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Aula 12 – Cobertura UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA 133 Aula 12: Cobertura A elaboração de um projeto estrutural demanda um tempo inicial importante para criação do sistema estrutural. Esta é uma etapa importante que deve ser tratada com bastante cuidado. Vale lembrar que o raciocínio aqui apresentado refere-se às estruturas planas, onde estas são responsáveis pelas ações atuantes numa determinada faixa de influência. 1. Projeto de Estrutura de Madeira para Cobertura Ainda hoje, a definição estrutural em termos de planos é a mais comum, porém sempre as estruturas trabalharão de forma espacial, nas três dimensões. Esta concepção exige a caracterização de estruturas secundárias que fazem o travamento no plano perpendicular à estrutura, garantindo a estabilidade do conjunto. A princípio, uma estrutura espacial deve ter um melhor aproveitamento dos seus elementos, uma vez que todos os componentes da estrutura têm função estrutural e de travamento, e sempre funcionam como elementos principais (não existe o elemento secundário). Além disto, haverá uma distribuição mais uniforme dos elementos estruturais ao longo da área coberta, sem concentração de forças nos planos das estruturas. 1.1. Geometria da Estrutura A primeira etapa de um projeto de uma estrutura de cobertura corresponde à definição dos eixos das barras que compõem os elementos estruturais. Um arranjo de barras eficientemente elaborado influenciará significativamente no desempenho, na segurança, enfim no comportamento global da estrutura. Inicialmente, é necessário o conhecimento das características gerais da edificação, especialmente suas dimensões em planta e as suas condições de utilização. Por exemplo, se a estrutura corresponde à cobertura de uma residência, ou de uma igreja, ou de um galpão industrial, etc., esta terá conformação diferenciada, em geral associada à questão arquitetônica. No entanto, é também comum, especialmente no caso de coberturas industriais ou de armazenamento, ter-se liberdade de escolha, ficando, a cargo do engenheiro projetista a definição do contorno e da distribuição de barras. Quando isto Aula 12 - Cobertura ESTRUTURAS 134 ocorre, obviamente, o engenheiro deverá desenvolver um projeto que busque uma concepção estrutural otimizada, isto é, mais econômica, segura e eficiente. A definição destas formas nem sempre é uma tarefa fácil, pois dependerá da experiência do projetista e não serão abordados neste curso, mas, a título de informação, representam as estruturas de madeira do tipo treliçado, como auxílio para definição do contorno da estrutura, bem como, de prováveis seções transversais necessárias para absorver os esforços atuantes. Logicamente, não existe uma regra única, pois cada projeto tem sua própria característica. De qualquer forma, é necessário ter-se um ponto de partida (anteprojeto), que pode estar embasado nestas informações. Em função destas características define-se o tipo de estrutura a ser usada: tesoura tipo duas águas, com ou sem balanço, tipo shed, arco, ou outro tipo. Feita a escolha do tipo de estrutura deve-se iniciar a definição das posições das barras. Inicialmente define-se o contorno da estrutura, adotando-se uma relação entre altura e vão. O desenvolvimento de um projeto deve ser algo iterativo, ou seja, a partir de uma configuração adotada, esta deve ser verificada e depois todos os cálculos repetidos para uma nova configuração melhorada. Nem sempre isto é seguido, ou seja, se a variação de peso da estrutura, já verificada, não exceder 10% em relação ao peso inicial adotado, então a estrutura será admitida como válida e adotada como final. Sempre será necessário ter à disposição manuais dos fabricantes de telhas, para o conhecimento real das dimensões, pesos, resistência, recobrimentos, etc., das peças usadas na cobertura: telhas, cumeeiras, pregos e ganchos de fixação. Outro problema existente refere-se à exata posição das barras que compõem a estrutura. Isto porque, todo o cálculo é feito através da estrutura representada pelos seus eixos, esquecendo-se das dimensões reais das peças (altura e largura), uma vez que o cálculo é feito para estruturas do tipo reticulado. Sendo assim, é indispensável conhecer exatamente qual é a posição real de todos os elementos que compõem a estrutura, jamais se esquecendo da existência das terças e telhas. Estes parâmetros são importantes, pois deles dependem a posição real dos eixos das barras que serão utilizados nos cálculos. Aula 12 – Cobertura UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA 135 Tomando-se como referência uma estrutura de contorno triangular, Figura (a), deve-se saber exatamente qual é a variação do comprimento da hipotenusa (banzo superior) do triângulo retângulo ABC. Observe os detalhes das Figura (b) e (c) onde são mostrados os detalhes dos nós da ligação entre banzo superior e inferior, e entre os banzos superiores. O comprimento efetivo a ser coberto corresponde ao comprimento da hipotenusa do triângulo ABC, menos "x" e menos "a". Lembrar que a telha mais central (da cumeeira) deve passar, no