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METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR Educação com Qualidade 2 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 SUMÁRIO Indicadores para Ressignificar a Didática...........................................................3 Objetivos do Ensino.............................................................................................15 Planejamento........................................................................................................20 O que é planejamento..........................................................................................21 Princípio e natureza do planejamento................................................................24 Planejamento de Ensino......................................................................................24 Etapas básicas do planejamento........................................................................24 Avaliação da aprendizagem escolar...................................................................36 Bibliografia............................................................................................................43 Educação com Qualidade 3 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 INDICADORES PARA RESSIGNIFICAR A DIDÁTICA Nas duas últimas décadas tem ocorrido em diferentes países uma “explosão didática” (cf. Cornu e Vergnioux 1992, p. 69), em decorrência do massivo investimento na qualificação dos docentes, tanto na formação inicial quanto na formação em serviço, no contexto de reformas do ensino que generalizaram a escolarização (Portugal, Espanha, Itália), e/ou transformaram o sistema de formação (a França, criando os Institutos Universitaires de Formation dês Maitres-IUFM; e Portugal, criando as Escolas Superiores de Educação- ESSE). A partir de então, o que ensinar, como ensinar, e para que ensinar, velhos temas, ressurgem diante de novos desafios: ensinar em situações concretas e em contextos inter/multiculturais (Bernstein 1990; Balibar e Wallersten 1991; Apple 1993; Stoer 1994; e outros). As novas concepções de didática estão emergindo da investigação sobre o ensino como prática social viva; nos contextos sociais e institucionais nos quais ocorrem, ou seja, baseada nas sistematizações e explicações da prática pedagógica. Esse movimento tem sido possibilitado, também, pelo desenvolvimento das investigações qualitativas em educação (Contreras 1990; André 1995). O desafio posto a essas abordagens é o de construir categorias explicativas (teorizar) das realidades do ensino, que permitam estabelecer seus nexos teóricos mais amplos (cf. Cornu e Vergonioux 1992; Laneve 1993; Pimenta 1994 a; Oliveira 1994). A construção da teoria didática, baseada na prática, demanda a consideração do triângulo didático em situação, ou seja, os contextos sócio- teóricos/históricos nos quais a prática ocorre. Trata-se, pois de tomar a prática como práxis (cf. Cornu e Vergonioux 1992; Pimenta 1994a; Charlot 1995; Houssaye 1995). Nesse sentido, o fenômeno ensino não se esgota na investigação didática, senão que necessita que as demais ciências da educação o tomem como objeto de investigação. Caberia à didática integrar, organicamente, os diferentes aportes, configurando-se como uma teoria prática do ensino (cf. Libâneo 1994; Contreras 1990; Laneve 1993; Beillerot 1994). A didática, por sua vez, é área de estudo da pedagogia (Houssaye 1995). Mas como construir a teoria no movimento prática-teórica-prática, sem ficar na tradicional cisão ente o pesquisador e o professor? Como superar o caráter prescritivo na relação de produzir conhecimento e difundir conhecimento? O avanço significativo das pesquisas qualitativas em educação tem propiciado a formulação do papel da pesquisa no ensino (cf. Demo 1990; Cornu e Vergnioux 1992; Laneve 1993; Lubke 1994; Cunha 1994; André 1995). Com base nesses Educação com Qualidade 4 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 autores é possível considerar a pesquisa na formação de professores como um princípio cognitivo. Isto é, quando o professor, pesquisando e refletindo sobre sua ação docente, constrói saberes que lhe permitam aprimorar o seu fazer docente. Também é possível lançar mão de pesquisas sobre o ensino, com o intuito de ampliar a consciência do professor sobre a realidade. Em ambos os casos, os autores consideram a pesquisa como instrumento da prática profissional do professor, distinguindo-a da prática profissional do pesquisador. A pesquisa sobre a própria prática tem sido desenvolvida na abordagem denominada “professor reflexivo” (cf. Schon 1983 e Zeich-ner 1988, nos EUA; Elliott 1993, na Inglaterra). Essas abordagens entendem que as transformações das práticas docentes só se efetivam na medida em que o professor amplia sua consciência sobre a própria prática. Isso pôde ser comprovado na pesquisa de campo, com o professor acompanhado pela pesquisadora Fátima Abdalla. Em seu relatório, sistematizando sua avaliação da pesquisa, destaca as seguintes situações da realidade observada: 1. A necessidade de o professor falar, tematizar sua prática, dar conteúdo a suas formas de trabalhar em sala de aula; 2. A importância de troca de experiência, valorizando um trabalho coletivo na construção de um projeto político-pedagógico na escola; 3. A valorização de espaços (no interior e em um outro contexto) que propiciem regularmente um tempo para professores descreverem, discutirem, registrarem suas situações didáticas, trocarem experiências; 4. A adoção de uma perspectiva de trabalho investigativo da própria prática, dos saberes das experiências, dos saberes científicos e dos saberes pedagógicos (Pimenta 1997, pp. 42-52), que leve a uma necessidade contínua de um melhor conhecimento e de uma educação mais comprometida com a cidadania dos educandos, na possibilidade de uma abertura para uma sociedade mais justa e democrática. Assim, a pesquisa foi se configurando como princípio cognitivo de compreensão da realidade e como princípio formativo na docência. Princípio cognitivo e formativo, na medida em que se incentiva a construção coletiva de saberes, quando se valoriza os processos de reflexão na ação, de reflexão sobre a ação e de reflexão sobre a reflexão na ação (Schõn 1987), na busca de alternativas comprometidas com a prática social, que tem como critério a Educação com Qualidade 5 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 exigência da verdade. Verdade que revela escolha, opção de vida, espaço de construção, de troca de experiências, de desejo e de devir. O alargamento da consciência, por sua vez, se dá pela reflexão que o professor realiza na ação. Em suas atividades cotidianas, o professor toma decisões diante das situações concretas com as quais depara, com base nas quais constrói saberes na ação. A propósito, a pesquisadora Maria Socorro Lucena Lima, em seu relatório da pesquisa, na qual acompanhou a professora Patrícia, afirma: “Apesar das turmas numerosas e inquietas, compostas de adolescentes de 8ª série e 1º colegial. O tempo foi se encarregando de fazer com que a professora fosse adquirindo esse saber de liderança e condução dos trabalhos na sala de aula. Hoje, muitos avanços foram conseguidos pela professora Patrícia. A questão do espaço da sala de aula já não é problema – Numa atividade de redação, em que a classe não estava conseguindo se concentrar. Queixando-se de desconforto, a professora sugeriu que o trabalho fosse feito na quadra. Sobre isso ela (Patrícia) explica: “Então eu já consigo direcionar aaula para aquilo que eu quero. Antes eu não conseguia fazer isso, não tinha visão de onde estava o problema” (Lima 1997)”. Mas sua reflexão na ação precisa ultrapassara a situação imediata. Para isso é necessário mobilizar a reflexão sobre a reflexão na ação. Ou seja, uma reflexão que se eleve da situação imediata, possibilitando uma elaboração teórica de seus saberes. Quando a professora Patrícia explica que os alunos estão em primeiro plano, e que ela precisa estar atenta às necessidades deles para tentar resolvê-las ela diz da sua opção metodológica. Diz desse processo criativo que tem raízes no chão da sala e nos relacionamentos, e que pode florescer de várias maneiras. Não importa o método. O melhor método seria aquele criado e recriado conjuntamente, professor e aluno, dentro da realidade, do trabalho cotidiano. Isso, evidentemente, não se faz de repente. É um processo. Penso, para o primado dos fundamentos que embasam, não apenas o “como fazer”, mas o “todo fazer” pedagógico do professor. Talvez se constitua o grande salto qualitativo dessa reflexão. que a professora Patrícia está começando a se situar nessa caminhada. (Lima 1997). Educação com Qualidade 6 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 Esse movimento prático-teórico-prático (Pimenta 1994b) configura a possibilidade de o professor criar novos hábitos (cf. Perrenoud 1992) ou nova cultura profissional. Ou ainda, desenvolver-se como profissional autônomo (relativamente autônomo) (cf. Nóvoa 1992). A importância que a qualificação profissional dos professores adquiriu nos últimos anos, no sentido da melhoria da qualidade do ensino tem provocado a ressignificação da didática. Entende-se que a didática tem como objeto de estudo o ensino, tomado em sua realidade prático-social, parece útil à ressignificação da didática, efetuar um balanço sobre as pesquisas que têm sido realizadas nessa perspectiva