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ESTUDOS LITERÁRIOS

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Introdução aos Estudos literários II: 
Literatura, Correntes teórico-críticas 
Universidade Estadual
de Santa Cruz
Reitor
Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos 
Vice-reitora
Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Pró-reitora de Graduação
Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa
Diretor do Departamento de Letras e Artes
Prof. Samuel Leandro Oliveira de Mattos
Ministério da
Educação
Ficha Catalográfica
I61 Introdução aos estudos literários II : Literatura, cor-
 rentes teórico-críticas : Letras Vernáculas, módulo 
 3, volume 2 / Elaboração de conteúdo: Sandra Ma- 
 ria Pereira do Sacramento. – [Ilhéus, BA] : UAB-
 UESC, [2010]. 
 148 p. : il. ; anexos.
 
 Inclui bibliografias.
 ISBN: 978-85-7455-194-4 
 
 1. Literatura – História e crítica. 2. Literatura – Esté- 
 tica. 3. Estruturalismo. I. Sacramento, Sandra Maria 
 Pereira do. II. Título: Letras Vernáculas : módulo 3, 
 volume 2. 
 CDD 809 
Coordenação UAB – UESC
Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado
Coordenação do Curso de Licenciatura em 
Letras Vernáculas (EAD)
Prof. Dr. Rodrigo Aragão
Elaboração de Conteúdo
Profª. Drª. Sandra Maria Pereira do Sacramento
Instrucional Design
Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera
Profª. Drª. Gessilene Silveira Kanthack
Revisão
Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira
Coordenação de Design
Profª. Msc. Julianna Nascimento Torezani
Diagramação
Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké
João Luiz Cardeal Craveiro
Capa 
Sheylla Tomás Silva LE
TR
A
S 
V
ER
N
Á
C
U
LA
S
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D
 -
 U
ES
C
AULA I
Sumário
AULA II
A concepção clássica do artístico .................................................................................. 13
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15
2. PLATÃO ................................................................................................................... 16
3. LONGINO ................................................................................................................ 17
4. ARISTÓTELES .......................................................................................................... 18
5. HORÁCIO ................................................................................................................ 19
ATIVIDADE .............................................................................................................. 21
RESUMINDO ............................................................................................................ 21
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 22
LEITURA RECOMENDADA ........................................................................................... 22
ANEXO .................................................................................................................... 23
A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX ...........27
1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................29
2. A LIBERDADE ROMÂNTICA .........................................................................................30
3. A VISÃO HISTORICISTA DAS TEORIAS CRÍTICAS DO SÉCULO XIX ...................................42
ATIVIDADE ...............................................................................................................45
RESUMINDO .............................................................................................................45
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................46
LEITURA RECOMENDADA ............................................................................................47
ANEXO .....................................................................................................................48
AULA III
A estilística da langue e a da parole ..............................................................................53
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................55
2 ESTILÍSTICA ..............................................................................................................56
ATIVIDADE ................................................................................................................61
RESUMINDO ..............................................................................................................62
REFERÊNCIAS ............................................................................................................62
LEITURA RECOMENDADA .............................................................................................62
ANEXO 1 ...................................................................................................................63
ANEXO 2 ...................................................................................................................66
AULA IV
O formalismo russo: a autonomia do literário .............................................................. 69
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 71
2. FORMALISMO RUSSO ................................................................................................ 72
ATIVIDADE .............................................................................................................. 77
RESUMINDO ............................................................................................................ 78
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 78
LEITURA RECOMENDADA ........................................................................................... 79
ANEXO I .................................................................................................................. 79
ANEXO II ................................................................................................................ 80
AULA VI
AULA VII
AULA VIII
AULA V
O new criticism: a visão imanentista da obra literária ...................................................85
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................87
2 NEW CRITICISM .........................................................................................................88
ATIVIDADE ................................................................................................................91
RESUMINDO ..............................................................................................................92
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................92
ANEXO I....................................................................................................................93
O estruturalismo ..........................................................................................................95
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 97
2. ESTRUTURALISMO .................................................................................................... 98
ATIVIDADE .............................................................................................................105RESUMINDO ...........................................................................................................105
REFERÊNCIAS .........................................................................................................106
LEITURA RECOMENDADA ..........................................................................................106
ANEXO I .................................................................................................................107
ANEXO II ...............................................................................................................111
A estética da recepção................................................................................................ 115
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 117
2. ESTÉTICA DA RECEPÇÃO .......................................................................................... 118
ATIVIDADE ............................................................................................................. 125
RESUMINDO ........................................................................................................... 126
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 126
LEITURA RECOMENDADA .......................................................................................... 127
ANEXO ................................................................................................................... 128
A estética da recepção................................................................................................ 133
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 135
2. PÓS-ESTRUTURALISMO ............................................................................................ 136
ATIVIDADE ............................................................................................................. 144
RESUMINDO ........................................................................................................... 144
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 144
LEITURA RECOMENDADA .......................................................................................... 145
ANEXO ................................................................................................................... 146
DISCIPLINA
INTRODUÇÃO AOS
 ESTUDOS LITERÁRIOS II: 
LITERATURA,
CORRENTES TEÓRICO-
CRÍTICAS 
Profª. Drª. Sandra Maria Pereira do Sacramento
Ao final desta Aula I, você deverá identificar 
as várias concepções acerca do artístico à luz 
de Platão, Aristóteles, Longino e Horácio.
Mostrar os conceitos básicos que digam 
respeito à Literatura, a partir da tradição 
clássica, com Platão, Aristóteles, Longino e 
Horácio.
1aula
M
et
a
Ob
je
tiv
os
A CONCEPÇÃO CLÁSSICA DO ARTÍSTICO
15Letras VernáculasUESC
1
A
ul
a
 AULA 1
A CONCEPÇÃO CLÁSSICA DO ARTÍSTICO
1 INTRODUÇÃO
 Você, ao longo da Aula I, terá acesso às várias concepções 
clássicas acerca do artístico. Platão, Aristóteles, Longino e Horácio 
- para o último a literatura é capaz de despertar, no leitor, o êxtase 
do sublime - se aproximam da visão conteudística da literatura. 
Aristóteles, entretanto, prega a autonomia do artístico; ainda que 
tenha sido discípulo do primeiro e procure superá-lo, em grande 
medida, ainda que encerre seu pensamento, como os outros, aliás, 
vinculado à procura do êidos, isto é, da harmonia perfeita do absoluto, 
do mundo das essências. 
A
TE
N
Ç
Ã
O
Antes do início desta Aula I, você deverá ter lido:
 
• o capítulo 2 de Gêneros Literários, de Angélica Soares; 
• o capítulo 3, mais especificamente, da p. 23 à p. 28, de Teoria da Literatura, de Roberto 
Acízelo de Souza;
• o capítulo 3, de Teoria da Literatura “ Revisitada”, de Magaly Trindade Gonçalves e Zina C. 
Bellodi; 
• toda a obra Arte Retórica e Arte Poética de Aristóteles;
• toda a obra A poética clássica de Aristóteles, Horácio, Longino*.
* As referências das obras encontram-se no final da Aula I.
Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 
16 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A concepção clássica do artístico
2 PLATÃO
Platão, filósofo do período clássico da Grécia Antiga, não deixou um 
tratado específico sobre literatura. De algumas de suas obras, é que 
conseguimos retirar ensinamentos pertinentes ao artístico, como nos 
Diálogos, em Fedro, em Íon e em A República. 
 Nos Diálogos, já aparece a preocupação de formulação de 
alguns postulados sobre a arte, em geral, e sobre a poesia, em 
particular. Em Fedro, sugere que o poeta deve ser considerado um ser 
inspirado, possesso, fora da racionalidade filosófica. 
Em Íon, por outro lado, vê o poeta, o rapsodo, como 
um ser inspirado por um dom divino; tendo Sócrates 
como personagem. Esse, em diálogo com Íon, defende 
a opinião de que o rapsodo, ao declamar versos, 
contagia os ouvintes com alucinações, pois a poesia, 
sendo simulacro, constitui imitação da aparência e 
não da realidade. Sócrates, para justificar o conceito 
artístico de Platão, pergunta a Íon: Quem poderá 
julgar melhor se Homero tratou corretamente da arte 
da guerra, um rapsodo ou um general? Defendendo, 
em seguida, em favor do general e não do rapsodo, 
uma vez que o artista não conhece a natureza e 
mesmo a utilização das coisas.
 A palavra simulacro guarda o significado de 
simular, enganar. Para a literatura, é utilizada como 
um princípio de imitação que o poeta faz da chamada 
realidade:
Por outro lado, a imitação artística usa o lado ‘inferior’ das 
faculdades humanas, e quando ela se dirige ao público é 
essa parte inferior que ela procura estimular. Basicamente 
a poesia é produto de um conhecimento falho, emprega 
as faculdades inferiores da alma humana e estimula 
exatamente o que há de ‘desprezível’ no espírito do público 
(GONÇALVES; BELLODI, 2005, p.3).
