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recursos de acessibilidade aplicados ao ensino superior re cu rs os d e ac es si bi li da de a pl ic ad os a o en si no s up er io r Lúcia Pereira Leite | Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins | Lucinéa Marcelino Villela O R G A N I Z A D O R A S 9 7 8 8 5 7 9 8 3 8 9 8 9 ISBN 978-85-7983-898-9 Um cenário acessível, no qual barrei- ras arquitetônicas, sociais, atitudinais e comunicacionais sejam abolidas, é condição necessária para a igualdade social e para que o direito à plena ci- dadania possa ser exercido por todos, independentemente de gênero, raça, credo, condição física, sensorial e in- telectual, competências e afetos. No contexto contemporâneo, de tomada de consciência e crescente sensibiliza- ção quanto à diversidade que marca a existência dos sujeitos, a não garantia de acesso a todos os espaços de vivên- cia e atuação humanas contribui para o recrudescimento da discriminação e do preconceito contra determinados grupos, comprometendo o seu desen- volvimento e sua plena inclusão. A obra provê o leitor das informações necessárias tanto para a compreen- são da acessibilidade na área sobre a qual se debruça, com a descrição detalhada de parâmetros, normas e estratégias, quanto para a produção futura dos mesmos recursos, contri- buindo para a sua multiplicação. Mais que isso, são iniciativas que podem (e devem) ser ampliadas para todos os níveis educacionais, dado seu caráter diversificado e universal, ainda que se destinem pontualmente ao estu- dante com deficiência no ambiente universitário. É importante e necessário repensar a forma como os conteúdos são produ- zidos e disponibilizados para as pesso- as com deficiência. Nesse sentido, as ajudas técnicas, os recursos de apoio e todas as ações que se preocupam com a inclusão são fundamentais como es- tratégia para ampliar e consolidar o protagonismo e o empoderamento desse coletivo. Este é um ideal com que o presente livro comunga e para o qual contribui de maneira efetiva. Suely Maciel Todos os autores partilham o desejo de uma universidade inclu- siva e propõem recursos que garantem o acesso dos alunos com deficiência a materiais pedagógicos. Para tanto, realizam pesquisas aplicadas e iniciativas nos campos da Comunicação, da Tradução Audiovisual, da Educação e dos Direitos Humanos. Ainda com foco no ensino superior, o livro traz análises da acessibilidade em portais eletrônicos de universidades brasileiras, ampliando, dessa forma, a discussão sobre o tema no segmento. O resultado são produtos diversificados, como audiodescrição de vídeos e imagens, arquivos de áudio com a narração de documentos científico-acadêmicos, Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE), Língua Brasileira de Sinais (janela de Libras), entre outros. Os trabalhos sustentam- se em consistentes balizas teóricas em tradução intersemiótica, linguagem das mídias sonoras, produção cinematográfica, Direito, conformação dos meios digitais e análise de processos pedagógi- cos. A eliminação das barreiras e a garantia da acessibilidade é o desafio que inspira a realização desta obra. Suely Maciel recursos de acessibilidade aplicados ao ensino superior recursos de acessibilidade aplicados ao ensino superior recursos de acessibilidade aplicados ao ensino superior Lúcia Pereira Leite Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins Lucinéa Marcelino Villela O R G A N I Z A D O R A S 2ª edição revisada e ampliada 2017 São Paulo, SP Cultura Acadêmica / Editora Unesp Praça da Sé, 108 CEP 01001-900 – São Paulo - SP www.culturaacademica.com.br CONSELHO EDITORIAL Alexandra Ayach Anache Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS/Campo Grande-MS Cristina Broglia Feitosa Lacerda Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/São Carlos-SP Eliana Lucia Ferreira Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF/Juiz de Fora-MG José Luís Bizelli Universidade Estadual Paulista – FCL/Unesp-Araraquara-SP Julio Enrique Putallaz Universidad Nacional del Nordeste – UNNE - Corrientes - Argentina Rosimar Bortolini Poker Universidade Estadual Paulista – FFC/Unesp-Marília-SP Silmara Sartoreto de Oliveira Universidade Estadual de Londrina – UEL/Londrina-PR Copyright© Cultura Acadêmica, 2017 Recursos de acessibilidade aplicados ao ensino superior / Lúcia Pereira Leite, Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins e Lucinéa Marcelino Villela (org.). 2 ed. - - São Paulo: Cultura Acadêmica, SP: , 2017. 165 p. ; 23 cm. ISBN 978-85-7983-898-9 1. Recursos acessíveis. 2. Acessibilidade. 3. Ensino superior. I. Villela, Lucinéa Marcelino. II. Martins, Sandra Eli Sartoreto de Oliveira. III. Leite, Lúcia Pereira. IV. Título. CDD: 371.9 R248 5SUMÁRIO SUMÁRIO APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Lucinéa Marcelino Villela CAPÍTULO 1 A AUDIODESCRIÇÃO APLICADA À TRADUÇÃO DE VIDEOAULAS UTILIZADAS NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Klístenes Bastos Braga Vera Lúcia Santiago Araújo CAPÍTULO 2 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25 Lucinéa Marcelino Villela Ana Beatriz Taube Stamato CAPÍTULO 3 ACESSIBILIDADE NOS PORTAIS ELETRÔNICOS DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS E FEDERAIS DO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Gabrielle Sasse Pryor de Sousa Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins Lúcia Pereira Leite CAPÍTULO 4 MÍDIA SONORA COMO RECURSO DE ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Suely Maciel Amanda Fonseca e Silva CAPÍTULO 5 DIREITO À INFORMAÇÃO PARA O ACESSO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73 Carlo José Napolitano Lucilene dos Santos Gonzáles Verônica Sales Pereira 6 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR CAPÍTULO 6 APOYO DE LAS INSTITUCIONES DE EDUCACIÓN SUPERIOR EN LA FORMACIÓN DE PERSONAS CON DISCAPACIDAD: EL CASO DEL SISTEMA EDUCACIONAL SANTO TOMÁS VIÑA DEL MAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85 Vivian Elizabeth Neumann Collyer Sandra Loreto Catalan Henriquez CAPÍTULO 7 ACESSIBILIDADE COM LIBRAS EM TRANSMISSÕES DE EVENTOS CIENTÍFICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99 Willians Cerozzi Balan Henrique da Silva Pereira Vinícius Laureto de Oliveira CAPÍTULO 8 TRADUÇÃO EM VIDEOLIBRAS: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A INCLUSÃO DE ESTUDANTES SURDOS DO ENSINO SUPERIOR . . . . . . . . . . . . . . . 113 Sueli Fernandes Jonatas Rodrigues Medeiros Rhaul de Lemos Santos CAPÍTULO 9 EDUCAÇÃO SUPERIOR E RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA VISÃO DE PROFESSORES E ESTUDANTES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .133 Ana Paula Santana Aline Olin Goulart Darde Karoline Pimentel Lais Oliva Donida Sandra Pottmeier CAPÍTULO 10 RELATO DE BÁRBARA GARCIA PEDROSO ESTUDANTE DE JORNALISMO DA PUCCAMPINAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .157 Bárbara Garcia Pedroso SOBRE OS AUTORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161 7APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Lucinéa Marcelino Villela1 Acredito que a nossa tomada de posição e a presença ativa no am- biente acadêmico, reivindicandoa presença de discussões a res- peito do tema, apontando as mudanças que precisam ser feitas e principalmente exigindo representatividade faz com que as desi- gualdades, os preconceitos e as distâncias sociais se tornem meno- res a cada dia. Bárbara Garcia Pedroso - Jornalista Inicio a apresentação desta obra com um trecho do relato de Bárbara Garcia, cujo depoimento é apresentado no último capítulo desta edição. Bárbara, recém-formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Ca- tólica (PUC) de Campinas, possui uma deficiência motora, decorrente de um tipo leve de paralisia cerebral chamada diplegia espástica. Após quatro anos como aluna da PUC, descreve com muita precisão alguns desafios enfrentados no dia-a-dia do ambiente acadêmico: desconfortos na sua lo- comoção, lentidão no processo de conserto de elevadores (imprescindíveis para seu deslocamento dentro da universidade) e descaso de funcionários e colegas que não a ajudavam em suas necessidades. Sua presença na universidade e principalmente sua resistência em per- manecer durante quatro anos nesse ambiente retratam o principal objetivo de nosso livro Recursos de acessibilidade aplicados ao ensino superior: com- partilhar resultados de pesquisas e projetos que buscam tornar possível a inclusão e permanência da pessoa com deficiência no Ensino Superior. 