Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL PERSONALIDADE JURÍDICA 2 SUMÁRIO 1. CONCEITO .................................................................................................................................. 3 2. PESSOA FÍSICA OU NATURAL ...................................................................................................... 3 2.1 O NASCITURO .......................................................................................................................... 4 2.1.1 Conceito ............................................................................................................................ 4 3. A CAPACIDADE E OS CONCEITOS CORRELATOS ................................. Erro! Indicador não definido. 3.1 INCAPACIDADE ...................................................................................................................... 13 4. EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL .............................................................................. 18 5. EMANCIPAÇÃO ........................................................................................................................ 20 6. PESSOA JURÍDICA .................................................................................................................... 25 6.1 CONCEITO ............................................................................................................................. 25 6.2 TEORIAS EXPLICATIVAS E NATUREZA JURÍDICA ...................................................................... 26 6.3. SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA (COMENTÁRIOS AO ART. 45 DO CC) .............................. 26 6.4 PRINCIPAIS ESPÉCIES DE PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO ....................................... 28 7. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO ............................................................................ 39 8. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA......................................................................................................... 40 3 ATUALIZADO EM 25/03/20191 PERSONALIDADE JURÍDICA 1. CONCEITO A personalidade jurídica é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita jurídica. Segundo Clóvis Beviláqua, em sua Teoria do Direito Civil, mais do que um processo psíquico é um conceito jurídico fundamental. Tanto a pessoa física quanto a jurídica é dotada de personalidade. É atributo e não qualidade de todo ser humano, já que as pessoas jurídicas também são dotadas de personalidade. 2. PESSOA FÍSICA OU NATURAL Inicialmente, antes de aprofundarmos essa temática, uma pergunta se impõe: em que momento a pessoa física ou natural adquire personalidade jurídica? Essa resposta, aparentemente, encontra-se na primeira parte do artigo 2º do Código Civil, que diz: “a personalidade civil da pessoa começa no nascimento com vida”. Vale dizer, a partir do funcionamento do aparelho cardiorrespiratório. Nascendo, portanto, com vida, considerar-se-ia adquirida a personalidade. Todavia, a segunda parte do artigo 2º torna a matéria mais complexa, ao considerar que o nascituro (aquele ainda não nascido) teria direitos desde a concepção. Ora, nesse contexto, não teria o nascituro também personalidade jurídica? *#OUSESABER: O que se entende por estado civil da pessoa natural? Segundo Orlando Gomes, o estado da pessoa natural é a noção técnica destinada a caracterizar as situações jurídicas dos indivíduos nos mais diversos contextos sociais. Há três modalidades básicas de estados civis, são elas: (i) estado político: considera a situação jurídica do indivíduo em face do Estado nacional, ou seja, se ele é nacional, estrangeiro ou apátrida; (ii) estado individual: é definido de acordo com características físicas, psicológicas, etárias e comportamentais, classificando-os em: maiores e menores, do sexo feminino e masculino, capazes e incapazes; (iii) estado familiar: analisa a posição ocupada pelo indivíduo em uma família, não somente sob a perspectiva do matrimônio, mas também em relação ao parentesco. Cumpre destacar que essa modalidade de estado civil deve ser definida sob a perspectiva de um conceito de família aberto e eudemonista. 1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. 4 2.1 O NASCITURO 2.1.1 Conceito Lembrando a Doutrina de Limongi França, o nascituro é aquele que está por nascer, mas já concebido no ventre materno (é o ente com vida intrauterina). O embrião congelado não. Só quando ele é colocado no útero. OBS.: Natimorto e concepturo. O nascituro não pode ser confundido com o natimorto, ou seja, o nascido morto, assim como não pode ser confundido com o concepturo, ou seja, aquele que nem concebido foi ainda (prole eventual). O enunciado diz que não se pode lançar no lixo o natimorto porque isso viola a sua imagem. Mesmo nascido morto ele goza de proteção jurídica. Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura. (Enunciado nº 1 da 1ª Jornada de Direito Civil) Afinal de contas, qual a natureza jurídica do nascituro? Ele tem ou não personalidade jurídica? Trata-se de questionamento que desafia uma acesa polêmica. Fundamentalmente, três teorias tentam explicar a natureza jurídica do nascituro: a) Teoria Natalista (Vicente Ráo, Sílvio Rodrigues, Eduardo Espínola): a personalidade somente seria adquirida a partir do nascimento com vida independentemente da forma humana e de um tempo mínimo de sobrevida, de maneira que o nascituro, por não ser considerado pessoa, teria mera expectativa de direto. OBS.: Ainda que se adote a primeira teoria, é importante frisar, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana e na perspectiva da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que a aquisição da personalidade independe da forma humana e de um tempo mínimo de sobrevida (pela mesma razão, o art. 30 do Código Civil da Espanha experimentou uma recente reforma para afastar esses requisitos violadores da dignidade humana). O antigo artigo dizia que só teria vida se houvesse forma humana e 24 horas de vida. b) Teoria da personalidade condicional (Serpa Lopes): o nascituro gozaria de uma personalidade material para efeito de titularizar direitos personalíssimos (a exemplo do direito à vida), mas somente consolidaria direitos materiais, econômicos ou patrimoniais sob a condição de nascer com vida. Em outras palavras, o nascituro somente consolidaria a sua plena personalidade sob a condição de nascer com vida. O nascituro seria pessoa no que tange o direito à vida (direitos personalíssimos), mas não seria para adquirir direitos materiais. 5 *Maria Helena Diniz diz que o nascituro tem uma personalidade material (mantém relação com direitos patrimoniais e o nascituro só a adquire com o nascimento com vida) e uma personalidade formal (relacionada com os direitos da personalidade, o que o nascituro já tem desde a concepção). Na prática, se o nascituro morre dentro do ventre não adquire direitos sucessórios. Ele tem direito à vida, pré-natal. É mais aplicada na jurisprudência. Ela é confusa, pois considera o nascituro pessoa para certos direitos e para outros não. c) Teoria concepcionista (Clóvis Beviláqua,Silmara Chinelato): A terceira teoria, ao longo do tempo, vem ganhando mais espaço no Brasil. É a mais corajosa. Considera o nascituro pessoa desde a concepção, inclusive em face de direitos materiais2. Essa teoria ganhou grande força a partir da aprovação da Lei n.