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Carboidratos Introdução Os carboidratos (glicídios) são as biomoléculas mais abundantes na Terra. O açúcar e o amido (pães, massas, frutas, doces, etc.) são os principais elementos da dieta em muitas partes do mundo. Polímeros de carboidratos podem agir como elementos estruturais em vegetais (celulose) e bactérias e também podem lubrificar articulações. Sua maior função nos organismos é armazenar energia. De modo geral, os carboidratos são poli-hidroxialdeídos/poli-hidroxicetonas e sua fórmula empírica é (CH2O)n, porém podem também possuir nitrogênio, enxofre e fósforo em sua composição. Um exemplo é a glicose: C6H12O6 = (CH2O)6. São três as suas classes principais: monossacarídeos (uma unidade de poli- hidroxialdeído ou de poli-hidroxicetona), como a glicose. Monossacarídeos de quatro ou mais carbonos, tendem a formar anéis. Os oligossacarídeos consistem em pequenas cadeias de monossacarídeos unidos por ligações glicosídicas. Nesse grupo destacam-se os dissacarídeos (dois monossacarídeos unidos), como a sacarose (glicose + frutose). Por último, temos os polissacarídeos (polímeros de açúcar com mais de vinte unidades), como a celulose, o amido e o glicogênio. Monossacarídeos Os monossacarídeos são aldeídos ou cetonas sólidos cristalinos solúveis em água (insolúveis em solventes orgânicos) com dois ou mais grupos hidroxila. Muitos dos carbonos aos quais as hidroxilas estão ligadas são centros quirais, formando estereoisômeros. Além disso, eles possuem cadeias de carbono não ramificadas com ligações simples. Existem várias reações dos grupos carbonil dos monossacarídeos. Uma delas é a adição de uma hidroxila que é parte da mesma molécula, gerando anéis. O fechamento desse anel cria um novo centro quiral, aumentando a complexidade. Na forma de cadeia aberta, um dos átomos de carbono está ligado duplamente a um átomo de oxigênio, formando o carbonil. Quando o carbonil está na extremidade da cadeia, temos uma aldose; quando o carbonil está em qualquer outra posição, temos uma cetose. Os monossacarídeos mais simples são os gliceraldeídos (aldotrioses) e as di- hidroxicetonas (cetotrioses). Monossacarídeos representativos Existem também monossacarídeos com quatro (tetrose), cinco (pentose), seis (hexose) e sete (heptose) carbonos. As hexoses são os monossacarídeos mais comuns na natureza, como a glicose (uma aldose) e a frutose (uma cetose). Duas hexoses comuns Todos monossacarídeos, com exceção da di-hidroxiacetona, contêm um ou mais átomos de carbono assimétricos (quirais) e, portanto, possuem isômeros. O gliceraldeído, por exemplo, contém um centro quiral, tendo assim dois isômeros diferentes, ou enantiômeros. Um dos enantiômeros do gliceraldeído é o isômero D, e o outro é o isômero L. Para representar suas estruturas são utilizadas as fórmulas de projeção de Fischer. Geralmente, uma molécula com n centros quirais pode ter 2n isômeros. Quando o grupo hidroxila do carbono de referência está à direita (dextro), o açúcar é o isômero D; quando está à esquerda (levo), é o isômero L. Em sua maioria as hexoses dos organismos são isômeros D. Os carbonos de um açúcar começam a ser numerados a partir da extremidade da cadeia mais próxima ao grupo carbonil. Cada uma das oito D-aldo- hexoses, que diferem em isomeria em C-2, C-3 ou C-4, tem nome próprio: glicose, galactose, manose, etc. As cetoses de quatro e cinco carbonos são nomeadas pela inserção de “ul” ao nome da aldose correspondente: como a ribulose (aldose = ribose). Uma Aldopentose com sua ceto-pentose correspondente Já as ceto-hexoses são nomeadas de maneira diferente: exemplo, frutose (frutas são uma das fontes desse açúcar) e sorbose (planta do gênero Sorbus). Dois açucares que diferem apenas na configuração