1 Lucinéa Marcelino Villela - Doutora em Comunicação e Semiótica. Docente do Departa- mento de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) – UNESP- Bauru. Pesquisadora do projeto “Acessibilidade no Ensino Superior”, Observatório em Educação/CAPES. E-mail lucinea@rocketmail.com. 8 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR A convite das pesquisadoras Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins e Lúcia Pereira Leite, compartilhei com ambas a organização de um livro que acima de tudo é formado por pesquisadores e bolsistas que idealizam uma universidade sem barreiras, sejam arquitetônicas, comunicacionais, sociais ou atitudinais. Nossas investigações fazem parte da Pesquisa em Rede “Acessibilidade no Ensino Superior”, veiculada ao Programa Observatório da Educação – OBEDUC, financiado e apoiado pela CAPES, (proc. 23038.002628/2013- 41, disponível em http://www.acessibilidadeinclusao.com.br/ ). Atualmente, no contexto acadêmico nacional, convivemos com estudantes que possuem deficiências físicas, visuais, auditivas ou intelectuais. As universi- dades procuram cumprir as exigências de adaptações em suas instalações e re- cebem os estudantes dentro das políticas estabelecidas de inclusão pedagógica. Contudo, há ainda um desequilíbrio gigantesco entre o tratamento adequado que o estudante recebe e os materiais pedagógicos que devem ser acessíveis para as pessoas com deficiência. Consideramos e defendemos a premissa de que a elaboração de mate- riais acadêmicos e pedagógicos acessíveis deva ser realizada por profissionais capacitados na área específica. Dentre uma gama variada de produtos acessí- veis focados na inclusão do aluno com deficiência, destacamos: gravação de audiolivros, audiodescrição de vídeos, fotografias e imagens, legendas para surdos e ensurdecidos, elaboração de sítios acessíveis e Libras, por exemplo. Nosso livro contou com a colaboração de dezoito autores, onze deles pesquisadores e bolsistas do Projeto em Rede Observatório em Educação (OBEDUC). Foram feitos dois convites especiais para a composição de nos- sa obra, o primeiro para a Professora Vera Lúcia Santiago Araújo (UECE), pioneira no Brasil em pesquisas na área de legendagem para surdos e en- surdecidos e, posteriormente, em audiodescrição. A segunda convidada, já mencionada, foi Bárbara Garcia Pedroso. Com essas duas participações, iniciamos e encerramos nossa empreitada. O título do primeiro capítulo do livro é A audiodescrição aplicada à tra- dução de videoaulas utilizadas na educação a distância do ensino superior. A docente Vera Lúcia Santiago Araújo, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), e seu orientando de doutorado Klístenes Bastos Braga relatam a experiência de produzir videoaulas acessíveis por meio da audiodescrição (AD), utilizadas na modalidade de educação a distância do ensino superior. 9APRESENTAÇÃO As videoaulas foram aplicadas na disciplina de tradução intersemiótica do Curso de Letras da mesma universidade. Os autores apresentam todas as etapas que envolvem a elaboração das videoaulas com o recurso de AD, desde a análise de textos especializados na área até a edição final do produto acessível. Destacamos que as video- aulas tinham como objetivo adequar-se tanto aos alunos com deficiência visual, quanto aos alunos sem deficiência. O segundo capítulo, elaborado por esta pesquisadora e sua bolsista de Iniciação Científica Ana Beatriz Taube Stamato (Projeto OBEDUC), rela- ciona-se a recursos acessíveis advindos da área de Tradução Audiovisual. Com o título de Audiodescrição e Legendagem para surdos e ensurdecidos no contexto do Ensino Superior: aplicação de recursos de acessibilidade na pro- dução de vídeos institucionais e conceituais, sua ênfase foi dada aos produ- tos acessíveis já realizados para o OBEDUC (Observatório em Educação): vídeos institucionais e conceituais. Nesses produtos foram inseridos os re- cursos de audiodescrição e legendas para surdos e ensurdecidos, seguindo os conceitos de autores da área de Tradução Audiovisual e de produção cinematográfica acessível. As pesquisadoras Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins e Lúcia Pe- reira Leite, coordenadoras do Projeto em Rede Observatório em Educa- ção, em parceria com Gabrielle Sasse Pryor de Sousa, bolsista de iniciação científica, elaboraram o capítulo Acessibilidade nos Portais Eletrônicos das Universidades Estaduais e Federais do Brasil. No estudo apresentado, as au- toras fizeram uma análise minuciosa das condições de acessibilidade das informações contidas nos portais eletrônicos das Universidades Estaduais e Federais brasileiras para pessoas com deficiência. Por meio do Avaliador e Simulador de Acessibilidade de sítios (ASES) – uma ferramenta que per- mite avaliar, simular e corrigir a acessibilidade de páginas, sítios e portais – foram avaliados 97 portais eletrônicos de universidades brasileiras. Dentre os resultados apresentados, evidenciaram que raras são as universidades que cumprem o princípio fundamental da oferta de acessibilidade digital, como veículo de acesso a informação sobre o conteúdo produzido pelas Instituições de Ensino Superior, em seus respectivos portais eletrônicos. A pesquisadora e docente Suely Maciel e a bolsista Amanda Fonseca e Silva (bolsista de IC-OBEDUC) discutem, no capítulo Mídia sonora e aces- sibilidade à educação e à comunicação na deficiência visual, o emprego das mídias sonoras como importante recurso de acessibilidade à educação e à 10 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR comunicação para as pessoas com deficiência visual, especialmente a se- vera (baixa visão e visão subnormal) e a cegueira. As autoras debatem a compreensão sobre a integração dos códigos verbal, sonoro e musical na constituição das mensagens sonoras, assim como os processos e técnicas de adaptação, roteirização, locução, sonoplastia e edição, todos esses conheci- mentos essenciais na produção em áudio. Ainda com intuito de apresentar resultados de pesquisas sobre aces- sibilidade, os pesquisadores Carlo José Napolitano, Lucilene dos San- tos Gonzáles e Verônica Sales Pereira apresentam, no capítulo Direito à informação para o acesso de pessoas com deficiência no ensino superior, um relato de experiência do projeto de extensão universitária “Minuto Ci- dadania”, cujo objetivo central é difundir e socializar informações e o co- nhecimento relacionados ao direito, em especial, aos direitos humanos, via propagandas sociais, no formato de programetes, veiculados diariamente pela Rádio Unesp FM de Bauru. O programa foca em produtos radiofôni- cos veiculados em canais públicosde comunicação, incentivando o debate crítico e a reflexão sobre a inclusão educacional das pessoas com deficiên- cia no ensino superior. Com o objetivo de apresentar resultados de um projeto de inclusão pe- dagógica implantado no sistema Educacional Santo Tomás, na cidade de Viña del Mar (Chile), as pesquisadoras Vivian Elizabeth Neumann Collyer e Sandra Loreto Catalan Henriquez apresentam, no capítulo Apoyo de las instituciones de educación superior en la formación de personas con disca- pacidad: el caso del Sistema Educacional Santo Tomás Viña del Mar, um estudo de caso bem-sucedido entre os anos 2009 a 2014. Durante o período analisado, fizeram parte do projeto diversos profissionais, tais como intér- pretes de línguas de sinais, educadores, terapeutas ocupacionais, além de uma equipe de apoio na área de tecnologia. Os 14 alunos com deficiência visual, auditiva e autismo conseguiram paulatinamente melhor desempe- nho em seus estudos conforme os apoios pedagógicos, psicológicos e tec- nológicos eram mais desenvolvidos no ambiente acadêmico. O pesquisar Willians Cerozzi Balan e os bolsistas Henrique da Silva Pereira e Vinícius Laureto de Oliveira apresentam, no último capítulo so- bre pesquisas do projeto “Acessibilidade no Ensino Superior- OBEDUC”, as técnicas que envolveram a inserção da janela de LIBRAS e a trilha de audiodescrição do II ENCONTRO ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR, realizado na UNESP-Bauru em novembro de 2014. 11APRESENTAÇÃO Tais recursos foram inseridos na transmissão ao vivo pela FAAC Web- Tv, projeto de extensão que na época era coordenado pelo docente Willians Cerozzi Balan. A transmissão feita ao vivo com a janela de LIBRAS, e pos- teriormente editada com audiodescrição, foi um projeto inédito na FAAC e no referido capítulo são apresentadas cada etapa do processo, bem como alguns comentários postados no sítio da FAAC WebTv. Atendendo a um convite especial das organizadoras do livro, a recém- -formada em Jornalismo Bárbara Garcia Pedroso encerra nosso livro com seu relato sobre as experiências vividas em seus quatro anos como aluna da PUC de Campinas. Sua voz como pessoa com deficiência é determinante para uma obra que tem como foco atender às necessidades acadêmicas de discentes no ambiente universitário. 13A AUDIODESCRIÇÃO APLICADA À TRADUÇÃO DE VIDEOAULAS UTILIZADAS NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR C A P Í T U L O 1 A AUDIODESCRIÇÃO APLICADA À TRADUÇÃO DE VIDEOAULAS UTILIZADAS NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR2 Klístenes Bastos Braga3 Vera Lúcia Santiago Araújo4 O Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Vi- ver sem Limite, instituído pelo Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de 2011, da Presidência da República Federativa do Brasil, cuja finalidade é “promover o exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com de- ficiência”, possui dentre suas diretrizes a garantia de um sistema educacio- nal inclusivo e a promoção do acesso, do desenvolvimento e da inovação, conforme prevê o Artigo 3º do Decreto supracitado. Já o Artigo 4º, deste mesmo Decreto, prevê “o acesso das pessoas com deficiência à educação” como um dos quatro eixos de atuação. Em 2008, o Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pesso- as com Deficiência, adotada pela ONU, que obteve equivalência de emen- da constitucional, valorizando a atuação conjunta entre sociedade civil e governo e gerando maior respeito aos Direitos Humanos, em um esforço democrático e possível, cujo propósito “é promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades 2 Os resultados desta pesquisa estão articulados com o desenvolvimento do Projeto em Rede “Acessibilidade no Ensino Superior”, financiado pelo Programa Observatório da Edu- cação (Obeduc), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – Edital Público nº. 49/2012. 