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UFRPE | NEPARQ – Projeto Pilar Jaime Guimarães Jr – História | Arqueologia RECIFE Século XVI ao XIX Fundada em 1537, Ribeira do Mar dos Arrecifes, como era chamado o Recife de hoje, é um dos logradouros mais antigos do Brasil. Em quase cinco séculos de história, coleciona monumentos, personagens e anedotas incontáveis. Um passeio mais atento pela cidade pode revelar aspectos que passam batido para a maioria dos 3,8 milhões que habitam a sétima região metropolitana mais populosa do país. P o rt o e B ar ra d e P er n am b u co . O ri gi n al d o a tl as d e Jo ão T ei xe ir a A lb er n az I - d a M ap o te ca d o It am ar at i, R io d e Ja n ei ro . ( ca . 1 63 0) ( 16 31 ) Perspectiva da Villa de Pernambuco (Recife) e Perspectiva de Olinda de Pernambuco. Original manuscrito que ilustra o códice “Relação das Praças Fortes do Brasil”, de Diogo de Campos Moreno, do Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa, Portugal 1609. Conquistando Olinda, depois Recife Em fevereiro de 1630, 56 navios holandeses com 3.780 tripulantes e 3.500 soldados comandados por Diederik van Waerdenburch chegaram à Olinda. Tomaram rapidamente a cidade, já que não havia muita resistência portuguesa disponível. Depois, rumaram para Recife e, após também conquistar a cidade, receberam o reforço de cerca de 6 mil homens enviados para auxiliar na defesa da área conquistada e expandir os domínios. Nesta capitania e nas vizinha permaneceram durante 24 anos. Em 1654, diante das sucessivas derrotas, em guerras com os nativos do lugar, terminaram por capitular. Nesse espaço de tempo histórico, (1630-1654), edificaram muitas moradias e outras construções. No meio das edificações de origem lusitana estavam outras com características vinculadas as construídas nos Países-Baixos. Das tantas edificações, referidas em um inventário da Fazenda Real Portuguesa, nada, praticamente restou. Desse período de presença da empresas no comando da capitania, no Recife, o maior legado ainda permanente é o desenho urbano de parte da antiga Ilha de Antônio Vaz, os atuais bairros de Santo Antônio e São José. Mapa de Andreas Drewisch 1631 Presença holandesa Sobre a influência holandesa, que apesar de Recife já ter sido colonizada por Portugal ela não era totalmente habitada, pois eles focavam em Olinda, entretanto, apesar de Olinda ser tão almejada para os holandeses ela não oferecia garantias suficientes para a defesa de invasores devido a dificuldade de fortificar as ladeiras, dessa forma, Recife e a Ilha de Antônio Vaz foram consideradas algo que oferecia a base da conquista, por serem benéficas nesse aspecto e sofreram invasão de 1630 a 1654. É do arquiteto Pieter Post o traçado da Mauritstad, ou “Cidade Maurícia”, que hoje engloba os bairros de Santo Antônio e São José, em Recife. Foram construídos pontes, canais, diques e edifícios, além do palácio de Freeburg, sede do governo de Nassau. Urbanização de Recife Em 1639, o engenheiro Pieter Post, reaiizou, por solicitação do governador João Maurício de Nassau, (1637-1644), uma proposta de intervenção para a Ilha de Antônio Vaz, destinada a aumentar o espaço habitado na direção do Forte das Cinco Pontas, além de um sistema de defesa, então ampliando um primeiro, de autoria do engenheiro Tobias Commerstein, O espaço resultante, no qual foi criado um sistema de drenagem com a inclusão de canais, constituiu a Cidade Maurícia daquele governador. 1. O Forte de São Jorge | 2. Forte de São Francisco da Barra | 3. As obras portuguesas iniciadas do Forte de Diogo Pais (que viria a se tornar o Forte do Brum) | 4. Forte de Madame Bruyne No início da urbanização holandesa o projeto de Drewisch de fortificação foi adotado, fazendo com que a península fosse murada, limitando dessa maneira a região portuária que possuía agora apenas duas portas, tal porto que fez a cidade do Recife crescer enquanto a ilha ainda continuava com o baixo fluxo de habitantes e construções. Neste outro mapa, elaborado poucos anos após o anterior , podemos notar as mesmas fortificações (mantivemos a mesma numeração), sendo que o Forte do Brum já se encontra bem mais evoluído. Também é desta época a construção de diversos fortes à beira do mar, como o Forte do Brum e o Forte Orange, visando a defesa das áreas ocupadas. RECIFE - 1 6 3 1 RECIFE - 1 6 3 7 RECIFE - 1 648 Evolução do Recife Também foram construídos o jardim botânico, o museu natural e o observatório astronômico, o primeiro da América. Outros arquitetos e engenheiros auxiliaram na urbanização de Recife, focando principalmente no saneamento