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Anestésicos Locais Paloma Olsen Farmacologia Odontológica- UFPR ___________________________________________________________________ A anestesia local é definida como um bloqueio reversível da condução nervosa, determinando perda das sensações, sem alterar a consciência. → Os AL bloqueiam o início da despolarização e propagação dos potenciais de ação de canais de sódio-voltagem-dependente- sódio não entra nas células que transmitem a dor. → Dependendo da dose, provocam paralisia motora. Métodos que induzem a anestesia local: → Trauma mecânico → Baixa temperatura → Irritantes químicos → Anóxia → Agentes neurolíticos (álcool e fenol) → Agentes químicos (anestésicos locais) Um anestésico local deve ter as seguintes propriedades: > Não causar irritação no tecido > Não causar nenhuma alteração permanente na estrutura dos nervos > Possuir baixa toxicidade sistêmica > Deve ser eficaz, independentemente de onde aplicado > Ter um tempo de início mais breve possível > Deve ter ação longa para que se possa executar o procedimento, mas não tão longa para que haja recuperação da sensibilidade Bennett ainda acrescenta outras propriedades aos AL: > Potência suficiente para proporcionar completa sem o uso de substâncias nocivas > Deve ser isento de causar reações alérgicas > Deve sofrer biotransformação no corpo > Deve ser estéril, capaz de ser esterilizado pelo calor sem sofrer deterioração Mas nenhum AL contém todas essas propriedades. A toxicidade varia muito entre os anestésicos locais. Embora a eficácia seja um critério, independente se injetada ou aplicada, vários anestésicos locais injetáveis potentes se demonstraram ineficazes quando aplicado de maneira tópica, como a procaína e a mepivacaína. Para serem eficazes eles precisam ser aplicados em grandes quantidades, podendo causar irritação e toxicidade sistêmica. >Tetracaína e Lidocaína são anestésicos que agem bem por aplicação tópica ou por injeção. > A diclonina age bem quando aplicada topicamente. se injetada pode causar irritações > A duração clínica varia de acordo com o tipo de anestésico usado e o tipo de injeção/ técnica administrada. Estrutura Química São constituídos de 3 partes: 1 grupo lipofílico (anel aromático) 1 grupo hidrofílico (amina terciária) → interação com o canal de cálcio 1 grupamento intermediário (amida ou éster) Os ésteres são: PROCAÍNA, COCAÍNA, BENZOCAÍNA E TETRACAÍNA. → são metabolizados por esterases inespecíficas (plasma e fígado) As amidas são: LIDOCAÍNA, PRILOCAÍNA, BUPIVACAÍNA E LIDOCAÍNA... → possuem metabolismo hepático, são mais estáveis e tem meia vida mais longa (SIGA @odonto.guide no IG) Curiosidade: o uso tópico é predominante nos ésteres, com exceção da Procaína. → O que diferencia esses dois grupos de AL? Os ésteres são mais facilmente hidrolisados (meia vida menor), visto que ele é metabolizado no plasma, onde temos a colinesterase plasmática. As amidas são fármacos mais resistentes à hidrólise, pois são metabolizados no fígado Como funciona o potencial de bloqueio da dor? -90mV é o potencial de repouso, onde a carga elétrica não é suficiente para promover um potencial de ação. Se a célula for despolarizada, dependendo do número de canais de sódio que forem abertos e ativados, a célula atinge o limiar, que geralmente é de -69/-70 mV, onde ocorre a condução do impulso nervoso, até que haja uma completa despolarização (+30mV), ocorrendo então a reversão das cargas elétricas internas e externas da membrana. Quando se abrem os canais de Potássio, ocorre o processo de repolarização daquela membrana celular. ● O que faz o AL nesses parâmetros? Reduz a capacidade dos canais de sódio se abrirem, reduzindo também a capacidade de atingir o limiar, não ocorrendo despolarização e condução do impulso nervoso. ● Como os AL conseguem agir? Existem duas vias, a via hidrofóbica e a hidrofílica, que