Ka’apór habitavam entre os rios Guamá, a oeste do Gurupí, e Alto 
Turiaçu, a leste, e mencionou o número de 5000 indivíduos que mantinham contato com o 
SPI. Já Jorge Hurley, em sua “Chorografia do Pará e do Maranhão” escrita em 1930 (cf. 
Corrêa da Silva, p.11), situa os Ka’apór no lado Maranhense. 
Observe-se que, por viverem em região fronteiriça entre o Maranhão e o Pará, os 
Ka’apór vivenciam constantes mudanças de jurisdição, ora estando dependentes do setor 
administrativo regional da FUNAI no Maranhão, ora do setor administrativo da FUNAI no 
Pará. 
Corrêa da Silva (p.15) comenta algumas informações sobre os Ka’apór presentes no 
livro “Atividades Científicas da Secção de Estudos do Serviço de Proteção aos Índios”, de 
autoria de Darcy Ribeiro, algumas das quais reproduzimos a seguir: 
 
 
O livro está repleto de informações e especulações as mais variadas sobre 
este povo e sua língua, como, por exemplo, a suposta origem Tupinambá dos 
Ka’apór que “depois das primeiras décadas de contato mortífero com a 
civilização, se afundaram mata a dentro para sobreviver” (p.18), idéia 
compartilhada por outros antropólogos, como Waud Kracke. Traz, ainda, 
comentários, baseados em relatos dos próprios Ka’apór, sobre e existência 
de um grupo de “Urubús negros”, vivendo próximo ao rio Turiaçu, que 
hostilizavam os “Urubus brancos” e não desejavam relações amistosas com 
os “civilizados”. Esse fato poderia ser relacionado à menção que Rice faz a 
outro ou outros grupos ainda não contatados por ocasião da “pacificação”. 
Ribeiro especulava, também, que a alcunha de “negros” para aquele grupo e 
a descrição que obteve referente à pele mais escura e ao cabelo menos liso 
sugeririam contato com os negros mocambeiros da região (p.28). Além 
disso, em outra ocasião, esse autor mostrava-se espantado com a diversidade 
de tipos encontrados entre os Ka’apór de pele clara até quase negra, de 
cabelo liso até encrespado (p.597). 
 
 
Os Ka’apór vivem da caça, do plantio de pequenas roças e, eventualmente, pescam, e 
são identificados pela exímia arte plumária. Atualmente, uma parte desse povo tem adotado 
atividades econômicas de arrendamento de fazendas, confiscadas após a invasão de suas 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e alíngua Ka’apór 
24 
 
terras, atividades estas estimuladas por ONG’s que atuam na região. Essas atividades têm 
desviado vários ka’apór do cultivo de suas práticas culturais tradicionais. 
As invasões da terra dos Ka'apór pelos karaí ‘não-índios’ foram constantes, o que 
ocasionou uma longa época de hostilidades, inclusive até bem recentemente quando o 
governo federal empreendeu a retomada de terras dos Ka’apór em posse de madeireiros e 
fazendeiros na área do Centro Novo (Maranhão). Esses conflitos ameaçam constantemente a 
integridade física do povo Ka’apór. 
 
 
1.1.1 O povo Ka’apór e suas relações com outros grupos indígenas – A situação 
sociolinguística 
 
A maioria dos Ka’apór habita atualmente áreas mais próximas de centros urbanos do 
que antigamente, quando considerada a localização das demais aldeias antigas, algumas das 
quais se encontram desativadas. Assim, o povo Ka’apór mantém contatos constantes com as 
cidades de Paragominas (PA) e de São Luiz (MA). Nas aldeias Xié Pyhún Rená, Waxingí 
Rená e Parakuy Rená tem-se o Ka’apór como primeira língua, enquanto o português é mais 
difundido entre os mais jovens, principalmente quando estes estão fora das aldeias. Já os 
Ka’apór da aldeia Sítio Novo, localizada à margem do Rio Gurupi, começam a substituir 
gradativamente a língua nativa pelo português. 
No geral, a comunicação na língua nativa é bastante produtiva entre os ka’apór. Em 
algumas casas e em algumas situações sociais observamos a substituição da língua nativa pelo 
português, principalmente entre os jovens, visto que os falantes mais velhos permanecem, em 
sua maioria, monolíngues. 
Há entre os Ka’apór, algumas pessoas de origem Tembé a eles relacionadas por meio 
de alianças matrimoniais, mas estes geralmente são trilíngues em Ka’apór, Tembé e 
Português. 
 
