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3 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
A língua não é um produto social estático e imutável. Pelo contrário, ela constitui um fenômeno repleto de dinamismo e transformações. De acordo com Alkmim (2001, p. 33) qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe variações. É possível até mesmo afirmar que nenhuma língua se apresenta como uma unidade estanque e homogênea, ou seja, a língua é representada por um conjunto de variedades.
 A mudança linguística e a variação são aspectos fundamentais para os estudos da ciência que recebeu o nome de Sociolinguística. Esse termo fixou-se, a princípio, no ano de 1964, em um congresso organizado por William Bright na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), do qual participaram diversos estudiosos que posteriormente viraram importantes referências na tradição dos estudos entre língua, linguagem e sociedade: John Gumperz, Einar Haugen, Dell Hymes, John Fisher, José Pedro Rona e William Labov. Inicialmente, a proposta de Bright para a Sociolinguística "era demonstrar a covariação sistemática das variações linguística e social, ou seja, relacionar as variações linguísticas observáveis em uma comunidade às variações existentes na estrutura social desta mesma sociedade" (BRIGHT, 1964 apud ALKMIM, 2001, p. 28).
Ao tentar descrever os objetos, conceitos e pressupostos que permeiam o estudo sociolinguístico, Eni Puccinelli Orlandi (1986, p. 49) explica que:
O objetivo da sociolinguística é sistematizar a variação existente na linguagem. Ela considera que o sistema da língua não é homogêneo, mas heterogêneo e dinâmico. As regras, portanto, têm de abranger a variação das formas. Trata a questão da mudança não na perspectiva evolutivo cronológica, como as gramáticas do século XIX, mas como diferenças de usos que podem ser observadas hoje. Quer dizer, a linguagem está sempre mudando e podemos observar essa mudança em curso, na atualidade. O falante real é levado em conta e os sociolinguistas analisam as formas linguísticas usadas pelos falantes em suas comunidades.
Em relação ao fator sincrônico de evolução das línguas, a variação linguística age, no idioma, por meio da influência que sofre de fatores de diversas ordens: sexo, classe social, localização geográfica e faixa etária. Existem alguns fatores que devem ser destacados: a identidade social do emissor ou falante, a identidade social do receptor ou ouvinte, o contexto social e o julgamento social distinto que os falantes fazem diante de seu próprio comportamento linguístico, dentre outros (ALKMIM, p. 28-29). A partir dos termos que constituem o repertório de sua região e das construções vocabulares pertinentes à sua idade, por exemplo, o falante molda seu comportamento linguístico próprio.
Esse conjunto de fatores possibilita a construção de um padrão dentro da língua que acaba “moldando” a sociedade. A partir do ato individual de utilização da língua (influenciado pela presença do outro) que se dá forma ao contexto comunicativo de toda uma totalidade de falantes que constituem a coletividade.
Alkmim (2001, p. 40), a respeito da implantação de uma variação linguística padrão que é prestigiada pela sociedade, esclarece: 
Constata-se, de modo muito evidente, a existência de variedades de prestígio e de variedades não prestigiadas nas sociedades em geral. As sociedades de tradição ocidental oferecem um caso particular de variedade prestigiada: a variedade padrão. A variedade padrão é a variedade linguística socialmente mais valorizada, de reconhecido prestígio dentro de uma comunidade, cujo uso é, normalmente, requerido em situações de interação determinadas, definidas pela comunidade como próprias, em função da formalidade da situação, do assunto tratado, da relação entre os interlocutores etc.
A constituição da variante padrão, também chamada de norma culta, está vinculada à linguagem que a sociedade caracteriza como “dos livros” ou “dos autores clássicos”. Portanto, a literatura – essencialmente, a literatura clássica – seria o maior exemplo de utilização da variedade de prestígio. A respeito do conceito de norma culta, que é fundamental para a gramática normativa, Rocha Lima (1989, p. 38) declara que: “fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou” (LIMA, 1989 apud BAGNO, 2001, p. 72).
