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º Introdução A utilização dos anestésicos locais (AL) e adjuvantes para o alívio do sofrimento provocado pela dor, remonta às antigas civilizações, estando a sua história ligada à descoberta da cocaína. Incas → utilização das folhas da Erythroxylon coca. Tomás Moreno y Raiz → utilização como anestésico local na forma isolada de cocaína. Carl Koller → descreveu as propriedades anestésicas tópicas locais deste alcalóide sobre o olho. Sigmund Freud → ação estimulante central da cocaína. Definição “São substâncias capazes de bloquear, de forma totalmente reversível, a geração e propagação do potencial de ação em tecidos eletricamente excitáveis.” A atuação dos anestésicos locais serão em vias que são excitáveis, principalmente, uma via nervosa (nocicepção). O principal efeito do anestésico local é bloquear de maneira reversível a sensação álgica do paciente. São bases fracas e comercializados junto com o ácido clorídrico. Condução do impulso nervoso O impulso nervoso vai ocorrer de forma saltatória em fibras que são mielinizadas. Existem vários tipos de fibras, e quanto maior o diâmetro de mielina mais rápido se conduz o impulso, que é a condução saltatória, de nódulo de Ranvier para nódulo de Ranvier. Especificamente o anestésico local vai agir em relação ao sódio, então, a função deles será bloquear os canais de sódio. O potencial de ação ativa os canais de sódio permitindo o influxo de sódio intracelular gerando a despolarização. º O canal de sódio é formado por 4 unidades e 4 unidades , sendo que 1 e 2 são responsáveis pelo estímulo voltagem- dependente para gerar o potencial de ação, e as subunidade 3 e 4 (localizados na porção intracelular da fibra nervosa) serão os sítios fundamentais no bloqueio anestésico local. Em termos práticos, o anestésico local é injetado no meio extracelular (tecido), ele precisa se difundir na membrana neuronal, e intracelular vai bloquear o canal de sódio. A ação dos anestésicos locais depende basicamente de: • Concentração anestésica mínima → depende da diluição, peso molecular e lipossolubilidade dos AL. • Diâmetro e grau de mielinização das fibras nervosas → bloqueio mais fácil na fibra não-mielinizada. • A farmacocinética do AL → influencia a sua eficácia terapêutica, a sua potência, atividade biológica e toxicidade. Esse gráfico representa o potencial de membrana normal e quando se utiliza anestésico local diminui o potencial transmembrana para abaixo do limiar basal que gera o potencial de ação. Tipos de fibras Existem fibras do tipo A, B e C. A fibra tipo A, vai ser dividida em , , ꝩ e Ᵹ. Cada um desses subtipos vai se diferenciar pelo grau de mielinização, sendo que cada uma vai ser responsável por uma ação (p.ex a é neurônio motor responsável pela propriocepção, a por tato e pressão, ꝩ responsável pelp reflexo e a Ᵹ dor e temperatura). A fibra tipo C também é responsável por dor e temperatura. º Comparando essa imagem o subtipo Ᵹ e a fibra C serão os locais preferenciais do AL, pois não possuem mielina ou tem a presença de pouca. Evolução do bloqueio A evolução do bloqueio é relacionado ao calibre da fibra e da mielinização. Dessa forma, o bloqueio vai começar pelas fibras de menor calibre não mielinizadas até chegar nas de maior calibre mielinizadas. Ordem de bloqueio 1. Dor 2. Frio 3. Calor 4. Tato 5. Pressão profunda 6. Motor Essa sequência está atribuída justamente às características de cada fibra, pois as fibras que levam informações de dor e temperatura são fibras delta ou C, que são amielínicas ou com baixa quantidade de mielina, assim, consegue bloquear de maneira mais rápida do que as fibras que tem função motora, porque essas tem maior diâmetro e maior quantidade de mielina. Características dos anestésicos locais • Paralisa sensorial e motora na área inervada. • Inibição da gênese e propagação do potencial de ação. • Reversiblilidade. • Ausência de efeitos sistêmicos na dose idela do anestésico local • Estrutura química – Classificação dos anestésicos. Importância do pKa Todos os anestésicos locais são bases fracas, assim eles podem se apresentar de duas formas: não ionizadas (B) ou ionozadas (BH+). Os anestésicos locais são bases fracas, ou seja, possuem