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1 2 PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Si lva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad GOVERNADOR DO ESTADO DO PIAUÍ José Well ington Barroso de Araújo Dias REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Luiz de Sousa Santos Júnior SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC Carlos Eduardo Bielschowsky COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Celso Costa José da Costa DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA A DISTÂNCIA DA UFPI Gildásio Guedes Fernandes DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA Helder Nunes da Cunha COORDENADOR DO CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE EAD Vera Lúcia Costa Olivei ra COORDENADORA DE MATERIAL DIDÁTICO DO CEAD/UFPI Cleidinalva Maria Barbosa Olivei ra DIAGRAMAÇÃO Roberto Denes Quaresma Rêgo COORDENADOR DE REVISÃO DE TEXTO Naziozênio Antonio Larcerda REVISÃO Francisco Well ington B. Gomes 3 O presente texto destina-se aos estudantes vinculados ao Programa de Educação a Distância da Universidade Aberta do Piauí – UAPI, vinculada ao consórcio formado pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Centro Federal de Ensino Tecnológico e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IEFET, com apoio do Governo do Estado do Piauí, através da secretaria de educação. O Texto está estruturado em três unidades. Na primeira unidade questionamos o ensino de Ciências Naturais e Saúde na educação infantil e séries iniciais, de modo a situá-lo historicamente e localizamos dentro das correntes pedagógicas da educação brasileira. Tratamos também do projeto pedagógico (currículo em ação), da formação dos professores, do aluno e dos desafios diante das necessidades de sobrevivência no planeta terra, assim como do avanço das tecnologias e a interligação do mundo através das redes de comunicação. Na segunda unidade tratamos das competências e habilidades desenvolvidas pelo ensino de ciências naturais e saúde, associando aos conteúdos sugestões de atividades e observação, registro e avaliação formativa. Na terceira unidade, foi dada ênfase ao livro didático, laboratório, museu e sistematização do conhecimento através de projetos de ensino. Destacamos também o papel da problematização, da observação sistematizada, da leitura de textos 4 informativos e paradidáticos e da busca de informações em fontes variadas, culminando com os fundamentos da avaliação do ensino de Ciências Naturais e Saúde. Esperamos que este material possa ser útil para professores e alunos que fazem parte do processo de formação continuada na modalidade de educação a distância. Paz e Luz. 5 1 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E SAÚDE ................................................................................ 09 1.1 Por que ensinar ciências naturais na educação infantil e séries iniciais ......................................................... 10 1.2 Breve histórico das ciências naturais e saúde através do seu ensino ......................................................... 12 1.3 Correntes pedagógicas e o ensino de ciências naturais e saúde .................................................................. 20 1.3.1 Tendências pedagógicas na educação brasileira ....... 20 1.4 O projeto pedagógico / o currículo em ação na área de ciências naturais e saúde ....................................... 27 1.5 Formação do professor para o ensino de ciências naturais e saúde .................................................................. 29 1.6 O aluno de ciências naturais e saúde ........................... 32 1.7 Desafios para o ensino de ciências naturais e saúde .................................................................................. 35 2 ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...................................................... 51 2.1 Competências e habilidades na educação infantil ......... 52 2.2 Competências e habilidade desenvolvidas pelo ensino de ciências naturais através da educação infantil .................................................................................. 53 2.3 Conteúdos de ciências naturais para educação infantil ................................................................................. 55 2.4 Sugestões de atividades a serem desenvolvidas na educação infantil ............................................................ 58 2.5 Observação, registro e avaliação formativa .................. 64 6 3 ENSINO DE CIÊNCIAS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................... 90 3.1 Competências e habilidades nas séries inciais do ensino fundamental ................................................................. 91 3.2 Conteúdos de ciências naturais para as séries iniciais do ensino fundamental ............................................................ 92 3.2.1 Eixos temáticos .............................................................. 94 3.3 Sugestões de atividades a serem desenvolvidas no ensino fundamental do primeiro ao quinto ano ........................ 103 3.3.1 - Relação das atividades com os blocos de conteúdos para crianças de seis a oito anos de idade ............ 106 3.4 Materiais didáticos para o ensino de ciências da natureza nas séries iniciais do ensino fundamental ........... 116 3.4.1 O livro didático de ciências naturais ............................... 116 3.4.2 Laboratório ..................................................................... 119 3.4.3 Museu ............................................................................ 123 3.5 Atividades para o ensino de ciências da natureza ............ 125 3.5.1 Problematização ............................................................. 126 3.5.2 Observação ................................................................... 128 3.5.3 Leitura de textos informativos e paradidáticos. ............... 129 3.5.4 Sistematização do conhecimento e projetos ................. 131 3.5.5 Busca de informações em fontes variadas .................... 138 3.6 Avaliação em ciências da natureza nas séries iniciais do ensino fundamental ............................................................ 140 REFERÊNCIAS ....................................................................... 154 7 8 9 1 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E SAÚDE Esta unidade de estudo se destina a fundamentar em termos teóricos e metodológicos o ensino de Ciências Naturais e Saúde para o ensino infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Por se tratar de um trabalho destinado para formação inicial de Professores de Ciências Naturais e Saúde, procuramos situar no contexto da ação pedagógica pontos destinados a subsidiar questionamentos sobre o porquê ensinar os saberes desta área de estudo para crianças e adolescentes da educação infantil e séries iniciais no contexto histórico atual, associados a informações sobre algumas correntes pedagógicas. Evidenciamos também o papel do Projeto Político-pedagógico da escola em que estão inseridos o Currículo, com as linhas gerais para o ensino das Ciências Naturais e Saúde, bem como a política de formação dos Professores para ação pedagógica nesta área do saber. Finalizamos esta unidade com uma reflexão aos desafios que temos de enfrentar no cotidiano de nossa prática pedagógica com o fim de encontrar sempre resposta para tornar significativa a evolução do nosso trabalho.10 1.1 Por que ensinar ciências naturais na educação infantil e séries iniciais Em uma sociedade cada vez mais influenciada pelas ideias científicas e produtos fabricados com base em tecnologias resultantes do avanço das ciências, não é possível pensar na formação do cidadão crítico, alfabetizado cientificamente, sem um esforço para proporcionar a todos um saber científico. Este saber apresentado em forma de conhecimento sistematizado e experiência do cotidiano com fenômenos da natureza deve ser colocado à disposição de todos, através das escolas e outras fontes de informação, com o objetivo de expressar as transformações do mundo como resposta a participação humana nos destino do universo. Neste sentido, reconhecer a humanidade como parte do universo e cada pessoa como individuo passa a ser a meta do ensino de ciências da natureza na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental. Este passa a contribuir através dos conceitos, procedimentos, questionamentos e explicações para a compreensão dos fenômenos naturais, destinados a subsidiar questões éticas implícitas na relação entre sociedade, ciência e tecnologia, necessárias às intervenções na natureza. Assim, ensinar ciências da natureza na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental requer que a mesma seja trabalhada nas dimensões prática, cívica e científica cultural. A prática é a que permite utilizar os saberes no cotidiano com o fim de propiciar conhecimento da natureza e seu potencial para melhoria das condições de vida da sociedade; a cívica é a que subsidia as intervenções da sociedade, com sentimento de 11 responsabilidade científica nas decisões das políticas que envolvem a natureza; a científica cultural é a que relaciona ciência com tecnologia, seu impacto na natureza e consequente configuração da sociedade. No conjunto destas dimensões, o ensino de ciências da natureza encontra espaços para combater o individualismo elitista, a descontextualização, a a problematização, o empirismo indutivista e a rigidez algorítmica e infalível, favorecendo a construção de conhecimentos que desenvolvam competências e habilidades científicas. Nesta linha de ação, justifica-se a necessidade de ensinar ciências da natureza com o fim de penetrar na realidade natural do planeta terra para reconhecer seu potencial, seus riscos e suas crises. Assim, ela torna-se instrumento para identificar a crise ambiental que coloca em risco a vida do planeta, inclusive a humana, e ao mesmo tempo combatê-la orientando a sociedade para a reconstrução do mundo que o homem destruiu por acreditar que aquele estava a sua disposição para ser explorado e alterado em seus espaços e ciclos sem critérios éticos científicos. Pelas razões expostas, defende-se a necessidade de ensinar ciências da natureza para as crianças e sociedade em geral. 