Na tentativa de construir uma literatura que exprimisse uma identidade nacional que representasse não só as classes sociais mais altas, às quais se relaciona o uso da norma culta, mas todos os brasileiros – ou seja, uma literatura visceralmente brasileira – os autores do modernismo em diante começaram a trabalhar as mais diversas variações linguísticas em suas produções literárias.
4 ANÁLISE
Ainda que as variações linguísticas sejam características da língua falada, é possível estudá-las, à luz da Sociolinguística, a partir de um corpus de pesquisa relacionado à literatura. Ponte e Freitas (2013, p. 210), sobre a escolha da arte das palavras como objeto de análise de variações linguísticas em seu artigo, justificam:
Integrar língua e literatura – enquanto manifestações parceiras - é fundamental, pois além de formar um “elo” inseparável em se tratando de significância, quando integradas elas contemplam o fenômeno linguístico em sua plenitude.
Portanto, a partir dos pressupostos teóricos da Sociolinguística no que tange às questões referentes à mudança, ao uso e à variação linguística, serão analisados os poemas: “Pronominais” de Oswald de Andrade, “Amargo” de Jayme Caetano Braun e “Aula de Português” de Carlos Drummond de Andrade, com a finalidade de identificar e descrever o tipo de variação (diatópica, diastrática, diafásica ou diacrônica) trabalhado por cada autor em seu respectivo poema.
O primeiro poema a ser analisado é “Amargo”, do poeta gaúcho Jayme Caetano Braun:
Velha infusão gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vazilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina,
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma china!
A velha bomba prateada
Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincão de tapera!
Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história,
E repassando a memória
Vejo tropilhas de um pêlo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!
Nessa lagoa parada
Cheia de paus e de espuma
Vão cruzando uma, por uma,
Antepassadas visões
Fandangos e marcações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!
Sangue verde do meu pago
Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!
Gaudéria essência charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer,
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça!!!
Jayme Caetano Braun
Jayme Caetano Braun foi um exímio pajador do Rio Grande do Sul, e o orgulho da terra onde nasceu e viveu é muito evidenciado em suas obras poéticas, o que justifica o uso contínuo de variações linguísticas que marcam sua regionalidade e sua identidade como um homem do campo.
A variação diatópica – diferenças linguísticas relacionadas ao espaço físico ou região – é perceptível em todas as estrofesdo poema. Termos como “china”, “guasca”, “peleias”, “charrua”, “gaudéria”, “cordeona”, “cuera”, “rincão”, “bonchinchos”, “porongo”, pertencem ao léxico do universo geográfico em que o poeta se encontra.
Ainda que as variações diatópicas sejam mais visíveis, versos como “Vejo tropilhas de um pelo”, “Nalgum rincão de tapera!”, “Gaudéria essência charrua”, possuem variações diastráticas por serem características de pessoas que participam da atividade campeira gaúcha, ou seja, de um grupo social.
Para abordar um pouco mais da variação diastrática, será analisado o poema “Pronominais” de Oswald de Andrade:
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
Oswald de Andrade
O poema de Oswald de Andrade trabalha a regra variável da colocação pronominal no português. Os pronomes do caso oblíquo átonos, na língua portuguesa, podem ocorrer em três posições: antes do verbo (próclise) como em “Alguém me ligou?”, no meio do verbo (mesóclise), por exemplo: “Falar-lhe-ei a teu respeito” e depois do verbo (ênclise), como na oração: “Diga-me apenas a verdade”. Cada uma dessas colocações dá-se em função das motivações do ambiente linguístico em que ocorre, muito embora haja uma grande motivação sociocultural que impera na escolha (SOUZA, p. 84). Em “Dê-me um cigarro”, há o uso da ênclise, e em “Me dá um cigarro”, da próclise. 