º 11.804/08 – Lei dos alimentos gravídicos – na medida em que o nascituro é, expressa e imediatamente, contemplado por um importante direito material, mesmo não tendo ainda nascido com vida. Você pode fazer uma doação ao nascituro, e quando ele nasce essa doação é consolidada. O nascimento apenas consolida direitos que já existem. Nos últimos anos, a Teoria Concepcionista vem ganhando ainda mais força, conforme podemos notar nas decisões do STJ que admitem em favor do nascituro o reconhecimento do dano moral (REsp 399028/SP). Exemplo: perdeu o pai e não pode conhecê-lo. Recebe indenização no mesmo valor que os irmãos que conheceram o pai (Nancy). Reforçando ainda mais a linha concepcionista, o STJ também tem admitido o pagamento da indenização do seguro DPVAT (independente de culpa) em favor dos pais pela morte do nascituro (noticiário de 15 de maio de 2011, REsp 1120676 de Santa Catarina). OBS.: Qual Teoria foi adotada pelo CC? Trata-se de um questionamento ainda permeado por uma acesa polêmica. A regra do Código Civil que trata do nascituro (art. 2º) é extremamente semelhante à regra do código anterior (art. 4º). Clóvis Beviláqua, em seus comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil (Ed. Rio, 1975, pág. 178), afirmava que a Teoria Concepcionista teria os melhores argumentos, mas o CC teria adotado a Natalista “por parecer mais prática”. Em nosso sentir, esta abalizada opinião ainda é atual: o código pretende adotar a natalista, mas sofre inequívoca influência concepcionista. *#ATENÇÃO: Em nosso sentir, mesmo após o julgamento da ADI 3.510 (Lei de Biossegurança – Lei n.º 11.105/2005), a polêmica quanto à natureza do nascituro e as suas teorias ainda continua. No âmbito da ADI em questão, o Supremo Tribunal Federal julgou constitucional o art. 5º da lei de Biossegurança, o qual permite a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas (para fins de pesquisa e terapia), produzidas através da fertilização in vitro, desde que inviáveis ou congeladas há três anos ou mais, sendo necessária a prévia autorização dos genitores. O STF adotou a Teoria Natalista para justificar a constitucionalidade do art. 5º da Lei de Biossegurança, pois com base nela o embrião fertilizado in vitro não é considerado nascituro e, portanto, não 2 Há doutrinadores que entendem em sentido contrário. 6 tem direitos e deveres, podendo ser manipulados (respeitados os termos da lei). O que infelizmente a lei não tratou foi a natureza jurídica que esses embriões possuem. c.1) A teoria Concepcionista e a jurisprudência brasileira Especialmente nos últimos anos a Teoria Concepcionista (que considera o nascituro pessoa) vem ganhando força no direito brasileiro: 1. O nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida, à proteção pré-natal, etc); 2. Pode receber doação; 3. Pode ser beneficiado por legado e herança; #DEOLHONOEXEMPLO: Um rapaz vai para o carnaval de Salvador, se encanta por uma moça, tem relação sexual com ela. Volta para o Paraná e 5 meses depois, descobre a gravidez. Ia visitá-la e no caminho para o aeroporto, morre. O Rapaz era muito rico. Quem herdará a herança dele? O filho (o nascituro pode ser beneficiado por herança). Acontece que no oitavo mês de gestação, ocorre um aborto espontâneo. Quem herda? No atual estágio do nosso direito, é necessário nascer com vida para consolidar o direito à herança, eventualmente transmitindo-o. Como foi dito, a Teoria Concepcionista AINDA está ganhando força. Assim, ainda não se admite a transmissibilidade direta para a mãe do nascituro, de modo que ocorrendo o aborto, os pais do jovem paranaense serão os herdeiros. 4. Pode-lhe ser nomeado curador para a defesa de seus interesses. É o que prevê o art. 1.779 do CC: “dar- se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar”. Esse tipo de curatela visa garantir os direitos do nascituro assim como propõe o art. 2º do CC, porém não existe um motivo claro para a nomeação de curador visto que o nascituro é menor incapaz e seria mais adequado nomear um tutor. Apesar de o artigo não expressar com detalhes, não é necessário o pai falecer, bastando ser ele desconhecido, ausente ou incapaz para caber nomeação, e, no caso da gestante se encontrar interditada, seu curador será também o curador do nascituro (Art. 1.779, parágrafo único); 5. Código Penal tipifica o crime de aborto (tutela a vida do nascituro); 6. Nascituro tem direito à realização do exame de DNA, para efeito de aferição da paternidade; 7. Lei dos “alimentos gravídicos” (Lei n.º 11.804/2008) confere ao nascituro o direito aos alimentos, que não é meramente personalíssimo, mas também tem seu condão econômico3. 3 Art. 2º. Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes. Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte das despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também deverá ser dada pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos 7 8. Reconhecimento do dano moral ao nascituro (REsp. 399028/SP, REsp. 931556/RS). 9. A possibilidade de indenização pelo seguro DPVAT em razão da morte do nascituro (REsp. 1120676/SC, Info. STJ de 15/05/11). Vale acrescentar ainda que no REsp. 1415727/SC, o relator Ministro Luiz Felipe Salomão salienta o crescimento da importância e da influência da Teoria Concepcionista no Brasil (recomenda-se leitura). *#AJUDAMARCINHO: DIZER O DIREITO – É cabível indenização do DPVAT por morte do feto em acidente de trânsito: mais um passo rumo à teoria Concepcionista. Em que consiste o DPVAT? O DPVAT é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou não. Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de DPVAT por invalidez. Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente. O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais. Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei? • no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima) • no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima)[...]Art. 6º - Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré. Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão. Art. 7º - O réu será citado para apresentar resposta em 5 (cinco) dias. 8 • no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como reembolso a cada vítima. Desse modo, a Lei n.º 6.194/74 (Lei do DPVAT) afirma que somente deverão ser pagas indenizações nas situações de morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares. Em se tratando de morte, quem receberá a indenização serão os herdeiros do falecido, na forma do art. 792 do Código Civil: “Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária”. Morte de nascituro A Lei do DPVAT prevê que a indenização será paga aos herdeiros em caso de morte, não falando expressamente em situações de morte de nascituro (feto). Isso sempre gerou intensas polêmicas: quando a lei fala em morte, inclui o aborto, ou seja, o fim da existência do feto? Imagine que Maria estava dirigindo seu carro quando se envolveu em um acidente que ocasionou o aborto do feto de 4 meses que estava esperando. Maria terá direito de receber a indenização do DPVAT pela morte do nascituro? SIM. O STJ decidiu que a beneficiária legal de seguro DPVAT que teve a sua gestação interrompida em razão de acidente de trânsito tem direito ao recebimento da indenização prevista no art. 3º, I, da Lei 6.194/1974, devida no caso de morte. STJ. 4ª Turma. REsp 1.415.727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014 (Info 547). OBS.: já havia outro precedente do STJ no mesmo sentido: (...) 1 - Atropelamento de mulher grávida, quando trafegava de bicicleta por via pública, acarretando a morte do feto quatro dias depois com trinta e cinco semanas de gestação. 2 - Reconhecimento do direito dos pais de receberem a indenização por danos pessoais, prevista na legislação regulamentadora do seguro DPVAT, em face da morte do feto. 3 - Proteção conferida pelo sistema jurídico à vida intrauterina, desde a concepção, com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana. 4 - Interpretação sistemático-teleológica do conceito de danos pessoais previsto na Lei nº 6.194/74 (arts. 3º e 4º). (...) (STJ. 3ª Turma. REsp 1120676/SC, Rel. p/ Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 07/12/2010) A resposta a essa indagação passa pela discussão sobre a natureza jurídica do nascituro. 