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PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO O papel da educação é possibilitar ao ser humano olhar para o mundo ao seu redor para poder dar-lhe um sentido. Por isso existe uma relação de reciprocidade entre filosofia e educação. É partir da visão de mundo que o ser humano já possui, que ele inicia o seu procedimento educacional, que por sua vez, vai possibilitar- lhe nova leitura de mundo. Desse modo, elencaremos as visões de mundo e/ou interpretações de mundo: - Idealismo: A realidade é essencialmente espiritual. O mundo físico é colocado em segundo plano. O ser humano é antes uma idéia abstrata, um ser espiritual, um ser provisório e passageiro. - Realismo: O mundo material é tão real quanto o mundo espiritual e existe independente deste. O ser humano é um composto de uma parte espiritual e outra material. A parte espiritual é superior seja porque foi criada diretamente por Deus, seja porque foi criada por Deus através da força que ele colocou na natureza, seja porque representa um desenvolvimento espontâneo desta última. - Existencialismo: É a interpretação da realidade cuja preocupação fundamental é a pessoa existencial. Concentra-se nas coisas que estão aí, realçando o papel do ser humano na sua situação do momento. 1. CONCEPÇÕES ANALÍTICAS: São aquelas concepções da realidade que de modo insistente se interessam pela verificação e classificação da linguagem. 2. CONCEPÇÕES DIALÉTICAS: São aquelas concepções que consideram o ser humano como parte de uma realidade total que é essencialmente mutável, sendo, por isso, também ele essencialmente mutável. Incluem-se nelas: Pragmatismo: É a visão de mundo que afirma ser a realidade aquilo que nossos sentidos experimentam. O ser humano é um indivíduo autônomo que pode e deve traçar o seu destino. Dialética: É a leitura que vê a realidade como sendo essencialmente dinâmica e em contínua transformação. O ser humano vive com essa realidade mutável, aceita-a, pois sabe o porquê da mudança e tem consciência de poder influir nela. É pela filosofia que podemos indagar sobre a intenção de transformar o modo como observamos e pensamos, agimos e interagimos; os filósofos sempre se consideraram a si mesmos como os educadores definitivos da humanidade. Mesmo quando pensavam que a filosofia deixa tudo como está, pensavam que interpretar o mundo corretamente — compreendê-lo e compreender a nossa posição nele — nos libertaria da ilusão, conduzindo-nos a contemplação da ordem divina, progresso científico ou criatividade artística que nos são mais apropriadas. Mesmo a filosofia "pura" — metafísica e lógica — é implicitamente pedagógica. Tem a intenção de corrigir a miopia do passado e do instante. A reflexão filosófica acerca da educação, de Platão a Dewey, tem sido assim naturalmente dirigida para a educação dos governantes, daqueles que se presume preservarem e transmitirem a cultura da sociedade, o seu conhecimento e os seus valores. Todas as épocas históricas são marcadas por uma disputa pelo poder, como o poder da autoridade da tradição ou do poder manifesto, como o poder do conhecimento filosófico, espiritual ou científico, como o poder da criatividade artística, da produtividade mercantil ou tecnológica. Só muito recentemente na história das democracias liberais é que a política educativa foi formulada e direcionada para indivíduos presumivelmente autônomos, que determinam os seus próprios objetivos e que estruturam as suas próprias vidas. Em lado algum é a filosofia da educação mais importante, em lado algum é a própria educação mais crucial — e em lado algum é mais esquecida — do que numa democracia participativa liberal, cujos compromissos igualitários transformam cada indivíduo simultaneamente em legislador e em súbdito. As disputas no centro da discussão contemporânea da política educativa (Quais são as orientações e os limites da educação pública numa sociedade pluralista e liberal? Como podemos garantir da melhor maneira uma distribuição equitativa das oportunidades educativas? Deverá a qualidade da educação ser supervisionada por padrões nacionais e exames? Deverá as escolas públicas levar a cabo a educação moral e religiosa?) restabelecem as controvérsias que marcam a história da filosofia, de Platão à epistemologia social. Partindo de discussões fecundas e responsáveis da política educativa remetem inevitavelmente para questões filosóficas, que as sugerem e enquadram: essas questões são articuladas e examinadas de maneira mais precisa na teoria moral e política, na epistemologia e na filosofia da mente. Quais são as finalidades próprias da educação? (Preservar