básico. Nassau ainda mandou criar o serviço de recolhimento de lixo e um grupamento de bombeiros. Matias de Albuquerque, irmão do donatário Duarte de Albuquerque Coelho — o Conde de Pernambuco — organizou uma ofensiva contra os holandeses no ano seguinte, apoiado por uma esquadra de 23 navios espanhóis e portugueses. Seu maior mérito foi saber usar o apoio dos nativos e suas táticas de guerrilha para expulsar os holandeses de Olinda, que optaram por deixar a cidade e concentrar toda sua defesa em Recife. A respeito da influência portuguesa, Recife é a terceira capital brasileira em quantidade de exemplares do urbanismo ultramarino português. São 19 edificações nas arquiteturas religiosa, militar e habitacional. Entre elas estão as igrejas de Nossa Senhora do Carmo e Matriz da Boa Vista; os Fortes das Cincos Pontas e do Brum além das casas pertencentes à Igreja da Madre de Deus. Influência portuguesa RECIFE - 1739 RECIFE - 1840 RECIFE - 1932 Forte das Cinco Pontas Matriz da Boa Vista Igreja Nossa Senhora do Carmo Igreja Madre de deus Recife Rua Bom Jesus: Antes Rua Bom Jesus: Depois No Recife, os bairros de São José, Santo Antônio e Boa Vista ainda mantêm um traçado urbano, mesmo que modificado, que remete à época portuguesa. Já o Bairro do Recife, apesar de ter sido berço do surgimento da cidade, perdeu essa influência tanto nos prédios quanto na disposição dos quarteirões. Sobretudo a partir de 1910, com as demolições de imóveis e monumentos para a abertura das avenidas que cortam a ilha. Poucas ruas guardam o desenho antigo, como a do Bom Jesus. Configuração dos casarões, lotes e ruas seguem o traçado da cidade holandesa Do Recife colonial ocupado por portugueses, que imprimiram a marca lusitana na cultura e no patrimônio da capitania mais próspera do território brasileiro, Pernambuco, pouco restou. Depois da perda de boa parte do casario da época, os remanescentes mais significativos da arquitetura dos séculos 16 e 17 e 18 igrejas e fortes construídos ou aprimorados pelos colonizadores, ainda podem ser perdidos. Falta conservação e política mais efetiva de preservação dos bens de influência portuguesa, sob o risco de apagar de vez a assinatura lusa nas edificações pernambucanas Rua Bom Jesus: Período de renovação do bairro do Recife e dias atuais A arquitetura civil portuguesa foi a primeira a se esvair com o tempo. Do casario marcado pelo apuro no acabamento, restaram poucos exemplares. O imóvel onde hoje funciona a Academia Pernambucana de Letras (APL), no bairro das Graças, é uma referência desse legado. O prédio conserva traços originais, como os azulejos azul e branco que ostenta na fachada. “Eles foram colocados pelo Barão Rodrigues Mendes, quando construiu o solar, no século 19” A influência lusitana nos templos religiosos erguidos em Pernambuco fica clara na Capela Dourada, no bairro de Santo Antônio, onde vitral, templo, colunas e pinturas foram trazidas de Lisboa. “O barroco (presente na Capela Dourada) retrata a economia de uma época. Apesar de ele ter surgido na Europa, foram os portugueses que o trouxeram para cá, então é uma herança”,o professor e mestre em administração de patrimônio histórico artístico cultural barroco, Daciel Santos. Ao lado da Capela Dourada, o Convento de Santo Antônio também guarda um “tesouro” original da época colonial: paredes cobertas com azulejos portugueses trazidos de além-mar e que retratam passagens bíblicas do Antigo Testamento. “As ordens religiosas tinham uma ligação muito forte com Portugal. As técnicas de corte de pedra, de entalhe, eram muito portuguesas”, explica Cristiano Borba. Fachadas do Recife Referências MENEZES, José Luiz Mota. Atlas Histórico Cartográfico do Recife. Recife – PE, Ed. Fundaj – Massangana, 1988 __________. Ruas sobre as águas: as pontes do Recife. Recife – PE, Ed. Cepe, 2015. __________. Mobilidade urbana no Recife e seus arredores. Recife – PE, Ed. Cepe, 2015. __________. A ocupação do Recife numa perspectiva histórica. Série: História do Nordeste, Vol.1, N.14, pag. 147-162, 1993. PONTUAL, Virgínia. Tempos do Recife: representações culturais e configurações urbanas. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 21, nº42, p. 417-434. 2001 LOUREIRO, Claudia. AMORIM, Luiz. O mascate, o bispo, o juiz e os outros. Revista Brasileira - Estudos Urbanos e Regionais, N.03, outubro/2000. Associação nacional de pós-graduação e pesquisa em planejamento urbano e regional. REYNALDO, Amélia. As catedrais continuam brancas: planos e projetos do século XX para o centro do Recife. Recife-PE: Ed. Cepe, 2017.
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