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SLIDES_Vcios_de_Consentimento_ESTUDO_d_20_d_NOVEMB

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Defeitos do Negócio Jurídico 
VÍCIOS DE CONSENTIMENTO:
1) Estado de Perigo
2) Lesão
3) erro
4) Dolo
5) Coação
6) Fraude contra credores
NEGÓCIO JURÍDICO ANULÁVEL - ART. 171, II Código Civil:
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
1) Lesão x Estado de Perigo:
 Procuradoria do Estado / SC (CESPE) – “A” descobre uma doença grave no coração, cujo tratamento só existe nos EUA custando 400 mil reais. Desesperado, “A” desabafa com um vizinho e lhe propõe a venda de seu apartamento por 1 milhão de reais (valor real do apartamento = 2 milhões). Porém, o vizinho oferece apenas 400 mil pelo apartamento. Há vício de consentimento? Qual?
Lesão - a extrema necessidade é muito mais de celebrar um contrato do que salvar uma vida.
Procuradoria do Estado / SC (CESPE) – O pai de “A” está internado necessitando urgentemente de uma cirurgia no coração, sob pena de morte. O plano de saúde não autoriza a operação. A operadora do plano informa que a cirurgia poderá ser autorizada mediante a assinatura de um termo aditivo ao contrato aumentado o valor das prestações de 500,00 para 800,00. 
Após a cirurgia, “A” pretende anular o contrato. Qual o vício do consentimento presente na situação hipotética?
2) Estado de Perigo – perigo de vida real e imediato. Há extrema necessidade de celebrar o contrato para salvar uma vida efetivamente.
Lesão x Teoria da Imprevisão:
Em ambos os casos teremos uma desproporção entre as prestações, a diferença está no momento em que ocorrem:
 Lesão - o contrato já nasce desproporcional em razão do vício de consentimento –
Anulação do contrato (vício no elemento essencial);
Teoria da Imprevisão – um evento futuro e incerto torna o contrato desproporcional
– Resolução do contrato.
ESTUDO DE CASO:
EMENTA: AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER – OUTORGA DE ESCRITURA DEFINITIVA DE IMÓVEL OBJETO DE CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA – CESSÃO DE DIREITOS – PROCEDÊNCIA – TEORIA DA IMPREVISÃO – INAPLICABILIDADE.
1. A alegada teoria da imprevisão, retratada nos sucessivos planos econômicos governamentais, não justifica a inexecução das obrigações assumidas contratualmente.
2. A cessão de direitos absorve todas as cláusulas insertas na promessa de compra e venda primitivamente entabulada, inclusive aquela que impõe à vendedora a obrigação de escriturar definitivamente o imóvel no prazo avençado.
3. Recurso improvido. Unânime
RELATÓRIO
Trata-se de ação de Obrigação de Fazer, ajuizada por Ester Aparecida Faria em face de ENCOL S.A - Engenharia, Comércio e Indústria, dizendo a autora que o Sr. Antônio Zacarias Lindoso adquiriu da ré o imóvel comercial situado no SRTVN, lote "C", Bloco "A", sala 105,.
através de contrato de compra e venda, o qual ostentava, em uma de suas cláusulas, a obrigação da ré de escriturá-lo definitivamente, no prazo de 180 dias, contados da concessão do habite-se.
Posteriormente, a autora adquiriu, com a anuência da Encol S.A, do Sr. Antônio Zacarias, o referido imóvel, negócio esse materializado através de cessão de direitos, a qual preservou todos os direitos do contrato primitivo, inclusive o item que obrigava a ré escriturar o prédio.
Prosseguiu a autora, dizendo que, malgrado a disposição contratual, a requerida, até o momento, não providenciou a outorga definitiva da escritura de compra e venda alusiva ao imóvel referido, daí por que requereu a procedência do pedido, 
a fim de que seja a ré condenada a cumprir a obrigação retro, no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de fixação de multa diária correspondente a R$ 100,00 (cem reais), ou então, em caso de descumprimento, que a sentença valha como título a ser transcrito.
