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ESTUDO DE TRELIÇAS METÁLICAS PARA COBERTURAS EM DUAS ÁGUAS ATRAVÉS DE OTIMIZAÇÃO TOPOLÓGICA 1. Guilherme Di Domenico Tisot, Acadêmico de Eng. Civil (Bolsista Pibic/UPF) 2. Guilherme Fleith de Medeiros, Acadêmico de Eng. Civil (Bolsista Pibic/CNPq) 3. Moacir Kripka, Professor, Dr (FEAR – UPF) Resumo: Treliças metálicas de duas águas são largamente utilizadas em estruturas para coberturas de pavilhões, aliando leveza e resistência. Visando a elaboração de projetos que propiciem a obtenção de estruturas com melhor relação custo-benefício, diversos estudos foram efetuados utilizando uma técnica conhecida como otimização topológica, que consiste em permitir a retirada ou inclusão de elementos na estrutura. Partindo de um modelo composto pela sobreposição de modelos usuais, após a análise da estrutura, foram retiradas gradativamente as barras menos solicitadas até resultar em uma treliça isostática. O estudo foi realizado para pavilhões com dimensões e inclinação da cobertura variáveis. Os elementos foram dimensionados obedecendo a NBR 8800, utilizando perfis laminados em forma de dupla cantoneira de abas iguais e opostas. Quanto aos resultados, o processo de otimização de topologia foi efetivo, na maioria dos casos, em reduzir o peso da estrutura inicial, tornando os modelos obtidos competitivos em relação às configurações usuais. Palavras-chave: Otimização topológica, Treliças metálicas, Galpão, Pavilhão, Cobertura em duas águas, Tesouras em aço. 1 INTRODUÇÃO Treliças são estruturas constituídas, basicamente, por barras retas unidas apenas pelas extremidades, através de nós articulados. Como os esforços são aplicados apenas nesses nós, somente esforços axiais de tração e compressão atuam nas barras. Na prática, os nós raramente são rotulados, sendo as barras conectadas através de rebites, parafusos ou soldas. Entretanto, essa simplificação pode ser feita, pois a esbeltez das barras impede que haja transferência de binários significantes. CONSTRUMETAL – CONGRESSO LATINO-AMERICANO DA CONSTRUÇÃO METÁLICA São Paulo – Brasil – 31 de agosto a 02 de setembro 2010 Segundo Pereira (2007), nos dias atuais é muito comum utilizar estruturas treliçadas em projetos de grandes construções. Estas estruturas são bastante utilizadas em situações onde deseja-se obter uma estrutura leve, mas com elevada resistência. Para uma mesma situação de vão e carregamento, há inúmeras formas de se dispor as barras na treliça de forma eficaz, e o projetista o fará baseado em sua habilidade, experiência e intuição. Contudo, como ressalta Ribeiro (2008), esse processo nem sempre é o mais satisfatório. Primeiramente, devido às falhas humanas e, conseqüentemente, por não apresentar garantias de que a solução encontrada seja a melhor do ponto de vista econômico. Fonseca (2007) reforça essa ideia, afirmando que encontrar a melhor solução pelo método da tentativa e do erro é praticamente impossível. O cenário atual da engenharia é de extrema competitividade e, para um profissional obter vantagem no mercado, é necessário que seus projetos cumpram os requisitos de desempenho e segurança com um custo menor que os concorrentes, buscando-se uma maior eficiência das estruturas. No caso das treliças, que são estruturas de execução fácil e rápida, o custo mais baixo será em função do menor peso da estrutura, proporcionado por um menor consumo de material. Uma maneira prática e relativamente rápida de se obter esse importante grau de economia é lançar mão de técnicas de otimização estrutural, uma ferramenta matemática e computacional que pode ser bastante útil para identificar as melhores soluções para um determinado problema. O objetivo do presente trabalho foi definir, através de métodos de otimização, configurações alternativas de treliças para tesouras em aço de pavilhões com diferentes comprimentos, vãos e inclinações de cobertura e compará-los com alguns modelos tradicionais, fornecendo parâmetros para o engenheiro durante o pré-dimensionamento, visando o projeto e execução de estruturas mais econômicas. Tal fato não é benéfico apenas ao projetista, mas também na caminhada para uma sociedade mais sustentável, visto que o menor consumo de material pode significar uma redução na extração de matéria prima do meio-ambiente. 