mínimo, 5 cm além do eixo da terça e a telha da extremidade da ligação banzo inferior e superior (beiral) deve passar, além do eixo da terça, um comprimento correspondente ao balanço, entre 25 cm a 40 cm. Caso seja utilizado o gancho chato para fixação das telhas é importante lembrar o detalhe da efetiva posição da extremidade da telha em relação à face superior da terça, conforme ilustra a Figura acima. Aula 12 - Cobertura ESTRUTURAS 136 Outro detalhe importante é a concordância entre a posição da terça e o efetivo nó da treliça, para um nó do banzo superior de uma tesoura convencional, Figura acima. Observe que o montante serve de apoio para a terça, provocando um ligeiro deslocamento do centro da terça em relação ao encontro dos eixos das barras que convergem para o nó citado. Assim, quando se estiver definindo os eixos das barras, esta diferença de posição tem de ser considerada. Neste caso deve-se considerar um deslocamento designado por "r" na Figura acima. O valor de "r" pode ser encontrado da seguinte forma: 𝑟 = 𝑑𝑠 2 𝑡𝑔 𝜃 + 2 2 cos 𝜃 − 𝑏 2 Caso seja desejado considerar um deslocamento maior para a terça, ou seja, deslocá-la para baixo em direção ao eixo central do montante, bastará subtrair o valor deste deslocamento ao valor de r anteriormente calculado. Aula 12 – Cobertura UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA 137 Também merece destaque a ligação entre o banzo inferior e o superior, pois de forma semelhante ao caso da primeira figura da página anterior, também existe um deslocamento da posição da terça em relação ao ponto de encontro dos eixos dos banzos convergentes para o nó. Esta situação está ilustrada na Figura anterior. Também desta figura, o valor de "a" deve ser determinado e considerado para efeito de definição da posição dos eixos das barras. A seguir é mostrada a função para se chegar a este valor. 𝑎 = 𝑏 2 + 1 2 𝑠𝑒𝑛 𝜃 . (𝑑𝑖 − cos 𝜃 𝑑𝑠) Assim como existem variações de posições dos eixos na ligação do banzo inferior com o superior, também ocorre situação semelhante no caso da ligação de cumeeira. Neste caso, a variação é maior, pois existe um deslocamento de terça necessário para apoiar a peça de cumeeira, conforme é recomendado pelo fabricante. A Figura abaixo ilustra este nó e indica os parâmetros envolvidos no caso. O valor do deslocamento "x" é calculado de acordo com o desenvolvimento apresentado a seguir. O cálculo do valor de x é necessário para a determinação exatada posição da terça mais próxima da cumeeira. A partir deste ponto define-se as demais terças em função dos comprimentos das telhas. 𝑥 = 1 2 cos 𝜃 . [𝐷 − 𝑠𝑒𝑛 𝜃 (2 . ℎ . 𝑑𝑠)] Aula 12 - Cobertura ESTRUTURAS 138 2. Cálculo de Cargas As cargas sobre uma treliça são consideradas como atuantes sobre os nós superiores da estrutura. Usa-se o critério da faixa de influência, conforme ilustrado na Figura, para se obter a carga atuante sobre cada nó. A faixa de influência é tomada como sendo a soma das duas metades das distâncias entre os dois nós vizinhos. Sobre cada um destes nós atuam todas as cargas provenientes do material existente na faixa de influência: madeira (barras + terças), telhas, vento, contraventamentos, ferragens, peças especiais e sobrecargas. Basta conhecer com exatidão todos os elementos envolvidos em cada faixa considerada. As forças devidas ao vento são calculadas de acordo com a norma específica (NBR 7123). Obviamente que as ações de vento não dependem do tipo de material, mas dependem principalmente do tipo de contorno da estrutura. Portanto, as cargas serão consideradas como concentradas sobre os nós do banzo superior, conforme ilustra a Figura: Aula 12 – Cobertura UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA 139 As forças devidas aos contraventamentos mais ferragens podem ser consideradas iguais a 0,07 kN/m2, distribuídas sobre a cobertura (área projetada). Estas sugestões não representam restrições, lembrando que a NBR 7190/97 diz que o peso próprio das peças metálicas de união pode ser estimado em 3% do peso próprio da madeira. De outro lado, a mesma norma não faz menção a outras cargas permanentes ou variáveis. Assim, cada projetista terá seus critérios a serem adotados. Vale lembrar que a NBR 6120 define como sobrecarga em coberturas o valor de 0,50 kN/m2. Apesar disto, é comum ser adotado o valor de 0,25 kN/m2, como acontece no caso de estruturas metálicas. Para o dimensionamento das terças pode-se considerar a existência de uma carga concentrada aplicada no meio do vão igual a 1 kN, carga equivalente a um homem trabalhando mais ferramentas. Contudo, caso seja adotada a sobrecarga anteriormente sugerida, esta força concentrada não será usada. Para toda estrutura deverá ser calculada a flecha no ponto onde é máxima. Permite-se considerar que a linha elástica seja uma parábola, ao longo do vão. O cálculo das flechas pode ser feito através do Princípio dos Trabalhos Virtuais. No caso de treliças as contribuições dos deslocamentos provêm apenas das forças normais em cada barra. Baseado e adaptado de Francisco A. Romero Gesualdo. Edições sem prejuízo de conteúdo.
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