pela didática e pelas demais ciências da educação. Que pesquisas sobre o ensino a sociologia, a psicologia e a filosofia da educação têm realizado? E as metodologias de ensino, didáticas específicas? Até que ponto essas pesquisas têm contribuído para construir teorizações sobre o ensino baseado na prática, e que a ela se voltam no sentido de orientá-la? Até que ponto não se restringem as interpretações/explicações sobre o fenômeno ensino de um ponto de vista meramente disciplinar (no caso das ciências da educação), ou apenas a construir saberes sobre o fazer tecnológico (cf. Oliveira 1994) do processo de ensino (no caso das metodologias/didáticas específicas)? A questão fundamental é a necessidade de se construir teorias fertilizadoras da práxis dos professores no sentido da transformação das persistentes condições de ensino e aprendizagem seletivas e excludentes; da gestação de práticas pedagógicas capazes de criar, nos âmbitos escolares, as condições de emancipação e desenvolvimento social, cultura e humano dos alunos pertencentes aos segmentos desfavorecidos da sociedade e que, por isso, sofrem o processo de marginalização nas nossas escolas. Como área da pedagogia a didática tem no ensino seu objeto de investigação. Considerá-lo como uma prática educacional em situações historicamente situadas significa examiná-lo nos contextos sociais nos quais se efetiva – nas aulas e demais situações de ensino das diferentes áreas do conhecimento nas escolas, nos sistemas de ensino, nas culturas, nas sociedades estabelecendo-se os nexos entre eles. As novas possibilidades da didática estão emergindo das investigações sobre o ensino como prática social viva. Develay (1993), aprofundando a questão com base na prática, examina as relações entre a pedagogia e a didática específica (das disciplinas). Examina as possibilidades da didática em seus aspectos especulativos e institucionais. No primeiro, tenta a clara distinção ente a pedagogia e a didática e entre esta estas e as didáticas específicas. No aspecto institucional, aponta as inúmeras possibilidades postas à didática, a partir do momento em que a França redefiniu os lugares e a qualidade da formação dos professores, tanto as Educação com Qualidade 7 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 universidades como nos centros de formação. Esse fato colocou como centrais, de um lado, os problemas do ensino das disciplinas específicas, e, de outro, as questões relativas à seqüência de disciplinas (currículo). Além de ter suscitado questionamentos e novos enfoques para as relações entre as didáticas específicas e a utilização da didática (geral), em face dos novos problemas do ensino nas suas vinculações institucionais. É a partir das problemáticas novas, postas por esse novo quadro de realidade, que o autor considera importante retomar e aprofundar as possibilidades especulativas (epistemológicas). Define a didática como estudo dos processos se aprender e ensinar relativos a um conteúdo específico. Nesse sentido, a didática considera a natureza do saber a ensinar como determinante da aprendizagem e, por conseqüência, do ensino. (A natureza de uma determinada área de saber, por sua vez, determina o método de ensinar). A pedagogia, no entanto, não visa estudar as situações de ensino somente sob o ângulo da especificidade do conteúdo (como as didáticas específicas). Ela se interessa não apenas pela dimensão cognitiva da aprendizagem, mas por todas as dimensões que envolvem as situações de ensino, ou seja, as ações como práticas educativas e seus vínculos com as suas finalidades. A didática, por sua vez, atém-se às situações de ensino-aprendizagem. Como ciência, estuda a ação, mas visa conhecer mais do que a ação. A semelhança da medicina, a didática cria os elementos de diagnósticos, mas não propõe terapêutica. Procedendo à articulação entre as situações de ensino (a ação de ensinar e aprender as diferentes áreas do saber, objetos das didáticas específicas) e a pedagogia (as situações pedagógicas que determinam as ações de ensinar), “a didática se constitui como uma ciência do conhecer, uma teoria”, (Develay 1993, p. 174). Sua limitação fica clara: ela não dá conta de oferecer terapêuticas, porque não é de sua especialidade o estudo da relação entre conteúdos do saber e ensino. Nesse sentido, o autor não confere à didática qualquer dimensão de prescrição/normatividade. Vergnioux (1992) considera que, a partir do momento em que a formação de professores tomou lugar relevante (no sistema educativo francês), impôs-se um lugar significativo, também, à didática. Um conjunto de conceitos didáticos novos emergiu, então, das práticas: contrato didático, objetivo-obstáculo, situação-problema, trama conceitual, conflito sócio-cognitivo, transposição didática e outros. Até que ponto esses conceitos esclarecem o trabalho de ensinar? Até que ponto emergiram de uma investigação científica? Ou, apenas, visam racionalizar as práticas, tomando-as mais eficazes? Situando a didática na história dos saberes e na história do ensino, os autores realizam um reflexão crítica e Educação com Qualidade 8 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 fecunda da didática, na direção de ressignificá-la, apontando suas possibilidades e seus limites na contemporaneidade. Sem entrarem em maiores considerações sobre o desenvolvimento da pedagogia na didática moderna, agrupam três circunstâncias que fizeram emergir a didática contemporânea: a evolução dos saberes; o desenvolvimento das psicologias da criança, estudando o desenvolvimento de conceitos no ensino escolar e as renovações pedagógicas; e as iniciativas institucionais (cf. Cornu e Vergnioux 1992, p. 33). Na primeira, que denominam “foco epistemológico”, incluem a renovaçãode saberes, as novas especializações, novas teorias (em matemática e em física), novos campos de pesquisas (a lingüística). Esse foco epistemológico provoca, por conseqüência, questionamentos sobre as disciplinas, sobre a reatualização dos programas e sobre a relação entre saberes ensinados e saberes pesquisados. Conseqüentemente, aproximando pesquisa e ensino e pesquisa e aprendizagem, fazendo surgir expressões como “professor-pesquisador” e “aluno- pesquisador”. Confundindo e mesclando essas atividades (ensinar, pesquisar, aprender) que são muito diferentes. De todo modo, tem obrigado à revisão periódica dos programas de ensino e seus resultados. O foco epistemológico possibilita à didática novos vôos, se interrogando sobre a ordem e as maneiras de ensinar. Na segunda circunstância, que denominam “foco pedagógico”, incluem todas as iniciativas de se fazer frente ao fracasso escolar, criança e de outras ciências da educação, apoiadas nas renovações dos métodos pedagógicos e nas psicologias da aprendizagem. Na base desses dois focos, os autores situam o nascedouro da didática contemporânea. As suas colaborações devem acrescentar as discussões sobre o papel do conhecimento da informação na sociedade contemporânea e suas conseqüências para o trabalho da escola (do professor e do aluno) com o conhecimento; as inovações curriculares, o lugar institucional da formação do professor (universidade, centros, institutos), a formação inicial articulada à realidade escola, a formação contínua (redes de formação em serviço); a pesquisa-ação e intervenção e a multiculturalidade. Essas circunstâncias todas têm provocado uma “explosão didática”, podendo revivificar seus eixos reflexivos. Ressaltando a importância da experiência dos professores, além da pesquisa, na construção do saber didático, Laneve (1993) aponta que a prática dos professores é rica em possibilidades para a constituição da teoria. Contém saberes que advêm da ação direta, da intuição, do bom senso, da capacidade pessoal de julgamento, do poder de decisão, das experiências anteriores. Educação com Qualidade 9 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 A postura de investigação e busca é a primeira característica marcante da professora Patrícia. O estudo faz parte de sua vida e de seu cotidiano. Quando começou a lecionar não sabia como lidar na sala de aula tinha até medo dos alunos. Segundo a professora, hoje ela já domina o espaço, já sabe o que fazer, já cria situações de superação de dificuldades. Tem consciência de que, apesar de sua competência como aluna aplicada, que estudava na USP, quando iniciou sua carreira de magistério precisou mobilizar tais conhecimentos e outros mais, para poder transmiti-los. Foi necessário adequar tais conhecimentos à realidade dos alunos da 8ª série e ao mesmo tempo criar momentos agradáveis para a aprendizagem. “Aprendi na prática. O que me ajudou foi a lembrança dos meus professores, como eles me ensinavam, e com os alunos, porque vão surgindo dúvidas e você tem que estar tentando sanar as dúvidas daquele momento. No dia-a-dia da aula, quando a gente vai para a escola, a gente lembra de algumas coisas marcantes e a gente reproduz aquilo. Se a gente reproduz aquilo que foi marcante, porque a gente se lembra daquilo, eu acho que é interessante você pensar nisso. O aluno vai reproduzir, vai pensar aquilo que foi marcante para ele. Então, aquela aula que você dá que você introduz alguma coisa diferente, um estudo, uma proposta ou algo assim diferente, que fuja um pouco, que você pensa um pouco melhor, que você extrapola um pouco... eu acho que marca, e tudo isso mesclado cria um bom professor...” (Depoimento do professor suas à