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Introdução aos Estudos literários II: Literatura, Correntes teórico-críticas Universidade Estadual de Santa Cruz Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Pró-reitora de Graduação Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa Diretor do Departamento de Letras e Artes Prof. Samuel Leandro Oliveira de Mattos Ministério da Educação Ficha Catalográfica I61 Introdução aos estudos literários II : Literatura, cor- rentes teórico-críticas : Letras Vernáculas, módulo 3, volume 2 / Elaboração de conteúdo: Sandra Ma- ria Pereira do Sacramento. – [Ilhéus, BA] : UAB- UESC, [2010]. 148 p. : il. ; anexos. Inclui bibliografias. ISBN: 978-85-7455-194-4 1. Literatura – História e crítica. 2. Literatura – Esté- tica. 3. Estruturalismo. I. Sacramento, Sandra Maria Pereira do. II. Título: Letras Vernáculas : módulo 3, volume 2. CDD 809 Coordenação UAB – UESC Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado Coordenação do Curso de Licenciatura em Letras Vernáculas (EAD) Prof. Dr. Rodrigo Aragão Elaboração de Conteúdo Profª. Drª. Sandra Maria Pereira do Sacramento Instrucional Design Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera Profª. Drª. Gessilene Silveira Kanthack Revisão Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira Coordenação de Design Profª. Msc. Julianna Nascimento Torezani Diagramação Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké João Luiz Cardeal Craveiro Capa Sheylla Tomás Silva LE TR A S V ER N Á C U LA S EA D - U ES C AULA I Sumário AULA II A concepção clássica do artístico .................................................................................. 13 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15 2. PLATÃO ................................................................................................................... 16 3. LONGINO ................................................................................................................ 17 4. ARISTÓTELES .......................................................................................................... 18 5. HORÁCIO ................................................................................................................ 19 ATIVIDADE .............................................................................................................. 21 RESUMINDO ............................................................................................................ 21 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 22 LEITURA RECOMENDADA ........................................................................................... 22 ANEXO .................................................................................................................... 23 A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX ...........27 1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................29 2. A LIBERDADE ROMÂNTICA .........................................................................................30 3. A VISÃO HISTORICISTA DAS TEORIAS CRÍTICAS DO SÉCULO XIX ...................................42 ATIVIDADE ...............................................................................................................45 RESUMINDO .............................................................................................................45 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................46 LEITURA RECOMENDADA ............................................................................................47 ANEXO .....................................................................................................................48 AULA III A estilística da langue e a da parole ..............................................................................53 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................55 2 ESTILÍSTICA ..............................................................................................................56 ATIVIDADE ................................................................................................................61 RESUMINDO ..............................................................................................................62 REFERÊNCIAS ............................................................................................................62 LEITURA RECOMENDADA .............................................................................................62 ANEXO 1 ...................................................................................................................63 ANEXO 2 ...................................................................................................................66 AULA IV O formalismo russo: a autonomia do literário .............................................................. 69 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 71 2. FORMALISMO RUSSO ................................................................................................ 72 ATIVIDADE .............................................................................................................. 77 RESUMINDO ............................................................................................................ 78 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 78 LEITURA RECOMENDADA ........................................................................................... 79 ANEXO I .................................................................................................................. 79 ANEXO II ................................................................................................................ 80 AULA VI AULA VII AULA VIII AULA V O new criticism: a visão imanentista da obra literária ...................................................85 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................87 2 NEW CRITICISM .........................................................................................................88 ATIVIDADE ................................................................................................................91 RESUMINDO ..............................................................................................................92 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................92 ANEXO I....................................................................................................................93 O estruturalismo ..........................................................................................................95 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 97 2. ESTRUTURALISMO .................................................................................................... 98 ATIVIDADE .............................................................................................................105RESUMINDO ...........................................................................................................105 REFERÊNCIAS .........................................................................................................106 LEITURA RECOMENDADA ..........................................................................................106 ANEXO I .................................................................................................................107 ANEXO II ...............................................................................................................111 A estética da recepção................................................................................................ 115 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 117 2. ESTÉTICA DA RECEPÇÃO .......................................................................................... 118 ATIVIDADE ............................................................................................................. 125 RESUMINDO ........................................................................................................... 126 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 126 LEITURA RECOMENDADA .......................................................................................... 127 ANEXO ................................................................................................................... 128 A estética da recepção................................................................................................ 133 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 135 2. PÓS-ESTRUTURALISMO ............................................................................................ 136 ATIVIDADE ............................................................................................................. 144 RESUMINDO ........................................................................................................... 144 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 144 LEITURA RECOMENDADA .......................................................................................... 