9 O art. 2º do CC/2002 estabelece o seguinte: “Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. Podemos destacar três teorias principais que tentam explicar esse dispositivo: NATALISTA PERSONALIDADE CONDICIONAL CONCEPCIONISTA A personalidade jurídica só se inicia com o nascimento. O nascituro não pode ser considerado pessoa. Só será pessoa quando nascer com vida. A personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas o nascituro titulariza direitos submetidos à condição suspensiva (ou direitos eventuais). A personalidade jurídica se inicia com a concepção, muito embora alguns direitos só possam ser plenamente exercitáveis com o nascimento. O nascituro é pessoa desde o momento em que ele é concebido (o nascituro é um sujeito de direitos). O nascituro tem apenas expectativas de direitos. O nascituro possui direitos sob condição suspensiva. O nascituro possui direitos. Sílvio Rodrigues, Caio Mário, Sílvio Venosa. Washington de Barros Monteiro, Arnaldo Rizzardo. Silmara Chinellato e a grande maioria da doutrina No REsp 1.415.727-SC, o Min. Relator Luis Felipe Salomão (sempre genial) afirmou expressamente que, em sua opinião, “o ordenamento jurídico como um todo – e não apenas o Código Civil de 2002 – alinhou-se mais à teoria concepcionista para a construção da situação jurídica do nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea”. Para o Ministro, mesmo que se diga que a personalidade jurídica se inicia com o nascimento, ainda assim é forço concluir que o nascituro já deve ser considerado como pessoa. Caso contrário, não se vislumbraria nenhum sentido lógico na fórmula “a personalidade civil da pessoa começa” (art. 2º), se ambas – pessoa e personalidade civil – tivessem como começo o mesmo acontecimento. Portanto, o aborto causado pelo acidente de trânsito subsume-se ao comando normativo do art. 3º, I, da Lei 6.194/74, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina. Trata-se de mais um passo rumo à plena adoção da teoria CONCEPCIONISTA pelos Tribunais brasileiros. 10 3. A CAPACIDADE E OS CONCEITOS CORRELATOS Grande parte do que aprendemos na faculdade deve ser rasgado e jogado no lixo. A matéria foi reescrita a partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência, sendo algo ABSOLUTAMENTE NOVO. Inicialmente, vale lembrar a distinção existente entre capacidade e legitimação. A capacidade é conceito mais amplo, que nos conduz a uma aptidão geral reconhecida em lei para atuar na vida jurídica. Tradicionalmente, subdivide-se em capacidade de direito/gozo e capacidade de fato/de exercício. A capacidade de direito é a aptidão para titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica, de modo que toda pessoa (por ter personalidade jurídica) tem capacidade de direito. Ademais, se a pessoa tiver capacidade para praticar pessoalmente os atos da vida civil, terá também a capacidade de fato, possuindo capacidade plena. CAPACIDADE DE DIREITO+ CAPACIDADE DE FATO= CAPACIDADE PLENA Diferentemente, a legitimação é específica, traduzindo uma pertinência subjetiva (Calmon de Passos) para a prática de certos e determinados atos. Exemplo: Uma pessoa pode ser CAPAZ, mas não ter LEGITIMAÇÃO para a prática de certo ato. Seria o caso de dois irmãos que, a despeito de serem maiores e capazes, não podem casar entre si. *#NÃOCONFUNDIR: Legitimação é capacidade especial para determinado ato ou negócio jurídico. Já a legitimidade é capacidade processual, um dos pressupostos processuais, nos moldes do NCPC (art. 17, NCPC). O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146 de 06 de Julho de 2015) reconstruiu a teoria da capacidade civil. Até então, os arts. 3o e 4o do Código Civil brasileiro, dispondo sobre incapacidade absoluta e relativa, respectivamente, inseriam a deficiência como causa de incapacidade civil. Ainda que o título do Estatuto diga “da pessoa com deficiência”, ele diz respeito a todos nós. Antes, a pessoa com deficiência era direcionada a uma presunção de incapacidade. O que o estatuto fez foi desconstruir um paradigma, pois, a partir de sua entrada em vigor, as pessoas que eram rotuladas de incapazes, passam a ser consideradas LEGALMENTE CAPAZES, independente do seu grau de deficiência e ainda que necessite de um representante ou curador para praticar os atos da vida social. 11 O Estatuto desconstrói um paradigma! A partir do Estatuto da pessoa com deficiência, operou-se uma verdadeira desconstrução ideológica: a pessoa com deficiência (art. 2o do EPD) passa a ser considerada legalmente capaz, ainda que para atuar necessite do auxílio de institutos protetivos/assistenciais, tais como a tomada de decisão apoiada e a curatela (excepcional) (arts. 6º e 84 do EPD). *IMPORTANTE: REFORÇANDO:NÃO SE CHAMA MAIS, NO BRASIL, PESSOA COM DEFICIÊNCIA DE INCAPAZ. Para que se possa perceber a dimensão do Estatuto, confira-se o teor de seus artigos 2º, 6º e 84, nos quais a capacidade civil da pessoa com deficiência é expressamente reafirmada. Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1o A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III - a limitação no desempenho de atividades; e IV - a restrição de participação. § 2o O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência. Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. § 2o É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada. 12 § 3o A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. § 4o Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano. OBS.: O estatuto considera a curatela (art. 85) medida extraordinária, que só será aplicada quando rigorosamente necessário. Além disso, a curatela é limitada à prática de atos patrimoniais ou negociais (ex.: a venda de imóvel). Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. § 1o A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. § 2o A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado. § 3o No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STJ #OLHAOGANCHO: O art. 1.783 do CC prevê que se o curador for o cônjuge do curatelado e eles forem casados sob o regime da comunhão universal, em regra, ele não será obrigado à prestação de contas dos bens administrados durante a curatela, “salvo determinação judicial” que o obrigue a prestar. O STJ identificou duas situações nas quais o juiz poderá determinar a prestação de contas. Assim, o magistrado poderá (deverá) decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse prevalente do curatelado e a proteção especial do interdito quando: a) houver qualquer indício ou dúvida de malversação dos bens do incapaz, com a periclitação de prejuízo ou desvio de seu patrimônio, no caso de bens comuns; e b) se tratarem de bens incomunicáveis, excluídos da comunhão, ressalvadas situações excepcionais. STJ. 4ª Turma. REsp 1.515.701-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 637). Outra novidade é a possibilidade de se nomear mais de um curador para a mesma pessoa (curatela compartilhada), como, por exemplo, a nomeação de pai e mãe curadores de um filho maior com deficiência. Diversos direitos foram reconhecidos, no âmbito da educação, da família, da vida política, garantias de mobilidade e acessibilidade, enfim, uma verdadeira CONSOLIDAÇÃO das conquistas obtidas pela convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (Convenção de Nova York, a qual, junto com seu protocolo facultativo, é a uma convenção com status constitucional, aprovada pelo rito do Art.5º, §3º, da CF4). 4 *Importante lembrar que em 2015, o Brasil ratificou o Tratado de Marraquexe, tendo sido internalizado na forma do art. 5, §3º, da CF e, portanto, é o segundo tratado com status de emenda constitucional do país. 13 3.1 INCAPACIDADE Ora, com o reconhecimento da capacidade legal da pessoa com deficiência, os arts. 3o e 4o do CC/2002 sofreram profunda modificação, uma vez que, como dito, a deficiência não é mais causa de incapacidade civil. CC/2002 ANTES DO EPD/2015 CC/2002 DEPOIS DO EPD/2015 Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos [menores impúberes]. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos [menores púberes]; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) A partir do EPD, a única hipótese de incapacidade civil absoluta é a do menor impúbere, abaixo dos 16 anos, e, além disso, as hipóteses de incapacidade relativa não contemplam mais a deficiência. *ATENÇÃO: O inciso III, do art. 4o foi mal posicionado (erro topográfico), uma vez que é errôneo considerar como apenas “relativamente incapaz” aquele que não pode exprimir vontade alguma, a exemplo de quem está em coma, o surdo-mudo que não consegue se expressar e o idoso com mal de Alzheimer. 