 
 
 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
25 
 
1.1.2 Localização geográfica 
Os ka’apór vivem numa área de aproximadamente 5.301 km2, na Terra Indígena Alto 
Turiaçu, no norte do Maranhão. Suas terras fazem limite, ao norte, com o rio Gurupi, ao sul, 
com os afluentes meridionais do rio Turiaçu, a oeste com o Igarapé do Milho e a leste, com 
uma linha no sentido noroeste-sudeste quase paralela à rodovia BR-316. Os córregos e rios 
drenam para os rios Maracaçumé, Turiaçu e Gurupi, os quais deságuam no oceano Atlântico. 
A altitude máxima dessa terra indígena é de cerca de 250 metros acima do nível do mar nas 
regiões montanhosas, onde as cabeceiras do Maracaçumé, Turiaçu e Gurupi estão mais 
próximas umas das outras. Nessa área, segundo as informações meteorológicas, chove cerca 
de 2000 a 2500 mm por ano, sendo que a maior parte desse volume cai durante a 
predominância dos ventos vindos de leste no período de janeiro a maio (cf. 
wbalee@mailhost.tcs.tulane.edu). 
Observamos que as invasões de terras indígenas no Maranhão têm ocasionado grandes 
mudanças na configuração das aldeias do povo Ka’apór (Ver Mapa 1). 
 
 MAPA 1: Terras indígenas do Maranhão. 
 Fonte: asscarloubbiali.com.br/. 
 
Os índios Ka’apór estão distribuídos em várias aldeias indígenas, dentre as quais 
podemos destacar: Waxingí Rená, antiga aldeia Gurupiúna1, com aproximadamente 420 
 
1 A aldeia Gurupiúna era a mais distante e de mais difícil acesso, cerca de 32 Km da entrada do Rio Gurupi até a 
aldeia, fato que contribuiu para que esse grupo mudasse para uma aldeia nova localizada em uma região mais 
próxima à Rodovia Pará-Maranhão. 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
26 
 
pessoas; Parakuy Rena, constituída pelos índios que mudaram da aldeia Itarená2, com 45 
pessoas, Xié Pyhún Rena, concentrando uma boa parte de antigos moradores da aldeia Itarená, 
com 110 pessoas, Sítio novo, aldeia às margens do Rio Gurupi, com 12 pessoas3. Com 
exceção do Sítio Novo, as demais aldeias têm sido reorganizadas em áreas bastante diferentes 
das anteriormente conhecidas na literatura sobre os ka’apór. As áreas atuais de ocupação 
foram por algum tempo invadidas por fazendeiros e madeireiros, o que configura um espaço 
readaptado para esse povo (conforme se observa no MAPA 2, a seguir). 
 
 
MAPA 2: Área indígena Alto Turiaçu - Aldeias ka’apór no Maranhão. 
 
 
 
2 Há menção no trabalho de Corrêa da Silva à aldeia Água Preta. Esta aldeia mudou o nome para Itarená. As 
primeiras pesquisas do Projeto ‘Pesquisa e descrição da língua Zo’é e línguas correlatas’ foram realizadas na 
aldeia Itarená, a qual foi desativada em 2004. 
3 Dados cedidos pela Fundação Nacional da Saúde Indígena – FUNASA 
Itarená 
 Xié Pyhún Rená 
 
 Paracurí Rená 
 
 Waxingí Rená 
 
 Gurupiúna 
 
 Ximbó Rená 
 
 Irimã Rená 
 
 Sítio Novo 
Legenda 
 antigas 
 aldeias 
 
 aldeias 
 atuais 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
27 
 
1.2 A classificação genética da língua Ka’apór 
A língua Ka’apór é uma das oito línguas do ramo VIII da família Tupí-Guaraní. As 
demais línguas desse ramo são: Guajá, Wayampí, Wayampipukú, Emérillon, Zo’é, Anambé 
de Ehrenreich, Awré e Awrá e Takunhapé (RODRIGUES, 1984-1985; RODRIGUES e 
CABRAL, 2002; RODRIGUES, 2005). 
 
 
1.2.1 Traços tipológicos da língua Ka’apór 
 
 A tipologia do Ka’apór tende para o tipo isolante com grau reduzido de flexão (flexão 
pessoal e relacional). A língua ka’apór possui mais prefixos do que sufixos e estes últimos são 
todos derivacionais. Há, também, vestígios de que a língua tenha feito uso de incorporação, 
enquanto que a reduplicação é um processo bastante produtivo. 
 De acordo com Corrêa da Silva (1997; 2002) o sistema de alinhamento é nominativo. 
A ordem básica de palavras com predicados verbais transitivos é SOV, e com predicados 
intransitivos é SV. A língua faz grande uso de partículas para expressar modalidade, aspecto, 
intensidade, entre outros. 
Cabral e Magalhães (2005), com base em dados do Zo’é (CABRAL 2000, 2001, 2002, 
2006, 2009), do Emérillon (ROSE, 2000) e do Guajá (MAGALHÃES, 2002a, 2002b), 
apresentam os resultados de uma comparação das línguas do sub-ramo VIII, os quais mostram 
semelhanças e diferenças entre essas línguas e fundamentam algumas hipóteses sobre o 
desmembramento do ramo VIII. Reproduzimos em seguida alguns desses resultados: 
 