Em contestação, a ré suscitou preliminar de carência de ação, porquanto a autora não instruiu a inicial com a prova de que adimpliu todas as obrigações por ela assumidas nas cláusulas 5, 7 e 32 do contrato.
No mérito, valeu-se do argumento de ocorrência de caso fortuito e força maior, que a impediram de exonerar o imóvel em tela do gravame hipotecário, enfatizando que, tão logo seja superada a crise financeira por que passa, cumprirá sua obrigação. 
Enfatizou, ainda, que a autora, ao celebrar a cessão de direitos, tinha pleno conhecimento do gravame hipotecário que recaía sobre o imóvel.
Através do despacho de fls. 42/45, foi rejeitada a preliminar de carência de ação, tendo sido, mais tarde, realizada audiência de instrução e julgamento, conforme termo de fl. 52.
Em sentenciando o feito, o digno magistrado de 1º grau julgou PROCEDENTE o pedido, condenando-se a ré a outorgar a escritura definitiva de compra e venda do imóvel mencionado, no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de valer a sentença como título a ser transcrito.
A ré suportou, também, o ônus sucumbencial.
Foram opostos embargos de declaração, rejeitados (fls. 77/79 e 84).
Inconformada, apela a ré, onde repete as mesmas considerações articuladas quando da contestação, quais sejam de que não cumpriu sua obrigação em decorrência do surgimento de caso fortuito e força maior, consubstanciado no aperto financeiro gerado pelos imprevisíveis planos econômicos, 
e também que a autora, ao celebrar, em 29 de junho de 1995, a cessão de direitos de fls. 17/18, sabia do gravame hipotecário que recaía sobre o imóvel.
Pugna pelo provimento do recurso. 
Em contra-razões de fls. 95/100, a autora rechaça as considerações do recurso e requer o seu improvimento.
Este o relatório.
VOTOS
A Senhora Desembargadora ADELITH DE CARVALHO LOPES - Relatora.
 Conheço do recurso, presentes os pressupostos de admissibilidade.
Trata-se de ação de Obrigação de Fazer, na qual a inteligência monocrática julgou procedente o pedido nela deduzido, 
para o fim de condenar a ré a outorgar a escritura que grava o imóvel mencionado na inicial, no prazo de 30 dias, sob pena de, assim não o fazendo, valer-se a sentença como meio hábil ao desiderato pretendido junto ao cartório de registro de imóveis.
Os argumentos articulados pela ré- apelante no âmbito do presente recurso de nenhum modo nutrem força capaz de abalar a pretensão estampada na vestibular.
Primeiramente, não colhe ensejo a alegação da apelante de que não cumpriu a sua obrigação de outorgar a escritura pública em razão da ocorrência de caso fortuito e força maior, representados pelos sucessivos planos econômicos editados pelo governo federal.
 
Este egrégio Tribunal tem sistematicamente decidido que se mostra inaplicável, em hipóteses tais, a teoria da imprevisão, até porque o processo inflacionário crônico até então reinante no país e os sucessivos planos econômicos destinados a debelá-lo não justificam a inexecução de obrigações contratuais, tanto mais considerando que os mesmos fazem parte da vida cotidiana do brasileiro. 
É de se consignar, ademais, que as conseqüências advindas dessas medidas governamentais são generalizadas, a todos alcançando, inclusive o promissário comprador.
Segundo bem observado pela eminente Des. Ana Maria Amarante, "os planos econômicos estão no contexto da álea normal que permeia o mundo dos negócios, sendo previsíveis" (Apc nº 44.870/97, 5ª Turma Cível). 
Em suporte a tais argumentos, confira-se Apelação Cível nº 40.848/96, 5ª Turma Cível, Rel. o saudoso Des. Dilermando Meirelles e Apc nº 34.609/95, 2ª Turma Cível, Rel. Des. Getúlio Oliveira. 
Rejeito, destarte, a arguição da apelante, no particular.