14 Finalmente, observe-se que o parágrafo único do art. 4o estabelece que a capacidade dos INDÍGENAS é regulada por legislação especial (ver art. 8o da Lei 6.001/1973). Comentários ao art. 3º e 4º do Código Civil: Como visto, todas as hipóteses de incapacidade por deficiência desapareceram. Salientamos, nos termos do novo sistema normativo, a impropriedade do inciso III do art. 4º, na medida em que pessoas impedidas de exprimir vontade, a exemplo de quem está em coma, não poderiam ser consideradas apenas relativamente incapazes. Ainda tratando da incapacidade relativa, observamos que os pródigos continuam contemplados na norma. O que se entende por pródigo?Segundo Clóvis Beviláqua, pródigo é aquele que desordenadamente gasta o seu patrimônio, podendo reduzir-se à miséria. Em geral, decorre de transtorno de personalidade, uma compulsão (pessoa viciada em jogatinas, por exemplo). Nos termos do art. 1.782 do CC, por conta da sua relativa incapacidade, poderá ser nomeado um curador ao pródigo, que irá assisti-lo apenas em atos de conteúdo patrimonial (emprestar dinheiro, transigir, dar quitação, alienar bens, hipotecar ou agir em juízo). Vale acrescentar ainda que o pródigo tem liberdade para casar ou manter união estável, de maneira que o seu curador apenas deverá se manifestar quanto ao regime de bens escolhido. Assim, não pode o curador intervir em escolhas existenciais do pródigo. OBS.:: Não é imposto ao pródigo que se casa o regime de separação total de bens de origem legal/obrigatória, pois ele não consta no rol taxativo do art. 1.641 do CC. No entanto, Flávio Tartuce entende que para a realização do Pacto Antenupcial o pródigo deverá ser assistido, por tratar-se de ato de disposição de seus bens, sob pena de anulabilidade do ato (art. 171, I, do CC). *#JÁCAIUEMPROVA: Prova MP/MG – O processo de constitucionalização do direito civil resultou no reconhecimento de que a pessoa, e não o patrimônio, está no epicentro do sistema normativo brasileiro. Nessa perspectiva, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana, o professor Luiz Edson Faquin elaborou a tese “Estatuto jurídico do Patrimônio Mínimo” (falou Fachin, falou patrimônio mínimo. Samba na cara do examinador!!), segundo a qual as normas civis devem resguardar um mínimo patrimonial para que cada pessoa tenha uma vida digna. Esse pensamento justifica as normas de proteção do pródigo e as normas referentes à impenhorabilidade do bem de família. 15 Outro ponto digno de nota é no sentido de que a idade avançada, por si só, não é causa de incapacidade civil. Além disso, a partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência, se juntamente com a idade avançada houver deficiência mental ou intelectual, como vimos, não será caso de incapacidade civil (a pessoa continuará sendo legalmente capaz). Assim, por exemplo, se o pai de João, o Sr. Joaquim, tem 93 anos e é portador de uma deficiência mental, ainda assim é considerado legalmente capaz, embora possa ser nomeado um curador para representá- lo quanto a atos negociais ou patrimoniais. OBS.: “restitutio in integrum” ou benefício de restituição – segundo Clóvis Beviláqua esse instituto tem origem romana e consiste no benefício concedido aos menores e às pessoas que se lhe equiparam, a fim de poderem anular quaisquer atos válidos sob outros pontos de vista, nos quais tenham sido lesadas. Não veio no CC de 1916 nem no de 2002. A regra é a já exposta. Pablo: Essa expressão pode ser utilizada no sentido de restituição integral de um dano no âmbito da responsabilidade civil. Todavia, em Theoria Geral, Clóvis Beviláqua, tratava-se de um benefício, criado no Direito Romano, concedido a menores e incapazes, no sentido de se poder anular um ato válido, sob a simples alegação de prejuízo. Esse benefício, em verdade, tratando-se de um negócio válido, violaria a própria segurança jurídica. O CC/16 expressamente o proibia, e, embora o código de 2002 seja silente, a doutrina entende que esta proibição continua mantida. OBS.: o que se entende por “estado de pessoas”? Segundo Orlando Gomes, a noção de status coliga- se a de capacidade. O status é uma qualidade jurídica decorrente da inserção de um sujeito numa categoria social, da qual derivam, para este, direitos e deveres. OBS.: Redução da maioridade civil: no âmbito do direito e família, não implica cancelamento automático da pensão alimentícia (REsp 347010/SP, REsp 442502/SP, HC 55606/SP), na medida em que deve acompanhar o alimentando, em regra, até a conclusão dos seus estudos. Ademais, a súmula 358 do STJ estabelece que o cancelamento da pensão exige o contraditório, não podendo, portanto, ser automático. Súmula 358, STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. O STJ decidiu que pós- graduação não autoriza a manutenção da pensão. Já no âmbito previdenciário, formou-se entendimento no sentido de que a redução da maioridade civil não altera os limites etários para a percepção de benefício previdenciário previsto em norma especial (ver nota SAJ 42/2003, e Enunciado 03 da 1ª Jornada de Direito Civil). Se a lei previdenciária manda pagar até 21 anos, ela prevalece e a redução do CC não se aplica. Enunciado 3: Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial. 16 Suprimento da Incapacidade5 O suprimento da Incapacidade Absoluta se dá através do instituto da Representação, enquanto a Incapacidade Relativa é suprida através da Assistência. R I A = Representação para Incapacidade Absoluta R I A = Assistência para Incapacidade Relativa Efeitos da Redução da Maioridade Civil: O art. 5º do Código Civil estabelece que a maioridade é atingida aos 18 (dezoito) anos completos, quando a pessoa fica habilitada para todos os atos da vida civil. Segundo Washington de Barros Monteiro, a maioridade é alcançada no primeiro instante do dia do aniversário. O mesmo autor afirma que, ignorada a data de nascimento, deverá ser feito exame médico para a verificação da maioridade, e, havendo dúvida, pender-se- á pela capacidade (“in dubio pro capacitate”). Redução da Maioridade Civil e Pensão Alimentícia: A redução da maioridade civil (dos 21 para os 18 anos) causou a acentuada polêmica, especialmente no âmbito dos alimentos. A jurisprudência do STJ já se consolidou (REsp 347.010 – SP, HC 55.606 – SP, Súmula 358) no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica o cancelamento automático da pensão alimentícia. A título de complementação de pesquisa, vale lembrar que conforme o parâmetro geral da jurisprudência, a pensão alimentícia é paga até a conclusão dos estudos. Em suma: O STJ entende ser vedada a exoneração automática da obrigação alimentar quando o credor da obrigação atinge a maioridade civil (18 anos), pois a simples maioridade não significa que o filho não irá mais depender do pai. Deve ser dada a oportunidade de o alimentando se manifestar e comprovar, se for o caso, a impossibilidade de prover sua subsistência. 5 A seguinte assertiva foi considerada correta (TJPR/2017): Em algumas situações, o ato-fato jurídico praticado pelo menor absolutamente incapaz produz efeitos. 17 *#SELIGANASÚMULA: Nesse sentido está o Enunciado da Súmula n.º 358 do STJ: “O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos”. OBS.: Para o STJ, nos termos do REsp 131.2706-AL, a obrigatoriedade de pagar pensão não alcança os estudos de pós-graduação. Finalmente, o mesmo tribunal tem defendido a tese dos alimentos transitórios (REsp 1388955 – RS), segundo a qual os alimentos entre ex-cônjuges ou ex-companheiros, tendo o credor saúde e aptidão para o trabalho, são temporários (o juiz fixa prazo para o pagamento da pensão alimentícia). Redução da maioridade civil e Benefícios Previdenciários: Segundo forte entendimento doutrinário, as normas previdenciárias são especiais, de maneira que um eventual auxílio ou benefício deve ser pago até o limite previdenciário estabelecido (enunciado 3 da I Jornada de Direito Civil). Assim, a redução da maioridade civil para18 anos não influencia no âmbito previdenciário. “Enunciado 3 da I Jornada de Direito Civil: Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial”. “Art. 16, I, da Lei 8.213/91: São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave”. Redução da maioridade civil e ECA De acordo com o art. 121, §5º, da Lei 8.069/90, “a internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento [...] § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade”. Esse dispositivo não foi revogado com a redução da maioridade civil. *#IMPORTANTE: “A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio do qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC. Para que a curatela seja instituída, é necessária a 18 instauração de um processo judicial por meio de uma ação de interdição. É necessário que o juiz nomeie curador especial ao interditando? • Se a ação de interdição for proposta pelo MP: SIM. O juiz deverá nomear curador à lide (curador especial), nos termos do art. 1.179 do CPC. • Se a ação de interdição for proposta por outro legitimado: NÃO é necessária a nomeação de curador à lide porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos interesses do interditando (art. 1.770 do CC)”. STJ 4ª Turma. REsp 1.099.458 - PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Informativo 553, STJ – 2015). *#CUIDADO #NCPC #ENTENDIMENTONÃOPREVALECE: Segundo comentários do Dizer o Direito no livro “Vade Mecum de Jurisprudência”, tal entendimento não prevalece com o NCPC. Nos termos no NCPC, o interditando poderá constituir advogado para defendê-lo no processo, e somente se ele não apresentar advogado, é que o Juiz irá nomear curador especial (art. 752, §2º, NCPC). O papel de curador especial será exercido pela Defensoria Pública (art. 72, par. único, NCPC e art. 4º, XVI, LC 80/94). Salienta-se que a atuação da Defensoria Pública como curadora especial não exige que o réu seja hipossuficiente economicamente. Nesses casos do art. 72 do NCPC, entende-se que o réu ostenta hipossuficiência jurídica, sendo, portanto, necessária a atuação da Defensoria Pública. Assim, novamente, questiona-se: É necessário que o juiz nomeie curador especial ao interditando? O entendimento jurisprudencial exposto no REsp 1099-458/PR NÃO PREVALECE com o NCPC, não importando, para fins de curador especial, se a ação foi proposta ou não pelo MP. RESUMINDO: O critério é a constituição ou não de advogado pelo interditando. 4. EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL A extinção da pessoa natural se opera com a morte, nos termos do art. 6º do CC. Trata-se de um assunto de alta complexidade, com implicações profundas de ordem filosófica ou científica, objeto, ainda, de um especial ramo da medicina legal, a tanatologia. (ver Manual de Medicina Legal de Delton Croce e Delton Croce Jr.). O critério que a comunidade científica mundial tem utilizado para a definição do óbito é a morte encefálica (ver resoluções 1480/97 e 1826/2007 do Conselho Federal de Medicina6). Vale lembrar, nos termos do art. 77 da Lei de Registros Públicos, que a morte deve ser declarada por um médico e, onde não houver, por duas testemunhas. Essa declaração é registrada no Livro de Óbitos do Cartório de Registro Civil. OBS.: no contexto do tema “extinção da pessoa natural”, vale indagar: o que se entende por testamento vital ou obstinação terapêutica ou morte digna (living will ou declaração de vontade antecipada)? Em linhas gerais, 6 http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1997/1480_1997.htmhttp://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/ 2007/1826_2007.htm 19 podemos conceituar o testamento vital como o ato jurídico por meio do qual o paciente manifesta, prévia e expressamente, o desejo de querer ou não receber determinado tratamento médico no momento em que estiver incapacitado para manifestar livremente a sua vontade. (ver resolução 1995/2012 do CFM). Na opinião de Stolze, ele salvaguarda a dignidade da pessoa humana. Morte presumida (#DICA: BASTA A LEITURA DO CÓDIGO): a) Com decretação de Ausência: a primeira hipótese de morte presumida é a ausência, regulada na segunda parte do art. 6º e a partir do art. 22 do CC. Ocorre quando a pessoa desaparece do seu domicilio sem deixar notícia ou representante que administre seus bens. Vale registar que é no momento da abertura da sucessão definitiva dos bens do ausente que ele é considerado presumidamente morto. A sentença de ausência é registrada em Livro próprio, e não no livro de óbitos, no Cartório do domicílio anterior do ausente, a teor do art. 94 da Lei de Registros Públicos. Não é causa de incapacidade. Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. b) Sem decretação de ausência (há indícios de morte): O art. 7º do CC estabelece hipóteses de presunção de morte, que não se confundem com a ausência, na medida em que, não há um simples desaparecimento, mas também fundados elementos da morte, a despeito do corpo não haver sido encontrado. Vale acrescentar que tais hipóteses de morte são analisadas em um procedimento de justificação, em que o juiz deve empreender todas as buscas, fixando a data provável do falecimento. Há 2 hipóteses: extrema probabilidade de morte e 2 anos após guerra. Aqui se registra do Livro de óbito. Se ele aparecer, tem que entrar com um processo novo. Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. 20 #EXCEÇÃO #CUIDADO #OUSESABER: As hipóteses de morte presumida sem declaração de ausência estão previstas apenas no cc? NÃO, as hipóteses de morte presumida independentemente de declaração de ausência estão previstas no art. 7º do Código Civil. Segundo a lei, as hipóteses são as seguintes: - Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; - Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Porém, outra hipótese menos conhecida está prevista no art. 1º da Lei 9.140/95, que assim prevê: "são reconhecidos como mortas, para todos os efeitos legais, as pessoas que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se, desde então, desaparecidas,sem delas haja notícias". Assim, as hipóteses não estão apenas previstas no Código Civil, pois a Lei 9.140/95 também prevê situação de morte presumida sem declaração de ausência, como afirma Flávio Tartuce em seu livro de Manual de Direito Civil. Comoriência: Inicialmente, não podemos confundir a comoriência com a premoriência. A premoriência significa precedência da morte. A comoriência, por sua vez, traduz uma situação de morte simultânea, ou seja, se duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa averiguar qual dos comorientes precedeu aos outros, presumem-se simultaneamente mortos (art. 8º, CC). *#IMPORTANTE: a presunção da comoriência somente é aplicada se não se puder indicar a ordem cronológica das mortes. Só há interesse se forem da mesma família, inserindo-se numa questão sucessória. A morte tem que ocorrer no mesmo lugar? Não. Apenas na mesma ocasião. Ex.: se um morreu primeiro, ele passa todo o patrimônio para o que morreu depois. Havendo morte simultânea, no entanto, abrem-se cadeias sucessórias autônomas e distintas, de modo que um comoriente nada herda do outro. 5. EMANCIPAÇÃO Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 21 I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial (VOLUNTÁRIA), ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos (JUDICIAL). II - pelo casamento; (16 anos) III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. É instituto também previsto em diversos sistemas jurídicos do mundo, inclusive o alemão, o português e o suíço. A emancipação, que poderá ser voluntária, judicial ou legal (art5º, parágrafo único, CC), é instituto jurídico por meio do qual se antecipam os efeitos da capacidade civil plena. OBS.: segundo Washington de Barros Monteiro, a maioridade é atingida no primeiro instante do dia em que se completa aniversário. a) Voluntária (art. 5º, Parágrafo único, inciso I, primeira parte): é aquela concedida pelo ato de ambos os pais ou de um deles, na falta do outro, em caráter irrevogável, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, desde que o menor tenha, pelo menos, 16 anos completos. OBS.: mesmo no caso em que apenas um detenha a guarda do filho, exige-se a autorização de ambos os pais, salvo no caso de falta de um deles. Até porque, a guarda não exclui o poder familiar daquele que não a tem. *#ATENÇÃO: embora o CC seja silente, a doutrina (Venosa), bem como a própria jurisprudência (REsp 122573/PR, AgRg AG 123957/RJ), apontam no sentido de que na emancipação voluntária, diversamente da legal, os pais permanecem solidariamente responsáveis pelos ilícitos cometidos pelo filho emancipado até que complete 18 anos de idade. b) Judicial (art. 5º, Parágrafo único, inciso I, segunda parte): trata-se da emancipação concedida pelo juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 16 anos completos (art. 91 LRP - o juiz deve comunicar a emancipação concedida ao oficial de registro no prazo de oito dias; a partir desse registro cartorário o ato produzirá efeitos). *#ATENÇÃO: Quem emancipa o menor sob tutela não é o tutor, é o juiz. Na voluntária, se houver discordância o juiz também decide, mas nesse caso Pablo entende que não é judicial propriamente dita. Aqui é conseguida pela sentença. Na outra, mesmo com a participação do juiz, é a mãe que vai levar no cartório. 