3 Doutorando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Mestre em Linguística Aplicada pelo Programa de Pós-Gradua- ção em Linguística Aplicada da UECE. E-mail: kbbraga@hotmail.com. 4 Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo. Professora adjunta da Universidade Esta- dual do Ceará (UECE) e pesquisadora nível 2 do CNPq. E-mail: verainnerlight@uol.com.br. 14 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente”. Segundo a Convenção, Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condi- ções com as demais pessoas. Em seu Artigo 3, a Convenção apresenta dentre seus princípios gerais, “a igualdade de oportunidades” das pessoas com deficiência com as demais pessoas. Já o Artigo 9, que trata da Acessibilidade, prevê que os Estados Partes também tomarão medidas apropriadas para “promover o acesso de pessoas com deficiência a novos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, inclusive à internet”. E o Artigo 24 assegura que: c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individu- ais sejam providenciadas; d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação; e) Medidas de apoio indivi- dualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que maximi- zem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena. A fim de contribuir para o exercício desse direito, os Estados Partes tomarão ainda medidas apropriadas para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os níveis de ensino “para a utilização de modos, meios e formatos apropriados de comunicação aumentativa e alternativa, e técnicas e materiais pedagógicos, como apoios para pessoas com deficiência”. Além disso, “os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência pos- sam ter acesso ao ensino superior em geral, com a provisão de adaptações razoáveis para pessoas com deficiência”. Nesse contexto, iniciamos uma pesquisa no Programa de Pós-Gradua- ção em Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em 2014, a fim de investigar a formação docente em audiodescrição para a produção de videoaulas acessíveis aos estudantes com deficiência visual do ensino superior, na modalidade de educação a distância (EAD). 15A AUDIODESCRIÇÃO APLICADA À TRADUÇÃO DE VIDEOAULAS UTILIZADAS NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR Sobre a audiodescrição, doravante AD, Araújo & Aderaldo (2013a) ex- plicam como sendo: ...uma modalidade de tradução audiovisual utilizada para tornar uma produção audiovisual (o teatro, o cinema, a televisão, a obra de arte, o evento esportivo, etc.) acessível para pessoas com defici- ência visual por meio da tradução intersemiótica ou transmutação de imagens em palavras (ARAÚJO & ADERALDO, 2013, p. 7). De acordo com Jakobson (1995), há três tipos de tradução: a intralin- guística ou reformulação (que se dá entre signos verbais da mesma língua), a interlinguística ou tradução propriamente dita (que se dá entre signos verbais de línguas diferentes) e a intersemiótica ou transmutação (que se dá entre signos verbais e signos não verbais, ou seja, entre meios semióticos diferentes). Portanto, como estamos tratando de tradução de imagens em palavras, a AD é considerada uma tradução intersemiótica, considerando a amplitude que Plaza (1987) dá ao conceito de Jakobson: do visual para o verbal, assim como do verbal para o visual. Assim, como atividade preliminar de investigação sobre o processo de produção de videoaulas, a fim de compreender cada uma das suas etapas e, consequentemente, poder propor a AD para essa importante ferramenta pedagógica utilizada na EAD, realizamosa experiência de produzir video- aulas acessíveis por meio da audiodescrição (AD), vivenciada durante a disciplina de tradução intersemiótica do Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará, no ano de 2014. Segundo Pimentel (2006 apud FELDER, 1996), as pessoas aprendem de diferentes maneiras: “vendo, ouvindo, interagindo, fazendo, refletindo, de forma lógica, intuitiva, memorizando, por analogias, criando modelos e imagens mentais”. Ainda segundo o autor, as diferentes maneiras de se aprender estão relacionadas aos diferentes recursos ofertados, na maioria, visuais, como é o caso de “imagens, ilustrações, fotos, desenhos, animações, cores, gráficos, vídeos, mapas”, utilizados não somente para ilustrar, mas para chamar a atenção e tornar a apresentação mais atraente, como é o caso das videoaulas. De acordo com Arroio e Giordan (2006) a videoaula é uma “modalida- de de exposição de conteúdos de forma sistematizada”, que “almeja trans- mitir informações que precisam ser ouvidas ou visualizadas e que encon- tram no audiovisual o melhor meio de veiculação”. E são as informações 16 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR visuais que deverão ser traduzidas em palavras de forma sistematizada, a fim de que os alunos com deficiência visual possam ter acesso. Dessa forma, a metodologia desenvolvida empiricamente compreendeu três fases: pré-produção, produção e pós-produção. A pré-produção consis- te na preparação, planejamento e projeto do vídeo a ser produzido. Esta fase abrange todas as demais atividades que serão realizadas, desde a concepção da ideia inicial até a filmagem e finalização do arquivo de vídeo. Já na fase de produção, são feitas as filmagens das cenas que compõem o vídeo. Esta fase é composta pela gravação da videoaula com o acompanhamento da equipe que auxilia o professor na utilização dos recursos disponíveis no estúdio. Por fim, na fase de pós-produção é executada a edição e a posteriori a validação, que tem o objetivo de controle de qualidade, observando a coerência do conteúdo e a adequação de linguagem. Também ocorre a criação de grafismos com a inser- ção de imagens, gerador de caracteres, músicas e animações. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS TEXTOS ESPECIALIZADOS Após as aulas expositivas acerca da tradução intersemiótica, da educa- ção a distância, da produção de videoaulas e da audiodescrição, os alunos se dividiram em oito equipes e cada uma recebeu textos para serem apre- sentados no formato de seminário, sendo quatro sobre EaD e a produção de videoaulas, e quatro sobe a AD, todos oriundos de artigos científicos e/ ou de capítulos de livros sobre os respectivos temas. Além das apresentações orais durante o seminário, em que os alunos puderam exercitar suas habilidades de comunicação e expressão, solicita- mos ainda que produzissem de forma individualizada resenhas sobre os textos lidos, a fim de avaliarmos sua capacidade de dialogar com o autor. Com essas estratégias, além de estimular o trabalho em equipe e desenvol- ver a integração entre os alunos, possibilitamos que todos se aprofundas- sem nos temas e desenvolvessem um senso crítico mais particularizado, despertando para a importância da acessibilidade aplicada à educação. Na etapa seguinte, iniciamos a orientação para a elaboração dos rotei- ros das videoaulas. 17A AUDIODESCRIÇÃO APLICADA À TRADUÇÃO DE VIDEOAULAS UTILIZADAS NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR PRODUÇÃO DAS VIDEOAULAS As filmagens das videoaulas aconteceram na própria sala de aula, uti- lizando o mobiliário disponível em sala, objetos cênicos providenciados pelos próprios alunos e uma câmera de vídeo semi-profissional do Labora- tório de Tradução Audiovisual (LATAV). Como o LATAV estava passando por uma reforma durante o período da disciplina, não pudemos realizar as filmagens no próprio laboratório. Os alunos dividiram as tarefas entre si e realizaram as filmagens de acordo com o roteiro proposto na própria sala de aula. Durante o proces- so de filmagem, foram necessárias algumas modificações no plano inicial, devido a falta de experiência e de conhecimento da linguagem audiovisual. Contudo, ao final todos conseguiram produzir seu material para seu traba- lho na etapa seguinte, que compreende a edição de áudio e vídeo. ELABORAÇÃO DOS ROTEIROS DAS VIDEOAULAS A elaboração dos roteiros das videoaulas compreendeu a delimitação dos tópicos a serem abordados nas aulas, do tempo dedicado ao texto ver- bal oral, ou seja, a fala do professor, e ao texto visual verbal e não-verbal, que dizem respeito às informações presentes nas imagens, tais como carac- terísticas físicas do professor, seu vestuário, a ambientação da aula, legen- das, créditos, etc. Nesta etapa, foi planejada ainda a divisão dos blocos de gravação e a revisão do roteiro e realizado o ensaio para a gravação. Em seguida, partiríamos para a etapa de filmagem, de acordo com o que fora definido no roteiro: quem iria operar a câmera, quem iria dirigir, quem seria o professor e qual roupa deveria usar, qual a locação para a fil- magem, que objetos iriam compor o cenário, qual o tipo de enquadramento e a sequência de planos. Contudo, percebemos que seria necessário orientar o integrante da equipe que assumiria o papel de professor da videoaula a fim de garan- tir que o roteiro planejado fosse seguido durante a execução da filmagem. Desta forma, o professor escolhido em cada equipe foi orientado a se apre- sentar, apresentar a disciplina e/ou o curso e, por fim, a instituição de ensi- no, no início da videoaula. O mesmo recebeu ainda a orientação para falar de forma clara, objetiva e inteligível, mantendo o mesmo ritmo do início ao 18 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR fim e observando as pausas planejadas no roteiro, que seriam dedicadas à inserção da AD mais adiante. Feito isso, seguimos então para as filmagens. Elaboração e revisão dos roteiros de audiodescrição Para a elaboração dos roteiros de AD das videoaulas finalizadas, utili- zou-se o programa