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3 UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura - ProPPEC Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu Programa de Mestrado Acadêmico em Educação - PMAE VILMARA PEREIRA VEQUI EDUCAÇÃO FAMILIAR: COLABORAÇÃO E PARTICIPAÇÃO ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA NAS DIMENSÕES AFETIVA, COGNITIVA E DE SOCIALIZAÇÃO Dissertação apresentada ao colegiado do PMAE como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação – área de concentração: Educação – (linha de Pesquisa. Formação de professores e desenvolvimento profissional. Grupo de pesquisa: Educação e Trabalho). Orientadora: Profª. Dra. Elisabeth Caldeira Villela. ITAJAÍ (SC) 2008 i AGRADECIMENTO Quero expressar meus agradecimentos a todas as pessoas e instituições que prestaram seu apoio de uma forma ou de outra, a realização dessa dissertação. Em especial, a orientadora Professora Doutora Elisabeth Caldeira Villela, que desde o início interessou-se pelo tema da pesquisa e não mediu esforços para que a dissertação fosse realizada da forma mais adequada possível. A todos os Professores (as) do Programa de Mestrado pelos seus ensinamentos e incentivos. Com seus conhecimentos, tiverem a humildade de nos abrir caminhos que conduzissem à conquista da aprendizagem. Quero lembrar a Professora Doutora Tânia Regina Raitz, que juntamente com a minha orientadora realizou as atividades da disciplina e do grupo de pesquisa, sempre com palavras incentivadoras visando os resultados pré-estabelecidos e que aceitou compor a banca. Também quero lembrar, Núbia e Mariana, por serem especiais e atenciosas na secretaria deste Programa. Especialmente ao Professor Doutor Paulino de Jesus Francisco Cardoso por aceitar o convite em participar da Banca e com suas contribuições proporcionar maior qualidade a este trabalho. A Secretaria Municipal de Educação, que permitiu licença profissional para realizar esse estudo. Assim como autorizou nossa investigação a ser realizada nos Centros de Educação Infantil e Unidades Escolares. A esses, o agradecimento pela acolhida pelo espaço cedido mesmo com a sobrecarga do cotidiano escolar. Aos profissionais que aceitaram responder o questionário, e aos pais e mães que permitiram serem entrevistados. De forma especial ao meu filho Francisco, pelo carinho e compreensão nos momentos de estudo mesmo com sua pouca idade. Ao meu companheiro João, incentivador no desenvolvimento das atividades do mestrado. ii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Grau de Instrução dos habitantes do Loteamento Portal - Bairro Espinheiros .............................................................................................................25 Tabela 2 - Grau de Instrução do Bairro Barra do Rio..............................................25 Tabela 3 - Tipo de habitação do Loteamento Portal – Bairro Espinheiros ..............25 Tabela 4 - Tipo de habitação do Bairro Barra do Rio. .............................................26 Tabela 5 - Renda Mensal da pessoa responsável pelo domicílio no Loteamento Portal – Espinheiros. ...............................................................................................26 Tabela 6 - Renda Mensal da pessoa responsável pelo domicílio no Bairro Barra do Rio...........................................................................................................................26 Tabela 7 - Dimensão Afetiva referente aos profissionais da Educação Infantil.......55 Tabela 8 - Dimensão Cognitiva referente aos profissionais da Educação Infantil...57 Tabela 9 - Dimensão Socializadora referente aos Profissionais da Educação Infantil. ....................................................................................................................59 Tabela 10 - Dimensão Afetiva referente aos Profissionais do Ensino Fundamental. ......................................................................................................................... ......60 Tabela 11 - Dimensão Cognitiva referente aos Profissionais do Ensino Fundamental ...........................................................................................................61 Tabela 12 - Dimensão Socializadora referente aos Profissionais do Ensino Fundamental. ..........................................................................................................63 Tabela 13 - Dimensão Afetiva referente a Mães e Pais das crianças da Educação Infantil. ....................................................................................................................65 Tabela 14 - Dimensão Cognitiva referente a Pais e Mães das crianças da Educação infantil......................................................................................................................66 Tabela 15 - Dimensão Socializadora referente a Pais e Mães das crianças da Educação Infantil.....................................................................................................67 iii Tabela 16 - Dimensão Afetiva referente a Pais e Mães das crianças do Ensino Fundamental. ..........................................................................................................69 Tabela 17 - Dimensão Cognitiva referente a Pais e Mães das crianças do Ensino Fundamental. ..........................................................................................................70 Tabela 18 - Dimensão Socializadora referente a Pais e Mães das crianças do Ensino Fundamental. ..............................................................................................71 Tabela 19 - Educação Familiar segundo os Profissionais da Educação Infantil .....77 Tabela 20 - Educação Familiar segundo os Profissionais do Ensino Fundamental 77 Tabela 21 - Discussão ou conteúdo desenvolvido na graduação. Profissionais da Educação Infantil.....................................................................................................78 Tabela 22 - Discussão ou conteúdo desenvolvido na graduação. Profissionais do Ensino Fundamental ...............................................................................................78 Tabela 23 - Atividades desenvolvidas sobre educação familiar. Profissionais da Educação Infantil.....................................................................................................79 Tabela 24 - Atividades desenvolvidas sobre educação familiar. Profissionais do Ensino Fundamental. ..............................................................................................80 Tabela 25 - Relação escola-família. Profissionais do Ensino Fundamental............81 Tabela 26 - Possibilidade da Educação Familiar ser discutida na sua Formação inicial e Continuada. Profissionais do Ensino Fundamental....................................81 Tabela 27 - Considera positivo ou negativo o envolvimento da escola na orientação às famílias. Profissionais da Educação Infantil. ......................................................83 Tabela 28 - Considera positivo ou negativo o envolvimento da escola na orientação às famílias. Profissionais do Ensino Fundamental. .................................................84 Tabela 29 - Relação escola-família. Profissionais da Educação Infantil. ................85 Tabela 30 – Relação escola-família. Profissionais do Ensino Fundamental ...........86 Tabela 31 - Relação colaborativa entre escola e família. Pais e mães da Educação infantil......................................................................................................................87 iv Tabela 32 - Relação colaborativa entre escola e família. Pais e mães do Ensino Fundamental. ..........................................................................................................88 Tabela 33 - Escola com relação à família.Pais e mães da Educação Infantil. .......89 Tabela 34 - Escola em relação à família. Pais e mães do Ensino Fundamental.....89 Tabela 35 - Principais práticas que podem contar para atividade educadora. Educação infantil.....................................................................................................90 Tabela 36 - Principais práticas que podem contar para atividade educadora. Pais e mães do Ensino Fundamental.................................................................................90 Tabela 37 - Orientações que gostaria de receber no seu papel de formador e educador. Pais e mães da Educação Infantil. .........................................................91 Tabela 38 - Orientações que gostaria de receber para ajudar no seu papel de formador e educador. Pais e mães do Ensino Fundamental. .................................92 Tabela 39 - Quanto a necessidade de estar mais próximo (a) do cotidiano escolar e do processo educativo dos filhos (as). Pais e mães do Ensino Infantil. ..................93 Tabela 40 - Quanto a necessidade de estar mais próximo (a) do cotidiano escolar e do processo educativo dos filhos (as). Pais e mães do Ensino Fundamental.........93 Tabela 41 - O motivo que leva a uma criança ter dificuldades na aprendizagem. Pais e mães da Educação Infantil. ..........................................................................93 Tabela 42 - O motivo que leva a uma criança ter dificuldades na aprendizagem. Pais e mães da Educação Fundamental.................................................................94 v LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Vínculo Empregatício ..........................................................................72 Gráfico 2 - Vínculo Empregatício ..........................................................................73 Gráfico 3 - Vínculo