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Bioquímica II Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me.Rossana Soares de Almeida Revisão Textual: Aline Gonçalves Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética • Apresentar as reações do catabolismo e anabolismo de carboidratos; • Representar as várias etapas do metabolismo e mecanismos de regulação da via glicolítica; • Descrever as etapas da gliconeogênese; • Identificar e distinguir os mecanismos de regulação da gliconeogênese; • Compreender a regulação recíproca da gliconeogênese e glicólise. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Carboidratos; • Metabolismo de Carboidratos. UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética Carboidratos Carboidratos são as biomoléculas de maior abundância no planeta, fazendo parte da dieta alimentar da maior parte da população, já que sua oxidação é a principal via de produção de energia. Os carboidratos são estruturas poli-hidroaldeídas (aldoses) ou poli-hidrocetonas (cetoses), com fórmula (CH2O)n, Alguns carboidratos também são compostos de nitrogênio, fósforo e enxofre. Os monossacarídeos são as estru- turas mais simples dos carboidratos e se condensam formando estruturas mais com- plexas, os polissacarídeos. Os polissacarídeos são mantidos por ligações glicosídicas, ligações estruturais de desidratação, que unem diversos monossacarídeos. Figura 1 Fonte: NELSON; COX, 2019 Ligação glicosídica é um tipo de ligação de caráter covalente, que une es- truturas mais simples (monossacarídeos) e forma estruturas mais complexas (polissacarídeos). O grupo hidroxila do carbono anomérico da glicose liga-se ao hidrogênio da frutose, as estruturas são então condensadas, liberando uma molécula de água. São possíveis três classes de carboidratos: • Monossacarídeos: açúcares simples, constituídos por única unidade de aldoses ou cetoses; já os monossacarídeos de quatro ou seis carbonos tendem a formar estruturas químicas cíclicas. O monossacarídeo que é considerado a principal fonte de energia para os seres humanos e outros animais é a glicose, que pode ser estocada em nosso organismo sob a forma de um polissacarídeo chamado de glicogênio; • Monossacarídeos cíclicos: os monossacarídeos com cinco ou mais átomos de carbono aparecem, predominantemente, sob a forma cíclica (estruturas químicas em anel). A ciclização das estruturas acontece quando o grupo 8 9 carbonila forma uma ligação do tipo covalente com o oxigênio de um dos grupos hidroxilas presentes na cadeia. Essas são reações que acontecem en- tre os álcoois, aldeídos ou cetonas das estruturas para formar os hemiacetais ou hemicetais; Figura 2 – Formação das duas formas cíclicas da glicose Fonte: NELSON; COX, 2019 • Oligossacarídeos: cadeias curtas de monossacarídeos, unidas por ligações glicosídicas. Os mais comuns são os dissacarídeos, como a sacarose, que é um dissacarídeo formado pela condensação da glicose e frutose; Quadro 1 – Exemplos de polissacarídeos Carboidrato Monossacarídeos constituintes Importância biológica Polissacarídeos Amido ≈1.400 glicoses Armazenado no amiloplasto de raízes do tipo tuberosa (mandioca, batata doce, cará), caules do tipo tubérculo (batatinha), frutos e sementes. Principal reserva ener- gética dos vegetais. Glicogênio ≈30.000 glicoses Armazenado no fígado e nos músculos. Prin-cipal reserva energética de animais e fungos. Celulose ≈1.000 glicoses Função estrutural na célula vegetal, como um componente da parede celular. Quitina Constitui o exoesqueleto dos artrópodes e está presente na parede celular dos fungos. Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons 9 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética • Polissacarídeos: são estruturas mais complexas, formadas por mais de 20 mo- nossacarídeos, podendo chegar a centenas ou milhares dessas unidades, todas unidas por ligações glicosídicas. A celulose é um polissacarídeo da cadeia linear e o glicogênio é de cadeia ramificada, com funções biológicas notadamente diferen- tes. Os polissacarídeos podem ser classificados também como heteropolissacarí- deos (compostos formados por diferentes tipos de monossacarídeos) ou homopo- lissacarídeos (compostos formados apenas por um tipo de monossacarídeo); Os polissacarídeos, além das funções de estrutura (celulose) e de estabilidade física de células e órgãos (por possuírem alto teor de água em sua constituição, evitam que algumas estruturas sofram desidratação), têm a sua principal função de reserva energética. Os polissacarídeos, ao sofrerem reação de hidrólise, que é contrária ao processo de formação deles, que é a de condensação, formam monômeros (açúcares ou monossacarídeos) que, quando metabolizados, geram uma quantidade imensa de energia. Figura 3 – Homo e heteropolissacarídeos, respectivamente Fonte: NELSON; COX, 2019 Figura 4 – Monossacarídeos representativos Fonte: NELSON; COX, 2019 Respectivamente, as figuras são: duas trioses, uma aldose e uma cetose; duas hexoses comuns, duas pentoses. 10 11 Os carboidratos, assim como todas as outras classes alimentares, precisam passar por um processo de quebra física e química que é totalmente enzimático. Para que as partículas dos alimentos se tornem menores e seja possível a sua metabolização no meio intracelular, a digestão é fundamental. Além de facilitada pelas enzimas, a digestão é uma reação que depende de água para acontecer, por isso é caracterizada como uma reação de hidrólise. • Descrição da reação de digestão, hidrólise: https://bit.ly/3gmJntC • Digestão, um processo enzimático: https://youtu.be/rRWjF2etApI No caso dos carboidratos, que são estruturas essencialmente complexas (polis- sacarídeos), a digestão acontece para quebrar essas estruturas, originando porções mais simples e menores, os monossacarídeos. O processo digestivo é gradual, a quebra converte os polissacarídeos em oligo e, posteriormente, em dissacarídeos (maltose, sacarose e lactose). A etapa final da digestão acontece no intestino, onde as enzimas responsáveis converterão os dissacarídeos em monossacarídeos (glicose). Agora, sim, a digestão chega ao fim e essas estruturas estão prontas para serem absorvidas e metabolizadas no meio intracelular. Os monossacarídeos, vindos do processo de digestão, serão absorvidos pelas cé- lulas do intestino e lá seguirão para a metabolização. O processo de metabolização converterá o monossacarídeo (glicose) em energia. A absorção da glicose pelas cé- lulas acontece via difusão facilitada pela proteína transportadora Glut 4. O processo é por transporte passivo, sem gasto de energia, já que toda a glicose que entrar na célula será metabolizada. Glicose, insulina e diabetes: https://youtu.be/x8nw6elFCq8 A proteína que transportará a glicose para o meio intracelular é ativada pela ação da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e com controle de produção feito pela concentração de glicose. Períodos de refeição estabelecem altas concentrações de glicose no meio extracelular, o que promoverá a produção de insulina pelo pân- creas e, consequentemente, a ativação da Glut 4 e o transporte da glicose para o interior da célula. 11 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética Figura 5 – Proteína transportadora da molécula de glicose e insulina, transporte intracelular Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Funções da insulina e do glucagon: https://youtu.be/af6ts7MewSE Metabolismo de Carboidratos Você Sabia? Algumas moléculas são importantíssimas para entender a forma com a qual o seu orga- nismo utiliza os carboidratos para produzir energia, vamos conhecê-las: • ATP (Trifosfato de adenosina): dela derivam o ADP e o AMP (~Di e ~Monofosfato, respectivamente). É uma molécula armazenadora de energia, sendo que a energia é armazenada entre as ligações de fosfato que existem em sua estrutura; • GTP (Trifosfato de guanosina): molécula transportadora de energia, com estru- tura muito semelhante ao ADP; • FADH (flavina-adenina-dinucleotídeo): é umacoenzima que atua como cap- tadora e transportadora de elétrons entre as cadeias de reações que compõem o metabolismo dos carboidratos; • NADH (nicotinamida-adenina-dinucleotídeo-fosfato): é uma coenzima com função semelhante ao FADH, que também atua como captador e transportador de elétrons. ATP – adenosina trifosfato: https://youtu.be/WWU3cux7AbQ Glicólise Uma série de reações é necessária para que aconteça a degradação/metabolização da molécula de glicose e a conversão dela em energia (ATP). Todas as reações da gli- cólise acontecem no citoplasma e o processo é completamente enzimático, gerando, 