Também fadada ao insucesso é a alegação da recorrente de que a apelada, ao celebrar, em 29.06.95, a cessão de direitos de fls. 17/18, sabia do gravame hipotecário que recaía sobre o imóvel e, portanto, aceitara o não cumprimento por parte daquela do prazo para a outorga da escritura definitiva.
 - O argumento, de tão frágil que é, não resiste aum singelo argumento.
É que a cessão de direitos colacionada às fls. 17/18, tendo como cedente Antônio Zacarias Lindoso e cessionária a autora apelada, e com a expressa anuência da apelante, absorveu todas as cláusulas insertas na promessa de compra e venda primitiva, inclusive aquela que impunha à ré a obrigação de escriturar o imóvel no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contados da concessão do "habite-se".
Sendo assim, porque prevista no contrato, patente é a obrigação da ré de exonerar o imóvel do gravame hipotecário.
Forte em tais razões, NEGO PROVIMENTO ao recurso, para manter indene o decreto singelo
Forte em tais razões, NEGO PROVIMENTO ao recurso, para manter indene o decreto singelo.
É como voto. 
A Senhora Desembargadora VERA LÚCIA ANDRIGHI - Revisora. Com a Relatora.
A Senhora Desembargadora SANDRA DE SANTIS - Vogal.
Com a Relatora.
DECISÃO
Conhecida e desprovida. Unânime. FIM DO CASO
CASO ESTADO DE PERIGO
APELAÇÃO CÍVEL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. ESTADO DE PERIGO. NÃO OCORRENCIA. NULIDADE AFASTADA. AUSÊNCIA DE PROVA. ONUS CONSTITUTIVO DA AUTORA. COMISSÃO DE CORRETAGEM. PREVISÃO EXPRESSA EM CONTRATO.LEGALIDADE. 
1. A nulidade do negócio jurídico só pode ser declarada quando plenamente demonstrada a existência de vício de consentimento das partes, ou seja, erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores, conforme estabelece o art. 171, inciso II, do Código Civil. 
2. É ônus da parte autora, nos moldes do artigo 333, I, do Código de Processo Civil, produzir prova do alegado vício, pois sem demonstração de que ocorreu influência na vontade de realizar o ato, esta versão da demandante não merece amparo.
3. É legal o pagamento de comissão de corretagem pelo comprador quando livremente pactuou que arcaria com tal encargo e tinha ciência de que arcaria com tal ônus.
4. Estando demonstrado que a corretora participou da contratação preliminar avençada, inclusive, com termo de intermediação imobiliária, mostra-se devido o adimplemento da comissão nos termos firmados em contrato, ainda que ocorrido posterior desistência do vendedor.
5. Negado provimento ao apelo.
Narra a Embargante/Apelante (proprietária do imóvel) que, na origem, ajuizou os Embargos à Execução, em razão da demanda de Execução que move a Embargada/Apelada (Corretora)- que entrou com ação de obrigação de fazer para que a proprietária do imóvel pagasse a comissão de corretagem prevista contratualmente.
Afirma a Apelante (proprietária) que de fato contratou os serviços da Embargada/Apelada (Corretora),, no sentido de promover a venda de seu imóvel, mas que após ser aconselhada por familiares, viu-se que não podia se desfazer do único bem imóvel que tinha.
Aduz que a contratação em tela se dera em estado de perigo da Embargante (proprietária), vez que pressionada por seu filho, que é usuário de drogas e ameaçado de morte por dívidas de tráfico. 
Assevera a nulidade do negócio jurídico, vez que além de ser pessoa com histórico de AVC, com transtornos depressivos e idosa, não se encontrava com discernimento para a prática dos atos civis dissociada das fortes emoções envolvidas, tendo firmado o contrato movida pelo estado de necessidade, onerando-se de forma excessiva na tentativa de salvar a vida de seu filho.
Relata que a Embargada tinha total conhecimento da situação delicada que passava a Embargante. 
Menciona que a comissão de corretagem exigida pela Embargada não é devida, já que o negócio não foi finalizado e sequer houve assinatura da escritura.