Empregatício ..........................................................................73 Gráfico 4 - Formação. ...........................................................................................74 Gráfico 5 - Formação ............................................................................................74 Gráfico 6 - Estado Civil. ........................................................................................75 Gráfico 7 - Formação ............................................................................................75 Gráfico 8 - Estado Civil .........................................................................................76 vi RESUMO Esta pesquisa tem o objetivo de investigar como a Educação Familiar pode interferir na melhoria do processo educativo. Pretende analisar a colaboração e participação entre escola e família nas dimensões: afetiva, cognitiva e de socialização. Portanto, o problema deste estudo busca soluções de como os profissionais da educação podem em conjunto com pais e mães incentivar os alunos (as) a alcançarem melhores rendimentos. A primeira dimensão fundamentada, principalmente em Wallon (1989), no qual afirma, que afetividade e inteligência constituem um par inseparável, embora tenham funções definidas e diferenciadas, são interdependentes em seu desenvolvimento, permitindo à criança atingir níveis de evolução cada vez mais elevados. A segunda dimensão, baseada entre outros em Piaget (1987), que lembra: todo processo de desenvolvimento inerente ao ser humano passa pela dimensão social e envolve cognição. Para a terceira dimensão, buscou-se como referencial as fundamentações de Vygostky (1993), que afirma: o ser humano constitui-se como tal na sua relação com o outro, reforçando que afetividade e inteligência são indissociáveis e intimamente ligadas e influenciadas pela socialização. Quanto à Educação Familiar, recorreu-se à Quintana (1996), à Ramos (2002) e Rodriguéz (2004), entre outros que tratam da relação escola-família, do envolvimento dos pais e mães na orientação e formação de seus filhos (as) destacando a auto- imagem, a auto-estima e a confiança em si mesmo. Assim como o acompanhamento e interesse no processo educativo, ressaltando uma relação de colaboração e participação entre as instituições família e escola. Esta pesquisa tem abordagem de natureza qualitativa e quantitativa, pois, foram utilizados questionários e entrevistas semi-estruturadas e opta-se pela análise de conteúdo em Gil (1999). A pesquisa foi desenvolvida em Centros de Educação Infantil e Unidades Escolares da Rede Municipal de Ensino de Itajaí. Pretende-se contribuir para a melhoria do processo educativo, especialmente nas relações da escola e da família referente ao trabalho docente como um eixo colaborativo na formação educacional e construção identitária dos alunos (as). Esta pesquisa contribui com a elaboração das propostas de inserção da disciplina Família na Formação Inicial nos cursos de Formação de professores (as); o tema Família na Formação Continuada para professores (as); e o Programa de Atenção, Apoio e Orientação aos Estudantes e suas Famílias. Os resultados apontam que profissionais da educação percebem a necessidade de uma disciplina de caráter obrigatório que aborde o tema da educação familiar e também estão cientes de que pais e mães precisam de um programa de orientação sobre a educação e formação de seus filhos (as), demonstram preocupação em promover a interação entre escola e família. Os dados apontam que consideram a importância de discutir o tema da educação familiar, simpatizam com a implantação de um serviço de triagem com alunos (as) que sinalizem quais comportamentos mereçam uma intervenção mais direta e o encaminhamento ao programa. Palavras-chave: Escola-Família. Afetividade. Cognição. Socialização. vii ABSTRACT This study investigates how Family Education can influence the educational process. It seeks to analyze the collaboration and participation between the school and the family, in the following areas: affective, cognitive and socialization. This study therefore looks for solutions for enabling educational professionals to motivate their students, working together with the parents, to achieve better results. The first dimension is based mainly on Wallon (1989), who states that affectivity and intelligence are inextricably linked; although they have clearly- defined and separate functions, they develop interdependently of each other, enabling the child to achieve higher levels of development. The second dimension is based on Piaget (1987), among other authors, who reminds us that: every process of development inherent to the human being goes through the social dimension and involves cognition. For the third dimension, the theoretical framework was taken from Vygostky (1993), who states that: the human being becomes a human being through his/her relationship with others, emphasizing that affectivity and intelligence are indissolubly and intimately linked, and are influenced by socialization. For the theme of Family Education, the theoretical background was taken from Quintana (1996), Ramos (2002) and Rodriguéz (2004) among others, who deal with the relationship between the school and the family and the involvement of parents in guiding and training their children, highlighting self-image, self-esteem and self-confidence. Besides accompanying and taking an interest in the educational process, a relationship of collaboration and participation is emphasized, between the institutions of family and school. This study takes a qualitative and quantitative approach, with the use of questionnaires and semi-structured interviews, and opts for the analysis of content according to Gil (1999). The research was carried out in Children’s Education Centers and School Units of the Municipal Education Network of Itajaí. It seeks to contribute to improving the educational process, particularly in the relationship between the school and the family in relation to the teacher’swork, as a form of promoting the educational formation and construction of identity of the students. This study contributes to elaborating proposals for including the discipline of Family in the Initial Training of Teacher Training courses; the theme Family in the Professional Development of teachers; and the Program of Attention, Support and Guidance for Students and their Families. The results indicate that education professionals perceive a need for a compulsory discipline which addresses the theme of family education, and are also aware that the parents need a program of guidance on how to educate and train their children. The teachers also show a concern with promoting interaction between the school and the family. The data indicate that they believe it is important to discuss the theme of family education, and that they agree with the idea of implementing a screening service with the students that will signal behaviors requiring more direct intervention and referral to the program. Key words: School-Family. Affectivity. Cognition. Socialization. viii SUMÁRIO INTRODUÇÃO____________________________________________________10 OBJETIVOS______________________________________________________23 JUSTIFICATIVA __________________________________________________24 CAPÍTULO I _____________________________________________________39 1.1. FAMÍLIA E ESCOLA, PARTICIPAÇÃO E COLABORAÇÃO PARA O ATENDIMENTO DAS DIMENSÕES AFETIVA, COGNITIVA E DE SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA ____________________________________________________39 1.1.1. Dimensão Afetiva _____________________________________________42 1.1.2.Dimensão Cognitiva ___________________________________________47 1.1.3. Dimensão Socializadora________________________________________50 CAPÍTULO II _____________________________________________________55 2.1 ANÁLISE DOS DADOS – CATEGORIAS DE ÁNALISES _______________55 2.1.1. Dimensões afetiva, cognitiva e de socialização ______________________55 2.1.2. Profissionais da educação infantil ________________________________55 2.1.3. Profissionais do ensino fundamental ______________________________60 2.1.4. Pais e mães das crianças da educação infantil ______________________65 2.1.5. Pais e mâes do ensino fundamental ______________________________69 2.2. PERFIL DOS (AS) PARTICIPANTES DA PESQUISA__________________72 2.2.1. Perfil dos profissionais da educação infantil_________________________72 2.2.3. Perfil dos pais e mães das crianças da educação infantil ______________74 2.2.4. Perfil dos pais e mâes das crianças do ensino fundamental ____________75 2.3. ANÁLISE DE PERGUNTAS DO QUESTIONÁRIO E DA ENTREVISTA____76 2.3.1. Profissionais da educação infantil e do ensino fundamental ____________76 2.3.2. Pais e mães da educação infantil e do ensino fundamental_____________87 CAPÍTULO III_____________________________________________________96 3.1. PROPOSTAS DA PESQUISA ____________________________________96 3.1.1. Proposta de inserção da disciplina família na formação inicial nos cursos de profissionais da educação ___________________________________________96 ix 3.1.2. Proposta do tema familia nos cursos de formação continuada de profissionais da educação_____________________________________________________101 3.1.3. Proposta do programa de atenção, apoio e orientação aos estudantes e suas famílias. ________________________________________________________103 CONSIDERAÇÕES FINAIS_________________________________________117 REFERÊNCIAS __________________________________________________121 ANEXOS _______________________________________________________132 ANEXO 01 – MODELO DO