12 13 como produto final, duas moléculas com três átomos de carbono, o piruvato . A glicó- lise é dividida em duas etapas. A primeira etapa consiste na preparação e na ativação da molécula de glicose com gasto de energia e a segunda etapa consiste na formação de energia sob a forma de ATP. • Etapa 1 (fase preparatória) – Preparação e ativação da molécula de glicose: essa é a fase preparatória, ou fase de investimento. Essa fase é caracterizada pela fosforilação da molécula de glicose com adição de grupos fosfatos, tendo gasto de ATP. O produto formado nessa etapa seguirá para etapa 2: » Reação 1: a molécula de glicose é inicialmente fosforilada mediante a inserção do grupo fosfato à hidroxila ligada ao carbono 6 (abreviadamente, o C-6) em um processo irreversível. A reação acontece com gasto energético de uma molécula de ATP e é catalisada pela enzima hexoquinase; » Reação 2: acontece a isomerização da molécula de glicose-6-fosfato, assumin- do a forma de frutose-6-fosfato, sendo que a enzima que catalisa a reação é a fosfo-hexose-isomerase; » Reação 3: a frutose-6-fosfato é novamente fosforilada, agora no C-1 para formar a frutose-1,6-bifosfato, com o gasto de mais uma molécula de ATP. A reação é catalisada pela enzima hexoquinase; » Reação 4: a frutose-1,6-bifosfato é degradada em duas moléculas de três car- bonos, a di-hidrocetona-fosfato e o gliceraldeído-3-fosfato. A reação é catalisa- da pela enzima aldolase; » Reação 5: a di-hidrocetona-fosfato é isomerizada a uma segunda molécula de gliceraldeído-3-fosfato, a única triose que pode continuar sofrendo oxidação no ciclo de reações. A enzima que catalisa é a triose-fosfato-isomerase; • Etapa 2 (fase de pagamento): observe que, na etapa anterior, duas moléculas de ATP foram utilizadas antes da clivagem da glicose sem nenhuma produção de energia. Consequentemente, haverá nessa etapa o retorno para esse investi- mento. Essa é a fase de produção de energia na forma de ATP: » Reação 6: cada molécula do gliceraldeído é oxidada (pelo NAD) e fosforilada pelo fosfato inorgânico (nessa reação, a fosforilação não acontece pelo ATP) para formar o 1,3-bifosfoglicerato. A enzima que catalisa é a gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase; » Reação 7: duas moléculas de 1,3-bifosfoglicerato são convertidas 3-fosfoglice- rato pela 1,3-bifosfoglicerato cínase, com a produção de uma molécula de ATP; » Reação 8: o 3-fosfoglicerato é convertido em 2-fosfoglicerato com a mudança de posição do grupo fosfato que está associado à molécula. A enzima que catalisa é a fosfogliceromutase; » Reação 9: o 2-fosfoglicerato é convertido a fosfoenolpiruvato (composto instá- vel e altamente energético) mediante uma reação de desidratação; » Reação 10: o grupo presente no fosfoenolpiruvato é transferido para o ADP, liberando mais uma molécula de ATP e formando o piruvato. A reação é ca- talisada pela piruvato cínase; 13 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética O piruvato formado terá dois destinos: as células musculares, onde entrará em um processo de fermentação durante a prática de exercícios físicos intensos ao produzir ácido láctico, ou o piruvato seguirá para as reações de Ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico) e cadeia respiratória, com objetivo de formação do acetil CoA e produção de ATP. Fermentação alcoólica, respiração anaeróbica: https://youtu.be/U7LlyE8pxx0 Figura 6 – Reações da glicólise, as duas etapas e formação dos produtos finais Fonte: NELSON; COX, 2019 14 15 Figura 7 – A lógica química da via glicolítica Fonte: NELSON; COX, 2019 15 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética Ciclo de Krebs São reações subsequentes à reação de glicólise. O ciclo é formado por oito rea- ções de oxidação do acetil CoA e formação de energia. A reação de glicólise forma piruvato. O piruvato, então, será oxidado a acetil CoA, em uma reação de descarboxilação oxidativa catalisada pela piruvato-desidrogenase. Nessa reação, o grupo carboxila é removido do piruvato sob a forma de CO2 e os carbonos restantes são convertidos em acetil CoA. Essa é uma reação irreversível, que libera um átomo de hidrogênio capturado pelo aceptor NAD e formando NADH. O acetil CoA é um composto essencial para que o ciclo aconteça. Ele é originário do metabolismo dos