2 METODOLOGIA A otimização estrutural é, basicamente, a busca pela solução de desempenho máximo da estrutura, envolvendo um processo de integração de várias áreas do conhecimento. Entre elas a Engenharia, Matemática e a Computação, procurando-se maximizar ou minimizar uma função objetivo e satisfazendo, ao mesmo tempo, diversas restrições. Existem três tipos de otimização que podem ser realizadas em estruturas: Otimização de seções, quando as variáveis são as características das seções transversais dos elementos; Otimização geométrica, onde as coordenadas dos nós podem ser alteradas; Otimização topológica, quando elementos desnecessários são retirados da estrutura. Na Tabela 1, são apresentados modelos iniciais e finais para cada um destes três tipos de otimização estrutural. Pode haver também a otimização simultânea, onde se trabalha com todas as variáveis ao mesmo tempo. Porém, raramente esta otimização, devido ao grande consumo de tempo e necessidade de computadores muito rápidos. Tabela 1: Tipos de otimização estrutural: Otimização de seções, geometria ou topologia. Tipo de Otimização Modelo Inicial Modelo Final Seções Geometria Topologia No presente trabalho, foi realizada a otimização topológica das estruturas, permitindo- se a retirada dos elementos de pouca importância para a estrutura como um todo. Para isso, se fez necessária também a otimização de seções das treliças de duas águas, utilizando-se um programa computacional desenvolvido pelo professor Moacir Kripka, baseado na técnica de otimização Simulated Annealing (Recozimento Simulado). Para uma descrição mais detalhada desta técnica, é possível consultar os trabalhos de Kripka (2004), Drehmer (2005) e Kripka e Pravia (2008). Como ponto de partida, selecionou-se três dos modelos mais tradicionais de treliças com banzos inclinados, muito otilizados na confecção de estruturas para cobertura de pavilhões: Howe, Pratt e Warren (Figura 1). Figura 1: Treliças planas de duas águas que fizeram parte do estudo. As treliças foram analisadas como partes da cobertura em aço de um galpão. Optou-se por trabalhar com vãos de 10 e 20m, sendo o comprimento ora o dobro do vão, ora quatro vezes o valor do mesmo, com inclinações da cobertura de 5, 10 e 15°. O pé direito foi considerado de 6 metros, o afastamento entre pórticos foi fixado em 10 metros e a distância entre terças no eixo x é de 1,25 metro, em todos os modelos. Na Figura 2, tem-se um desenho esquemático de um galpão com cobertura em duas águas. Figura 2: Esquema de um galpão com cobertura em duas águas. Como material, foi empregado aço ASTM A36, que apresenta tensão de ruptura Fu = 400 MPa e tensão de escoamento Fy = 250 MPa. O módulo de elasticidade (E) foi adotado em 205 GPa e o peso específico () em 77 KN/m³. O dimensionamento seguiu a normatização brasileira para o dimensionamento de estruturas de aço, através da utilização da NBR 8800. O Howe Pratt Warren cálculo da carga de vento foi efetuado a partir da NBR 6123, resultando em 7 combinações possíveis de carregamento. Os elementos foram dimensionados com perfis laminados de aço em forma de dupla cantoneira de abas iguais e opostas (Figura 4). Figura 4: Perfilem forma de dupla cantoneira com abas iguais e opostas. Após a definição dos parâmetros de projeto, deu-se a obtenção de modelos genéricos hiperestáticos para cada um dos vãos e inclinações consideradas, os quais serviriam de ponto de partida no processo de otimização topológica. Os mesmos foram obtidos através da sobreposição dos três modelos usuais já citados (Howe, Pratt e Warren). Na Figura 5, tem-se o modelo genérico para o vão de 10 m, composto por 53 elementos. Figura 5: Modelo genérico para vão de 10 m. A primeira etapa desenvolvida foi a otimização de seções, que constituiu-se em verificar quais seriam as seções transversais das barras das treliças para o modelo inicial que resultariam no menor peso próprio da estrutura, devendo sempre ser suficientes para resistir ao carregamento. Essas seções foram retiradas de um grupo pré-estabelecido de 45 perfis comerciais. A análise da estrutura foi feita através do software de otimização, onde cada elemento poderia ter sua seção transversal variando de forma independente durante