22 *Enunciado 397 Jornada de Direito Civil: “A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por vício de vontade”. c) Legal ( art. 5º, Parágrafo único, incisos II a V): c.1) Casamento: emancipa por força de lei. As pessoas podem casar, com autorização, a partir dos 16 anos. Art. 1520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. *#NOVIDADELEGISLATIVA: Lei nº 13.811, de 12.3.20197 - Confere nova redação ao art. 1.520 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para suprimir as exceções legais permissivas do casamento infantil. Art. 1º: O art. 1.520 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código.” (NR). OBS.: Mesmo que haja divórcio ou separação, o emancipado não retorna à situação de incapacidade, na medida em que tais atos projetam os seus efeitos para o futuro. Por outro lado, se o casamento for invalidado, o emancipado retorna à situação de incapaz? A invalidação ataca o casamento na origem. Segundo a melhor doutrina (Tartuce, Simão, Zeno Veloso), a sentença que invalida o casamento o atinge ab initio, de maneira que, por consequência, a emancipação perderá a eficácia, ressalvada a hipótese de o juiz considerar o casamento putativo. c.2) Emprego público efetivo: por lógica, o cargo público também emancipa. *#ATENÇÃO8: importante ressaltar a controvérsia em torno deste inciso, exposta de forma clara por Anderson Almeida, em publicação no Jus Brasil: No que diz respeito à emancipação por força do exercício de emprego público efetivo, nos termos do artigo 5º, parágrafo único, III, do Código Civil de 2002, esse é bastante controverso em dias atuais, pois apesar de haver essa possibilidade devidamente expressa em lei de um menor emancipado poder assumir um cargo público, atendidos os devidos dizeres constitucionais, os concursos públicos atuais em seus respectivos editais exigem a idade mínima para a posse de candidato, devidamente aprovado em seu certame público, em tese, contar com idade mínima não inferior a 18 anos. Logo, mesmo que devidamente 7 Para mais informações, vide: https://www.dizerodireito.com.br/2019/03/lei-138112019-altera-o-codigo-civil.html 8 https://andersonmaiaalmeida.jusbrasil.com.br/artigos/111757461/emancipacao-as-duvidas-de-uma-juventude-transviada 23 emancipado, seja por qualquer das possibilidades previstas no artigo 5ª do Código Civil de 2002, o menor seria ainda considerado incapaz para o exercício de emprego público efetivo, levando em consideração as responsabilidades civis que acarretam o respectivo cargo. Mas como observamos na jurisprudência pátria, o tema comporta suas controvérsias, pois vejamos: MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. PRELIMINAR. LEGITIMIDADE. CONCURSO PÚBLICO. EXIGÊNCIA DE IDADE MÍNIMA DE DEZOITO ANOS PARA A POSSE. MENOR ANTECIPADO. SUPERVENIÊNCIA DAQUELA IDADE. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. SEGURANÇA CONCEDIDA. Investindo a segurança contra exigência feita no edital, a autoridade que o subscreve é legitimada passivamente para a causa. A emancipação de menor, aprovado em concurso público, atende o requisito de idade mínima de 18 anos para posse em cargo público, incidindo o princípio da razoabilidade. Ademais, o impetrante, posteriormente à impetração, completou 18 anos de idade. Segurança concedida para, afastada exigência do edital quanto à idade, assegurar ao impetrante o direito à posse. (MSG n. 2010.00.2.002136-5. Conselho Especial. Rel. Des. MARIO MACHADO. DJU de 14/07/2010. p. 58). Podemos destacas ainda mais: CONSTITUCIONAL – ADMINISTRATIVO – AÇÕES CAUTELAR E DE OBRIGAÇÃO DE FAZER - CONCURSO PÚBLICO – TÉCNICO LEGISLATIVO – CANDIDATOMENOR DE DEZOITO ANOS – POSSE – POSSIBILIDADE – EMANCIPAÇÃO - EXCEPCIONALIDADE. 1. Muito embora seja assente o entendimento de que é razoável a fixação da idade mínima de 18 (dezoito) anos para a investidura em cargo público, tratando-se de candidato emancipado e, portanto, apto ao exercício de todos os atos da vida civil, mostra-se indevida a recusa em dar-lhe posse no cargo para o qual foi aprovado, sobretudo quando este, por força de antecipação de tutela, vem exercendo suas funções há mais de 2 (dois) anos, tendo atingido a maioridade civil exigida. 2. In casu, a exoneração do autor implicaria mais desvantagens do que vantagens para a coletividade, se considerados especialmente os custos para a sua formação e aperfeiçoamento, somados aos gastos para capacitação de outro servidor. 3. Apelações conhecidas e não providas (APC n. 006.01.1.056287-0. 3ª Turma Cível. Rel. Desa. NÍDEA CORRÊA LIMA. DJU de 31/10/2008. p. 65). c.3) Colação de grau em curso de ensino superior c.4) Estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego + no mínimo 16 anos + economia própria: em regra, o estabelecimento civil é aquele para a prestação de um serviço, geralmente artístico, técnico ex.: professor de violão. Estabelecimento comercial está no campo da atividade do empresário ex.: feirante. A capacidade para o emprego começa aos 16. Mesmo que ele perca o emprego, ele não perde e emancipação, em razão da segurança jurídica. 24 O menor que ganha um salário mínimo é emancipado? Depende. Como sabemos, o novo Direito Civil inaugurou, especialmente a partir do CC 2002, um sistema aberto de normas compreensivo de inúmeros conceitos abertos e indeterminados, a exemplo da expressão “economia própria” e cláusulas gerais como “a função social e a boa-fé objetiva”, à luz do princípio da operabilidade. Nessa perspectiva, somente as circunstâncias do caso concreto, à luz do referido princípio da operabilidade, poderão orientar o juiz, de forma justa, o vago conceito de economia própria. *#IMPORTANTE: Questões especiais envolvendo o menor emancipado. EMANCIPAÇÃO E FALÊNCIA O menor emancipado que exerça atividade empresarial, na forma da Lei de Falências, poderá falir. Eventual ilícito penal praticado deve ser tratado como ato infracional, na forma do ECA (ver Paulo Henrique Sumariva – A lei de falência e a imputabilidade penal). Vale lembrar que a emancipação não antecipa a capacidade penal. Exatamente por isso o crime falimentar, nesse caso, será tratado como ato infracional. EMANCIPAÇÃO E ALIMENTOS O Emancipado, assim como se dá com o maior de 18 anos, pode não perder o direito aos alimentos, de acordo com as circunstancias do caso concreto (Apelação Cível 70011429321 - TJRS). EMANCIPAÇÃO E UNIÃO ESTÁVEL Segundo a letra da lei, o casamento emancipa e não a união estável. Mas a questão comporta discussão na doutrina (ver Thiago Simões – “a emancipação decorrente da união estável: uma possibilidade jurídica”). Não é questão pacífica. EMANCIPAÇÃO E CÓDIGO DE TRÂNSITO O menor antecipado pode dirigir? O emancipado não pode obter a Carteira Nacional de Habilitação, uma vez que o inciso I, do art. 140, do Código de Trânsito, exige que a pessoa seja penalmente imputável, e o emancipado não é (aplica-se o ECA, pois a emancipação não antecipa a capacidade penal). EMANCIPAÇÃO E PRISÃO CIVIL 25 Já se viu que o emancipado não pode ser penalmente preso. Mas embora não tenha capacidade penal, admite- se a prisão civil do menor emancipado por débito alimentar. Isso porque não se trata de uma prisão criminal, mas de um meio coercitivo de cumprimento da obrigação. Nessa linha, Otávio de Oliveira Pinto sustenta a possibilidade de prisão civil temperada por um regime diferenciado, a exemplo da prisão domiciliar (“A prisão civil do menor antecipado devedor de alimentos”, editora Virtual Books). Por conta da pouca idade e pela principiologia do ECA, apesar de poder ser preso civilmente, o autor sustenta que o emancipado não vá para a cadeia. *#CUIDADO #VAICAIR #OUSESABER: a emancipação antecipa a maioridade civil? A emancipação é uma das causas de cessação da incapacidade civil, mas NÃO antecipa a maioridade. Tal afirmação, numa prova, pode vir a confundir o candidato. Com efeito, o art. 5º do Código Civil prevê que a "menoridade cessa aos dezoito anos completos", não havendo, portanto, influência da emancipação. Assim, a menoridade somente finda aos 18 anos, independentemente da emancipação, cujo efeito é somente cessar a incapacidade civil. Sobre o assunto, vale citar o Enunciado 530 da VI Jornada de Direito Civil: "A emancipação, por si só, não elide a incidência do Estatuto da Criança e do Adolescente". Isso porque, como dito, a emancipação não antecipa a maioridade. 