lipídeos, proteínas e dos carboidratos (glicose), conforme acaba- mos de ver. O acetil CoA é o precursor do ciclo de Krebs, que tem como função a produção de ATP, CO2 e H2O. Figura 8 – Ciclo de Krebs Fonte: NELSON; COX, 2019 Ciclo de Krebs: https://youtu.be/mlDME8k92E0 16 17 Reações do ciclo de Krebs 1. Formação do citrato: essa é a primeira reação do ciclo, uma reação de condensação do acetil e do oxalacetato catalisada pela citrato-sintase e com formação do citrato. A enzima CoA é liberada do acetil sob a forma de CoASH; 2. Formação do isocitrato por intermédio do cis-aconitato: a enzima aconitase catalisa a reação de desidratação e a conversão reversível do citrato em isocitrato com formação intermediária do cis-aconitato; 3. Oxidação do cetoglutarato: a isocitrato-desidrogenase catalisa a descar- boxilação oxidativa do isocitrato e a formação do cetoglutarato. A reação libera um hidrogênio capturado pelo aceptor NAD e formando NADH; 4. Oxidação do cetoglutarato a succinil CoA: essa etapa é mais uma reação de descarboxilação, em que o cetoglutarato é oxidado a succinil CoA. A enzima que faz a catálise é a cetoglutarato-desidrogenase e mais um hidrogênio é liberado e capturado pelo NAD; 5. Conversão do succinil-CoA a succinato: a succinil-CoA sintetase ca- talisa a conversão reversível do succinil em succinato, um composto com maior potencial energético. Uma molécula de GTP é formada e, posteriormente, será convertida em ATP; 6. Oxidação do succinato a fumarato: O succinato é oxidado a fumara- to pela succinato-desidrogenase. Um átomo de hidrogênio é liberado e capturado por mais um aceptor, agora o FAD; 7. Hidratação do fumarato a malato: é uma reação de desidratação re- versível, que converterá fumarato em malato e é catalisada pela en zima fumarase; 8. Oxidação de malato a oxalacetato: essa é a última reação do ciclo em que a malato-desidrogenase catalisa a oxidação do malato a oxa- lacetato, associada à redução do NAD a NADH pela liberação de um átomo de hidrogênio. Balanço energético No ciclo de Krebs, para cada molécula de acetil oxidada temos a produção de três moléculas de NADH, uma molécula de FADH2 e uma molécula de GTP sob a forma de energia, como mostra a reação a seguir: 3 NAD+ +FAD + GDP + Pi + acetil CoA + 2 H2O → 3 NADH +H+ + FADH2 + GTP + CoA + 2CO2 Cadeia respiratória A cadeia respiratória é, essencialmente, um conjunto de reações que transporta elétrons por intermédio de quatro grandes grupos proteicos advindos dos íons hidretos (H+), que são removidos das reações de desidrogenações na degradação dos 17 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética carboidratos, os quais foram capturados pelos aceptores NAD e FAD. Esses íons doam elétrons para a cadeia respiratória, que os transfere para o oxigênio molecular presente na mitocôndria, reduzindo a H2O. O complexo I ou ubiquinona-oxirredutase (Q) é uma grande enzima composta por 42 cadeias peptídicas e tem a função de bombeador de prótons, usando a energia produzida no transporte de elétrons. • (1) A transferência deum H+ do NADH para a ubiquinona e de um próton da matriz: NADH + H+ + Q → NAD+ + QH2 (ubiquinol) • (2) a transferência endergônica de quatro prótons da matriz para o espaço in- termembrana. A reação global que ocorre nesse complexo pode ser representada por: NADH + 5H+ + Q → NAD+ + QH2 + 4H +O complexo II Também é uma enzima a succinato desidrogenase, que é ligada à membrana da mitocôndria. O complexo III (complexo ubiquinona, citocromo c-oxidorredutase) transfere os elé- trons da ubiquinol (QH2) para o citocromo c. O citocromo c é uma proteína composta por um grupo heme, que transporta os elétrons do complexo III para o IV. O com- plexo 4 (citocromo oxidase) é o aceptor final do processo, já que ele recebe os elé- trons, transfere-os ao oxigênio molecular e produz H2O. O fluxo de elétrons segue, então, o processo da seguinte maneira: o fluxo de elétrons via complexo é acompanhado também pelo fluxo de prótons da matriz para o espaço intermembranar. Os elétrons são encaminhados a Q, que os carreia pelos complexos I e II. A Q é reduzida a QH2, que carreará prótons e elétrons, entregando-os ao complexo III, que os levará ao citocromo c. Último complexo, o IV transfere os elétrons do citocromo c ao oxigênio molecular. Fosforilação