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José Eduardo Palacio Soares Desidratação Se caracteriza pela baixa concentração não só de água, mas também de sais minerais e líquidos orgânicos no corpo, a ponto de impedir que ele realize suas funções normais. CLASSIFICAÇÃO 1)CONFORME A INTENSIDADE DAS PERDAS HÍDRICAS, pode ser classificada em: →DESIDRATAÇÃO LEVE: • Perda de 3 a 5% do peso corporal • Sinais clínicos ausentes ou discretos: sede, mucosa relativamente secas e urina concentrada • Criança pode mostrar-se irritada • Turgor, elasticidade da pele e fontanela normais ou pouco alterados • A taquicardia é discreta • O enchimento capilar é rápido (perfusão das extremidades menor que 3 segundos) → DESIDRATAÇÃO MODERADA: • Perda de 5 a 10% do peso corporal • Os sinais de desidratação são evidentes: sede, secura de mucosas, turgor pastoso, elasticidade diminuída, enoftalmia, tensão ocular diminuída, urina muito concentrada • Existe taquicardia, mas as condições circulatórias mantem-se boas e não há sinais de choque • Perfusão capilar entre 3 e 5 segundos → DESIDRATAÇÃO GRAVE: • Perda de 10% ou mais do peso corporal, com consequente dificuldade do sistema circulatório em fornecer oxigênio e nutrientes para os tecidos. • Sinais de má-perfusão do sistema nervoso, com manifestações clínicas que variam de agitação ao torpor e coma. • Os sinais de desidratação são intensos: olhos fundos, inexpressivos, sem brilho e conjuntiva hiperemiada. • Há sinais de choque: pulsos finos e rápidos, hipotensão arterial, abafamento de bulhas cardíacas, oligúria, má-perfusão da pele e extremidades (perfusão >5s). • A temperatura pode estar elevada ou instalar-se hipotermia. • Respiração profunda e suspirada em consequência da acidose 2)CONFORME OS DESVIOS DA OSMOLARIDADE (de modo geral se relacionam com as variações das concentrações séricas de sódio): → DESIDRATAÇÃO ISOTÔNICA: • Sódio sérico entre 130 e 150 mEq/L. • O déficit de água é proporcional ao de eletrólitos • Quadro clínico varia de acordo com o grau de desidratação. José Eduardo Palacio Soares →DESIDRATAÇÃO HIPERTÔNICA: • Sódio sérico acima de 150 mEq/L. • O déficit de água é proporcionalmente superior ao déficit de eletrólitos, aumentando, desta forma a concentração de eletrólitos. • Ocorre quando há ingestão diminuída de água ou administração excessiva de solutos • Mais frequente em crianças de baixa idade • Há aumento da osmolaridade do LEC, com consequente passagem de água do LIC para o LEC. • Os sinais de desidratação extracelular são pouco evidentes. • Quadro clínico: sede intensa, secura de mucosas, pele quente e seca, febre, irritabilidade, oligúria com urina de densidade variada. Obs.: Nos casos mais graves podem ocorrer sintomas neurológicos como: agitação, hipertonia muscular, hiperreflexia, meningismo e convulsões. → DESIDRATAÇÃO HIPOTÔNICA: • Sódio sérico abaixo de 130 mEq/L • O déficit de água é proporcionalmente menor que o de eletrólitos • Ocorre quando há perdas hidroeletrolíticas profusas compensadas com soluções pobres em eletrólitos. Exemplo: criança com diarreia importante, que é hidratada apenas com água e chás • Há diminuição da osmolaridade do LEC em relação ao LIC, então ocorre passagem de água do LEC para o LIC • Predominam os sinais de desidratação extracelular • Nos casos graves, tendência a choque: pele cinzenta, extremidades frias, hipotermia, pulso fino, hipotensão arterial e oligúria. • Há casos em que o déficit de água é pequeno, predominando os sinais de hiponatremia sobre os de desidratação: apatia, sensação de fraqueza, hipotonia muscular, anorexia, náuseas e vômitos • O turgor é pastoso e a tensão ocular diminuída. • Pode haver mucosas úmidas, ausência de sede e presença de diurese. • Convulsões e sinais de edema cerebral ocorrem em hiponatremia grave (sódio sérico inferior a 120 mEq/L) WARNING→CONDIÇÕES QUE PODEM INDUZIR AO ERRO NA AVALIAÇÃO DA INTENSIDADE DA DESIDRATAÇÃO: • DESIDRATAÇÃO HIPERTÔNICA: os sinais de desidratação extracelular (enoftalmia, fontanela deprimida, diminuição do turgor e da elasticidade) são pouco evidentes, dificultando a avaliação da desidratação. • DESNUTRIÇÃO GRAVE: pele seca e pregueada, enoftalmia, mucosas ressecadas são achados comuns na desnutrição proteico-energética. As crianças desnutridas, mesmo com desidratação, podem manter diurese devido à incapacidade de concentrar a urina. Obs.: o controle ponderal, diminuição da atividade motora, baixa tensão ocular, taquicardia, hipotensão e sinais de insuficiência circulatória periférica são parâmetros que auxiliam na avaliação da desidratação no desnutrido grave. • OBESIDADE: as alterações do turgor e da elasticidade da pele são de aparecimento tardio. A história de perda hídrica aguda, sede, enoftalmia, depressão de fontanela, diminuição da tensão ocular, oligúria e, nos casos mais graves, os sinais de choque e acidose possibilitam o diagnóstico. José Eduardo Palacio Soares CONSEQUÊNCIAS DA