145 ANEXO ................................................................................................................... 146 DISCIPLINA INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS II: LITERATURA, CORRENTES TEÓRICO- CRÍTICAS Profª. Drª. Sandra Maria Pereira do Sacramento Ao final desta Aula I, você deverá identificar as várias concepções acerca do artístico à luz de Platão, Aristóteles, Longino e Horácio. Mostrar os conceitos básicos que digam respeito à Literatura, a partir da tradição clássica, com Platão, Aristóteles, Longino e Horácio. 1aula M et a Ob je tiv os A CONCEPÇÃO CLÁSSICA DO ARTÍSTICO 15Letras VernáculasUESC 1 A ul a AULA 1 A CONCEPÇÃO CLÁSSICA DO ARTÍSTICO 1 INTRODUÇÃO Você, ao longo da Aula I, terá acesso às várias concepções clássicas acerca do artístico. Platão, Aristóteles, Longino e Horácio - para o último a literatura é capaz de despertar, no leitor, o êxtase do sublime - se aproximam da visão conteudística da literatura. Aristóteles, entretanto, prega a autonomia do artístico; ainda que tenha sido discípulo do primeiro e procure superá-lo, em grande medida, ainda que encerre seu pensamento, como os outros, aliás, vinculado à procura do êidos, isto é, da harmonia perfeita do absoluto, do mundo das essências. A TE N Ç Ã O Antes do início desta Aula I, você deverá ter lido: • o capítulo 2 de Gêneros Literários, de Angélica Soares; • o capítulo 3, mais especificamente, da p. 23 à p. 28, de Teoria da Literatura, de Roberto Acízelo de Souza; • o capítulo 3, de Teoria da Literatura “ Revisitada”, de Magaly Trindade Gonçalves e Zina C. Bellodi; • toda a obra Arte Retórica e Arte Poética de Aristóteles; • toda a obra A poética clássica de Aristóteles, Horácio, Longino*. * As referências das obras encontram-se no final da Aula I. Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 16 Módulo 3 I Volume 2 EAD A concepção clássica do artístico 2 PLATÃO Platão, filósofo do período clássico da Grécia Antiga, não deixou um tratado específico sobre literatura. De algumas de suas obras, é que conseguimos retirar ensinamentos pertinentes ao artístico, como nos Diálogos, em Fedro, em Íon e em A República. Nos Diálogos, já aparece a preocupação de formulação de alguns postulados sobre a arte, em geral, e sobre a poesia, em particular. Em Fedro, sugere que o poeta deve ser considerado um ser inspirado, possesso, fora da racionalidade filosófica. Em Íon, por outro lado, vê o poeta, o rapsodo, como um ser inspirado por um dom divino; tendo Sócrates como personagem. Esse, em diálogo com Íon, defende a opinião de que o rapsodo, ao declamar versos, contagia os ouvintes com alucinações, pois a poesia, sendo simulacro, constitui imitação da aparência e não da realidade. Sócrates, para justificar o conceito artístico de Platão, pergunta a Íon: Quem poderá julgar melhor se Homero tratou corretamente da arte da guerra, um rapsodo ou um general? Defendendo, em seguida, em favor do general e não do rapsodo, uma vez que o artista não conhece a natureza e mesmo a utilização das coisas. A palavra simulacro guarda o significado de simular, enganar. Para a literatura, é utilizada como um princípio de imitação que o poeta faz da chamada realidade: Por outro lado, a imitação artística usa o lado ‘inferior’ das faculdades humanas, e quando ela se dirige ao público é essa parte inferior que ela procura estimular. Basicamente a poesia é produto de um conhecimento falho, emprega as faculdades inferiores da alma humana e estimula exatamente o que há de ‘desprezível’ no espírito do público (GONÇALVES; BELLODI, 2005, p.3). A questão do simulacro foi estudada por Platão, quando fala em A República sobre o problema do conhecimento na literatura. Para ele, a imitação da chamada realidade, feita pela poesia, só alcançaria o terceiro estágio da verdade; enquanto que o produto elaborado pelo artesão ocuparia o segundo estágio, porque este se encontra mais próximo da natureza reproduzida; cabendo, entretanto, somente ao filósofo, o alcance do mundo das ideias, refutando, assim, o simulacro. Em A República, Platão faz concessão ao poeta desde que esse SAIBA MAIS ΙΩΝ — Íon — pertence ao primeiro grupo dos diálogos de Platão e relata a conversa entre Sócrates e Íon de Éfeso, um rapsodo muito conhecido em Atenas. Não sabemos a data exata da composição; mas, a partir de diversas informações contidas no texto, é possível situá-la entre 394 e 391 a.C. Fonte: http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0337 A República: no século IV a.C., em data imprecisa, surgiu em Atenas a primeira concepção de sociedade perfeita que se conhece. Trata-se do diálogo “A República” (Politéia), escrito por Platão, o mais brilhante e conhecido discípulo de Sócrates. As ideias expostas por ele - o sonho de uma vida harmônica, fraterna, que dominasse para sempre o caos da realidade - servirão, ao longo dos tempos, como a matriz inspiradora de todas as utopias aparecidas e da maioria dos movimentos de reforma social, que, desde então, a humanidade conheceu. Fonte: http://educaterra.terra.com.br/ voltaire/politica/platao.htm 17Letras VernáculasUESC 1 A ul a esteja a serviço da educação do povo grego, admitindo somente a poesia que se adequasse à lei e à razão humana, através de hinos aos deuses e em louvor aos homens famosos. Em diálogo com Glauco, afirma: Quanto a seus protetores, que, sem fazer versos, amam a poesia, permitiremosque defendam em prosa e nos mostrem que não só é agradável, mas também útil, à república e aos particulares para o governo da vida. De bom grado os ouviremos, porque com isso só temos a lucrar, se nos puderem provar que aí se junta o útil ao agradável (PLATÃO, 1994, p.403). E o princípio utilitarista da literatura ganhou acolhida entre os romanos e influenciou a cultura ocidental posterior. Ao colocar, portanto, o literário a serviço do ideológico, com o propósito de ter existência reconhecida, é necessário ser útil à sociedade grega na formação de seus concidadãos. A razão, assim, devia conter a emoção, contrária a qualquer manifestação do desejo, fazendo, entretanto, concessão ao belo, ao bom e ao justo, quando o artístico deve estar em comum acordo com a ética. 3 LONGINO Não se sabe se o pensador grego Longino, de fato, viveu. Fala-se de um “pseudo-Longino” , entretanto, a obra Do sublime, a ele atribuída, abriu uma nova concepção do literário, ainda que esteja vinculada ao pensamento platônico, no que diz respeito à função utilitarista da literatura. Do sublime encerra a virtude da literatura como capaz de despertar, no leitor, o êxtase do sublime, através de técnica artística adquirida pelo trabalho e afinco do escritor. Longino destaca a importância na ênfase dada, no texto, ao uso das palavras capazes de empreender a reflexão no leitor: Quando, pois, uma passagem, escutada muitas vezes por um homem e sensato e versado em Literatura, não dispõe a sua alma a sentimentos elevados, nem deixa no seu pensamento matéria para reflexões além do que dizem as palavras, e, bem examinada sem interrupção, perde em apreço, já não haverá um verdadeiro sublime, pois dura apenas o tempo em que é ouvida. Verdadeiramente grande é o texto com muita matéria para reflexão, de árdua ou, antes, impossível resistência e forte lembrança, difícil de apagar (1981, p.76-7). Glauco: em A Repúbli- ca, aparece um grupo de amigos: Sócrates, dois irmãos de Platão - Glauco e Adimanto - e vários outros persona- gens, que serão pro- vocados pelo mestre. O diálogo vai tratar de assuntos relacionados à organização da so- ciedade e à natureza da política. Na Repúbli- ca ideal, concebida por Platão, o governo deve estar nas mãos dos filósofos, que são aqueles mais próximos da verdade, da ideia do bem e da justiça. A investigação platônica utiliza o método dialé- tico (palavra que tem, na sua origem, a noção de “diálogo”). Esse pro- cedimento consiste em apreender a realidade, através de posições contraditórias, até que uma delas é finalmente entendida como verda- deira e a outra como fal- sa. A dialética platônica é um processo indutivo, que vai da parte para o todo. Fonte: http://filosofandoehisto- riando.blogspot.com/2009/08/ os-dialogos-de-platao.html SAIBA MAIS Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 18 Módulo 3 I Volume 2 EAD A concepção clássica do artístico Assim, a leitura de uma obra bem elaborada, capaz de despertar o êxtase sublime, faz-se ecoar por muito tempo na mente do leitor atento, ao mesmo tempo em que se dinamiza a potencialidade do artístico. 