12 1.2 Breve histórico das ciências naturais e saúde através do seu ensino. A história das Ciências Naturais está associada aos mecanismos utilizados pela humanidade para entender os fenômenos naturais e as transformações impostas à natureza no sentido de suprir as necessidades de sobrevivência humana no planeta Terra. Esta caminhada em busca do conhecimento científico foi marcada por situações favoráveis de avanço no uso lógico da razão e outras desfavoráveis no campo da política e religião, atrapalhando o aprimoramento dos saberes discutidos por pensadores da época. Essas e outras dificuldades encontradas pelos pioneiros dos estudos científicos não foram impedimento para estruturação do conhecimento humano, através da observação, criação, experimentação e anúncio de paradigmas que provocaram mudanças na vida da humanidade. Assim, as ciências naturais foram se desenvolvendo e tornaram-se instrumento de fundamental importância na história da sociedade humana. No século XVIII, precisamente na Europa, a primeira revolução industrial implantou profundas mudanças na maneira de viver e trabalhar da humanidade, tendo em vista que muitas operações realizadas por animais ou pessoas foram repassadas para as máquinas. Neste mesmo período, precisamente em 1789, nasceu na França Augusto Comte, que marcou profundamente o pensamento científico dos próximos séculos. Ele encontrou nas Ciências Naturais o rumo que, no seu entender, poderia levar o indivíduo a descobrir as relações entre os fatos e elementos considerados básicos e fundamentais para uma ação coletiva a favor de reformas econômicas, políticas e sociais necessárias naquela época. 13 A contribuição de Augusto Comte para estruturação do pensar e agir científico de acordo com o estado das ciências deu-se através de uma doutrina filosófica denominada de “positiva”. Esta buscava a síntese dos conhecimentos de forma sistemática e rigorosa. Nesta mesma época, no Brasil, nossa condição de colônia impediu que usufruíssemos da revolução científica que vivia o Continente Europeu nos século XVII e XVIII. Ainda sobre os laços da imposição de fé, valores e costumes, para a maioria da população brasileira o saber científicos não encontrava espaços para se tornar prioridade no território brasileiro, mesmo marcando presença nos discursos e modo de vida da pequena elite dominante. Associado à revolução científica do século XVII, o ensino das ciências naturais começa a fazer parte do currículo das escolas em geral a partir da segunda metade do século XIX. Isso ocorre simultaneamente à consolidação dos sistemas nacionais de educação pública na Europa, concebidos exatamente para a preparação do cidadão destinado a viver numa sociedade crescentemente marcada pela ciência e pela tecnologia. Nessa mesma época surge no Brasil a preocupação com o ensino de ciências naturais, considerado como uma das formas de acesso aos resultados da aplicação das ciências naturais no processo de industrialização. Este quadro de interesse pelas questões científicas é embalado 14 pelas ideias de libertação, que teve na abolição e na República seu marcos históricos, gerou um cientificismo nas elites brasileiras que sentiu, nesta época, a necessidade de colocar o país no caminho do progresso e da civilização. Assim, acredita-se que a mudança na forma de pensar refletiu nas propostas educacionais do país. Surge assim, inicialmente sob a denominação de “Elementos de Ciências Físicas e Naturais”, o ensino das ciências naturais no território brasileiro. Passados muitos anos sem avanço em termos de metodologia e conteúdos, somente em 1929, no século XX, que o Brasil, forçado pelo projeto de “substituição de importação” na área da economia, a título de respostas à estas exigências, iniciou a estruturação curricular do ensino de ciências naturais nas escolas. Assim, o ensino de Ciências Naturais é introduzido no Brasil sob os parâmetros da vertente tradicional, com aulas teóricas, conteúdos enciclopédicos produzidos sob a ótica positivista retirados dos livros estrangeiros e com raras demonstrações para sustentar as teorias trabalhadas em sala de aula. Após a década de vinte, surgiram novas ideias para o ensino de ciências naturais , sob influência norte americana, assim como no final da década de 50, com a expansão da rede pública de ensino bem estruturada e equipada com materiais vindas dos Estados Unidos. Neste momento prevalecia a ideia de que o conhecimento é universal e consequentemente o material didático também possuía essas características, podendo ser utilizado em qualquer parte do mundo. A continuidade deste avanço no ensino de Ciências Naturais, prosseguiu através de estudos e projetos 15 pedagógicos que conquistaram espaço significativo com sua obrigatoriedade na escola elementarem todas as séries ginasiais, atualmente ensino fundamental, através da Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional n° 4024/61, que encontrou um cenário ainda dominado pela vertente tradicional. Quando foi promulgada a Lei n. 4024/61, o cenário escolar era dominado pelo ensino tradicional, ainda que esforços de renovação estivessem em processo. Aos professores cabia a transmissão de conhecimentos acumulados pela humanidade, por meio de aulas expositivas, e aos alunos, a absorção de informações. O conhecimento científico era tomado como neutro e não se punha em questão a verdade científica. A qualidade do curso era definida pela quantidade de conteúdos trabalhados. O principal recurso de estudo e avaliação era o questionário, ao qual os alunos deveriam responder detendo-se nas ideias apresentadas em aula ou no livro texto escolhido pelo professor. (BRASIL, 1997. p. 19) Essa caminhada rumo à melhoria do ensino- aprendizagem de Ciências Naturais, associada ao desenvolvimento científico brasileiro vai, a partir de 1964, de encontro com a ideologia baseado no binômio desenvolvimento e segurança. Esta delineou um quadro que ainda hoje repercute. Sua sustentação se fazia através da “neutralidade científica” ou universalidade da ciência, que fez desencadear nos discursos da época a ideia de que não valia a pena 16 desprender esforços para descobrir e criar, bastava importar. Mesmo assim, estudos e debates desencadearam propostas para a produção científica no país e ensino das Ciências Naturais, desembocando na Lei 5692/71, que orientou a necessidade do currículo responder ao avanço do conhecimento científico e de uma proposta pedagógica influenciada pela Escola Nova. As propostas para o ensino de Ciências debatidas para a confecção da lei orientavam-se pela necessidade de o currículo responder ao avanço do conhecimento científico e às demandas geradas por influência da Escola Nova. Essa tendência deslocou o eixo da questão pedagógica, dos aspectos psicológicos, valorizando a participação ativa do aluno no processo de aprendizagem. Objetivos preponderantemente informativos deram lugar a objetivos também formativos. As atividades práticas passaram a representar importante elemento para compreensão ativa de conceitos. (BRASIL, 1997, p.19-20) A implantação da Lei 5692/71, associada ao ideário pedagógico da Escola Nova de “aprender a fazer fazendo”, fez com que se proclamassem as atividades práticas como solução definitiva para resolver todos os problemas relativos ao ensino de Ciências Naturais. Esse fato, por um lado, originou preocupação com a formação de Professores de Ciências em todo país. No Nordeste esta missão foi confiada ao Centro de Ciências do Nordeste – CECINE, com sede na cidade de Recife, no Estado de Pernambuco. Por outro, as políticas federais e estaduais de educação voltadas para o ensino de Ciências Naturais, investiam pesado na construção e instalações de laboratórios para atender à 17 formação dos futuros cientistas brasileiros. Para responder as exigências acima, a metodologia de ensino se expressava pela aplicação das “ideias escolanovistas” e os passos do método científico. Neste sentido, o objetivo fundamental do processo ensino-aprendizagem em Ciências Naturais era de propiciar condições para o aluno observar fatos, levantar hipóteses, testá-las para comprovar ou refutar de acordo com resultados, encaminhando-os para produção da síntese conclusiva. A ênfase no “método científico” acompanhou durante muito tempo os objetivos do ensino de Ciências Naturais, levando alguns professores a, inadvertidamente, identificarem metodologia científica com metodologia do ensino de ciências. (BRASIL, 1997, p.20) Neste contexto, precisamente na transição da década de 70 para 80, tornavam-se cada vez mais rápidas as transformações