QUESTIONÁRIO APLICADO _________________133 ANEXO 02 – MODELO DA ENTREVISTA______________________________135 ANEXO 03 - QUESTIONÁRIO E ENTREVISTAS - RESPOSTAS____________136 10 INTRODUÇÃO O foco deste estudo é Educação Familiar, a qual se entende como práticas educativas aplicadas por pais e mães dentro do contexto familiar na relação com seus filhos (as). Este estudo objetiva pesquisar sobre família e escola numa relação de colaboração e participação em que se desenvolvem as dimensões afetiva, cognitiva e de socialização. Quando falamos de Educação Familiar, é preciso lembrar do surgimento da família e do nascimento dos filhos (as), que se estende por toda a vida. Para tanto, o processo educativo desenvolvido no seio da família é uma “metafunção”, como afirma Rodriguéz (2004). Trata-se de uma função que tem o papel de conseguir que a família realize eficazmente suas responsabilidades. Dessa forma, entendemos que a organização familiar deve estimular o diálogo e o consenso na resolução de conflitos. Assim, a criança transferirá estas aprendizagens a outros contextos fora do âmbito familiar. Para isso, é preciso ensiná-la a conhecer e descobrir suas emoções. Profissionais da educação, pais e mães precisam orientá-las para tal, é necessário pensar a Educação Familiar na melhoria do rendimento escolar, na prevenção do fracasso, da repetência, da evasão, da indisciplina, da violência, etc. A escola como um lugar de aprendizagem tem entre suas funções, considerar as experiências que as crianças trazem de seu contexto cultural e familiar para avançar nos processos de experimentação e conhecimentos. Entretanto, é necessário contextualizar as aprendizagens anteriores impedindo a descontinuidade entre o lar e a escola, pois, a mesma pode ser considerada como uma das causas principais do baixo rendimento escolar. Vista assim, a Educação Familiar tem relevante papel nas dimensões afetiva, cognitiva e de socialização, com o envolvimento da família na tarefa educacional propondo atividades paralelas para a criança. Certamente a necessidade de colaboração e participação entre família e escola foi percebida pela pesquisadora enquanto professora, diante de um olhar atento às dificuldades de envolver as famílias cujos filhos (as) mostrassem necessidades que teriam resolução com o apoio e acompanhamento de pais e mães. Este olhar atento ampliou-se a partir do ano de 2005, ao dirigir o Departamento de Ensino Fundamental na Secretaria Municipal de Educação de Itajaí, ao perceber situações de iguais desafios na relação escola-família. No 11 entanto, desta vez, não eram só situações de uma sala de aula, ou de uma unidade escolar, eram oriundas de todas as unidades escolares do município. Assim, nasce a idéia de um Programa que trate dos estudantes e suas famílias com atenção, apoio e orientação. Ao mesmo tempo percebia que a escola e os profissionais da educação contavam com pouca experiência e conhecimento acadêmico no campo familiar. E que, tampouco adquiriam este conhecimento através da formação continuada que possibilitasse envolvimento desta demanda de crianças com necessidades a serem encaminhadas no âmbito escolar nos diversos aspectos e das mais variadas dimensões, tornando se, dessa forma, cada vez mais evidente a importância do envolvimento da família, objetivando contribuir no processo educacional das crianças. A pesquisadora percebe a importância de um eixo colaborativo e participativo entre as instituições escola e família e, em conseqüência disso, pensar uma sociedade mais ajustada e feliz. Torna-se relevante mencionar que também no ano de 2005 e 2006 alguns encontros com profissionais das secretarias municipais de Saúde, Criança e adolescente e Assistência Social foram realizados na qual todos esses profissionais consideravam a idéia da Rede nascida no Departamento de Ensino Fundamental na Secretaria de Educação como um possibilitador para encaminhamentos com mais eficácia, no sentido do trabalho em equipe, tanto de organização, planejamento, avaliação contínua. Portanto essa idéia acontecia numa época em que grandes mudanças aconteciam com ossecretários do governo, principalmente da educação, pois, já era o 3º secretário em menos de dois anos deste governo. Época em que nossas frustrações enquanto funcionários da secretaria foram maiores, com tais mudanças, quando a pesquisadora conseguia agenda para discussão e informação sobre o objetivo e caracterização do Programa, os secretários que lá se encontravam, estavam na eminência de sair do cargo ou não consideravam importante, o fato de discutir um programa como política pública de tal envergadura ou não havia interesse em proporcionar qualidade de vida aos alunos (as) da nossa querida Itajaí. Uma vez que, a necessidade de um planejamento escolar envolvendo pais e mães para que possam ajudar as crianças a serem capazes de expressar e receber afetos, desenvolvendo a cognição e a socialização no desenvolvimento de si mesmas, de sua auto-imagem e auto-estima. Então, pais e mães devem refletir juntos com a escola, acompanhando a educação escolar, lembrando que as 12 crianças têm personalidade própria e cabe aos adultos reconhecê-la para ajudá-las. Para tanto, a família em sua tarefa educadora, deve superar a satisfação das necessidades como a alimentação, cuidados higiênicos, saúde e atender também as necessidades como segurança, afeto, cognição e socialização de seus filhos (as). Enfatiza-se neste trabalho, que a educação exige um compromisso dos adultos nos diversos níveis de atuação familiar, escolar e social. Sabemos da importância de uma formação saudável, de ensinar valores éticos e morais, de dar apoio, atenção, ensinar os limites e o respeito como aprendizagens necessárias no meio familiar, para que as crianças possam crescer felizes e seguras, o que significa desenvolver dimensões orientadas para a construção da sua identidade. Sendo assim, a primeira base de identificação, modelo e aprendizagem para a criança é a família, a segunda é a escola. É preciso orientar as crianças ajudando-as a identificar emoções negativas e positivas promovendo o seu bem-estar. Pais, mães e profissionais da educação, devem conhecer as características evolutivas das crianças, para que suas práticas educativas se tornem eficazes no processo de aprendizagem, além de manterem o diálogo, como defende Ramos (2002). Portanto, família e escola, tornam-se dois pilares fundamentais do processo educativo e suas funções são complementares. Hoje mais do que nunca, é preciso um encontro dinâmico entre estas duas realidades, entre os projetos da família e da escola, no qual representam os espaços sócio-educativos, nos quais a criança se desenvolve. Nessa perspectiva, diante de uma sociedade em mudanças, torna-se imprescindível que família e escola, se integrem na tarefa de ensinar as crianças a viverem na sociedade atual, sociedade esta, que emergem novos valores e necessidades. Por isso também, a importância dessa união encontrar um espaço de comunicação que atenda as demandas formativas e educacionais da criança. No capítulo I foi desenvolvido o tema família e escola: uma relação de colaboração e participação, onde foi considerada a relevância da união das duas instituições, a fim de promover a qualidade de vida das crianças, primando por resultados positivos para todos (as) envolvidos nesse contexto, recorre-se a autores como: Kaloustian, Lopes, Ramos, Alonso, entre outros. Destaca-se no capítulo II, embasados em Wallon, Piaget e Vygotsky a contribuição das dimensões afetiva, cognitiva e de socialização para o desenvolvimento das crianças, entre outros autores (as) que tem desenvolvido estudos nesta área. 13 Foi tratado da metodologia de pesquisa, optando-se pela abordagem qualitativa e quantitativa, fazendo uso do método de análise de conteúdo, onde os autores consultados foram: Chizzotti, Lüdke, André e Gil. Nesse capítulo foram elaboradas três categorias de análise: as dimensões afetiva, cognitiva e de socialização, na qual trabalhamos com o resultado do questionário e entrevista. Organizou-se análise dos dados no capítulo III, inicialmente com as categorias de análise e seguidamente pelo perfil e análise de respostas relevantes para a pesquisa respondidas pelos participantes. Objetiva-se mostrar possibilidades de criar novos caminhos que oportunizem aos envolvidos no contexto familiar e escolar para atuarem com mais segurança na educação e formação das crianças. Propõem-se três formas possíveis de se desenvolver as relações família-escola nos dias atuais. Proposta 1 - Inserção da Disciplina da Família na Formação Inicial. Proposta 2 – Tema da Família na Formação Continuada com capacitação em serviço como preconiza a Lei n� 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 - “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”. Proposta 3 - Programa de Atenção, Apoio e Orientação aos Estudantes e suas Famílias. Entende-se estas propostas da pesquisa, como sendo oportunas ao perceber que o Brasil vem a cada ano discutindo a importância do envolvimento da família no âmbito educacional em que as crianças estão inseridas. Constatou-se ainda, que o tema educação familiar é novo no Brasil, através das buscas bibliográficas realizadas e a verificação de temas pertinentes. Deve-se aqui registrar que no desenvolvimento da escrita e das falas durante o percurso do trabalho, optou-se pelo uso das expressões mães e pais, filhos e filhas, professores e professoras discriminados de per si, ao contrário da forma clássica (quando prevalece o masculino, na intenção de que transcorra a identificação necessária para compreensão do texto, adaptamos esta forma de escrita. Na continuação, num