A questão do simulacro foi estudada por Platão, quando fala em A 
República sobre o problema do conhecimento na literatura. Para ele, 
a imitação da chamada realidade, feita pela poesia, só alcançaria o 
terceiro estágio da verdade; enquanto que o produto elaborado pelo 
artesão ocuparia o segundo estágio, porque este se encontra mais 
próximo da natureza reproduzida; cabendo, entretanto, somente ao 
filósofo, o alcance do mundo das ideias, refutando, assim, o simulacro.
 Em A República, Platão faz concessão ao poeta desde que esse 
SAIBA MAIS
ΙΩΝ — Íon — pertence ao primeiro grupo 
dos diálogos de Platão e relata a conversa 
entre Sócrates e Íon de Éfeso, um rapsodo 
muito conhecido em Atenas. Não sabemos a 
data exata da composição; mas, a partir de 
diversas informações contidas no texto, é 
possível situá-la entre 394 e 391 a.C.
Fonte: http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0337
A República: no século IV a.C., em data 
imprecisa, surgiu em Atenas a primeira 
concepção de sociedade perfeita que se 
conhece. Trata-se do diálogo “A República” 
(Politéia), escrito por Platão, o mais brilhante 
e conhecido discípulo de Sócrates. As ideias 
expostas por ele - o sonho de uma vida 
harmônica, fraterna, que dominasse para 
sempre o caos da realidade - servirão, ao 
longo dos tempos, como a matriz inspiradora 
de todas as utopias aparecidas e da maioria 
dos movimentos de reforma social, que, 
desde então, a humanidade conheceu.
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/
voltaire/politica/platao.htm
17Letras VernáculasUESC
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A
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a
esteja a serviço da educação do povo grego, admitindo somente a 
poesia que se adequasse à lei e à razão humana, através de hinos aos 
deuses e em louvor aos homens famosos. Em diálogo com Glauco, 
afirma:
Quanto a seus protetores, que, sem fazer versos, amam 
a poesia, permitiremosque defendam em prosa e nos 
mostrem que não só é agradável, mas também útil, à 
república e aos particulares para o governo da vida. De 
bom grado os ouviremos, porque com isso só temos a 
lucrar, se nos puderem provar que aí se junta o útil ao 
agradável (PLATÃO, 1994, p.403).
 E o princípio utilitarista da literatura ganhou acolhida entre 
os romanos e influenciou a cultura ocidental posterior. Ao colocar, 
portanto, o literário a serviço do ideológico, com o propósito de 
ter existência reconhecida, é necessário ser útil à sociedade grega 
na formação de seus concidadãos. A razão, assim, devia conter a 
emoção, contrária a qualquer manifestação do desejo, fazendo, 
entretanto, concessão ao belo, ao bom e ao justo, quando o artístico 
deve estar em comum acordo com a ética.
3 LONGINO
Não se sabe se o pensador grego Longino, de fato, viveu. Fala-se de 
um “pseudo-Longino” , entretanto, a obra Do sublime, a ele atribuída, 
abriu uma nova concepção do literário, ainda que esteja vinculada ao 
pensamento platônico, no que diz respeito à função utilitarista da 
literatura.
Do sublime encerra a virtude da literatura como capaz de despertar, 
no leitor, o êxtase do sublime, através de técnica artística adquirida 
pelo trabalho e afinco do escritor. Longino destaca a importância na 
ênfase dada, no texto, ao uso das palavras capazes de empreender 
a reflexão no leitor:
Quando, pois, uma passagem, escutada muitas vezes por 
um homem e sensato e versado em Literatura, não dispõe 
a sua alma a sentimentos elevados, nem deixa no seu 
pensamento matéria para reflexões além do que dizem 
as palavras, e, bem examinada sem interrupção, perde 
em apreço, já não haverá um verdadeiro sublime, pois 
dura apenas o tempo em que é ouvida. Verdadeiramente 
grande é o texto com muita matéria para reflexão, de 
árdua ou, antes, impossível resistência e forte lembrança, 
difícil de apagar (1981, p.76-7).
Glauco: em A Repúbli-
ca, aparece um grupo 
de amigos: Sócrates, 
dois irmãos de Platão - 
Glauco e Adimanto - e 
vários outros persona-
gens, que serão pro-
vocados pelo mestre. 
O diálogo vai tratar de 
assuntos relacionados 
à organização da so-
ciedade e à natureza 
da política. Na Repúbli-
ca ideal, concebida 
por Platão, o governo 
deve estar nas mãos 
dos filósofos, que são 
aqueles mais próximos 
da verdade, da ideia 
do bem e da justiça. 
A investigação platônica 
utiliza o método dialé-
tico (palavra que tem, 
na sua origem, a noção 
de “diálogo”). Esse pro-
cedimento consiste em 
apreender a realidade, 
através de posições 
contraditórias, até que 
uma delas é finalmente 
entendida como verda-
deira e a outra como fal-
sa. A dialética platônica 
é um processo indutivo, 
que vai da parte para o 
todo.
Fonte: http://filosofandoehisto-
riando.blogspot.com/2009/08/
os-dialogos-de-platao.html
SAIBA MAIS
Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 
18 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A concepção clássica do artístico
 Assim, a leitura de uma obra bem elaborada, capaz de despertar 
o êxtase sublime, faz-se ecoar por muito tempo na mente do leitor 
atento, ao mesmo tempo em que se dinamiza a potencialidade do 
artístico.
4 ARISTÓTELES
 Aristóteles, discípulo de Platão, distancia-se do mestre em suas 
colocações acerca do artístico. Para quem a literatura é verdadeira 
e séria, por princípio, uma vez que o poeta ocupa-se do que poderia 
ter acontecido, segundo a verossimilhança ou a necessidade, e não 
com o que aconteceu como o faz o historiador. No capítulo IX da sua 
Arte Poética, que nos chegou de forma incompleta, afirma “a poesia 
é mais filosófica e de caráter mais elevado que a história, porque a 
poesia permanece no universal e a história estuda apenas o particular 
“(ARISTÓTELES, 1964, p. 278).
 Aristóteles, então, destaca a autonomia do artístico, na 
medida em que o vê como uma unidade, como um todo orgânico, 
em transcendência com a realidade evocada. Por isso, o conceito de 
cópia, de mímesis, deve ser entendido como uma espécie de recriação 
não assujeitada aos princípios da racionalidade, uma vez que essa 
é capaz de criar um mundo coerente em sua universalidade, com 
harmonia e perfeição.
 A catarse é outro conceito utilizado por Aristóteles, para definir 
a purificação dos sentimentos: temor ou piedade, experimentados 
pelo expectador, diante da tragédia. O autor propõe que:
[O] terror e a compaixão podem nascer do espetáculo 
cênico, mas podem igualmente derivar do arranjo dos 
fatos, o que é preferível e mostra maior habilidade no 
poeta. [...] Como o poeta deve proporcionar-nos o prazer 
de sentir compaixão ou temor por meio de uma imitação, 
é evidente que essas emoções devem ser suscitadas nos 
ânimos pelos fatos (ARISTÓTELES, 1964, p. 588).
 Neste sentido, a obra de arte desperta o prazer e faz 
melhorar o espírito. Aristóteles, ao contrário de Platão, que usa o 
método dedutivo e normativo para falar da arte, não encerra, em 
seus escritos, nenhum preceito a ser seguido pelo artista, é antes 
ontológico e indutivo. E o princípio de imitação aristotélico liga-se às 
formas literárias na poesia épica e na poesia em geral, na tragédia 
e na comédia. Na poesia, ela ocorre de modo indireto, pela mediação 
19Letras VernáculasUESC
1
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a
narrativa; na tragédia e na comédia, de modo direto, através da ação 
dos atores.
 Logo, Aristóteles inaugura uma concepção do literário, em 
que a forma é valorizada em detrimento do conteúdo. Além da Arte 
Poética, o filósofo nos deixou a Arte Retórica, em que são colocadas 
questões atinentes à persuasão no texto literário, fora do contexto 
judiciário. A Retórica, para ele, é comparável à Dialética, no sentido 
socrático, isto é, a arte do diálogo. Em resposta a Platão, afirma que 
a Retórica, em si, não é má, deve ser, antes, bem usada na ágora, a 
serviço da democracia.
A Retórica é útil porque o verdadeiro e o justo o são, por 
natureza, melhores que seus contrários. Donde se segue 
que, se as decisões não forem proferidas como convém, o 
verdadeiro e o justo serão necessariamente sacrificados: 
resultado este digno de censura (ARISTÓTELES, 1964, p. 
20).
 Assemelha-se, portanto, à Dialética e sua tarefa não se resume 
a persuadir, mas a discernir os meios a serem utilizados a propósito 
de uma questão. A Retórica teve seguidores no mundo clássico e, 
na Roma de Cícero, (séc. I a.C) ganhou destaque. Quintiliano, por 
exemplo, escreveu Instituições oratórias já no século 1 da Era Cristã, 
em que disserta sobre eloquência, através do uso de tropos como 
metáfora, sinédoque, metonímia, alegoria, ironia, hipérbole e outros.