Subtitle Workshop, software livre que possibilita a cons- trução das descrições de forma simultânea à marcação do tempo de cada uma delas no filme. Segundo Braga, apesar de ser um programa de legendagem, seu uso nos permite marcar o início e o fim de cada inserção enquanto vemos o filme, que pode ser acessado no software. Um arquivo com as marcações de início e fim de cada inserção, gerado no SW, permite-nos elabo- rar o roteiro para ser gravado. Estes dados são transferidos para o processador de textos Word (BRAGA, 2013, p. 11). Após a elaboração dos roteiros de AD, os integrantes das equipes que foram escolhidos para a locução da audiodescrição realizaram o trabalho de captação de áudio na própria sala de aula. Após a gravação do áudio, os alunos fizeram uma revisão para conferir se o áudio estava inteligível e adequado para os alunos com e sem deficiência. Gravação e edição do áudio da locução das ADs Nesta etapa, cada equipe elegeu seu locutor. A finalização do processo se deu com a captação do áudio da locução por meio de um microfone e de um software específico chamado Adobe Soundbooth, no qual também foi feita a edição do referido arquivo de áudio. Em seguida, este arquivo foi editado e mixado à videoaula por meio do software Adobe Premiere. Esta experiência contribuiu para o desenvolvimento da pesquisa acerca de uma metodologia para a formação em AD de professores no contexto da educação a distância, favorecendo a acessibilidade de alunos com defi- ciência visual a videoaulas do ensino superior nas universidades brasileiras que preparam e disponibilizam materiais instrucionais audiovisuais, uma vez que as novas tecnologias criam novas chances de reformular as relações 19A AUDIODESCRIÇÃO APLICADA À TRADUÇÃO DE VIDEOAULAS UTILIZADAS NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR entre estudantes e professores. Neste contexto, é fundamental colocar o co- nhecimento à disposição de um númerocada vez maior de pessoas, dis- pondo de ambientes de aprendizagem em que as novas tecnologias sejam ferramentas capazes de colaborar e facilitar a aprendizagem de forma am- pla, permanente, irrestrita e autônoma. Embora as pesquisas em AD estejam avançando e seja possível encon- trar várias abordagens para essa modalidade de tradução audiovisual, não se verifica ainda a existência de trabalhos voltados para a formação docente em audiodescrição que atuem na produção de videoaulas inserida na mo- dalidade de educação a distância. Este ineditismo possui grande potencial para a área da educação e cada uma dessas experiências tem sua relevância para o fortalecimento de uma metodologia aplicada à formação de profes- sores em AD. Verificamos alguns pontos que tanto poderiam contribuir com a for- mação de audiodescritores para esse tipo de material, como para a produ- ção das próprias videoaulas, como por exemplo, planejar o vídeo de forma a serem dadas informações que poderiam ajudar o espectador com defici- ência visual, reduzindo a necessidade de intervenções de AD; planejar a al- ternância entre a imagem do professor e a exibição dos slides, de forma que o corte aconteça nos momentos mais apropriados, como por exemplo, ao final de uma oração ou conclusão de um pensamento; evitar a alternância de quadros no meio de uma oração da retórica do professor, ou antes que o mesmo conclua seu raciocínio; orientar o professor, a fim de que o mesmo possa pontuar melhor sua fala a fim de favorecer um melhor planejamento da alternância de quadros, através de pausas rápidas, por exemplo; e ob- servar que a explanação do professor precisa estar alinhada ao conteúdo de cada slide, mesmo que o professor use outras palavras em sua retórica, estas palavras devem preservar a mensagem contida no slide, sob pena de prejudicar a audiência com deficiência visual, que não tem a possibilidade de perceber alguma incongruência que, porventura, venha a ocorrer; por fim, incluir o apoio de consultores com deficiência visual. Assim, com base nessa experiência, apresentamos a seguir na figura 1, um quadro contendo de forma resumida uma proposta para estratégias a serem adotadas para tornar videoaulas acessíveis por meio da formação do- cente em audiodescrição na modalidade de EaD. O quadro está dividido em quatro partes, as quais estão dispostas na ordem sequencial a ser seguida: 1) Pré-produção, 2) Orientações ao professor, 3) Produção e 4) Pós-produção. 20 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO DE VIDEOAULAS ACESSÍVEIS ENVOLVENDO A AUDIODESCRIÇÃO 1) Pré-produção Roteirização: definição dos tópicos que serão abordados na aula, do tempo dedicado ao texto oral e ao texto visual (descrição de slides) de cada tópico e a divisão em blocos de gravação. Considerar o tempo para leitura de tex- tos verbais contidos nos slides. Elaboração das descrições das imagens. Revisão: realizar a revisão, cronometrando o tempo para ajustar o roteiro quando necessário. Revisão de um consultor com deficiência visual 2) Orientações ao professor Apresentar-se e apresentar o curso e a instituição no início de cada videoaula. Apresentar um resumo da aula e informar a quantidade de slides. Anunciar sempre o número do slide antes de o mesmo ser exibido. Ler o texto verbal que, porventura, o slide contenha. Falar de forma clara, objetiva e inteligível, mantendo o mesmo ritmo do início ao fim e observando as pausas planejadas no roteiro, dedicadas à inserção da AD. 3) Produção Definição do layout no estúdio: posição do professor (à esquerda, centro ou à direita), do cenário, dos móveis (display, monitor, logotipo da instituição, se houverem) e cores que favoreçam a visualização de pessoas com baixa visão. Disposição dos elementos na tela: posição das legendas (parte superior ou inferior, à esquerda, centro ou à direita). Estilo (pop-up, roll-up, etc.) e cores e formatos que favoreçam a visualização de pessoas com baixa visão. Gravação da aula em blocos. Gravação da audiodescrição de cada bloco. 4) Pós-produção Revisão dos blocos de gravação e da AD. Finalização da videoaula com AD. Figura 1 – Estratégias de produção de videoaulas acessíveis envolvendo a audiodescrição 21A AUDIODESCRIÇÃO APLICADA À TRADUÇÃO DE VIDEOAULAS UTILIZADAS NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR Normalmente, na EaD, os alunos com deficiência visual se deparam com dificuldades semelhantes as que foram apresentadas no parágrafo an- terior, bem como os próprios professores, que têm enfrentado o desafio de tornarem acessíveis seus materiais didáticos e projetos envolvendo a EaD, uma vez que estamos diante de um crescimento iminente de alunos com deficiência nas escolas e universidades. Muito provavelmente, pela falta de formação e de informação sobre os diversos recursos de tecnologia assisti- va, a maioria dos professores que trabalham na EaD não planeja o ensino para pessoas com deficiência visual. Diante disso, a AD poderá representar um importante aliado na con- dução de procedimentos que favoreçam o planejamento das aulas e elabo- ração do material didático com mais acessibilidade para os discentes com deficiência visual na modalidade de EaD, principalmente, no que diz res- peito à produção de videoaulas. Neste contexto, a Educação a Distância, que nas últimas décadas passou a fazer parte das atenções pedagógicas no ensino superior, influenciando o ambiente educativo e a sociedade, se apresenta como uma modalidade que poderá favorecer sobremaneira o processo de inclusão e de acessibilidade educacional das pessoas com deficiência nas universidades, mais especifi- camente das pessoas com deficiência visual, uma vez que, segundo Pimen- tel (2006, p. 9-10) pode ser entendida como: o tipo de método de instrução em que as condutas docentes acon- tecem à parte das discentes, de tal maneira que a comunicação entre o professor e o estudante se possa realizar mediante textos impressos, por meios eletrônicos, mecânicos ou por outras técnicas (MOORE; KEARSLEY, 1996, p.6 apud NUNES, 1992). Os meios eletrônicos, por exemplo, reduzem as barreiras impostas às pessoas com deficiência, uma vez que recursos de tecnologia assistiva, tais como softwares de leitura de tela, que transformam informações textuais em informações sonoras por meio de um sintetizador de voz, tornam aces- síveis a esse público, o material disponibilizado pelo professor. Contudo, em se tratando do que Nunes (1992) classificou como outras técnicas, estão inclusas videoconferências e videoaulas. as videoaulas são recursos audiovisuais, que desempenham função didática, cujas informações transmitidas podem ser ouvidas e vi- 22 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR sualizadas, consideradas, do ponto de vista computacional, como uma aplicação multimídia. (BARRERE; SCORTEGAGNA; LELIS, 2011, p. 284) Por se tratar de uma aplicação multimídia, além da informação sonora, estes recursos contemplam informações visuais que também precisam estar acessíveis ao público com deficiência visual, a fim de garantir o acesso ao processo de educação em situação de igualdade com os demais. É importante destacar a relevância do constante aprimoramento do processo de produção de videoaulas, a fim de disseminar o conhecimento com qualidade e acessibilidade para todos. Ademais, na EAD, as tecnolo- gias de informação e comunicação são adotadas com o objetivo de facilitar o processo de ensino-aprendizagem e estimular a colaboração e interação entre os participantes de um curso, habilitando-os para enfrentar a concor- rência do mercado de trabalho, inclusive. Assim, podemos citar como exemplo de uma ação de melhoria possí- vel, a ser verificada nesse estudo, o desenvolvimento do processo de AD concomitante ao processo de produção de uma videoaula, o que irá carac- terizar o ineditismo dessa proposta, pois como dito anteriormente, não se tem conhecimento de outra pesquisa similar até opresente momento. Embora as pesquisas em AD estejam avançando e seja possível en- contrar várias abordagens para essa modalidade de tradução audiovisu- al, não se verifica ainda trabalhos voltados para a formação docente em audiodescrição que atuem na produção de videoaulas inserida na mo- dalidade de educação a distância. Isto representa um campo fértil para o desenvolvimento da nossa proposta de pesquisa de forma inovadora e pioneira e com grande potencial para contribuir na área da educação. REFERÊNCIAS ARAÚJO, V. L. S. e ADERALDO, M. F. Filme de arte acessível: a audiodescrição de O Grão. Os Novos Rumos da Pesquisa em Audiodescrição no Brasil. 