nos diferentes setores da sociedade brasileira, consequentemente gerando os mais diversos tipos de crises, dentre elas destacamos a energética e a social. A energética fruto de uma política de industrialização acelerada pela pressa de retorno do lucro a seus financiadores, ignorava os custos sociais e ambientais originados pela falta de planejamento responsável por um desenvolvimento sustentável e social por se constituir em alertas para as ameaças oriundas das 18 péssimas condições de vida da maioria do povo brasileiro. Como parte de um projeto para minimizar as consequências destas crises, foram introduzidos nos programas de ensino de Ciências Naturais, conhecimentos que contemplavam os cuidados com a saúde e preservação do meio ambiente. Em meio à crise político-econômica, são fortemente abalada a crença na neutralidade da ciência e a visão ingênua do desenvolvimento tecnológico. Faz-se necessário a discussão das implicações políticas e sociais na produção e aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológicos, tanto em âmbito social como nas salas de aula. No campo do ensino de Ciências Naturais as discussões travadas em torno dessas questões iniciaram a configuração de uma tendência do ensino, conhecida como “Ciência, Tecnologia e Sociedade”(CTS), que tomou vultos nos anos 80 e é importante até os dias de hoje. (BRASIL, 1997, p.21) Esta proposta pedagógica da tendência CTS, tem sua sustentação em pressupostos teóricos, organizadas por pesquisadores brasileiros, com a denominação de Libertadora e Histórico Crítica, que tem em comum os conceitos de ser social (relações materiais dos homens com a natureza e entre si, que existem em forma objetiva); consciência social (relações com as ideias políticas, jurídicas, filosóficas, sociológicas, estética, religiosas e etc.); forças produtivas (relações com os meios de produção, experiências e hábitos de trabalho), e modo de produção (relações com sistemas 19 capitalistas, socialista e outros). Atualmente estamos procurando colocar em prática a campanha de compromisso com uma educação para a sustentabilidade, que traz em sua essência o compromisso de incorporar as ações educativas relativas à saúde e bem estar social, com atenção especial para a situação do mundo, promovendo: • Um consumo responsável, que se ajuste aos R (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) e responda aos pedidos do “Comércio justo”. • A reivindicação e impulso de desenvolvimento técnico-ceintífico favorecedores da sustentabilidade, com controle social e a aplicação sistemática do princípio da precaução. • Ações sócio-políticas em defesa da solidariedade e da proteção do meio, em escala local e planetária, que contribuam para por fim aos desequilíbrios insustentáveis e aos conflitos a eles associados, com uma decidida defesa da ampliação e generalização dos direitos humanos ao conjunto da população mundial, sem discriminação de nenhum tipo (étnicas, de gênero ...) • A superação, em definitivo, da defesa dos interesses e valores particulares em curto prazo e a compreensão de que a solidariedade e a proteção global da diversidade biológica e cultural constituem um requisito imprescindível para uma autêntica solução dos problemas. (Cachapuz, 2005,p. 14 e 14) 20 Esta campanha, segundo Cachapuz (2005), é uma iniciativa das Nações Unidas que traz a denominação de Década da Educação para o Desenvolvimento sustentável, correpondente ao período de 2005 à 2014. Acredita-se que nessa direção será construída a história do ensino de Ciências Naturais no Brasil. 1.3 Correntes pedagógicas e o ensino de ciências naturais e saúde 1.3.1 Tendências pedagógicas na educação brasileira Para tratar das tendências pedagógicas e o ensino de Ciências Naturais, vamos nos reportar a obra do professor Dermeval Saviani (1991), que desenvolveuum esquema lógico para as teorias da educação diante do problema da marginalidade relativa ao fenômeno da escolarização, classificando-as em dois grupos. Segundo Saviani (1984), no primeiro grupo estão as que entendem a educação como um instrumento de equalização social, portanto de superação da marginalidade. No segundo grupo, estão as teorias que entendem a educação como instrumento de discriminação social, logo, um fator de marginalidade. Estas teorias estão colocadas, de forma sintética, no quadro a seguir: 21 Classificação das Teorias Concepções Teóricas Modelos Pedagógicos Não –Críticas (liberais) Pedagogia Tradicional Ensino Tradicional Concepção Humanista Moderna Escola Nova (Pedagogia Renovada) Concepção Humanista Moderna Tecnicismo Crítico Reprodutivistas Violência Simbólica Não apresentam propostas pedagógicas, visto que entendem a escola como instrumento de reprodução das condições sociais impostas pela organização capitalista. Aparelhos Ideológicos de Estado Escola Dualista Dialéticas (Progressistas) Pedagogia Histórico- Crítica (Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos) Excluindo experiências esporádicas, essa corrente encontra pouca ressonância na prática pedagógica dos educadores brasileiros. Pedagogia Libertadora Tem sido empregada com êxito em vários setores dos movimentos sociais (sindicatos, associações de bairro, comunidades religiosas e alfabetização de adultos). 22 O ensino tradicional de Ciências da Natureza surgiu com o objetivo de transmitir ao aluno um conjunto previamente estruturado de conteúdos que representasse o patrimônio cultural e científico da humanidade. Esta proposta está associada às teorias não críticas da pedagogia tradicional através das características metodológica do processo ensino-aprendizagem relativas aos conteúdos, método de ensino, relação professor x aluno e avaliação da aprendizagem. Assim, os conteúdos são apresentados em forma de conhecimento e valores sociais acumulados ao longo dos tempos, com fim de serem repassados aos alunos como verdades absolutas. Para tanto, é aplicado o método expositivo através das técnicas de exposição e demonstrações. O individualismo é característico desta metodologia que não abre espaço para comentários ou discussão dos conteúdos estudados. Neste particular o professor que possui o domínio do saber discursa e faz anotações para o aluno, de forma passiva e organiza sua aprendizagem no campo cognitivo em função do que foi tratado na sala de aula. Nas aulas expositivas são apresentados os conceitos oriundos das observações e experimentações científicas realizadas e testadas segundo as etapas do método científico, para o aluno aprender e repetir no momento da avaliação. O processo avaliativo é considerado como momento de “prestação de contas” dos conteúdos aprendidos. Para quem consegue aprender é dado o prêmio da aprovação, caso contrário, o da reprovação. 23 Este processo caracteriza-se pelos traços da verificação separada dos demais componentes do processo de ensino-aprendizagerm, voltada para classificar e justificar a repercussão individual e social alcançada pelo aluno. Esta proposta educativa permaneceu intacta até o momento que os educadores começaram a defender condições para o aluno redescobrir os fenômenos e conceitos fundamentais das Ciências da Natureza através de simulações e procedimentos utilizados pelos cientistas em suas tentativas de compreensão do mundo mais sistemática e segura. Nesse momento, este ensino passou a sofrer influência da concepção humanista moderna que originou o movimento denominado de Escola Nova. Este movimento, que ganhou força no início do século XX, passou a ter repercussão no Brasil a partir de 1924, com a fundação da Associação Brasileira de Educação – ABE, que reunia representante dessas novas ideias. Esse movimento continuou sendo aprimorado e em 1932 ganhou notoriedade com o lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que acirrou os conflitos entre escolanovistas e educadores católicos, defensores de uma educação de cunho religioso. A escola Nova atingiu seu apogeu a partir da década de 1960, e continuou seu ideário pedagógico nacional com uma série de orientações diferenciadas da proposta de ensino tradicional. Para o ensino de Ciências da Natureza, a palavra chave passou a ser “redescoberta”. O chamado método da redescoberta teve origens com a reforma da educação científica norte-americana. Por volta da década de 1960, temendo o atraso científico e tecnológico em relação aos soviéticos, que em 1961 lançaram Iuri Gagárin ao espaço, os americanos 24 desencadearam uma reforma educacional que atingiu fortemente o ensino de ciências, com repercussões posteriores no Brasil, onde houve a adoção teórica desse modelo de ensino como uma proposta mais interessante, instigante, e promissora, pelo menos em relação ao ensino tradicional, na época era criticado por educadores escolanovistas. Para atender as exigências do pensamento escolanovista, com ênfase na redescoberta, a estrutura física da escola teve que passar por transformações para atender metodologias desenvolvidas com base em demonstrações e experimentos. Assim surgiram os laboratórios de ciências para atender uma ou várias escolas que funcionavam ao seu redor, as aulas passeios, feiras de ciências e outros mecanismos destinados a subsidiar a ação do redescobrir. Estas transformações que exigiam o deslocamento do intelecto para o sentimento; do professor para o aluno; do lógico para o psicológico; do comportamento passivo para o ativo; do esforço para o interesse, do diretivismo para o não diretivismo e da