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A GESTALT-TERAPIA E O CASO GLÓRIA Professora Paula Prata Caso Glória • Como fundo para o entendimento da funcionalidade da Gestalt Terapia, o caso Glória, um breve documentário em que Fritz Perls realiza uma sessão de terapia com uma de suas clientes, nos abre caminho para o olhar de como acontece a psicoterapia em Gestalt. GESTALT-TERAPIA • A Gestalt-terapia, trabalha com o ‘todo’, o sujeito é tido como participante do universo circundante, em toda a sua integralidade (Monteiro Jr, 2010). Princípio fundamental da abordagem gestáltica • O princípio fundamental da abordagem gestáltica é que a análise das partes nunca pode oferecer uma compreensão do todo, pois o todo consiste das partes mais as interações e interdependências entre elas (Fadiman e Frager, 2004, p. 75). “Gestalt: uma terapia do contato “ • No livro “Gestalt: uma terapia do contato “, Serge Ginger (2007, p.17) complementa a ideia da Gestalt como perspectiva holística, acrescentando que a mesma visa portanto a manutenção e o desenvolvimento deste bem-estar harmonioso e não a ‘cura’ ou a ‘reparação’ de algum distúrbio, seja ela qual for – o que subentenderia uma referência implícita a um estado de ‘normalidade’, posição oposta ao próprio espírito da Gestalt que valoriza o direito a diferença, a originalidade irredutível da cada ser. GESTALT É O AQUI E AGORA Gestalt é o aqui e agora, qualquer mudança para o futuro ou o passado é considerado resistência, conforme explica perls no início do documentário em estudo Perls chama a atenção para o fato que o homem moderno se alienou e sua capacidade para lidar com sua experiência tornou-se severamente empobrecida. • A valorização da realidade temporal (presente versus passado ou futuro) • A valorização da tomada de consciência e aceitação da experiência • A valorização do todo ou responsabilidade 3 princípios gerais da Gestalt Terapia Em relação a sua prática, de acordo com Ginger (2007), pode ser utilizada em diferentes contextos, com objetivos distintos, sendo eles: a psicoterapia individual; a psicoterapia de casal; a psicoterapia familiar; em grupos de terapia ou de desenvolvimento pessoal e em instituições e no quadro de empresas do setor industrial ou comercial. BREVE HISTÓRICO DA GESTALT TERAPIA • Apesar da experiência psicanalítica dos Perls, a Gestalt Terapia se assemelha, muito mais, a Fenomenologia, pois a mesma não trabalha com o conceito de inconsciente, ponto central da Psicanálise e nem mesmo com o passado, onde a Psicanálise busca os fatores das neuroses, mas sim com a centralidade no presente. BREVE HISTÓRICO DA GESTALT TERAPIA • A terapia gestaltista incorporou proveitosamente muito da psicologia psicanalítica e existencial, bem como alguns elementos do behaviorismo (a ênfase no comportamento e no óbvio), do psicodrama (a representação de conflitos), da psicoterapia de grupo (trabalhos em grupos) e do zen-budismo (a ênfase na sabedoria mais do que na intelectualização e o foco na consciência presente) (FADIMAN e FRAGER, 2004, p.80) BREVE HISTÓRICO DA GESTALT TERAPIA •Sendo Humanista, a Gestalt Terapia é orientada ao crescimento, dando importante força ao movimento do potencial humano. •Sofre críticas, porém, no que diz respeito à ênfase nos pensamentos e no processo, mais do que no conteúdo. CASO GLÓRIA “Eu irei entrevistar uma paciente e gostaria de dar-lhe uma descrição resumida do que vem a ser a Gestalt-Terapia. A Gestalt-terapia trabalha com a criação interna, conscientização, awareness, tempo presente e realidade. Em contraste com a psicologia profunda, nós tentaremos apreender o óbvio, a superfície em que nos encontramos. Desenvolver a Gestalt que emerge, estritamente, com base no eu-tu e aqui-e-agora. Qualquer fuga para o futuro ou passado é entendido como uma resistência contra o encontro que se encaminha. O que quero dizer é... quando uma pessoa está alienada, por abdicar tanto de seu potencial, sua habilidade de lidar com sua existência, torna-se bastante empobrecida. Meu objetivo é o seguinte: a paciente seja capaz de recuperar seu potencial perdido e deve pensar nas polaridades conflitantes, entender as diferenças entre, de um lado, brincar, especialmente o brincar com jogos verbais e de outro, um comportamento genuíno, autêntico e confiante. A guerra civil dos conflitos internos enfraquece a eficiência e conforto do paciente, mas qualquer aumento de integração irá fortalecê-lo.” CASO GLÓRIA • A técnica que Perls usou no documentário com Glória, não é explicada para a paciente. • Perls ofereceu a ela a oportunidade de descobrir e entender a si mesma, para isso ele manipula e confronta a paciente para que se confronte. Um exemplo deste confronto se dá no início da sessão, onde a paciente diz que está nervosa. Ele pergunta como ela pode estar nervosa se está sorrindo; ela diz que sempre que está nervosa ou com medo, sorri, brinca. Glória não diz o porquê de estar ali para fazer terapia, fica sempre na defensiva, como se brincassem de ‘gato e rato’. Ela se utiliza o tempo todo de mecanismos neuróticos para se proteger. Perls, por sua vez, tenta fazer com que ela se abra para que ele a ajude a lidar melhor com seus temores, sendo