resgate histórico sobre a infância, percebemos que os primeiros movimentos sobre a mesma, iniciaram no século XVII com a criação de centros para atender crianças abandonadas com caráter assistencial, e que, somente a partir da Revolução Industrial, a educação infantil começa a organizar- se. Ainda no século XVII Freud (1976), desenvolveu uma teoria a partir de suas pesquisas, afirmando que as crianças eram sexualizadas e agressivas. Situação que, somente décadas depois, com a realização de outras pesquisas científicas, 14 ficou comprovado que a teoria desenvolvida por Freud tratava-se de um equívoco. Com a realização de novos estudos com crianças pequenas, por volta dos anos trinta, mostrou que crianças têm bons sentimentos e são preocupadas umas com as outras¹. Ainda no início do século passado, as crianças eram vistas apenas como fruto de uma concepção natural e conseqüente da união dos casais, sem serem consideradas parte integrante da família que merecesse as atenções devidas. Para Ariés (1981), a presença da criança na família e na sociedade era tão breve e insignificante que não havia tempo nem ocasião para que recordações ficassem gravadas na memória. O desenvolvimento de uma teoria sobre a família ocorre com a publicação de autoria de Burr, Hill, Nye & Reiss (1979, APUD, RAMOS 2002), nos Estados Unidos na “Contemporany theories about family”2. Então, percebe-se ao longo dos primeiros cinqüenta anos do século XX, que esses estudos adquiriram maior dimensão científica. Temas de investigação e seus modelos conceituais foram se desenvolvendo em interação com as descobertas de outras disciplinas científicas. Trabalhos como dos autores Alonso (1995) e Flaquer (1998), entre outros, trazem novas perspectivas no campo da família. Entretanto, na década de noventa, dá-se o auge dos estudos sobre família com as contribuições de Fuster e Ochoa (2000)³. Hoje em dia, Ramos (2002), lembra que o papel da família transcende às funções socializadoras para converter- se no principal núcleo educativo. É introdutora de regras de convivência que mais 1. Foi através de uma perspectiva mais abrangente a respeito do mundo da criança que um novo olhar volta-se sobre ela promovendouma mudança na concepção da educação dos filhos (as) por parte dos pais e mães gerando um período em que, muitas famílias abandonam os modelos rígidos e autoritários nos quais haviam sido educados. 2. Trata aspectos sobre a família e mudança social como: fertilidade, características de diversas gerações familiares, trabalho da esposa, mãe, etc., a interação familiar: seleção de casal, qualidade e estabilidade do matrimônio, autoridade na família, socialização dos filhos (as), coesão, agressividade, dependência relações entre irmãos, etc., os problemas e conflitos familiares: determinantes eficazes na resolução de problemas, violência na família, stress na família, condutas problemáticas dos filhos (as), etc. 3. Que influenciados pelo impacto das teorias e perspectivas feministas e de grupos minoritários, de trocas das formas familiares, da tendência para maior inclusão profissional, da tendência para diversidade teórica e metodológica, da preocupação por questões éticas, valores e religião, da tendência a romper a dicotomia entre as esferas públicas e privadas da vida familiar e entre a ciência social da família e intervenção familiar na qual, verifica-se um avanço significativo na esfera teórica do âmbito familiar. 15 4. Segundo Castilho (1998), a carência total de valores é impossível, causaria a morte do ser humano e também da sociedade e da educação. A discussão, portanto, não é somente a existência dos valores em si, mas para quem são esses valores, pois, teoricamente, não podem existir valores sem relação alguma com a pessoa. De acordo com o ponto de vista da construção humana, os valores são para alguém ou não são para ninguém. 5. E que, as falhas na formação familiar e escolar acabam criando pessoas desesperadas para serem cidadãos e completa o autor: pode-se dizer que faltam valores que levem em consideração coisas que não se compram, como ética e disciplina. tarde podem ser transferidas a outros contextos sociais, porém amplia estas possibilidades ao contemplar a criança em todas as suas dimensões. Na realidade, qualquer tentativa de chegar a uma definição válida de família perpassa as conseqüências das variações culturais, históricas e evolutivas da mesma. Com a vontade de entender o conceito de família, é importante conhecer a caracterização que da mesma formulam diferentes âmbitos do saber, que são a perspectiva sociológica, a perspectiva psicológica e a perspectiva pedagógica, que abordaremos posteriormente, todas elas enriquecidas pela dinâmica da diversidade, dimensão necessária atualmente nas sociedades democráticas e plurais. Em meio a um conjunto de conceitos de família, Ramos (2002), sugere a necessidade de redefinição do conceito. Para a autora, a família se converteu de função essencial para um núcleo educativo estimulador de identidade pessoal e social, encontrando dificuldades porque alguns valores de ontem não lhe servem hoje. É um desafio para professores (as) e expertos na educação familiar potencializar a competência dos valores de pais e mães neste campo, desenvolvendo programas para a educação de valores na família assegura Castilho (1998, p.412), para este autor “o ser humano não pode viver sem valores”4. Para completar isso, se resgata a fala do psiquiatra e escritor Tiba (2007), a sociedade passou da Era da Informação para Era do Conhecimento. Sendo assim, a educação que uma criança recebe deve prepará-la para o mercado de trabalho e para exercer cidadania5. Visto assim, a família é o primeiro contexto sócio-educativo de valores, e se constitui em um ponto chave para orientar e guiar a seus filhos (as) em busca de critérios que os ajudem a descobrir o mundo e tomar decisões. Por todas as reflexões realizadas até o momento no desenvolvimento desse trabalho, poderia se acrescentar o conhecimento dos investigadores da família, embasado nas investigações voltadas a educação do homem na qual deve se 16 desenvolver dentro de um grupo humano em que a intervenção humana se dá na ação de uns homens sobre outros e do homem sobre si mesmo6. Nos aspectos que envolvem a participação das pessoas Bordenave (1995, p. 23), ressalta que “Participar engloba as dimensões fazer parte, tomar parte, sentir-se parte e ter parte numa determinada atividade”. Ainda sobre participação, segundo Mc Lagan e Nel (2000), se dá em cinco níveis. 1. Ação Prescritiva: as pessoas executam tarefas que lhes são mandadas. 2. Participação na atividade: as pessoas que participam influenciam na forma que o trabalho é realizado. Podem decidir como realizar as tarefas e a seqüência de suas ações. Neste primeiro nível se dá uma participação real e significativa. 3. Participação na função: as próprias pessoas participam determinando o que elas e suas equipes vão participar. Participação que requer conhecimento a respeito das pessoas e da instituição. 4. Participação no contexto: as pessoas ultrapassam as barreiras da sua função para participarem, para influenciar os processos e estruturas em torno delas. 5. Participação na vida: a participação se dá na idealização e influência de conceitos fundamentais que guiam suas atividades. Ajudam a determinar valores, metas, estratégias e outras estruturas que vão determinar o que a instituição é e será7. De acordo com Lima (1996), para alcançar a autonomia das instituições educacionais deve-se envolver a autonomia dos professores (as), dos alunos (as), assim as relações da escola com a família devem ser concretizadas através de processos democráticos de tomada de decisões8. Para dar sustentação à temática proposta, buscamos em Fullan e Hargreves (2000), quando destacam a importância que, em se tratando de realidade escolar, torna-se necessário a valorização e o envolvimento dos professores (as), identificando o ponto positivo de cada um, permitindo sua colaboração e participação recompensando-os pela mesma9. 6. Nesse sentido, para Ramos (2002), a concepção de homem pode partir da própria etimologia do Conceito “Educação” em função dos termos latinos “educare ou educere”. O primeiro significa: Criar, nutrir e se pode analisar como uma atividade do lado de fora. O segundo: tirar, levar, extrair desde dentro até fora, se pode tomar como atividade que trata de despertar ou tirar as qualidades que o sujeito possui dentro de si mesmo. 7. É preciso na história do Brasil, superar formas conservadora de organização e gestão, pensar formas alternativas e criativas que acompanhem as mudanças sociais. 8. O importante é definir para construir um processo participativo com distribuição de poder, não é suficiente pedir sugestões e aproveitar aquelas que pareçam simpáticas ou coincidam com pensamentos dos que coordenam: é necessário que o plano se construa com saber, com o querer e com o fazer de todos. (LIMA, 1996). 9. No entanto, para que esta colaboração e participação aconteçam, as pessoas precisam de tempo, um tempo que a instituição deve organizar a fim de que os mesmos possam deixar de lado suas tarefas e dedicarem- se às discussões propostas. 