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39 Banco de Germoplasma Com o advento de novas técnicas agrícolas, especialmente nos países mais desenvolvidos, vem ocorrendo a substituição gradual de antigas cultivares por outras geralmente de base genética mais estreita, porém mais produtivas e portadoras de certas características superiores que as credenciam à aceitação pelos agricultores. Este fato pode ser considerado normal, quando se verifica a necessidade de maior produtividade para atender às necessidades de uma população mundial sempre crescente e a certas exigências das indústrias processadoras de produtos agrícolas. Apesar dessas justificativas é preciso lembrar que o melhoramento de plantas é um processo contínuo e que se deve reconhecer que, muitas vezes, tem-se que recorrer a antigas variedades ou a populações primitivas, em busca de genes específicos para utilização, em determinadas circunstâncias. A extinção desses materiais cultivados ou existentes nos centros de diversidade, conhecida como erosão genética , é altamente preocupante, por implicar na perda de genes valiosos que podem ser de importância em futuros programas de melhoramento genético. Exemplos típicos são variedades ou espécies selvagens portadoras de genes que conferem resistência às doenças, muitas dessas extremamente graves. Para solucionar esses problemas tornou-se necessária a formação de coleções de germoplasma contendo o maior número possível de componentes genéticos, como variedades, linhagens, clones, ou seja, com a maior variabilidade possível. Tais coleções recebem, genericamente, a denominação de Bancos de Germoplasma. O milho é um exemplo típico. A obtenção de cultivares melhoradas de milho, especialmente híbridos, relegou por muito tempo as antigas variedades indígenas a segundo plano, no Brasil e em outros países da América Tropical, como o México e o Peru, onde eram cultivadas por civilizações antigas, como os maias, astecas e incas. Esses dois últimos países são, coincidentemente, reconhecidos como Centros de Origem ou Diversidade Primário e Secundário, respectivamente, desse cereal. 40 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Quase sempre é praticamente impossível uma mesma instituição manter uma coleção completa, ou seja, com todos os materiais genéticos existentes, a nível mundial, de uma determinada cultura. Assim, geralmente recorre-se ao intercâmbio de material genético entre órgãos de pesquisa e/ou ensino em Ciências Agrárias que trabalham com as mesmas espécies e que, às vezes, colecionam também espécies afins. 4.1. FORMAS DE MANUTENÇÃO E CONTROLE Os bancos de germoplasma são compostos ou mantidos de formas variáveis, em função das espécies com que se trabalha, suas características específicas e também com os recursos humanos e físicos disponíveis. Para certas culturas, como a mandioca, de propagação vegetativa, é comum a instalação de grandes coleções em campo, do maior número de clones conhecidos ou de material in vitro , em âmbito regional, interestadual, ou mesmo internacional. Os melhoristas podem indicar alguns deles diretamente para plantio, como é o caso de certas introduções ou utilizá-los em programas de cruzamentos visando a obtenção de novos genótipos que combinem características existentes nos progenitores. Um exemplo é a utilização de materiais resistentes à bacteriose da mandioca, moléstia causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. manihots (Berthet & Bondar). Também se colecionam sementes botânicas de mandioca em câmaras com controle ambiente de temperatura e umidade atmosférica. Tais sementes são produtos, geralmente, de hibridações controladas ou policruzamentos, envolvendo variedades melhoradas. O armazenamento de sementes nessas condições é utilizado para quase todas as culturas que produzem grãos. O armazenamento em recipientes a vácuo sob temperatura de 2 a 5oC e umidade relativa de 4 a 7% possibilita a manutenção do poder germinativo por vários anos. Por isso, a intervalos de alguns anos, é recomendável realizar-se o plantio para renovação do material reprodutivo. Durante essa multiplicação periódica devem ser tomados cuidados em função do sistema reprodutivo da espécie, com vistas ao isolamento dos campos em termos de locais e épocas. A distribuição de grande quantidade de tipos ou variedades, no campo, é um trabalho que exige muito cuidado, especialmente na identificação e manutenção da identidade genética. Isto se aplica, especialmente, às plantas alógamas, como o milho, para as quais são necessárias técnicas especiais de proteção de inflorescências. É comum a multiplicação escalonada. 