SA
IBA
 M
A
IS
A tendência para a imitação é instintiva do homem, desde a infância. Neste ponto distingue-se de todos os outros 
seres, por sua aptidão muito desenvolvida para a imitação (ARISTÓTELES, 1964, p. 266).
Quanto à epopéia, por seu estilo corre parelha com a tragédia na imitação de assuntos sérios, mas sem empregar 
um só metro simples e a forma narrativa. Nisto a epopéia difere da tragédia (ARISTÓTELES, 1964, p. 270).
A comédia é imitação de maus costumes, não contudo de toda sorte de vícios, mas só daquela parte do ignominioso 
que é ridículo. O ridículo reside num defeito e numa tara que não apresentam caráter doloroso ou corruptor 
(ARISTÓTELES, 1964, p. 269).
Ontológico: que diz 
respeito à ontologia. É a 
parte da filosofia, chamada 
de “filosofia primeira” por 
Aristóteles, denominada, 
posteriormente, de 
metafísica (pura ou geral). 
Etimologicamente, significa 
a “ciência do ente”, isto é, 
a doutrina do Ser supremo 
ou divino.
Fonte: Dicionário de Filosofia, 
1969, p.305.
Ágora: praça das antigas 
cidades gregas, na qual se 
fazia o mercado e onde se 
reuniam, muitas vezes, as 
assembleias do povo.
Fonte: Novo Dicionário Aurélio 
da Língua Portuguesa - Aurélio 
Buarque de Holanda Ferreira
5 HORÁCIO 
 Horácio é considerado o grande codificador das ideias platônicas 
de cunhoextraliterário, e dinamizador das ideias do filósofo grego 
em toda a Europa, com o princípio de Docere cum delectare, isto é, 
Ensinar deleitando, em que a literatura tem algo a ensinar para o seu 
leitor. Horácio altera em grande medida os preceitos aristotélicos. E a 
teoria desenvolvida durante o período clássico renascentista deve-se 
ao que foi codificado por Horácio, poeta da Roma antiga.
Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 
20 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A concepção clássica do artístico
 A ars poetica horaciana está encerrada na Epistola ad Pisones., 
carta escrita em hexâmetros dactílicos ao Cônsul romano Lúcio Pisão 
e a seus filhos sobre teoria literária, pois esses manifestavam grande 
interesse pelas artes e, em especial, pela literatura, tendo sido, 
inclusive, preceptor dos infantes. Segundo Pires:
Com sentido altamente normativo, esta epístola é um 
verdadeiro código de preceitos a serem seguidos pelos 
que pretendiam produzir uma obra-de-arte literária. Sua 
importância começou a ser reconhecida por Quintiliano – 
algumas gerações mais tarde -, (...) (PIRES, 1989, p.19).
 O período clássico, a Idade Média e o Neoclassicismo, com 
Boileau serão influenciados, sobremodo, pelos preceitos pragmáticos 
horacianos de conceber o artístico. A atenção dada à ordem e à 
coerência no uso das palavras, bem como à unidade de tempo, lugar 
e ação, fizeram-no ponto de referência para os neoclássicos. 
 E Rogel Samuel confirma a afirmação: “E a idéia horaciana 
de que cada gênero deve ter um único assunto, um caráter, uma 
linguagem e um metro apropriado se tornou doutrina central na 
crítica dos séculos XVII e XVIII”. (SAMUEL, 2002, p. 49).
 A literatura aí é concebida como resultado de um domínio 
técnico, ao qual se submete a inspiração, na junção, portanto, 
entre talento e arte. Sugere àqueles, que se iniciem neste ofício, a 
humildade para receber críticas e o uso do tempo para que o texto 
possa ser guardado e avaliado posteriormente, de forma mais detida. 
Em sua ars poetica, Horácio afirma:
No âmago das palavras, deverás também ser útil e 
cauteloso e magnificamente dirás se, por engenhosa 
combinação, transformares em novidades as palavras 
mais correntes. Se por ventura for necessário dar a 
conhecer coisas ignoradas, com vocábulos recém-
criados e formar palavras nunca ouvidas [...] podes fazê-
lo e licença mesmo te é dada. Desde que a tomes com 
discrição. Assim, palavras há pouco forjadas, em breve 
terão ganho crédito se, com parcimônia, forem tiradas da 
fonte grega.
http://www.latim.ufsc.br/986ED7F3-3F3A-4BC2-BBE3 
 
Veja que, para o romano, o literário é consequência de um fazer 
trabalhoso, que altera o sentido das palavras usadas na linguagem 
corrente. O conceito de conotação, séculos mais tarde, cunhado pelo 
estruturalista Roman Jakobson, já se encontra de forma rudimentar 
em seus escritos.
SAIBA MAIS
Hexâmetro Dactílico: é 
uma forma de métrica poética 
ou esquema rítmico. É tradi-
cionalmente associado à poe-
sia épica, tanto grega quanto 
latina, como, por exemplo, a 
Ilíada e a Odisséia de Homero 
e a Eneida de Virgílio. Um dác-
tilo é uma sequência de três 
sílabas poéticas, a primeira 
longa e as duas seguintes 
breves. Portanto, o verso 
hexâmetro dactílico ideal 
consiste em seis (do grego 
hexa) pés, cada um sendo 
um dactílico. Tipicamente, 
porém, o último pé do verso 
não é um dactílico, mas sim 
um espondeu ou um troqueu, 
ou seja, a penúltima sílaba é 
sempre longa e a última sí-
laba pode ser breve ou longa.
Fonte: http://greciantiga.org/
arquivo.asp?num=0161
21Letras VernáculasUESC
1
A
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ATIVIDADE
1. Quais os pressupostos teóricos de Platão apresentados nesta aula?
2. Em que aspecto Aristóteles se distancia da concepção artística platônica?
3. O que Platão fala acerca da poesia n’Os Diálogos, em Fedro, em Íon e n’A República?
4. O que significa a expressão Docere cum delectare?
5. O que são mímesis e verossimilhança para Aristóteles? 
6. Em que medida Longino se aproxima das ideias platônicas acerca do artístico?
7. Por que, para Aristóteles, a Retórica se assemelha à Dialética socrática?
8. Horácio se aproxima das ideias platônicas acerca do artístico?
9. Boileau, responsável pela disseminação, na Europa, do preceito clássico acerca do 
artístico, faz que colocações?
RESUMINDO
 Você foi apresentado, nesta Aula I, às várias concepções clássicas 
acerca do artístico. Deve atentar para o fato de que Platão inaugura o enfoque 
do literário, pelo viés do conteúdo, tendo em Longino e em Horácio, da tradição 
romana, seus seguidores, enquanto Aristóteles se distancia de seu mestre, ao 
valorizar a autonomia do artístico. 
Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 
22 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A concepção clássica do artístico
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ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica. Tradução 
de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix/EDUSP, 1981.
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Tradução de Antônio 
Pinto de Carvalho. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964.
ENCICLOPÉDIA Barsa. São Paulo: Melhoramentos, vol.15, 1966.
GONÇALVES, Maria Magaly Trindade; BELLODI, Zina C. Teoria da 
Literatura “revisitada”. Petrópolis: Vozes, 2005.
Le Petit Larousse Illustré, Larousse. Paris: 1998. 
PIRES, Orlando. Manual de Teoria e Técnica Literária. Rio de 
Janeiro: Presença, 1989.
PLATÃO. A República. Tradução de Jair Lot Vieira. São Paulo: EDIPRO, 
1994.
SAMUEL, Roger. Novo manual de teoria literária. Petrópolis: 
Vozes, 2002.
SILVA, Vitor Manuel de A. Teoria da literatura. Coimbra: 
Almedina,1975.
SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo: Ática, 2000.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da Literatura. São Paulo: Ática, 
2004. 
LEITURA RECOMENDADA
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Tradução de Antônio Pinto 
de Carvalho. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. 
ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica. Tradução de 
Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix/EDUSP, 1981. 
GONÇALVES, Maria Magaly Trindade; BELLODI, Zina C. Teoria da 
Literatura “revisitada”. Petrópolis: Vozes, 2005. 
SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo: Ática, 2000.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da Literatura. São Paulo: Ática, 2004. 
23Letras VernáculasUESC
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aPLATÃO: nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos 
e abastados, de antiga e nobre casta. Ao seu temperamento artístico 
deu, na mocidade, livre curso, que o acompanhou durante a vida toda, 
manifestando-se na expressão estética de seus escritos. Suas obras até 
hoje são objeto de análise e apreciação, a mais conhecida, entretanto, 
é A República, em que defende, na forma de diálogo, um modelo 
aristocrático de poder, governado pelos intelectuais. 