17 É perceptível que a colaboração e participação trazem benefícios e são desejáveis nas instituições da atualidade. Porém, talvez não haja a adesão da totalidade dos sujeitos a estes processos, até porque alguns deles desenvolvem melhor suas atividades sozinhos. Característica que deve ser respeitada, pois ao contrário, pode se criar uma colaboração e participação forçada em que o sujeito participa apenas para estar integrado ao grupo e ter aceitação. Conforme Orbe (1997), “O obrar e atuar humano está determinado por necessidades”. As necessidades básicas como alimentação, água, sono, cuidados higiênicos, sanitários, vestuário , segurança, proteção, confiança e bem-estar, ideais e consideração, como também, necessidades secundárias, psicológicase sociais como: sentir-se protegido, seguro, aceito, considerado, vinculado, etc., nas quais as crianças desenvolvem suas dimensões afetiva, cognitiva e social, obtendo uma personalidade sana e equilibrada10. Segundo Ramos (2002), a família favorece a adaptação escolar e social da criança quando é capaz de criar um clima de relações na dimensão afetiva, atendendo necessidades de vínculo, aceitação e projeção. A autora entende que a dimensão cognitiva se desenvolve quando as necessidades de experimentação e reforço são atendidas. Para isso, a criança necessita experimentar, investigar, descobrir o meio e atuar sobre ele. Já na dimensão social, Ramos evidencia a necessidade de comunicação, consideração e estrutura para garantia de uma vida social que oportunize a criança se desenvolver de forma plena, no convívio em sociedade11. Como lembra Castilho (1998), a atividade da criança é uma das fontes principais de sua aprendizagem e desenvolvimento, tendo um caráter realmente construtivo na medida em que é através da ação e da experimentação exercida pela criança que, por um lado expressa seus interesses e motivações e, por outro, descobre propriedades dos objetos, relações, etc.12 10. Outro autor que traz considerações sobre o assunto é Maestre (1977), diz que a criança tem necessidade de ser educada. Também nesse sentido, Ramos (2002), inicia estudo com a finalidade de estabelecer pontos de referência para a educação das crianças agrupando em três níveis: o afetivo, o cognitivo e o social. 11. Outros trabalhos também são desenvolvidos por Bawlby (1986); Ainswoth (1986); Ainswoth e Stayton (1974); (LÓPEZ, 1999, APUD, RAMOS, 2002), sobre o vínculo de apego e sua função fundamental para a adaptação social do sujeito, alertando que a criança que se sente aceita dentro de um projeto familiar, se sentirá unida aos demais; e, quando estas se sentem rejeitadas por sua família, sentem-se mal consigo mesmas, projetando sobre os outros seus sentimentos de hostilidade. 12. Essa fala de Castillo (1998), nos reporta a pedagogia ativa representada por Dewey, Claparéde, Montessori, Decroly, Freinet, que propõem uma metodologia embasada nas experiências e vivências da criança, partindo de seu interesse e necessidade para assim estimular e desenvolver suas capacidades cognitivas. Certamente a sociedade demanda um papel ativo da família na educação dos filhos (as), que por sua vez está delegando esta responsabilidade à escola. 18 13. Afinal, ambas são instituições que se encontram diante de uma realidade complexa, por isso, necessitam unir seus esforços se quiserem atingir seus objetivos. E, que, são necessárias inovadoras formas de colaboração e participação da família no cotidiano educacional. 14. A família considerava a educação dos filhos (as) implícita em fazê-los e tê-los, e aprendia a tarefa na medida em que os tinha. É importante compreender que diferentemente de outras épocas, é preciso favorecer o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social dos filhos (as), possibilitando a melhor realização de suas funções enquanto ser humano. 15. Este autor fala da profunda influência que o aspecto afetivo tem sobre o desenvolvimento intelectual. Ele pode acelerar ou reduzir o ritmo do desenvolvimento. Conclui-se na explicação que o aspecto afetivo em si não pode modificar as estruturas cognitivas (esquemas), embora possa influenciar quais estruturas modificar. 16. Para Wallon, as emoções têm um papel predominante no desenvolvimento da pessoa e é por meio delas que a criança exterioriza seus desejos e suas vontades. Embora seja importante lembrar que a construção do “eu” na teoria de Wallon depende essencialmente do “outro”. Assim, percebe-se que família e escola têm finalidades que se complementam conforme a idéia de Durning (1995), quando afirma que é importante levar a criança ao seu máximo e melhor desenvolvimento13. Conforme Durning (1995), na família se dão verdadeiros processos educativos e o estudo destes processos é muito recente. Exemplo disso, é que ainda hoje é admitida a crença popular de que os pais e mães se convertem em “pais expertos”, automaticamente com o nascimento de seu filho (a) devido a práticas educativas interiorizadas de seus pais e mães (herança) que reproduzem desde o nascimento das crianças 14. Para tanto, Piaget (1987), explica na sua teoria Epistemologia Genética, a formação da inteligência e como o indivíduo desde seu nascimento constrói o conhecimento. Ao pesquisar o comportamento da criança, Piaget levou em consideração suas fases de desenvolvimento, cuja compreensão é importante para se entender a dimensão afetiva no processo de aprendizagem15. A dimensão afetiva, segundo Wallon (1989), as emoções, a postura, o conflito eu - outro, são constantes na vida da criança em qualquer meio que ela faça parte, seja na família, na escola ou outro ambiente que ela freqüente. Para o autor, a afetividade, além de ser uma das dimensões da pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem logo que deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da afetividade passou lentamente para a vida racional. Afetividade e inteligência se misturam, havendo o predomínio da primeira e, mesmo havendo uma diferenciação entre as duas, haverá uma permanente reciprocidade entre elas. Portanto, “a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa” ressalta Dantas (1993)16. 19 17. O outro com que ele se compara é referência externa que permite ao homem compor-se como ser humano. Este processo para o pesquisador permite a constituição do ser autenticamente humano e relata que na ausência do outro, o homem não se constrói. 18. Ainda indica que a socialização pode ser: - Primária, realizada na família durante a infância; - Secundária, levada a fundo na escola, como continuação da primeira; - Terciária ou de resocialização, quando se tenta reeducar o indivíduo que apresenta condutas consideradas anti-sociais. Realiza-se através de agentes socializadores, como a família, a escola, grupos de iguais, meios de comunicação e outras instituições como Igrejas, partidos políticos, comunidades próximas, etc. 19. A autora trata que o conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa. Ressalta que o sujeito observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. Revela que o objeto "não é um dado inerte e neutro" e menciona ainda que, "está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações”. (CHIZZOTTI, 1995, p.79). Em Vygotsky (1999), a dimensão social na qual considerou e propôs a construção de uma nova psicologia, aprofundou seus estudos sobre o funcionamento dos aspectos cognitivos, mais precisamente as funções mentais e a consciência. Para ele a organização dinâmica da consciência aplica-se ao afeto e ao intelecto. Afirma ainda, que o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais sobre o indivíduo e o mundo exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico. Explica que, o sócio-histórico não representa o coletivo, na imposição sobre o indivíduo, e sim, como processo em que todo o mundo cultural expõe-se ao sujeito como “o outro”17. Para o sociólogo Fermoso (1982), o processo de interação entre a sociedade e o indivíduo é que se internalizam os papéis, normas, costumes e valores compartilhados pela maioria dos integrantes da comunidade, integra-se a pessoa ao grupo, aprende a conduzir-se socialmente, adapta-se às instituições, abre-se aos demais, convive com eles e recebe a influência cultural, de modo que se vigoriza o desenvolvimento da personalidade18. Investigar questões que permeiam a família em sua relação com a escola constitui a intenção destapesquisa. Com a utilização da metodologia de pesquisa qualitativa e quantitativa. Por conceber os sujeitos parte de um todo a abordagem quantitativa considera que tudo pode ser quantificável com uso de recursos e de técnicas estatísticas. Enquanto a abordagem qualitativa segundo Chizzotti (1995, p.79), parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito. Um vínculo indissociável entre o mundo subjetivo e a subjetividade do sujeito19. 20 O método de investigação escolhido é o de análise de conteúdo, que conforme Gil (1999) destaca a pesquisa qualitativa para analisar as informações obtidas. Trata-se de um conjunto de técnicas de análise de comunicações, visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos a descrição de conteúdo das mensagens e indicadores (quantitativos ou não), que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens. Dessa forma, as categorias de análise pesquisadas envolvem as dimensões afetiva, cognitiva e de socialização e “devem explicitar os propósitos da pesquisa e, ao mesmo tempo, ser internamente homogêneas, externamente heterogêneas, coerentes e plausíveis”. Tal qual menciona Lüdke e André (1986). Identificaremos as diferentes dimensões que compõe as categorias de análise e suas relações com a família e a escola. As dimensões serão assim conceituadas: 1. Dimensão cognitiva: refere-se ao conjunto de atividades através da qual a informação é processada pelo sistema psíquico das crianças, verificando como os pais participam do desenvolvimento de processos mentais. Piaget (1997). 2. Dimensão afetiva: se apóia na relação de aceitação, no reconhecimento e em condutas, como capacidade dos indivíduos expressarem afetos, permitindo-lhes organizar suas relações com o mundo que os rodeia. Este apoio afetivo contribui para a formação do auto-conceito e da auto-estima. Wallon (1989). 