Discorre sobre o disposto no art. 722 do Código Civil aduzindo que a comissão do corretor somente é devida se houver conseguido o resultado previsto no contrato de mediação, e como ocorreu a desistência do negócio não há que se falar em pagamento de comissão de corretagem, sendo ilegal a cláusula do contrato que impõe a comissão mesmo em caso de desistência do negócio.
Colaciona jurisprudência em abono a sua tese, e ao final, requer o conhecimento e provimento da apelação, para julgar procedente o pedido inicial consistente no reconhecimento da nulidade contratual – estado de perigo, e consequentemente a inexigibilidade da dívida frente a não conclusão do negócio.
A sentença vergastada assim restou decidida:
 “(...)
NULIDADE CONTRATUAL - ESTADO DE PERIGO
Não há qualquer comprovação nos autos de que a embargante foi induzida a erro ou que estava em estado de perigo quando realizou o negócio.
Saliente-se que não comprovou que pretendia vender o imóvel em razão de seu filho estar com problema com traficantes. 
O fato de ser idosa e analfabeta não a impedem de realizar qualquer negócio jurídico, se ainda se mostrar capaz de exercer por si mesmo os atos da vida civil, o que parece ser o caso dos autos. 
Ainda, não há qualquer comprovação de que o imóvel seria vendido por preço inferior à média de mercado, ou, enfim, que de qualquer forma estava sendo enganada pelos compradores e também pela embargada. 
Por essas razões, afasto o pedido para se reconhecer o estado de perigo e consequentemente decretar-se a anulação do contrato.
INEXIGIBILIDADE DA DÍVIDA - NÃO REALIZAÇÃO DO NEGÓCIO
O negócio não se realizou em razão do arrependimento da embargante. 
Entretanto, verifica-se que as partes contratantes já haviam firmado o contrato de promessa de compra e venda e o sinal já havia sido pago pelos compradores. Ou seja, a corretora embargada, não só aproximou as partes como também contribuiu para o aperfeiçoamento do negócio. 
Com efeito, foram apresentados todos os documentos necessários, pois a CEF aprovou o empréstimo e emitiu o contrato particular de compra e venda de imóvel, conforme consta às fls. 21/30. 
(...) Ressalte-se esse trecho do acórdão: "A assinatura da promessa de compra e venda e o pagamento do sinal demonstram que o resultado útil foi alcançado e, por conseguinte, apesar de ter o comprador desistido do negócio posteriormente, é devida a comissão por corretagem."
(...) Destarte, como no caso, foi efetivada a assinatura da promessa de compra e venda e o pagamento do sinal, evidenciou-se que o resultado útil do contrato de corretagem foi alcançado, de sorte que, apesar do arrependimento da embargante, revela-se devida a comissão de corretagem, razão pela qual esses embargos devem ser julgados improcedentes.
Por fim, entende-se desnecessário condicionar o pagamento à lavratura da escritura definitiva. 
Por fim, destaco ainda que não prospera o argumento da Apelante quanto a distinção entre “desistência” e “arrependimento” aduzido. A meu ver a desistência da Embargante se dera após ter firmado contrato de promessa de compra e venda, situação que equivale ao próprio estado de arrependimento, e por conseqüência ensejadora do pagamento da comissão de corretagem, nos termos do art. 725 do Código Civil.
Diante do exposto, conheço e NEGO PROVIMENTO ao recurso da Embargante, mantendo a sentença recorrida nos termos em que proferida;
Ou seja, a proprietária perdeu. FIM DO CASO
3) ERRO
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Erro é o falso conhecimento da realidade, enquanto a ignorância seria o total desconhecimento da realidade. No entanto, a doutrina contemporânea e o CC/02 tratam erro e ignorância como expressões sinônimas (no CC de 1916 havia uma diferenciação).
Não é qualquer erro que torna o negócio jurídico anulável, sendo imprescindível que ele tenha um aspecto relevante na formação do negócio (art. 140 CC):
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
Erro Essencial ou Substancial = Negócio Jurídico Anulável é a causa do negócio jurídico, a razão determinante. O agente celebrou o negócio jurídico somente porque estava em erro.