Fonte: http://www.mundodosfilosofos.com.br/platao.htm
Ilustração - Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm21/images/images/Plato.gif
ANEXO
ARISTÓTELES: (384-322 a.C) foi um filósofo grego nascido na cidade 
de Estagira, na Calcídica, Macedônia, distante 320 quilômetros de 
Atenas. Essa cidade foi por muito tempo colonizada pelos jônicos, 
e, em virtude disto, ali se falava um dialeto jônico. O nome do pai de 
Aristóteles era Nicômaco, um médico. Aristóteles foi criado junto com 
um grupo de médicos, amigos de seu pai. Nicômaco chegou a servir a 
corte macedônica, a serviço do rei Amintas, pai de Felipe, futuro rei. 
Na sua juventude, teria jogado fora seu patrimônio e, aos dezoito anos, 
foi para Atenas, a fim de aperfeiçoar sua espiritualidade, e lá ingressou 
na Academia, onde se tornou discípulo de Platão, o que marcaria 
profundamente sua biografia. 
Fonte: hLttp://www.consciencia.org/aristoteles.shtml
Ilustração - Fonte: http://www.ilt.columbia.edu/Publications/Projects/digitexts/aristotle/bio_aristotle.html
HORÁCIO: (65-8 a.C.) poeta latino; nasceu em Venúsia. Dono de estilo 
puro e rigoroso, onde a brevidade da metáfora,alia-se à surpreendente 
economia verbal. Sua obra exerceu influência na literatura ocidental. 
Fonte: Enciclopédia Barsa. vol.15, 1966, p.248.
Ilustração - Fonte: http://www.carpegeel.be/hora.aspx
Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 
24 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A concepção clássica do artístico
Quintiliano: nasceu em Calahorra, no ano de 35, e faleceu em Roma, no ano 
96. Foi professor de retórica, filólogo conceituado e advogado. Recebeu toda 
a sua educação em Roma, onde, mais tarde, abriu uma escola de Retórica. 
Foi o primeiro professor a ser pago pelo Estado.
Fonte: Le Petit Larousse, 1998, p. 1617.
Ilustração - Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Calahorra,_estatua_de_Quintiliano.JPG
Boileau: Nicolas Boileau - (1636-1711), escritor francês, historiador de Luís 
XIV, autor de uma célebre Arte Poética (1674), que contribuiu para disseminar 
o ideal literário do classicismo em todo o Ocidente. 
Fonte: Le Petit Larousse, 1998, p. 1190.
Ilustração - Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicolas_Boileau.jpg
Suas anotações
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2aula
Ao final desta Aula II, espera-se que você esteja dominando 
teorias tributárias ao historicismo do século XIX e seus 
representantes mais significativos que respondem pelo 
Romantismo e pelo Realismo-naturalismo.
Apresentar os conceitos básicos que digam respeito à 
Literatura, de acordo com Immanuel Kant e Victor Hugo, na 
busca do entendimento da poética e da liberdade românticas; 
bem como mostrar a influência da História nas teorias 
críticas do século XIX, com Sainte-Beuve, Hyppolyte Taine, 
Brunetière e Lanson.M
et
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A LIBERDADE ROMÂNTICA E A VISÃO HISTORICISTA 
DAS TEORIAS CRÍTICAS DO SÉCULO XIX
29Letras VernáculasUESC
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 AULA 2
A LIBERDADE ROMÂNTICA E A VISÃO 
HISTORICISTA DAS TEORIAS CRÍTICAS
DO SÉCULO XIX
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Antes do início desta Aula II, você deverá ter lido:
• os capítulos 7 e 8, de Períodos Literários, de Lígia Cademartori; 
• os capítulos 8 e 11, de Introdução à filosofia da arte, de Benedito Nunes;
• o capítulo 6, especificamente, da p. 74 à p. 98 de Teoria da Literatura “revisitada”, de Maria 
Magaly Trindade Gonçalves e Zina Bellodi; 
• O capítulo 3, especificamente, da p. 28 à p. 33, de Teoria da Literatura, de Roberto Acízelo 
de Souza;
• os capítulos 1, 2 e 3 de O Caráter Social da Ficção do Brasil, de Fábio Lucas*. 
 
* As referências das obras encontram-se no final da Aula II.
1 INTRODUÇÃO
 Nesta Aula II, vamos trabalhar com conceitos básicos que 
digam respeito à Literatura, bem como a influência da História nas 
teorias críticas do século XIX, com os conceitos de arte para Hegel, 
Immanuel Kant e Victor Hugo, na busca do entendimento da poética 
e da liberdade românticas; bem como a realista e a naturalista, com 
Sainte-Beuve, Hyppolyte Taine, Brunetière e Lanson.
Introdução aos estudos literários II:
literatura, correntes teórico-críticas 
30 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX
2 A LIBERDADE ROMÂNTICA 
 O Romantismo foi um movimento artístico, político e 
filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII, na Europa, 
que perdurou por grande parte do século XIX. Caracterizou-se como 
uma visão de mundo contrária ao racionalismo, que marcou o período 
neoclássico, e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os 
estados nacionais na Europa. E o princípio historiográfico da época 
significou uma grande mudança de perceber o mundo, ao dar destaque 
à vida coletiva e aos seus modos de atribuir sentidos comuns, pois 
o homem percebeu que vive em comunidade, que lhe dá sentido de 
existência. É o que diz Victor Manuel de A. Silva, em sua Teoria da 
Literatura (1975):
Logo no dealbar do século XIX, Mme. de Staël demonstrou 
na sua obra intitulada De la Littérature, que a literatura 
é intimamente solidária com todos os aspectos da vida 
coletiva do homem, verificando-se que cada época possui 
uma literatura peculiar, de acordo com as leis, a religião e 
os costumes próprios dessa época (SILVA, 1975, p. 444).
 A partir do Romantismo, o homem percebe-se um ser histórico, 
tendo a História e a Crítica literárias condicionadas a uma perspectiva 
historicista de ver o fenômeno literário. A História Literária, por 
exemplo, estará ligada à filologia em busca da reconstituição e 
compreensão dos textos literários do passado e a crítica, por sua vez, 
valorizará tudo o que diga respeito ao passado e à sua herança como 
justificativa do presente. 
 Para Paul Valéry, não há possibilidade de definir o Romantismo, 
sob pena de prejudicar o rigor lógico, pois o mesmo é multifacetado 
em seus temas e motivos. Segundo Alfredo Bosi, em História Concisa 
da Literatura Brasileira (1976), trata-se de um momento de definição 
alinhada aos valores burgueses no Ocidente, a partir da Revolução 
Francesa de 1789, ainda que essa tenha vários desdobramentos 
posteriores no século seguinte. Para o estudioso, ocorre uma série 
de mudanças, até então nunca vista naEuropa, diante de uma nova 
classe em ascensão. Neste momento, então:
Definem-se as classes: a nobreza, há pouco apeada 
do poder; a grande e a pequena burguesia, o velho 
campesinato, o operariado crescente. Precisam-se as 
visões da existência: nostálgica, nos decaídos Ancien 
Regime; primeiro eufórica, depois prudente, nos novos 
proprietários; já inquieta e logo libertária nos que vêem 
bloqueada a própria ascensão dentro dos novos quadros; 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIII
http://pt.wikipedia.org/wiki/Europa
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XIX
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vis%C3%A3o_de_mundo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Racionalismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoclassicismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalismo
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imersa ainda na mudez da inconsciência, naquele para os 
quais não soara em 89 a hora da Liberdade-Igualdade-
Fraternidade (BOSI, 1977, p.99).
 
 A literatura do período romântico, se, 
por um lado, endossará as ideias correntes 
burguesas e estará também disponível 
para compor as comunidades imaginadas 
(ANDERSON, 2008), não tarda a expor as 
fraturas advindas da impossibilidade de 
implementação da utopia social. Weber 
(2004), em sua análise clássica sobre 
a modernidade, vai dizer que essa já 
nasceu sob a égide da crise, uma vez que 
oportuniza a alteração da visão tradicional 
do mundo, amparada sobremodo na religião, 
substituída pela racionalização, colocando o 
homem em três esferas, enquanto pai de 
família, trabalhador e cidadão. Göethe, ao 
se referir à literatura do período, advoga para o clássico a saúde e, 
para o romântico, a doença. Nesse processo, a ânsia de totalização 
vai-se colocar para o artista que detém a noção de finitude, em uma 
sociedade capitalista cada vez mais burocratizada. 
A obra de arte, fruto de um olhar crítico ao que a circunda, 
encarna a busca de totalidade, denunciadora de um mundo reificado, 
uma vez que o eu não se encontra integrado a ele próprio e ao que 
o cerca. A poética que marca o período romântico faz-se estruturada 
sobre o símbolo, enquanto a pós-romântica é condicionada pela pre-
sença da alegoria. Tanto o símbolo, quanto a alegoria são tropos, isto 
é, figuras de linguagem, que refletem um ideal de unidade, reivin-
dicado por uma época.