 
“ (c) A seqüência do PTG *ti mudou para tsi em Gj e An-E, para tsi ~ si em 
Em e para si em Jo, Kp e Wy: Gj watsí, An-E awatsí, Em awatsí ~ awasí, 
Wy, Wp, Kp awasí ‘milho’, e Jo’é awasí ‘cana de açucar’. 
(d) Exceto o Kp, que perdeu a distinção entre u e o e entre u ) e õ, todas as 
línguas mantiveram contraste entre as seis vogais orais e suas respectivas 
contrapartes nasais reconstruíveis para o PTG: i, e, È, a, u, o / ĩ, È), E), ã, ũ, õ.4 
(f) Todas as línguas que mantiveram parcialmente consoantes diante de 
silêncio, perderam apenas os reflexos de PTG *B e *w: Jo, Em, Kp. O Wy 
foi a única língua que perdeu os reflexos de *B, mas manteve reflexos de 
*w (Jo, Em, Wp, Wy, Kp -pé < PTG *-pép ‘chato’; Jo, Em, Wp, Wy, Kp -
orý, < PTG *-orýB ‘alegre’; Jo -idó, Em -idó, Wp -inó, Kp -inú < PTG *-
 
4 As autoras consideraram trabalhos precedentes que descreveram cinco vogais orais para o Ka’apór. 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
28 
 
enúB ‘ouvir’; mas PTG *péw ‘pus’ > -pé em Jo, Em, Wp, Kp e -pEw ‘pus’ 
em Wy. 
(g) Todas as línguas têm ts ou s inicial em palavras como: Gj tsu/ú, Jo so/ú, 
Wp su/ú, Kp su/ú, Em tso/ó ~ so/ó ‘morder’; 
(h) Em todas as línguas do ramo as vozes ‘recíproca’ e ‘reflexiva’ são 
expressas por um único morfema jo- ou ji- (Jo, Em, Gj ji- 
‘reflexivo/recíproco’; Wy, Wp e Kp jo- ‘reflexivo/recíproco’). 
(i) Todas as línguas do ramopreservaram apenas o prefixo correferencial de 
terceira pessoa, exceto o Kp e o Gj, que não mantiveram nenhuma forma 
correferencial (Jo, Em, Wy: onamí-º ‘sua própria orelha’). 
(j) Todas as línguas, exceto o Gj, eliminaram as estratégias morfossintáticas 
que expressavam o modo indicativo II reconstruível para o PTG. No Wp 
(Jensen 1988:106) há vestígios inanalisáveis do antigo sufixo modal em 
verbos como -ekó. Segundo Jensen, a forma indicativa de terceira pessoa é 
o-jkó, mas quando o predicado com argumento externo de terceira pessoa 
(verbos transitivos) ou com argumento interno de terceira pessoa (verbos 
intransitivos) é precedido de uma circunstância, a forma -ekój ocorre: pee 
rupi ekoj ‘está (em movimento) no caminho’. Contudo, no Gj, em que o 
Indicativo II continua ativo na terceira pessoa, os alomorfes do sufixo 
modal têm formas distintas da encontrada no Wajampí: Gj mõ kamairú i-
hó-ni mĩ-pe ‘onde Kamairú foi?’ (h) Nenhuma das línguas manteve reflexos 
dos pronomes ergativos reconstruíveis para o PTG *jepé ‘2’ e *pejepé ‘23’. 
(j) Com exceção do Gj, todas as línguas perderam os sufixos de gerúndio, 
mas as que o perderam continuam mantendo as características básicas do 
sistema de codificação de argumentos nos verbos transitivos nesse modo 
(exceto o Kp): 
(k) Todas as línguas desse subconjunto ou mantêm parcialmente o sufixo do 
caso argumentativo ou dele guardam alguns vestígios. O Kp mantém 
vestígios inanalisáveis sincronicamente em temas que terminavam por r 
(Cabral 2001). O An-E mantinha o alomorfe -a seguindo consoantes... 
 
 
 
A comparação desenvolvida por Cabral e Magalhães evidencia que, em relação a 
alguns traços, o Ka’apór aproxima-se mais do Wayampí, mas que, em relação a outros traços 
não menos relevantes, associa-se mais estreitamente ao Guajá. 
Corrêa da Silva (1997) argumenta em favor da influência da Língua Geral Amazônica 
sobre a língua Ka’apór, principalmente no que diz respeito aos seguintes traços: perda da 
distinção entre primeira pessoa inclusiva e primeira pessoa exclusiva, redução de seis vogais 
para cinco vogais e perda do sufixo flexional de negação. Cabral, Corrêa da Silva, Magalhães 
e Julião (2007) reforçam com novos dados a interferência da LGA no desenvolvimento do 
Ka’apór e das demais línguas Tupí-Guaraní da região entre o Tocantins e o Pindaré. 
Cabral, Caldas, Corrêa da Silva, Silva e Solano (ms) demonstram importantes 
afinidades entre o Zo’é, o Ka’apór e o Guajá, por um lado, e entre o Zo’é e o Emérillon por 
outro lado. Uma das afinidades mais impressionantes entre o Zo’é e o Ka’apór é a 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
29 
 
palatalização forte dos reflexos do Proto-Tupí /k/ quando precedidos de i, assim como a queda 
da marca da terceira pessoa na maioria das formas verbais com mais de duas sílabas, assim 
como a marca dos relacionais de não-contiguidade nesses contextos. 
 