Para a gramática normativa, que tem como seu pilar a norma culta padrão, o uso da ênclise é correto na sentença do primeiro verso, ao passo que a construção sintática do último verso seria considerada incorreta. O autor atribui o uso correto da norma padrão da língua a uma parte da população que possui um nível maior de instrução, ou seja, “Do professor e do aluno / E do mulato sabido”, enquanto o que destoa da norma padrão seria algo mais próximo do que a nação brasileira, em sua maioria, diria diariamente.
Portanto, Oswald de Andrade trata, em seu poema, da variação diastrática ou social, por entender que existem usos da língua relacionados ao grupo social em que se encontra o falante. Alkmim (2001, p. 35) define a variação diastrática e aponta:
A variação social ou diastrática, por sua vez, relaciona-se a um conjunto de fatores que tem a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade da fala. Neste sentido, podemos apontar os seguintes fatores relacionados às variações de natureza social: a) classe social; b) idade; c) sexo; d) situação ou contexto social.
Por último, para tratar da variação diafásica ou estilística presente na língua portuguesa, será trabalhado o poema “Aula de Português”, de Carlos Drummond de Andrade:
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade
Mesmo que não faça uso de exemplos, Carlos Drummond de Andrade também trata da variação linguística – no caso, a diafásica – em seu poema, e de uma maneira essencialmente conotativa e metafórica. Camacho (2011, p. 42), esclarece o conceito de variação estilística ou diafásica:
As variedades estilísticas resultam da adequação da expressão às finalidades específicas do processo de interação verbal com base no grau de reflexão sobre as formas que constituem a competência comunicativa do sujeito falante. O grau de reflexão é proporcional ao grau de formalidade da situação interacional: quanto menos coloquiais as circunstâncias, tanto maior a preocupação formal. [...] É possível considerar dois limites extremos na transição entre os diferentes estilos possíveis: o estilo informal, em que é mínimo o grau de reflexão sobre as formas empregadas, e o estilo formal, em que é máximo o grau de reflexão que se projeta sobre as formas linguísticas. A diferença essencial entre os dois graus extremos reside nos diferentes graus de adesão ao uso de formas padrão ou variantes de prestígio: no estilo informal a adesão às formas prestigiadas ou cultas é menor do que no estilo formal.
Na primeira estrofe, Drummond faz alusão a um tipo de linguagem que é “Na ponta da língua” e “Tão fácil de falar / e de entender”. O autor se refere, conotativamente, ao estilo informal da língua, que faz uso de uma linguagem mais casual ou menos monitorada pela gramática normativa.
De modo indireto, a poesia também faz referência ao estilo formal da variação diafásica, a qual Drummond caracteriza como um “mistério”. O autor cita um professor que supostamente seria quem o auxilia a entender essa “linguagem mais difícil” que está inserida na formalidade.
Drummond finaliza o poema com o verso “O português são dois; o outro, mistério”, explicitando a dualidade entre a fala mais coloquial (estilo informal) e a fala mais difícil de ser usada (estilo formal).
REFERÊNCIAS
ALKMIM, Tânia Maria. Sociolinguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, Anna C. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2001, p. 28-40.
BAGNO, Marcos. Veredas. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, n. 2, v. 5, p. 72 , 2001.
BRIGHT, William. (org) Sociolinguistics. In: Proceeding of the UCLA conference, 1964. 3. ed. The Hague: Mouton, 1966.
CAMACHO, R. Norma culta e variedades linguísticas. In Caderno de formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, v.11, p. 42, 2011.
ORLANDI, Eni. O que é linguística?, 1986. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009, p. 49. 
PONTE, William D.; FREITAS, Ernani C. D. Trama, Paraná: Universidade Estadual do Oeste do Paraná, n. 18, vol. 9, p. 210, 2013.
ROCHA LIMA, Carlos H. D. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 30. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989, p. 38.
SOUZA, William D. A MARgem, Uberlândia: Universidade Estácio de Sá, n. 11, p. 84, 2016.

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