Erro Acidental = Negócio Jurídico Válido Não incide sobre a razão determinantedo negócio. O agente celebraria o negócio de qualquer maneira.
 Erro # Dolo:
No erro, o beneficiário não concorre para a formação da vontade da vítima (“a vítima se enrola sozinha”).
Ex1: Gisela quer comprar um carro zero. Ela entra em uma concessionária, se interessa por um carro e, pensando ser este novo, o compra. Porém, quando chegou em casa, ela
descobriu que o carro era seminovo. Ao comprar o veículo, Gisela estava em erro – comprou um carro usado pensando ser novo. Neste caso, o erro foi a causa do negócio jurídico (razão determinante), caracterizando-se como erro essencial, sendo o negócio jurídico anulável. 
Ex2: Gisela quer um carro modelo X, não interessando o ano. Ao entrar em uma concessionária, ela avista um carro modelo X pensando ser este do ano de 98. Chegando em casa, ela descobre que o carro é de 1994. Porém, ainda que não estivesse em erro, Gisela compraria o carro da mesma forma, já que o que lhe interessava era o modelo e não o ano. 
Neste caso, teremos um erro acidental, pois não constituía a razão determinante para a celebração do negócio jurídico, sendo este considerado válido.
Erro Escusável:
Erro escusável é sinônimo de desculpável.
Embora o CC de 1916 exigisse que o erro fosse escusável, atualmente, o erro capaz de gerar a anulação do negócio jurídico não precisa ser escusável, com fundamento na boa fé objetiva (dever de informação, confiança, probidade).
Defensoria MG (1ª fase) – Um joalheiro, especialista em objetos de prata, ingressa em determinada loja para comprar um relógio de prata. Ao avistar um relógio ele diz: “Nossa que relógio de prata lindo” e o compra. Chegando em casa, após 2 meses de uso, o relógio começa a escurecer, porque na verdade era de lata. Não resta dúvidas de que o joalheiro agiu em erro, pois comprou um relógio de lata pensando ser de prata, tratando-se de um erro essencial. 
Porém, sendo o joalheiro um especialista em objetos de prata, o erro não será considerado escusável. No entanto, ainda que o erro não seja escusável, teremos um negócio jurídico anulável com base na boa fé objetiva – o vendedor tinha o dever de informar que o relógio era de lata
Defensoria RJ (1ª fase) - Um joalheiro, especialista em objetos de prata, compra um relógio de prata e este começa a escurecer 1 semana depois, embora efetivamente fosse de prata. Neste caso, teremos um vício redibitório, ou seja, um vício oculto que torna a coisa imprópria para a finalidade a qual se destina.
Vício Redibitório: É um vício oculto em uma coisa, que a torna imprestável para sua utilidade ou que cause uma depreciação em seu apreço financeiro. Em regra, se aplica aos contratos bilaterais, onerosos e comutativos. No Vício Redibitório o defeito está na coisa, no Erro a coisa é perfeita e o adquirente é quem a adquire por engano.
Enunciado 12 CJF: – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.
O art. 139 traz um rol exemplificativo de erros essenciais ou substanciais.
Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais.
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante.
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
a) Error in negotio (art. 139, I, 1ª parte - “interessa à natureza do negócio”) diz respeito à natureza do negócio (cai muito em FCC).
b) Error in corpore (art. 139, I, 2ª parte - “interessa ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais”) diz respeito à qualidade essencial do negócio.
 
Error in persona (art. 139, II) a doutrina sustenta que este dispositivo não se aplica às hipóteses de erro envolvendo casamento, pois há previsão específica nesse sentido (arts. 1556 a 1558 CC).
Ex: A namorada de “B” está grávida e este faz a doação de um apartamento pensando ser o pai da criança. Após a doação, a namorada informa que o filho não é de “B”. Neste caso, teremos um erro de pessoa – se “B” soubesse que o filho não era seu, não teria doado o apartamento.
d) Error in juris (Erro de Direito) é o falso conhecimento do direito aplicável ou de sua interpretação, frustrando as expectativas nas quais se baseou o negócio.