1.2.2 A escola Ka’apór 
A educação formal nas aldeias Ka’apór tem sido oferecida pela FUNAI no Posto 
Canindé e na aldeia Zé Gurupi, desde os anos 70. As aulas são dadas em Português e na 
língua Ka'apor. Atualmente a Secretaria Estadual de Educação do Maranhão vem atuando 
nessas mesmas escolas. 
As condições de ensino nas escolas Ka’apór ainda são muito precárias e o ensino da 
língua nativa requer aprimoramento urgente, pois a qualidade do ensino deixa muito a desejar. 
Em decorrência disso, muitos alunos se sentem desmotivados. O ensino do português também 
é bastante precário, basta lembrar que até o momento ainda não foi formada sequer uma turma 
concluinte do ensino fundamental. 
Convenciona-se utilizar a denominação de educação escolar bilíngue a propostas de 
ensino aos alunos que convivem com duas línguas e precisam obter instrução formal em 
ambas. 
Em geral, a língua ka’apór é usada para a comunicação geral do grupo, mas as 
constantes necessidades de uso do português fomentam nas comunidades escolares uma busca 
incessante pela aprendizagem formal dessa língua. Consideradas as proporções do uso do 
português entre os jovens, é comum observarmos também uma comunicação em português, 
feita apenas no nível coloquial e que revela pontos regulares de interferências de ordem 
fonológica, morfossintática e semântica, conforme apontam pesquisas sobre o português 
falado por esses índios5. Entretanto, a escola bilíngue ofertada aos ka’apór não possui um 
plano pedagógico adequado à aprendizagem da escrita do ka’apór, nem sequer do ensino do 
português. Há uma grande ausência de projetos pedagógicos que reproduzam ou fomentem 
discussão sobre as línguas em questão: o ka’apór e o português. 
 
 
5 Ver como referência a pesquisa de conclusão de curso de AZEVEDO, Débora; SANTOS, Josiane e 
MARQUES, Tereza Cristina. Traços de interferência da língua ka’apór no português falado por índios ka’apór 
no alto turiaçu. UEPA, 2004. 
 
 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
30 
 
1.2.3 O perfil dos professores Ka’apór 
Os professores indígenas Ka’apór têm participado constantemente de cursos de 
formação, porém as dificuldades de acompanhamento na formação bilíngue dos alunos tem 
sido muitas, desde a formalização do conhecimento sobre a língua até o escasso acesso aos 
materiais disponíveis para o trabalho escolar. Em cada aldeia há, pelo menos, dois professores 
que receberam cursos de Formação para Professores por instituições educacionais do Estado 
do Maranhão ou pelo município de Paragominas. No entanto, observa-se que há pouco 
incentivo à renovação e produção de material didático, visto que o professor utiliza poucos 
recursos para as necessidades constatadas no cotidiano dos alunos, além disso, faltam 
acompanhamentos periódicos, como avaliações a respeito dos materiais produzidos por esses 
professores. 
 
1.2.4 Materiais de apoio 
A comunidade escolar ka’apór demonstra constante interesse pela produção de 
materiais didáticos, como livros de narrativas, livros didáticos, surgindo nesse contexto a 
ideia do dicionário geral. 
A pesquisa de campo foi importante para que se confirmasse a elaboração dessa obra 
lexicográfica, uma vez que foi realizada a partir de um roteiro pré-estabelecido em função do 
material linguístico necessário ao estudo comparativo e descritivo da gramática dessa língua. 
Os professores consideraram que o dicionário contempla um grande número de informações 
sobre a língua, o que facilita aos docentes o acesso a um material de apoio bastante 
abrangente sobre o Ka’apór e o Português. 
A necessidade de uma obra como um dicionário significa para os professores uma 
importante ferramenta para auxiliar nas atividades de ensino de línguas, consistindo em um 
registro escrito de possibilidades de construções, em conhecimento sobre a estrutura 
gramatical, assim como em acesso tanto por parte dos alunos quanto dos professores para 
eximir dúvidas. Afinal, o propósito de um dicionário bilíngue reside exatamente nesse ponto 
de partida. Além disso, as habilidades de leitura e escrita requerem um aporte que possa 
consubstanciar as atividades pedagógicas. 
 
 
 Capítulo 1 – Sobre o povo e a língua Ka’apór 
31 
 
1.3 Conclusão 
 Neste capítulo foram consideradas breves informações etno-históricas sobre o povo 
Ka’apór referentes às relações desse povo com outros grupos indígenas, bem como a atual 
localização geográfica dos Ka’apór, relacionada a algumas áreas de antigas ocupações desse 
povo. Apresenta-se também a classificação genética da língua Ka’apór, mencionando-se os 
traços tipológicos dessa língua. Além disso, é também descrita a situação do ensino bilíngue, 
destacando-se o papel do professor nas aldeias Ka’apór. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
32 
 
II 
Fonologia da língua Ka’apór 
 
 
2 Introdução 
No presente capítulo são apresentados alguns aspectos fonológicos da língua Ka’apór,com base nos estudos de Kakumasu (1986), Corrêa da Silva (1997), Caldas (2001), Silva 
(2001), Garcia (2009), e também com base em novos dados coletados nos últimos quatro anos 
no âmbito do meu projeto de doutorado. As informações aqui resumidas dão suporte à escolha 
adotada na transcrição dos dados e na sua fonemização ao longo do presente estudo. 
 