O símbolo estrutura-se, ainda, em uma dimensão analógica de 
continuidade, enquanto a alegoria já indicia toda a impossibilidade 
reclamada pela busca de inteireza. Essa mostra as fraturas de uma 
realidade que não foi capaz de gerar o bem-estar apregoado pelo 
telos revolucionário, sintetizado na tríade Igualdade – Liberdade – 
Fraternidade. Vale destacar que o processo revolucionário francês 
estendeu-se por dez anos, sendo visto, por historiadores, em fases: 
moderada (1789-1792), radial (1792-1794) e conservadora (1794-
1799). Essa última abriu espaço para o golpe do 18 Brumário, em 
alusão ao segundo mês do Calendário Revolucionário Francês, que 
esteve em vigor na França de 22 de setembro de 1792 a 1831, com 
SAIBA MAIS
Mundo Reificado: para Marx e Engels, em A 
Ideologia Alemã (1986), ao falarem na divisão do 
trabalho, afirmam que, na produção mecanizada, 
o operário serve à máquina, tornando-se 
simples apêndice desta e o princípio subjetivo 
da divisão do trabalho desaparece, em face da 
objetivação do complexo de produção. Neste 
momento, ocorre a alienação, o trabalhador é 
distanciado daquilo que produz e o produto do 
seu trabalho se torna reificado, isto é, coisa (do 
Latim res,rei), porque passa a valer pela própria 
realidade. Assim, a crise do artesanato, graças à 
Revolução Industrial, com a produção em série, 
traz desdobramentos para o social, o econômico 
e o ideológico; estendendo-se, dessa sorte, à 
arte e ao artista. Um exemplo do processo de 
reificação, de objetificação do trabalhador, que 
se torna um autômato, encontramos no filme 
Tempos Modernos (1931), dirigido e encenado 
por Charles Chaplin. 
Fonte: SACRAMENTO, 2004, p.45.
Símbolo: aquilo que, por 
um princípio de analogia, 
representa ou substitui 
outra coisa.
Fonte: Novo Dicionário 
Aurélio da Língua 
Portuguesa - Aurélio 
Buarque de Holanda 
Ferreira
Alegoria: exposição de 
um pensamento sob forma 
figurada. 
Fonte: Novo Dicionário 
Aurélio da Língua 
Portuguesa - Aurélio 
Buarque de Holanda 
Ferreira
Introdução aos estudos literários II:
literatura, correntes teórico-críticas 
32 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX
a posterior ascensão do General Bonaparte, 
que é considerado como o grande responsável 
pela consolidação dos ideais burgueses e que 
expandiu o militarismo da França e mesmo o da 
Europa, de um modo geral.
 Kant, em Crítica da faculdade do juízo 
(1993), parte de dois tipos de finalidades para 
a arte: a finalidade estética e a finalidade 
teleológica. O juízo ou finalidade teleológica 
diferencia-se do estético porque aquele age se-
gundo as exigências da razão, voltado para um 
objetivo, enquanto para o segundo, o objeto 
está relacionado a um fim subjetivo, de acordo 
com o sentimento de eficácia, experimentado 
pelo homem. Estas finalidades, ou juízos 
reflexionantes, ficam sob o signo do como se, isto 
é, do pensamento hipotético das possibilidades, 
como fator transcendental.
 O ser humano é capaz de fazer um juízo para 
qualificar determina do objeto de Belo ou não, e 
o faz desinteressada e contemplativamente, 
sendo um prazer subjetivo, porém universal, 
capaz de ser comunicá vel. Assim, o Belo tem um 
fim em si mesmo, pairando acima dos nexos de 
causa-efeito, dos fins objetivos naturais; e, por 
isso mesmo, nesta realidade, em suspenso, a 
liberdade se instala, visto aguardar a afirmação 
do Espírito, detentor dos “fins ideais da ordem 
ética” (NUNES, 1991, p. 50).
 Kant (1993), como era idealista, advogava 
para a ideia, interiorizada em cada um de nós, a 
detenção da Beleza, uma vez que esta é univer-
sal, acontece com todos os seres humanos. E 
o prazer estético só ocorre devido ao jogo de imaginação. Este 
institui-se vindo do sin gular, para, a partir daí, tentar extrair uma 
regra universal.
 Para Kant, o juízo estético ou de gosto está em conexão 
com o comunal, isto é, com a dimensão intersubjetiva (= política), 
uma vez que, em sociedade, é ativado o sensus communis, isto é, 
uma concor dância das sensações do que seja Belo e harmonioso, 
e que depende do discurso para a sua comunicação, implicando a 
interação dos homens “como criaturas limitadas à Terra, vivendo 
SAIBA MAIS
Telos: significa fim (finalidade), e que, por sua vez, 
remete à ideia de felicidade, à busca da vida boa. O 
Bem, em si mesmo, é o fim a que todo ser aspira, 
resultando na perfeição, na excelência, na arte 
ou na virtude. Todo ser dotado de razão aspira ao 
Bem como fim que possa ser justificado pela razão. 
Teleologia foi um termo criado por Wolff para indicar 
“a parte da filosofia natural que explica os fins das 
coisas” ( Log., 1728, Disc. prael.,§ 85). O mesmo 
que finalismo (v.).
Fonte: Dicionário de Filosofia, 1998, p. 943.
Igualdade – Liberdade - Fraternidade: trilogia 
atribuída ao filósofo Jean-Jacques Rousseau, 
de uso corrente durante a Revolução Francesa, a 
partir de 1789; quando se inicia um longo período 
de convulsões políticas; com desdobramentos de 
várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia 
constitucional e dois impérios. 
Fonte: http://www.mundodosfilosofos.com.br/lea4.htm
Teleológico: diz-se de 
argumento, conhecimento 
ou explicação que relaciona 
um fato com sua causa 
final.
Fonte: Novo Dicionário Aurélio 
da Língua Portuguesa - Aurélio 
Buarque de Holanda Ferreira
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A8ne_Delacroix
Figura 1: Reprodução da pintura de Delacroix La Libertè 
guidant le peuple. Nestequadro, aparecem as classes 
sociais, aliás, conceito firmado pelo Liberalismo, ainda que 
se encontre, no mesmo, unidas por uma única causa: a 
Liberdade.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau
33Letras VernáculasUESC
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em comunidades, (...) cada qual precisando da companhia do outro, 
mesmo para o pensamento” (ARENDT, 1993, p.37). 
 O conceito de juízo reflexionante estético alcança uma 
ampli tude durante o Romantismo, porque está sustentado sob a 
relativização do pensar, do criticar, em relação ao papel do filósofo e 
extensivo a qualquer pensante, envol vendo mesmo a própria poiésis 
artística. Para Arendt,
Kant insurge-se contra a tradicional distinção hierárquica 
que opõe a maioria filosofante à maioria ignorante, 
redefinindo-a nos termos da distinção entre o ator 
engajado na ação e o espectador crítico e imparcial que, 
se permanece alheio ao engajamento, nem por isso 
pretende-se portador de uma ver dade contemplada [...] 
(1993, p. 114). 
 Porque o ator é também espectador, visto ambos serem 
capazes de dispor da mente pensante. Ator e espectador são manei-
ras de estar no mundo. Assim, o poeta, para o Romantismo, cons-
titui aquele ser superior que é capaz de apreender, em formas, nos 
limites da legalidade da imaginação, o Absoluto, que detém toda a 
sabedoria.
 A obra de arte constitui aquilo que Walter Benjamin (1993) 
cha mou de princípio monadológico, isto é, a obra como mônada, 
porque vale por si mesma, como objeto estético, mas não pode ser 
prescindida da reflexão social, na qual se inscreve, sendo, portanto, 
parte de um todo. O Romantizar está condicionado a um conceito que 
o irmana a todo o ethos do período chamado Romantismo. E, apesar 
de, a prin cípio, lembrar devaneio, alucinação, o termo prende-se a 
Romantisieren, que ganha uma amplitude de investigação. Assim, 
Novalis o tem “como a habilidade característica do gênio que vincula 
os objetos exteriores às idéias ao manipular os objetos exteriores 
como se fossem idéias” (apud SCHLEGEL, 1994, p. 12).
Assim, Romantizar e Bildung complementam-se, em termos de ação, 
uma vez que o último vem de bilden (= cultivar), como ele mento 
de formação, tanto daquele que cultiva, quanto do objeto cultivado, 
lembrando-nos a estreiteza desenvolvida entre o jardinei ro e seu 
jardim.
 No cerne desta questão, encontramos um afã inerente à busca 
do contínuo, da totalidade harmoniosa, sem que a categoria de sujeito 
fique esquecida. E aspectos, aparentemente contrários, como vida e 
espírito, genérico e individual, natureza e cultura, tendem a se fundir 
num todo uníssono e orgânico, tornan do-se este ideal romântico uma 
espécie de religião secularizada.
Mônada: por ter 
significado diferente de 
Unidade (v.), esse termo 
designa uma unidade 
real inextensa, portanto 
espiritual. Giordano Bruno 
foi o primeiro a empregar 
esse termo nesse sentido, 
concebendo a M. Como o 
minimum, como unidade 
indivisível que constitui 
o elemento de todas as 
coisas (De minimo, 1591; 
De Monade, 1591).
Fonte: ABBAGNANO, 1998, 
p.680-690. 