a harmonia da vida cívica? Salvação individual? Criatividade artística? Progresso científico? Capacitar indivíduos para que façam escolhas sábias? Preparar cidadãos para entrar numa força de trabalho produtiva?). Quem deve deter a responsabilidade primordial de formular a política educativa? (Filósofos, autoridades religiosas, governantes, uma elite científica, psicólogos, pais ou autarquias locais?). Quem deve ser educado? (Todos por igual? Cada um segundo o seu potencial? Cada um segundo as suas necessidades?). Como é que a estrutura do conhecimento afeta a estruturação e a sucessão das aprendizagens? (Será que é a experiência prática, ou a matemática, ou a história, que deve fornecer o modelo de aprendizagem?). Que interesses devem guiar a escolha de um currículo? Como devem as dimensões intelectual, espiritual, cívica, moral, artística, psicológica e técnica da educação estarem relacionadas entre si? Dado as concepções das finalidades e orientações da educação, que permanece ativamente inserida e expressa nas nossas crenças e nas nossas práticas. Fornece-nos a compreensão mais nítida das questões que nos preocupam e nos dividem. A maior parte das teorias do conhecimento — seguramente as de Descartes e de Locke — tinham, entre outras coisas, a intenção de reformar as práticas pedagógicas. A maior parte das teorias éticas — certamente as de Hume, Rousseau e Kant — tinham a intenção de reorientar a educação moral. O alcance prático das teorias políticas — as de Hobbes, Mill e Marx — não se limita apenas à estrutura das instituições, também chega à educação dos cidadãos. Sistemas metafísicos gerais — os de Leibniz, Espinosa e Hegel — fornecem modelos de investigação e, como consequência, estabelecem orientações e padrões para a educação de espíritos esclarecidos. Alguns filósofos — Locke, Rousseau, Bentham e Mill, por exemplo — fizeram dos seus programas educativos uma característica nuclear dos seus sistemas filosóficos. Outros — Descartes, Espinosa e Hume — tinham boas razões para não tornarem explícito o significado educativo dos seus sistemas. Se a política educativa é cega sem a orientação da filosofia, a filosofia é vazia se desprovida de uma atenção crítica ao seu significado educativo. Uma filosofia da educação robusta e vital incorpora inevitavelmente o todo da filosofia; e o estudo da história da filosofia obriga à reflexão sobre as suas implicações para a educação. Quem não ouviu pelo menos uma vez falar em Filosofia? Na história do pensamento, que a humanidade vem construindo ao longo do tempo, muitos foram os pensadores que deram uma definição ou um conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram complexos, por vezes simples; por vezes rebuscados e quase incompreensíveis. Diante deles muitas pessoas se sentem entediadas e, em vez de enfrentar o problema, preferem descartá-lo, dizendo que a Filosofia é um “jogo inútil e estéril de palavras”, ou que é “muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito inteligentes”. Esse descrédito pode ser resumido numa frase, mais ou menos popular, que diz: “a filosofia é uma ciência com a qual ousem a qual o mundo continua tal e qual”. Ou seja, podemos passar muito bem com ou sem a filosofia. Na história do pensamento, é que a humanidade vem construindo ao longo do tempo, os pensadores que deram uma definição ou um conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram complexos, por vezes simples. Diante deles muitas pessoas se sentem entediadas e, em vez de enfrentar o problema, preferem descartá-lo, dizendo que a Filosofia que é “muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito inteligentes”. Esse descrédito pode ser resumido numa frase, mais ou menos popular, que diz: “a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”. Ou seja, podemos passar muito bem com ou sem a filosofia. A Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo. Corpo de conhecimentos, em filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações. Quando lemos um texto de filosofia, nos apropriamos do entendimento que o seu autor teve do mundo que o cerca, especialmente dos valores que dão sentido a esse mundo. Valores esses que, por vezes, são aspirações que deverão ser buscadas e realizadas, se possível. O filósofo sistematiza as aspirações dos seres humanos que dão sentido ao dia-a-dia, à luta, ao trabalho, à ação. Ninguém vive o dia-a-dia sem um sentido: para o seu trabalho, para a sua relação com as pessoas, para o amor, para a amizade, para a ciência, para a educação, para a política etc. A filosofia é esse campo de entendimento que nos faz refletir sobre a cotidianidade dos seres humanos, desde