41 Banco de Germoplasma A principal finalidade da manutenção ou preservação de um banco de germoplasma é proteger a variabilidade evitando a erosão genética e disponibilizar o material para o melhorista. Com o aumento acentuado no número de entradas há dificuldades no manuseio do material, elevando-se o custo de sua manutenção. Uma alternativa, em alguns casos, é a mistura de tipos semelhantes quando o número de entradas é elevado e proveniente da coleta de variedades em uso por agricultores de uma dada região. O interesse, nesse caso, é manter uma amostra dos alelos para os vários genes presentes no material em questão. Culturas perenes como o cafeeiro, fruteiras e essências florestais, normalmente são mantidas em coleções vivas em condições de campo. Para outras espécies adota-se a técnica de cultivo in vitro , especialmente através da cultura de tecidos, mais comumente cultura de meristemas, que tem ainda a vantagem de limpeza de viroses e outras doenças. Essa técnica é hoje bastante empregada no intercâmbio internacional de material genético. O controle dos bancos de germoplasma, até recentemente, era realizado utilizando-se fichários descritivos, contendo anotações das características principais dos itens, ou acessos, que compõem a coleção. Atualmente, utiliza- se sistema informatizado, que contém as informações desejáveis a respeito de todos os acessos, facilitando a identificação do material disponível. Assim, a qualquer momento, os melhoristas têm em mãos informações importantes, especialmente quando se tratam de Instituições que mantêm coleções muito grandes. Essas instituições mantêm milhares de componentes genéticos e, evidentemente, a caracterização de cada um deles é impossível de ser memorizada pelos melhoristas. As descrições são aquelas de natureza botânico- agronômica que identificam seguramente as variedades e, até mesmo, espécies afins colecionadas juntamente. 4.2. CENTROS DE IMPORTÂNCIA PARA INTERCÂMBIO DE GERMOPLASMA Centros de diversidade são locais onde se podem encontrar materiais com possibilidade de utilização em programas de melhoramento de plantas, por serem ricos em termos de variação genética, apesar de que alguns deles não se encontram mais atualmente nas condições em que foram descobertos. O desenvolvimento de populações humanas, até mesmo a urbanização ocorrida em algumas dessas áreas geográficas, contribuíram muito para essa situação. 42 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Muitas instituições de pesquisa em melhoramento têm recorrido a esses locais visando a coleta e preservação de materiais aí existentes para uso em seus programas e ampliação da variabilidade dos bancos de germoplasmas. Como exemplo, sabe-se que o Serviço de Introdução de Plantas dos Estados Unidos enviou pesquisadores à Etiópia, um dos centros de origem do trigo, à procura de formas resistentes à virulenta raça 15B do fungo Puccinia graminis Pers. f. sp. tritici Eriks. & Henn, causador da ferrugem do colmo do trigo. Germoplasma resistente a doenças do tomateiro pode ser encontrado no Peru. Na América Latina, especialmente no México e América Central, existem antigas variedades indígenas de milho, que evoluíram através de milhares de anos sob domesticação, que têm sido utilizadas como fontes de alelos no melhoramento dessa cultura. Governos de muitos países se preocupam com o assunto. O Grupo Consultivo para a InvestigaçãoAgrícola Internacional (Consultive Group on International Agricultural Research - CGIAR) é o órgão que coordena a atuação de várias instituições no mundo voltadas para a preservação de germoplasmas, especialmente os centros internacionais de pesquisa que trabalham em programas com diferentes espécies. A seguir, citam-se institutos ou centros que fazem parte dessa rede internacional, encarregados de gerar tecnologia agrícola para vários países ou continentes e que possuem coleções vivas de materiais genéticos ou bancos de germoplasma, além de realizarem intercâmbio com diversos outros órgãos. Os centros internacionais de pesquisas localizam- se, em sua maioria, em países em desenvolvimento, em decorrência da finalidade com que foram criados, normalmente para promover desenvolvimento sócio-econômico na região. São eles, entre outros: - CIAT - Centro Internacional de Agricultura Tropical, sediado em Cali, Colômbia, com programas de arroz, feijão, mandioca