quantidade para qualidade, colocaram em questão a racionalidade, eficiência e produtividade da proposta escolanovista, fazendo emergir a racionalidade instrumental da pedagogia tecnicista. Essa racionalidade defende a reordenação do processo educativo no sentido de torná-lo objetivo, operacional, eficiente e produtivo. Assim, o tecnicismo elege como elemento principal do processo ensino- aprendizagem a organização 25 racional dos meios com ênfase na utilização de artefatos tecnológicos. O ensino de ciências naturais vivenciou muito bem este momento com a entrada, nos laboratórios, dos projetores de slide, retroprojetores, máquinas fotográficas filmadoras e painéis eletrônicos destinados movimentar os ciclos da água, sangue e outros. Com a pedagogia tecnicista as aulas passam a ter caráter teórico e prático. Na teórica passa a predominar os estudos dirigidos e na prática a orientação é dada através dos roteiros que, por serem limitados, ultrapassam, o “saber ser” e desembocam no “saber fazer”. A crítica à pedagogia tecnicista abriu espaço para as ideias oriundas da Concepção Crítico-Reprodutivista. Foram teorias concebidas no contexto da educação européia, ganhando notoriedade no Brasil porque faziam uma análise crítica da educação e seu papel na sociedade capitalista. Estas são as seguintes: teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica, formulada por Bourdieu e Passeron; teoria da escola enquanto aparelho ideológico de estado, de Althusser; e teoria da escola dualista, defendida por Baudelot e Establet. Elas não tiveram influência na prática pedagógica do ensino de ciências, mas alimentaram as críticas relativas ao formalismo dogmatizante, falado e restrito ao livro didático, composto por programas obsoletos, metodologias desmotivantes geradoras de uma aprendizagem praticamente insignificante no contexto da formação geral dos cidadãos sem considerar aspectos históricos e questões sociais. Esteprocesso ultrapassou a crítica reprodutivista e evoluiu até o reconhecimento de que a sociedade 26 necessariamente determina influências sobre o processo educativo, abrindo-se a possibilidade para a formulação de propostas pedagógicas articuladas com o compromisso de transformação da sociedade. E entre essas está a Pedagogia Histórica Crítica, formulada por Demerval Saviani ( 1991). Assim, a Pedagogia Histórica Crítica, segundo Saviani, procura articular uma proposta pedagógica cujo ponto de referência e compromisso é a transformação da sociedade e não sua manutenção e perpetuação. Essa vê a educação como prática mediadora no seio da prática social, e, portanto, coloca a prática social como ponto de partida e de chegada do processo de ensino. Ela defende a síntese entre qualidade e quantidade, o trabalho com conhecimentos significativos associado ao uso de métodos que estimulem a iniciativa de alunos e docentes. Com relação ao ensino das Ciências Naturais, associamos o Movimento Ciência Tecnologia e Sociedade às bases teóricas da Pedagogia Histórico Crítica. Essa surgiu a partir da década de 70, fazendo atualmente parte das pesquisas na Didática das Ciências Naturais. Finalmente, percebe-se ao longo deste texto que a prática pedagógica do ensino de Ciências Naturais foi perpassada ao longo de sua existência pelas ideias de pedagogias predominante em cada época, mas nesta dinâmica de avanços e recuos, o Movimento Ciência Tecnologia e Sociedade expressa os pontos que devem ser perseguidos para uma proposta que responda aos anseios da sociedade contemporânea. 27 1.4 O projeto pedagógico / o currículo em ação na área de ciências naturais e saúde O projeto político-pedagógico mostra a visão macro do que a instituição escola pretende ou idealiza fazer, seus objetivos, metas, estratégias permanentes e processos avaliativos, tanto no que se refere às suas atividades pedagógicas, como às administrativas na âmbito das políticas implementadas. Assim, compete ao projeto político- pedagógico a operacionalização do planejamento escolar, em um movimento constante de avaliação. Neste sentido, o projeto político-pedagógico passa a ser uma direção, um rumo para as ações da escola, através de uma ação intencional que deve ser construída coletivamente. Ele é denominado de político porque reflete as opções e escolhas de caminhos e prioridades na formação do cidadão, como membro ativo e transformador da sociedade em que vive; pedagógico porque direciona as atividades pedagógicas e didáticas da escola. A separação entre o político e pedagógico é apenas formal, na realidade as ações apresentam-se formando uma totalidade. Enfim, um projeto político-pedagógico da escola apoia-se: a) no desenvolvimento de uma consciência crítica; b) no envolvimento das pessoas: a comunidade interna e externa à escola; 28 c) na participação e na cooperação das várias esferas de governo; d) na autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e como produto do projeto. O projeto da escola depende sobretudo da ousadia dos seus agentes, da ousadia de cada escola em assumir-se como tal, partindo da cara que tem, com o seu cotidiano e o seu tempo-espaço. (GADOTTI 1, 1997, p.3 Assim, o projeto político pedagógico é um instrumento de fundamental importância para definição do currículo da escola e neste a parte referente à área de ciências naturais da educação infantil e séries iniciais, tendo em vista que ele traduz as 1 Moacir Gadotti, Professor titular da Universidade de São Paulo, Diretor do Instituto Paulo Freire e autor, entre outras obras, de: A educação contra a educação (Paz e Terra, 1979: Francês e Português), Convite à leitura de Paulo Freire (Scipione, 1988: Português, Espanhol, Inglês, Japonês e Italiano), História das idéias pedagógicas (Ática, 1993: Português e Espanhol), Pedagogia da práxis (Cortez, 1994: Português, Espanhol e Inglês) e Perspectivas atuais da educação (Artes Médicas, no prelo). Este texto nasceu de um debate num painel, durante a realização da Conferência Nacional de Educação para Todos (setembro de 1994), em Brasília. O autor fez diversos debates sobre o tema, entre eles em Lages (SC), em 1995 e em Mauá (SP), no ano seguinte. Mais tarde essas idéias foram tomadas com os companheiros do Instituto Paulo Freire (IPF) as desenvolvemos juntos no livro Autonomia da escola: princípios e propostas, publicado pela Editora Cortez em 1997 como primeiro número da série “Guia da escola cidadã” que serviu de texto para um Curso de Educação Continuada ministrado pelo IPF durante os anos de 1997 e 1998 para mais de 2500 diretores, supervisores, assistentes técnicopedagógicos e professores coordenadores da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Este também foi o primeiro texto que serviu de roteiro de uma série de 7 programas de TV feitos pelo IPF em parceria com a TV Educativa do Rio de Janeiro no início de 1997 com o título: Construindo a Escola Cidadã: Projeto Político- pedagógico. A leitora ou leitor que desejar aprofundar o assunto poderá consultar ainda: Ilma Passos Veiga, Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível (Campinas, Papirus, 1996), Ilma Passos e Lúcia G. de Resende (orgs), Escola: espaço do projeto políticopedagógico (Campinas, Papirus, 1998) e Bianco Zalmora Garcia, A construção do projeto políticopedagógico da escola pública na perspectiva da Teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas.Dissertação de Mestrado. São Paulo, FE-USP, 1999. 29 necessidades e aponta para o perfil do cidadão que queremos educar com informações, princípios e ações de cunho científico. Desta forma, é na parte do currículo referente ao ensino de ciências onde delimitam-se as competências e habilidades, conteúdos, metodologias e critérios de avaliação da ação pedagógica, bem como o encaminhamento para discussão de temas voltados para contribuir com a formação de uma cultura que reflita as necessidades e os anseios do cidadão. Competência, segundo Guiomar Namo de Mello (2003), “é a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação”. É através do currículo que se caracteriza a clientela que vai estudar Ciências Naturais, entendida como conhecimento produzido pelo homem ao longo de sua história e fruto das relações sociais que mantém com o mundo, para cada vez mais transformá-lo e adequá-lo à continuidade e evolução da vida. Finalmente, é seguindo o rumo dado pelo projeto político-pedagógico e as diretrizes curriculares da escola na sua totalidade e do ensino de ciências na sua especificidade que se abrem possibilidades para uma prática pedagógica que conduza ao saber, saber fazer, ser e conviver interagindo com o mundo. 