1. ed. Curitiba, PR: CRV, 2013. p. 135-149. ARROIO, A.; GIORDAN, M. O vídeo educativo: aspectos da organização do ensino. Quí- mica Nova na Escola. n. 24, p. 7-10, nov. 2006. BARRERE, E. ; SCORTEGAGNA, L. ; LELIS, C. A. S. Produção de Videoaulas para o Serviço EDAD da RNP. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCA- 23A AUDIODESCRIÇÃO APLICADA À TRADUÇÃO DE VIDEOAULAS UTILIZADAS NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR ÇÃO – SBIE, 2011, Aracajú. 22º Simpósio Brasileiro de Informática na Educação - SBIE. Aracajú, 2011. v. 1. BRAGA, K. B. Filme de arte acessível: a audiodescrição de O Grão. Os Novos Rumos da Pesquisa em Audiodescrição no Brasil. 1. ed. Curitiba, PR: CRV, 2013. p. 135-149. DEFICIÊNCIA. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: Protocolo Fa- cultativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: decreto legislativo n. 186, de 09 de julho de 2008: decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009. -- 4. ed., rev. e atual. – Brasília: Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2011. DEFICIÊNCIA. Viver sem Limite - Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com / Secreta- ria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD), VIVER SEM LIMITE - Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência: SDH-PR/SNPD, 2013. 92 p. JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 63-86. PIMENTEL, N. M. Educação a distância. Florianópolis: SEAD/UFSC, 2006. 136p. : Il PLAZA, J. Tradução intersemiótica. São Paulo: Perspectiva. 1987. 25 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS C A P Í T U L O 2 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS5 Lucinéa Marcelino Villela6 Ana Beatriz Taube Stamato7 Uma das grandes falácias quando mencionamos os termos acessibili- dade e inclusão no Brasil é considerar que as melhorias estruturais e adap- tações arquitetônicas têm solucionado os principais problemas de quase 45 milhões de pessoas com deficiência, segundo o CENSO 2010. Na mesma dimensão, o fato de termos em nosso país inúmeras instituições de assis- tência a pessoas com deficiência bem como diversas Secretarias da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida também não tem ainda impactado o suficiente nossa sociedade para que encontremos um ambiente acadêmi- co realmente acessível. 5 Os resultados desta pesquisa estão articulados com o desenvolvimento do Projeto em rede “Acessibilidade no Ensino Superior”, financiado pelo Programa Observatório da Educação (Obeduc) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – Edital público n. 49/2012. 6 Doutora em Comunicação e Semiótica. Docente do Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) – UNESP- Bauru. Pesquisadora do projeto “Acessibilidade no Ensino Superior”, Observatório em Educação/CAPES. e-mail luci- nea@rocketmail.com. 7 Graduanda em Comunicação Social - Rádio e TV da Faculdade de Arquitetura, Artes e Co- municação (FAAC). UNESP - Bauru. Bolsista de Iniciação Científica (OBEDUC – CAPES) - “Acessibilidade no Ensino Superior”- e-mail ana_stamato@hotmail.com. 26 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR Neste capítulo trataremos especificamente das deficiências visual e au- ditiva e dos recursos advindos da área de Tradução Audiovisual que permi- tem que as pessoas com deficiências auditivas e visuais tenham o acesso a materiais pedagógicos com conteúdos em vídeo ou áudio no ambiente uni- versitário. Não incluiremos em nossa pesquisa o estudo da língua brasileira de sinais (Libras), pois ela não está no escopo de nosso projeto, embora seja considerada essencial como recurso de inclusão dos surdos sinalizados no Ensino Superior. Na primeira parte do capítulo apresentaremos os conceitos de audio- descrição (AD) e legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE) que adota- mos como norteadores de nossa prática e, a seguir, elencaremos as técnicas adotadas para elaborar os produtos acessíveis para o Projeto de Pesquisa em Rede “Observatório em Educação” (OBEDUC). Reiteramos que nosso objetivo desde o início do projeto foi o de propor a conscientização de que o estudante com deficiência auditiva e visual deve ser incluído inteiramente na apresentação do conteúdo pedagógico. Isso implica na conscientização dos docentes, coordenadores de curso, reitorias e direção das unidades uni- versitárias e, principalmente, da própria pessoa com deficiência que muitas vezes sente-se constrangida ao pedir aos docentes que sejam disponibiliza- dos recursos como legendas ou audiodescrições para os materiais didáticos. AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS COMO RECURSO DE INCLUSÃO ACADÊMICA Trataremos de dois recursos nesta parte do capítulo: audiodescrição (AD) e legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE). A audiodescrição é um recurso que permite à pessoa com deficiên- cia visual o acesso à descrição ao vivo ou gravada em áudio de elementos verbais apresentados em diversos formatos e situações: vídeo, fotografia, encenações, cenas estáticas ou em movimento, escultura, eventos rotineiros (casamentos, partos, competições esportivas, etc), além de diversos produ- tos artísticos e de entretenimento. De acordo com a pesquisadora Lívia Motta: A Audiodescrição é uma atividade de mediação linguística, uma modalidade de tradução intersemiótica, que transforma o visual em verbal, abrindo possibilidades maiores de acesso à cultura e à 27 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS informação, contribuindo para a inclusão cultural, social e escolar. Além das pessoas com deficiência visual, a audiodescrição amplia também o entendimento de pessoas com deficiência intelectual, idosos e disléxicos. (http:www.vercompalavras.com.br/definições) O leque de situações e produtos que permitem a inserção da AD é tão imenso quanto a quantidade de signos não verbais existentes, ou seja, todo e qualquer signo não verbal pode ser audiodescrito, segundo nossa concep- ção que advém da pesquisa de obras de autores pioneiros em audiodescri- ção e em cursos que temos realizado desde 2012 . Um de nossos escopos de pesquisa é o de produtos audiovisuais tais como materiais disponibilizados em vídeos, filmes, seriados, videoclipes, etc. Nesse contexto, tomamos como suporte teórico as definições do audio- escritor alemão Bernd Benecke. Segundo Benecke (2004), a audiodescrição pode ser definida como: […] the technique used for making theatre, movies and TV program- mes accessible to blind and visually impaired people: an additional narration describes the action, body language, facial expressions, sce- nery and costumes. The description fits in between the dialogue and does not interfere with important sound and music effects. (p. 78) Para que ocorra a inserção da ADem produtos audiovisuais, deve- -se analisar suas cenas, enredo e escolher com precisão em quais inter- valos serão inseridas as descrições, segundo critérios de priorização de alguns elementos em detrimento de outros. Segundo Benecke (2004), o processo de roteirização de AD deve sem- pre ser feito em equipe, com consultor que possua deficiência visual para que atenda de forma eficaz o público-alvo. Ele menciona algumas etapas desse processo: a) escolha dos programas televisivos adequados (alguns possuem diálogos muito rápidos, fator que dificulta a inserção de AD); b) elaboração de um roteiro provisório; c) ajuste do nível do áudio do progra- ma. Ainda, segundo o autor, ao produzirmos roteiros de audiodescrição, há a necessidade de nos colocarmos na perspectiva das pessoas com defi- ciência visual para melhor adequarmos o roteiro. Defende que a locução seja mais discreta para dar destaque às falas originais e não ao conteúdo audiodescrito. 