dependem do grau do grau de lipossolubilidade ou de hidrossolubilidade do anestésico. Na via hidrofóbica, o anestésico age atravessando a membrana plasmática, conseguem acesso aos canais de sódio abertos e fechados, o bloqueando-os. Na via hidrofílica, os AL obtêm acesso apenas pelo canal de sódio aberto, visto que não atravessam a membrana celular. Alguns fatores interferem na ação do anestésico → Tamanho molecular, moléculas menores se desprendem facilmente dos receptores → Solubilidade lipídica, pois atravessam a bainha de mielina → Tipo de fibra, como as finas e de condução lenta, que obtém efeito mais rápido. Já as mais grossas e de condução rápida, o feito é mais longo → O pH do meio, forma hidrossolúvel x lipossolúvel → Concentração do anestésico → Associação com vasoconstritores, o que prolonga o efeito AL x pH: AL são bases fracas, então possuem atividade alta em pH alcalino. Em ambientes ácidos a anestesia não funciona corretamente. Ele entra de maneira não-dissociada, passando pela dissociada, interagindo então com o canal. Quanto maior a quantidade de base na forma ionizada, mais rápido é o início de ação Para não esquecer:________________________________________________ Quando o pKa é próximo do pH fisiológico, o anestésico atravessa a membrana plasmática mais rapidamente; Quanto mais lipossolúvel ele é, mais potente ele será; Quanto maior ligação às proteínas plasmáticas, maior é a duração de ação, pois o reservatório local se dissocia lentamente. Meio ácido (inflamado/infeccionado): anestésico demora mais para iniciar sua ação, pois são bases fracas, fazendo com que as formas moleculares virem formas protonadas. → Aumento da latência Meio alcalino: forma protonada vira molecular → Diminui a latência do fármaco ex: adição de bicarbonato A potência é diretamente ligada a solubilidade do AL em lipídeos. ↓ Lipossolubilidade ↓ Potência Lipossolubilidade x Potência Anestésico Local Lipossolubilidade Potência Lidocaína 366 1 Bupivacaína 3420 4 Ropivacaína 775 4 Grau de ionização x Tempo de latência Anestésico Local pKa Porcentagem ionizada em pH 7,4 Início de ação Lidocaína 7,9 76 Rápido Bupivacaína 8,1 83 Lento Ropivacaína 8,1 83 Lento Os anestésicos apresentam pH fisiológico diferente, quando comparamos o percentual de formas ionizadas, vemos que a Lidocaína apresenta o menor. 24% do AL estará em sua forma molecular e 76% na forma ionizada. Isso ocorre, porque a forma não-protonada atravessa a membrana, não precisando se ligar diretamente ao canal iônico. Ela tem acesso ao canal por dentro da membrana, mesmo se ele estiver fechado. Se o canal iônico estiver fechado, a forma protonada não terá acesso ao canal iônico, visto que não consegue atravessar a membrana. → Os canais possuem 4 domínios, e o AL interage com o domínio 4 na porção intracelular, atravessa a membrana e encontra seus alvos. Ocorre então, a modulação do canal. O anestésico local pode encontrar o canal em 3 estados: repouso, aberto ou inativado, sendo que no repouso a afinidade é maior, pois ele permanece mais tempo no estado inativo. Fibra AⲀ altamente mielinizada → responsável pela propriocepção Fibra A E A intermediariamente mielinizada → polimodais, responsável pela dor primária Fibra C não mielinizadas → responsável pela dor secundária A partir disso, podemos concluir que os AL atuam primeiro nas fibras menos mielinizadas, bloqueando o início e a propagação do potencial de ação. E que não se insere na parte mielinizada, apenas entre os Nódulos de Ranvier. As fibras menores, aferentes a dor, são bloqueadas primeiro, pois o diâmetro é menor As fibras maiores- tato e função motora- são bloqueadas depois. Neurônio Sensorial ou Aferente x Neurônio Motor ou Eferente: → N. sensorial transmite a sensação de dor. é dividido em três parte, aZona Dendrítica (terminações nervosas livres), Axônio (semelhante a um cabo) e o Corpo Celular (principal via de transmissão de impulsos) → N. motor conduz inf. do SNC para a periferia. perto de sua terminação o axônio se ramifica com cada ramo, acabando nas terminações bulbosas. fazem sinapse com as células musculares. Seleção dos Anestésicos Início do efeito: lipossolubilidade e dose ou concentração empregadas - Depende muito das características do procedimento e do paciente - Duração do efeito: vasoconstritores, vascularização local, metabolismo, ligação às proteínas plasmáticas Aspectos Farmacocinéticos Todas as formas de administração são possíveis. Ocorre influenciada pela ação vasodilatadora do AL- a Procaína é a mais potente. Vias Tempo/min Intravenosa 1 Tópica 5 Intramuscular 5-10 Subcutânea 30-90 Via oral: Baixa ou nenhuma absorção (deve-se obter o controle dos batimentos cardíacos). Tocainida é o AL mais conhecido dessa classe Distribuem-se para todos os tecidos do corpo, atingindo inicialmente órgãos mais perfundidos, como cérebro, fígado e rins. Também atravessam a barreira placentária Metabolismo As amidas são metabolizados no fígado, os ésteres são metabolizados principalmente no plasma. → Ésteres possuem alto potencial alergênico, por conta do matabolismo do PABA. Onde a toxicidade se dá pela forma atípica de pseudocolinesterase, que não metaboliza ésteres, fazendo com que o produto se acumule. → Amidas sofrem biotransformação hepática, a maioria pelo CYP450. A lidocaína, pela CYP3A4, pode causar interação medicamentosa A meia vida varia de 0,1 até 3,5 horas, sendo que as amidas apresentam maior meia vida. Cálculo da dose máxima dos ALs Paciente: 70kg Lidocaína em 1 sessão (2%) Dose: 44 mg/kg Tubete: 2 ml 4,4 mg ---- 1 kg x ----- 70 kg x = 308 mg 2 gr ----100 ml 40 mg ---- 1 tubete x ---- 2 ml 308 mg ---- x 0,04g = 40 mg 40x= 308 x= 308/40 → x = 7,7 tubetes Dose máxima é de 300mg, passou disso, ALERTA! *Vale para qualquer anestésico. Vasoconstritores → As soluções anestésicas possuem sua eficácia, graças ao emprego dos vasoconstritores. Ajudam a apresentar maior eficácia em doses baixas O principal vasoconstritor é a ADRENALINA Vantagens na prática → Tempo de ação dobra → Reduz o risco de toxicidade sistêmica → Diminui a concentração sistêmica → Se passar de 5 ug/ml, ALERTA. Quais são os critérios para incluir um vasoconstritor? → Duração do procedimento → Necessidade de hemostasia → Condição médica do paciente: em caso de doença cardiovascular severa deve-se utilizar menos anestésico e mais vasoconstritor Indicações: Inativação do ponto gatilho (dor miofascial, da ATM), utiliza-se Bupivacaína ou Xilocaína, sem vasoconstritor. Anestesias superficiais, como em nariz, boca, córnea... Anestesia infiltrativa, é indicada para alcançar ramos e terminações Anestesia regional intravenosa, espinal, em bloqueio nervoso, abdômen, pernas e pé, além das epidurais Toxicidade e reações adversas - Doses excessivas - Absorção inesperada rápida - Injeção intravascular inadvertida - Queda de metabolização - Uso sistêmico CUIDADO!! → Depressão do SNC e depressão respiratória → Efeito estimulantes: inquietação, tremor e convulsões, com exceção da cocaína, que traz euforia em baixas doses. Ocorre o bloqueio dos canais de sódio, diminuindo a frequência cardíaca, causando vasodilatação e diminuindo também a pressão arterial A cocaína inibe a recaptação das aminas (NA). Então, é de total importância que o profissional da saúde saiba se o paciente é usuário de cocaína, pois não deve-se usar anestésicos com vasoconstritores nesse casos. As reações são: taquicardia, aumento da PA, e claro. vasoconstrição. As interações medicamentosas: → Podem aumentar o estímulo cardiovascular quando usado em pacientes que fazem o uso de antidepressivos tricíclicos e ou simpatomiméticos. → Potencializam a depressão respiratória Referências: Farmacologia, Rang & Dale, 8ª edição, 2015
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