1.5 Formação do professor para o ensino de ciências naturais e saúde A formação do docente para o ensino de ciências na educação infantil e as séries iniciais do ensino fundamental tem sido discutida em função das propostas 30 de formação inicial trabalhadas pelas agências formadores de profissionais para este ramo do saber. Neste sentido, várias questões são evidenciadas no processo de formação do educador para trabalhar o ensino das ciências naturais. Dentre vários, o de indagar sobre o domínio do saber da disciplina composto por conceitos, procedimentos e atitudes que respondam às exigências da sociedade do conhecimento, das novas tecnologias e da informação. Com relação à formação do professor de Ciências Naturais e Saúde, Astolfi (1990), em seu livro “A didática das Ciências”, enfatiza no item as características de uma formação de professores, chama atenção para competências de tomar decisão, interagiratravés da comunicação, dominar os saberes acadêmicos associados a habilidades de observar, analisar, gerir, regular e avaliar as situações de aprendizagem e de ensino. O professor tem de dominar os conteúdos a ensinar. Esta evidêncvia deveria ser acompanhada não apenas de um conhecimento dos elementos de programas mas também de uma visão geral da disciplina a ensinar, em termos de princípios organizadores, de campos nocionais, de tramas conceituais. Trata-se de entrever a disciplina não como um patchwork sem unidade, correspondendo cada elemento a um conceito, mas como um mosaico expressivo constituído por conceitos ligados uns aos outros. Assim, os saberes “acadêmicos” específicos à disciplina não deveriam ser abordados sem uma reflexão epistemológica. (ASTOLFI, 1990, p.123) Ainda com relação à formação do professor, Brito (2006) refere-se a racionalidade formativa com competência para que, além de ter domínio de conhecimento específico da profissão, seja capaz de 31 responder as exigências e à multiplicidade de situações que permeiam o exercício da docência na sociedade do conhecimento, da informação, ciência e tecnologia. (...) Observa-se, portanto o delineamento de uma nova racionalidade formativa, cujo foco é dar origem a um profissional que, para além de ter domínio de conhecimentos específico da profissão, constitua-se um agente capaz de responder às diversas exigências e à multiplicidade de situações que marcam a atividade docente. Em face da especificidade e complexidade da ação docente, evidencia-se, pois, a importância de um profissional extremamente qualificado para exercer a docência nesta sociedade do conhecimento, da informação e do avanço tecnológico.(BRITO, 2006, p. 42) Brito (2006), refere-se também sobre as diferentes competências do professor reflexivo relativas à necessidade do enfoque interdisciplinar, investigação do cotidiano da prática pedagógica pela pesquisa e o domínio dos saberes intrínsecos à profissão docente. Pensar a formação de professores implica, portanto, pensar que o exercício da docência, conforme Tardif (1991), requer a mobilização de vários tipos de saberes: saberes pedagógicos (reflexão sobre a prática 32 educativa mais ampla), saberes das disciplinas (envolvem vários campos do conhecimento e concretizam-se pela operacionalização dos programs), saberes curriculares (selecionados no contexto da cultura erudita) e os saberes da experiência (constituem-se saberes específicos no exercício da atividade profissional.(BRITO, 2006, p.45) Em síntese, fica claro que, em uma sociedade complexa, onde a velocidade das informações e as mudanças proporcionadas pelo avanço das ciências e tecnologias, são requeridas reflexões e ações dinâmicas na formação do Professor para o ensino de ciências. Esta deve ser perpassada pelas competências de construir e reconstruir saberes necessários à gerencia de uma prática pedagógica reflexiva diante das condições sociais do ensino das ciências naturais. 1.6 O ALUNO DE CIÊNCIAS NATURAIS E SAÚDE Quem é o nosso aluno? Pertence à pobreza? Classe média? Ou Classe alta? Mora com a família? Conta com ambiente propício para realizar seus estudos? O que esperam da escola? Como aprendem ou gostariam de aprender? Geralmente os Professores concentram parte de suas energias com questões relacionadas ao planejamento da aula, procurando elaborar bem as competências e habilidade, selecionar conteúdos, escolher métodos e técnicas de ensino, montar estratégias para desenvolver as aulas e avaliar a aprendizagem, mas nem sempre procuram saber quem são os alunos. No desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem é importante que os Professores vejam o aluno como sujeito da aprendizagem, é ele quem realiza a ação de aprender. Não existem meios de ensinar alguém que não tenha tomado a 33 decisão de aprender, tendo em vista que a aprendizagem é um processo interno que depende da vontade de cada pessoa. Ainda nesta linha de pensamento, faz-se necessário entender que a aprendizagem é resultado de ações interativas do sujeito com seu meio social e natural circundante. Este referencial requer o reconhecimento do aluno como centro do processo ensino-aprendizagem onde o Professor tem a função de auxiliar o desenvolvimento do aluno percebendo em que zona proximal se encontra para oferecer subsidio necessário ao alcance de outra mais avançada. Reconhecer o aluno como foco da aprendizagem significa considerar que os professores têm um papel importante de auxilio em seu processo de aprendizagem, mas, sobretudo, perceber que, para de fato poderem exercer esse papel, é preciso pensar sobre quem é esse aluno, (Delizoicov, 2007, p. 32) O reconhecimento do aluno de Ciências Naturais e Saúde do ensino fundamental processam-se pelas características internas e externas que apresentam com maiores evidências. Assim, são classificados como crianças, adolescentes e jovens, das mais diferentes origens sociais, que vivem, do ponto de vista da prática simbolizadora, construindo explicações sobre o mundo natural e social no qual está inserido. “(...) Essas explicações constroem-se junto com a linguagem desde a mais tenra idade e o acompanham permanecendo ou mudando, ao longo de toda a vida” (Delizoicov, 2007, p. 32) Neste contexto, o ensino formal é apenas um dos meios que abrem espaços para os alunos construírem as 34 explicações e as linguagens. Os seres humanos nascem em ambientes mediados por interações sociais que conduzem a construção de linguagens, explicações e conceitos que permanecem ou se modificam ao longo da vida como resultado das influencias internas e externas do meio social e natural do qual pertence. Mesmo admitindo que o ensino contribua apenas com a orientação de uma pequena fatia do universo simbólico do aluno, é de fundamental importância para o Professor manter-se informado sobre sua cultura primeira2, tradição cultural étnica e religiosa, grupos sociais a que pertence e rede de comunicação social da qual faz parte, para facilitar o seu trabalho e consequentemente a aprendizagem do aluno nas Ciências Naturais e Saúde. Saber quem é o aluno de Ciências Naturais e Saúde é o primeiro passo para o professor que trabalha com saberes permeados por visões diferenciados de mundo composta por questões religiosas, hábitos, comportamentos, tradições culturais, artísticas, tecnologias e outras. O segundo é entender que este aluno está inserido em um universo simbólico, mediado por interações que podem ser aproveitadas no aprimoramento dos conceitos, procedimentos e atitudes que caracterizam a aprendizagem científica deste campo do conhecimento. 2 A denominação cultura prevalente ou primeira inclui, portanto: palavras que são resultado de sensações orgânicas, de experiências de ações diretas sobre os objetos, artefatos e fenômenos; explicações aprendidas em relações diretas com outras pessoas e/ou com os meios de comunicação social e outras produções culturais, como explicações de origem religiosa, da tradição oral étnica ou de uso específico de um grupo social particular. 35 1.7 Desafios para o ensino de ciências naturais e saúde Os desafios do mundo contemporâneo, principalmente os gerados pelas transformações advindas do avanço das ciências e tecnologias são transferidos para escola em formas de saberes a serem discutidos, avaliados e aperfeiçoado pela reflexão sobre suas origens, causas e consequências. Nesse contexto situamos o ensino das Ciências Naturais e Saúde com uma boa parte da parcela de contribuição referente à formação humana no sentido de orientar para o enfrentamentodos desafios relativos às transformações requisitadas para sobrevivência no planeta terra. Na dimensão do ensino de Ciências Naturais e Saúde, necessitamos superar o desafios de fazer chegar os conhecimentos científicos a todos, através da superação do senso comum pedagógico e sua transformação em cultura contemporânea que incorpora os conhecimentos da ciência e tecnologia. Assim, os desafios do ensino de Ciências Naturais e Saúde serão desenvolvidos com base nos questionamentos a seguir: • Como fazer chegar a disciplina Ciências Naturais e Saúde a todos os indivíduos do planeta terra? • Como fazer para superar o senso comum pedagógico? • Como caracterizar as Ciências Naturais e Saúde no âmbito da cultura? 