que uma das características da Gestalt Terapia é fazer com que o outro enxergue além de si mesmo, quebrando seus bloqueios e proporcionando lhe um encontro pleno para consigo e para com o mundo. MECANISMOS DE DEFESA Mecanismos de defesa • Os mecanismos neuróticos, segundo Fadiman e Frager (2004) constituem-se de quatro modos de se fazer com que se impeça o crescimento próprio, podendo ser assim caracterizados: 1. Introjeção 2. Confluência 3. Retroflexão 4. Projeção Mecanismos de defesa “É o mecanismo pelo qual os indivíduos incorporam padrões, atitudes e modos de agir e pensar que não lhes são próprios e que eles não assimilam ou digerem suficientemente para torná- los seus”. (FADIMAN e FRAGER, 2004, p.77) 1) INTROJEÇÃO Mecanismos de defesa “Os indivíduos não sentem o limite entre si mesmos e o ambiente. A confluência torna um ritmo saudável de contato e afastamento impossível, pois tanto o contato como o afastamento pressupõem experiência acurada do outro com o outro”. (FADIMAN e FRAGER, 2004, p.77) 2) CONFLUÊNCIA Mecanismos de defesa “Os indivíduos que retrofletem, voltam-se contra si mesmos e, em vez de dirigir suas energias para a mudança e manipulação de seu ambiente, dirigem essas energias para si mesmos”. (FADIMAN e FRAGER, 2004, p.77) 3) RETROFLEXÃO Mecanismos de defesa “É a tendência de tornar os outros responsáveis pelo que se origina do self. Ela envolve o repúdio de nossos impulsos, desejos e comportamentos, pois colocamos o que pertence ao self fora do self”. (FADIMAN e FRAGER, 2004, p.77) 4) PROJEÇÃO AWARENESS Awareness • Para Monteiro Jr (2010), o gestalt- terapeuta em sua função procura catalisar a autopercepção de si mesmo e do ambiente ao seu redor, a isto a Gestalt Terapia chama de awareness, que nada mais é do que a redescoberta da vida, onde somos capazes de agir deixando o que passou e seguindo em frente, fazendo novos planos, tendo novas perspectivas. •Em um dos momentos do documentário Perls chama Glória de falsa. •Glória fica muito incomodada com aquilo, irritada diz que ele se acha superior, que ela queria que ele fosse alguém que a protegesse e confortasse, e não que a julgasse como falsa. •Tal fala do terapeuta é a busca da frustração do eu da paciente, de fazer-se sincera consigo mesma, a demonstração do que realmente está sentindo. FUNCIONALIDADE E ALCANCES PSICOTERAPÊUTICOS DAS TÉCNICAS EM GESTALT TERAPIA FUNCIONALIDADE E ALCANCES PSICOTERAPÊUTICOS DAS TÉCNICAS EM GESTALT TERAPIA •As diferentes técnicas utilizadas pela Gestalt na tentativa de fazer com que os pacientes possam examinar sua consciência, sendoeste o ponto focal desta abordagem serão aqui analisadas, frente ao atendimento registrado no documentário em estudo. Ginger e Ginger (1995) cita algumas das técnicas que a Gestalt usa, como, por exemplo, o exercício de awareness, que se trata de estar atento ao fluxo constante das sensações físicas (exteroceptivas e proprioceptivas), dos sentimentos, de tomar consciência da sucessão ininterrupta de ‘figuras’ que aparecem no primeiro plano, sobre o ‘fundo’ formado pelo conjunto da situação que se vive e do sujeito que se é, no plano corporal, emocional, imaginário, racional ou comportamental. (GINGER & GINGER 1995 apud MONTEIRO JR, 2010 s.p.). Cadeira vazia • Outra técnica, conhecida por cadeira vazia, segundo Monteiro Jr (2010) é uma das mais aceitas e utilizadas pelos psicoterapeutas da Gestalt. A técnica consiste em colocar o cliente frente a uma cadeira vazia. A esta cadeira, segundo a vontade do cliente, ele projeta um personagem imaginário, mas real em seu dia a dia. Nesta situação o cliente poderá dizer ao seu personagem imaginário o que gostaria de dizer a pessoa real que ali esta sendo representada pela cadeira vazia ou cadeira quente. Monodrama Sendo uma variação do psicodrama, o monodrama é outra técnica utilizada em sessões psicoterápicas da Gestalt. A técnica consiste, segundo Monteiro Jr (2010, s.p.) “em que o próprio protagonista desempenha, de maneira alternada, os diferentes papéis da situação por ele evocada (...). Troca sempre de lugar quando for mudar de papel para que a situação fique clara”. Ainda, segundo o mesmo autor, essa técnica auxilia na percepção do próprio sentimento, à medida que este surge na encenação, sem interferência do outro. Contato Sendo o homem um ser de relação e estando inserido no mundo, para a Gestalt Terapia o contato é um dos conceitos relevantes a serem trabalhos em terapia. O como a pessoa vivencia suas funções de contato determina a qualidade do mesmo. Para Yontef (1998), citado por Andrade (2007, p. 143) “contato é o processo de reconhecer a si mesmo e ao outro em um duplo movimento: o de conectar-se e de afastar-se”. É possível verificar este fator no caso Glória, quando a cliente demostrava-se incomodada com aquilo que não aprovava como ser o procedimento correto de Perls. De acordo com Perls (1988), citado por Andrade (2007, p.144) nem todo contato (conectar) é saudável, e nem toda fuga (afastamento) é doentia, visto que as escolhas de aproximação ou distanciamento – meios de satisfazer as necessidades emergentes – são necessárias e só se tornam nítidas se advêm do contato.
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