3. Dimensão socializadora: entende-se o processo através do qual o indivíduo aprende e interioriza conteúdos sócio-culturais, uma vez que desenvolve e afirma sua identidade pessoal com influência de agentes exteriores. Consiste em que cada pessoa potencie sua dimensão social, comprometendo-se com seus semelhantes na busca do bem comum. Vygotsky (1999). Na metodologia foi elaborado um questionário e uma entrevista semi- estruturada por compreendê-los como a técnica de coleta de dados mais adequada para essa pesquisa. O questionário e a entrevista foram pensados de uma forma a despertar o interesse dos participantes em respondê-los da forma mais sincera, completa e objetiva possível, no qual visa gerar respostas que nos permitam chegar ao fenômeno estudado e dar continuidade ao trajeto da investigação em sua complexidade. Esta investigação contará como ferramentas de coleta de dados: questionário em Anexo 01 e entrevista em Anexo 02, semi-estruturados. Os questionários semi- estruturados apresentam a vantagem de acumular informações, é um instrumento 21 de coleta de dados com questões a serem respondidas por escrito, sem a intervenção direta do pesquisador. A entrevista semi-estruturada constitui um material privilegiado para compreender a maneira como uma pessoa percebe sua posição em um grupo educativo. A entrevista foi realizada no espaço escolar, no período matutino e vespertino. No momento em que pais e mães traziam e buscavam seus filhos (as) na escola, eram convidados a participar da entrevista. Os sujeitos investigados das unidades escolares são: diretores (as), professores (as), pais e mães, especialistas como orientadores educacionais, supervisores e administradores escolares. Nestas unidades escolares trinta profissionais participaram respondendo o questionário, somando a participação das entrevistas com quinze pais e mães de crianças de seis a dez anos de idade. Assim os participantes desta pesquisa são profissionais da educação, pais e mães de alunos (as). A investigação e aplicação do questionário e entrevista acontecem da seguinte forma: participam o total de 60 profissionais da educação, na qual dividimos em trinta profissionais das unidades escolares, bem como, trinta profissionais dos centros de educação infantil. Da mesma forma que a entrevista é realizada com pais e mães de alunos (as), totalizando 30 participações, divididas em 15 pais e mães das unidades escolares e 15 pais e mães dos centros de educação infantil. Tanto unidades escolares como os centros de educação infantil pertencem a Rede pública municipal de ensino da cidade de Itajaí, onde a pesquisadora é professora efetiva na educação infantil. Entendemos que o questionário aplicado aos profissionais visa maior liberdade de expressão. Assim também, aos pais e mães participantes entende-se que as entrevistas garantem maior fidelidade na coleta de dados, proporcionando espaço de comunicação para todos, oportunizando a inclusão das famílias desprovidas do uso formal da escrita. Para iniciar a investigação, a pesquisadora realizou visita para conversar com os dirigentes dos espaços educacionais escolhidos, bem como, conversar com os profissionais da educação que passam a formar parte desta pesquisa, esse encontro ocorre durante o período de trabalho, no horário do café, com a permissão dos dirigentes de um prolongamento desse tempo do café para explicar sobre a investigação que esse grupo é convidado a participar. 22 Nesse momento, chama a atenção e fica evidente a aceitação do tema pelos participantes, abrindo inclusive pequenas discussões e contribuindo espontaneamente com exemplos que demonstram a relevância de suas participações na pesquisa. Com isso, a aplicação do questionário se dá no mesmo ambiente e horários da conversa inicial. A pesquisadora faz a leitura do questionário para que todos possam naquele momento tirar dúvidas que comprometessem a resposta solicitada. O maior número de dúvidas se dá com a questão da educação familiar, por ser um termo novo entre estes profissionais. Terminado esse momento, marcamos de forma combinada com o grupo o melhor dia para recolher o material preenchido. Entretanto, a entrevista com pais e mães foi realizada próximo ao final do ano letivo, no período de matrícula dos alunos (as). Momento em que pais e mães esperavam sua vez para efetuar matrícula de seus filhos (as), já estudantes. Desta forma, eram convidados a participar da entrevista e houve ótima aceitação ao convite, transcorrendo as questões da melhor forma. 23 OBJETIVOS GERAL • Investigar como a educação familiar pode interferir na melhoria do processo educativo através da colaboração e participação entre família e escola, nas dimensões afetiva, cognitiva e de socialização. ESPECÍFICOS • Analisar o conceito de educação familiar que fundamenta a prática de pais e mães e interfere no cotidiano escolar. • Caracterizar quais as principais ações colaborativas e participativas entre família e escola que oportunizam a tarefa educadora. • Categorizar nas dimensões afetiva, cognitiva e de socialização, as relações que se estabelecem no âmbito familiar e escolar. • Formular propostas de: Educação Familiar para Cursos de Formação Inicial de Professores (as); Formação Continuada de Professores (as); Programa de Atenção, Apoio e Orientação aos Estudantes e suas Famílias. 24 JUSTIFICATIVA Em nossa cidade - Itajaí, muitas famílias com filhos (as) nas unidades públicas de ensino demonstram não ter condições de dar uma educação adequada, não somente pela condição financeira, mas talvez pela organização da estrutura familiar, da pouca instrução da família. É notório também que em Itajaí não existe um Programa que atenda as famílias das crianças do ensino público de forma efetiva e que vise o desenvolvimento dessas criançasem todos os níveis de afetividade, cognição e de socialização. Existem claro, ações voltadas ao atendimento da criança e do adolescente como: Centro de Convivência da criança e do adolescente, Casa Lar, Casa de Passagem – Novo Amanhecer, Casa de Tratamento, Central de Denúncia, Fundo da Infância e Adolescência, medidas Sócio Educativas e Preparação e Inserção do Adolescente no Trabalho. No entanto, esses programas atuam de maneira isolada, não se constituindo numa rede de apoio e tampouco são ações que promovem a interação entre todos os integrantes da família, chegando a fundo da problemática em que se encontram essas crianças inseridas em todos estes programas citados aqui. Para a coleta de dados da pesquisa deste trabalho, foram escolhidos dois bairros da cidade de Itajaí, como amostragem. Esses bairros foram: Espinheiros (loteamento Portal) e Barra do Rio. Essas localidades foram escolhidas pelo fato de que a pesquisadora já atuou como profissional nestes Centros de Educação Infantil e Unidades Escolares. A escola Municipal Thereza Bezerra de Athayde do loteamento Portal – Espinheiro possui um total de 534 alunos. Trata-se de um loteamento de famílias oriundas de outros estados, como Paraná e Norte do País. Enquanto os Centros de educação infantil (C.E.I.), estão localizados na Barra do Rio, denominado C.E.I. Lea Leal de Souza com 109 crianças e C.E.I. Laércio Mauro Maulburg que atende 150 crianças. Este C.E.I. possui muitas famílias também oriundas de outros estados, como Rio Grande do Sul e Paraná. É importante ressaltar que a cidade de Itajaí recebe muitas pessoas de outros estados, principalmente pela oferta de trabalho que oferecem o porto, a indústria pesqueira, indústria naval e outras atividades. 25 Podemos acrescentar abaixo alguns índices do desenvolvimento social desses dois bairros: Inicialmente faremos a identificação do grau de escolaridade dos habitantes. Tabela 1 - Grau de Instrução dos habitantes do Loteamento Portal - Bairro Espinheiros Grau de instrução Número de habitantes Sem instrução e menos de 1 ano 40 De 1 a 3 anos de instrução 225 De 4 a 7 anos de instrução 475 De 8 a 10 anos de instrução 201 De 11 a 14 anos de instrução 71 De 15 anos ou mais 09 Fonte: IBGE (2000) Tabela 2 - Grau de Instrução do Bairro Barra do Rio. Grau de instrução Número de habitantes Sem instrução e menos de 1 ano 105 De 1 a 3 anos de instrução 290 De 4 a 7 anos de instrução 539 De 8 a 10 anos de instrução 257 De 11 a 14 anos de instrução 198 De 15 anos ou mais 62 Fonte: IBGE (2000) Tabela 3 - Tipo de habitação do Loteamento Portal – Bairro Espinheiros Habitação Nº de habitantes Casa 3720 Apto 6 Cômodo 0 Improvisado 5 Fonte: IBGE (2000) 26 Tabela 4 - Tipo de habitação do Bairro Barra do Rio. Habitação Nº de habitantes Casa 5188 Apto 167 Cômodo 14 Improvisado 33 Fonte: IBGE (2000) Tabela 5 - Renda Mensal da pessoa responsável pelo domicílio no Loteamento Portal – Espinheiros. Renda Nº de habitantes mais de 3/4 a 1 salário 83 mais de 1/4 a 1 1/2 salário 37 mais de ½ a 2 salários 145 mais de 2 a 3 salários 222 mais de 3 a 5 salários 244 mais de 5 a 10 salários 180 Fonte: IBGE (2000) Tabela 6 - Renda Mensal da pessoa responsável pelo domicílio no Bairro Barra do Rio. Renda Nº de habitantes mais de 3/4 a 1 salário 185 mais de 1/4 a 1 1/2 salário 65 mais de ½ a 2 salários 233 mais de 2 a 3 salários 212 mais de 3 a 5 salários 259 mais de 5 a 10 salários 244 Fonte: IBGE (2000) É possível através dos indicadores sociais dessas duas localidades verificar que se trata famílias com provável necessidade de um serviço de atenção e orientação que contemple a integração entre escola e família, visando melhoraria no rendimento escolar. 