36 • Como aplicar os resultados das pesquisas em ensino de ciências na prática pedagógica dos Professores? • Como melhorar a relação do homem com a natureza para evitar a degradação dos bens naturais necessários à vida? a) Ciências Naturais e Saúde para todos. Enquanto os habitantes do Brasil eram “pacificados” e “alfabetizados” segundo os princípios e costumes europeus, as ciências naturais foram introduzidas para atender uma elite que compreendia seu o valor das ciências naturais para o progresso da humanidade. Este fato gerou um distanciamento entre o “povo brasileiro” e os “estrangeiros” menos esclarecidos que acompanhavam a corte para realização de serviços domésticos ou braçais. Assim, foi instalado o ensino de ciências no Brasil destinado para poucos que despertavam interesse por esta área do saber. Com base nos fundamentos históricos do ensino de Ciências Naturais no Brasil, este teve um impulso nas décadas de trinta, cinquenta e a partir da de setenta. Nestes perídos começaram a ocorrer os primeiros passos para democratização do aceso aos conhecimentos das Ciências Naturais e Saúde através do avanço neste campo da educação fundamental na sua totalidade. Diante deste quadro, o desafia para educação de maneira geral é colocar o saber científico ao alcance de todos através da escola e outros meios de comunicação de massa que possam levar os conhecimentos científicos ao povo. No que diz respeito a educação escolar, cabe aos professores de Ciências Naturais e Saúde colocar em ação uma prática docente a favor da divulgação dos princípios científicos através dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, bem como metodologias 37 apropriadas para a realidade que apresenta, mas que são, na atualidade, exigências pessoais ou coletivas ligadas a socialização, formas de expressão, crenças, valores, expectativa e contextualização familiar. Em suma, convocamos a sociedade em geral e a comunidade escolar em particular para combater a prática de formar elite de cientistas e, ao contrário, abraçar a meta de colocar as Ciências Naturais e Saúde ao alcance de todos. b) Superação do senso comum pedagógico. É unânime nos discursos sobre a formação de professores na área de Ciências Naturais e Saúde a idéia de que eles precisam ter o domínio dos saberes científicos da sua área de atuação, mas tem ficado também muito claro a necessidade de serem desenvolvidas competência e habilidades do fazer pedagógico, comprometido com a proposta que conduza os alunos ao desenvolvimento do raciocínio lógico-científico associado à crítica e criatividade diante de uma área do saber em constante processo de transformação. Esta linha de ação permite aos professores de Ciências Naturais e Saúde o distanciamento dos pressupostos que defendem o ensino de ciências como mera transmissão mecânica de informação, caracterizando um produto acabado e inquestionável da indesejada “ciência morta” e, ao contrário, aproxima de um trabalho pedagógico que rompe com o senso comum, através de métodos e técnicas desenvolvidas na perspectiva problematizadora que 38 aponta para indissociabilidade dos conteúdos e metodologias. “(...) Esse risco está relacionado, entre outros, com o pressuposto de que a apropriação de conhecimentos ocorre pela mera transmissão mecânica de informações” (Delizoicov, 2007, p. 32) O senso comum é característico de uma variedade de atividades que são comuns na prática pedagógica dos Professores de Ciências Naturais e Saúde. Estas precisam ser combatidas no sentido de colocar em prática a proposta pedagógica da tendência CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), que tem em comum os conceitos de ser social (relações materiais dos homens com a natureza e entre si que existem em forma objetiva); consciência social (relações com as ideias políticas, jurídicas, filosóficas, sociológicas, estética, religiosas e etc.); forças produtivas (relações com os meios de produção, experiências e hábitos de trabalho), e modo de produção (relações com sistemas capitalistas, socialista e outros). Melhor caracterizando: esse tipo de senso comum está marcadamente presente em atividades como: regrinhas e receituários; classificação taxonômicas; valorização excessiva pela repetição sistemática de definições, funções e atribuições de sistemas vivos ou não vivos; questões pobres para pronta respostas igualmente empobrecidas; uso indiscriminado e acrítico de fórmulas e contas em exercícios reiterados; tabelas e gráficos desarticulados ou pouco contextualizados relativamente aos fenômenos contemplados; experiências cujo único objetivo é a “verificação” da teoria ... (...)(Delizoicov, 2007, p. 32) 39 O desafio de vencer o senso comum pedagógico para adotar uma prática comprometida com a compreensão do mundo através de reflexões de cunho científico, com questionamentos críticos e bem articulados com a realidade, deve ser a meta dos responsáveis pelo processo ensino-prendizagem das Ciências Naturais e Saúde junto a crianças e adolescentes do ensino fundamental. c) Ciências e tecnologia como cultura Os condicionantes histórico-político-socias, unem a produção científica com a cultural na mesma dimensão, demonstrando que elas são frutos das competências e habilidades dos humanos. Infelizmente as organizações sociais que institucionalizam a produção do saber e cultura conseguem dissociá-las a ponto de expressarem características de incompatibilidade. Esta dissociação se constitui em um grande desafio a ser vencido pela prática docente dos professores de Ciências Naturais e Saúde que influenciam na formação da personalidade dos alunos desde a educação infantil até o ensino superior. Assim, cabe aos professores, no primeiro momento, entender que a produção do conhecimento científico e sua aplicação no desenvolvimento da tecnologia sustenta as transformações sociais, expressas através das atividades humanas historicamente determinadas e submetida aos condicionantes culturais da 40 Sociedade. No segundo momento, cabe aos professores fazer uso da prática pedagógica para conduzir os alunos a compreensão e apropriação deste processo. Em oposição consciente à prática da ciência morta, a ação docente buscará construir o entendimento de que o processo de produção do conhecimento que caracteriza a ciência e a tecnologia constitui em uma atividade humana, sócio-historicamente determinada, submetida a pressões internas e externas, com processos e resultados ainda pouco acessíveis à maioria das pessoas escolarizadas, e por isso passíveis de uso e compreensão a críticos ou ingênuos, ou seja, é um processo de produção que precisa, por essa maioria, ser apropriado e entendido. (Delizoicov, 2007, p. 32) A título de exemplo podemos citar a produção científica no ramo da informática, sua utilização imediata na produção tecnológica de computadores e acessórios, bem como as modificações nos traços culturaisda sociedade. Em síntese, cabe a todos que trabalham com ciências naturais e saúde no ensino fundamental colocar nos discursos e ações as características da produção científica como atividade humana, social e historicamente determinada, com fim de configurar este ramo do saber como uma cultura indispensável para a formação humana nos dias atuais. d) O ensino de Ciências Naturais e Saúde X Resultados das pesquisas e inovações tecnológicas 41 O ensino das Ciências Naturais e Saúde tem sido alvo de muitas pesquisas na área pedagógica, tanto na produção de materiais áudio visual como no campo comportamental, métodos e técnicas do fazer pedagógico. A intensificação do interesse para esta área de estudo teve como ponto de partida o momento em que o mundo foi surpreendido com conquista do universo através da ida do homem a lua. Esse fato deu-se em meio a uma disputa de forças ideológicas entre o bloco dos países socialistas liderados pela União das Repúblicas Socialistas (URSS) e os capitalistas sob a liderança dos Estados Unidos da América (USA). Foi justamente os Estados Unidos quem sentiu necessidade de mudança na área do ensino de Ciências Naturais e ao colocar isto em prática influenciou o Brasil com disseminação de ideias e materiais de ensino. Assim, as pesquisas de cunho pedagógico, as relativas aos saberes das Ciências Naturais e a produção de materiais de ensino como fruto da transformação dos conhecimentos em tecnologias, influenciaram e continuam influenciando a todo instante o ensino das Ciências Naturais e Saúde na definição, redefinição ou atualização do seu campo de conhecimento e produção de instrumentos didáticos destinados a auxiliar no espaço sala de aula. Desta forma, as pesquisas que levam para sociedade as descobertas científicas nos mais diferentes campos do conhecimento são transformadas em tecnologia com aplicação imediata na indústria, gerando saberes que são incorporados pelo ensino das Ciências Naturais e Saúde nos seus 42 diferentes graus em forma de conteúdos. A título de exemplo podemos citar: • Resultados das pesquisas no automobilismo, que são aplicadas de imediato na produção dos carros; • Resultados na pesquisa sobre desperdício de energia utilizado na produção de eletrodomésticos; • Pesquisa sobre resistência de material com uso imediato em vários setores da produção industrial e construção civil; • Pesquisas na área da genética, reprodução humana, melhoramento de espécies animais e vegetais, defesa e aproveitamento do solo e outras da área de Biologia que são aplicadas no bem estar da sociedade, saúde, meio ambiente, produção de alimentos e equilíbrio da humanidade com planeta terra. Estes resultados chamam atenção de todos principalmente as crianças da atualidade que estão ligados em tudo que se constitui em novidade. Este é o ponto de convergência entre os resultados das pesquisas científicas e suas aplicações tecnológicas no cotidiano da sociedade. É neste sentido que a escola precisa enfrentar o desafio de trazer para sala de aula os resultados de experimentos científicos que geram saber e tecnologias, bem como os estudos acumulados em trabalhos sobre o ensino de Ciências Naturais e Saúde produzidos nas universidades, órgãos governamentais de pesquisa pedagógicas, associação de classes e outros que têm contribuído com o aprimoramento do saber científico e sua disponibilidade para acesso aos professores e alunos que constroem e reconstroem o saber dentro de suas 43 especificidades através de textos, jornais, revistas, livros, páginas na rede web e CD-ROMs. Nesta caminhada de aproximação da prática docente com os resultados das pesquisas não podemos ficar sem reforçar o reconhecimento pela importância das publicações através das teses de doutorados, dissertação de mestrados e trabalhos de conclusão de cursos nas licenciaturas da área de Ciências Naturais e Pedagogia. Neste desafio de aproximar o ensino de Ciências Naturais e Saúde dos resultados da pesquisa pedagógica, científica e sua aplicações nas tecnologias, qualquer mecanismo é valido, mas acreditamos que um dos mais eficientes encontra-se nas salas de aulas dos cursos de formação de professores e sua extensão na prática pedagógica dos docentes das escolas de ensino fundamental e médio, tendo em vista que é nelas onde se encontram os principais agentes de articulação deste processo. Neste cenário, são os cursos de formação continuada em nível de graduação e pós-graduação de fundamental importância, tendo em vista que os mesmos se constituem em canais de comunicação e troca de experiências entre as escolas de ensino fundamental ou médio e as instituições de ensino superior, pesquisa e extensão, permitindo atingir outros professores, alunos e pais com ideias ou práticas inovadoras no ensino de Ciências Naturais e Saúde. É também através deste processo que são abertos caminhos para utilização de tecnologias que chegam às escolas e não são exploradas de forma adequada porque não existe pessoal capacitado para manusear os equipamentos. 