DESIDRATAÇÃO • Pode haver alterações do equilíbrio ácido-básico. • Na desidratação por diarreia a alteração mais frequente é a acidose metabólica, que decorre devido: -Perda de bicarbonato nas fezes; - Produção aumentada de íons hidrogênio por jejum; e - Retenção de íons hidrogênio por má-função renal. Obs.: O sinal clínico mais comumente encontrado é a hiperpneia HIDRATAÇÃO Quando estabelecida a desidratação, sua correção é feita em duas fases: →REPARAÇÃO: tem por objetivo restaurar o déficit existente →MANUTENÇÃO: visa fornecer líquidos, eletrólitos e calorias para manter o indivíduo (já hidratado) em estado de equilíbrio hidroeletrolítico. TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL: é o método de escolha para correção dos distúrbios hidroeletrolíticos. -Respeita a aceitação da criança - Independe de recursos técnicos e hospitalares - Permite a administração de potássio e bicarbonato desde o início do tratamento e não oferece riscos HIDRATAÇÃO VENOSA: deve ser indicada nas desidratações graves, com sinais de choque, perda de consciência, íleo paralítico e em casos que a hidratação oral for ineficaz ou impraticável (como excesso de vômitos). A OMS recomenda a utilização da solução de reidratação com 75 mMol/L de sódio, porém, como essa concentração não é disponível pelo Ministério da Saúde, continuamos utilizando rotineiramente a solução com 90 mMol/L. Obs.: ambas as soluções apresentam equivalência terapêutica para prevenir e tratar a desidratação, porém estudos tem mostrado menor duração de diarreia e vômitos na solução com menor osmolaridade. TRATAMENTO: determinado pela gravidade do quadro clínico: 1) PLANO A: para pacientes com perdas hidroeletrolíticas, mas sem sinais de desidratação. Consiste no aumento da oferta de líquidos associado à manutenção da alimentação, com correção de eventuais erros dietéticos e respeito à aceitação e tolerância. Evitar refrigerantes e sucos de frutas artificiais que possuem elevada osmolaridade, podendo agravar os vômitos e prolongar a diarreia. Após cada evacuação, oferecer à criança, sem forçar, a solução de reidratação oral. Procurar o serviço de saúde em caso de piora da diarreia e de aparecimento de sinais de desidratação. 2) Plano B: para pacientes com algum grau de desidratação. I-Fase de reparação: • A solução de reidratação oral (SRO) deve ser oferecida em pequenos volumes, frequentes, conforme a aceitação, até o desaparecimento dos sinais de desidratação e a presença de diurese abundante (acontece usualmente em um período de 4 a 6 horas). • Se a criança estiver tolerando, manter o aleitamento materno. • É importante ter os dados do peso inicial para posterior comparações José Eduardo Palacio Soares • A avaliação deverá ocorrer a cada 1 horas, sendo que nas primeiras 2 horas já deve ser notada certa melhora no estado de hidratação, inclusive com ganho de peso. • Se nãohouver sinal de melhora, com peso inferior ou igual ao início do tratamento, na terceira hora, dificilmente se conseguirá hidrata-lo dentro de 6 horas, portanto, verificar possibilidade de administrar a solução de reidratação por sonda nasogástrica (deve ser iniciada na velocidade de 15 mL/kg/hora, aumentando-se até 30 mL/kg/hora de acordo com sua aceitação) ou via venosa. II-Fase de manutenção: uso de líquidos de acordo com a aceitação da criança e administração da solução de reidratação oral após cada episódio de vômito ou de evacuação líquida. A alimentação habitual deve ser oferecida depois que a criança estiver hidratada, respeitando sua aceitação e tolerância. 3) Plano C: para pacientes graves, com sinais de choque ou nos casos que a TRO é inviável ou ineficaz, é necessária infusão venosa rápida de solução hidroeletrolítica, visando reestabelecer as condições circulatórias e a função renal I- Fase de reparação: • Na impossibilidade de hidratação por via oral e nos desidratados graves sem sinais evidentes de choque: pode-se utilizar a solução de partes iguais de solução glicosada a 5% e solução fisiológica 0,9%, administrada no volume de 50 mL/kg em uma hora, repetindo até melhora dos sinais de desidratação. • Crianças graves com torpor ou em coma, pulso débil e enchimento capilar muito lento devem receber soluções cristaloides [soro fisiológico (NaCl a 0,9%) ou ringer lactato] por via endovenosa em bolus (20 mL/kg a cada 20 a 30 minutos) até o reestabelecimento das condições circulatórias. • Passa a fase de alto risco, inicia-se a administração endovenosa de uma solução de soro fisiológico e soro glicosado isotônico em partes iguais (solução 1:1), num volume de 50 mL/kg em uma hora. Deve ser repetido em 1 ou 2 horas até o desaparecimento dos sintomas de desidratação e a presença de diurese franca (urina clara por duas ou três vezes ou com densidade em torno de 1,010. II- Fase de manutenção: utilizar a via oral como descrito para a fase de manutenção do plano B. @palacioeduu
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