 
2.1 Fonemas e alofones 
Kakumasu (1986) identifica na língua Ka’apór 15 fonemas consonantais e 11 fonemas 
vocálicos, sendo que, destes, seis são orais e cinco nasais. Esta análise é basicamente a mesma 
adotada por Caldas (2001), por (Silva 2001) e por Garcia (2009). Em seguida apresento dois 
quadros, um contendo os fonemas consonantais do Ka’apór e outro, os fonemas vocálicos. 
Observamos que, nesta dissertação, usamos o símbolo e para representar o fonema vocálico 
anterior médio, assim como usamos o símbolo o para representar o fonema posterior médio, 
por serem esses símbolos mais práticos para os Ka'apór, inclusive porque são esses mesmos 
símbolos que são usados na escrita da língua para representar os respectivos fonemas. 
 
Fonemas Consonantais: 
 
Quadro 1- Fonemas consonantais 
 labial alveolar palatal velar glotal 
Oclusiva /p/ /t/ /k/ /kw/ /// 
Fricativa /s/ /S/ /h/ 
Nasal /m/ /n/ /N/ /Nw/ 
Flepe /|/ 
Aproximante /w/ /j/ 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
33 
 
 
Fonemas vocálicos: 
 
Orais 
 
 Quadro 2a– Fonemas vocálicos orais 
 Anterior Central Posterior 
+ alto /i/ /È/ /u/
- alto /e/ /a/ /o/
 Não-arredondada Arredondada 
 
 
 
 
Nasais 
 
 Quadro 2b – Fonemas vocálicos nasais 
 Anterior Central Posterior 
+ alto /i)/ /u)/
- alto /e )/ /ã/ /o)/
 Não-arredondada Arredondada 
 
 
 
 
 
2.2 Representação fonética dos fonemas do Ka’apór 
Os alofones dos fonemas do Ka’apór são apresentados a seguir, seguidos de exemplos 
ilustrativos dos mesmos. 
 
 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
34 
 
2.2.1 Segmentos consonantais 
 
Quadro 3 – Segmentos consonantais 
 Bilabial Alveolar Álveo-palatal Palatal Velar Glotal
Oclusivas su [p] [pj] [t] [tj] [k] [kw] [/] 
 so [d] [dj] 
Africadas su [s] [tS] 
 so [dZ] 
Fricativas su [S] [h] 
 so 
Nasais so [m] 
[mb] 
[n] 
[nd] 
[≠] [N] [Nw] 
Flepe so [|] 
Vibrante so 
Aproximante so [w] [j] 
 
 
 
 
2.2.2 Segmentos vocálicos 
 
Orais: 
 
Quadro 4a – Segmentos vocálicos orais 
 Anterior Central Posterior 
+ Alta +fechada 
 
[i] 
 
[È] [u]
- Alta 
 
+fechada [e] [´] [o]
-fechada [E] [a] [O]
 Não-arredondada Arredondada 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
35 
 
 
Nasais 
 
Quadro 4b – Segmentos vocálicos nasais 
baixa Anterior Central Posterior 
+ Alta +fechada 
 
[ĩ] [i 0] 
[È0] [ũ] 
- Alta 
 
+fechada 
- fechada 
[ẽ] [E0] 
[ã] [a 0] 
[õ] 
[O)]
 Não-arredondada Arredondada 
 
 
 
Em seguida, são apresentados os fonemas e suas realizações fonéticas, na medida em 
que todas as entradas do dicionário terão uma forma fonética. 
 
/p/ 
[p] 
[pu'ha0ŋ] ‘remédio’ /pu'haŋ/ 
[ha'pÈ] ‘queimar’ /ha'pÈ/ 
 
/t/ 
[t] 
[ku'tuk] ‘furar’ /ku'tuk/ 
[ta'dZi] ‘pau d'arco’ /ta'ji/ 
 
/k/ 
[g] ~ [k]: variação observada para ‘ver’, em que /k/ encontra-se antes de silêncio. 
[a'sak] ~ [a'sag] ‘eu vejo’ /a'sak/ 
[kE] ~ [gE] ‘coitado’ /ke/ 
 
 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
36 
 
[S]: o [S] ocorre quando precedido de vogal alta anterior [i]. 
[iSa'mÈ] ‘leite de alguém’ /ika'mÈ/ 
[iSÈ'ha] ‘rede de alguém’ /ikÈ'ha/ 
 
 
[k]: ocorre nos demais ambientes. 
[matuku'pa] ‘sabiá’ /matuku'pa/ 
[ku'tuk] ‘furar’ /ku'tuk/ 
 
/kw/ 
[kw]: ocorre unicamente em início de sílaba. 
[kwE'hE] ‘ontem’ /kWe'he/ 
[hu'kwen] ‘buraco’ /hu'kWen/ 
 