44 O papel da escola neste processo de incorporação dos conhecimentos científicos e suas aplicações tecnológicas são de fundamental importância por se constituir em espaço real e propício para enfrentar o desafio de romper com as dificuldades de cunho material, cultural e ideológico que transformam parte da sociedade em vítima da exclusão social. e) A relação do homem com a natureza para evitar a degradação dos bens naturais necessários à vida. A sociedade humana vive uma crise existencial marcada por uma série de problemas gerados pela falta de convivência equilibrada do homem com seus semelhantes e a natureza. Esta se expressa através do relacionamento interpessoal e com o meio ambiente. No campo interpessoal é gerada a violência, destruição dos valores éticos, culturais e a fome. O ambiental é marcado pela degradação, esgotamento dos recursos minerais necessários à vida, extinção da diversidade biológica e outros indispensáveis à luta pela sobrevivência humana. Esta situação emergencial do planeta terra reclama dos seus habitantes uma atitude a favor da vida. Cabe aos educadores contribuir com sua parcela de trabalho em benefício da sua existência, através da formação de atitudes positivas dos alunos avaliando fatos, fenômenos, processos biológicos, químicos e físicos que venham contribuir com a formação de uma cultura comprometida com preservação do meio ambiente. 45 ATIVIDADES DA UNIDADE I a) Por que ensinar ciências naturais na educação infantil e séries iniciais Para realização deste estudo sugerimos a leitura do texto deste livro “Por que ensinar ciências naturais na educação infantil e séries iniciais”, seguido de textos dos livros citados abaixo que tratam deste mesmo tema. BRASIL, secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais, Brasília: MEC/SEF, 1997. V.4. 136p. DELEIZOICOV, Demétrio, ANGOTTI, José A. P. O ensino de Ciências no Brasil. In: ______. Metodologia do Ensino de Ciências. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1998. SANTOS, Ângela Regina dos Reis Santos e SOBRINHO, José Augusto de Carvalho Mendes. O Ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais: Tendências atuais. In: SOBRINHO, José Augusto de Carvalho Mendes. Teresina: EDUFPI, 2008. Atividade 1 – obrigatória Após as leituras participe da montagem do glossário, elabore um pequeno texto que expresse sua opinião e deposite no fórum sobre o porquê de ensinar ciências naturais e saúde para crianças e adolescentes da pré - escola ao quinto ano do ensino fundamental. Obs. Sua participação, ao dar opinião sobre o texto dos outros alunos eresponde os comentários sobre o seu, será avaliada. 46 b) Correntes pedagógicas e o ensino de ciências naturais e saúde Atividade 2 – obrigatória, Faça a leitura do texto “Correntes Pedagógicas e o Ensino de Ciências Naturais e Saúde”. Monte um quadro colocando as características do ensino de Ciências Naturais e Saúde no Brasil e as correntes pedagógicas correspondentes. Em seguida, deposite no fórum e comente com seus colegas. Atividade 3 - optativa Para aprofundamento deste tema procure ler sobre o assunto nos livros do Dermeval Cachapuz (2005), Saviani (1991) e o texto de Teixeira (2009), citados abaixo. CACHAPUZ, Antonio. et al, (organizadores). A Necessária Renovação do Ensino das Ciências. São Paulo: Cortez, 2005. SAVIANI, D. Escola e Democracia. 2ª edição. São Paulo: Cortez editora e Editora Autores Associados, 1984. SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. 2ª edição. São Paulo: Cortez editora e Editora Autores Associados, 1991. TEIXEIRA, Paulo Marcelo Marini. Educação Científica e Movimento C.T.S. no Quadro das Tendências. www.fae.ufmg.br/abrapec/revistas/V3N1/v3n1a7.pdf. Acesso em: 20 out. 2009. 47 c) O projeto pedagógico / o currículo em ação na área de ciências naturais e saúde Atividade 4 – Obrigatória Leia o texto deste livro sobre projeto político pedagógico e o currículo em ação na área de Ciências Naturais e Saúde e esteja preparado para trocar conhecimento e partilhar ideias através de um chat que se desenvolverá com os seguintes questionamento: • O que é um projeto político pedagógico? • A escola onde você leciona possui projeto político pedagógico? • Quais são os benefícios ou entraves proporcionados pelo projeto político pedagógico da escola que você trabalha? Para ampliar seus conhecimentos leia o texto O PROJETO POLÍTICO- PEDAGÓGICO DA ESCOLA na perspectiva de uma educação para a cidadania de Moacir Gadotti, no site http://recife.ifpe.edu.br/Projeto_Politico_Ped_Gadotti.pdf d) Desafios para o ensino de ciências naturais e saúde Para chegar aos desafios do ensino de Ciências Naturais e Saúde foram levantados os seguintes questionamentos: • Como fazer chegar Ciências Naturais e Saúde a todos os indivíduos do planeta terra? • Como fazer para superar o senso comum pedagógico? • Como caracterizar Ciências Naturais e Saúde no âmbito da cultura? • Como aplicar os resultados das pesquisas em ensino de ciências na prática pedagógica dos Professores? 48 • Como melhorar a relação do homem com a natureza para evitar a degradação dos bens naturais necessários à vida? Atividade 5 - obrigatória Após o estudo dos desafios faça uma reflexão e verifique se são os mesmos da sua região, cidade, bairro e escola? Escolha um deles, faça um pequeno texto, deposite no fórum e discuta com seus colegas. 49 50 51 2 ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL A Constituição de 1998 acolheu a demanda da educação infantil como direito da criança, dos pais trabalhadores urbanos e rurais, direito à diferença, dever do Estado e opção da família. Em termos de políticas públicas, a educação infantil deve ser ofertada para a população de zero a cinco anos e onze meses de idade, em espaços institucionais, coletivos, não domésticos, públicos ou privados, considerados estabelecimentos educacionais e submetidos a múltiplos mecanismos de acompanhamento e controle social. Com relação à prática pedagógica na educação infantil é estabelecida uma divisão compreendida entre zero a três anos e três a seis anos, desenvolvida por professores habilitados para este fim a partir de ações coletivas intencionalmente planejadas e sistematizadas em um projeto pedagógico que comporta os itens competência e habilidades, conteúdos, atividades, materiais didáticos e avaliação. Mesmo diante da Lei 11.274/2006, que exige a matricula dos alunos com seis anos de idade no primeiro ano do ensino fundamental, realizado em nove anos, continuamos com a mesma distribuição de faixa etária. A justificativa para esta decisão tem suas bases nas observações realizadas nas escolas públicas, nas quais durante o primeiro ano é reforçado o processo de alfabetização com o objetivo de garantir melhor desempenho dos alunos a partir do segundo ano. 52 2.1 Competências e habilidades na educação infantil. Na faixa etária de 0 a 3 anos as competências e habilidades para educação infantil são os seguintes: • Familiarizar-se com a imagem do próprio corpo; Expressar gestos e ritmos corporais nas brincadeiras e demais situações interativas; • Expressar atitude de confiança através do andar, correr, pular e demais atividades habilidades motoras; • Executar movimentos de preensão, encaixe, lançamentos e outros com objetos diversos. Na faixa etário de 3 a 6 anos deverão ser aprofundados as competências e habilidades do período anterior, trabalhando ainda no sentido de criar oportunidades para que as crianças possam: • Desenvolver com mais amplitude expressões do próprio movimento, de gestos e os ritmos corporais nas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interação; • Realizar com o corpo, dentro de limites apropriados para idade, dinâmicas que expressem movimentos, evidenciando espaço, tempo, velocidade, força e resistência; • Aperfeiçoar os movimentos do corpo ajustando suas habilidades a exercícios motores indispensáveis aos jogos, brincadeiras, danças e demais situações; 53 • Ampliar os movimentos de preensão, encaixe, lançamento e outros, manuseando diferentes materiais e objetos; • Apropriar-se progressivamente da imagem global do corpo, conhecendo e identificando seus segmentos e elementos, aprimorando as atitudes de interesse e cuidado com o próprio corpo. 