28 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR Jimenez (2010) enumera as primeiras subetiquetas no nível da nar- ração em relação aos personagens, são elas: a apresentação, identificação, atributos físicos, idade, etnia, aspecto, vestuário, expressão, traços físicos e linguagem corporal. Snyder (2008) defende que ocorra a relevância da entonação da fala do audiodescritor/locutor de acordo com o conteúdo que está sendo au- diodescrito, fazendo com que o espectador seja capaz de entender a carga dramática da obra. Levando em consideração todos os conceitos apresentados anterior- mente, consideramos que mesmo que a audiodescrição seja apresentada sem juízos de valor, na sua locução deve haver a entonação correta de acordo com cada assunto abordado. O segundo recurso que pesquisamos é a legendagem para surdos e en- surdecidos (LSE). Tal recurso é utilizado em materiais e/ou produtos au- diovisuais ou em situações rotineiras e ao vivo. A pesquisadora Élida Gama Chaves (2012) define a LSE como: [...] um recurso de acessibilidade e uma modalidade de tradução que difere da legendagem para ouvintes no que diz respeito às in- formações adicionais de identificação de falante e de efeito sonoro contidas na LSE, que se preocupa em traduzi-las para que o surdo possa ter acesso à trilha sonora do filme e para que não confunda quem está com o turno. (p.15) Segundo a pesquisadora Vera Lúcia Araújo (2009), as LSEs no Brasil se diferem das legendas tradicionais devido aos seguintes aspectos: 1) Introdução de informações adicionais dependentes do canal au- ditivo para que aqueles com deficiência possam acompanhar fil- mes e programas de televisão; 2) questões técnicas; 3) concepções de tradução. (p. 247-248) Embora o telespectador brasileiro já esteja acostumado com o modelo americano de legendas, chamado de closed caption (transcrições completas de todas as falas), consideramos que os parâmetros adotados no closed cap- tion não são adequados para o público brasileiro com deficiência auditiva, pois há um excesso de linhas de legendas (algumas com três ou quatro linhas), várias legendas não estão sincronizadas e o excesso de caracteres 29 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS e a rapidez das legendas cansam as pessoas que assistem ao conteúdo legendado. Na próxima parte do capítulo, iremos discorrer com mais detalhes so- bre as características técnicas adotadas para a elaboração das LSE. Adota- mos o padrão brasileiro e buscamos um equilíbrio entre estética e fluidez das legendas, evitando, assim, legendas com muitos caracteres e extrema- mente rápidas. A importância de estudar os dois recursos de acessibilidade acima mencionados no contexto da inclusão da pessoa com deficiência no ensi- no superior está no fato de que muitos conteúdos didáticos apresentados pelos docentes estão em formatos audiovisuais, sem o suporte de legendas ou audiodescrição. Percebemos essa realidade nos Cursos de Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da UNESP, campus de Bauru. Em cursos como Jornalismo e Rádio e TV, diversas disciplinas têm o enfoque nos conteúdos audiovisuais, outras complementam seus conteú- dos com áudios, documentários e outros gêneros do audiovisual. PRODUTOS AUDIOVISUAIS ACESSÍVEIS: APLICAÇÃO DE TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS EM ENTREVISTAS E EM VÍDEOS CONCEITUAIS A fim de incluir recursos de acessibilidade em alguns produtos do Pro- jeto de Pesquisa em Rede “Observatório em Educação” (OBEDUC), op- tamos por produzir legendas para surdos e ensurdecidos (LSE) para uma entrevista concedida pelas pesquisadoras Lúcia Leite e Sandra Eli Martins, coordenadoras do projeto. A entrevista foi concedida em 31/10/2013 para o programa Diálogos, produzido pela TV UNESP em Bauru. O programa possui o formato de talk show e é apresentado pela jorna- lista Mayra Ferreira. As pesquisadoras e coordenadoras do projeto OBE- DUC foram convidadas para apresentar o tema “Acessibilidade no ensi- no superior”. O programa está disponível no acervo online da TV UNESP (http://www.tv.unesp.br/2905). Optamos por realizar a LSE a fim de que um tema com tal importância pudesse chegar ao maior número de pessoas possível. Infelizmente, não foi possível a inserção da audiodescrição (narração das imagens) da entrevista, tendo em vista que o formato do programa foca nos depoimentos de uma ou duas pessoas e, nesse caso específico, quase não houve tempo nenhum 30 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR entre as falas. Uma possibilidade em outro produto desse gênero seria a inserção prévia da descrição do cenário, vestimentas da entrevistadora e das entrevistadas. Segundo o conceito de tradução intersemiótica de Roman Jakobson (1995), a LSE é considerada uma tradução intralinguística, ou seja, ocorre a tradução do conteúdo oral de uma língua para o conteúdo escrito em for- mato de legendas na mesma língua. Nesse caso, a entrevista e suas legendas foram inteiramente apresentadas em português. Porém, esse recurso não segue os parâmetros tradicionais de composição de legendas, pois ele serve para identificar os falantes e há as inserções de representações sonoras para facilitar a compreensão das pessoas que não podem ouvir. Devemos distinguir os dois tipos de legendas: legenda oculta e legenda para surdos e ensurdecidos (também conhecida como legenda descritiva). Segundo a Portaria n. 310 (27/06/2006) do Ministério das Comunica- ções, a legenda oculta é considerada: A transcrição em português dos diálogos, efeitos sonoros e outras informações que não poderiam ser percebidas ou entendidas pelos deficientes auditivos. (p. 3) A legenda fechada, também chamada de Closed Caption (CC), repro- duz toda a fala original, com indicações do falante e do conteúdo sonoro de maneira genérica. É produzida por um decodificador que, ao ter acesso ao áudio reproduzido, transpõe o conteúdo para palavras. A LSE, por sua vez, tem como objetivo facilitar a compreensão do conteúdo sonoro, por isso há preocupação em evitar as redundâncias cometidas na fala para que as legendas sejam as mais sucintas possíveis, desde que não haja perda do conteúdo. O primeiro passo para a aplicação das LSE na entrevista concedida pe- las coordenadoras do OBEDUC para a TV UNESP foi a transcrição total de todas as falas das entrevistadas. Nessa fase não houve preocupação na adaptação de vícios de linguagem, erros e redundâncias. Foi feita a trans- crição na íntegra do programa, sem a classificação dos ruídos sonoros; fi- zemos apenas a identificação dos falantes. 31 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS O segundo passo consistiu na transformação do roteiro transcrito em legendas. Esse processo ocorre com a utilização do software livre“Subtitle Workshop”. O Subtitle Workshop permite ao legendista sincronizar facilmente le- gendas. Ao utilizá-lo, podemos acompanhar simultaneamente o vídeo e a inserção de suas legendas. Devido à rapidez de alguns diálogos entre as entrevistadas, podemos notar que algumas inserções são feitas quadros an- tes da fala efetivamente começar e outras ficam alguns quadros depois que a fala termina; porém, esse procedimento só pode ser utilizado caso não atrapalhe a sincronia das legendas seguintes. Segundo os parâmetros internacionais mencionados por Araújo (2006), a velocidade de leitura de legendas que as pessoas têm encontra-se entre 150 a 180 palavras por minuto. As legendas devem durar no mínimo 1 segundo e no máximo 6 segundos. Portanto, cada linha da legenda deve ter no máximo 32 caracteres. Quando realizamos LSEs, algumas modificações são feitas em relação ao parâmetro tradicional, incluímos as indicações de sons e ruídos, estilo de música de fundo, indicações de falantes, etc. Para que esses padrões sejam cumpridos, devemos adotar algumas me- didas para que o sentido das falas seja mantido. Procura-se manter perío- dos completos ou orações numa mesma legenda, mas caso ela tenha que ser dividida, busca-se manter juntos os sintagmas que transmitam uma ideia fechada. 32 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR O software Subtitle Workshop permite variações de cor, contorno, som- breamento, tamanho da fonte e posicionamento das legendas na tela. Op- tamos por utilizar as legendas centralizadas; porém, o alinhamento delas no canto da tela mais próximo do falante também é um recurso que ajuda na sua identificação e alguns países europeus e latinos adotam esse padrão. A configuração das legendas em um padrão de posicionamento facilita a retomada das legendas em sequência melhorando a velocidade de leitura. Através do uso desse recurso, pudemos adequar a legenda acessível aos padrões de legenda internacionais como: condensação, uso da cor amarela ou branca, centralização, uso de no máximo 32 caracteres por linha e duas linhas por legenda. Como transcrevemos o roteiro das falas na íntegra, o trabalho de conci- são foi feito no momento da construção da legenda, com a ajuda da conta- gem de caracteres do programa Subtitle Workshop, considerando cortes de cena e pausas dos personagens em suas falas para que a sincronia pudesse ser a mais equilibrada possível. Em todo o processo houve a conferência dos momentos certos de in- serção na tela de vídeo disponível pelo programa, permitindo a redução das falas e a sincronização das legendas no software. 