pesquisadora). (Abdalla 1997) Muitos fatos e pesquisas conduzem a validar a didática, que nem sempre é reconhecida no seu aporte teórico, além da prática. Prática esta não menos significativa e essencial para a constituição do saber didático e para a competência profissional do docente. Mas como construir a teoria com base na prática? Entre outros fatores, Laneve aponta, como essencial, o registro sistemático das experiências, a fim de que se constitua a memória da escola. Memória que, analisada e refletida, contribuirá tanto à elaboração teórica, quanto ao revigorar e ao engendrar novas práticas. Como já observava Bertim (1951), o estudo da tradição, o desenvolvimento da experiência e a discussão didática possibilitaram que os professores neles se ancorassem para a criação de novos sabores didáticos. No depoimento de Patrícia, em uma das reuniões entre os pesquisadores e os Educação com Qualidade 10 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 professores, percebe-se a reflexão da professora, com base na prática de registro, neste caso, feito pela pesquisadora: (...) à medida em que ela (a pesquisadora Socorro) ia anotando, gravando e falava “na outra sala você fez assim, naquela outra não dá para fazer igual”, foi possível perceber que o trabalho deve mudar de acordo com o grupo de alunos; a aula nunca é igual em turmas de mesma série, embora o conteúdo seja o mesmo.” (Pereira 1997) Tomar a memória como base de novas experiências significa percebê-las como não-generalizáveis. Por isso, é extremamente positivo retomá- las, porque evidenciam seus vínculos com os sujeitos e suas épocas; expressam que foram construídas em face de determinadas necessidades históricas. Por isso não substituem o ensino e a pesquisa, ao contrário, exercitam o docente a refletir sobre a situação didática na qual está imerso. Nas práticas docentes estão contidos elementos extremamente importantes, tais como a problematização, a intencionalidade para encontrar soluções, a experimentação metodológica, o enfrentamento de situações de ensino complexas, as tentativa mais radicais, mais ricas e mais sugestivas de uma didática inovadora, que ainda não está configurada teoricamente. Essa vasta e complexa produção tende a ficar perdida, diluída e ao nível do senso comum. fazia, afirma: Em seu depoimento sobre o registro que a pesquisadora Fátima “É uma riqueza de material que está ali no dia-a-dia e a gente perde tudo. Com isso, ele disse que começou a registrar também, mas como durante a aula isso é impossível, surgiu a idéia de filmar algumas aulas:... e tem sempre um aluno que quer filmar, o que possibilita depois discutir com os alunos o que aconteceu na aula.” (Pereira 1997) E Silas passou a usar a aula gravada (o registro) não apenas para si, mas como material didático-metodológico de análise e reflexão das aulas com os alunos. Mas documentar a própria prática requer condições de trabalho e tempo institucional. As instituições escolares têm mostrado mais competências para reproduzir sua história negativamente, através dos procedimentos burocráticos, permanecendo à mercê das mudanças externas, advindas dos órgãos centrais. O que revela um medo da reconstrução sistemática de seu passado de escola militante, ficando submetida à burocracia, às leis, à administração (cf. Laneve 1993, p. 51). Educação com Qualidade 11 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 “No planejamento nós temos três dias para planejar. Num dia o diretor vem dizer tudo o tem de fazer; no outro dia o coordenador chega e diz: que tem que fazer isso, mudar aquilo, e oferece um texto para ler. No último dia cada um tem que fazer o planejamento. Sozinho!” (Depoimento da professora Patrícia) Verifica-se que o projeto político-pedagógico da escola também não existe na prática. As determinações da Delegacia de Ensino são trazidas pelo supervisor e o diretor se encarrega de fazer com que as mesmas sejam executadas a contento. A interpretaçãodestas determinações é individualizada, pois estas são apenas lidas, não havendo espaço para a discussão. (Lima 1997) A prática de documentação, no entanto, requer que se estabeleçam critérios. Documenta o quê? Não tudo. Documentar as escolhas feitas pelos docentes (o saber que os professores vão produzindo nas suas práticas), o processo e os resultados, não se trata de registrar apenas para a escola, individualmente tomada, mas de forma a possibilitar os nexos mais amplos com o sistema. Documenta não apenas as práticas tomadas na sua concreticidade imediata, mas buscar a explicitação das teorias que se praticam, a reflexão sobre os encaminhamentos realizados em termos de resultados conseguidos, ou seja, a avaliação das práticas executadas. Os materiais básicos para esses processos são à memória das reuniões docentes, as descrições das escolhas dos livros e das metodologias, os diários dos professores, seus balanços mensais e outros. A importância da memória/estudo da experiência, segundo Laneve, constitui potencial para elevar a qualidade da prática escolar. “Depois das visitas da Socorro [pesquisadora] e da reunião passei a observar o meu “fazer pedagógico” com um olhar mais crítico e construtivo. Comecei a dedicar mais tempo à preparação e à elaboração das aulas e analisar o “porquê” de certas atitudes que tomo, perante determinadas situações. Enfim, comecei a relacionar o meu fazer pedagógico com minha vida escolar e pessoal”. Depoimento da professora Patrícia, Assim como para elevar a qualidade da teoria. Esse entendimento implica uma reorientação da pesquisa em didática: tomar o ensino escolar – objeto de estudo da didática – como uma prática social. Laneve entende que a criação de domínios autônomos e especializados do saber educativo (o ensino, no caso da didática) não significa excluir uma reflexão mais geral sobre a educação, reflexão essa que tradicionalmente tem sido feita pela pedagogia. Não apenas é legítimo falar da pedagogia, mas sobretudo é a pedagogia que confere os significados, valora e baliza o sentido educativo da contribuição das outras ciências. Educação com Qualidade 12 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 Para ele, pedagogia é ciência articuladora: no seu discurso reflui uma multiplicidade de dados fornecidos pelas outras ciências, que são por ela confrontados, diante das realidades da educação, no que se refere ao alcance e ao sentido. Assim, pode-se dizer que a pedagogia possui uma dimensão estruturante sobre a educação. Em face da didática, a pedagogia, sem pretender exaurir os saberes com os quais essa se defronta, identifica e colhe de cada ciência indicações, problematizações e contribuições sobre o saber didático. Baseado na análise das pesquisas realizadas em didática, na Itália, nos anos 90, e referenciando-as a pesquisas internacionais, Laneve constrói o paradigma que denomina de “descolonização epistemológica da didática” (1993, p. 125). Negando a didática como mero campo aplicativo e técnico de uma ciência do conhecimento, o que a restringe ao como se aprende (dimensão técnica), e como transposição de indicações teóricas externas à compreensão das situações concretas de aprendizagem, configurando-se como consumo de conhecimento, o autor propõe a didática como aquisição original do conhecimento sobre o ensino. Tendo valorizado as novas tendências de pesquisa em didática que tomam o ensino em situação e a importância do método de memória das práticas, o autor explicita seu entendimento do ensino como objeto da didática. É o ensino, e não a aprendizagem, o conceito forte, o foco teórico da didática, sobre o qual deve estar colocada a atenção do pesquisador. A aprendizagem é objeto de estudo de outros setores científicos, aberta a outras perspectivas; o ensino, ao contrário, se enquadra somente na situação da didática, (o que não significa que seja estudado somente pela didática). Ou seja, “hoje a hipótese (teórica) sobre a aprendizagem como função do ensino parece prevalecer sobre a hipótese (teórica) do ensino em função da aprendizagem” (Laneve 1993, p. 128), contrariamente às perspectivas tradicionais de englobar o ensino na aprendizagem, como seu apêndice. A perspectiva que o autor valoriza aponta para o caráter de compromisso –ético- do ensino, da atividade de ensinar, com a finalidade, intencionalmente posta, de gerar a aprendizagem. Concluindo, pode-se afirmar que a ação ensinativa, compreende em sua totalidade, dentro e fora da escola, em suas diversas e mútuas determinações, começa a ser tomada como o objeto de estudo da didática, colocando interessantes possibilidades de indagação à pesquisa, no sentido de ler, compreender e interpretar o ensino, superando as tendências explicativas e prescritivas, formuladas em teorizações externas, aplicadas por uma didática colonizada. Educação com Qualidade 13 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 Acentuando o ensino como objeto (não exclusivo da didática), Contreras (1990) define-o como uma prática humana e uma prática social, que compromete os envolvidos que se influenciam mutuamente e responde a necessidades, funções e determinações que ultrapassam as de que se compreendam as estruturas sociais e o seu funcionamento e os nexos que com estes a prática de ensinar estabelece. Segue o depoimento do professor Silas à pesquisadora Fátima, sobre a questão do Projeto Pedagógico da Escola: “O projeto que teve sua origem na Escola Padrão6 – que tentou responder a uma clientela da época, e que