/// 
[/]: ocorre unicamente em início de sílaba. 
[/u] ‘comer’ //u/ 
[sawi'/a] ‘rato’ /sawi'/a/ 
 
/h/ 
[h]: ocorre unicamente em início de sílaba. 
[mÈja'hÈ] ‘fome’ /mÈja'hÈ/ 
[a|apu'ha] ‘veado’ /a|apu'ha/ 
 
/|/ 
[|]: ocorre em posição inicial de sílaba, mas também em final de sílaba, antes de silêncio. 
[|a'/ĩ ] ‘semente’ /|a'/ĩ / 
[apu'ta|] ‘eu quero’ /apu'ta|/ 
 
/m/ 
[mb]: ocorre em início de sílaba acentuada seguido de sons orais. 
[me'mbEk] ‘mole’ /me'mek/ 
[mbOj] ‘cobra’ /moj/ 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
37 
 
[m]: ocorre nos demais ambientes. 
[ma'ha] ‘veado branco’ /ma'ha/ 
[a'ma 0n] ‘chuva’ /a'man/ 
 
 
/n/ 
[nd] ~ [n]: esta variação ocorre em início de sílaba acentuada quando /n/ é seguido por 
fonemas orais. 
 
[kamana'/i] ~ [kama0nda'/i] ‘feijão’ /kamana'/i/ 
[ja'nE] ~ [ja 0'ndE] ‘nós’ /ja'ne/ 
 
[n]: ocorre nos demais ambientes. 
[na'hã] ‘quando’ /na'hã/ 
[a'mãn] ‘chuva’ /a'man/ 
 
 
/ ŋ/ 
[ŋ]: ocorre em posição inicial de sílaba e antes de silêncio. 
[pu'hãN] ‘remédio’ /pu'haN/ 
[ji'No] ‘acertar o alvo’ /ji'No/ 
 
 
/ŋw/ 
[NW]: ocorre unicamente em início de sílaba. 
[pi 00'ŋwE|] ‘pedaço’ /pi0'NWe|/ 
[NWa 0'mE] ‘Gwamé’ /NWa'me/ 
 
 
/s / 
[s]: ocorre unicamente em posição inicial de sílaba. 
[ka'sE] ‘café’ /ka'se/ 
[saka'ha] ‘cor’ /saka'ha/ 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
38 
 
/S/ 
[tS] ~ [S]: essa variação ocorre em posição inicial de sílaba de empréstimos do Português. 
[tSĩ'bO] ~ [tSi 0'mO] ~ [Si 0'mO] ‘timbó’ /Si'mo/ 
[tSĩ 'bi|] ~ [Sĩ'bi|] ‘Timbira’ /Sĩ'bi|/ 
 
 
[S]: ocorre unicamente em posição inicial de sílaba nos demais casos. 
[aku'Si] ‘cotia’ /aku'Si/ 
[Si'E] ‘curió’ /Si'E/ 
 
 
/j/ 
[j]: ocorre em posição inicial de sílaba, em contexto oral, e em final de sílaba. 
[jE'jE] ‘sozinho’ /je'je/ 
[a'ja] ‘assim’ /a'ja/ 
[kuj] ‘cuia’ /kuj/ 
[ta'mũj] ‘velho’ /ta'mũj/ 
 
[dZ]: ocorre em posição inicial de sílaba de algumas palavras. 
[dZE'|E] ‘rolar’ /je'|e/ 
[dZa'wa|] ‘cachorro’ /ja'wa|/ 
 
[≠]: ocorre quando seguido de fonema nasal. 
[e'≠ãn ] ‘corra!’ /e'jan/ 
[≠ãNWa'tE] ‘onça’ /jaNWa'te/ 
 
 
/w/ 
[w]: ocorre em posição inicial ou final de sílaba. 
[wa|a'SÈ] ‘melancia’ /wa|a'SÈ/ 
[ta'wa] ‘amarelo’ /ta'wa/ 
 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
39 
 
Vogais anteriores 
/i/ 
 [i] 
[pi'|a] ‘peixe’ /pi'|a/ 
[ma|i'wĩ] ‘maruim (inseto)’ /ma|i'wĩ/ 
 
 
 
/ĩ/ 
[ĩ] 
[ka 0mu'Sĩ] ‘pote’ /kamu'Sĩ/ 
[tĩ] ‘também’ /tĩ/ 
 
 
/e/ 
 [e] ocorre quando seguida de vogal [+alta]. 
[me'/u] ‘dar’ /me'/u/ 
[te|e'/È|] ‘traíra’ /te|e'/È|/ 
 
ou quando seguida de consoante nasal 
[jume'na|] ‘casar-se’ /jume'na|/ 
[me'mÈ|] ‘filho de mulher’ /me'mÈ|/ 
 
[E]: ocorre nos demais ambientes: 
 
[pE] ‘em, para’ /pe/ 
[kwE'hE] ‘ontem’ /kWe'he/ 
 
 
/e )/ 
[E)] 
[pEmE'/E)] ‘aquele lá’ /peme'/ẽ/ 
[aÆjamE'/E)] ‘depois’ /a'jame'/ẽ/ 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
40 
 