4 ARISTÓTELES Aristóteles, discípulo de Platão, distancia-se do mestre em suas colocações acerca do artístico. Para quem a literatura é verdadeira e séria, por princípio, uma vez que o poeta ocupa-se do que poderia ter acontecido, segundo a verossimilhança ou a necessidade, e não com o que aconteceu como o faz o historiador. No capítulo IX da sua Arte Poética, que nos chegou de forma incompleta, afirma “a poesia é mais filosófica e de caráter mais elevado que a história, porque a poesia permanece no universal e a história estuda apenas o particular “(ARISTÓTELES, 1964, p. 278). Aristóteles, então, destaca a autonomia do artístico, na medida em que o vê como uma unidade, como um todo orgânico, em transcendência com a realidade evocada. Por isso, o conceito de cópia, de mímesis, deve ser entendido como uma espécie de recriação não assujeitada aos princípios da racionalidade, uma vez que essa é capaz de criar um mundo coerente em sua universalidade, com harmonia e perfeição. A catarse é outro conceito utilizado por Aristóteles, para definir a purificação dos sentimentos: temor ou piedade, experimentados pelo expectador, diante da tragédia. O autor propõe que: [O] terror e a compaixão podem nascer do espetáculo cênico, mas podem igualmente derivar do arranjo dos fatos, o que é preferível e mostra maior habilidade no poeta. [...] Como o poeta deve proporcionar-nos o prazer de sentir compaixão ou temor por meio de uma imitação, é evidente que essas emoções devem ser suscitadas nos ânimos pelos fatos (ARISTÓTELES, 1964, p. 588). Neste sentido, a obra de arte desperta o prazer e faz melhorar o espírito. Aristóteles, ao contrário de Platão, que usa o método dedutivo e normativo para falar da arte, não encerra, em seus escritos, nenhum preceito a ser seguido pelo artista, é antes ontológico e indutivo. E o princípio de imitação aristotélico liga-se às formas literárias na poesia épica e na poesia em geral, na tragédia e na comédia. Na poesia, ela ocorre de modo indireto, pela mediação 19Letras VernáculasUESC 1 A ul a narrativa; na tragédia e na comédia, de modo direto, através da ação dos atores. Logo, Aristóteles inaugura uma concepção do literário, em que a forma é valorizada em detrimento do conteúdo. Além da Arte Poética, o filósofo nos deixou a Arte Retórica, em que são colocadas questões atinentes à persuasão no texto literário, fora do contexto judiciário. A Retórica, para ele, é comparável à Dialética, no sentido socrático, isto é, a arte do diálogo. Em resposta a Platão, afirma que a Retórica, em si, não é má, deve ser, antes, bem usada na ágora, a serviço da democracia. A Retórica é útil porque o verdadeiro e o justo o são, por natureza, melhores que seus contrários. Donde se segue que, se as decisões não forem proferidas como convém, o verdadeiro e o justo serão necessariamente sacrificados: resultado este digno de censura (ARISTÓTELES, 1964, p. 20). Assemelha-se, portanto, à Dialética e sua tarefa não se resume a persuadir, mas a discernir os meios a serem utilizados a propósito de uma questão. A Retórica teve seguidores no mundo clássico e, na Roma de Cícero, (séc. I a.C) ganhou destaque. Quintiliano, por exemplo, escreveu Instituições oratórias já no século 1 da Era Cristã, em que disserta sobre eloquência, através do uso de tropos como metáfora, sinédoque, metonímia, alegoria, ironia, hipérbole e outros. SA IBA M A IS A tendência para a imitação é instintiva do homem, desde a infância. Neste ponto distingue-se de todos os outros seres, por sua aptidão muito desenvolvida para a imitação (ARISTÓTELES, 1964, p. 266). Quanto à epopéia, por seu estilo corre parelha com a tragédia na imitação de assuntos sérios, mas sem empregar um só metro simples e a forma narrativa. Nisto a epopéia difere da tragédia (ARISTÓTELES, 1964, p. 270). A comédia é imitação de maus costumes, não contudo de toda sorte de vícios, mas só daquela parte do ignominioso que é ridículo. O ridículo reside num defeito e numa tara que não apresentam caráter doloroso ou corruptor (ARISTÓTELES, 1964, p. 269). Ontológico: que diz respeito à ontologia. É a parte da filosofia, chamada de “filosofia primeira” por Aristóteles, denominada, posteriormente, de metafísica (pura ou geral). Etimologicamente, significa a “ciência do ente”, isto é, a doutrina do Ser supremo ou divino. Fonte: Dicionário de Filosofia, 1969, p.305. Ágora: praça das antigas cidades gregas, na qual se fazia o mercado e onde se reuniam, muitas vezes, as assembleias do povo. Fonte: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa - Aurélio Buarque de Holanda Ferreira 5 HORÁCIO Horácio é considerado o grande codificador das ideias platônicas de cunhoextraliterário, e dinamizador das ideias do filósofo grego em toda a Europa, com o princípio de Docere cum delectare, isto é, Ensinar deleitando, em que a literatura tem algo a ensinar para o seu leitor. Horácio altera em grande medida os preceitos aristotélicos. E a teoria desenvolvida durante o período clássico renascentista deve-se ao que foi codificado por Horácio, poeta da Roma antiga. Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 20 Módulo 3 I Volume 2 EAD A concepção clássica do artístico A ars poetica horaciana está encerrada na Epistola ad Pisones., carta escrita em hexâmetros dactílicos ao Cônsul romano Lúcio Pisão e a seus filhos sobre teoria literária, pois esses manifestavam grande interesse pelas artes e, em especial, pela literatura, tendo sido, inclusive, preceptor dos infantes. Segundo Pires: Com sentido altamente normativo, esta epístola é um verdadeiro código de preceitos a serem seguidos pelos que pretendiam produzir uma obra-de-arte literária. Sua importância começou a ser reconhecida por Quintiliano – algumas gerações mais tarde -, (...) (PIRES, 1989, p.19). O período clássico, a Idade Média e o Neoclassicismo, com Boileau serão influenciados, sobremodo, pelos preceitos pragmáticos horacianos de conceber o artístico. A atenção dada à ordem e à coerência no uso das palavras, bem como à unidade de tempo, lugar e ação, fizeram-no ponto de referência para os neoclássicos. E Rogel Samuel confirma a afirmação: “E a idéia horaciana de que cada gênero deve ter um único assunto, um caráter, uma linguagem e um metro apropriado se tornou doutrina central na crítica dos séculos XVII e XVIII”. (SAMUEL, 2002, p. 49). A literatura aí é concebida como resultado de um domínio técnico, ao qual se submete a inspiração, na junção, portanto, entre talento e arte. Sugere àqueles, que se iniciem neste ofício, a humildade para receber críticas e o uso do tempo para que o texto possa ser guardado e avaliado posteriormente, de forma mais detida. Em sua ars poetica, Horácio afirma: No âmago das palavras, deverás também ser útil e cauteloso e magnificamente dirás se, por engenhosa combinação, transformares em novidades as palavras mais correntes. Se por ventura for necessário dar a conhecer coisas ignoradas, com vocábulos recém- criados e formar palavras nunca ouvidas [...] podes fazê- lo e licença mesmo te é dada. Desde que a tomes com discrição. Assim, palavras há pouco forjadas, em breve terão ganho crédito se, com parcimônia, forem tiradas da fonte grega. http://www.latim.ufsc.br/986ED7F3-3F3A-4BC2-BBE3 Veja que, para o romano, o literário é consequência de um fazer trabalhoso, que altera o sentido das palavras usadas na linguagem corrente. O conceito de conotação, séculos mais tarde, cunhado pelo estruturalista Roman Jakobson, já se encontra de forma rudimentar em seus escritos. SAIBA MAIS Hexâmetro Dactílico: é uma forma de métrica poética ou esquema rítmico. É tradi- cionalmente associado à poe- sia épica, tanto grega quanto latina, como, por exemplo, a Ilíada e a Odisséia de Homero e a Eneida de Virgílio. Um dác- tilo é uma sequência de três sílabas poéticas, a primeira longa e as duas seguintes breves. Portanto, o verso hexâmetro dactílico ideal consiste em seis (do grego hexa) pés, cada um sendo um dactílico. Tipicamente, porém, o último pé do verso não é um dactílico, mas sim um espondeu ou um troqueu, ou seja, a penúltima sílaba é sempre longa e a última sí- laba pode ser breve ou longa. Fonte: http://greciantiga.org/ arquivo.asp?num=0161 21Letras VernáculasUESC 1 A ul a ATIVIDADE 1. Quais os pressupostos teóricos de Platão apresentados nesta aula? 2. Em que aspecto Aristóteles se distancia da concepção artística platônica? 3. O que Platão fala acerca da poesia n’Os Diálogos, em Fedro, em Íon e n’A República? 4. O que significa a expressão Docere cum delectare? 5. O que são mímesis e verossimilhança para Aristóteles? 6. Em que medida Longino se aproxima das ideias platônicas acerca do artístico? 7. Por que, para Aristóteles, a Retórica se assemelha à Dialética socrática? 8. Horácio se aproxima das ideias platônicas acerca do artístico? 9. Boileau, responsável pela disseminação, na Europa, do preceito clássico acerca do artístico, faz que colocações? RESUMINDO Você foi apresentado, nesta Aula I, às várias concepções clássicas acerca do artístico. Deve atentar para o fato de que Platão inaugura o enfoque do literário, pelo viés do conteúdo, tendo em Longino e em Horácio, da tradição romana, seus seguidores, enquanto Aristóteles se distancia de seu mestre, ao valorizar a autonomia do artístico. Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 22 Módulo 3 I Volume 2 EAD A concepção clássica do artístico R E F E R Ê N C IA S ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica. Tradução de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix/EDUSP, 1981. ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. ENCICLOPÉDIA Barsa. São Paulo: Melhoramentos, vol.15, 1966. GONÇALVES, Maria Magaly Trindade; BELLODI, Zina C. Teoria da Literatura “revisitada”. Petrópolis: Vozes, 2005. Le Petit Larousse Illustré, Larousse. Paris: 1998. PIRES, Orlando. Manual de Teoria e Técnica Literária. Rio de Janeiro: Presença, 1989. PLATÃO. A República. Tradução de Jair Lot Vieira. São Paulo: EDIPRO, 1994. SAMUEL, Roger. Novo manual de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 2002. SILVA, Vitor Manuel de A. Teoria da literatura. Coimbra: Almedina,1975. SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo: Ática, 2000. SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da Literatura. São Paulo: Ática, 2004. LEITURA RECOMENDADA ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica. Tradução de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix/EDUSP, 1981. GONÇALVES, Maria Magaly Trindade; BELLODI, Zina C. Teoria da Literatura “revisitada”. Petrópolis: Vozes, 2005. SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo: Ática, 2000. SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da Literatura. São Paulo: Ática, 2004. 23Letras VernáculasUESC 1 A ul aPLATÃO: nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre casta. Ao seu temperamento artístico deu, na mocidade, livre curso, que o acompanhou durante a vida toda, manifestando-se na expressão estética de seus escritos. Suas obras até hoje são objeto de análise e apreciação, a mais conhecida, entretanto, é A República, em que defende, na forma de diálogo, um modelo aristocrático de poder, governado pelos intelectuais. Fonte: http://www.mundodosfilosofos.com.br/platao.htm Ilustração - Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm21/images/images/Plato.gif ANEXO ARISTÓTELES: (384-322 a.C) foi um filósofo grego nascido na cidade de Estagira, na Calcídica, Macedônia, distante 320 quilômetros de Atenas. Essa cidade foi por muito tempo colonizada pelos jônicos, e, em virtude disto, ali se falava um dialeto jônico. O nome do pai de Aristóteles era Nicômaco, um médico. Aristóteles foi criado junto com um grupo de médicos, amigos de seu pai. Nicômaco chegou a servir a corte macedônica, a serviço do rei Amintas, pai de Felipe, futuro rei. Na sua juventude, teria jogado fora seu patrimônio e, aos dezoito anos, foi para Atenas, a fim de aperfeiçoar sua espiritualidade, e lá ingressou na Academia, onde se tornou discípulo de Platão, o que marcaria profundamente sua biografia. Fonte: hLttp://www.consciencia.org/aristoteles.shtml Ilustração - Fonte: http://www.ilt.columbia.edu/Publications/Projects/digitexts/aristotle/bio_aristotle.html HORÁCIO: (65-8 a.C.) poeta latino; nasceu em Venúsia. Dono de estilo puro e rigoroso, onde a brevidade da metáfora,alia-se à surpreendente economia verbal. Sua obra exerceu influência na literatura ocidental. Fonte: Enciclopédia Barsa. vol.15, 1966, p.248. Ilustração - Fonte: http://www.carpegeel.be/hora.aspx Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 24 Módulo 3 I Volume 2 EAD A concepção clássica do artístico Quintiliano: nasceu em Calahorra, no ano de 35, e faleceu em Roma, no ano 96. Foi professor de retórica, filólogo conceituado e advogado. Recebeu toda a sua educação em Roma, onde, mais tarde, abriu uma escola de Retórica. Foi o primeiro professor a ser pago pelo Estado. Fonte: Le Petit Larousse, 1998, p. 1617. Ilustração - Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Calahorra,_estatua_de_Quintiliano.JPG Boileau: Nicolas Boileau - (1636-1711), escritor francês, historiador de Luís XIV, autor de uma célebre Arte Poética (1674), que contribuiu para disseminar o ideal literário do classicismo em todo o Ocidente. Fonte: Le Petit Larousse, 1998, p. 1190. Ilustração - Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicolas_Boileau.jpg Suas anotações ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 2aula Ao final desta Aula II, espera-se que você esteja dominando teorias tributárias ao historicismo do século XIX e seus representantes mais significativos que respondem pelo Romantismo e pelo Realismo-naturalismo. Apresentar os conceitos básicos que digam respeito à Literatura, de acordo com Immanuel Kant e Victor Hugo, na busca do entendimento da poética e da liberdade românticas; bem como mostrar a influência da História nas teorias críticas do século XIX, com Sainte-Beuve, Hyppolyte Taine, Brunetière e Lanson.M et a Ob je tiv os A LIBERDADE ROMÂNTICA E A VISÃO HISTORICISTA DAS TEORIAS CRÍTICAS DO SÉCULO XIX 29Letras VernáculasUESC 2 A ul a AULA 2 A LIBERDADE ROMÂNTICA E A VISÃO HISTORICISTA DAS TEORIAS CRÍTICAS DO SÉCULO XIX A TE N Ç Ã O Antes do início desta Aula II, você deverá ter lido: • os capítulos 7 e 8, de Períodos Literários, de Lígia Cademartori; • os capítulos 8 e 11, de Introdução à filosofia da arte, de Benedito Nunes; • o capítulo 6, especificamente, da p. 74 à p. 98 de Teoria da Literatura “revisitada”, de Maria Magaly Trindade Gonçalves e Zina Bellodi; • O capítulo 3, especificamente, da p. 28 à p. 33, de Teoria da Literatura, de Roberto Acízelo de Souza; • os capítulos 1, 2 e 3 de O Caráter Social da Ficção do Brasil, de Fábio Lucas*. * As referências das obras encontram-se no final da Aula II. 1 INTRODUÇÃO Nesta Aula II, vamos trabalhar com conceitos básicos que digam respeito à Literatura, bem como a influência da História nas teorias críticas do século XIX, com os conceitos de arte para Hegel, Immanuel Kant e Victor Hugo, na busca do entendimento da poética e da liberdade românticas; bem como a realista e a naturalista, com Sainte-Beuve, Hyppolyte Taine, Brunetière e Lanson. Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 30 Módulo 3 I Volume 2 EAD A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX 2 A LIBERDADE ROMÂNTICA O Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII, na Europa, que perdurou por grande parte do século XIX. Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo, que marcou o período neoclássico, e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa. E o princípio historiográfico da época significou uma grande mudança de perceber o mundo, ao dar destaque à vida coletiva e aos seus modos de atribuir sentidos comuns, pois o homem percebeu que vive em comunidade, que lhe dá sentido de existência. É o que diz Victor Manuel de A. Silva, em sua Teoria da Literatura (1975): Logo no dealbar do século XIX, Mme. de Staël demonstrou na sua obra intitulada De la Littérature, que a literatura é intimamente solidária com todos os aspectos da vida coletiva do homem, verificando-se que cada época possui uma literatura peculiar, de acordo com as leis, a religião e os costumes próprios dessa época (SILVA, 1975, p. 444). A partir do Romantismo, o homem percebe-se um ser histórico, tendo a História e a Crítica literárias condicionadas a uma perspectiva historicista de ver o fenômeno literário. A História Literária, por exemplo, estará ligada à filologia em busca da reconstituição e compreensão dos textos literários do passado e a crítica, por sua vez, valorizará tudo o que diga respeito ao passado e à sua herança como justificativa do presente. Para Paul Valéry, não há possibilidade de definir o Romantismo, sob pena de prejudicar o rigor lógico, pois o mesmo é multifacetado em seus temas e motivos. Segundo Alfredo Bosi, em História Concisa da Literatura Brasileira (1976), trata-se de um momento de definição alinhada aos valores burgueses no Ocidente, a partir da Revolução Francesa de 1789, ainda que essa tenha vários desdobramentos posteriores no século seguinte. Para o estudioso, ocorre uma série de mudanças, até então nunca vista naEuropa, diante de uma nova classe em ascensão. Neste momento, então: Definem-se as classes: a nobreza, há pouco apeada do poder; a grande e a pequena burguesia, o velho campesinato, o operariado crescente. Precisam-se as visões da existência: nostálgica, nos decaídos Ancien Regime; primeiro eufórica, depois prudente, nos novos proprietários; já inquieta e logo libertária nos que vêem bloqueada a própria ascensão dentro dos novos quadros; http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIII http://pt.wikipedia.org/wiki/Europa http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XIX http://pt.wikipedia.org/wiki/Vis%C3%A3o_de_mundo http://pt.wikipedia.org/wiki/Racionalismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoclassicismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalismo 31Letras VernáculasUESC 2 A ul a imersa ainda na mudez da inconsciência, naquele para os quais não soara em 89 a hora da Liberdade-Igualdade- Fraternidade (BOSI, 1977, p.99). A literatura do período romântico, se, por um lado, endossará as ideias correntes burguesas e estará também disponível para compor as comunidades imaginadas (ANDERSON, 2008), não tarda a expor as fraturas advindas da impossibilidade de implementação da utopia social. Weber (2004), em sua análise clássica sobre