oxidativa e a cadeia transportadora de elétrons: https://bit.ly/32orjua Figura 9 – Reações da fosforilação oxidativa Fonte: NELSON; COX, 2019 18 19 A formação de ATP acontece por intermédio da ATP sintase, que possui duas regiões, a F0, localizada dentro da membrana, e a F1, acima da membrana. O fluxo de elétrons entre os complexos I, II, III e IV gera um gradiente de prótons por meio da membrana, que faz com que a ATP sintase dê um giro quando os elétrons passam por ela, o que gera uma série de transformações que converterão o ADP em ATP. ATP sintase: https://youtu.be/kXpzp4RDGJI Figura 10 – ATP sintase em atividade Fonte: NELSON; COX, 2019 Cadeia transportadora de elétrons: https://youtu.be/rdF3mnyS1p0 Ciclo de Cori Glicogênese O glicogênio é uma das principais células de reserva do nosso organismo. Sua estrutura torna-se mais e mais complexa à medida que se desenvolve mediante a adi- ção de moléculas de glicose que vão compor a sua organização, como é mostrado na Figura 11. É também um dos principais polímeros de resíduos de glicose, de 8 a 12 resíduos, que se encaixam formando ramificações geralmente nas ligações α 1 – 4 ou 1 – 6 na estrutura do glicogênio. 19 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética Figura 11 – Estrutura do glicogênio formada pela adição de resíduos de glicose Fonte: Wikimedia Commons A produção de glicogênio acontece em quase todos os tecidos animais, mas é eminente no fígado e músculos esqueléticos. O precursor da síntese do glicogênio é a glicose-6-fosfato, e esta pode ser oriunda da glicose livre, vinda da dieta alimentar: D-glicose + ATP → D-glicose-6-fosfato + ADP. Para iniciar a síntese do glicogênio, a glicose-6-fosfato é convertida em glicose-1- -fosfato (fosfogliceromutase): Glicose-6-fosfato → glicose-1-fosfato O produto dessa reação é convertido em UDF-glicose-pirofosforilase: Glicose-1-fosfato + UDP → UDP-glicose +PPi A UDP-glicose é a concessora dos resíduos de glicose, que irão alongar a estrutura do glicogênio nas suas extremidades não redutoras mediante a glicogênio sintase. Figura 12 – Síntese do glicogênio Fonte: Adaptado de Fonte: NELSON; COX, 2019 20 21 Metabolismo do glicogênio: https://bit.ly/3aZYBUb Glicogenólise Assim como o glicogênio é sintetizado, os resíduos de glicose que o constituem também podem estar disponíveis nos momentos em que as taxas de glicose estão baixas (jejum), em uma reação chamada de glicogenólise. A reação é catalisada pela glicogênio-fosforilase, que promove a ruptura de uma ligação glicosídica entre dois resíduos de glicose mediante a adição de um fosfato inorgânico (Pi), deslocando o resíduo terminal sob a forma de α-D-glicose-1-fosfato. Posteriormente, a glicose-1- fosfato será convertida em glicose-6-fosfato pela enzima fosfogliceromutase e pode avançar pela via da glicólise. Figura 13 – Degradação do glicogênio Fonte: NELSON; COX, 2019 21 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética Gliconeogênese A glicose tem papel fundamental na produção de energia como combustível, além de manter o suprimento que alimenta diversos tecidos e órgãos. Apenas o encéfalo consome diariamente 120 g de glicose, metade do que pode ser estocado sob a for- ma de glicogênio no tecido muscular e no fígado em períodos de refeição (glicogêne- se). Como a demanda por glicose é alta, observa-se que todo o estoque armazenado sob a forma de glicogênio (que pode durar de 10 a 18 horas) não é suficiente para manter o suprimento de glicose nos períodos entre as refeições, no jejum prolongado ou durante o exercício físico intenso. Nos momentos de atividade física intensa, por exemplo, o glicogênio estocado pode chegar ao seu esgotamento (graças à alta de- manda por ATP). Portanto, os organismos necessitam de uma via que seja fabricante de glicose por intermédio de compostos anglicados (que não sejam carboidratos). Essa via chama-se gliconeogênese. Após exercícios físicos rigorosos, o lactato produzido pela reação de fermentação (citada anteriormente) em um sistema totalmente anaeróbico nos músculos esquelé- ticos é deslocado para o fígado via circulação sanguínea para, então, ser convertido em glicose (gliconeogênese). A glicose produzida na gliconeogênese retorna para os músculos e é convertida em glicogênio novamente (glicogênese), esse circuito reali- zado