Ethos: na Sociologia, é 
uma espécie de síntese 
dos costumes de um povo. 
O termo indica, de 
maneira geral, os traços 
característicos de um 
grupo, do ponto de vista 
social e cultural, que o 
diferencia de outros. A 
palavra ethos tem origem 
grega e significa valores, 
ética, hábitos e harmonia. 
É o “conjunto de hábitos 
e ações que visam o bem 
comum de determinada 
comunidade”. Ainda 
mais especificamente, a 
palavra ethos significava, 
para os gregos antigos, a 
morada do homem, isto 
é, a natureza. 
Fonte: http://www2.fcsh.unl.
pt/edtl/verbetes/E/ethos.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Povo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunidade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza
Introdução aos estudos literários II:
literatura, correntes teórico-críticas 
34 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX
 Quando esta possibilidade não é alcançada, surge a ironia, 
como índice do que Schiller chama de beleza lógica. Neste processo, 
o in divíduo abandona qualquer modelo interpretativo anterior, para, 
munido de seus próprios aparatos intelectuais, apreender aquilo que 
o cerca e ansiar o absoluto. E aí, arte e filosofia imbricam-se, porque 
esta, como elemento especulativo, é vista em trajeto de mão dupla 
de sensibilização do espírito e espiritualização do sensível, ao tentar 
a viabilização do geral, universal, via particular. Particular o geral, eis 
a audácia romântica.
 Os românticos utilizaram-se, sobremodo, do fragmento, do 
ensaio, como possibilidade, na finitude do provisório, do inacabado 
concreto. O fragmento vale-se da reflexão estética, que é um modo 
de interposição do sujeito cognoscente, entre o dado geral, firmado no 
conceito, e a noção de belo, fruto do livre-jogo. Walter Benjamin, em 
O Conceito de Crítica de Arte no Roman tismo Alemão, reproduzindo 
o famoso fragmento 116 das lições da Atenuam de Schlegel, expõe 
acerca da poesia, como medium-de-reflexão, isto é, um meio, uma 
forma de reflexão: “melhor flutuar pelas asas da reflexão poética no 
intermédio, entre o exposto e o expositor, livre de todo interesse e 
potenciar sempre novamente esta reflexão e multiplicá-la como série 
infindável de espe lhos” (1993, p.72).
 Estriba-se o poeta romântico nos juízos reflexionantes 
estéticos, tendo como princípio o dado sentido pelo sujeito. E as 
regras aplicadas à arte, segundo Kant, são fornecidas pelo gênio, 
que possui talento (= dom natural), anterior à obra realizada, na 
esfera da natureza verdadeira. O artista gênio, ao representar uma 
determinada realidade, altera papéis até então auto-delimitantes, 
diante da vida, isto é, de espectador e ator.
 Hannah Arendt aproxima o gênio do ator político, pela sua 
to mada de posição, pelo seu juízo crítico, ainda que aquele paire na 
possibilidade de concretização, em seu ato investigativo. Neste senti-
do, o artista é espectador porque as decisões mais concretas não de-
pendem de si; ao mesmo tempo, é ator, ao expor sua subjetividade 
na polis, sobressaindo a autonomia do ego, além e acima das leis que 
faz. Para Walter Benjamin, em sua obra O Conceito de Crítica de Arte 
no Romantismo Alemão, a arte deve ser vista na dimensão do mundo 
das ideias e não entendida presa a uma circunstância: 
Correspondendo a ela, portanto, o Ideal enquanto o a priori 
do conteúdo agregado. A Idéia é a expressão da infinidade 
da arte e de sua unidade. [...]. Como Idéia entende-se 
neste con texto o a priori de um método, [...]. De um tal 
a priori parte a filosofia da arte de Göethe (BENJAMIN, 
1993, p.72). 
35Letras VernáculasUESC
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Desse modo, Göethe aproxima-se do Ideal musal de arte dos 
gregos, com a soma dos conteúdos puros, quando estes atribuíam às 
musas a fonte de inspiração, em consonância com a ação de Apolo, 
possuidor dos puros conteúdos, limitados e harmônicos.
Estes puros conteúdos seriam arquétipos invisíveis, presos 
a preceitos naturais de origem e harmonia, somente intuíveis, não 
alcançados pela obra de arte, sendo as únicas depositárias. Esses 
conteúdos puros não podem ser unidos com a natureza mesma, pois 
a obra de arte, por ser desinteressada, tem domínio nos seus próprios 
conteúdos. Apesar de a natureza verdadeira não aparecer na obra, 
paradoxalmente, só é intuível, imageticamente, aí. Neste sentido, o 
objeto artístico dá ao conteúdo, isto é, à representação do real, uma 
forma comparável a ela mesma.
Portanto, o poeta como o gênio, ao vislumbrar a realidade 
criticamente, insere-se em uma dimensão utópica, à procura de uma 
or dem social mais humanizada, constituindo-se na possibilidade 
de reconciliação da alma com a essência e o sentido da vida, fato 
só possível, paraLukács (1974), na Antiguidade Clássica, e, para 
Benjamin, na fase pré-capitalista, em que as relações interpessoais 
eram próximas, e havia a noção de totalidade, porque era estreita a 
aproximação en tre produtor e produto.
Estas constantes não guardam uma inteireza que, a princípio, 
poderia parecer; no entanto, sedimentam dados que nos autorizam 
identificar, ao longo da Modernidade, um processo contínuo de 
dilaceramento da alma humana, diante de um mundo reificado, no 
qual não existe qualquer possibilidade de integração e harmonia, uma 
vez que até as relações interpessoais viram mercadoria.
 O juízo de gosto ou estético kantiano, de acordo com o 
posicionamento de H. Arendt, em Lições Sobre a Filosofia Política 
de Kant (1993), abre uma possibilidade ao juízo político, sendo 
enquadra do, na esfera de mudanças, ao status quo, visto transitarem 
pela doxa do contingente, ao contrário do juízo do entendimento ou 
do imperativo categórico, calcado o primeiro no necessário racional e 
o segundo, no sentido do dever. Assim, a poiesis e a política encon-
tram-se no movimento da descontinuidade, deixando abertura ao 
inusitado utópico.
 Esta visão dialética de Aufhebung (= superação) não deixa de 
considerar todo o ganho da filosofia das Luzes, à qual se acrescenta 
a possibilidade romântica, superando-se, assim, qualquer forma de 
ex clusão entre religião e ateísmo, de um lado, e espiritualismo e 
materialismo , de outro.
 Neste sentido, o bildung (= educação), como cultivo, como 
Apolo: filho de Zeus e 
Leto, e irmão gêmeo 
de Ártemis, deusa 
da caça. Era um dos 
mais importantes e 
multifacetados deuses do 
Olimpo. 
Fonte: http://www.
mundodosfilosofos.com.br/
apolo.htm
Modernidade: costuma 
ser entendida como um 
ideário ou visão de mundo 
que está relacionada 
ao projeto de mundo 
moderno, empreendido 
em diversos momentos ao 
longo da Idade Moderna 
e consolidado com a 
Revolução Industrial. Está 
normalmente relacionada 
com o desenvolvimento do 
Capitalismo.
Fonte: http://base.d-p-h.info/
pt/fiches/premierdph/fiche-
premierdph-3602.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zeus
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leto
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rtemis
http://pt.wikipedia.org/wiki/Olimpo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vis%C3%A3o_de_mundo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial
http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitalismo
http://base.d-p-h.info/pt/fiches/premierdph/fiche-premierdph-3602.html
http://base.d-p-h.info/pt/fiches/premierdph/fiche-premierdph-3602.html
http://base.d-p-h.info/pt/fiches/premierdph/fiche-premierdph-3602.html
Introdução aos estudos literários II:
literatura, correntes teórico-críticas 
36 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX
autoentendimen to, será utilizado como uma forma de alcançar 
o outro, assumindo os artistas, assim, a missão de guias da 
sociedade, a qual pretendem re formar, uma vez que esses detêm “o 
conhecimento dos segredos da Natureza” (NUNES,1991, p.52), ao 
mesmo tempo em que a obra encontra-se livre de regras externas no 
seu processo artístico em si, por transitar pelas representações da 
imaginação, distantes do conhecimento ob jetivo do Entendimento.
 Hegel, em Fenomenologia do Espírito (1992), estabelece 
a passagem da consciência imersa em si, destacando a inserção 
do humano, a partir dessa última, na dimensão do histórico-
cultural, chegando, no fim da obra, na revelação histórica do 
Espírito Absoluto, alcançando as três formas de estar no mundo: 
arte: (intuição), religião (representação) e filosofia (conceito). Ele 
destaca a possibilidade de homologia entre o espírito e a cultura, 
ou entre conceito e história, rumo a uma “história conceituada.” 
Entretanto, subsume o sujeito cognoscente, aquele capaz de 
conhecer, de entender, enquanto mediador, ao espírito absoluto, 
impossibilitando-o de alterar o devir.