a modernidade, vai dizer que essa já nasceu sob a égide da crise, uma vez que oportuniza a alteração da visão tradicional do mundo, amparada sobremodo na religião, substituída pela racionalização, colocando o homem em três esferas, enquanto pai de família, trabalhador e cidadão. Göethe, ao se referir à literatura do período, advoga para o clássico a saúde e, para o romântico, a doença. Nesse processo, a ânsia de totalização vai-se colocar para o artista que detém a noção de finitude, em uma sociedade capitalista cada vez mais burocratizada. A obra de arte, fruto de um olhar crítico ao que a circunda, encarna a busca de totalidade, denunciadora de um mundo reificado, uma vez que o eu não se encontra integrado a ele próprio e ao que o cerca. A poética que marca o período romântico faz-se estruturada sobre o símbolo, enquanto a pós-romântica é condicionada pela pre- sença da alegoria. Tanto o símbolo, quanto a alegoria são tropos, isto é, figuras de linguagem, que refletem um ideal de unidade, reivin- dicado por uma época. O símbolo estrutura-se, ainda, em uma dimensão analógica de continuidade, enquanto a alegoria já indicia toda a impossibilidade reclamada pela busca de inteireza. Essa mostra as fraturas de uma realidade que não foi capaz de gerar o bem-estar apregoado pelo telos revolucionário, sintetizado na tríade Igualdade – Liberdade – Fraternidade. Vale destacar que o processo revolucionário francês estendeu-se por dez anos, sendo visto, por historiadores, em fases: moderada (1789-1792), radial (1792-1794) e conservadora (1794- 1799). Essa última abriu espaço para o golpe do 18 Brumário, em alusão ao segundo mês do Calendário Revolucionário Francês, que esteve em vigor na França de 22 de setembro de 1792 a 1831, com SAIBA MAIS Mundo Reificado: para Marx e Engels, em A Ideologia Alemã (1986), ao falarem na divisão do trabalho, afirmam que, na produção mecanizada, o operário serve à máquina, tornando-se simples apêndice desta e o princípio subjetivo da divisão do trabalho desaparece, em face da objetivação do complexo de produção. Neste momento, ocorre a alienação, o trabalhador é distanciado daquilo que produz e o produto do seu trabalho se torna reificado, isto é, coisa (do Latim res,rei), porque passa a valer pela própria realidade. Assim, a crise do artesanato, graças à Revolução Industrial, com a produção em série, traz desdobramentos para o social, o econômico e o ideológico; estendendo-se, dessa sorte, à arte e ao artista. Um exemplo do processo de reificação, de objetificação do trabalhador, que se torna um autômato, encontramos no filme Tempos Modernos (1931), dirigido e encenado por Charles Chaplin. Fonte: SACRAMENTO, 2004, p.45. Símbolo: aquilo que, por um princípio de analogia, representa ou substitui outra coisa. Fonte: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa - Aurélio Buarque de Holanda Ferreira Alegoria: exposição de um pensamento sob forma figurada. Fonte: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa - Aurélio Buarque de Holanda Ferreira Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 32 Módulo 3 I Volume 2 EAD A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX a posterior ascensão do General Bonaparte, que é considerado como o grande responsável pela consolidação dos ideais burgueses e que expandiu o militarismo da França e mesmo o da Europa, de um modo geral. Kant, em Crítica da faculdade do juízo (1993), parte de dois tipos de finalidades para a arte: a finalidade estética e a finalidade teleológica. O juízo ou finalidade teleológica diferencia-se do estético porque aquele age se- gundo as exigências da razão, voltado para um objetivo, enquanto para o segundo, o objeto está relacionado a um fim subjetivo, de acordo com o sentimento de eficácia, experimentado pelo homem. Estas finalidades, ou juízos reflexionantes, ficam sob o signo do como se, isto é, do pensamento hipotético das possibilidades, como fator transcendental. O ser humano é capaz de fazer um juízo para qualificar determina do objeto de Belo ou não, e o faz desinteressada e contemplativamente, sendo um prazer subjetivo, porém universal, capaz de ser comunicá vel. Assim, o Belo tem um fim em si mesmo, pairando acima dos nexos de causa-efeito, dos fins objetivos naturais; e, por isso mesmo, nesta realidade, em suspenso, a liberdade se instala, visto aguardar a afirmação do Espírito, detentor dos “fins ideais da ordem ética” (NUNES, 1991, p. 50). Kant (1993), como era idealista, advogava para a ideia, interiorizada em cada um de nós, a detenção da Beleza, uma vez que esta é univer- sal, acontece com todos os seres humanos. E o prazer estético só ocorre devido ao jogo de imaginação. Este institui-se vindo do sin gular, para, a partir daí, tentar extrair uma regra universal. Para Kant, o juízo estético ou de gosto está em conexão com o comunal, isto é, com a dimensão intersubjetiva (= política), uma vez que, em sociedade, é ativado o sensus communis, isto é, uma concor dância das sensações do que seja Belo e harmonioso, e que depende do discurso para a sua comunicação, implicando a interação dos homens “como criaturas limitadas à Terra, vivendo SAIBA MAIS Telos: significa fim (finalidade), e que, por sua vez, remete à ideia de felicidade, à busca da vida boa. O Bem, em si mesmo, é o fim a que todo ser aspira, resultando na perfeição, na excelência, na arte ou na virtude. Todo ser dotado de razão aspira ao Bem como fim que possa ser justificado pela razão. Teleologia foi um termo criado por Wolff para indicar “a parte da filosofia natural que explica os fins das coisas” ( Log., 1728, Disc. prael.,§ 85). O mesmo que finalismo (v.). Fonte: Dicionário de Filosofia, 1998, p. 943. Igualdade – Liberdade - Fraternidade: trilogia atribuída ao filósofo Jean-Jacques Rousseau, de uso corrente durante a Revolução Francesa, a partir de 1789; quando se inicia um longo período de convulsões políticas; com desdobramentos de várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia constitucional e dois impérios. Fonte: http://www.mundodosfilosofos.com.br/lea4.htm Teleológico: diz-se de argumento, conhecimento ou explicação que relaciona um fato com sua causa final. Fonte: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa - Aurélio Buarque de Holanda Ferreira Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A8ne_Delacroix Figura 1: Reprodução da pintura de Delacroix La Libertè guidant le peuple. Nestequadro, aparecem as classes sociais, aliás, conceito firmado pelo Liberalismo, ainda que se encontre, no mesmo, unidas por uma única causa: a Liberdade. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau 33Letras VernáculasUESC 2 A ul a em comunidades, (...) cada qual precisando da companhia do outro, mesmo para o pensamento” (ARENDT, 1993, p.37). O conceito de juízo reflexionante estético alcança uma ampli tude durante o Romantismo, porque está sustentado sob a relativização do pensar, do criticar, em relação ao papel do filósofo e extensivo a qualquer pensante, envol vendo mesmo a própria poiésis artística. Para Arendt, Kant insurge-se contra a tradicional distinção hierárquica que opõe a maioria filosofante à maioria ignorante, redefinindo-a nos termos da distinção entre o ator engajado na ação e o espectador crítico e imparcial que, se permanece alheio ao engajamento, nem por isso pretende-se portador de uma ver dade contemplada [...] (1993, p. 114). Porque o ator é também espectador, visto ambos serem capazes de dispor da mente pensante. Ator e espectador são manei- ras de estar no mundo. Assim, o poeta, para o Romantismo, cons- titui aquele ser superior que é capaz de apreender, em formas, nos limites da legalidade da imaginação, o Absoluto, que detém toda a sabedoria. A obra de arte constitui aquilo que Walter Benjamin (1993) cha mou de princípio monadológico, isto é, a obra como mônada, porque vale por si mesma, como objeto estético, mas não pode ser prescindida da reflexão social, na qual se inscreve, sendo, portanto, parte de um todo. O Romantizar está condicionado a um conceito que o irmana a todo o ethos do período chamado Romantismo. E, apesar de, a prin cípio, lembrar devaneio, alucinação, o termo prende-se a Romantisieren, que ganha uma amplitude de investigação. Assim, Novalis o tem “como a habilidade característica do gênio que vincula os objetos exteriores às idéias ao manipular os objetos exteriores como se fossem idéias” (apud SCHLEGEL, 1994, p. 12). Assim, Romantizar e Bildung complementam-se, em termos de ação, uma vez que o último vem de bilden (= cultivar), como ele mento de formação, tanto daquele que cultiva, quanto do objeto cultivado, lembrando-nos a estreiteza desenvolvida entre o jardinei ro e seu jardim. No cerne desta questão, encontramos um afã inerente à busca do contínuo, da totalidade harmoniosa, sem que a categoria de sujeito fique esquecida. E aspectos, aparentemente contrários, como vida e espírito, genérico e individual, natureza e cultura, tendem a se fundir num todo uníssono e orgânico, tornan do-se este ideal romântico uma espécie de religião secularizada. Mônada: por ter significado diferente de Unidade (v.), esse termo designa uma unidade real inextensa, portanto espiritual. Giordano Bruno foi o primeiro a empregar esse termo nesse sentido, concebendo a M. Como o minimum, como unidade indivisível que constitui o elemento de todas as coisas (De minimo, 1591; De Monade, 1591). Fonte: ABBAGNANO, 1998, p.680-690. Ethos: na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. A palavra ethos tem origem grega e significa valores, ética, hábitos e harmonia. É o “conjunto de hábitos e ações que visam o bem comum de determinada comunidade”. Ainda mais especificamente, a palavra ethos significava, para os gregos antigos, a morada do homem, isto é, a natureza. Fonte: http://www2.fcsh.unl. pt/edtl/verbetes/E/ethos.