hoje é inadequado, pois a realidade mudou. (...) no ano passado tínhamos 80% dos alunos do noturno, trabalhadores. Hoje, temos em torno de 40% trabalhadores. O que significa que 40% estão desempregados. E isso reflete (na escola), pois o aluno fica o dia inteiro no vazio, sem ocupação; há necessidade urgente de a escola estar empregando (ocupando, levando isso em conta) este aluno.” O professor tem que se adaptar à realidade do aluno. A professora reclama que o aluno não traz livro e nem caderno para copiar a lição que ela passa na lousa. E preciso que se diga a ela: “Professora, não é bom a senhora refletir que não dá mais para passar a lição na lousa, porque se o aluno vem para a escola e não traz caderno, é porque a necessidade dele é outra. Então, vamos pensar se a gente consegue adequar(...)” (Abdalla 1997). O ato de ensinar escapa, pois, à prescrição dos especialistas. Na medida em que não se desenvolve como prática social autônoma, mas é parte integrante de dinâmicas que o extrapolam, escapa às decisões dos especialistas, exclusivamente. Diferentemente da prática médica tradicional, que em grande parte executiva as prescrições científicas da medicina, o ensino não é prática orientado pela didática. Participa na trama das ações políticas, administrativas, econômicas e culturais contextualizadas (Laneve 1993). Assim, pode-se afirmar como urna conclusão preliminar dos dados do campo e dos estudos teóricos da pesquisa, que a tarefa da didática é, em primeiro lugar, tomar o ensino como prática social e compreender seu funcionamento como tal, sua função social, suas implicações estruturais. Em segundo lugar, realizar uma ação auto-reflexiva de olhar a si mesma como componente do fenômeno que estuda, porque a didática é a parte da trama do ensinar, e não uma perspectiva externa que analisa e propõe práticas de ensinar . Educação com Qualidade 14 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 Ou, conforme Popkewitz (1986, p. 215), “o discurso da ciência não é apenas um instrumento para descobrir eventos, mas é parte do evento, ajudando a criar crenças sobre a natureza, causas conseqüênciase remédios das políticas educativas”. Nesse sentido, se evidencia a dimensão ética da didática, como ciência humana, que tem um caráter explicativo e projetivo ao mesmo tempo. Por isso provoca a geração de respostas novas. E na ação intencional, refletida, indagada, problematizada, ou seja, na práxis, na relação entre sujeitos, que se geram/transformam as práticas e seus resultados. Afirmando que o ensino e a aprendizagem, tomados na prática social, constituem o objeto da didática, Contreras estabelece entre ambos uma relação de dependência ontológica. A didática cabe “desnaturalizar” o ensino. O que significa, em primeiro lugar, considerar o ensino e a aprendizagem que ocorrem não só na sala de aula, mas nos contextos sociais mais amplos. A compreensão do fenômeno ensino-aprendizagem não se esgota aí, nesse acontecimento, aula. Em segundo lugar, é necessário que se estabeleçam estruturas administrativas, a legislação, a organização espaço-temporal, as condições físicas e materiais que condicionam as práticas escolares. Analisar quais processos intervêm na formação do conhecimento dos alunos nas classes e suas relações com o currículo explícito e/ou oculto, de onde procedem o conhecimento que se ensina na escola. Esse entendimento da didática leva a considerar o professor como figura fundamental. E ele que tem que compreender o funcionamento do real e articular sua visão crítica dessa realidade com suas pretensões educativas, as quais definem e reformulam em conformidade com contextos específicos. Isso significa definir o trabalho do professor como intelectual e não como técnico executor. Ou, ainda, significa valorizar os processos de reflexão na ação e de reflexão sobre a reflexão na ação. “Preciso melhorar muito os meus conhecimentos pedagógicos.” (professora Patrícia). A postura de investigação e busca é a primeira característica marcante da professora Patrícia. O estudo faz parte de sua vida e de seu cotidiano. Esta responsabilidade em estudar a aula e prepará-la cuidadosamente, aliada à boa vontade e às tentativas de fazer um trabalho sério, faz parte dessa conduta de investigação que foi mencionada: “O professor nunca pode dizer que sabe tudo, que ele tem conhecimento de tudo e que pode aplicar isso ou aquilo. Ainda tenho que aprender tanto”. Diferentemente dos paradigmas positivistas que operam uma tripla dicotomia – entre meios e fins, reduzindo a solução de problemas a uma dimensão Educação com Qualidade 15 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 técnica; entre a investigação e a prática, reduzindo esta última a uma aplicação de teorias; e entre saber e fazer, reduzindo a ação ao uso de procedimentos técnicos adequados -, a investigação que toma a prática como critério de verdade entende que teoria e prática são indissociáveis (cf. Pimenta 1994a). Assim considerar o ensino como prática social configura uma interessante perspectiva de investigação para uma ressignificação da didática. Nesse sentido, as investigações de Bautier, Chariot e Rochex (1993), na área da sociologia da educação, constituem importante colaboração, uma vez que seus estudos colocam, desde o início, a intencionalidade educativa, configurando novas perspectivas para essa ciência no que se refere à educação. Quanto às metodologias específicas, autores como Cornu e Vergnioux (1992), analisando a fertilidade das pesquisas que têm considerado o ensino como prática social, apontam para a elaboração teórica da didática, como uma reflexão educacional sobre os conteúdos disciplinares. Parece ser este o sentido que Libâneo (1994, pp. 76-77) confere à didática quando afirma que está impregnada de multidisciplinariedade e de interdisciplinaridade e que se enriquecerá quando mais der conta de postular o que lhe é específico e, a partir daí, explorar as fronteiras e zonas intermediárias do conhecimento científico. OBJETIVOS DO ENSINO “Nenhum vento ajuda quem não sabe a que porto deverá velejar” (Montaigne) O professor espera alcançar resultados como conseqüência de sua ação. Ele atua sobre os alunos, tendo antes listados os resultados que espera alcançar. Estes resultados esperados constituem os que, na linguagem pedagógica se denominam. OBJETIVOS DE ENSINO UM OBJETIVO É, PORTANTO: Educação com Qualidade www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 16 Descrição de um desempenho que você espera que seus alunos sejam capazes de exibir, antes de considerá-los competentes. EM OUTRAS PALAVRAS, OBJETIVO É: Descrição do comportamento que se espera observar no aluno, depois da experiência instrucional que lhe é proporcionada. Quando não há objetivos bem definidos, não há base sólida para planejar a aprendizagem, nem para nortear a avaliação. Além disso, objetivos bem formulados fornecem aos alunos meios de organizar esforços próprios para atingi- los. Existem vantagens adicionais, e uma das mais importantes é que o esboço dos objetivos faz com que se pense sério e profundamente sobre o que “vale a pena” ensinar, dispor de tempo e esforço para alcançar. Quando ensinamos, esperamos verificar modificações no comportamento dos alunos. Essas modificações no comportamento constituem os resultados almejados, que são expressos pelo professor ao formular objetivos. O professor pode prever modificações no comportamento dos alunos em três grandes áreas: Área Cognitiva Comportamentos Intelectuais Exemplos: * Identificar tipos de técnicas usadas * Elaborar um programa Área Afetiva Comportamento afetivo, atitudes, idéias, interesse, valores Educação com Qualidade 17 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 Exemplos: * Valorizar a importância da observação de normas na classe * Respeitar a opinião do colega Área Psicomotora Comportamentos psicomotores, habilidades e destrezas * Desenhar perspectivas Exemplos:_ *Manusear mapas Área Cognitiva 100 Há uma ordem na sucessão dos objetivos cognitivos, compreendidos em 6 categorias: O domínio cognitivo parte de resultados de conhecimento simples e cresce até o nível de avaliação. Assim sendo, cada categoria inclui os comportamentos dos níveis mais inferiores. INVISÍVEL Comportamento Internalizado 6. avaliação 5. sistema coerente de valores 5. síntese 4. conscientização 4. análise 3. deliberação 3. aplicação 2. resposta (reação) 2. compreensão 1. recepção (postura receptiva) 1. conhecimento Educação com Qualidade 18 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 1. movimentos reflexos 2. coordenação motora 3. percepção motora e muscular (sensibilidade) 4. movimentos hábeis 5. agilidade motora (destreza) 6. comunicação não-verbal (expressiva) comportamento externalizado VISÍVEL DOMÍNIO COGNITIVO AVALIAÇÃO SÍNTESE ANÁLISE APLICAÇÃO COMPREENSÃO CONHECIMENTO Aprenda a Formular Bônus Objetivos Redigir bem um objetivo é fundamental, uma vez que os objetos devem ser descritos de modo que não restem dúvidas sobre o seu significado. O objetivo deve ser entendido do mesmo modo pelos professores, alunos ou por todos que leiam ou ouçam a sua descrição. A técnica educacional adequada à definição precisa de um objetivo e a que se baseia na descrição dos comportamentos desejáveis a serem observados nos alunos. Este tipo de descrição significa o produto final de ensino em termos de desempenho. objetivos: Gerais O professor ao estruturar seu plano de trabalho, elabora 3 tipos