Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
9 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina UERN ANESTESIOLOGIA U1 Aula 02 - Anestésicos Locais CONCEITO São substâncias que bloqueiam de forma reversível a geração e propagação dos impulsos elétricos de tecidos excitáveis. Os anestésicos locais podem agir em qualquer parte do tecido nervoso e em toda fibra excitável, podendo produzir bloqueio sensitivo e motor. O bloqueio é temporário e reversível, com tempo maior ou menor de acordo com o anestésico. HISTÓRICO Em 1884 (Koller) foi relatado o primeiro uso de anestésico, a cocaína para anestesia tópica do olho. Hoje não é mais utilizada para esse fim devido aos efeitos colaterais. Em 1885 (Halsted): uso da cocaína em bloqueio periférico. Em 1898 (Bier): uso da cocaína por via subaracnóidea. Em 1905 o primeiro anestésico local foi sintetizado: a procaína (amino-éster). Em 1944 foi sintetizada a lidocaína, que é um anestésico local considerado como agente padrão a partir do qual todos os anestésicos que surgem são comparados a ele. É bastante utilizada. ESTRUTURA QUÍMICA Estrutura molecular básica (exceto a cocaína) dos anestésicos locais tem um anel aromático hidrofóbico, uma amina terciária hidrofílica e a cadeia intermediária Anel Aromático: porção lipofílica Ácido benzóico: cocaína, banzocaína Ácido para-aminobenzóico (TABA): procaina e cloro-procaina – reações alérgicas Xilidina: lidocaína, bupivacaína Cadeia Intermediária Esqueleto da molécula do anestésico Variações na potência e da toxicidade dos AL pelo aumento no número de átomos de carbono A ligação da cadeia intermediária com o aromático pode ser do tipo éster ou amida e isso é o que dá a classificação dos anestésicos locais, que são: amino-amidos amino-ésteres Essas duas classes vão apresentar diferenças quanto à metabolização e a capacidade de causar reações alérgicas. Grupo Amina: Todos os anestésicos são considerados bases fracas insolúveis em água e a porção de amina terciária é a receptora de prótons. Droga sob a forma de cloridrato tendo parte da droga ionizada e parte não-ionizada Na forma quaternária (protonada) é hidrossolúvel, é essa porção ionizável da molécula que vai sofrer influência do pH do meio, que irá determinar a velocidade de ação do anestésico. Exemplo: No tecido infectado, o anestésico local não age como deveria pois quando ele se encontra em um ambiente muito ácido, essa porção protonada vai sofrer uma influência maior do pH do meio e isso vai determinar a velocidade de ação desse anestésico. Então, quanto maior a quantidade do anestésico, mais vai ter forma ionizada e mais vai demorar para esse anestésico agir. Como já citado, quando o meio está muito ácido, vai ter muita quantidade de anestésico na forma protonada, ionizada, então ele vai agir, porém vai demorar mais. Não é que a anestesia não vai pegar, mas vai demorar mais para iniciar a ação. Não tem como precisar o tempo. Uma forma de tentar neutralizar isso é adicionando alguma solução básica, como bicarbonato. Então, algumas vezes, se utiliza bicarbonato junto com o anestésico local para tentar diminuir a influência do pH do meio na velocidade de ação, na latência do anestésico local. Todos os anestésicos locais, exceto a lidocaína, existem como esteroisômeros. Eles apresentam o carbono quiral e existem em duas formas, os isômeros dextrógiros e os isômeros levógiros. Isso tem implicação clínica. Bupivacaína apresenta estereoisômeros L(-) e D(+) Ropivacaína: utilizado exclusivamente na forma levógira. A isto se deve a sua menor toxicidade. Lidocaína não apresenta quiralismo Preparações comerciais: ácidas, para aumentar amina quaternária hidrossolúvel e evitar oxidação da adrenalina nas preparações com esse vasoconstrictor. CLASSIFICAÇÃO Quanto a cadeia intermediária: Éster: procaína, tetracaína, benzocaína e clorprocaína – metabolizado no plasma pela colinesterase plasmática Amida: lidocaína, prilocaína, etidocaína, mepivacaína, bupivacaína e ropivacaína - metabolizada no fígado pelos microssomas hepáticos Principais diferenças: local, tipo de metabolização e potencial para reações alérgicas. 