uma instabilidade que vão sofrer inferência do pH. Em determinado pH determina uma forma, do que quando coloca-se essa substância em outro pH. O pKa de uma base fraca define o pH no qual as duas formas coexistem em equilíbrio. pKa – pH = log [BH+]/[B] A forma não ionizada é a que consegue atravessar a membrana plasmática neuronal de maneira efetiva. Quando se compara a não ionizada com a ionizada, a primeira difunde mais de forma mais rápida, mais eficiente, chegando intracelular numa quantidade suficiente para gerar o bloqueio do canal de sódio. Já a forma ionizada, por ter carga difunde de maneira menos eficiente, com mais dificulade e em quantidades inferiores. A forma ionizada e não ionizada vai depender do pH da substância. Por exemplo, o pKa da lidocaína é 7.9, colocada em um tecido local com o pH 7.4 (fisiológico), ela vai predominar até 25% da forma não ionizada. Já a bupivacaína tem o pKa de 8.1, colocando ela em um tecido º com pH de 7.4, consegue-se apenas 5% da forma não ionizada. Lidocaína e bupivacaína, no mesmo tecido de 7.4, a lidocaína tem um tempo de latência menor, pois em pH mais próximo do tecido, vai ter mais quantidade de forma não ionizada do que comparada a bupivacaína. .No tecido normal que tem pH de 7.4, injeta- se o AL com seu pKa característico de sua constituição, então, quando ele entra no tecido tem uma diferença de pH com pKa, ou se o pH e pKa forem iguais, teremos 50% na forma ionizada e 50% na forma não ionizada. Quando há diferença do pH com pKa, desloca-se a reação para um lado, por exemplo: como o AL é uma base, quanto mais ácido for o tecido em que vai aplicar o anestésico, mais forma ionizada gerará, ou seja, menos efeito terá o AL. Por isso que na prática primeiro deve-se tratar a inflamação com antibióticos e só depois fazer a drenagem e usar o AL. Classificação Todos os fármacos anestésicos locais partilham a mesma estrutura química: • Um grupo aromático (geralmente ácido paraminobenzóico) → lipossolúvel (hidrofóbico). Facilitação do AL para difundir na membrana. Quanto mais lipossolúvel maior a potência. • Uma cadeia intermediária → éster ou amida. • Uma amina terciária (derivada do álcool ou do ácido acético) → polar (hidrofílico) → parte do anestésico que se ioniza. A ligação entre o primeiro componente e a cadeia intermediária divide os AL em duas classes: • Ligação éster (-COO-), denominando os compostos aminoésteres. • Ligação amida (-CONH-), denominando os compostos aminoamidas. Obs.: Uma segunda opção seria alcalinizar o meio através da injeção de bicarbonato de sódio, porém, o volume de bicarbonato injetado muitas vezes pode gerar mais dor e mais irritação para o paciente, pois novas fibras nociceptivas podem ser estimuladas. Obs.: Todos os aminoamidas terão dos “i” no seu nome e aminoésteres apenas um “i”. º Os aminoésteres tem maior potencial de causar alergias, porém na prática, quem causa mais alergias são os aminoamidas, por serem mais utilizados. Utilizados na prática Como calcular as doses? Farmacocinética Absorção • Lipossolubilidade: quanto maior a lipossolubilidade → maior será a facilidade do anestésico em penetrar a membrana. • Doses altas: aumentam a chance de efeitos colaterias, e do anestésico chegar a circulação sistêmica. • Sítio: quanto maior a inervação – maiorserá o bloqueio realizado pelo anestésico. Intercostal → Caudal → Epidural → Plexo ciático/femoral. • Promove a vasoconstrição com redução do fluxo sanguíneo local. • Aumenta duração do efeito do anestésico local na região desejada. • Aumenta o sucesso do bloqueio. • Diminui a dose de anestésico necessária a ser administrada. • Reduz a concentração do fármaco na circulação sistêmica – menor toxicidade. • Absorção mais lenta. • Diminui sangramentos. Contraindicado • Em áreas pouco vascularizadas e com circulação colateral limitada (mãos, pés, orelhas, testículos) e em extremidades – pode ocorrer risco de isquemia e necrose. • Efeito vascular bifásico (adrenalina) Efeito vascular bifásico (adrenalina) • Adrenalina agindo sobre receptor 1 promove vasoconstrição • Adrenalina se ligando a receptores 2 provoca vasodilatação. • pH ácidos: os anestésicos locais (bases fracas) encontram-se em sua forma ionizada, ligados a cargas positivas (H+) – diminuindo sua lipossolubilidade – dificultando a passagem do anestésico pelas membranas. º • pH básicos: os anestésicos locais (bases fracas) encontram-se em sua forma não ionizada, sem cargas positivas – aumenta a lipossolubilidade dos anestésicos pelas membranas. Distribuição • Fração livre x fração ligada • Fração ligada a proteínas plasmáticas – não é distribuída, metabolizada → assim aumenta seu tempo de ação, e o anestésico fica mais tempo no organismo. - Amidas - 1 glicoproteína ácida - Câncer, traumatismo, IAM → aumenta a quantidade 1 glicoproteína ácida. - Amidas grande afinidade por proteínas plasmáticas + degradadas por CYPS’s → anestéscios locais amidas possuem maior tempo de ação. • Vascularização (maior vascularização) → maior distribuição → maior degradação. • Anticoncepcionais: diminuem a quantidade de protéinas plasmáticas. • Bebês: possuem poucas proteínas plasmáticas. • Tetracaína: tempo longo da ação → pois esterases tem dificuldade de degradar – assim possuem um maior tempo de ação. • Fármaco livre: toxicidade SCV e SNC → efeitos colaterais em caso de absorção sistêmica. Eliminação • Ésteres: metabolismo plasmático por esterases inespecíficas → menor tempo de meia vida, clearance independe do fluxo e função hepática. • Amidas: metabolismo hepático por CYP’s → maior tempo de meia vida, clearance depende do fluxo e função hepática. • Clearance alto: anestésico local com clearance alto apresenta maior margem de segurança. • Injeção intratecal (líquor): efeito do anestésico local permanece até sua absorção para circulação sistêmica. Características Potência • Lipossolubilidade é o principal determiante da potência. • Compostos altamente lipofílicos tendem a penetrar na membrana nervosa • Baixa: procaína. • Intermediária: mepivacaína, prilocaína, cloroprocaína e lidocaína. • Alta: tetracaína, bupivacaína e etidocaína. Difusão/latência • O início do bloqueio de condução é determinado, primariamente pelo pKa de cada anestésico. • pKa é o valor de pH no qual as formas ionizadas e não ionizadas estão presentes em quantidades iguais. • A forma não ionizada é a forma que penetra a membrana neuronal. Obs.: “Latência da anestesia local – reduzida com adição de bicarbonato (HCO³-) – Basificando o meio.” º Duração da atividade • A duração da anestesia está relacionada ao grau de afinidade proteica dos anestésicos locais. • Quanto maior a afinidade, maior a ligação aos sítios receptores, com consequente bloqueio mais longo • Duração → ligação às proteínas plasmáticas. • Curta: procaína e cloroprocaína • Moderada: mepivacaína, cloroprocaína e lidocaína • Longa: bupivacaína e etidocaína Toxicidade dos AL Hipersensibilidade aos anestésicos locais • Situações raras → mais comum com o uso de anestésicos de cadeia éster. • Ésteres e seus metabólitos podem ser reconhecidos como antígenos pelo sistema imune. • Tipo éster → metabolismo PABA → é um alérgeno • Alergia aos convulsivantes → metilparabeno (antimicrobiano), metabissulfito. SNC • Estimulação – inquietação e tremor – convulsões. • Depressão – insuficência respiratória SCV • Diminui a excitabilidade elétrica, velocidade de condução e força de contração do miocárdio. • Arritmias cardíacas. • Dilatação arteriolar – pode ser causada por anestésicos locais – bloqueio simpático – diminui retorno venoso, circulação prejudicada, redução do débito cardíaco. Tratamento de toxicidade sistêmica • Prevenção (certifficar que o AL esteja sendo injetado no tecido e não na circulação) • Conhecimento • Monitorização • Oxigenoterapia • Anticonculsivante/relaxamento muscular • Efedrina e atropina • Arritmias ventriculares graves - O2 e ventilação - Parada cardiorrespiratória - Cardioversão - Epinefrina Gravidez e lactação • Procedimentos simples • Evitar no primeiro trimestre se possível • Categoria B: lidocaína, procaína • Categoria C: epinefrina, bupivacaína • Excretados no leite materno. Anestesia Tópica • Sais não penetram pele íntegra necessitam bases lipofílicas. º • Altas concentrações, maior penetração pelo extrato cóneo. Aumento do risco de intoxicação. • Otimizar efeito anestésico: concentração segura + veículo lipossomado (preferência a pomada).
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