Objetivos amplos,abrangentes, relativamente vagos, que exigirão mais tempo para serem atingidos, previsto para uma período mais longo, isto é, para o final de um ano, resultado de um crescimento gradativo. Educação com Qualidade 19 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 É IMPORTANTE: Específicos Instrumentais Objetivos descritos em termos mais restritos, comportamentais, delimitando a área de abrangência em que o comportamento deverá ocorrer, atingíveis em menores espaços de tempo. Objetivos mais completos, que expressam com clareza não só o que se espera do aluno, mas que também que ponto o desempenho será considerado satisfatório. Usados no PLANO DE AULA Objetivos Instrucionais Tem características próprias, que respondem a três perguntas: O que o aluno deve ser capaz de fazer? DESEMPENHO Em que condições deve faze-lo? CONDIÇÕES Até que ponto deve ir o desempenho para ser considerado? - que o aluno saiba exatamente o que o professor espera dele para pode orientar seus esforços com o máximo de rendimento. - A forma de enunciar o objetivo. Educação com Qualidade 20 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 “Um objetivo bem redigido é aquele que consegue transmitir o seu intento;melhor enunciado é que exclui maior número de interpretação possível de seu propósito.” “O objetivo definido com clareza dá ao aluno os meios para auto-avaliar seus esforços em atividades relacionadas com o que está apreendendo”. O objetivo para o ensino, mais que enumerar ou resumir o conteúdo da matéria, descreve o resultado desejado. Uma das características de um objetivo bem enunciado é a que descreve o que o aluno fará para demonstrar o que domina. Não se pode englobar todos os objetivos de um curso em um só enunciado, mas se deve especificar por separado cada uma das destrezas ou conduta desejada. Um objetivo bem redigido transmite claramente o interno do docente. Um objetivo, para o ensino, é um enunciado que descreve uma conduta observável no aluno. A conduta final se define: a) Identifica-se e descreve-se a atividade observável que se aceitará como prova de que o aluno alcançou o objetivo; b) Especificam-se as condições (o que se dá, o que proíbe), a fim de excluir as atividades que não serão aceitas como prova de que o aluno alcançou o objetivo. Caso você dê a cada aluno uma cópia de seus objetivos, seu trabalho será muito menor. Observação: A separação formal dos objetivos nos diferentes domínios (cognitivo, afetivo e psicomotor), deve ser considerada, apenas, para efeitos didáticos, pois sabe-se que , na verdade, não se pode dissociar o pensar do agir e do sentir. PLANEJAMENTO No centro de qualquer processo cuja finalidade é conduzir, é sistematizar, é estabelecer mecanismo operacional de estímulo e controle de rendimento, em qualquer campo ou área do empreendimento educacional, está localizada a idéia de planejamento. Sendo uma conquista do avanço técnico, ele assumiu diferentes performances, em conseqüência mesmo de peculiaridades de suas diferentes aplicações. Segundo Emery Stoops, o planejamento visa: auxiliar os professores a ver com maior nitidez os problemas e as necessidades do aluno, fornecer uma Educação com Qualidade 21 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 liderança democrática eficiente na promoção do aperfeiçoamento profissional de escola e suas atividades em busca de relações harmoniosas e cooperativas do staff, estimulando a educação profissional aplicada, estimulando as relações Escola-Comunidade, construir uma sólida moral do grupo e unificar os professores num grupo de trabalho eficiente, a fim de atingir objetivos comuns, determinar o trabalho para o qual cada professora está melhor adaptado. Para Sebregondi, o planejamento tem por função; proporcionalidade entre os fins a atender e as possibilidades existentes, proporcionalidade entre os sistemas de desenvolvimento dos diversos setores, proporcionalidade entre os objetivos das diferentes fases, equilíbrio entre o esforço de produção e a formação cultural, profissional, técnica, administrativa e política. O QUE É PLANEJAMENTO? - Estabelecimento racional de hierarquia, de prioridades necessárias à Realização de um propósito definido. Processo que permite prever e avaliar os cursos de ação alternativas e futuras, com vistas à tomada de decisões mais adequadas e racionais. (NEUMANN, William, 1998) Formulação sistemática de um conjunto de decisões, devidamente integrado que expressa os propósitos de uma empresa e condiciona os meios de alcançá-los. (AMATO,1991) Processo moderno de separar um conjunto de decisões para ação futura, visando alcançar objetivos estabelecidos de antemão. Modo de traçar o esboço de uma situação futura, esboço baseado em decisões atuais, isto é, tomadas no presente e informadas em relação ao passado. Processo de raciocínio e de se enfrentar, de maneira criadora, as situações que se nos deparam. (FRIEDMANN, 1989.) Processo que objetiva bem distribuir no tempo e no espaço os recursos disponíveis, dentro de uma seqüência lógica de necessidades, a fim de possibilitar a elaboração de meios para alcançar o desígnio. Seleção e identificação dos objetivos globais, de longo prazo, de uma organização, dos vários cursos de ação possíveis em termos de custos e efetividade ou benefícios relativos, de modo a facilitar aos executores a decisão dos cursos em ação a serem adotadas para atingir os referidos objetivos. Educação com Qualidade 22 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 MOMENTOS NO PLANEJAMENTO: - entrada de informações (dados) - transformação das informações (análise, interpretações, previsão de dados) - saída dos produtos para a comunidade (o que foi planejado) - retorno dos elementos para replanejamento INFORMAÇÃO ENTRADA TRANSFORMAÇÃO SAÍDA RETORNO DE ELEMENTOS PARA REPLANEJAMENTO Como comunicam as decisões? Plano – é principalmente um meio para comunicar certas informações e para coordenar a ação com metas previamente escolhidas. Plano é o estabelecimento prévio de ação que se vai desenvolver. NATUREZA DO PLANEJAMENTO COORDENAR – ações – a fim de que? AGENTES-AÇÃO – focaliza atenção – para que? ECONOMIZAR – recursos – para que? FUTURO – voltado – para que? RACIONAL – de maneira – por que? DECISÕES – toma – por que? Educação com Qualidade 23 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 PRINCÍPIO E NATUREZA DE PLANEJAMENTO: O mecanismo do planejamento obedece a uma lógica interna, em torno da qual se articulam os princípios e se define a natureza do planejamento. Como primeiro degrau dessa escalada semântica, vamos encontrar a noção de plano. Todo plano é principalmente um meio para comunicar certas informações e para coordenar a ação com as metas previamente escolhidas. Plano é um artifício para registrar certas decisões. O processo que conduz à elaboração de um plano e sua revisão periódica constitui o planejamento. O planejamento propriamente dito é o processo dinâmico que culmina em decisões e providências decorrentes. As decisões são naturalmente tomadas tendo em vista a natureza do planejamento, e para que elas se efetivem com o indispensável grau de rendimento é preciso que sejam os mais conscientes possíveis, que disponham de uma visão precisa do contorno futuro, que as suas metas e as suas proposições executivas manipulem os recursos segundo as leis de uma economicidade madurae humanizada. Madura no sentido de rigorosa na distinção entre o prioritário e o assessório, entre o essencial e o supérfluo. Mas humanizada porque saberá impulsionar esse aparato rigoroso, tendo sempre em mente os superiores valores do homem. O sentido interativo de agente e paciente, conduzirão sempre os movimentos coordenadores da operação. TIPOS DE PLANEJAMENTO: - setorial: segundo as necessidades a atender: agricultura, educação, etc.; - social, econômico, administrativo – segundo o tipo de variáveis que manifestarão no processo; - municipal, regional, estadual – segundo a área de atuação ou competência; - micro e macro – segundo o nível de variáveis a manipular partindo da menor unidade existente (grupo) até o nível máximo (nacional). - Curto, médio, longo – períodos de decisão e execução. É a previsão global e sistemática de toda ação a ser desencadeada pela escola, em consonância com os objetos educacionais, tendo como foco o aluno. Educação com Qualidade professor quanto: à natureza dos estudos 24 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 É a previsão de todas as atividades que o educando realiza sob a orientação da escola para atingir os fins da educação. PLANEJAMENTO DE ENSINO: Processo de decisões bem informadas que visam à racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação ensino-aprendizagem. AO PLANEJAR, O PROFESSOR DEVE INTERROGAR E RESPONDER A SI MESMO: - O que pretende alcançar? - estabelecendo os objetivos a atingir em termos de ações a serem executadas pelos alunos. - Como distribuir bem o tempo? – analisando: tempo disponível x atividades a executar. - Como apresentar o assunto? – adequando métodos e técnicas à situação de aprendizagem. - Como poderei enriquecer a minha apresentação? – selecionando meios auxiliares de acordo com a situação de aprendizagem. - Que atividades deverão ser desenvolvidas pelo professor? – selecionado atividades que levem ao atingimento dos objetivos estabelecidos - Como valorizar o trabalho desenvolvido? – observando, medindo, formulando perguntas constantemente. IMPORTANTE: O plano de ação é