o processo. Após a análise e otimização de seções, verificou-se a estaticidade da estrutura. Se a mesma apresentasse-se como hiperestática, a otimização topológica deveria ser realizada. A otimização topológica foi realizada de duas maneiras distintas: Retirada gradativa das barras menos solicitadas; Retirada gradativa dos elementos com a menor seção transversal. Para ambos os casos, o processo de otimização de seções e de topologia foi repetido até resultar em uma treliça isostática, que foi considerada a topologia ótima para cada situação. O número de barras eliminadas corresponde a 10% do número total de barras restantes em cada etapa. Um fluxograma do processo de otimização efetuado é apresentado na Figura 6, para melhor compreensão. Figura 6: Fluxograma do processo de otimização topológica efetuado Foi realizado, de forma independente, a otimização de seções dos modelos Howe, Pratt e Warren para cada situação, obtendo-se o peso otimizado dessas treliças, para fins de comparação com as novas configurações geradas a partir do processo de otimização topológica. 3 RESULTADOS As treliças resultantes do processo de otimização variaram entre modelos Warren ou modelos compostos, ou seja, com elementos originários de diversos modelos tradicionais ao mesmo tempo, formando uma configuração diferente das tradicionais. Na Tabela 2, observa- se a evolução do modelo inicial ao modelo otimizado para o galpão 10m x 20m, com inclinação de 15°, tanto para o processo que descartou os elementos menos solicitados, como para o método que retirou as barras que obtiveram menor seção transversal. É possível Modelo Genérico Otimização de Seções Estrutura Otimizada Otimização Topológica Isostática? Não Sim observar, através dessa comparação, que os elementos retirados, em uma mesma etapa, não são os mesmos, dependendo do critério utilizado. Tabela 2: Evolução da topologia para galpão 10 m x 20 m e inclinação da cobertura de 15° Etapa Redirada dos elementos menos solicitados Retirada dos elementos de menor seção transversal A Modelo Inicial (53 elementos) Modelo Inicial (53 elementos) B Modelo Intermediário (47 elementos) Modelo Intermediário (47 elementos) C Modelo Intermediário (41 elementos) Modelo Intermediário (41 elementos) D Modelo Intermediário (35 elementos) Modelo Intermediário (39 elementos) E Modelo Intermediário (29 elementos) Modelo Intermediário (33 elementos) F Modelo Final (27 elementos) Modelo Final (25 elementos) Na Tabela 3, é apresentada a evolução do modelo durante o processo de otimização topológica para o galpão 20m x 40m e inclinação de cobertura de 15°, para o método que descartou os elementos menos solicitados. Tabela 3: Evolução da topologia para galpão 20 m x 40 m e inclinação da cobertura de 15° Etapa Retirada dos elementos menos solicitados A Modelo Inicial (117 elementos) B Modelo Intermediário (103 elementos) C Modelo Intermediário (93 elementos) D Modelo Intermediário (75 elementos) E Modelo Intermediário (65 elementos) F Modelo Final (61 elementos) Na maioria dos casos, o processo de otimização topológica foi efetivo em reduzir o peso da estrutura inicial, principalmente nas estruturas com inclinação superior a 5º, como pode ser observado no gráfico da Figuras 7, para um galpão com vão de 10m e 40m de comprimento. Entretanto, em algumas situações, as treliças obtidas apresentaram um peso maior que aquelas baseadas em modelos tradicionais apresentados pela bibliografia, porém, com valores ainda próximos. Isso se deve, principalmente, ao fato de elementos pouco solicitados e de seção reduzida servirem como travamento de elementos mais longos. Com a retirada desses contraventamentos, determinados elementos assumem seções com maior área, elevando o peso total da estrutura. Figura 7: Redução no peso ótimo para cada etapa de otimização do galpão 10m x 40m. 