27 A relevância social e científica do presente trabalho prezam juntas pela busca das melhores soluções pedagógicas que consigam promover a mais sólida interação entre escola e família. Justifica-se por tratar-se de política pública que propõe caminhos e atuações para que as famílias recebam orientações de como participar do cotidiano escolar e, em conjunto com a escola, colaborar no desenvolvimento afetivo, cognitivo e social de seus filhos (as). Para tanto, é proposto a criação de uma Rede de Atenção aos pais, mães e alunos (as) e profissionais da educação, sendo que a parceria entre escola e família é proposta nesta pesquisa, na área infantil e fundamental do ensino público. Outro fator relevante é que, integradas escola e família conseguem desenvolver melhor as três dimensões que são: afetiva, cognitiva e socializadora das crianças. É claro que atualmente, onde a noção de hipercultura segundo Bertman (2001), é a “potência do agora e já”, assim adaptamos nossas vidas e valores, para os combinarmos com as novas tecnologias da velocidade-luz. O autor menciona que hipercultura ousa sugerir que a cura para nossa condição atual, de seres em velocidade, não se encontra numa “auto-estrada da informação” ou na “terceira vaga da informação”, mas sim num processo radical e doloroso de desacelerar as nossas vidas o bastante para as recuperar. Dessa forma, por hipercultura entende-se o estresse da vida moderna, a escassez de tempo e o excesso de informação em que todas as pessoas estão submetidas. A aceitação de hipercultura é cada dia mais evidente, quer as pessoas dêem importância ou não. Ao longo da história, a família brasileira veio passando por diversas transformações acompanhando o contexto sócio – econômico – político do país. Muitos problemas que as famílias brasileiras enfrentam hoje em dia, é um legado cultural antigo, que vem desde o descobrimento no século XV e que se acentuou nas raízes do descaso do período colonial XVI. Kaloustian (1994). A falta de políticas educacionais bem estruturadas, geram defasagem educacional e no Brasil infelizmente este é um problema histórico, para não dizer uma herança que só será resolvido com o tempo, com investimentos governamentais em todos os níveis de ensino. Ainda hoje, salvo algumas exceções, as famílias brasileiras com filhos (as) no ensino gratuito são de baixa renda e não possuem histórico cultural com privilégios. Percebe-se, que há melhora no quadro geral, mas que ainda são insatisfatórias para 28 um país do tamanho do nosso, sabendo que a educação é necessária, e que um país quanto mais culto, mais desenvolvido. As famílias brasileiras, principalmente as de baixa renda e em geral àquelas contempladas pelos serviços públicos, ainda perpassam à margem dos piores indicadores sociais como: trabalho infantil, desigualdades sociais, falta de saneamento básico, mortalidade infantil, defasagem escolar dos filhos (as), analfabetismo de pais e mães, etc. Para isso, consultando o modelo educacional dos Estados Unidos, no qual defende o envolvimento de pais e mães na educação como um recurso para o sucesso escolar desde a década de 6020. Com isso, a produção científica sobre as questões da família cresce consideravelmente. O discurso oficial nos Estados Unidos sobre esta política é corroborada por um conjunto de pesquisas que sugerem que o maior envolvimento de pais e mães está associado a melhores notas em matemática e linguagem21. O valor do envolvimento dos pais e mães na educação tornou-se algo tão evidente, aceito unanimemente dentro de um amplo imaginário de posições políticas nos Estados Unidos, que conservadores e liberais, religiosos fundamentalistas e humanistas seculares, todos consideram-no como um componente fundamental da escolarização bem-sucedida. Oliveira (2007), menciona que, em 1994, sob o governo Clinton, o envolvimento dos pais e mães na educação escolar tornou-se meta da educação nacional norte americana, expressa como uma desejável parceriaentre família e escola22. 20. Quando o famoso Relatório Coleman (1966, APUD, LUZ, 2008), apontou a importância das características familiares em detrimento dos recursos físicos e financeiros escolares por meio de programas de educação compensatória que envolviam a formação familiar (parent education), mais especificamente, o treinamento das mães. Desde 1982 a Associação Americana de Pesquisa Educacional - Aera tem um grupo denominado “Famílias como educadoras” com o objetivo de estudar os processos sociais na família e as relações casa- escola que apóiam a educação e o desenvolvimento infantil (Families as Educators, 1996). 21. Com menor probabilidade de suspensão, expulsão ou evasão escolar, e maior participação do estudante em atividades extracurriculares (National Education Goals Panel, 1995, p.3, United States, 1984), (apud Ramos, 2002). 22. Onde cabe a esses pais e mães um papel específico no desenvolvimento acadêmico (além do desenvolvimento social e emocional) de seus filhos (as) no lar (National Education Goals Panel, (1995, APUD, RAMOS, 2002) 29 Seria então, conforme Oliveira (2007), a parceria família - escola oficialmente apresentada como solução para várias necessidades aparentemente compatíveis dos pais e mães e do lar, sobretudo nos casos de crianças em desvantagem social, portadores de características especiais e/ou bilíngües (imigrantes), de reforço acadêmico no lar, por meio de políticas explícitas de dever de casa, de participação e colaboração da família na tomada de decisões educacionais na escola23. Certamente, tanto nos Estados Unidos como no Brasil encontramos pais e mães envolvidos no cotidiano educacional em que seus filhos (as) estão inseridos, diferenciando-se portanto, na quantidade do envolvimento no processo. Vale lembrar, do maior número de ações que incentivam a política voltada à colaboração, participação e orientação das famílias que acontece nos Estados Unidos, sendo conseqüência do envolvimento do governo e de órgãos responsáveis pela educação, com políticas direcionadas ao envolvimento de pais e mães, o qual tem mostrado que a participação em casa equivale a maior aproveitamento e permanência na escola por parte dos alunos (as). Oliveira (2007), lembra que o Ministério da Educação brasileiro tem mostrado preocupação com dados estatísticos que apontam que notas de alunos (as), acompanhados pelos pais e mães chegam a ser 50% maiores do que aqueles que não gozam da mesma participação24. Analisando o envolvimento do Brasil, percebemos que nas décadas de 60 e 70, as instituições de educação infantil passaram a ser encaradas como um local de promoção da educação compensatória, de forma a julgar a incapacidade de inúmeras famílias para com a educação de suas crianças. Por isso, nessa época, a instituição de educação infantil fazia uma ação suplementar à família, já que a criança era considerada carente culturalmente. Desta forma, foi a partir dos anos 80 e 90 que a instituição de educação infantil passou a ter como perspectiva o cuidado integral da criança, cuidado que ficou a cargo dos profissionais da área. 23. De especialmente financiamento adequado das escolas e de padrões elevados de desempenho escolar e docente (National Education Goals Panel, 1995, p. 13), (APUD, OLIVEIRA, 2007). 24. Dados de uma pesquisa, segundo Oliveira (2007), realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), revelou que as famílias brasileiras, de todos os estratos sociais estão entre os menos interessados na educação de seus filhos (as), situação que pode e deve ser modificada. 30 25. Com isso, podemos compreender que envolver pais e mães com a escola tornou-se uma questão de sobrevivência na qual se arrasta até hoje sem definição da forma apropriada para envolvê-las, promovendo colaboração e participação de um jeito eficiente para o processo educacional e para a qualidade de vida das crianças e suas respectivas famílias. 26. Relacionado com a organização doméstica atribuição das relações conjugais, disciplina familiar relações entre pais, mães, filhos (as), tipo de interações, estilos educativos, etc; que produzem uma dinâmica familiar, segundo seu tipo de coesão facilitando ou não a autonomia, a aquisição de conhecimentos, capacidades assim como um sentimento de valor pessoal. 27. Ao encontro da exposição do parágrafo anterior, Ramos (2002), refere-se às denominações utilizadas por alguns autores defendendo a inserção da educação familiar no currículo da formação pedagógica dos profissionais da educação, levando em conta a necessidade de professores (as) preparados para trabalhar em área específica da educação onde estão implicados crianças, famílias, escolas e outros agentes sociais que interferem direta ou indiretamente. Portanto, de acordo com as necessidades apontadas, esta realidade exige tratar o tema desde a perspectiva científica, interdisciplinar e pedagógica, diz Sarramona (1977). 