 No cerne desta questão, encontramos um afã inerente ao 
próprio homem, em busca do contínuo, da totalidade harmoniosa, 
sem que a categoria de sujeito fique esquecida, algo aventado 
como precípuo para a modernidade. A partir dessa, portanto, os 
paradigmas passados foram questionados e a arte começa por 
refletir a instabilidade do gênero humano, colocando-o em constante 
conflito entre os valores anteriores e aqueles que traziam ares de 
conquista e emancipação. 
 Dizemos isso, porque, por conta de movimentos sociais de 
libertação, ainda no século XIX, como o Socialismo Utópico, o 
Anarquismo, o Marxismo, a Comuna de Paris, o Cartismo, o 
Ludismo, entre outros, há uma espécie de reversão da mímesis, 
que passa a ceder espaço a uma arte participação, de recusa, uma 
vez que o ideário de racionalidade não foi capaz de gerar o bem-
estar esperado, como apregoavam os líderes revolucionários da 
aurora da Liberdade. 
37Letras VernáculasUESC
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a
SAIBA MAIS
Socialismo Utópico: o pensamento socialista foi primeiramente formulado por Saint-
Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen 
(1771-1858). O socialismo defendido por estes autores foi, mais tarde, denominado 
de socialismo utópico por seus opositores marxistas (os quais, por oposição, se 
autodenominavam socialistas “científicos”), e vem do fato de seus teóricos exporem os 
princípios de uma sociedade ideal sem indicar os meios para alcançá-la. O nome vem da 
obra Utopia de Thomas More (1478-1535).
Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/socialismo-utopico.htm
Anarquismo: é uma filosofia política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a 
eliminação total de todas as formas de governo compulsório. De um modo geral, anarquistas são 
contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceita e, assim, preconizam 
os tipos de organizações libertárias.
Fonte: Enciclopédia Barsa, vol.15, 1966, p.24.
Marxismo: é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas 
primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas, mais tarde, por outros 
seguidores. Baseado na concepção materialista e dialética da História, interpreta a vida social 
conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes. 
O marxismo compreende o homem como um ser social histórico e que possui a capacidade de 
trabalhar e desenvolver a produtividade do trabalho, o que diferencia os homens dos outros 
animais e possibilita o progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o que proporciona 
o desenvolvimento das potencialidades humanas.
Fonte: Enciclopédia Barsa, vol.15, 1966, p. 315.
Comuna de Paris: foi a primeira experiência de ditadura do proletariado na história, governo 
revolucionário da classe operária criada pela revolução proletária, em Paris, e durou 72 dias: de 
18 de março a 28 de maio de 1871. A Comuna de Paris foi resultado da luta da classe operária 
francesa e internacional contra a dominação política da burguesia. A causa direta do surgimento 
da Comuna de Paris consistiu no agravamento das contradições de classe entre o proletariado e a 
burguesia decorrente da dura derrota sofrida pela França, na guerra contra a Prússia (1870-1871). 
O empenho do governo reacionário de Thiers da fazer recair o fardo dos gastos da guerra perdida 
sobre os amplos setores da população originou um poderoso movimento das forças democráticas. 
Fonte: http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/c/comuna_paris.htm
Cartismo: caracteriza-se como um movimento social revolucionário inglês, ocorrido entre 1836 
e 1850, tendo como base a carta escrita pelo radical William Lovett, intitulada Carta do Povo, e 
enviada ao Parlamento Inglês. Nesta, encontram-se as seguintes reivindicações políticas: sufrágio 
universal, eleições anuais, voto secreto e elegibilidade para os não proprietários.
Fonte: Enciclopédia Barsa, vol.15, 1966, p.100
Ludismo: é onome do movimento contrário à mecanização do trabalho, trazida pela Revolução 
Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo ludita (do inglês luddite) identifica toda pessoa que 
se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias, geralmente, vinculadas ao movimento 
anarcoprimitivista.
Fonte: http://www.suapesquisa.com/industrial/ludismo.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Saint-Simon
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Saint-Simon
http://pt.wikipedia.org/wiki/1760
http://pt.wikipedia.org/wiki/1825
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Fourier
http://pt.wikipedia.org/wiki/1772
http://pt.wikipedia.org/wiki/1837
http://pt.wikipedia.org/wiki/Louis_Blanc
http://pt.wikipedia.org/wiki/1811
http://pt.wikipedia.org/wiki/1882
http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Owen
http://pt.wikipedia.org/wiki/1771
http://pt.wikipedia.org/wiki/1858
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marxismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo_cient%C3%ADfico
http://pt.wikipedia.org/wiki/Utopia_%28livro%29
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_More
http://pt.wikipedia.org/wiki/1478
http://pt.wikipedia.org/wiki/1535
http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx
http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Engels
http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/thiers.htm
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=William_Lovett&action=edit&redlink=1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarcoprimitivismo
Introdução aos estudos literários II:
literatura, correntes teórico-críticas 
38 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX
Guardadas as discussões teóricas acerca da origem do 
romance, para Julia Kristeva de Le texte du Roman, encontra-
se na narrativa pós-épica medieval, quando ocorre a dissolução 
da comunidade europeia sustentada em uma economia natural 
fechada e dominada pelo cristianismo (1970, p.19). Diderot, por 
sua vez, não identifica qualquer vínculo entre o romance publicado, 
a partir do século XVIII, com a produção estética daquele anterior. 
E Kristeva identifica a mudança, que o romance tomou, em seus 
temas, após a Revolução Francesa. Para a teórica búlgara, 
radicada na França:
 
Por um romance, entendeu-se até hoje um tecido de 
acontecimentos quiméricos e frívolos, cuja leitura era 
perigosa para o gosto e para os costumes. Gostaria muito 
que se encontrasse um outro nome para as obras de 
Richardson, que educam o espírito, que tocam a alma, 
que respiram por todos os lados o amor do bem, e que são 
chamadas de romance (KRISTEVA,1970, p. 29).
 
Napoleão via o romance como uma forma de ter os pés 
no chão, assim, essa narrativa foi considerada como a “revolução 
literária do Terceiro Estado”, durante a Restauração, iniciada 
em 1840 e esteve, entre as mais publicadas. Foram publicados, 
na França, durante o império napoleônico, anualmente, cerca de 
quatro mil romances, representando uma dinâmica cultural antes 
nunca vista no país! 
Enquanto, no teatro, surge o drama, mistura da tragédia 
com a comédia, do grotesco com o sublime. No famoso prefácio 
do drama Cromwell, publicado em 1827, Victor Hugo coloca toda 
a sua verve condoreira em defesa da inspiração e da autonomia 
do artista.
Digamo-lo, pois, ousadamente. Chegou o tempo disso, e 
seria estranho que, nesta época, a liberdade, com a luz, 
penetrasse por toda a parte, exceto no que há de mais 
nativamente livre no mundo, as coisas do pensamento. 
[...] Não há regras nem modelos; ou antes, não há outras 
regras senão as leis gerais da natureza que plainam sobre 
toda a arte, e as leis especiais que, para cada composição, 
resultam das condições de existência próprias para cada 
assunto. [...] O poeta, insistamos neste ponto, não deve, 
pois pedir conselho senão à natureza, à verdade, e à 
inspiração, que é também uma verdade e uma natureza 
(HUGO, 2002, p.30).
 Na linha de raciocínio de Paul Valéry, de que não há possibilidade 
SAIBA MAIS
O Terceiro Estado: na 
França do Antigo Regime 
(Ancien Régime) e durante a 
Revolução Francesa, o termo 
Terceiro Estado (fr. Tiers État) 
indicava as pessoas que não 
faziam parte do clero (Primeiro 
Estado) nem da nobreza 
(Segundo Estado). Desses 
termos, veio o nome medieval 
da assembleia nacional 
francesa: os Estados Gerais 
(fr. États Généraux), análogo 
ao Parlamento britânico, mas 
sem tradição constitucional 
dos poderes parlamentares: 
a monarquia francesa reinava 
absoluta.
Fonte: http://variasvariaveis.sites.
uol.com.br/burguesia.html
Cromwell: segundo Hugo, 
seria uma nova forma de 
poesia fruto dos tempos 
modernos que deveria superar 
por completo as velhas 
manifestações clássicas que 
se prendiam em demasia a 
regras fixas. Para chegar até 
seu objetivo principal, Hugo 
realiza uma espécie de síntese 
histórica em que filia as 
formas de arte poética a três 
momentos do desenvolvimento 
histórico da humanidade, 
ou melhor, a três idades do 
mundo: os tempos primitivos, 
de primeiros encantos com 
o mundo, que seriam líricos 
e teriam nas odes e hinos 
suas formas de expressão; 
os tempos antigos, em que 
já haveria grandes impérios e 
acontecimentos narrados em 
poemas épicos; e, por fim, os 
tempos modernos, que seriam 
dramáticos.