10 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina UERN Para fins médicos, utilizamos muito mais os anestésicos do tipo amida, pois o potencial do tipo éster para reações alérgicas é muito maior do que do tipo amida. Além disso, a metabolização dos anestésicos do tipo amida é realizada pelo fígado, enquanto as do tipo éster é por colinesterase plasmática. Pode-se dizer, então, que a preferência pelo tipo amida é pela capacidade de causar reações alérgicas praticamente inexistente. Quanto a duração do efeito: Curta: procaína e clorprocaína Intermediária: lidocaína, prilocaína e a mepivacaína Longa duração: tetracaína, bupivacaína, etidocaína e ropivacaína SOLUÇÃO ANESTÉSICA Composição: 1. Agente anestésico local 2. Vasoconstrictor 3. Agente redutor 4. Agente preservativo 5. Fungicida 6. Veículo Vasoconstrictor: Aumento da duração anestésica Redução de sangramento Efeitos tóxicos sistêmicos podem ser reduzidos Agente preservativo: Metilparabeno e caprilhidrocuprienotoxina Aumenta a vida útil dos AL (18 meses a 2 anos), mas podem provocar reações alérgicas Menos utilizados atualmente. Fungicida Timol: usado ocasionalmente em algumas soluções Veículo È uma forma modificada da solução de Ringer lactato, ajustado a um pH biocompatível PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS Determinam a potência dos anestésicos, o início e duração da ação e as características do uso clinico. PESO: Influencia na movimentação através dos canais de sódio e na permeabilidade da dura-máter e na taxa de dissociação dos receptores. Anestésicos mais pesados vão ter velocidade de dissociação dos receptores mais lenta do que anestésicos menos pesados. LIPOSSOLUBILIDADE: Facilita a penetração dos AL nas membranas biológicas Determina a potência da substância Bupivacaína – 27,5 Lidocaína -... 2,9 Axolema (90% lípidios): quanto mais lipossolúvel, maior penetração neural e menor número de moléculas para bloqueio. Eles têm a capacidade de agir no canal de sódio de várias formas, não só no canal fechado > Aumenta a toxicidade, diminuindo a margem de segurança, podendo causar efeitos colaterais mais intensos. Potência (efeito máximo) x Latência (até o inico do efeito) GRAU DE IONIZAÇÃO (pKa): Início de ação (latência): tempo entre a administração de um fármaco e o início do efeito que está ligado a proporção em forma neutra. O pka é o pH em que há quantidades iguais de substâncias ionizadas e não-ionizadas. A forma não carregada tem maior capacidade de difusão pelas membranas nervosas e se essa forma estiver em maior proporção, mais rapidamente o anestésico começará a agir. Se tiver uma proporção maior da forma carregada, mais vai demorar para o anestésico local começar a agir. AFINIDADE PROTEICA: Relação com a duração da anestesia Anestésicos com maior afinidade vão ter uma ligação mais firme aos receptores, com isso vão permanecer mais tempo no canal de sódio e bloquear por mais tempo a condução nervosa. ÉSTERES AMIDAS Principal: lidocaina – padrão – é o anestésico local de duração intermediária, se comparada com a bupivacaína e a ropivacaína, que são mais modernos e de longa duração. Lidocaína x Bupivacaína O inicío de ação tem a ver com ionização, pela comparação da tabela, a lidocaína tem menor proporção ionizada do que a bupivacaína e vai conseguir acessar mais rapidamente os canais de sódio, então vai começar a agir mais rápido. Agora vamos comparar a lipossolubilidade, o mais potente é a bupivacaína, pois ela tem maior capacidade de penetração neural por ser mais lipossolúvel e a membranacelular é composta em sua maior parte de lipídios. Então, porque isso interfere com o grau de toxicidade comparando a lidocaína e bupivacaína? Se por acaso ocorrer uma injeção IV e ocorrer disseminação da bupivacaína para outros tecidos, ela vai permanecer mais tempo e vai penetrar mais nos outros tecidos que não deveria, então vai ter uma toxicidade maior. 