Ex: “A” compra uma gleba de terra no município de Araruama com a intenção de lotear o terreno (constando na escritura), construir casas de 2 andares e posteriormente vendê-las. Após a compra, “A” descobre que o Plano Diretor do município de Araruama proíbe o loteamento. 
Observe-se que “A” não sabia que o plano diretor tinha a competência de proibição de loteamento, caracterizando falso conhecimento da aplicação do direito. Portanto, o negócio jurídico será anulável com base no erro de direito.
Obs: # Art. 3º da LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).- – descumprimento da lei alegando desconhecimento da norma.
Art. 3º - Ninguém se escusa (pode desculpar-se) de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Art. 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
4) DOLO (art. 145 CC):
Dolo é um artifício (ardil) praticado por uma das partes para obter proveito em face do prejuízo de outrem.
A doutrina contemporânea (Nelson Rosenvald) defende que o proveito não precisa ser necessariamente econômico, podendo ser pessoal, moral, etc. (# CC de 1916 – exigia proveito econômico).
O dolo, assim como o erro, também poderá ser essencial (específico) ou acidental, aplicando-se a mesma lógica). A diferença estará na postura do beneficiário: no dolo, o beneficiário concorre para a formação da vontade da vítima.
Dolo acidental – Negócio Jurídico Válido, mas a vítima pode exigir perdas e danos, em razão da conduta dolosa do beneficiário (art. 146 CC):
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
DOLO ACIDENTAL NÃO HÁ PERDAS E DANOS.
Obs1: Dolo por Omissão (art. 147 CC):
O silêncio do beneficiário pode caracterizar o erro, porém quando o silêncio for intencional configura-se o dolo por omissão.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Obs2: Dolo de terceiro (art. 148 CC): Nem sempre é o beneficiário que pratica o dolo, mas sim um terceiro. No caso de dolo de terceiro, a determinação se o negócio jurídico será anulável ou não dependerá do conhecimento do beneficiário:
 Beneficiário conhecia – Negócio Jurídico Anulável
	Beneficiário não conhecia – Negócio Válido, mas o terceiro que praticou o dolo responderá pelas perdas e danos.
5) COAÇÃO: 
Existem duas espécies de coação:
a) Coação Física ou Coação pela via absoluta há um perigo imediato, ou seja, a vítima não tem tempo de reflexão. Trata-se de um vício tão grave que considera-se que o elemento essencial consentimento não está presente – Negócio Jurídico Inexistente. Os efeitos do negócio inexistente são os mesmos da nulidade absoluta.
b) Coação Moral ou Coação pela via compulsiva ou relativa (art. 151 CC) 
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminentee considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Requisitos da Coação Moral: Perigo Iminente – a vítima tem um espaço de reflexão. Mal certo e determinado. 
Mal injusto - c/c art. 153 CC – não se considera coação o exercício regular de um direito nem o simples temor reverencial (relações de hierarquia).
 Ex: Policial.
Obs: Coação de Terceiro:
Na coação de terceiro, assim como no dolo de terceiro, a determinação do negócio jurídico ser anulável ou não dependerá do conhecimento da prática da coação pelo beneficiário:
Beneficiário conhecia (art. 154 CC) – Negócio Jurídico Anulável + Responsabilidade Solidária.
 # Dolo de terceiro – Negócio Jurídico Anulável (sem responsabilidade solidária).
	Beneficiário não conhecia (art. 155 CC) – Negócio Jurídico Válido, mas terceiro responderá pelas perdas e danos.
CASO COAÇÃO
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA. COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS. ALEGAÇÃO DE COAÇÃO MORAL A IDOSA (vendedora), MEDIANTE AMEAÇA DE ABANDONO AFETIVO NO CASO DE NÃO FIRMATURA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS. NÃO VERIFICAÇÃO DA ALEGADA COAÇÃO. julgamento de IMPROCEDÊNCIA MANTIDo.