Fonte: http://www.
espacoacademico.com.
br/046/46coliveira.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antigo_Regime
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Clero
http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Estado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Estado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Segundo_Estado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Assembl%C3%A9ia_dos_Estados_Gerais
http://pt.wikipedia.org/wiki/Parlamento
http://pt.wikipedia.org/wiki/Inglaterra
http://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia_absoluta
http://www.espacoacademico.com.br/046/46coliveira.htm
http://www.espacoacademico.com.br/046/46coliveira.htm
http://www.espacoacademico.com.br/046/46coliveira.htm
39Letras VernáculasUESC
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a
de definir o Romantismo, sob pena de prejudicar o rigor lógico; 
vamos agora, analisar textos, que representam a visão multifacetada 
do romantismo. O primeiro deles é um soneto do poeta brasileiro 
Álvares de Azevedo, constante de Lira dos Vinte anos (1994):
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’ alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
A imagem evocada pelo eu lírico é da mulher amada em um 
sonho. De forma não definida, concentrada, nas duas primeiras estrofes 
do poema, essa mulher é descrita como estando mais distante, etérea, 
difusa e inatingível: “lâmpada sombria”, “Sobre o leito de flores ela 
dormia”, “lua por noite embalsamada”, “Entre as nuvens do amor 
ela dormia”, “virgem do mar”, “escuma fria”, “Pela maré das águas 
embalada!“, “ ... anjo entre nuvens embalada”, “ ... em sonhos se 
banhava e se esquecia”. Por outro lado, nas estrofes seguintes, o ser 
amado ganha uma dimensão mais próxima possível de identificação, 
confirmando-se em: “... mais bela”, “seio palpitando”, “Negros olhos 
as pálpebras abrindo...”, “Formas nuas no leito resvalando”, “Não 
rias de mim, meu anjo lindo!”, “... as noites eu velei chorando!”, “... 
nos sonhos morrerei sorrindo!”. Apesar de os tercetos colocarem a 
mulher mais concreta, ela continua inacessível e distante, pois tudo 
não passou de umsonho. 
Tal atitude romântica coloca o ser amado em uma dimensão do 
sublime e da divindade; confirmando, assim, o que já foi dito acima, 
sobre o alcance dos puros conteúdos, presos a preceitos naturais 
de origem e harmonia, alcançados pela obra de arte. Os conteúdos 
puros, de que fala Kant, em Crítica da faculdade do juízo (1993), 
dão à arte uma dimensão desinteressada, porque essa não deve 
remeter à realidade mais imediata. Nesta perspectiva, o poema em 
Introdução aos estudos literários II:
literatura, correntes teórico-críticas 
40 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX
questão alcança o chamado princípio monadológico, Walter Benjamin 
(1993) e, da mesma sorte, se confirma o anseio de Romantisieren 
(romantizar) e de Bildung (cultivo) do eu poético e daquilo que ele 
enaltece, no caso, a figura feminina.
 Victor Hugo encerra, ao contrário dos poetas do ultraromantismo, 
de cunho escapista, como Álvares de Azevedo, uma opção pelo embate, 
frente aos problemas. Em Écrit, carta em versos, de 1846, no quinto 
livro, Contemplations, opta pelo enfrentamento revolucionário: 
Les Révolutions qui viennent tout venger,
 Font un bien éternel dans leur mal passager...
 A travers les rumeurs, les cadavres, les deuils,
 L’écume, et les sommets qui deviennent écueils,
 Les siècles devant eux poussent, désespérés,
 Les Révolutions, monstrueuses marées,
 Océans faits des pleurs de tout le genre humain.
 [ As revoluções que vêm vingar tudo,/Fazem um bem 
eterno no seu mal passageiro.../ Através dos rumores, dos cadáveres, 
dos lutos,/ Da espuma e dos cumes que se tornam escolhos,/ Os 
séculos empurram na sua frente, desesperados,/As revoluções, marés 
monstruosas,/Oceanos feitos dos prantos de todo o gênero humano] (apud 
PEYRE, 1971, p.87).
 Assim, o poeta saúda as revoluções, vistas como solução 
para os males da sociedade de então, com possibilidade de um futuro 
glorioso para a França. Victor Hugo, assim como Lamartine, outro 
artista francês, tiveram grande influência na poética de Castro Alves, 
considerado como fiel herdeiro desses mestres. O baiano traz para a 
Literatura Brasileira o espírito de combate, alinhado à linha platônica 
de poetar; ainda que o Romantismo tenha se oposto ao modelo 
clássico, como já vimos acima. Tal sinal foi repetido muito depois, 
não mais à luz do Liberalismo, mas sim do Marxismo, por um Carlos 
Drummond de Andrade, de A Rosa do Povo, entre outros.
 A causa maior defendida por Castro Alves (1964) é a Liberdade 
e atreladas a essa a Igualdade e a Fraternidade, universalizadas 
para todo o gênero humano, todos, em uma coordenada do espírito 
revolucionário de 1789. O poemeto épico O navio Negreiro do baiano 
guarda o tom condoreiro, de acordo com o seu antecessor Victor 
Hugo, isto é, com o uso de apóstrofes e hipérboles, que encerram a 
indignação do eu poético, bem como de hipérbatos, com inversões 
tão bruscas, que chegam a confundir o leitor.
 No sexto canto, do poema, o eu poético consegue 
empreender um embate crucial com os símbolos nacionais e históricos, 
que, a princípio, deveriam ser utilizados como índices de referência e 
41Letras VernáculasUESC
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distinção, mas são rechaçados, pelo que significam.
E existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se em uma festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
 Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto
 Que o pavilhão se lave no teu pranto...
 A bandeira, sendo um símbolo nacional, em uma epopeia 
clássica, ganharia a dimensão de enaltecimento e não de repulsa. 
Tal negação se justifica porque são nações que, em nome do lucro, 
- o tráfego dos navios negreiros rendia grandes somas – muitos 
viviam deste comércio repugnante; tanto, na África, na Europa, nas 
Américas, como no Brasil.
 Na estrofe seguinte, ocorre a abominação ao próprio pavilhão 
nacional. Especificamente, a instância poética se refere ao fato de o 
país ter-se sagrado vencedor da Guerra do Paraguai, há pouco extinta 
em março de 1870.
 
 Auriverde pendão de minha terra,
 Que a brisa do Brasil beija e balança,
 Estandarte que a luz do sol encerra,
 E as promessas divinas da esperança...
 Tu, que da liberdade após a guerra,
 Foste hasteado dos heróis na lança,
 Antes te houvessem roto na batalha,
 Que servires a um povo de mortalha!...
 Para, na estrofe seguinte, em tom de imprecação, através 
de vocativos, exortar José Bonifácio de Andrade e Silva, patrono da 
Independência do Brasil, a tomar uma providência efetiva contra a 
escravidão e, ao mesmo tempo, vindo a condenar a própria descoberta 
da América, quando diz:
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
... Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! Arranca este pendão dos ares!
Colombo! Fecha a porta de teus mares!
Introdução aos estudos literários II:
literatura, correntes teórico-críticas 
42 Módulo 3 I Volume 2 EAD
A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX
 Consequentemente, o regime feudal do Absolutismo, com seus 
valores e crenças, que motivaram a expansão marítima europeia, são 
colocados também em xeque, ao negar a dimensão histórica do feito 
de Colombo em 1492; uma vez que o Liberalismo acenava então com 
outra coordenada histórica, fundada em dados igualitários para toda 
a humanidade.
3 A VISÃO HISTORICISTA DAS TEORIAS CRÍTICAS DO 
SÉCULO XIX
 Entre outros teóricos, destaca-se Sainte-Beuve (1804-1868) 
como um dos principais críticos europeus do século XIX, que institui 
o método biográfico de análise literária; porque para ele, é impossível 
avaliar uma obra sem conhecer seu autor, seu perfil psicológico e 
moral. Esteve muito comprometido com o Positivismo de Augusto 
Comte, quando via a História em uma coordenada de progresso, 
rumo ao estágio positivo da matematização da vida.
 A par de Sainte-Beuve, ocorre a figura de Hyppolyte Taine 
(1828-1893). Fortemente influenciado pelas ciências naturais e seus 
métodos, em seu determinismo racionalista, e os estende à crítica 
da Literatura. Nas palavras de Eduardo Portella et al., em Teoria 
Literária (1991): 
A concepção literária de Taine exerceu uma larga influência 
por seu caráter tão claro quanto racionalista e como se 
depreende facilmente, o método literário científico parte 
da obra como pretexto para se concentrar no autor e 
sobretudo no homem e seu meio social. Predomina ainda 
o historicismo em detrimento do literário (PORTELLA et 
al.1991, p.23).
 Logo, Taine passa a ver a obra artística como produto do meio, 
da raça e do momento histórico, pois toda raça vive em um meio 
natural e sociopolítico, que age sobre a mesma, em um momento da 
evolução histórica. 
 O método biográfico, portanto, se volta para o meio, na busca 
do entendimento da obra. Mas há ainda outros teóricos vinculados ao 
historicismo evolucionista como Brunetière, quando viu os gêneros 
literários como organismos vivos, com nascimento, crescimento e 
morte. Lanson (1857-1934), por sua vez, estabeleceu seu método

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