de um carbono são chamados de epímeros, como a D-glicose e D-manose, que diferem apenas no C-2, assim como a D-glicose e D-galactose, que diferem apenas no C-4. Epímeros Em solução aquosa, todos os monossacarídeos com cinco ou mais carbonos ocorrem como estruturas cíclicas, nas quais o grupo carbonil está formando uma ligação covalente com o oxigênio de um grupo hidroxila presente na cadeia. A formação do anel é resultado de uma reação entre álcoois e aldeídos ou “Direita” “Esquerda” cetonas para formar derivados, os hemiacetais ou hemicetais. Duas moléculas de álcool podem ser adicionadas ao carbono do carbonil. O produto da primeira adição é um hemiacetal (quando adicionado em aldoses) ou um hemicetal (cetoses). Se os grupos -OH e carbonil vierem da mesma molécula, o resultado será um anel. A adição de uma segunda molécula produz o acetal ou cetal completo. A reação com a primeira molécula cria um centro quiral adicional. Como o álcool pode ser adicionado de duas maneiras, a reação produz dois isômeros, α e β. Exemplo: na D-glicose seu grupo hidroxila livre (C-5) reage com o aldeído do C-1, produzindo dois isômeros. Isômeros que diferem apenas na configuração do carbono hemicetal/hemiacetal são chamados de anômeros, e o átomo de carbono da carbonila é chamado de carbono anomérico. Anômeros da D-glicose Os compostos com anéis de seis membros são chamados de piranoses, pois se assemelham ao anel pirano As ceto-hexoses também ocorrem como anômeros α e β. Seus anéis possuem cinco membros, sendo chamados de furanoses, pois se assemelham ao furano. Os isômeros α e β se diferem quanto à posição da formação da -OH. Desse modo, α ocorre quando a hidroxila está abaixo do plano (à direita) e β ocorre quando a hidroxila está acima do plano (à esquerda). As estruturas cíclicas são representadas mais corretamente pelas fórmulas em perspectiva de Haworth (cíclica) do que pelas projeções de Fischer (linear). O anel de seis membros piranose não é planar, como a perspectiva de Haworth sugere, mas tende a assumir uma conformação em “cadeira” ou em “barco”. A conformação em cadeira é muito mais estável, visto que a em barco permite que as duas extremidades estejam no mesmo lado do plano, aumentando a instabilidade. Além das hexoses simples, existe uma variedade de derivados de açúcar, nos quais o grupo hidroxila é substituído por outro grupamento ou um átomo de carbono é oxidado a um grupo carboxil. Em glicosamina, a hidroxila no C-2 do composto parental está substituída por um grupo amino. Em N-acetilglicosamina, o grupo amino está condensado ao ácido acético. A oxidação do carbono do carbonil (aldeído) a carboxil na glicose produz ácido glicônico, um tipo de ácido aldônico. A oxidação do carbono na outra extremidade da cadeia forma o ácido urônico, como o ácido glicurônico na glicose. Tanto os ácidos aldônicos como os urônicos formam ésteres intramoleculares estáveis chamados de lactonas. Por outro lado, as hexoses também podem sofrer redução, se transformando em álcoois, como a glicose, que com a adição de H2 em sua extremidade carbonil se transforma em um sorbitol. A remoção de algum -OH também cria derivados de açucares, como a remoção de um -OH da ribose que cria a desoxirribose. A condensação do ácido fosfórico com um dos grupos hidroxila de um açúcar forma um éster de fosfato, como na glicose- 6-fosfato. Os açucares fosforilados são estáveis em pH neutro e são carregados negativamente. Um dos efeitos da fosforilação intracelular de açucares é o confinamento do açúcar dentro da célula; a maioria das células não tem transportadores para açucares fosforilados na membrana plasmática. Os monossacarídeos também podem ser oxidados por agentes oxidantes, como pelo íon cúprico (Cu2+). A glicose e outros açucares capazes