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 A B C D E F P e so d a Tr e liç a (k N ) Etapa da otimização Galpão de 10 m x 40 m 5º 10º 15º Na Figura 8, tem-se um gráfico comparativo entre os pesos ótimos obtidos para os novos modelos gerados e as configurações clássicas, também para o galpão de 10m x 40m. Figura 8: Comparativo entre treliça resultante e modelos tradicionais para galpão 10 m x 40 m. Os dois critérios utilizados para retirada de elementos mostraram-se pouco eficientes frente ao esperado. Apesar de ter-se obtido redução de peso em relação à estrutura inicial, esta não foi significativa se comparado o peso final aos já consagrados modelos Howe, Pratt e Warren. Uma vez que os desempenho do modelo otimizado ficou muito próximo das demais configurações, não foi possível definir um modelo ideal de tesoura para cada dimensão de galpão. 4 CONCLUSÕES Comprovou-se de que as técnicas de otimização são uma ferramenta poderosa para a engenharia, neste caso no, dimensionamento de estruturas. As técnicas utilizadas permitiram a redução do peso próprio das treliças, resultando em maior economia de material e, consequentemente, menor custo, sem afetar a segurança da obra. Na otimização topológica dos modelos de tesouras para galpões com cobertura em duas águas, verificou-se que nem sempre os elementos menos solicitados são os mais passíveis de retirada, pois, mesmo estando submetidos a um esforço menor, são importantes 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5º 10º 15º P e so d a Tr e liç a (k N ) Inclinação da cobertura Galpão de 10 m x 40 m Otimização Warren Howe Pratt para o travamento de elementos longos, o que se reflete em menores seções para os mesmos, graças à diminuição do comprimento de flambagem, e consequente redução no peso total da estrutura. Na maioria dos casos, o processo foi efetivo ao reduzir o peso da estrutura inicial, mas não o bastante para que se pudesse encontrar um modelo ideal, visto que os valores finais ficaram muito próximos, situação que se observou tanto para o vão de 10, quanto para o de 20 metros Porém, pode-se afirmar que os modelos obtidos são competitivos em relação às configurações usuais. Em relação aos três modelos tradicionais analisados,a treliça tipo Howe apresentou-se com uma certa vantagem em relação aos modelos Warren e Pratt na grande maioria dos casos, sendo a Pratt a que obteve o pior desempenho geral. Também foi possível verificar que a inclinação da cobertura influencia também no peso das estruturas. Treliças com inclinações de 15º obtiveram peso próprio menor em relação às de 10 e15º. Inclinações menores resultam em esforços axiais maiores e, desse forma, em perfis com maior área transversal, aumentando o peso da tesoura. 5 BIBLIOGRAFIA BELLEI, I. H. Edifícios industriais em aço: projeto e cálculo. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. DREHMER, G. A. Otimização de estruturas metálicas formadas por perfis “I” soldados. 2005. Dissertação (Mestrado) – Programa de Prós-Graduação em Engenharia, Faculdade de Engenharia e Arquitetura, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2005. FONSECA, M. da. Otimização de estruturas treliçadas planas e espaciais sob carregamentos estáticos e dinâmicos, usando Algoritmos Genéticos e Redes Neurais. 2007. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil, Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2007. GERDAU. Catálogo Barras e Perfis Gerdau. Disponível em: <http://www.gerdau.com.br/produtos-catalogo-e-manuais/5023.global.pt-BR.force.axd>. Acesso em: 15 jan. 2010. KIRKPATRICK, S.; GELATT, C. D.; VECCHI M.P. Optimization by Simulated Annealing. Science, v. 220, n. 4598, p. 671-680, 1983. KRIPKA, M. Discrete optimization of trusses by Simulated Annealing. J. Braz. Soc. Mech. Sci & Eng., v. 26, n. 2, p. 170-173, abr./jun. 2004. KRIPKA, M.; PRAVIA, Z. M. C. Dimensionamento ótimo de perfis U conformados a frio. In: KRIPKA, M.; PRAVIA, Z. M. C. Novos estudos e pesquisas em construção metálica. Passo Fundo: UPF Editora, 2008. p. 30-51. NBR 6123. Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1988. NBR 8800. Projeto e Execução de estruturas de aço em edifícios (método dos estados limites). Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1986. PEREIRA, J. P. G. Heurísticas computacionais aplicadas à otimização estrutural de treliças bidimensionais. 2007. Dissertação (Mestrado) – Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007. RIBEIRO, L. M. P. Otimização e dimensionamento de treliças planas de madeira empregando o método dos algoritmos genéticos. 2008. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008.
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