Vogais centrais 
 
 [È] 
[u'/È] ‘flecha’ /u'/È/ 
[È'wa] ‘céu’ /È'wa/ 
 
 
 
/a/ 
[´]: ocorre seguindo /|/, antes de silêncio. 
[jaw'a|´] ‘cachorro’ /ja'wa|a/ 
[a'|a|´] ‘arara’ /a'|a|a/ 
 
 
 [a]: nda. 
[a'kwa] ‘eu sei’ /a'kWa/ 
[a'pO] ‘agora’ /a'po/ 
 
 
/ã/ 
[ã] 
[hã'tã] ‘duro’ /ha'tã/ 
[hãj] ‘dente dele’ /hãj/ 
 
 
Vogais posteriores 
/u/ 
[u] 
[u|u'hu] ‘urubu’ /u|u'hu/ 
[kaÆ/a'|uk] ‘tarde’ /ka/a'|uk/ 
 
 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
41 
 
/ũ/ 
[ũ] 
[me'|ũ] ‘mosca’ /me'|ũ/ 
[ta'mũj] ‘velho’ /ta'mũj/ 
 
 
/o/ 
 [o]: ocorre quando seguida de vogal [+alta]. 
[ho'wÈ] ‘azul’ /ho'wÈ/ 
[jo'wOj] ‘jibóia’ /jo'woj/[O]: ocorre nda. 
[È'hOk] ‘lagarta’ /È'hOk/ 
[sO'sOk] ‘socar’ /sO'sOk/ 
 
 
/õ/ 
[O)] 
[|e'/õ] ‘meu cansaço’ /|e'/õ/ 
[mO)'kõj] ‘dois’ /mo'kõj/ 
 
 
Laringalização vocálica: 
Todas as vogais têm variantes laringalizadas quando precedidas ou seguidas de oclusiva 
glotal. 
[a/'/a/|] ‘eu caí’ /a'/a|/ 
[japE/'/a/] ‘lenha’ /japE'/a/ 
[hE/'/ẽ/] ‘doce’ /hE'/ẽ/ 
[hÈmi/'/u/] ‘comida’ /hÈmi'/u/ 
[|ÈmÈ/'/È/] ‘margem’ /|ÈmÈ'/È/ 
[kÈ/'/ĩ/] ‘pimenta’ /kÈ'/ĩ/ 
[kO/'/õ/] ‘latejar’ /ko'/õ/ 
[E|Eju/'/a] ‘gavião-cinza’ /E|Eju'/a/ 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
42 
 
Nasalização vocálica 
Todos as vogais orais podem ocorrer nasalizadas, com maior ou menor grau de 
nasalidade, quando em contexto nasal: 
 
/i/ 
[i 0] 
[pi 0'nim] ~ [pi'nim] ‘pintado’ /pi'nim/ 
[pi 0'na] ~ [pi'na] ‘anzol’ /pi'na/ 
 
/È/ 
[È)0] 
[/È0m] ~ [/Èm] ‘não’ //Èm/ 
[ta'/È0n] ~ [ta'/Èn] ‘criança’ /ta'/Èn/ 
 
/e/ 
[e 0] 
[ko'/e0m] ~ [ko'/em] “manhã”, “dia”, “amanhecer”. /ko'/em/ 
 
 
/a/ 
[a00] 
[ka 00'mÈ] ~ [ka'mÈ] ‘leite’ /ka'mÈ/ 
[ta 000'mũj] ~ [ta 00'mũj] ‘velho’ /ta'mũj/ 
 
[ã] 
[u'≠ãn] ‘ele corre’ /u'jãn/ 
 
 
/o/ 
[O)] 
[mO)'nOk] ~ [mO'nOk] ‘cortar’ /mo'nok/ 
[mO)'ĩ] ~ [mO'ĩ] ‘fazer sentar (colocar assentado)’ /mo'ĩ/ 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
43 
 
2.3 Acento 
 
 Em Ka'apór observa-se a ocorrência de maior intensidade expiratória na última sílaba 
da palavra, quando se tem duas ou mais sílabas. Há poucas palavras cuja intensidade 
expiratória recai na penúltima sílaba. 
 
 
 
2.4 A sílaba 
 
 Em Ka'apór a sílaba é constituída de um núcleo com margens opcionais. A margem 
esquerda ou posição de ataque pode ser ocupada por apenas um segmento consonantal, e 
todas as consoantes da língua podem ocorrer nessa posição. A margem direita ou coda, 
também pode ser ocupada por apenas um segmento consonantal, dentre os quais a oclusiva 
velar [k], as nasais [m, n, N], a alveolar [|] e as aproximantes [w, j]. Os tipos de sílaba em 
Ka'apór são: V, VC, CVC, CV. 
 
a) V – o padrão silábico V ocorre em início, meio e fim de palavras. Todos os fonemas 
vocálicos podem ocorrer nesse padrão. 
 