I. A coação tem previsão no art. 151 do Código Civil e caracteriza-se pela violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar negócio jurídico que a sua vontade interna não deseja celebrar, gerando a anulação do negócio jurídico. A coação moral incute na vítima um temor constante e capaz de perturbar seu espírito, fazendo com que ela manifeste seu consentimento de maneira viciada.
I. No caso, do conjunto fático-probatório não se extrai tenha a falecida Ruth vendido os imóveis por temor de ser abandonada por uma das filhas ou por temor de não mais ver dois de seus netos. A prova oral atestou que Ruth era cuidada, além daquela filha, por cuidadoras profissionais, além de que outro neto morava no mesmo apartamento, a quem testou bens, do que extrai que relação de afeto e cuidado existia. Além disso, Ruth tinha outra filha. 
Não há verossimilhança, pois, quanto à alegação de temor de ser abandonada. Os negócios jurídicos em debate foram todos revestidos de legalidade, mediante firmaturas dos instrumentos particulares em cartório, havendo plena capacidade da vendedora, Ruth, para a realização. Quanto aos preços praticados, não há como avaliar eventual valor a menor do que a média de mercado com meros recortes de jornais de imóveis que, em tese, seriam semelhantes. 
Era necessária a juntada de avaliações imobiliárias específicas dos terrenos negociados. Já quanto à alegação autoral de que não teriam sido entregues os valores decorrentes das vendas, não condiz com o contexto provado. E isso porque há cheques relacionados aos negócios, ao passo que outros foram pagos em moeda, tanto é que duas testemunhas, as cuidadoras, afirmaram que havia cofre no apartamento da falecida Ruth, tendo uma delas já visualizado muitas notas em pacotes. 
O destino posterior do numerário, pela idosa já falecida ou por outras pessoas que tivessem acesso aos valores, e mesmo a inocorrência do pagamento de impostos ou da realização da declaração de imposto de renda não altera a validade dos recibos nem seria fundamento para a anulação do negócio jurídico. 
Por fim, a ausência de coação pela ré é reforçada pelo desfecho do processo na seara penal, na medida em que foi denunciada pela prática de apropriação de valores e absolvida por ausência de prova da materialidade.
III. Por esse contexto, mantém-se o julgamento de improcedência.
RELATÓRIO
JOÃO PAULO SOARES MANERA e VERA LUCIA MENEZES SOARES, substitutos processuais de RUTH MENEZES SOARES, promovem ação anulatória em face de SUZANA BEATRIZ MENEZES SOARES, ARADO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., IBOTY BROCHMANN IOSCHPE, PAULO FREDERICO TELLES FERREIRA GUILBAUD e HÉRIS ARNT TELLES FERREIRA.
Representantes da Falecida (RUTH) entram com ação anulatória contra SUZANA BEATRIZ MENEZES SOARES, ARADO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA e outros Perdem a ação, Recorrem (Apelação) e perdem novamente. 
Ou seja, foi negado provimento ao recurso. 
6) FRAUDE CONTRA CREDORES:
Trata-se de um vício social porque atinge um terceiro estranho ao negócio jurídico original.
Em regra, a fraude contra credores decorre da transferência de bens realizada pelo devedor com o objetivo de dificultar o adimplemento (cumprimento) da obrigação.
Quando a transmissão de bens configura a fraude contra credores? Dependerá da modalidade da transmissão
Transmissão Gratuita (art. 158 CC) – único requisito será a insolvência.
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão (perdão) de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.
Quirografários: que não goza de preferência com relação aos demais.
Transmissão Onerosa (art. 159 CC) – insolvência + notoriedade dessa insolvência (conluio na fraude - adquirentes tenham conhecimento da insolvência).
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
Nestes casos, para evitar a configuração da fraude deve-se: pagar o valor de mercado + depositar o valor em juízo por meio de consignação em pagamento + citação de todos os credores.