roteiro real de trabalho, que deve estar sempre à mão do professor. Uma das características de um bom plano é a flexibilidade; portanto, faça ajustes sempre que necessário. Planeje atividades para serem executadas pelos alunos que se aproximem de situações reais do dia-a-dia; evite artificialismo. ETAPAS BÁSICAS DO PLANEJAMENTO DIDÁTICO PLANEJAMETO DIDÁTICO PARA QUÊ? objetivos - tomada de posição do Educação com Qualidade disciplinas segue uma ordem lógica, horários rígidos, sem considerar as diferenças de aprendizagem entre os alunos. O aluno aprende diretamente do 25 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 referentes à disciplina; às exigências sociais; à necessidade de auto- realização dos alunos. PARA QUEM? População – alvo - idade dos alunos - experiência anterior na sucessão do curso - motivação e interesse O QUE? Seleção de conteúdos - aspectos significativos do programa - conteúdos que atendam aos interesses dos alunos COMO? Modos operacionais - métodos - técnicas - recursos didáticos O QUE? Avaliação - conteúdo - hábitos - atitudes - habilidades - comportamentos ONDE? Fontes de informações - livros - revistas - publicações me geral O ensino deve ser entendido como uma ajuda ao processo de aprendizagem. Ajuda necessária, porque sem ela muito pouco provável que os alunos cheguem a aprender, e a aprender da maneira mais significativa possível, os conhecimentos necessários para seu desenvolvimento pessoal e para sua capacidade de compreensão da realidade de atuação nela. Entretanto, só ajuda, porque o ensino não substitui a atividade mental construtiva do aluno nem ocupa seu lugar (Onrubia, 1994, p. 101). 1. Modificar a idéia de uma escola e de uma prática pluridisciplinares para uma escola e uma prática interdisciplinares. A escola pluridisciplinar é a que conhece: As disciplinas do currículo são justapostas e isoladas entre si, geralmente sem integração entre os domínios do conhecimento. O ensino das Educação com Qualidade as pessoas, de modo que os profissionais da escola busquem alternativas para se 26 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 professor e do livro didático. Os problemas da vida real na sociedade (global e local), os interesses em que os alunos estão envolvidos, outras formas de saber, não se fazem presentes na sala de aula. Ou seja, critica-se a organização disciplinar porque ela lida com o conhecimento de forma estanque, fechada, fragmentada e, por isso, põe dificuldades ao conhecimento interdisciplinar. A noção mais conhecida de interdisciplinaridade é a interação entre duas ou mais disciplinas para superar a fragmentação, a compartimentalização, de conhecimentos, implicando uma troca entre especialistas de vários campos do conhecimento na discussão de um assunto, na resolução de um problema, tendo em vista uma compreensão melhor da realidade. A característica central da interdisciplinaridade, segundo Japiassu (1976), consiste no fat de ela conseguir incorporar os resultados de várias especialidades, tomando-lhes de empréstimo esquemas conceituais de análise, instrumentos e técnicas metodológicas, a fim de fazê-los integrar, depois de havê- los comparados e julgados. Nessa noção está a idéia de superação da especialização excessiva, portanto, de maior ligação teórica-prática, maior ligação da ciência com suas aplicações. A idéia é de que não se trata de conhecer por conhecer, mas de ligar o conhecimento científico a uma cognição prática, isto é, de compreender a realidade para transformá-la. Atitudes e práticas interdisciplinares todavia, não são incompatíveis com a organização do currículo por disciplinas científicas, porque não há prática interdisciplinar sem a especialização disciplinar. O vício principal do currículo por disciplinas é reduzido o ensino à exposição oral dos conteúdos factuais e aos materiais informativos dos livros didáticos, sem considerar o processo de investigação, o modo de pensar a que as disciplinas recorrem, a funcionalidade desses conteúdos para a análise de problemas e situações concretas e para a vida prática cotidiana. É daí que se postula uma atitude interdisciplinar que mobiliza o professor a transitar do geral ao particular e deste ao geral, do conhecimento integrado ao especializado e deste ao integrado, do território da disciplina às suas fronteiras e vice-versa. Uma mudança de atitude dos professores diante da rigidez da organização disciplinar implica compreender a prática da interdisciplinaridade em três sentidos: como atitude, como forma de organização administrativa e pedagógica da escola, como prática curricular. A atitude interdisciplinar, tal como propõe Fazenda (1994), significa não só eliminar as barreiras entre as disciplinas, mas também as barreiras entre Educação com Qualidade 27 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 conhecerem mais e melhor, troquem conhecimentos e experiências entre si, tenham humildade diante da limitação do próprio saber, envolvam-se e comprometam-se em projetos comuns, modifiquem seus hábitos já estabelecidos em relação à busca do conhecimento, perguntando, duvidando, dialogando consigo mesmos. Trata-se, portanto, de um modo de proceder intelectualmente, de uma prática de trabalho científico, profissional de construção coletiva do conhecimento. A organização escolarinterdisciplinar é um modo de efetivar a atitude interdisciplinar e se expressa na elaboração coletiva do projeto pedagógico e nas práticas de organização e gestão da escola. Começa, portanto, com a integração dos professores das várias disciplinas e especialistas num sistema de atitude e valores que garantam a unidade do trabalho educativo e se viabiliza por um sistema de organização e gestão negociado. É uma prática organizacional nova que possibilitará a intercomunicação de saberes, atitudes, valores, fulcro da interdisciplinaridade. Como prática curricular, há muitas formas de viabilização: reunir disciplinas cujos conteúdos permitem tratamento pedagógico-didático interdisciplinar (por exemplo, em projetos específicos ligados a problemas sociais, às grandes questões atuais, a temas unificadores etc.); formular, após levantamento de características da realidade local e da identificação de problemas mais significativos para o grupo de alunos, temas geradores que possibilitem a compreensão mais globalizaste dessa realidade por meio da contribuição de várias disciplinas; desenvolver práticas de ensino não convencionais que ajudem os alunos a aprender a pensar, a ter maior flexibilidade de raciocínio, a ver as coisas nas suas relações; em cada disciplina, orientar o estudo de um assunto para aborda-lo em todos os seus aspectos, ligações, relações internas e externas, e fazer a ligação com os problemas sociais e cotidianos. A atitude interdisciplinar requer uma mudança conceitual no pensamento e na prática docente, pois seus alunos não conseguirão pensar interdisciplinarmente se o professor lhes oferecer um saber fragmentado e descontextualizado. 2. Conhecer estratégias do ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender: A idéia do “ensinar a pensar” ou do “ensinar a aprender a aprender” está associada aos esforços dos educadores em prover aos meios da auto-sócio- construção do conhecimento pelos alunos. Muitos alunos desenvolvem, por si próprios, procedimentos alternativos de aprendizagem ou modos de pensar. Outros, no entanto, têm dificuldades de usar os conceitos, organizar ou Educação com Qualidade 28 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 reestruturar o pensamento, interpretar textos, adquirir métodos próprios de trabalho. Nisbet e Shucksmith (1994), preocupados com os processos de aprendizagem, perguntar: O que é que distingue alunos que aprendem bem de alunos que aprendem mal? O que é que distingue uma situação de aprendizagem satisfatória de outra insatisfatória de outra insatisfatória? E respondem: “É óbvio que a diferença não reside simplesmente na posse de um certo quociente intelectual ou mesmo numa série de técnicas ou métodos „corretos‟ . O que parece ser a chaves da relação de cada aluno diante da situação de aprendizagem é sua capacidade de captar, consciente ou inconsciente, as exigências da tarefa e de responder a elas adequadamente, ou seja, a capacidade de reconhecer e controlar a situação de aprendizagem” (p.22). Esse autores afirmam, a partir de suas pesquisas, que obtêm melhores resultados os estudantes que aprenderam a aprender. E acrescentam que se pode aprender a aprender de muitas maneiras, inclusive mediante o ensino. Não se trata, meramente, de técnicas instrumentais ou de prover ao aluno um repertório de habilidades mecanizadas, nem, muito menos, de reduzir a aprendizagem escolar à aquisição dessas estratégias. Elas constituem, no entanto, um passo importante, talvez indispensável, para atingir melhor capacidade de raciocínio, de pensamento criativo e de resolução de problemas no estudo de conteúdo escolares. É certo, assim, que a tarefa de ensinar a pensar requer dos professores o conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de suas próprias competências do pensar, se o professor não dispõe de habilidades de pensamento, se não sabe “aprender a aprender”, se é incapaz de organizar e regular suas próprias atividades de aprendizagem, será impossível ajudar os alunos a potencializarem suas capacidades cognitivas. 