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ABDOME AGUDO PERFURATIVO Introdução e epidemiologia • Doença decorrente da perfuração de um segmento do tubo digestivo no abdome; • Síndrome clínica caracterizada por dor abdominal, não traumática, de início subido; • É a terceira síndrome abdominal aguda mais frequente > taxa de mortalidade de 8 a 10% dos casos. Fisiopatologia • A perfuração pode ocorrer devido a processos inflamatórios, como úlceras pépticas e doenças inflamatórias intestinais, processos neoplásicos, obstrutivos e infecciosos (como por Salmonella tiphy, CMV, tuberculose intestinal); • Inicialmente, com extravasamento de secreção luminal na cavidade, teremos uma inflamação peritoneal de natureza química de intensidade variável > seguida de invasão bacteriana > progressão do processo infeccioso > repercussões locais e sistêmicas; • Bactérias mais comuns: o Pseudomonas aeruginosa; o Klebsiella sp; o E. coli. • As perfurações podem ocorrer em peritônio livre com extravasamento do líquido e difusão por toda a cavidade, florindo o quadro clínico típico, ou então pode se apresentar com dor e sinais localizados, representando a forma bloqueada, havendo um retardo no diagnóstico. Quadro clínico geral • Dor abdominal de instalação súbita > já em intensidade máxima; • Dor difusa e com franca peritonite em todos os quadrantes (abdome em tábua = contratura involuntária generalizada da parede abdominal por peritonite difusa); • Devido à gravidade: paciente provavelmente se apresentará séptico e com repercussões orgânicas pela sepse: o Taquicardia; o Hipotensão; o Tempo de enchimento capilar lentificado; o Pulsos finos; o Oligúria; o Injúria renal aguda; o Disfunção respiratória; o Rebaixamento do nível de consciência. • Desconforto respiratório: o acumulo de gás pode comprometer a musculatura diafragmática; • A dor pode ser lombar, nos casos de perfurações retroperitoneais, ou irradiarem para os ombros nos casos de perfuração em abdome superior que irritam o diafragma; • Distensão abdominal; • Ausência de macicez hepática (na percussão): Sinal de Jobert; • Ausência de ruídos hidroaéreos. DICA: dor abdominal súbita + peritonite difusa + sinais de sepse > espera-se encontrar na radiografia um pneumoperitônio. DICA 2: grande diferença entre o abdome agudo perfurativo e o inflamatório: o caráter súbito da instalação da dor e difuso da peritonite, no caso do perfurativo. • Laboratório (são inespecíficos): o Grande leucocitose com desvio a esquerda; o Disfunções orgânicas: acidose metabólica e lactato elevado, elevação da ureia e creatitina, transtornos eletrolíticos. Etiologias • Qualquer quadro que perfure do estômago ao reto é uma etiologia possível; • Principal etiologia: doença ulcerosa péptica perfurada (estômago ou duodeno); o Paciente tem fatores de risco de doença ulcerosa péptica (H. pylori e uso de AINES, principalmente) e provavelmente terá queixas crônicas de epigastralgia, além de hábito tabágico que também é comum (álcool pode estar associado); ATENÇÃO: nem sempre o paciente vai relatar que está usando AINES! Talvez o relato seja baseado no tratamento de uma dor crônica ou de um tratamento ortopédico, por exemplo. o Manifesta-se com epigastralgia nova, intensa e subida, seguida de generalização no abdome, acompanhado de sinais de peritonite em todas as regiões, com abdome tenso (em tábua) e com grande queda do estado geral; o Outra etiologia: Estômago: câncer gástrico perfurado; • No intestino delgado, as perfurações proximais geram peritonite química inicialmente, já que há extravasamento de enzimas ativas. Já as perfurações distais são acompanhadas de peritonite bacteriana. o Principais causas: abdome agudo obstrutivo com necrose intestinal, infarto intestinal, infecções, divertículo de Merckel, doença inflamatória intestinal. o Outras etiologias: ▪ Duodeno e jejuno: corpos estranhos ingeridos > considerar principalmente crianças e pacientes psiquiátricos; ▪ Íleo: doença de Crohn ou outras ileítes; • No intestino grosso: peritonite bacteriana ocorre desde o início. Perfuração do colon direito é mais grave que do esquerdo > devido à virulência dos germes e pela consistência das fezes. o Principais causas: diverticulite complicada perfurada > quadro muito importante. Também pode ser complicação de apendicite aguda, volvo colônico ou câncer colorretal. o Outras etiologias: doença inflamatória intestinal, megacólon tóxico, isquemia e necrose, corpo estranho, Síndrome de Ogilvie. Diagnóstico • História clínica minuciosa, exame físico e exame de imagem; Exames de imagem • Característica principal: presença de ar e/ou líquido na cavidade peritoneal, retroperitônio ou parede dos órgãos: o Na maior parte dos casos é pneumoperitônio; o Na menor parte não se acha pneumoperitônio devido ao bloqueio local da perfuração (com o epíplon, por exemplo) ou ausência de gás no seguimento perfurado; • Radiografia simples: exame de escolha inicial: o Quadrante superior direito: região em que mais se observa ar livre; o Sensibilidade: 50 a 70% > pode aumentar se o paciente se manter na mesma posição da incidência por 10 a 20 minutos. • Incidência do Rx: ortostase AP + decúbito lateral esquerdo com raios horizontais; o Decúbito horizontal: menor sensibilidade, porém, pode ser a única incidência possível. • Ortostase: ar entre o diafragma e fígado ou estômago; • Decúbito lateral: ar entre o fígado e parede abdominal lateral; • Decúbito dorsal: Sinal de Rigles: • Paciente com franca peritonite: feito o diagnóstico de abdome agudo cirúrgico > realizar a cirurgia; • Paciente com clínica atípica, em IOT (portanto, sem queixas) ou na dúvida diagnóstica: realizar exame de rotina de abdome agudo para observar ou não pneumoperitônio; • Caso ainda exista dúvida: realizar TC > mas, não é a mais indicada aqui, pela demora e efeitos adversos esperados, mas, é capaz de demonstrar com acurácia o diagnóstico sindrômico perfurativo e topografar o seu foco de origem. IMPORTANTE: como confirmar se o gás está no espaço intra ou retroperitoneal? Resposta: mudança de decúbito. O gás retroperitoneal migra muito pouco e fica confinado nos planos fasciais. • Videolaparoscopia: pode ser útil, principalmente em pacientes na UTI onde não há os parâmetros dos sinais e sintomas clínicos. Tratamento • Realizar as medidas de suporte, inicialmente, caso necessário: monitorização, hidratação venosa, controle eletrolítico, uso de antibióticos de amplo espectro antes do tratamento definitivo ou intraoperatório, podendo ser mantida posteriormente; • Tratamento é feito por laparotomia exploradora de urgência: o Objetivo é claro nessa abordagem: identificar o sítio da perfuração; o Realizar fechamento ou ressecção do foco da perfuração; o Irrigar e limpar rigorosamente a cavidade. ATENÇÃO: não atrasar a cirurgia para se realizar o diagnóstico de outra forma. • Na úlcera péptica: o Se pequenas, paciente grave e sem tratamento adequado da doença péptica: realizar ulcerorrafia, epiplonplastia e limpeza da cavidade; o Se úlcera gástrica: associar biópsia das bordas da úlcera (porque ela pode ser um câncer e precisa tratar de acordo); o Casos sem doença cavitária difusa e com indícios de bloqueio local na imagem, pode-se realizar inicialmente o tratamento conservador com antibióticos e esperar a evolução da perfuração; o A ressecção gástrica se reserva aos casos sem perspectiva de controle clínico adequado: como nos casos de úlcera na vigência de uso de inibidores da bomba de prótons; • O tratamento, no entanto, deve ser individualizado em cada território acometido pela perfuração, com ressecção ou não do seguimento afetado, dependendo da impressão do cirurgião, do estado da alça e da cavidade. IMPORTANTE: fazer ressecção com anastomose primária ou com ostomia (na impossibilidade de se realizar a anastomose: imunossupressão, desnutrição, infecção).
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