28. Com autores como: Pestalozzi, Rousseau, Hebart que fundamentam as bases de um saber pedagógico. Neste contexto histórico predomina o conceito científico definido pelo positivismo e o empirismo, que rechaça a especulação filosófica e a intuição prática, surgindo a necessidade de converter a educação no objeto de estudo de algumas das novas ciências sociais constituídas no amparo destes pressupostos científicos, defendendo cada uma delas seu espaço. (RAMOS, 2002). Diante disso, a escola praticamente se responsabiliza pela criança de maneira geral, com uma crescente assistência que a escola presta a família25. Entende-se que as transformações que ocorrem através do tempo na educação familiar influenciam para que as mudanças ocorram, não só em suas formas mas também em seus conteúdos26. É importante relacionar que na prática social, a educação familiar segundo Durning (1995), é o conjunto de intervenções sociais colocadas em desenvolvimento para preparar, manter e acrescentar a tarefa educativa com os filhos (as). Os escritos de Pourtois y Desmet (1992), consideraram que o novo perfil configurador da vida familiar requer uma dimensão pedagógica, centrada nas necessidades de seus membros. Sendo assim, afirmam que a educação familiar como disciplina é uma necessidade que surge da própria evolução da ciência, devido às transformações sociais, econômicas e culturais de nosso tempo, bem como também pelo impacto das novas tecnologias que impedem valores e influenciam na dinâmica familiar 27. Em face desta afirmativa, nos instiga a buscar em Ramos (2002), informações sobre a temática da família no âmbito das universidades. Pode-se dizer que a trajetória e inserção na pedagogia como saber autônomo, alcança sua plenitude após sua independência da filosofia no século XVIII 28. No entanto, no final do século XIX e começo do século XX, surgem as ciências da Educação com a finalidade de estudar cientificamente a prática educativa. 31 Segundo Ramos (2002), atualmente, em alguns países como Espanha, Portugal, Bélgica e França por exemplo, através da Pedagogia, já perceberam a urgência das instituições (família e escola) estarem integradas e serem responsáveis pelo planejamento de formação dos sujeitos contribuindo para formação da cidadania. Estas universidades discutem a parceria e composição de tarefas com a necessidade de ter clareza do que cabe a cada uma das duas instituições. A escola precisa compreender que a família mudou e é com essa família que precisa interagir, ocupando espaço de formação e preparação das novas gerações. Os professores (as) precisam aproximar-se mais dos alunos (as) com o apoio constante da família. Há uma inquietação de muitos países por incorporar a formação em âmbito educativo de uma disciplina da família nos planos de estudo das universidades,que se pode estar atento pelas razões abaixo, mencionadas por Durning (1995). • A complexidade da realidade atual e a influência de novas tecnologias diante dos pais e mães que não sabem educar; • A problemática familiar e os estudos da família que adquirem cada vez maior vigência; • A família como núcleo educativo formador de identidade pessoal e social requer uma atenção pedagógica por meio da formação de pais e mães. Assim, seguimos com Durning (1995), no qual relata que fazem vinte anos que propõe a disciplina no campo das ciências da educação. No primeiro momento os autores dedicaram-se somente às questões escolares, depois à educação de adultos, posteriormente à educação social e agora abrem um novo campo de investigação: a educação familiar centrada em seus processos educativos. Diante desta nova situação, surge sua introdução disciplinar nos âmbitos de investigação e docência universitária29. 29. O autor que comenta a formação pedagógica é Sarramona (1977), ele compreende a pedagogia familiar como: a ciência pedagógica da educação familiar ou parte da pedagogia que se preocupa com este aspecto da educação familiar. Congressos acontecem na Bélgica, no Canadá, na França, na Suíça, na Espanha e Portugal reunindo mais de 300 especialistas do mundo inteiro para tratar da “Família e Desenvolvimento Humano”. Com uma reflexão abrangente sobre as funções da família numa sociedade em mudança. 32 Analisando a complexidade da nossa sociedade, os avanços tecnológicos, científicos e culturais, é notável a necessidade de novas respostas que auxiliem as novas demandas do campo familiar, em sua relação com a escola possibilitando abertura de caminhos a outras disciplinas dentro do curso de formação de professores (as). Contudo, é nosso objetivo fundamentar esta pesquisa e propor a inserção do estudo da família nos cursos de formação inicial para professores (as), nas universidades do Brasil. É crescente novas demandas se encaminhando a uma cultura pedagógica para orientar uma educação familiar aberta a novas perspectivas, que apontem planejamentos inovadores nos contextos de ensino-aprendizagem, que contemplem a formação inicial e continuada de professores (as), que oportunizem escola e família no movimento de colaboração e participação e proporcionar o amplo desenvolvimento das crianças, principalmente ligadas as dimensões afetiva, cognitiva e de socialização. Esses Congressos foram registrados por Fontaine (2000), que organizou, tornando possível acompanhar o que discutem e pesquisam doze autores e investigadores da temática familiar: 1. Eduardo Fernández de Haro do Departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação. Universidade de Granada – Espanha, falou da educação familiar e desenvolvimento dos filhos (as). Relatou que a responsabilidade familiar implica em criar condições para o desenvolvimento integral da criança aos níveis afetivo, cognitivo e social. As reflexões por parte dos pais e mães, quanto as atitudes, comportamentos e práticas de crianças que têm sido realizado dentro de um programa de formação e orientação, têm revelado eficácia para melhor capacitação em sua relação educativa oferecendo uma estimulação rica aos seus filhos (as) 30. 30. O autor informa: pais e mães que participam de Programas orientados a melhorar a qualidade da educação de seus filhos (as) pequenos, adquirem maiores conhecimentos psico-evolutivos e pedagógicos, apresentam atitudes de proximidade e compreensão com seus filhos (as) não manifestadas anteriormente, adquirindo com a instituição educativa um compromisso que perdura nesses espaços em que seus filhos (as) freqüêntam. Para ele, as crianças pequenas que têm seguido Programas de atenção e educação conjunta com seus pais e mães, apresentam elevados índices de integração social, assim como atitudes de adaptação aos novos ambientes educativos, melhores que as crianças que não tem seguido os Programas. Assim, percebe-se a relevante importância no envolvimento das famílias com a aprendizagem com seus filhos (as), melhorando o desempenho escolar. 33 2. Gabriela Portugal do Departamento de Ciências da Educação, Universidade de Aveiro, Portugal, trata da Família e adaptação social, como subsídios para a compreensão das inter-relações criança-família-creche. Faz análise de fatores familiares significativamente associados à adaptação das crianças à creche. Assim, ao explorar as experiências da criança nos contextos família e creche e ao examinar como é que essas experiências se relacionam com o comportamento da criança durante a sua permanência na creche, revelou que a separação da mãe e adaptação à creche nunca é uma experiência pura, com apenas um ingrediente, a ausência materna. É inevitavelmente acompanhada por outras circunstâncias com um papel não negligenciável no modo como a criança “interpreta” e “reage” à situação. A permanência em creche acontece num determinado contexto, cujas características podem afetar o comportamento da criança, num sentido positivo ou negativo31. 3. Orlanda Maria Silva Rodrigues da Cruz da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Portugal, trata da disciplina materna e auto- controle nas crianças de cinco anos. Lembra que, na medida em que a criança convive com os outros, deve adquirir a capacidade de regulação do seu próprio comportamento. Vale ressaltar, que os comportamentos educativos familiares têm sido freqüentemente abordados na literatura como possíveis determinantes do desenvolvimento psicológico das crianças 32. 31. Constata-se que a qualidade das relações e estilos maternais têm um importante papel na adaptação da criança à creche, justificando um particular cuidado com a promoção das relações familiares e conjugais no sentido de permitir à criança enfrentar o “contexto creche” segundo uma trajetória mais positiva. 32. A classe que aparece mais desfavorecida é a das mães desvalorizadoras, merecendo assim, uma referência especial. Trata-se de mães que parecem não transmitir mensagens educativas aos seus filhos (as), tendo a instrução direta comportamento disciplinar que mais característico, ao qual se limita à afirmação de diretrizes á criança, de forma verbal ou física. Podemos compreender no comportamento disciplinar, aquele que parece ser mais prejudicial para as crianças é o evitamento do confronto disciplinar, visto que é a categoria que prevalece nas duas classes de mães cujos filhos (as), têm notas de autocontrole mais baixas. Mais do que punição, a ausência de razões explicativas transmitidas sob a forma de mensagens disciplinares parece ser o componente mais prejudicial para o desenvolvimento do auto- controle nesta amostra de crianças de cinco anos. Considerando que a capacidade de autocontrole é uma competência importante para o desenvolvimento, mas que, ao mesmo tempo, já diferencia o comportamento das crianças de cinco anos, coloca-se a questão do tipo de relação com comportamentos descritos das mães. 34 4. Maria Del Rosario Cortés Arboleda da Faculdade de Psicologia da Universidade de Granada, Espanha, fala sobre ambiente familiar e problemas de adaptação dos filhos (as) e procura nas características do ambiente familiar (coesão, orientação para o sucesso e controle familiar), as razões dos problemas de adaptação social observadas em crianças e jovens (4 a 14 anos) de nível sócio-econômico médio- baixo. A autora percebe que os rapazes parecem mais sensíveis que as meninas nas influências familiares. Na relação existente entre o contexto familiar e os problemas de conduta 33. 5. José Cantón Duarte e Maria Del Rosário Cortés Arboleda da Faculdade de Psicologia da Universidade de Granada, Espanha, tratam do stress maternal de estratégias de solução de conflitos e problemas de conduta nos filhos (as).
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