/È'pa/ ‘lago’ 
 σ σ 
 
 R A R 
 
 N N 
 
 V C V 
 È p a 
/tÈapua'pu/ ‘trovão’ 
 σ σ σ σ σ 
 | 
A R R A R R A R 
 
 N N N N N 
 
C V V C V V C V 
 t È a p u a p u 
/|a'ĩ / ‘coisa ruim’ 
 σ σ 
 
 A R R 
 | | 
 N N 
 | 
 C V V 
 r a ĩ 
 Figura 1 – Representação do padrão silábico V 
 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 //È/ ‘água’ 
 
 σ 
 
 A R 
 
 
 N 
 
 
 C V 
 
 / È 
 /pa'nu/ ‘dizer’ 
 
 σ σ 
 
 A R A R 
 
 
 N N 
 
 
 C V C V 
 
 p a n u 
 /i'ta/ ‘pedra’ 
 
 σ σ 
 
 R A R 
 
 
 N N 
 
 
 V C V 
 
 i t a 
b) VC – ocorre mais frequentemente em final de palavra. As consoantes que podem ocupar a 
posição final nesse padrão silábico são: a aproximante [j], a oclusiva velar [k], a nasal [m] e 
alveolar [|]. 
 
 /ru'waj/ ‘rabo’ /mo'wok/ ‘fazer partir’ /pi'am/ ‘buscar’ /ka/u'a|/‘doido’ 
 σ σ σ σ σ σ σ σ σ 
 
 A R Coda RCoda A R Coda R Coda C V R Coda C V C V RCoda 
 
 N N N N N N N N N 
 
 
 C V C V C C V C V C C V V C C V C V V C 
 | u w a j m O w O k p i a m k a / u a | 
 
 Figura 2 – Representação do padrão silábico VC 
 
 
c) CV – padrão silábico mais comum e ocorre em qualquer posição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 3 – Representação do padrão silábico CV 
 
 
 
Capítulo II – Fonologia da língua Ka’apór 
45 
 
/a'kaN/ ‘cabeça’ 
 
 σ σ 
 
 
 R A R Coda 
 
 
 N N 
 
 
 V C V C 
 
 a k a N 
/kuj/ ‘cuia’ 
 
 σ 
 
 
 A R Coda 
 
 
 N 
 
 
C V C 
 
 k u j 
 /|i'kWE|/ ‘líquido’ 
 
 σ σ 
 
 
 A R A R Coda 
 
 
 N N 
 
 
 C V C V C 
 
 | i kW E | 
 /kÈ'tÈk/ ‘ralar’ 
 
 σ σ 
 
 
 A R A R Coda 
 
 
 N N 
 
 
 C V C V C 
 
 k È t È k 
d) CVC – A posições de coda, nesse padrão, pode ser preenchida pelas consoantes: oclusiva 
velar [k], as nasais [m, n, N], a alveolar [|] e as aproximantes [w, j]. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 4 – Representação do padrão silábico CVC 
 
 
6.5 Conclusão 
 Neste capítulo foram apresentados alguns aspectos da fonologia segmental da língua 
Ka’apór – o inventário de fones, os fonemas e suas realizações fonéticas, padrões silábicos e 
acento. O presente capítulo mostra qual a base da fonemização dos dados e de suas 
respectivas transcrições fonéticas incluídas nas entradas lexicais do dicionário objeto desta 
tese. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Capítulo 3 – Aspectos da Morfossintaxe 
46 
 
III 
Aspectos da morfossintaxe 
 
 
3.1 Classes de palavras 
 
O Ka’apór distingue 13 classes de palavras, de acordo com critérios morfológicos, 
sintáticos e semânticos: nomes, adjetivos, verbos, posposições, advérbios, dêiticos, palavras 
aspectuais, palavras modais, palavras quantificadoras, palavras privativas, palavras 
subordinadoras, ideofones e interjeições. Nomes, adjetivos e verbos são classes abertas, as 
demais são classes fechadas. Apenas nomes, adjetivos, verbos e posposições são palavras 
flexionáveis. 
 
a) Temas flexionáveis 
 
O Ka’apór é uma língua com poucas ocorrências de flexão, como observado 
anteriormente por Corrêa da Silva (1997) e por Caldas (2001). Flexão nesta língua 
corresponde aos prefixos pessoais de dois conjuntos, que marcam o sujeito de predicados 
verbais, um deles ocorre no modo indicativo e outro ocorre no modo imperativo (cf. quadro 
7). Temas nominais inerentes ou derivados e posposições se combinam com prefixos que 
relacionam estes aos seus respectivos determinantes. Antes de descrevermos as classes de 
palavras do Ka’apór, trataremos da distribuição dos temas nominais e das posposições em 
classes de temas, de acordo com a sua distribuição com os prefixos relacionais. 
 
b) Temas nominais e posposicionais e os prefixos relacionais 
 
Prefixos relacionais são prefixos que, de acordo com Rodrigues (1953, 1981) se 
combinam com temas dependentes para marcar a contiguidade ou a não contiguidade dos seus 
respectivos determinantes. São três os prefixos relacionais do Ka’apór: os prefixos R1, R2, e 
R4. O R1 (r- ∞ º-) tem a função

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