33 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS PROCESSO DE ELABORAÇÃO DE VÍDEOS CONCEITUAIS Com a proposta de apresentar os conceitos dos recursos por nós produ- zidos (AD e LSE) e ao mesmo tempo torná-los acessíveis, desenvolvemos dois vídeos conceituais que explicam o processo de produção e utilização desses recursos de acessibilidade. Abordando as definições dos recursos, suas aplicações e utilizando de dados estatísticos para alertar a sociedade em relação à necessidade de sua aplicação em todos os conteúdos audiovisuais acadêmicos, desenvolve- mos roteiros com estrutura simples, mas ao mesmo tempo explicativos ou pedagógicos. Para o processo de pesquisa de conteúdo também contamos com con- sultores/ usuários de AD e LSE para sabermos sua relação com eles e um pouco mais sobre outros recursos de acessibilidade para deficientes auditi- vos e visuais, tais como Braille e Libras. Com a preocupação de padronizar os dois roteiros em uma mesma linguagem e estilo, eles passaram por uma revisão conceitual dada pelas coordenadoras do OBEDUC e outros colaboradores. O roteiro, inicialmente, constituiu-se apenas de um guia para a locu- ção base das informações expostas no vídeo. Foi necessário fazer uma pré- -gravação desse roteiro para que as imagens fossem trabalhadas em cima da minutagem precisa das locuções. Com a gravação da locução base e através de discussões sobre o concei- to que usaríamos no vídeo, optamos por desenvolver os dois produtos em animação. Essa animação foi construída através do software After Effects disponível dentro do pacote da Adobe. Foi realizada uma pesquisa de imagens que complementasse a locução e a adaptação do texto para uma linguagem mais simples, para que fosse então passado para o formato de animação. Utilizamos o software para cap- tação das imagens correspondentes às locuções. Buscamos padronizar as cores inseridas dentro das animações para que se mantivesse a identidade visual do produto. O estilo das imagens e gráfi- cos também seguiram esse padrão. Alguns dos textos são bem semelhantes sendo construídos igualmente dentro dos dois vídeos, porém nas partes específicas relativas a cada recur- so de acessibilidade (AD e LSE) optamos por destacar suas peculiaridades. 34 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR No vídeo conceitual de legendagem para surdos e ensurdecidos, desen- volvemos uma simulação de roll-up (legendas que rolam para cima) para ilustrar como esses conteúdos podem ser apresentados para o público. Já no vídeo sobre audiodescrição, escolhemos o desfoque com o obje- tivo de causar sensibilidade no telespectador vidente que no começo não consegue ler a mensagem escrita na tela, mas depois começa a enxergá-la com nitidez. Como a locução foi transcrita em imagens, não sentimos a necessidade de desenvolver legendas para surdos e ensurdecidos dentro do produto, já que a essência de tudo o que estava sendo falado se encontra na tela. No entanto, depois de expormos o produto e de analisarmos repetidas vezes, percebemos que talvez fosse interessante complementar as imagens 35 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS com mais algumas informações escritas para que os deficientes auditivos não se sentissem prejudicados em relação ao conteúdo sonoro com maior detalhamento. Para os vídeos conceituais focamos na produção da Audiodescrição. Com o intuito de promover a tradução intersemiótica entre imagem e som, a AD serve como suporte acessível para aqueles que não podem ver o que está sendo reproduzido na tela. Como já apresentado na primeira parte deste capítulo, por ser colocada apenas nos espaços entre as falas, a AD deve ser sucinta e narrar conteúdos de extrema relevância para a narrativa. O diferencial dos dois vídeos conceituais encontra-se no fato de que foram produzidos desde sua concepção com o objetivo de inserção da AD. Dessa forma, propositalmente, houve a ampliação dos espaços entre as fa- las dentro do software de edição, o que permitiu a exploração de maiores detalhes das suas imagens. Optamos por descrever as cores de cada tela e suas mudanças, pois elas foram pensadas dentro de um conceito de identidade visual, construindo um significado dentro do produto audiovisual. Além disso, figuras e logo- marcas também foram descritas. Depois do desenvolvimento da animação, baseada na locução prévia do roteiro, foi possível a locução final do produto acompanhando as ima- gens produzidas. Foram feitas algumas alterações para o produto, o que exigiu também algumas adaptações nas imagens de animação. Com a revisão das imagens e a locução final gravada, passamos para a etapa da audiodescrição. Ela também exigiu que alguns trechos de silêncio fossem ampliados, isso fez com que a animação e a locução tivessem que ser alteradas. Como mencionado anteriormente, a animação é produzida pelo sof- tware After Effects, disponível no pacote de programas da Adobe. Com esse software é possível a criação de animações, mas não a inserção sonora. Para que o conteúdo das locuções pudesse ser manipulado juntamente com a imagem, foi necessárioo uso do Adobe Premiere, disponível no mesmo pa- cote de softwares. Nesse programa de edição de vídeos, há possibilidade de junção de imagem e som em mais de uma trilha, ou seja, vários vídeos e áudios po- dem ser manipulados gerando um produto único. 36 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR O software Adobe Premiere permite a junção das imagens de anima- ção, da trilha de locução/narração e da trilha de audiodescrição, produzida posteriormente. Cabe salientar que para melhor entendimento das pessoas com deficiência visual, é recomendável que a locução e a audiodescrição sejam feitas por vozes diferentes, preferencialmente uma masculina e outra feminina para que a narração do vídeo se diferencie da aplicação do recur- so de acessibilidade. CONCLUSÕES Nossos projetos, dentro do Projeto Observatório em Educação, foca- ram na inserção de recursos de acessibilidade para diversos produtos au- diovisuais e tiveram embasamento teórico nas propostas apresentadas nos estudos de Chaume (2010) e Romero (2013), os quais de forma comple- mentar defendem que a Tradução Audiovisual seja estudada em conjunto com a área de Produção Cinematográfica. Em seu artigo, Chaume (2010) reforça o conceito do processo de tradução, segundo o qual, obrigatoriamente deve haver a presença de um código linguístico para que ela ocorra. Dessa forma, nos códigos linguísticos presentes em textos audiovisuais de filmes, seriados e de- mais gêneros audiovisuais, deparamo-nos com um texto escrito que tem que ser espontâneo na sua apresentação oral. Tal equilíbrio entre discurso escrito e oralizado sempre é um desafio que deveria ser enfren- tado pelo tradutor em conjunto com o produtor dos diversos gêneros audiovisuais. Na maioria das vezes, os roteiristas e diretores não preveem a inserção de legendas, audiodescrições e até mesmo da dublagem na concepção de seus produtos audiovisuais. Tanto Chaume quanto Romero propõem o es- tudo colaborativo das duas áreas. Romero (2013) apresenta sua proposta “idealista”: From the point of view of research and teaching, accessible film- making entails an exchange between film(making) studies and AVT, where film scholars and film students learn about the aspects of AVT and accessibility that may have an effect on the realisation and re- ception of (their) films, while AVT scholars and translation students explore the elements from filmmaking and film studies that can con- 37 AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDAGEM PARA SURDOS E ENSURDECIDOS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: APLICAÇÃO DE RECURSOS DE ACESSIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS INSTITUCIONAIS E CONCEITUAIS tribute to the theory and practice of translation and accessibility. (p. 211) A junção de áreas complementares como Tradução Audiovisual e Pro- dução Cinematográfica só corroboram a ideia de que, para que seja com- pletamente eficaz, a acessibilidade não seja realizada apenas como uma pós-produção, mas seja concebida em todas as etapas da produção. Buscamos unir em nossos produtos audiovisuais (entrevistas legenda- das e vídeos conceituais), as técnicas da área de audiodescrição e de le- gendagem para surdos e ensurdecidos com alguns conceitos de Tradução Audiovisual e de Produção Cinematográfica, visando assim colocar em prática nossa própria visão de acessibilidade no ensino superior. De acordo com Romero (2013), By integrating AVT (audiovisual translation) and accessibility as part of the filmmaking process, accessible filmmaking addresses all the elements that filmmakers must take into account in order to make their films accessible not only to viewers with hearing or visual loss, but also to viewers in other languages. We are thus no longer referring to a minority, but to a large share of the audience.(p. 208) Concordamos com Romero em sua visão de produto audiovisual que pressupõe que no processo de roteirização sejam previstos os recursos de acessibilidade. Entendemos que, em nosso projeto, realizamos de forma eficaz produtos que além de apresentar a definição dos recursos de acessi- bilidade (AD e LSE) também inserem tais recursos na sua edição final. A inclusão da pessoa com deficiência, em nossa perspectiva, abrange políticas de conscientização sobre a serventia dos recursos de acessibilidade para que naturalmente surjam demandas para a audiodescrição e a legendagem para surdos e ensurdecidos. REFERÊNCIAS ARAÚJO, V. L. S. O processo de legendagem no Brasil. Revista do GELNE (UFC), Fortale- za, v. 1/2, n.1, p. 156-159, 2006. ARAÚJO, V. L. S. A legendagem para surdos no horário eleitoral gratuito. Estudos Linguís- ticos e literários, v. 40, p. 241-266, 2009. 38 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR ARAÚJO, V. L. S. Por um modelo de legendagem para surdos no Brasil. Tradução & Co- municação, n. 17, p. 59-76, 2008. BENECKE,B. Audio-description. GAMBIER,Y. (Ed.) Meta: journal de traducteurs. v. 49, n. 1, p. 78-80, 2004. Disponível em http://www.erudit.org/revue/meta/2004/v49/ n1/009022ar. Acesso em: 11 ago. 2015. BRASIL. Ministério das Comunicações. Portaria n. 310, de 27 de junho de 2006. Aprova a Norma nº 001/2006 - Recursos de acessibilidade, para pessoas com deficiência, na pro- gramação veiculada nos serviços de radiodifusão de sons e imagens e de retransmissão de televisão. Brasília, DF, 2006. Disponível em: http://www.mc.gov.br/portarias/24680- -portaria-n-310-de-27-de-junho-de-2006. Acesso em: 7 mar. 2016. CHAUME, F. Film Studies and Translation Studies: Two Disciplines at Stake in Audiovi- sual Translation. Meta: journal des traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 49, n. 1, p. 12-24, 2004. CHAVES, E.G. Legendagem para surdos e ensurdecidos: um estudo baseado em corpus da segmentação nas legendas de filmes brasileiros em DVD. Dissertação. Programa de Pós- -Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Estadual do Ceará, 2012. JAKOBSON, Roman. Aspectos linguísticos da tradução. Trad. Izidoro Blikstein. In: ______. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1995. p.63-86. JIMENÉZ, C. Un corpus de cine. Fundamentos metodológicos y aplicados de la audio- descripción. In: JIMENÉZ, C.; RODRÍGUEZ, A.; SEIBEL, C. Un corpus de cine. Teoría y práctica de la audiodescripción. Granada: Ediciones Tragacanto, 2010. p. 57-110. MOTTA.L. Ver Com Palavras: Audiodescrição. Disponível em: http:www.vercompalavras. com.br/definições. Acesso em: 27 ago. 2014. ROMERO-FRESCO, P. Accessible Filmmaking: Joining The Dots Between Audiovisual Translation, Accessibility And Filmmaking. 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Sassaki (2009, p.1), por sua vez, afirma que o conceito de inclusão pode ser definido como: 8 Os resultados desta pesquisa estão articulados com o desenvolvimento do Projeto em rede “Acessibilidade no Ensino Superior”, financiado pelo Programa Observatório da Educação (Obeduc), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – Edital público n. 49/2012. 9 Graduanda em Psicologia - Faculdade de Ciências - UNESP/Bauru. Bolsista OBEDUC – CA- PES “Acessibilidade no Ensino Superior”, Proj. 8224/12. Email: gabipryor@hotmail.com. 10 Professora do Departamento de Educação Especial e do Programa de Pós-Graduação em Edu- cação,da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP - Campus de Marília. e-mail: sandreli@ marilia.unesp.br 11 Professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, da Faculdade de Ciências, da UNESP - Campus de Bauru. e-mail: lucialeite@fc.unesp.br 40 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR [...] O processo pelo qual os sistemas sociais comuns são tornados adequados para toda a diversidade humana - composta por etnia, raça, língua, nacionalidade, gênero, orientação sexual, deficiência e outros atributos - com a participação das próprias pessoas na for- mulação e execução dessas adequações. Faz-se necessário compreender que a formação do conceito de inclusão é parte de um longo processo da relação da sociedade com a pessoa com deficiência. Uma visão mais atual desse conceito surge quando se ampliou a discussão sobre a participação social da pessoa com deficiência como qualquer outro cidadão. Nas palavras de Aranha (2001, p.19), “cabe à so- ciedade oferecer os serviços que os cidadãos com deficiência necessitarem (nas áreas física, psicológica, educacional, social, profissional)”, bem como “garantir-lhes o acesso a tudo de que dispõe, independente do tipo de defi- ciência e grau de comprometimento apresentado pelo cidadão”. A inclusão social pode ser entendida como um processo para favorecer as condições necessárias para que todos tenham garantido o direito de ci- dadãos, ou seja, propiciar qualidade de vida (com acesso à educação, saúde, lazer, trabalho, habitação, dentre outros direitos) para a cidadania plena – mecanismos, meios e conhecimentos de participação política, que capa- citem o agir de forma fundamentada e consciente. O contexto social e econômico do Brasil para a formação de uma es- trutura social inclusiva ainda está longe do idealizado. O país, por razões históricas, concentrou enorme desigualdade social no que se refere à dis- tribuição de suas riquezas, ao acesso à saúde, à educação, a bens materiais e culturais, como também da apropriação de conhecimentos científicos e tecnológicos, produzindo a segregação e a exclusão de grupos minoritários. Mais complexa que a definição de inclusão é a mudança na prática das ações dirigidas às pessoas com deficiência. Muitos desafios ainda existem, e é necessário um longo processo de transformação da realidade social para que possam participar ativamente das esferas sociais, de modo mais justo e igualitário. Por meio de um movimento dialético, as transformações sociais refletem na renovação e na reorganização de princípios e condutas da estrutura socio- cultural de um país. Este, por sua vez, é representado por uma instituição social central denominada Estado, que expressa as suas orientações e normativas pela promulgação de suas políticas públicas. Porémy e Guaralgo (2011) afirmam que as políticas públicas 41ACESSIBILIDADE NOS PORTAIS ELETRÔNICOS DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS E FEDERAIS DO BRASIL existem para que um governo, por meio de sua gestão, ofereça me- lhores condições de vida à sociedade de um país. [...] políticas pú- blicas são criadas por um Estado para que este possa administrar o orçamento e destinar recursos públicos à sua população a fim de garantir que todos, sem exceção, possam usufruir dos mesmos benefícios, sobretudo, visando à equidade social. (p. 4) Nesse aspecto, compreende-se que as políticas públicas expressam os objetivos e práticas de um país e, por intermédio da gestão administrativa, possibilitam o desenvolvimento de condições sociais aos seus habitantes. A elaboração de políticas públicas deve contemplar, portanto, a superação das barreiras de acessibilidade, com vistas à inclusão social dos cidadãos, atenuando a desigualdade encontrada no país. No entanto, o desenvolvi- mento de uma política pública envolve etapas distintas, que contemplam: a) a identificação de uma questão a ser resolvida ou um conjunto de direi- tos a serem efetivados a partir de um diagnóstico do problema; b) a formu- lação de um plano de ação para o enfrentamento do problema; c) decisão e escolha das ações prioritárias; d) a implementação (por meio de leis e procedimentos administrativos); e) a avaliação dos resultados alcançados (PÓLIS, 2006, p. 2). Todo esse processo prescinde de monitoramento e de fiscalização rea- lizados por órgãos do governo e atores da sociedade civil, havendo devida transparência à população quanto às informações sobre as políticas públi- cas do país. De acordo com o relatório “Monitoramento Internacional dos Direitos dos Deficientes”, realizado pelo Centro para a Reabilitação Internacional, em 2004, o país tem a melhor legislação para deficientes das Américas, des- tacando os dispositivos constituintes que garantem, em termos normativos, ajuda financeira, integração social e assistência educacional, além de proi- bir discriminação no trabalho, estabelecer cotas para a inserção de pessoas com deficiência no funcionalismo público e obrigar a criação de acesso facilitado em prédios e transportes públicos (BENEVIDES, 2004). Todavia, no país onde a legislação referente às pessoas com deficiência é considerada modelo, a realidade não corresponde ao que é previsto em lei, como apontado por Teresa Amaral do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD): 42 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE APLICADOS AO ENSINO SUPERIOR As políticas públicas ainda são muito desconectadas da realidade das pessoas com deficiência. Há tentativas, nas três esferas de governo, de se avançar no tema, mas são incipientes, porque ainda não há no Brasil uma cultura da política pública efetivamente trabalhada para as dificuldades da vida diária. O Brasil tem a melhor legislação das Américas nessa área, mas ainda não respeitada e, portanto, não há efetivação dos direitos das pessoas com deficiência. (ARAÚJO, 2013) Um dos aspectos que podem auxiliar na diminuição da desigual- dade e segregação social é a remoção das barreiras de acesso. Na Lei nº 10.098/2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência e/ou mobi- lidade reduzida, as barreiras são definidas como “qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas” (BRASIL, 2000), classificadas em barreiras arquitetônicas e nas comunicações. Para que haja a supe- ração de tais barreiras, são de extrema importância a implantação e a execução de políticas públicas. A mesma normativa define acessibilidade como: a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segu- rança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos ur- banos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoas portadoras de deficiência ou com mobi- lidade reduzida (BRASIL, 2000). Mais adiante, o art. 17 afirma ser direito ao acesso à informação, à co- municação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer. Partimos aqui do pressuposto de que os conceitos de acessibilidade e de inclusão são processos intrinsicamente conectados, sendo a acessibilidade condição fundamental para todo e qualquer processo de inclusão social. As barreiras de acesso se apresentam além da infraestrutura física, abrangendo áreas como a comunicação, o ensino, o trabalho, o lazer, en- tre outros. Nesse cenário, a acessibilidade extrapola a questão conceitual e incorpora ações objetivas para o desenvolvimento social de uma nação. Modificado ao longo da história, o conceito de acessibilidade está atrelado para orientar, por exemplo, o planejamento e ações arquitetônicas, comuni- cacionais, metodológicas, instrumentais, programáticas e atitudinais, com a preocupação de garantir uma sociedade mais igualitária. 43ACESSIBILIDADE NOS PORTAIS ELETRÔNICOS DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS E FEDERAIS DO BRASIL Contudo, dentre o limite da proposta, este texto optou em
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