de reduzir o íon cúprico são chamados de açucares redutores. Os anômeros α e β da D-glicose se interconvertem em solução aquosa por meio de mutarrotação, onde um anômero α (por exemplo) se abre na forma linear, e então, se fecha novamente produzindoo anômero β. Portanto, uma solução de α-D- glicose e uma solução de β-D-glicose formarão, no final, misturas idênticas. Essa mistura consiste em 1/3 de α-D-glicose e 2/3 de β-D-glicose. Dissacarídeos Os dissacarídeos consistem em dois monossacarídeos unidos por uma ligação O-glicosídica, formada quando uma hidroxila de um açúcar reage com o carbono anomérico de outro. Essa reação representa a formação de um acetal a partir de um hemiacetal e um álcool, e o resultado é chamado de glicosídeo. Formação da Maltose a partir de duas glicoses. A reação ocorre com a eliminação de H2O e a formação de uma ligação glicosídica. O inverso da reação é uma hidrólise – adição de água. Ligações glicosídicas são sempre hidrolisadas por ácidos, mas resistem à clivagem por base. Ligações N- glicosídicas unem o carbono anomérico de um açúcar a um átomo de nitrogênio em glicoproteínas e nucleotídeos. A oxidação de um açúcar pelo íon cúprico ocorre apenas com a forma linear. Como o carbono do carbonil pode ser oxidado somente quando o açúcar estiver em sua forma linear, a formação de um dissacarídeo gera um açúcar não redutor. Porém, se o dissacarídeo possuir uma extremidade anomérica não envolvida na ligação glicosídica chamada de extremidade redutora ele ganha a capacidade de ser um açúcar redutor. β-D-glicose D-glicose Forma linear D-gliconato O dissacarídeo maltose contém dois resíduos de D-glicose. Como ele conserva um carbono anomérico livre, ele é redutor. A configuração do carbono anomérico da ligação glicosídica é α, já seu carbono anomérico livre pode ser α ou β. Nomenclatura O nome dos dissacarídeos segue a seguinte ordem: → Primeiro se dá a configuração (α ou β) do carbono anomérico que une a primeira unidade (à esquerda) com a segunda (à direita); → Depois identifica-se se o resíduo é furano ou pirano; → Indicar entre parênteses os dois átomos de carbono unidos pela ligação glicosídica. Ex.: (1→4) = C-1 do primeiro resíduo ligado ao C-4 do segundo; → Identificar o segundo resíduo. Um exemplo: maltose – seu carbono anomérico da ligação glicosídica é α; os resíduos são piranos; a ligação ocorre entre C-1 e C-4; o segundo resíduo é igual o primeiro. Portanto, temos: α-D- glicopiranosil-( α1→4)-D-glicopiranose. Abreviando: Glc(α1→4)Glc. Exemplos O dissacarídeo lactose (galactose + glicose) ocorre naturalmente no leite. Ela possui um carbono anomérico livre e, portanto, é redutor. Seu nome abreviado é Gal(β1→4)Glc. A sacarose (glicose + frutose) é sintetizada por plantas e ela não contém um carbono anomérico livre, sendo assim, um açúcar não redutor. Essa característica a torna adequada para o armazenamento e transporte de energia em plantas, sendo o produto intermediário da fotossíntese. Seu nome abreviado é Glc(α1↔2β)Fru ou Fru(β2↔1α)Glc. O dissacarídeo trealose (glicose + glicose) é um constituinte importante do fluido circulante de insetos, servindo como composto de armazenamento de energia. Além disso, também é utilizada como adoçante. Seu nome abreviado é Glc(α1↔1α)Glc. Os dissacarídeos e oligossacarídeos são muito importantes na sinalização celular, visto que glicoproteínas podem aderir a hormônios, vírus, bactérias, etc. Polissacarídeos Os polissacarídeos, também chamados de glicanos, são divididos em duas classes levando em conta a repetição de monossacarídeos em sua estrutura. Os homopolissacarídeos possuem apenas uma espécie monomérica; já os heteropolissacarídeos contêm dois ou mais tipos diferentes. Para a síntese de polissacarídeos, não existe molde e não há um