11 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina UERN A ligação proteica se refere a estabilidade da ligação dela aos canais de sódio que irá determinar tempo de duração no organismo e sua velocidade de metabolização. Potência: relação direta com a lipossolubilidade Duração: relação com o grau de ligação proteica Velocidade de ação: guarda relação inversa com o grau de ionização pka: pH em que existe números iguais de formas ionizadas e não-ionizadas. O anestésico local vai ser administrado no meio extracelular, com pH normal de 7,4. Com isso, 76% da lidocaína vai estar ionizada, a bupivacaína vai estar 83% ionizada. Como o pka dela é mais alto, uma porção maior da bupivacaína vai estar ionizada e essa forma só age no canal de sódio (por diferença de carga). A não-ionizada é mais rápida, tendo um início de ação mais rápido. CONDUÇÃO NERVOSA Ativação da membrana Estímulo físico, químico ou elétrico Aumenta permeabilidade ao sódio Potencial transmembrana se torna menos negativo Potencial de deflagração – aumenta muito a permeabilidade ao sódio. Potencial de ação Inversão da polaridade da célula (despolarização): Na+ dentro, K+ fora Mais positiva dentro Membrana se torna impermeável novamente e a bomba de sódio restaura o equilíbrio eletroquímico normal O estímulo físico, químico ou elétrico vai ativar a membrana, aumentando a sua permeabilidade, com isso vai abrir os canais de sódio e o potencial transmembrana vai ficando negativo até atingir o potencial de deflagração, aumentando ainda mais a permeabilidade ao sódio.* O canal de sódio pode estar de 3 formas: Repouso (fechado) Aberto Forma inativa Os anestésicos locais se ligam de preferência à forma inativa dos canais de sódio (a forma não condutora) e mantém esse canal dessa forma, estabilizando a membrana, com isso ela vai se tornar insensível à condução de novos impulsos nervosos. CANAIS DE SÓDIO O bloqueio do canal de sódio é proporcional à frequência dos impulsos despolarizantes. Os tecidos que têm uma maior ferquência de estímulos vão ter maior quantidade de canais abrindo e maior quantidade de canais fechando e inativando. Bloqueio frequência dependente (ritmos rápidos, hipóxia e acidose favorecem a impregnação da fibra miocárdica pelo agente) Dessa forma, eles são mais sensíveis ao bloqueio pelos anestésicos locais. Isso é particularmente importante no coração, pois a frequência do estímulo é alta e se os anestésicos locais atingirem esse tecido, os canais que estão inativos vão permanecer bloqueados. É importante saber disso devido as complicações causadas pelo uso em local inadequado do anestésico local. MECANISMO DE AÇÃO A principal ação é nos canais de sódio. mas pode ocorrer também o bloqueio dos canais de potássio. Os anestésicos locais diminuem a permeabilidade ao sódio (pela ligação com o canal), com isso, impede a despolarização da membrana (primeiro processo excitação-condução). Acredita-se que ele possa se ligar a estrutura do canal e alterar sua função ou, pelo fato de sua forma lipídica conseguir penetrar na membrana, essa penetração alteraria a conformação do canal e alteraria sua função. Mas não se sabe exatamente. O que a gente sabe é que existe uma atividade farmacológica tanto das formas ionizadas, quanto das formas não- ionizadas. Todos os anestésicos locais disponíveis são bases fracas e no pH do meio eles podem se ionizar em maior ou em menor grau. Essas duas formas vão ter ação farmacológica. A parte lipossolúvel é capaz de se difundir pela membrana, então ela é capaz de agir tanto nos canais fechados como nos canais abertos. Já a forma carregada se liga ao canal de sódio diretamente, por atração de cargas, e o