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia http://pt.wikipedia.org/wiki/Povo http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunidade http://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 34 Módulo 3 I Volume 2 EAD A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX Quando esta possibilidade não é alcançada, surge a ironia, como índice do que Schiller chama de beleza lógica. Neste processo, o in divíduo abandona qualquer modelo interpretativo anterior, para, munido de seus próprios aparatos intelectuais, apreender aquilo que o cerca e ansiar o absoluto. E aí, arte e filosofia imbricam-se, porque esta, como elemento especulativo, é vista em trajeto de mão dupla de sensibilização do espírito e espiritualização do sensível, ao tentar a viabilização do geral, universal, via particular. Particular o geral, eis a audácia romântica. Os românticos utilizaram-se, sobremodo, do fragmento, do ensaio, como possibilidade, na finitude do provisório, do inacabado concreto. O fragmento vale-se da reflexão estética, que é um modo de interposição do sujeito cognoscente, entre o dado geral, firmado no conceito, e a noção de belo, fruto do livre-jogo. Walter Benjamin, em O Conceito de Crítica de Arte no Roman tismo Alemão, reproduzindo o famoso fragmento 116 das lições da Atenuam de Schlegel, expõe acerca da poesia, como medium-de-reflexão, isto é, um meio, uma forma de reflexão: “melhor flutuar pelas asas da reflexão poética no intermédio, entre o exposto e o expositor, livre de todo interesse e potenciar sempre novamente esta reflexão e multiplicá-la como série infindável de espe lhos” (1993, p.72). Estriba-se o poeta romântico nos juízos reflexionantes estéticos, tendo como princípio o dado sentido pelo sujeito. E as regras aplicadas à arte, segundo Kant, são fornecidas pelo gênio, que possui talento (= dom natural), anterior à obra realizada, na esfera da natureza verdadeira. O artista gênio, ao representar uma determinada realidade, altera papéis até então auto-delimitantes, diante da vida, isto é, de espectador e ator. Hannah Arendt aproxima o gênio do ator político, pela sua to mada de posição, pelo seu juízo crítico, ainda que aquele paire na possibilidade de concretização, em seu ato investigativo. Neste senti- do, o artista é espectador porque as decisões mais concretas não de- pendem de si; ao mesmo tempo, é ator, ao expor sua subjetividade na polis, sobressaindo a autonomia do ego, além e acima das leis que faz. Para Walter Benjamin, em sua obra O Conceito de Crítica de Arte no Romantismo Alemão, a arte deve ser vista na dimensão do mundo das ideias e não entendida presa a uma circunstância: Correspondendo a ela, portanto, o Ideal enquanto o a priori do conteúdo agregado. A Idéia é a expressão da infinidade da arte e de sua unidade. [...]. Como Idéia entende-se neste con texto o a priori de um método, [...]. De um tal a priori parte a filosofia da arte de Göethe (BENJAMIN, 1993, p.72). 35Letras VernáculasUESC 2 A ul a Desse modo, Göethe aproxima-se do Ideal musal de arte dos gregos, com a soma dos conteúdos puros, quando estes atribuíam às musas a fonte de inspiração, em consonância com a ação de Apolo, possuidor dos puros conteúdos, limitados e harmônicos. Estes puros conteúdos seriam arquétipos invisíveis, presos a preceitos naturais de origem e harmonia, somente intuíveis, não alcançados pela obra de arte, sendo as únicas depositárias. Esses conteúdos puros não podem ser unidos com a natureza mesma, pois a obra de arte, por ser desinteressada, tem domínio nos seus próprios conteúdos. Apesar de a natureza verdadeira não aparecer na obra, paradoxalmente, só é intuível, imageticamente, aí. Neste sentido, o objeto artístico dá ao conteúdo, isto é, à representação do real, uma forma comparável a ela mesma. Portanto, o poeta como o gênio, ao vislumbrar a realidade criticamente, insere-se em uma dimensão utópica, à procura de uma or dem social mais humanizada, constituindo-se na possibilidade de reconciliação da alma com a essência e o sentido da vida, fato só possível, paraLukács (1974), na Antiguidade Clássica, e, para Benjamin, na fase pré-capitalista, em que as relações interpessoais eram próximas, e havia a noção de totalidade, porque era estreita a aproximação en tre produtor e produto. Estas constantes não guardam uma inteireza que, a princípio, poderia parecer; no entanto, sedimentam dados que nos autorizam identificar, ao longo da Modernidade, um processo contínuo de dilaceramento da alma humana, diante de um mundo reificado, no qual não existe qualquer possibilidade de integração e harmonia, uma vez que até as relações interpessoais viram mercadoria. O juízo de gosto ou estético kantiano, de acordo com o posicionamento de H. Arendt, em Lições Sobre a Filosofia Política de Kant (1993), abre uma possibilidade ao juízo político, sendo enquadra do, na esfera de mudanças, ao status quo, visto transitarem pela doxa do contingente, ao contrário do juízo do entendimento ou do imperativo categórico, calcado o primeiro no necessário racional e o segundo, no sentido do dever. Assim, a poiesis e a política encon- tram-se no movimento da descontinuidade, deixando abertura ao inusitado utópico. Esta visão dialética de Aufhebung (= superação) não deixa de considerar todo o ganho da filosofia das Luzes, à qual se acrescenta a possibilidade romântica, superando-se, assim, qualquer forma de ex clusão entre religião e ateísmo, de um lado, e espiritualismo e materialismo , de outro. Neste sentido, o bildung (= educação), como cultivo, como Apolo: filho de Zeus e Leto, e irmão gêmeo de Ártemis, deusa da caça. Era um dos mais importantes e multifacetados deuses do Olimpo. Fonte: http://www. mundodosfilosofos.com.br/ apolo.htm Modernidade: costuma ser entendida como um ideário ou visão de mundo que está relacionada ao projeto de mundo moderno, empreendido em diversos momentos ao longo da Idade Moderna e consolidado com a Revolução Industrial. Está normalmente relacionada com o desenvolvimento do Capitalismo. Fonte: http://base.d-p-h.info/ pt/fiches/premierdph/fiche- premierdph-3602.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Zeus http://pt.wikipedia.org/wiki/Leto http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rtemis http://pt.wikipedia.org/wiki/Olimpo http://pt.wikipedia.org/wiki/Vis%C3%A3o_de_mundo http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitalismo http://base.d-p-h.info/pt/fiches/premierdph/fiche-premierdph-3602.html http://base.d-p-h.info/pt/fiches/premierdph/fiche-premierdph-3602.html http://base.d-p-h.info/pt/fiches/premierdph/fiche-premierdph-3602.html Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 36 Módulo 3 I Volume 2 EAD A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX autoentendimen to, será utilizado como uma forma de alcançar o outro, assumindo os artistas, assim, a missão de guias da sociedade, a qual pretendem re formar, uma vez que esses detêm “o conhecimento dos segredos da Natureza” (NUNES,1991, p.52), ao mesmo tempo em que a obra encontra-se livre de regras externas no seu processo artístico em si, por transitar pelas representações da imaginação, distantes do conhecimento ob jetivo do Entendimento. Hegel, em Fenomenologia do Espírito (1992), estabelece a passagem da consciência imersa em si, destacando a inserção do humano, a partir dessa última, na dimensão do histórico- cultural, chegando, no fim da obra, na revelação histórica do Espírito Absoluto, alcançando as três formas de estar no mundo: arte: (intuição), religião (representação) e filosofia (conceito). Ele destaca a possibilidade de homologia entre o espírito e a cultura, ou entre conceito e história, rumo a uma “história conceituada.” Entretanto, subsume o sujeito cognoscente, aquele capaz de conhecer, de entender, enquanto mediador, ao espírito absoluto, impossibilitando-o de alterar o devir. No cerne desta questão, encontramos um afã inerente ao próprio homem, em busca do contínuo, da totalidade harmoniosa, sem que a categoria de sujeito fique esquecida, algo aventado como precípuo para a modernidade. A partir dessa, portanto, os paradigmas passados foram questionados e a arte começa por refletir a instabilidade do gênero humano, colocando-o em constante conflito entre os valores anteriores e aqueles que traziam ares de conquista e emancipação. Dizemos isso, porque, por conta de movimentos sociais de libertação, ainda no século XIX, como o Socialismo Utópico, o Anarquismo, o Marxismo, a Comuna de Paris, o Cartismo, o Ludismo, entre outros, há uma espécie de reversão da mímesis, que passa a ceder espaço a uma arte participação, de recusa, uma vez que o ideário de racionalidade não foi capaz de gerar o bem- estar esperado, como apregoavam os líderes revolucionários da aurora da Liberdade. 