6. PESSOA JURÍDICA 6.1 CONCEITO Não nasce da dogmática jurídica, mas sim do fato associativo, da tendência humana ao agrupamento. A noção de pessoa jurídica, em verdade, conforme lembra a doutrina do sociólogo Machado Neto, encontra a sua raiz no fato associativo, ou seja, na natural tendência humana de se agrupar para o alcance de determinadas finalidades (Caio Mário em Instituições de Direito Civil). Sucede que, conforme observação de Orlando Gomes (Introdução ao Direito Civil), o Direito em determinado momento da história sentiu a necessidade de personificar esses grupos sociais, dotando-lhes de autonomia, surgindo, assim, a pessoa jurídica. OBS.: a denominação pessoa jurídica é a mais moderna e consagrada, embora outras expressões hajam sido utilizadas como pessoas morais, fictícias, místicas, universalidades e, no dizer de Teixeira de Freitas, que muito influenciou o direito argentino, entes de existência ideal. 26 Diante do exposto, é forçoso convir que, em um conceito básico e inicial, podemos definir a pessoa jurídica como um grupo humano, dotado de personalidade jurídica própria constituído na forma da lei para a realização de fins comuns. Vale acrescer, todavia, que as necessidades da sociedade contemporânea exigiram a criação de pessoas jurídicas peculiares, que escapam desse conceito básico a exemplo da fundação e da EIRELI. 6.2 TEORIAS EXPLICATIVAS E NATUREZA JURÍDICA a) Corrente negativista (Brinz, Bekker, Ihering): Negava a existência da pessoa jurídica, alegando que ela não seria nada mais que um grupo de pessoas físicas reunidas ou que seria um patrimônio reunido. b) Corrente afirmativista: aceita a existência. Várias teorias se inserem nessa corrente. As três principais teorias dentro da corrente afirmativista são a da ficção, a da realidade objetiva e a da realidade técnica. Todavia, outras teorias de menor repercussão podem ser lembradas, como a Teoria lógico-formal de Kelsen e a Teoria institucionalista de Hauriou. Vejamos as principais: b.1) Teoria da ficção (Windscheid, Savigny): a pessoa jurídica teria uma existência meramente abstrata ou ideal fruto da técnica do direito. Pecava por não reconhecer a existência objetiva e social da pessoa jurídica. b.2) Teoria da realidade objetiva ou organicista (Cunha Goncalves, Clóvis Beviláqua): oriunda especialmente do cientificismo sociológico reverenciado pelos positivistas como Beviláqua, avançava ao reconhecer que a pessoa jurídica teria uma existência objetiva e uma dimensão social, mas incorria no exagero oposto de negar-lhe a influência da técnica do direito. Reduzia a pessoa jurídica a um fenômeno meramente sociológico. b.3) Teoria da realidade técnica (Saleilles): consegue conjugar o que há de melhor nas duas teorias anteriores. Para essa teoria a pessoa jurídica teria uma existência objetiva e dimensão social, mas a sua personificação seria fruto da técnica do direito. Foi a teoria adotada pelo art. 45, do CC. Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivono respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. 6.3. SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA (COMENTÁRIOS AO ART. 45 DO CC) 27 O registro de uma pessoa física ou natural é meramente declaratório da sua personalidade, adquirida pelo nascimento com vida (art. 2º, do CC). Diferentemente, nos termos do art. 45, do CC/02, o registro de uma pessoa jurídica é constitutivo de sua personalidade, adquirindo personalidade com o registro de seu ato constitutivo – contrato social ou estatuto. Deve ser registrado na Junta Comercial ou no CRPJ (Cartório de registro de PJ). Excepcionalmente, algumas pessoas jurídicas, para se constituírem e terem existência legal demandam uma autorização específica do poder executivo, a exemplo dos bancos e das seguradoras. A regra geral é que toda pessoa jurídica tenha CNPJ, mas o fato de ter CNPJ não implica, que à luz da Teoria do Direito Civil e do CC em vigor, necessariamente, o ente tratado seja uma pessoa jurídica. Nos termos do CC, não havendo registro estamos diante de um ente despersonificado, regulado a partir do art. 986 do CC e que a respeitável doutrina clássica de direito comercial denominava de sociedade irregular ou de fato (Waldmar Ferreira). Vale acrescentar que nas sociedades irregulares ou de fato, a responsabilidade pelas dívidas sociais recai sobre o próprio patrimônio pessoal dos sócios os administradores. Condomínio, massa falida, herança jacente, espólio (art. 12 CPC/1973 – art. 75 CPC/2015), à luz da Teoria Geral do Direito Civil, não são pessoas jurídicas, são entes despersonificados com capacidade processual (Maria Helena Diniz fala em personificação anômala). Quanto ao condomínio, aliás, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 80/2011 (aguardando parecer na CCJ em 27.06.13), que pretende, alterando o CC, permitir os condomínios edilícios se constituírem como pessoas jurídicas. Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado; II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores; III - o Município, por seu prefeito ou procurador; IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado designar; V - a massa falida, pelo administrador judicial; VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador; VII - o espólio, pelo inventariante; VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores; IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens; X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil; XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico. § 1o Quando o inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o espólio seja parte. 28 § 2o A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a irregularidade de sua constituição quando demandada. § 3o O gerente de filial ou agência presume-se autorizado pela pessoa jurídica estrangeira a receber citação para qualquer processo. § 4o Os Estados e o Distrito Federal poderão ajustar compromisso recíproco para prática de ato processual por seus procuradores em favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelas respectivas procuradorias. OBS.: Pessoa jurídica pode sofrer dano moral? De acordo com o nosso direito positivo, é assentado firmemente que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227, STJ). Ademais, o próprio CC, em seu artigo 52, admite que a pessoa jurídica possa ser titular de certos direitos da personalidade compatíveis com a sua estrutura, a exemplo da imagem e da honra objetiva. Todavia, é digno de nota que uma parcela da doutrina critica a tese do dano moral à pessoa jurídica (Wilson Melo da Silva e Arruda Alvim), o que aparentemente ganhou reforço teórico a partir do Enunciado 286 da IV Jornada de Direito Civil. Art. 52: Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: o STJ entende que apenas pessoas jurídicas de direto privado podem sofrer dano moral (empresas). Pessoa jurídica de direito público não (Informativo 534). *#OUSESABER: As pessoas jurídicas são titulares dos direitos descritos na Convenção Americana de Direitos Humanos? Através de uma Opinião Consultiva (OC-22/16), a Corte Interamericana de Direitos Humanos, respondendo a uma solicitação realizada em 2014 pelo Panamá, concluiu que as pessoas Jurídicas não são titulares dos direitos humanos contidos na Convenção Americana de Direitos Humanos. A Corte interpretou o art. 1.2 da Convenção (“Para efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano”) para concluir que as pessoas jurídicas não são titulares de direitos convencionais, não podendo ser consideradas possíveis vítimas nos processos contenciosos do sistema interamericano. A Corte aduziu que o Direito Internacional dos Direitos Humanos desenvolveu-se para assegurar proteção às pessoas físicas e somente reconhecem, por dispositivos expressos e excepcionais, direitos a pessoas jurídicas a (i) Convenção Europeia de Direitos Humanos e (ii) a Convenção das Nações Unidas pela Eliminação de Toda Forma de Discriminação Racial. Mesmo diante da tradição constitucional de vários países da região (inclusive o Brasil) de reconhecer a titularidade de direitos essenciais por pessoas jurídicas, a Corte entendeu que a ausência de disposição expressa da Convenção a impedia de reconhecer tal titularidade às pessoas jurídicas. 