bloqueia. Concentração efetiva mínima (CEM) de AL para o bloqueio do impulso nervoso. O bloqueio do anestésico e a velocidade depende do diâmetro da fibra, do pH do meio e da frequência de estimulação nervosa. A concentração necessária para que ocorra um bloqueio da fibra motora geralmente é duas vezes maior do que da fibra sensitiva, devido à bainha de mielina. Por isso que, em algumas situações, o paciente pode ter anestesia sensitiva sem paralisia da musculatura esquelética, pois você bloqueou as fibras amielínicas, que são mais sensíveis. Nas fibras amielínicas e nas curtas pré-ganglionares, o bloqueio é mais rápido. Já nas fibras mielínicas, o bloqueio vai acontecendo de forma mais lenta. 12 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina UERN De maneira geral, o mecanismo de ação: Bloqueio sensorial reversível do nervo periférico ou das raízes dos nervos espinhais Inibindo o fluxo iônico responsável pela atividade elétrica da membrana neuronal Tipos de fibras nervosas: Fibras amielínicas e curtas pré-ganglionares: bloqueio mais rápido Fibras motoras mielinizadas (A): bloqueio mais lento A superfície mínima da fibra mielinizada exposta ao anestésico local para que haja um bloqueio da condução é uma distância de aproximadamente 3 nódulos de Hanvier, cerca de 1 cm. Então, tem que ter bloqueio de pelo menos essa área para que ocorra um bloqueio efetivo na fibra mielinizada. MECANISMO DE AÇÃO E PH DO MEIO Associação a vasoconstritores: retardar a absorção e aumentar a duração Muitas vezes, na preparação comercial, vai ter lidocaína + vasoconstrictor. Qual a intenção dessa associação? Queremos que o anestésico local aja no local, então, se ele for absorvido, vai ser metabolizado ou vai atingir órgãos. Não é ideal que ele chegue em outros órgãos ou membranas excitáveis. Então o vasoconstritor vai fazer a constricção do vaso, com isso vai diminuir a absorção do anestésico local e aumentar sua duração. Essa combinação não pode ser utilizada nas extremidades, pois tem risco de necrose – a vascularização já é distal, com diâmetro muito reduzido, com risco de isquemia – extremidade dos dedos, mãos, pés, nariz, orelha, pênis, etc. Evitar fazer o uso caso o paciente esteja com a pressão muito alta. Modificações no pH: para tentar aumentar a velocidade de início de absorção do anestésico local. Em pH alcalino faz-se um tamponamento do ácido com a finalidade de liberar uma base não-ionizada, passível de ser absorvida FARMACOCINÉTICA Envolve o caminho que o fármaco percorre. Etapas: absorção, distribuição, metabolização e eliminação. ABSORÇÃO Somente relacionado ao término dos efeitos. A absorção do anestésico local vai terminar seu efeito, com isso ele não precisa ser absorvido para agir, pois ele é injetado no local de ação. Então, diferente de outros fármacos, não tem absorção para ter início do efeito, tem absorção para o término do efeito (para a corrente sanguínea) e essa depende do local da injeção. DEPENDE: Local da injeção Aplicação na mucosa traqueobrônquica = injeção venosa Bloqueio intercostal = maior concentração plasmática de AL Dose total administrada Quanto maior a dose, mais vai ser absorvido. Lidocaína – 7 a 10 mg/kg em crianças Adultos < 500 mg Bupivacaína – 2 a 3 mg/kg em pediatria Associação de vasoconstritor Administração de um vasoconstritor, diminui ou lentifica a absorção Deve ser usado sempre que não houver contraindicação Ideal – epinefrina 5 µg/ml (1:200.000) Reduz velocidade de absorção Melhora a qualidade do bloqueio Propriedades farmacológicas da droga Lipossolubilidade Lidocaína – 2,9 Bupivacaína – 27, 5 Ação vasodilatadora Lidocaína – 1 Bupivacaína – 2,5 Ropivacaína – causa vasoconstricção Ligação protéica Lidocaína – 65% Bupivacaína – 95% Diminui com o aumento da concentração plasmática. Fração livre determina a fração tecidual da droga, esta vai determinar os efeitos tóxicos Outros fatores: injeções