37Letras VernáculasUESC 2 A ul a SAIBA MAIS Socialismo Utópico: o pensamento socialista foi primeiramente formulado por Saint- Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen (1771-1858). O socialismo defendido por estes autores foi, mais tarde, denominado de socialismo utópico por seus opositores marxistas (os quais, por oposição, se autodenominavam socialistas “científicos”), e vem do fato de seus teóricos exporem os princípios de uma sociedade ideal sem indicar os meios para alcançá-la. O nome vem da obra Utopia de Thomas More (1478-1535). Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/socialismo-utopico.htm Anarquismo: é uma filosofia política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de governo compulsório. De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceita e, assim, preconizam os tipos de organizações libertárias. Fonte: Enciclopédia Barsa, vol.15, 1966, p.24. Marxismo: é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas, mais tarde, por outros seguidores. Baseado na concepção materialista e dialética da História, interpreta a vida social conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes. O marxismo compreende o homem como um ser social histórico e que possui a capacidade de trabalhar e desenvolver a produtividade do trabalho, o que diferencia os homens dos outros animais e possibilita o progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o que proporciona o desenvolvimento das potencialidades humanas. Fonte: Enciclopédia Barsa, vol.15, 1966, p. 315. Comuna de Paris: foi a primeira experiência de ditadura do proletariado na história, governo revolucionário da classe operária criada pela revolução proletária, em Paris, e durou 72 dias: de 18 de março a 28 de maio de 1871. A Comuna de Paris foi resultado da luta da classe operária francesa e internacional contra a dominação política da burguesia. A causa direta do surgimento da Comuna de Paris consistiu no agravamento das contradições de classe entre o proletariado e a burguesia decorrente da dura derrota sofrida pela França, na guerra contra a Prússia (1870-1871). O empenho do governo reacionário de Thiers da fazer recair o fardo dos gastos da guerra perdida sobre os amplos setores da população originou um poderoso movimento das forças democráticas. Fonte: http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/c/comuna_paris.htm Cartismo: caracteriza-se como um movimento social revolucionário inglês, ocorrido entre 1836 e 1850, tendo como base a carta escrita pelo radical William Lovett, intitulada Carta do Povo, e enviada ao Parlamento Inglês. Nesta, encontram-se as seguintes reivindicações políticas: sufrágio universal, eleições anuais, voto secreto e elegibilidade para os não proprietários. Fonte: Enciclopédia Barsa, vol.15, 1966, p.100 Ludismo: é onome do movimento contrário à mecanização do trabalho, trazida pela Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo ludita (do inglês luddite) identifica toda pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias, geralmente, vinculadas ao movimento anarcoprimitivista. Fonte: http://www.suapesquisa.com/industrial/ludismo.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Saint-Simon http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Saint-Simon http://pt.wikipedia.org/wiki/1760 http://pt.wikipedia.org/wiki/1825 http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Fourier http://pt.wikipedia.org/wiki/1772 http://pt.wikipedia.org/wiki/1837 http://pt.wikipedia.org/wiki/Louis_Blanc http://pt.wikipedia.org/wiki/1811 http://pt.wikipedia.org/wiki/1882 http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Owen http://pt.wikipedia.org/wiki/1771 http://pt.wikipedia.org/wiki/1858 http://pt.wikipedia.org/wiki/Marxismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo_cient%C3%ADfico http://pt.wikipedia.org/wiki/Utopia_%28livro%29 http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_More http://pt.wikipedia.org/wiki/1478 http://pt.wikipedia.org/wiki/1535 http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Engels http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/thiers.htm http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=William_Lovett&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarcoprimitivismo Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 38 Módulo 3 I Volume 2 EAD A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX Guardadas as discussões teóricas acerca da origem do romance, para Julia Kristeva de Le texte du Roman, encontra- se na narrativa pós-épica medieval, quando ocorre a dissolução da comunidade europeia sustentada em uma economia natural fechada e dominada pelo cristianismo (1970, p.19). Diderot, por sua vez, não identifica qualquer vínculo entre o romance publicado, a partir do século XVIII, com a produção estética daquele anterior. E Kristeva identifica a mudança, que o romance tomou, em seus temas, após a Revolução Francesa. Para a teórica búlgara, radicada na França: Por um romance, entendeu-se até hoje um tecido de acontecimentos quiméricos e frívolos, cuja leitura era perigosa para o gosto e para os costumes. Gostaria muito que se encontrasse um outro nome para as obras de Richardson, que educam o espírito, que tocam a alma, que respiram por todos os lados o amor do bem, e que são chamadas de romance (KRISTEVA,1970, p. 29). Napoleão via o romance como uma forma de ter os pés no chão, assim, essa narrativa foi considerada como a “revolução literária do Terceiro Estado”, durante a Restauração, iniciada em 1840 e esteve, entre as mais publicadas. Foram publicados, na França, durante o império napoleônico, anualmente, cerca de quatro mil romances, representando uma dinâmica cultural antes nunca vista no país! Enquanto, no teatro, surge o drama, mistura da tragédia com a comédia, do grotesco com o sublime. No famoso prefácio do drama Cromwell, publicado em 1827, Victor Hugo coloca toda a sua verve condoreira em defesa da inspiração e da autonomia do artista. Digamo-lo, pois, ousadamente. Chegou o tempo disso, e seria estranho que, nesta época, a liberdade, com a luz, penetrasse por toda a parte, exceto no que há de mais nativamente livre no mundo, as coisas do pensamento. [...] Não há regras nem modelos; ou antes, não há outras regras senão as leis gerais da natureza que plainam sobre toda a arte, e as leis especiais que, para cada composição, resultam das condições de existência próprias para cada assunto. [...] O poeta, insistamos neste ponto, não deve, pois pedir conselho senão à natureza, à verdade, e à inspiração, que é também uma verdade e uma natureza (HUGO, 2002, p.30). Na linha de raciocínio de Paul Valéry, de que não há possibilidade SAIBA MAIS O Terceiro Estado: na França do Antigo Regime (Ancien Régime) e durante a Revolução Francesa, o termo Terceiro Estado (fr. Tiers État) indicava as pessoas que não faziam parte do clero (Primeiro Estado) nem da nobreza (Segundo Estado). Desses termos, veio o nome medieval da assembleia nacional francesa: os Estados Gerais (fr. États Généraux), análogo ao Parlamento britânico, mas sem tradição constitucional dos poderes parlamentares: a monarquia francesa reinava absoluta. Fonte: http://variasvariaveis.sites. uol.com.br/burguesia.html Cromwell: segundo Hugo, seria uma nova forma de poesia fruto dos tempos modernos que deveria superar por completo as velhas manifestações clássicas que se prendiam em demasia a regras fixas. Para chegar até seu objetivo principal, Hugo realiza uma espécie de síntese histórica em que filia as formas de arte poética a três momentos do desenvolvimento histórico da humanidade, ou melhor, a três idades do mundo: os tempos primitivos, de primeiros encantos com o mundo, que seriam líricos e teriam nas odes e hinos suas formas de expressão; os tempos antigos, em que já haveria grandes impérios e acontecimentos narrados em poemas épicos; e, por fim, os tempos modernos, que seriam dramáticos. Fonte: http://www. espacoacademico.com. br/046/46coliveira.