6.4 PRINCIPAIS ESPÉCIES DE PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO 29 O rol do art. 44 do CC/02 não é exaustivo. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos. VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. Dois grandes grupos: corporações (associações e sociedades) e fundações. a) Associações: são formadas pela união de indivíduos com propósito de realizar uma finalidade ideal ou não econômica (art. 53). Não podem ter finalidade lucrativa. Algumas sociedades desportivas que geravam lucro para os seus conselheiros tiveram que se adaptar às regras do novo CC. Associações anteriores que geravam lucro viraram sociedades empresárias. Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. O ato constitutivo é o estatuto (art. 54), devendo seu registro ser feito no CRPJ. *Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais. #DOUTRINA: Corroborando o preceito legal, como bem observado por Flávio Tartuce9, foi aprovado o Enunciado 577 do CJF/STJ: A possibilidade de instituição de categorias de associados com vantagens especiais admite a atribuição de pesos diferenciados ao direito de voto, desde que isso não acarrete a sua supressão em relação a matérias previstas no art. 59 do CC. Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: I - a denominação, os fins e a sede da associação; II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusãodos associados; 9 (Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2018, p. 172) 30 III - os direitos e deveres dos associados; IV - as fontes de recursos para sua manutenção; V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. O órgão máximo de uma associação é a assembleia geral, cujas atribuições estão descritas no art. 59 do cc. Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral: I – destituir os administradores; II – alterar o estatuto. Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembleia especialmente convocada para esse fim, cujo quórum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Autonomia das entidades desportivas: a autonomia das entidades desportivas não é absoluta. O art. 59 do CC é compatível com a autonomia constitucional conferida aos clubes pelo art. 217, I, da CF/88. STF. 1ª Turma. ARE 935482/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 07/02/2017 (Info 853). Regra geral, nos termos do art. 61, dissolvida a associação, o seu patrimônio será atribuído a entidades de fins não econômicos designadas no estatuto ou, omisso este, à instituição municipal, federal ou estadual, de fins iguais ou semelhantes. Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes. § 1º Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação. § 2º Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União. Nos termos do art. 55 do CC, é possível haver categorias de associados com vantagens especiais, o que não se permite é a discriminação dentro de uma mesma categoria. 31 Finalmente, é digno de nota o cc ter admitido em seu art. 57, desde que haja justa causa, a expulsão de um associado, garantida a ampla defesa10. Esse art. 57 não deve ser aplicado em face de condomínios, na medida em que, refere-se a associações. Todavia, existe forte corrente de doutrina (Enunciado 508 da V Jornada), bem como já há posição em jurisprudência (Apelação cível 957743-1/TJPR), no sentido de, à luz do princípio da função social, admitir a expulsão do condômino nocivo, quando as multas aplicadas se mostrarem insuficientes (art. 1337, parágrafo único). Vale acrescentar ainda que essa exclusão pressupõe o respeito à garantia da ampla defesa e a propositura de uma ação judicial com essa finalidade. A assembleia autoriza o síndico, representando a coletividade, a ajuizar uma ação e quem concretiza a expulsão é o juiz (obrigação de não fazer). Enunciado 508: Verificando-se que a sanção pecuniária mostrou-se ineficaz, a garantia fundamental da função social da propriedade (arts. 5º, XXIII, da CRFB e 1.228, § 1º, do CC) e a vedação ao abuso do direito (arts. 187 e 1.228, § 2º, do CC) justificam a exclusão do condômino antissocial, desde que a ulterior assembleia prevista na parte final do parágrafo único do art. 1.337 do Código Civil delibere a propositura de ação judicial com esse fim, asseguradas todas as garantias inerentes ao devido processo legal. Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem. Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento antissocial, gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: APELAÇÃO CÍVEL. CONDOMÍNIO EDILÍCIO VERTICAL. PRELIMINAR. INTEMPESTIVIDADE. INOCORRÊNCIA. APELO INTERPOSTO ANTES DA DECISÃO DOS EMBARGOS. RATIFICAÇÃO. DESNECESSIDADE. EXCLUSÃO DE CONDÔMINO NOCIVO. LIMITAÇÃO DO DIREITO DE USO/HABITAÇÃO, TÃO- SOMENTE. POSSIBILIDADE, APÓS ESGOTADA A VIA ADMINISTRATIVA. ASSEMBLÉIA GERAL REALIZADA. NOTIFICAÇÕES COM OPORTUNIZAÇÃO DO CONTRADITÓRIO. QUORUM MÍNIMO RESPETITADO (3/4 DOS CONDÔMINOS). MULTA REFERENTE AO DÉCUPLO DO VALOR DO CONDOMÍNIO. MEDIDA INSUFICIENTE. CONDUTA ANTISSOCIAL CONTUMAZ REITERADA. GRAVES INDÍCIOS DE CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL, 10 Tal temática foi objeto de questionamento da prova do TRF3/2016 em que se considerou correta a seguinte alternativa: “É obrigatória a inclusão de norma estatutária nas associações que preveja o direito de recorrer dos associados na hipótese de sua exclusão.” 32 REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA A DE ESCRAVO. CONDÔMINO QUE ALICIAVA CANDIDATAS A EMPREGO DE DOMÉSTICAS COM SALÁRIOS ACIMA DO MERCADO, MANTENDO-AS PRESAS E INCOMUNICÁVEIS NA UNIDADE CONDOMINIAL. ALTA ROTATIVIDADE DE FUNCIONÁRIAS QUE, INVARIAVELMENTE SAIAM DO EMPREGO NOTICIANDO MAUS TRATOS, AGRESSÕES FÍSICAS E VERBAIS, ALÉM DE ASSEDIOS SEXUAIS ENTRE OUTRAS ACUSAÇÕES. RETENÇÃO DE DOCUMENTOS. ESCÂNDALOS REITERADOS DENTRO E FORA DO CONDOMÍNIO. PRÁTICAS QUE EVOLUIRAM PARA INVESTIDA EM MORADORA MENOR DO CONDOMÍNIO, CONDUTA ANTISSOCIAL INADMISSÍVEL QUE IMPÕE PROVIMENTO JURISDICIONAL EFETIVO. CABIMENTO. CLÁUSULA GERAL. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. MITIGAÇÃO DO DIREITO DE USO/HABITAÇÃO. DANO MORAL. NÃO CONHECIMENTO. MATÉRIA NÃO DEDUZIDA E TAMPOUCO APRECIADA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS FIXADOS EM R$ 6.000,00 (SEIS MIL REAIS). MANTENÇA. PECULIRIDADES DO CASO CONCRETO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 957743-1 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Arquelau Araujo Ribas - Unânime - - J. 13.12.2012) *#CUIDADO #EXCEÇÃO: as organizações religiosas e os partidos políticos, embora tenham natureza associativa, foram disciplinados de forma autônoma pelo legislador, com especial propósito de excluí-los do prazo legal de adaptação ao CC de 2002. Qual é a consequência da não adaptação ao CC? Não existe um artigo específico estabelecendo uma sanção única. As consequências derivam da própria interpretação do sistema. Nessa linha, observamos que a ausência de adaptação ao CC, poderá resultar em: impossibilidade de abertura de conta bancária, de obtenção e crédito ou financiamento, de participação em licitação, e, ademais, o ente passa a atuar de forma irregular, o que poderá resultar na responsabilidade pessoal dos seus sócios ou administradores. Pode até haver a desconsideração da personalidade jurídica. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O Código Civil, ao tratar sobre a responsabilidade das sociedades simples, estabelece o seguinte: Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais,
Compartilhar