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o valor corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
ESTUDO DE CASO: FRAUDE CONTRA CREDORES
CASO FRAUDE CONTRA CREDORES
APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. AÇÃO PAULIANA. aLIENAÇÃO DO IMÓVEL QUANDO PENDENTE DÍVIDA EM FAVOR DA PARTE AUTORA. declaração de ineficácia da venda e de decretação de fraude contra credores. POSSIBILIDADE. FRAUDE CONFIGURADA. INEFICÁCIA DO ATO PERANTE O CREDOR. SENTENÇA MANTIDA.
Ação Pauliana. A ação Pauliana é o meio processual adequado para a anulação de atos jurídicos praticados em fraude contra credores através da comprovação de que a dívida é anterior ao ato de transmissão.
Caso. Consoante se observa da prova produzida no processo, corrobora a existência do conluio para a fraude entre as partes que a firmaram, na medida em que caracteriza negócio excessivamente vantajoso ao adquirente, em detrimento da situação patrimonial da Madeireira – atingindo, por conseguinte, os interesses de eventuais credores, a exemplo do autor. Não bastasse a venda reduzir à insolvência a ré Madeireira, operando-se por preço vil (de pouco valor), ela não poderia ser desfeita caso os títulos de crédito envolvidos na negociação restassem inadimplidos. Em não trazer qualquer vantagem à ré Madeireira, a transação em questão efetivamente configurou consilium fraudis. Sentença integralmente mantida.
NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO. UNÂNIME.
RELATÓRIO
Luiz Maria Grezzana ajuizou a presente ação pauliana contra Cláudio Padilha de Ávila e Empresa Madeireira Bom Jesus Ltda., todos devidamente qualificados na inicial, aduzindo que ambos os réus incidiram em fraude contra credores, porquanto firmaram escritura pública de compra e venda do único imóvel da ré Madeireira (que engloba três glebas), por preço vil, reduzindo-a à insolvência, o que se depreende também pela falta de apresentação de certidões ao tabelionato. Sustentou a sua condição de credor, arrolando ações judiciais entre si e a ré Madeireira Requereu a Assistência Judiciária Gratuita e a procedência da demanda.
DECISÃO DA SENTENÇA:“(...) Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado nos autos por Luiz Maria Grezzana em face de Empresa Madeireira Bom Jesus Ltda., Vera Kenia de Avila, Adriano Kenia de Avila, Fabiana Kenia de Avila e Espólio de Cláudio Padilha de Ávila, extinguindo o feito com resolução de mérito, para o fim de declarar a fraude contra credores, tornando ineficaz a alienação dos imóveis matriculados sob os nºs 16.567, M-62 e 16.566 no Cartório de Registro de Imóveis deste Município, com base na Escritura Pública nº 64.400/049, lavrada em 13/12/2006 pelo 1º Tabelionato de Caxias do Sul, independentemente do registro no álbum imobiliário, determinando o retorno dos bens à propriedade do alienante.
Em face da sucumbência, condeno os requeridos ao pagamento das custas processuais, e dos honorários advocatícios em favor do procurador da parte autora, os quais fixo em 18% sobre o valor da causa, considerando-se o trabalhado desenvolvido, o tempo de tramitação do feito e as diversas diligências cuja adoção foi necessária para a efetiva constituição do polo passivo da lide.
No que diz respeito à Ré Madeireira, já que lhe foi determinado o retorno dos imóveis, indefiro o pedido de AJG, uma vez que eles possuem elevado valor, conforme discorrido nesta sentença. Quanto aos demais réus, igualmente o indefiro, por não restarem demonstradas as situações econômicas não lhes permitam pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família. (...)”
OU SEJA, A Madeireira, a Vera e outros, perderam e entraram com Recurso de Apelação
No entanto, perderam.
RESULTADO DO RECURSO: Sendo assim, entendo configurada a fraude, considerando a insolvência da vendedora e devedora do crédito reconhecido em favor do apelado. 
Com estas considerações, voto por negar provimento ao recurso de apelação, nos termos da fundamentação supra.
Ante o preconizado pelo § 11º do art. 85 do CPC/15, majoro os honorários sucumbenciais para 20% sobre o valor atualizado da causa.
É como voto.

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