3 – Persistir no empenho de auxiliar os alunos a buscarem uma perspectiva crítica dos conteúdos: Essa recomendação não é mais que um desdobramento das estratégias do ensinar a aprender a aprender que culmina com o ensinar a pensar criticamente. O ensino, mais do que promover a acumulação de conhecimentos, cria modos e condições de ajudar os alunos a se colocarem ante a realidade para Educação com Qualidade 29 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 pensá-la e atuar nela. Nesse sentido, aprende a aprender não é mais que a condição em que o aluno assume conscientemente a construção do conhecimento, aprende como fazê-lo e utiliza os conteúdos internalizados (conceitos, habilidades, atitudes, valores) em problemas e necessidades da vida cotidiana. O que se agrega aqui, em termos de um pensar crítico, é a capacidade de problematizar, ou seja, de aplicar conceitos como forma de apropriação dos objetos de conhecimento a partir de um enfoque totalizante da realidade. Resumidamente, trata-se de uma abordagem crítico-social dos conteúdos em que os objetos de conhecimento (fatos conceitos, leis, habilidades, métodos etc.) são apreendidos nas suas propriedades e características próprias e, ao mesmo tempo, nas suas relações com outros fatos e fenômenos da realidade, incluindo especificamente as ligações e nexos sociais que os constituem como tais, isto é, como objetos de conhecimento. Em outras palavras, a apropriação crítica da realidade significa contextualizar um tema de estudo buscando compreender suas ligações com a prática humana. Quando o professor ensina um tema, uma matéria, ele deveria perguntar a si próprio e aos alunos: como os homens e mulheres, na sua atividade prática coletiva nas várias esferas da vida social, intervêm, modificam, constróem, esse tema de estudo? Qual é a sua importância para atender às necessidades práticas da vida social, como os problemas sociais, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, as necessidades humanas básicas? O que este tema tem a ver com as contradições sociais, com as desigualdades sociais, com a dinâmica das relações entre grupos e classes sociais? (Libâneo, 1995). 4 Assumir o trabalho de sala de aula como um processo comunicacional e desenvolver capacidade comunicativa: Nos tópicos anteriores foi apresentado o papel da escola na sociedade informacional, destacando-a como espaço de síntese, ou seja, local em que as informações recebidas das multimídia e das variadas formas de intervenção educativa urbana são reordenadas e sintetizadas, atribuindo-lhes significados (Colom, 1994). Não se elide dela, no entanto, a responsabilidade de lidar com o conhecimento sistematizado e com a potencialização das capacidades cognitivas e afetivas dos alunos. Para isso, necessitará utilizar linguagem não só para a busca de informação, mas também para a emissão de informação. É esse aspecto que intervêm os processos comunicacionais, pois toda a prática educativa intencional envolve capacidades comunicativas. Educação com Qualidade 30 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 Os requisitos pedagógicos da comunicação escolar já eram conhecidos dos educadores, antes mesmo que ocorresse maior aproximação entre teoria da educação e teoria da comunicação, assim como a adequação da linguagem conforme os significados a transmitir adaptação ao nível de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, formulação de conteúdos significativos, seleção, ordenação e seqüência dos conteúdos em função dos resultados desejados, atenção à “reação” dos alunos etc. Todaviaa concorrência a que o professor se obriga com outros meios de comunicação requer dele aprofundar-se nas técnicas de comunicação, tais como formas mais eficientes de expor e explicar conceitos e de organizar a informação, de mostrar objetos ou demonstrar processos, bem como domínio da linguagem informacional, postura corporal, controle da voz, conhecimento e uso dos meios de comunicação na sala de aula. Importante, também, considerar o ambiente ou contexto físico da comunicação educativa, como é o caso da organização do espaço da sala de aula. 5. Reconhecer o impacto das novas tecnologias da comunicação informação na sala de aula (televisão, vídeo, games, computador, internet, CD-ROM etc: A escola continuará durante muito tempo dependendo da sala de aula, do quadro negro, dos cadernos. Mas as mudanças tecnológicas terão um impacto cada vez maior na educação escolar e na vida cotidiana. Os professores não podem mais ignorar a televisão, o vídeo, o cinema, o computador, o telefone, o fax, que são veículos de informação, de comunicação, de aprendizagem, de lazer, porque há tempos o professor e o livro didático deixaram de ser as únicas fontes do conhecimento. Ou seja, professores, alunos, pais, todos precisam aprender a ler sons, imagens, movimentos e a lidar com eles. Kenski (1996, p. 133) apresenta esse assunto de uma forma muito pertinente: “Os alunos aprendem em múltiplas e variadas situações. Já chegam à escola sabendo mercado e shopping centers que visitam desde pequenos. Conhecem relógios digitais, calculadores eletrônicas, videogames, disco a laser, gravadores e muitos outros aparelhos que a tecnologia vem colocando à disposição para serem usados na vida cotidiana. Estes alunos estão acostumados, a aprender através dos sons, das cores, das imagens fixas das fotografias ou, em movimento, nos filmes e programas televisivos (...) O mundo desses alunos é polifônico e policrômico. É cheio de cores, imagens e sons, muito distante do espaço quase que exclusivamente monótono, monofônico e Educação com Qualidade 31 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 monocromático que a escola costuma lhes oferecer.” O texto da autora é muito rico em análises e orientações para os professores, fundamental em ajudar os alunos, a partir da informação, a buscar o conhecimento e, daí, aprender a atribuir significados à informação fragmentada, superficial, da televisão. As informações vem de forma global e desconexa através dos múltiplos apelos da sociedade tecnológica. A escola precisa aproveitar essa riqueza de recursos externos, não para reproduzi-los em sala de aula, mas para polarizar essas informações, orientar as discussões, preencher as lacunas do que foi apreendido, ensinar os alunos a estabelecer distâncias críticas com o que é veiculado pelos meios de comunicação (p. 143). É preciso portanto, que os professores modifiquem suas atitudes diante dos meios de comunicação, sob risco de serem engolidos por eles. Mas é insuficiente ver os meios de comunicação meramente como recursos didáticos. Os meios de comunicação social (mídia e multimídia) fazem parte do conjunto das mediações culturais que caracterizam o ensino. Como tais, são portadores de idéias, emoções, atitudes, habilidades e, portanto, traduzem-se em objetivos, conteúdos e métodos de ensino (Rezende e Fusari, 1994). Os meios de comunicação, portanto, apresentam-se, pedagogicamente, sob três formas conjugadas: como conteúdo escolar integrante das várias disciplinas do currículo, como competências e atitudes profissionais dos professores e como meios tecnológicos de comunicação humana (visuais, cênicos, verbais, sonoros, audiovisuais) (Libâneo, 1996). 6. Atender à diversidade cultural e respeitar as diferenças no contexto da escola e da sala de aula: Essa atitude diz respeito à preocupação em vincular o trabalho que se faz na sala de aula com a vida que os alunos levam fora da escola e com as diferentes capacidades, motivações, de aprendizagem de cada um. A diversidade cultural diz respeito, basicamente, à realidade concreta da diferença entre as pessoas. É levar em conta as experiências do cotidiano que os alunos têm na condição de brancos, negros, homens, mulheres, homossexuais, trabalhadores, pobres, remediados, e que não é possível atuar com todos os alunos da mesma maneira. Trata-se de reconhecer que os resultados escolares dos alunos dependem da origem social, da situação pessoal e familiar, da relação com os professores, tanto ou mais ainda do que a inteligência. Educação com Qualidade 32 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 Obviamente, os professores de hoje sabem que diferenças sociais, culturais, intelectuais, de personalidade, são geradoras de diferenças na aprendizagem. Todavia, o respeito às diferenças vai mais longe, implica um posicionamento ativo de reconhecer a diversidade que é “ver em cada indivíduo a presença do universal e simultaneamente a do particular” (Touraine, 1996, p.68). Atender à diversidade cultural implica, pois, reduzir a defasagem entre o mundo vivido do professor e o mundo vivido dos alunos, bem como promover, efetivamente, a igualdade de condições e oportunidades de escolarização a todos. 