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a http://pt.wikipedia.org/wiki/Antigo_Regime http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa http://pt.wikipedia.org/wiki/Clero http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Estado http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Estado http://pt.wikipedia.org/wiki/Segundo_Estado http://pt.wikipedia.org/wiki/Assembl%C3%A9ia_dos_Estados_Gerais http://pt.wikipedia.org/wiki/Parlamento http://pt.wikipedia.org/wiki/Inglaterra http://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia http://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia_absoluta http://www.espacoacademico.com.br/046/46coliveira.htm http://www.espacoacademico.com.br/046/46coliveira.htm http://www.espacoacademico.com.br/046/46coliveira.htm 39Letras VernáculasUESC 2 A ul a de definir o Romantismo, sob pena de prejudicar o rigor lógico; vamos agora, analisar textos, que representam a visão multifacetada do romantismo. O primeiro deles é um soneto do poeta brasileiro Álvares de Azevedo, constante de Lira dos Vinte anos (1994): Pálida, à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar! Na escuma fria Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d’ alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia! Era mais bela! O seio palpitando... Negros olhos as pálpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando... Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti – as noites eu velei chorando, Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo! A imagem evocada pelo eu lírico é da mulher amada em um sonho. De forma não definida, concentrada, nas duas primeiras estrofes do poema, essa mulher é descrita como estando mais distante, etérea, difusa e inatingível: “lâmpada sombria”, “Sobre o leito de flores ela dormia”, “lua por noite embalsamada”, “Entre as nuvens do amor ela dormia”, “virgem do mar”, “escuma fria”, “Pela maré das águas embalada!“, “ ... anjo entre nuvens embalada”, “ ... em sonhos se banhava e se esquecia”. Por outro lado, nas estrofes seguintes, o ser amado ganha uma dimensão mais próxima possível de identificação, confirmando-se em: “... mais bela”, “seio palpitando”, “Negros olhos as pálpebras abrindo...”, “Formas nuas no leito resvalando”, “Não rias de mim, meu anjo lindo!”, “... as noites eu velei chorando!”, “... nos sonhos morrerei sorrindo!”. Apesar de os tercetos colocarem a mulher mais concreta, ela continua inacessível e distante, pois tudo não passou de umsonho. Tal atitude romântica coloca o ser amado em uma dimensão do sublime e da divindade; confirmando, assim, o que já foi dito acima, sobre o alcance dos puros conteúdos, presos a preceitos naturais de origem e harmonia, alcançados pela obra de arte. Os conteúdos puros, de que fala Kant, em Crítica da faculdade do juízo (1993), dão à arte uma dimensão desinteressada, porque essa não deve remeter à realidade mais imediata. Nesta perspectiva, o poema em Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 40 Módulo 3 I Volume 2 EAD A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX questão alcança o chamado princípio monadológico, Walter Benjamin (1993) e, da mesma sorte, se confirma o anseio de Romantisieren (romantizar) e de Bildung (cultivo) do eu poético e daquilo que ele enaltece, no caso, a figura feminina. Victor Hugo encerra, ao contrário dos poetas do ultraromantismo, de cunho escapista, como Álvares de Azevedo, uma opção pelo embate, frente aos problemas. Em Écrit, carta em versos, de 1846, no quinto livro, Contemplations, opta pelo enfrentamento revolucionário: Les Révolutions qui viennent tout venger, Font un bien éternel dans leur mal passager... A travers les rumeurs, les cadavres, les deuils, L’écume, et les sommets qui deviennent écueils, Les siècles devant eux poussent, désespérés, Les Révolutions, monstrueuses marées, Océans faits des pleurs de tout le genre humain. [ As revoluções que vêm vingar tudo,/Fazem um bem eterno no seu mal passageiro.../ Através dos rumores, dos cadáveres, dos lutos,/ Da espuma e dos cumes que se tornam escolhos,/ Os séculos empurram na sua frente, desesperados,/As revoluções, marés monstruosas,/Oceanos feitos dos prantos de todo o gênero humano] (apud PEYRE, 1971, p.87). Assim, o poeta saúda as revoluções, vistas como solução para os males da sociedade de então, com possibilidade de um futuro glorioso para a França. Victor Hugo, assim como Lamartine, outro artista francês, tiveram grande influência na poética de Castro Alves, considerado como fiel herdeiro desses mestres. O baiano traz para a Literatura Brasileira o espírito de combate, alinhado à linha platônica de poetar; ainda que o Romantismo tenha se oposto ao modelo clássico, como já vimos acima. Tal sinal foi repetido muito depois, não mais à luz do Liberalismo, mas sim do Marxismo, por um Carlos Drummond de Andrade, de A Rosa do Povo, entre outros. A causa maior defendida por Castro Alves (1964) é a Liberdade e atreladas a essa a Igualdade e a Fraternidade, universalizadas para todo o gênero humano, todos, em uma coordenada do espírito revolucionário de 1789. O poemeto épico O navio Negreiro do baiano guarda o tom condoreiro, de acordo com o seu antecessor Victor Hugo, isto é, com o uso de apóstrofes e hipérboles, que encerram a indignação do eu poético, bem como de hipérbatos, com inversões tão bruscas, que chegam a confundir o leitor. No sexto canto, do poema, o eu poético consegue empreender um embate crucial com os símbolos nacionais e históricos, que, a princípio, deveriam ser utilizados como índices de referência e 41Letras VernáculasUESC 2 A ul a distinção, mas são rechaçados, pelo que significam. E existe um povo que a bandeira empresta P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... E deixa-a transformar-se em uma festa Em manto impuro de bacante fria!... Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia?!... Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto... A bandeira, sendo um símbolo nacional, em uma epopeia clássica, ganharia a dimensão de enaltecimento e não de repulsa. Tal negação se justifica porque são nações que, em nome do lucro, - o tráfego dos navios negreiros rendia grandes somas – muitos viviam deste comércio repugnante; tanto, na África, na Europa, nas Américas, como no Brasil. Na estrofe seguinte, ocorre a abominação ao próprio pavilhão nacional. Especificamente, a instância poética se refere ao fato de o país ter-se sagrado vencedor da Guerra do Paraguai, há pouco extinta em março de 1870. Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra, E as promessas divinas da esperança... Tu, que da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança, Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!... Para, na estrofe seguinte, em tom de imprecação, através de vocativos, exortar José Bonifácio de Andrade e Silva, patrono da Independência do Brasil, a tomar uma providência efetiva contra a escravidão e, ao mesmo tempo, vindo a condenar a própria descoberta da América, quando diz: Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu na vaga, Como um íris no pélago profundo!... ... Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo... Andrada! Arranca este pendão dos ares! Colombo! Fecha a porta de teus mares! Introdução aos estudos literários II: literatura, correntes teórico-críticas 42 Módulo 3 I Volume 2 EAD A liberdade romântica e a visão historicista das teorias críticas do século XIX Consequentemente, o regime feudal do Absolutismo, com seus valores e crenças, que motivaram a expansão marítima europeia, são colocados também em xeque, ao negar a dimensão histórica do feito de Colombo em 1492; uma vez que o Liberalismo acenava então com outra coordenada histórica, fundada em dados igualitários para toda a humanidade. 3 A VISÃO HISTORICISTA DAS TEORIAS CRÍTICAS DO SÉCULO XIX Entre outros teóricos, destaca-se Sainte-Beuve (1804-1868) como um dos principais críticos europeus do século XIX, que institui o método biográfico de análise literária; porque para ele, é impossível avaliar uma obra sem conhecer seu autor, seu perfil psicológico e moral. Esteve muito comprometido com o Positivismo de Augusto Comte, quando via a História em uma coordenada de progresso, rumo ao estágio positivo da matematização da vida. A par de Sainte-Beuve, ocorre a figura de Hyppolyte Taine (1828-1893). Fortemente influenciado pelas ciências naturais e seus métodos, em seu determinismo racionalista, e os estende à crítica da Literatura. Nas palavras de Eduardo Portella et al., em Teoria Literária (1991): A concepção literária de Taine exerceu uma larga influência por seu caráter tão claro quanto racionalista e como se depreende facilmente, o método literário científico parte da obra como pretexto para se concentrar no autor e sobretudo no homem e seu meio social. Predomina ainda o historicismo em detrimento do literário (PORTELLA et al.1991, p.23). Logo, Taine passa a ver a obra artística como produto do meio, da raça e do momento histórico, pois toda raça vive em um meio natural e sociopolítico, que age sobre a mesma, em um momento da evolução histórica. O método biográfico, portanto, se volta para o meio, na busca do entendimento da obra. Mas há ainda outros teóricos vinculados ao historicismo evolucionista como Brunetière, quando viu os gêneros literários como organismos vivos, com nascimento, crescimento e morte. Lanson (1857-1934), por sua vez, estabeleceu seu método
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