e forrageiras tropicais. - CIP - Centro Internacional de La Papa, no Peru. Dedica-se ao melhoramento de batata. - CIMMYT - Centro Internacional de Mejoramiento de Maiz Y Trigo, sediado no México (milho e trigo). - IRRI - International Rice Research Institute. Localizado nas Filipinas, dedica-se ao melhoramento de arroz. - IITA - International Institute of Tropical Agriculture. Sediado em Ibadan, Nigéria, trabalha com alguns produtos agrícolas consumidos pelos 43 Banco de Germoplasma africanos de modo geral. Dedica-se a pesquisas com mandioca, milho, arroz, batata, inhame e leguminosas comestíveis. - IICA - Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura, em Turrialba, Costa Rica. - NATIONAL INSTITUTE OF AGRICULTURAL SCIENCES - Universidade de Kyoto - Japão. - INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGACIONES AGRICOLAS - México. - AGRICULTURAL RESEARCH SERVICE - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. - VIR - Vavilov All - Union Institute of Plant Industry -Rússia. Em Wageningen, Holanda, há um programa de recursos genéticos mantido pelos órgãos Foundation for Agricultural Plant Breeding e Governement Institute for Research on Varieties of Cultivated Plants . Na Suécia encontra-se um banco de genes escandinavo coordenado pela Swedish Seed Testing and Certification Station . No Brasil, várias instituições se responsabilizam pela manutenção de coleções de germoplasma de diferentes espécies. A EMBRAPA e empresas de pesquisas estaduais mantêm coleções específicas. Por exemplo, no caso do milho, o Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (CNPMS/EMBRAPA), em Sete Lagoas-MG, e o Instituto de Genética da ESALQ, em Piracicaba-SP; para a soja, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSo/EMBRAPA), em Londrina-PR; para o cacau, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira CEPLAC, mantém na Bahia o maior banco ativo de germoplama da espécie no mundo, com 21000 acessos; para arroz e feijão, o Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão (CNPAF/EMBRAPA), em Goiânia-GO e outros. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) mantém bancos de germoplasma de café, mandioca, arroz e outras culturas. Pesquisadores desse Instituto também estiveram na Etiópia, realizando coleta de formas selvagens de café. Vários outros órgãos, públicos principalmente, inclusive Instituições de ensino, cuidam também da manutenção de germoplasmas de diferentes espécies, como por exemplo, a Universidade Federal de Viçosa, com as culturas de feijão, soja e diversas hortaliças. Existem centros que desenvolvem trabalhos a nível nacional, como os centros de pesquisas da EMBRAPA, no Brasil e o ICA (Instituto Colombiano Agropecuário). 44 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos 4.3. FONTES DE GERMOPLASMA Na Figura 4.1. são apresentados os diferentes tipos de fontes ou formas de germoplasma de uma cultura, de acordo com a classificação de Sneep e Hendriksen (1979): 1. Cultivares modernas elites ou cultivares altamente produtivas. 2. Principais cultivares comerciais. 3. Tipos específicos para determinados propósitos. 4. Tipos obsoletos. 5. Estoques ( stocks ) para melhoramento (germoplasma elite). 6. Mutantes, testadores genéticos, poliplóides e aneuplóides. 7. Raças regionais ( land races ) - tipos primitivos ou não testados. 8. Fontes usuais de variabilidade citoplasmática. 9. Weed races (formas selvagens daninhas ou competidoras). 10. Espécies selvagens. 11. Híbridos artificiais interespecíficos ou intergenéricos. 12. Gêneros relacionados. CENTRO DE DIVERSIDADE Cultivares primitivas de "cultigens"(*) Híbridos naturais entre "cultigens" e espécies selvagens relacionadas Espécies selvagens e raças Gêneros relacionados PROGRAMAS DE MELHORAMENTO Linhas puras de cultivares de agricultores Cultivares híbridas elites ou híbridos F1 Linhagens Material estoque ("stock") Poliplóides Aneuplóides Híbridos interespecíficos e intergenéticos Compostos ou sintéticos CENTRO DE CULTIVO Tipos comerciais Cultivares obsoletas Cultivares inferiores Tipos para determinados propósitos. RESERVATÓRIO DE GENES (*) Cultigen - Termo da língua inglesa para designar um organismo cultivado de uma variedade ou espécie para a qual não se conhece um ancestral selvagem (segundo Webster s Thirdy New Internacional Dictionary). FIGURA 4.1. Espectro total de germoplasma em espécies cultivadas ( cultigens ) e suas fontes (Sneep e Hendriksen, 1979). 1
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