multiplas aumentam a absorção; vascularização intensa (mais ele vai ser absorvido, metabolizado e atingir outros órgãos), presença ou não de tecido adiposo na região do bloqueio > diferentes concentrações sanguíneas. Uso tópico pode levar a toxicidade. A via mais rápida de absorção de uso tópico é a via intratraqueal. Em alguns casos, a concentração que você obtém é bem semelhante a que seria administrada por via sanguínea. Diretamente relacionado a dose. Associação de vasoconstrictor: reduz a velocidade de absorção e aumenta a duração. Propriedades farmacológicas da droga por sua ação vasodilatadora mais ou menos potente 13 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina UERN Níveis séricos: Nos bloqueios periféricos, dependendo do local, pode ocorrer uma absorção para a corrente sanguínea maior ou menor com a mesma dose administrada. Por exemplo, no bloqueio de nervo femoral, a quantidade de anestésico absorvido é menor do que quando você faz um bloqueio periférico do plexo braqueal. Esse bloqueio do plexo é menor do que o peridural lombar – é um bloqueio do neuroeixo, é menor do que o bloqueio caudal, que é realizado no segmento mais distal da coluna. E desses, o que atinge maior concentração sérica é o intercostal, talvez porque a vascularização seja bem próxima ao local que você injeta. Situação especial: Transferência placentária Na gestante, tem que ter um cuidado maior relacionado aos efeitos tóxicos dos anestésicos locais. O anestésico local que cai na corrente sanguínea pode atravessar a barreira placentária por difusão passiva na sua forma não-ionizada, inversamente ao grau de ligação proteica. Então ele vai ser transferido da mãe para o feto. Existem algumas situações que requerem cuidados, por exemplo, hipoproteinemia (ex.: pré-eclampsia) – quando o anestésico está na circulação, vai ficar na forma livre, assim ele tem a capacidade de ser difundido para a placenta. Nessa situação de pré- eclampsia, também pode ocorrer uma hiperperfusão fetal, ou seja, apesar da pressão alta, o fornecimento do suprimento para o bebê está prejudicado e ele acaba tendo uma acidose fetal, diminuindo a ligação às proteínas fetais. Portanto, aquela dose não tóxica para a gestante, pode ser excessiva para o bebê e resultar em uma toxicidade fetal pelo uso de anestésico local. BIOTRANSFORMAÇÃO A absorção e distribuição teoricamente não tem importância para o efeito do anestésico local e sua metabolização é a eliminação. Eliminação principal por biotransformação hepática. Aminoésteres → metabolizados no plasma e no fígado pela ação da pseudocolinesterase Aminoamidas → metabolização apenas hepática pela ligação amida ser estável. Menos de 5% são eliminados in natura pela urina Duração e toxicidade dependentes do clearence (depuração), ou seja, da sua eficiência. Toxicidade vai depender dos níveis plasmáticos que esse anestésico atinge. T½β longo se acumulam no organismo e podem levar a intoxicação sistêmica AÇÃO FARMACOLÓGICA Podem agir em qualquer estrutura onde os mecanismos de excitação e condução dos impulsos elétricos estejam envolvidos. Se ele for absorvido em um grau maior, é que vai ocorrer as complicações. SISTEMA NERVOSO CENTRAL No SNC os anestésicos locais podem causar, basicamente, os efeitos. São dose-dependentes, mas existe um certo paradoxo, pois em: baixas concentrações eles são anti- convulsivantes altas concentrações vão causar convulsões. Os anestésicos locais podem ser utilizados para a supressão do reflexo da tosse de origem central, com a utilização de lidocaína em dose baixa (2mg/kg). Exemplo: você vai intubar o paciente que chegou na urgência, que sofreu um TCE e está com hipertensão intracraniana, com o nível de consciência e glasgow rebaixado. O estímulo para intubação é alto, o paciente vai reagir, vai tossir e a tosse pode levar a um aumento maior da pressão intracraniana em um paciente que está descompensado. Então