ponto de parada específico no processo, portanto, os polissacarídeos variam muito de tamanho. Lactose β-D-galactopiranosil-(1→4)-α-D-glicopiranose Homopolissacarídeos Alguns homopolissacarídeos, como o amido e o glicogênio, servem como formas de armazenamento para monossacarídeos. Outros, como a celulose e a quitina, atuam como elementos estruturais de plantas e animais. O amido contém dois tipos de polímero de glicose, amilose e amilopectina. A amilose consiste em cadeias longas, não ramificadas, de resíduos de D-glicose em configuração helicoidal conectados como (α1→4), Já amilopectina é altamente ramificada, onde sua cadeia linear forma ligações iguais à amilose (α1→4) e suas ramificações ocorrem em (α1→6). Ponto de ramificação da amilopectina A amilopectina compõe cerca de 80% do amido e a amilose 20%. Ao ingerirmos alimentos com amido, a nossa saliva produz a enzima α-amilase para degradarmos essa estrutura. O glicogênio é o principal polissacarídeo de armazenamento dos animais. Como a amilopectina, o glicogênio é um polímero de glicose ramificado, porém suas ramificações são mais recorrentes (a cada 8 a 12 resíduos, enquanto na amilopectina ocorre a cada 24 a 30 resíduos). Desse modo, é mais compacto que o amido. Além disso, é muito abundante no fígado, mas também ocorre no músculo esquelético. Nos hepatócitos é encontrado em grânulos. Quando utilizado como fonte de energia, suas unidades de glicose são removidas uma de cada vez. A celulose é encontrada na parede celular de plantas, constituindo grande parte da madeira e do algodão. Ela é um homopolissacarídeo linear e não ramificado de resíduos de D-glicose conectados por ligações glicosídicas (β1→4), formando a celobiose enquanto na amilose é (α1→4). Essa minúscula diferença torna a celulose um importante componente estrutural. Ligação (β1→4) na celulose (celobiose) A natureza rígida da celulose a torna útil para produtos comerciais, como tecidos de algodão, papelão, entre outros. Segmento de amilose A quitina é um homopolissacarídeo linear composto por resíduos de N- acetilglicosamina em ligações (β1→4). Ela forma fibras longas similares às da celulose utilizadas nos exoesqueletos dos artrópodes. Vale ressaltar que a quitina não é digerível por vertebrados. Segmento de Quitina em ligação (β1→4) Heteropolissacarídeos Os heteropolissacarídeos fornecem suporte extracelular para organismos de todos os reinos, como os peptidoglicanos e os glicosaminoglicanos. Os peptideoglicanos são componentes rígidos das paredes celulares bacterianas. Ele é um heteropolissacarideo de resíduos alternados de N- acetilglicosamina e N-acetlmurâmico unidos por ligações (β1→4). Os polímeros lineares encontram-se lado a lado na parede celular, cruzadamente ligados por peptídeos curtos. As ligações cruzadas dos peptídeos juntam as cadeias de polissacarídeo em uma bainha resistente, o peptideoglicano, que impede o inchaço e lise celular por osmose. A enzima lisozima é bactericida por hidrolisar as ligações glicosídicas entre esses açucares. Os glicosaminoglicanos são polímeros lineares compostos por unidades de dissacarídeos repetidas, sendo exclusivos de animais e bactérias. Um dos dois monossacarídeos deve ser um N- acetilglicosamina ou N-acetilgalactosamina e o outro deve ser um ácido urônico. O glicosaminoglicano ácido hialurônico contém resíduos alternados de ácido D-glicurônico e N-acetilglicosamina. Ele forma soluções viscosas que funcionam como lubrificantes no liquido sinovial das articulações. Além disso, também é um componente da matriz extracelular de cartilagens e tendões. A hialuronidase é uma enzima que hidrolisa as ligações glicosídicas do ácido hialurônico, tornando os tecidos mais suscetíveis a infecções.
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