2.2 Competências e habilidade desenvolvidas pelo ensino de ciências naturais através da educação infantil. As competências e habilidades desenvolvidas através do ensino de ciências têm uma estreita relação com a criança, natureza e sociedade, tendo em vista que as mesmas devem ser trabalhadas no sentido de oferecer respostas às perguntas que são feitas por elas de acordo com o seu grau de percepção do mundo. As crianças refletem e gradativamente tomam consciência do mundo de diferentes maneiras em cada etapa de seu desenvolvimento. As transformações que ocorrem em seu pensamento se dão simultaneamente ao desenvolvimento da linguagem e de suas capacidades de expressão. À medida que crescem se deparam com fenômenos, fatos e objetos do mundo; perguntam, reúnem informações, organizam explicações e arriscam respostas; ocorrem 54 mudanças fundamentais no seu modo de conhecer a natureza e a cultura. (Referencial Curricular Para a Educação Infantil, 1998, p.169) Assim, a prática pedagógica na educação infantil que deve ser organizada nas etapas de zero a três anos e quatro a seis anos, proporcionando meios para desenvolver as seguintes competências e habilidades: • a) Para crianças de zero a três anos. - Explorar o meio ambiente no relacionamento com pessoas, pequenos animais, plantas, corpo humano, bem como diferentes objetos da natureza que desperte curiosidade e interesse das crianças. • b) Para crianças de três a seis anos. - Formular perguntas que demonstrem interesse e curiosidade pelo mundo social e natural; - Imaginar soluções que expressem opiniões próprias sobre fenômenos, fatos e acontecimentos relativos ao meio social e natural.- Estabelecer relações características do seu grupo social e de outros grupos relacionadas com o meio social e natural das crianças. - Manifestar atitudes positivas em ao meio ambiente e preservação das espécies indispensáveis à qualidade da vida humana 55 2.3 Conteúdos de ciências naturais para educação infantil Os conteúdos da educação para crianças na faixa etária de zero a seis anos não deve se restringir à construção de conceitos científicos, seu alcance vai além desta meta, devendo desenvolver nas crianças competências através da construção de habilidades que comportem a formação de um futuro adulto capaz de perceber que é um ser individual, como parte de uma totalidade, inserido em um mundo globalizante. O ensino de Ciências tem como objetivo primordial a exploração do mundo pelas crianças de zero a seis anos. Isto se dá de forma natural, já que as crianças são curiosas por natureza, indagando-se e surpreendendo-se, continuamente, com os fenômenos e acontecimentos que as cercam. Para o atendimento de tal objetivo, é tarefa do professor instigar e incentivar as crianças desafiando-as na busca de respostas a problemas que surjam em seu dia-a-dia. Salienta-se que o ensino de Ciências não se restringe à construção de conceitos científicos, sua função vai muito além, devendo proporcionar a construção de habilidades, comportamentos e valores indispensáveis à formação de um cidadão inserido em um mundo globalizado, onde o ser individual deve ter consciência de que é parte do todo e, portanto, por ele responsável. 56 Para que isto se efetive é preciso desenvolver nas crianças - futuros adultos - a autonomia, a capacidade de cooperação, o saber trabalhar no coletivo, a criticidade, a reflexão sobre os fatos vivenciados e, acima de tudo, o desassossego frente às questões do mundo e da vida. Só assim estaremos formando seres humanos capazes de viverem em harmonia com as questões desafiadoras impostas pelos novos tempos. ( Stefani, 2008, p.155) Trabalhar os conteúdos de Ciências Naturais e Saúde na educação infantil consiste em preparar as crianças para aceitar este ramo do saber como verdade provisória e em permanente mudança, em vez de absoluta e eterna. Por isto que a metodologia a ser aplicada no processo de ensino-aprendizagem deve ser pautada em perguntas, indagações e reflexões que proporcionem respostas, mesmo que provisóriam, direcionadas para a compreensão das relações necessárias ao mundo melhor. Entender as Ciências Naturais é aceitar as verdades como provisórias e em permanentes mudanças. É não acreditar em explicações dadas como definitivas e absolutas. É ser sujeito e não objeto, é construir e redescobrir caminhos, é participar, é interagir com tudo e com todos, é somar para a construção de um mundo melhor. Em suma, o ensino de Ciências, em qualquer fase da vida, mas em especial na educação infantil, deve priorizar os princípios citados anteriormente, valorizando a pergunta, a indagação, ao invés de trabalhar com respostas prontas e acabadas; instigando a reflexão, em vez 57 da simples pesquisa bibliográfica como fonte de informações; incentivando a busca de respostas, mesmo que provisórias sobre o mundo em que vivemos. A crença que as crianças devem pesquisar e refletir sobre seu mundo. (Stefani e Lima, 2008 p.155 e 1556) Levando em conta as considerações feitas sobre a forma metodológica de conduzir as crianças para aprendizagem das ciências naturais e saúde, iremos sugerir conteúdos que podem ser trabalhados neste nível de ensino. A organização dos mesmos vai seguir a mesma lógica utilizada com as competências e habilidades, isto é, separados pelas faixas etárias de zero a três e de três a seis anos. • a) Conteúdos para crianças de zero a três anos. - Meio ambiente natural e social; - Plantas; - Animais; - Corpo humano; -Objetos do ambiente natural (Pedras, conchas, pedaços de madeiras, amostra de habitat construídos por pássaros, peixes, insetos, animais e outros objetos naturais que existam no meio ambiente onde as crianças habitam). • b) Conteúdos para crianças de três a seis anos Nesta faixa etária aprofundam-se os conteúdos trabalhados com as crianças de zero a três anos paralelos aos que serão abordados nesta etapa. Estes são os seguintes: 58 - Grupos sociais (modo de ser, viver e trabalhar); - Seres vivos ( pequenos animais, insetos, plantas e outros); - Lugares e paisagens do meio ambiente; - Objetos variados do meio ambiente e seu processo de transformação; - Fenômenos da natureza (chuva, seca, enchentes, tempestades, relâmpagos, trovões, eclipses, astros, marés e outros). 2.4 Sugestões de atividades a serem desenvolvidas na educação infantil Na educação infantil as atividades a serem desenvolvidas fazem uso dos conteúdos para promover ou ampliar as experiências da criança. Trata-se de um trabalho que oportuniza a descoberta do mundo através das relações, dos objetos, da natureza e do próprio corpo. Neste universo são significativos também para as crianças os movimentos, as expressões e impressões registradas pelos órgãos dos sentidos. Desta forma, as atividades devem ser desenvolvidas no sentido de conduzir as crianças a perceberem de forma compreensiva os objetos e seres que fazem parte do meio social e natural, bem como expressa estas impressões através de desenhos, gestos, música, dança e dramatização. As atividades também são fundamentais no desenvolvimento das habilidades de classificar e seriar objetos animais e plantas de acordo com uma lógica desenvolvida e aprimorada pelas experiências advindas das relações com o meio ambiente e social. 59 Levando em consideração os princípios teóricos práticas que implicam no planejamento das atividades de ensino das Ciências Naturais e Saúde, seguimos a mesma lógica de organização dos conteúdos para as atividades. Assim, elas serão apresentadas para as faixas etárias de zero a três e de três a seis anos, com o nome da atividade seguido de explicações relativas a sua aplicação no ensino infantil a) Atividades para criança de zero a três anos. - Observação e exploração do meio ambiente natural e social. Esta deve ser direcionada para a construção das primeiras noções a respeito das pessoas, dos grupos sociais e das relações humanas, bem como exploração do espaço e contato com a natureza. - Contato com as plantas. As crianças devem ser conduzidas a observar e cuidar de plantas acompanhando seu crescimento através de observação diária em pequenos vasos, jardins ou hortas que exista no colégio ou nas proximidades. Nesta atividade podem ser desenvolvidas as habilidades de regar e combater pequenas pragas. - Contato com pequenos animais. Sugere-se que sejam colocados à disposição das crianças peixes ornamentais em aquários, tartarugas, pintos, patos, com a finalidade de 60 desenvolver as habilidades de cuidar dos animais preservando e valorizando a vida. - Contato com objetos diversificados do meio ambiente. Devem ser colocados à disposição das crianças os mais variados tipos de materiais, com o objetivo de desenvolver habilidades de manuseá-los livremente. Este material pode ser pedras, conchas, pedaços de madeiras, amostra de habitat construídos por animais e outros objetos naturais que existam no meio ambiente onde as crianças habitam. - Contato com seu próprio corpo. As ações do cotidiano da criança devem ser conduzidas para percepção integrada de seu corpo. É de fundamental importância para formação de sua personalidade identificar, como um todo, as partes de seu corpo associada às funções de sensações, sentimentos, emoções e pensamentos.
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