podemos tentar diminuir o reflexo da tosse com lidocaína. O SNC é mais sensível do que o sistema cardiovascular. SISTEMA CARDIOVASCULAR Os anestésicos são capazes de reduzir a velocidade máxima de despolarização, especialmente das fibras de Purkinge e musculatura ventricular Diminuem o potencial de ação e o período refratário. A bupivacaína é o maior depressor cardíaco e também o mais potente > Aumento do intervalo PR e alargamento do complexo QRS TOXICIDADE A toxicidade dos anestésicos locais, tirando as reações alérgicas, geralmente são causadas só no tipo éster. Quanto maior a potência (lipossolubilidade), maior a toxicidade Se forem administrados no local e dose corretos, praticamente estão isentos de efeitos colaterais. 14 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina UERN Reações tóxicas sistêmicas: injeção intravascular ou subaracnóide acidental ou doses excessivas Quando você injeta um anestésico dentro de um vaso, você está injetando uma dose total na corrente sanguínea que deveria ser absorvida lentamente com o passar das horas. Uma outra forma disso acontecer é quando você faz doses excessivas, maior do que a permitida para o paciente. Doses altas absorvem mais. Injeção subaracnóidea acidental: existem dois tipos de bloqueio do neuro-eixo: o peridural é realizado no espaço peridural e o bloqueio subaracnóide, no espaço subaracnóide. No peridural, a dose de anestésico vai ser maior pois vai estar em contato direto com a medula. No bloqueio subaracnóide, o anestésico vai estar em contato com o liquor que banha a medula, com isso a dose que você precisa é menor. No bloqueio subaracnóide utilizamos 2, 3, no máximo 5 ml de anestésico. No bloqueio peridural, a gente utiliza 15, 20 a 30 ml. Manifestações clínicas diretamente relacionadas à concentração sanguínea do anestésico local. Quanto maior concentrado, mais locais irão ser atingidos. Em obesos, existe uma carga máxima, independente do peso. Os níveis da toxicidade do SNC são menores do que no SCV e, além disso, esse último é mais grave e tem manejo mais difícil. Inicialmente, o paciente fica inquieto, com queixa de vertigem, dificuldade para focalizar. Isso significa que houve uma certa passagem do anestésico pela barreira hematoencefálica. Em doses maiores, tem dificuldade de fala, abalos musculares de face e extremidades. Com maiores ainda, tem as convulsões tônico- crônicas. Ocorre depressão dos neurônios inibitórios e estimulação dos neurônios corticais excitatórios. Ocorre convulsões generalizadas. Depois das convulsões, vem a depressão do SNC Em doses maiores, ocorre o colapso cardiovascular, com hipotensão arterial, apneia por hipóxia e parada cardiaca. Concentrações plasmáticas tóxicas: Lidocaína: 8mcg/ml Bupivacaína: 3 a 4mcg/ml Cardiotoxicidade: Efeito mais grave e mais temido, Concentrações muito elevadas deprimem a atividade do marcapasso, do nó sinoatrial (ritmo cardíaco). Então o paciente vai entrar em bradicardia sinusal até parar. Os de maior potência, como a bupivacaína, também tem mais lipossolubilidade e maior afinidade proteica, são os mais cardiotóxicos, pois vão ficar muito tempo ligados no canal de sódio. A parada cardíaca vai ser muito longa, eles levam ao efeito depressor da atividade mecânica do miocárdio e efeito inotrópico negativo dose-dependente proporcional a potência. Quanto maior a frequência, mais canais vão estar disponíveis para a ligação do anestésico local. Não tem fármacopara reverter esse quadro, só terapia de suporte: ressucitação é dificil e demorada que pode ser de até 45minutos, ou seja, você massagear até que esse agente se desligue dos canais de sódio e se redistribua. Isso está relacionado a potência da droga. A lidocaína geralmente não chega a causar colapso, é mais hipotensão, bradicardia, hipóxia. A bupivacaína, L-Bupi e Ropi podem causar colapso cardiovascular. Apesar que de o L-Bupi e Ropi serem mais