pelo lactato/glicose é chamado de Ciclo de Cori. A regulação de todas as vias de produção de energia é feita por dois hormônios essenciais: a insulina (períodos de refeição), que atua quando a taxa de glicose está elevada e a glicose é conduzida para o meio intracelular para sua metabolização; e o glucagon (períodos de jejum), que age quando as taxas de glicose estão baixas. As reações de glicólise e gliconeogênese são inversas e nunca acontecerão simultanea- mente, pois os processos englobam situações distintas, em momentos com escassez (gliconeogênese) ou com excesso de glicose (glicólise). As enzimas que atuam nas etapas da gliconeogênese participam também da glicólise, mas o sentido das vias é inverso. Três reações da glicólise são irreversíveis, assim sendo, para contornar esse problema, enzimas específicas terão papel relevante nessas etapas, que são definidas como desvios da gliconeogênese: • Desvio 1: as enzimas que participam do desvio são a piruvato-carboxilase e PEP-carboxilase, em uma reação que acontece na mitocôndria. A piruvato- -carboxilase catalisa a conversão do piruvato em oxalacetato com consumo de energia e CO2. A PEP, por sua vez, catalisa a conversão do oxalacetato a fosfo- enolpiruvato, com consumo de energia e liberação de uma molécula de CO2 em uma reação de descarboxilação; • Desvio 2: no citosol, a frutose 1.6-bifosfatase é convertida a frutose 6-fosfata- se, em uma reação de hidrólise e saída de uma molécula de fosfato inorgânico. Esse desvio é catalisado pela frutose-bifosfato-fosfatase, com gasto de energia. A frutose-6-fosfatase é isomerizada pela fosfoglicose-isomerase, formando a glicose-6-fosfato; 22 23 • Desvio 3: a glicose-6-fosfato, em mais uma reação de hidrólise, é catalisada pela glicose-6-fosfatase, perde mais um grupo fosfato pela saída do fósforo inor- gânico, formando a glicose como produto final. Figura 14 – Reações da gliconeogênese. Descrição dos 3 desvios, o grupo fosfato está em destaque nas três reações Fonte: Wikimedia Commons A glicólise e a gliconeogênese são reações contrárias? 23 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética Figura 15 – Degradação do glicogênio Fonte: NELSON; COX, 2019 Jejum intermitente: https://youtu.be/J2qv9yqCrSQ 24 25 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Princípiosde bioquímica de Lehninger NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. Capítulo 14 – Glicólise, Glicogênese e a via das Pentoses, p. 534 a 618. Princípios de bioquímica de Lehninger NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Capítulo 15. Princípios de bioquímica de Lehninger NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Capítulo 13. Vídeos Bioquímica: Digestão de Amido https://youtu.be/iaZEh5xAkRo Funcionamento da ATP sintase https://youtu.be/-URix6D_bww 25 UNIDADE Metabolismo Energético, Introdução à Bioenergética Referências AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia em contexto. 1. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2013. BAYNES, J. W.; DOMINICZAK, M. H. Bioquímica médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. BERG, J. M.; STRYER, L.; TYMOCZKO, J. L. Bioquímica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. _______. Instrução Normativa 68, de 12 de dezembro de 2006. Brasília: Mi- nistério da Agricultura, 2006. Disponível em: <https://wp.ufpel.edu.br/inspleite/ files/2016/03/Instru%C3%A7%C3%A3o-normativa-n%C2%B0-68-de-12-dezem- bro-de-2006.pdf>. Acesso em: 25/08/2020. _______. Ministério da Saúde. Secretaria da Vigilância sanitária. Resolução-RDC n. 360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento técnico sobre rotulagem nutri- cional de alimentos embalados. Disponível em: <http://e-legis.bvs.br/leisref/public/ showAct.php?id=9059>. Acesso em: 20/04/2005. CAMPBELL, M. K.; FARRELL, S. O. Bioquímica. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2006. KHAN ACADEMY. Fosforilação oxidativa. Disponível em: <https://pt.khanacademy. org/science/biology/cellular-respiration-and-fermentation/oxidative-phosphorylation/ a/oxidative-phosphorylation-etc>. Acesso em: 20/07/2020. MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. MURRAY, R. K. H. Bioquímica ilustrada. 27. ed. Rio de Janeiro: McgrawHill, 2007. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. 26