7. Investir na atualização científica, técnica e cultural, como ingredientes do processo deformação continuada: Com o advento de novas concepções de aprendizagem, a necessidade de ligação do conhecimento científico com os problemas da sociedade e do cotidiano e o desenvolvimento acelerado das novas tecnologias da comunicação e informação, é preciso colocar a auto-formação contínua como requisito da profissão docente. O exercício do trabalho docente requer, além de uma sólida cultura geral, um esforço contínuo de atualização científica na sua disciplina e em campos de outras áreas relacionadas, bem como incorporação das inovações tecnológicas. O professor precisa junta a cultura geral, a especialização disciplinar e a busca de conhecimentos conexos com sua matéria, porque formar o cidadão hoje é, também, ajudá-lo a se capacitar para lidar praticamente com noções e problemas surgidos nas mais variadas situações, tanto do trabalho quanto sociais, culturais, éticos. Freqüentemente, os professores estarão trabalhando com situações problema, temáticas integradoras, que requerem uma alfabetização científica e tecnológica (Santos, 1994), pela qual se incorpora aso saberes do cotidiano uma perspectiva mais estruturada, mais elaborada, para superar o senso comum. Essa atitude implica saber discutir soluções para problemas a partir de diferentes enfoques (interdisciplinaridade), contextualizar o objeto de estudo em sua dimensão ética e sociocultural, ter capacidade de trabalhar em equipe. Todas as disciplinas do currículo precisam estar conectadas a conteúdos e valores sociais que desafiam a atuação dos cidadãos: a educação ambiental, a educação para o consumo, a busca da paz, da solidariedade, da justiça, da saúde pública. Educação com Qualidade 33 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 8. Integrar no exercício da docência a dimensão afetiva: A cultura escolar inclui também a dimensão efetiva. A aprendizagem de conceitos, habilidades e valores envolvem sentimentos, emoções, ligadas às relações familiares, escolares e aos outros ambientes em que os alunos vivem. Proporcionar ao aluno uma aprendizagem significativa supõe da parte do professor conhecer e compreender motivações, interesses, necessidades de alunos diferentes entre si, capacidade de comunicação com o mundo do outro. Zemelman (1994) aponta pistas para o enfoque da questão dimensão científica/dimensão afetiva ao recomendar, na formação do ser humano, aarticulação entre a dimensão estritamente cognitiva, suscetível de uma linguagem analítica, inclusive formal, com a dimensão gnoseológica. Ele acrescenta: Nesta perspectiva, estamos cada vez mais na presença do desafio de articular linguagens, o que não é apenas uma questão epistêmica, própria do plano da construção do conhecimento mas, também, do próprio ensino. Não podemos trabalhar somente com linguagens analíticas mas saber articular linguagens simbólicas que nos mostram realidades diferentes. A realidade vivida, cotidiano ou não, não se capta da linguagem analítica mas, sim, através de uma conjunção de linguagens. Isto supõe abordar as mediações que há entre o conhecimento disciplinar e o que poderíamos definir como comportamento dos indivíduos, ou seja, seu mundo de vida como expressão do complexo universo em que está inserido o indivíduo concreto. (p 27). 9. Desenvolver comportamento ético e saber orientar os alunos em valores e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas, a si próprios: Dizer que a escola educa é tão banal como dizer que o aluno via à escola para aprender. Entretanto, pairam sobre os educadores as ameaças de um relativismo ético que pode comprometer o papel educativo do ensino que, no final das contas, consiste em aliar conhecimentos a convicções, considerando estas como princípios norteadores da personalidade diante de problemas e dilemas da vida prática. A formação de atitudes e valores, perpassando as atividades de ensino, adquire, portanto, um peso substantivo na educação escolar, porque se a escola silencia sobre valores, abre espaço para os valores dominantes no âmbito social. As escolas devem, então, assumir que precisam ensinar valores. Certamente, a todo momento a escola, os professores, o ambiente, passam valores como parte do chamado currículo oculto. Mas é justamente por isso que o grupo de professores e especialistas de uma escola precisa explicitar princípios norteadores para a vida prática decorrentes de um consenso mínimo, a partir da busca de sentidos de sua própria experiência. Não se trata, obviamente, de Educação com Qualidade 34 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 inculcar valores, de doutrinação política ou religiosa, mas de propiciar aos alunos conhecimentos estratégicos e procedimentos de pensar sobre valores e critérios de modos de decidir e agir. Mas como escreve Santos (1996, p. 104), “importa que o desenvolvimento dessas competências radique num currículo que antecipe situações de aprendizagem intencionalmente dirigidas para essa finalidade”. Pode-se considerar uma orientação sócio-construtiva, o desenvolvimento de competências do pensar no campo ético implicaria menos a adoção de valores éticos externos na forma de princípios universais, fixos e descontextualizados, e mais na busca de sentidos das ações cotidianas, de valores éticos ligados a comunidade escolar e ao grupo de professores. Não se quer, com, isso, negar princípios universais, mas saber contextualizá-los numa determinada sociedade, cultural local. Diz acertadamente Maclarn ()1993) que hoje certo relativismo é inevitável, na medida em que o conhecimento é sempre contingente e contextual. Mas continua a construção de uma política emancipatória da educação deve evitar qualquer relativismo geral que se recuse a tomar posição em questões de opressão humana e injustiça social”. Isso significa recusar a polarização ente valores universais e valores particulares (específicos) e tomá-los como mutuamente excludente. Eagleton, citado por Maclaren, escreve que uma política emancipatória começa pelo específico mas logo precisa deixá-lo para trás, dando o exemplo de liberdade “de ser Irlandês” ou “ser mulher”. E continua ironicamente, uma política de diferença ou de especificidade deve esta, antes de tudo a serviço da causa da similaridade e da identidade universal - – direito de um grupo, vitimizado em sua particularidade, a ficar em pé de igualdade com outros no que diz respeito à sua auto determinação. num movimento dialético, entretanto, essa mesma verdade deve ser deixada para trás tão longe é conquistada, pois a única razão de desfrutar essa igualdade abstrata universal é descobrir e viver a nossa diferença particular” (Maclaren, 1993, p.25). Touraine (1996) propõe algumas idéias para uma proposta de esquerda no quadro de transformações em curso na sociedade, tais como a internacionalização da economia, desenvolvimento acelerado das novas tecnologias, agravamento da exclusão social, ruptura do tecido social, aumento das desigualdades. Inicia pela solidariedade que significa estar ao lado dos excluídos e combater os efeitos das desigualdades sociais por meio de medidas concretas em favor dos desfavorecidos. Em seguida vem com idéia de liberdade do sujeito, ou seja, o direito dos indivíduos de viver e de ser reconhecidos como sujeitos, capazes de fazer opções e respeitar as dos outros. A terceira idéia é a de criar a diversidade no Educação com Qualidade 35 www.faculdadeapogeu.com.br Quadra 29 lotes 39/43 Setor Central Gama – DF (61)3484-7097 sentido de reconhecimento do outro, para ver em cada indivíduo a presença do universal e simultaneamente a do particular. É descobrir nos outros o esforço da subjetivação, e de se constituírem como sujeitos na sua individualidade e na sua identidade cultural que é, afinal, o reconhecimento dos direitos humanos fundamentais. A quarta, saber conviver com as diferenças, “fazer conviver sob as mesmas leis, pessoas com crenças, concepções de vida e interesses diferentes (p.72), incluindo a recusa em encaixar as pessoas em modelos culturais dominantes herdados da modernidade. O tratamento da questão ética na escola ainda depende de investigações mais consolidadas, mas constitui-se um desafio aos educadores preparem-se para ajudar os alunos nos problemas morais, tais como a luta pela vida, a solidariedade, a democracia, a justiça, a convivência com as diferenças, o direito de todos à felicidade e auto-realização. As condições formuladas neste texto promovem a valorização da escola e a dignificação do professor, mas não pretendem esconder os problemas. Políticos globais para a educação inexistem, as medidas anunciadas pelo governo a título de “reforma” são tímidas, setorizadas e fragmentadas. Por outro lado, a escola que temos encontra-se distante do que propõem as análises, e a desqualificação do profissional do professor é notória, porque os cursos de formação não vêm acompanhando as mudanças. Junto com isso, vem se acentuando da tendência de desprofissionalização e do decréscimo do conceito social da profissão perante a sociedade. Entretanto, para enfrentar os desafios do avanço acelerado da ciência e da tecnologia, da mundialização da economia, da transformação dos processos de produção, do consumismo, do relativismo moral, é preciso fortalecer os movimentos sociais que lutam por um maciço investimento na educação escolar e na formação dos professores. Para isso, há muitas tarefas pela frente, entre elas, as de resgatar a profissionalidade do professor, redefinir as características da profissão, fortalecer as lutas sindicais por salários dignos e condições de trabalho. É preciso junto com isso ampliar o leque de ação dos sindicatos envolvendo também a luta por uma formação de qualidade, por uma cultura do profissionalismo, de modo que a profissão ganhe mais credibilidade e dignidade profissional. É preciso, também, uma ligação maior da formação que se realiza na faculdade com a prática das escolas, trazendo os professores em exercícios para a universidade, para a discussão de problemas comuns. Seria fundamental que em cada escola os professores formassem uma equipe unida, centrando a organização dos professores no local de trabalho,
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