seguros. Prevenção: Aspiração antes de injetar droga Dose teste 3ml Injeção lenta Evitar doses excessivas Monitorização Benzodiazepínico Tratamento: Medidas de suporte O2 Ventilação Sedativos Drogas vasoativas Antiarritmicos Cardioversão Reações alérgicas: Amino-ésteres: hidroxilação com formação ácido paraaminobenzóico, são um importante alérgico. Amino-amidas podem ter reações, mas é muito raro. Acredita-se que o uso do conservante/preservativos metilparabeno ou metabisulfito, que tem uma estrutura semelhante ao ácido paraaminobenzoico, nas preparações comerciais, pode levar a reações alérgicas. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 C on ce nt ra çã o S ér ic a em O ve lh as ( m cg /m l) Convulsão Hipotensão Apnéia Colapso Circulatório Bupi Levobupi Ropi 15 Jordana Oliveira | Turma XX | Medicina UERN USO CLÍNICO É utilizado para anestesia e analgesia regional. Anestesia/analgesia subaracnóidea, peridural Bloqueios periféricos de plexos ou de troncos nervosos Infiltração local Analgesia ou anestesia prolongadas (cateteres) Aplicação sobre mucosas (tópica) Sobre o tegumento para procedimentos cutâneos superficiais Via venosa como antiarrítmicos Lidocaína para reversão de TV Locais: anestesia subaracnóide, peridural, bloqueios periféricos de plexos nervosos e troncos, para infiltração local, para analgesia ou anestesia prolongada com o uso de cateteres, tanto em nervos periféricos como no neuroeixo; aplicações sobre mucosas, ou seja, uso tópico; sobre a pele para procedimentos cutâneos superficiais, na forma de gel; por via venosa, como antiarrítmicos, por exemplo, a lidocaína na prevenção de taquicardia ventricular. Em dose baixa é antiarritmico, em dose alta causa bradicardia e parada cardíaca. DOSES Lidocaína (Xylocaina) → dose máxima 5mg/kg sem vasoconstrictor e 7mg/kg com vasoconstrictor. A dose máxima é de 500mg (independente do peso). A apresentação mais usual é a de 2%, que tem 20mg/ml. Bupivacaína → a dose máxima é 2mg/kg, a carga total é de 150mg. Geralmente a ampola é a 0,5%. Ropivacaina → 2 a 3 mg/kg com dose máxima de 150 até 200 mg Prilocaina → 6mg/kg com dose máxima de 400mg QUIRALIDADE Quase todos são compostos quirais, com exceção da lidocaína, e isso faz com que eles tenham dois tipos de isômeros. O isômero levógiro tem maior atividade vasoconstrictora, maior duração de ação e menor toxicidade sistêmica potencial que o D, em caso de absorção sistêmica do que as misturas racêmicas. A maioria dos anestésicos são comercializados na forma de misturas racêmicas. Ropivacaína foi o primeiro agente com mais de 99% na forma levógira já disponibilizado no mercado. Levo-bupivacaína que somente tem na mistura o isômero levorrotartório. CASO CLÍNICO Menor, 10 anos, peso 40kg, sofreu extenso ferimento na panturrilha direita, foi levado ao pronto socorro, o médico plantonista indicou limpeza e sutura da lesão. Após correta assepsia, foi dada uma infiltração local com anestésico local lidocaína a 2%, 8ml sem vasoconstrictor. Durante a anestesia, o menor apresentou quadro de convulsões tônico-crônica generalizada, pressão arterial e FC mantiveram estáveis. Foi medicado com midazolan, hidratado e internado para o tratamento. O que houve? Esse tratamento proposto está correto? Resposta: Dose máxima que posso fazer na criança: 5mg/kg → 200mg 8ml a 2% → foi feito 160ml, a dose está dentro da máxima permitida. Foi injetado no vaso (não aspirou). Então ele teve convulsões tônico-crônicas generalizada. A dose não foi tão alta e ele não entrou em colapso cardiovascular, pois a pressão e a FC se mantiveram estáveis. Ele foi medicado com midazolam (benzodiazepínico – para tratamento das convulsões tônico-cronicas generalizadas). Tem que controlar as convulsões pois pode resultar em dano cerebral. Foi hidratado pois existe um risco dessa dose aumentar. Estabilizar para não evoluir para um colapso cardiovascular.
Compartilhar