os simples encontros com as pessoas, até a complexa reflexão sobre o sentido e o destino da humanidade. Nesse sentido, Georges Politzer definiu a filosofia “como uma concepção geral do mundo da qual decorre uma forma de agir”. No caso, a Filosofia é a expressão de uma forma coerente de interpretar o mundo que possibilita um modo de agir também coerente, conseqüente, efetivo. Da mesma forma, para Leôncio Basbaum, “a filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ela é, ao contrário, a própria manifestação da vida humana e a sua mais alta expressão. Por vezes, através de uma simples atividade prática, outras vezes no fundo de uma metafísica profunda e existencial, mas sempre dentro da atividade humana, física ou espiritual, há filosofia (...) A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem. Evidentemente, ele não se alimenta da filosofia, mas, sem dúvida nenhuma, com a ajuda da filosofia”. Todos têm uma forma de compreender o mundo, especialistas e não-especialistas, escolarizados e não-escolarizados, analfabetos e alfabetizados. Esta é uma necessidade “natural”, do ser humano, pois que ninguém pode agir no “escuro”, sem saber para onde vai e por que vai. Só se pode agir a partir de um esclarecimento do mundo e da realidade. Esse fato é tão verdadeiro que encontramos modos de compreensão da realidade tanto no profissional de filosofia (o filósofo), quanto em qualquer pessoa que viva e reflita sobre ela, seu sentido, significado, valores etc... A prova disso está aí: de um lado, pelos sistemas filosóficos que encontramos na história do pensamento filosófico escrito da humanidade e, de outro lado, pela forma popular de compreender a vida que, normalmente, não tem registro escrito, a não ser nos poetas populares, nos trovadores etc. Certamente que a orientação valorativa (axiológica) da existência nem sempre pode significar filosofia. Quando se diz que todos têm uma “filosofia de vida”, quer dizer que nos orientamos por valores, embora nem sempre esses valores estão conscientes, explícitos. Esse direcionamento diário inconsciente pode decorrer de massificação, do senso comum, que adquirimos e acumulamos espontaneamente, sem uma reflexão crítica sobre o sentido e o significado das coisas, das ações e portanto não é filosofia. Certamente que outras pessoas, as gerações, formaram esse “senso” com o qual cumprimos o dia-a-dia, sem muitas vezes nos perguntarmos se ele é válido ou não, se o aceitamos efetivamente ou não, por isso o filosofar deve desenvolver-se sobre ele. O que importa ter claro, é o fato de que a filosofia nos envolve, não temos como fugir dela, pois como o ar que respiramos, está permanentemente presente. Se nós não escolhemos qual é a nossa filosofia, qual é o sentido que vamos dar à nossa existência, a sociedade na qual vivemos nos dará, nos imporá a sua filosofia. E como se diz que o pensamento do setor dominante da sociedade tende a ser o pensamento dominante da própria sociedade, provavelmente aqueles que não buscam criticamente o sentido para a sua existência assumirão esse pensamento dominante como o seu próprio pensamento, a sua própria filosofia. Quem não pensa é pensado por outros! Deste modo, a filosofia se manifesta como o corpo de entendimento que cria o ideário que norteia a vida humana em todos os sues momentos e em todos os seus processos. Esse corpo de entendimento é a compreensão da existência. A Filosofia, em síntese, não é tão-somente uma interpretação do já vivido, daquilo que está objetivando, mas também a interpretação de aspirações e desejos do que está por vir, do que está para chegar. Os filósofos captam e dão sentido à realidade que está por vir e a expressam como um conjunto de idéias e valores que devem ser vividos, difundidos, buscados. Eles têm uma “sensibilidade”, um “faro” mais atento para perceber o que já está se manifestando na realidade, ainda que de uma maneira tênue. O filósofo não é um profeta, mas pode ser capaz de ler nos acontecimentos do presente o significado do que está por vir, o que está a se desenvolver. O seu pensamento torna-se, assim, expressão da história que está acontecendo e enquanto está acontecendo, e compreensão do que vai acontecer. Deste modo, o pensamento filosófico manifesta-se tanto como condicionado pelo momento histórico quanto como condicionante do momento histórico subseqüente, como impulsionador da ação, visando a concretização de determinadas aspirações dos homens, de um povo, de um grupo ou de uma classe. Neste sentido, a filosofia é uma força, é o sustentáculo de um modo de agir. É uma arma na luta pela vida e pela emancipação humana. A filosofia, não é só um instrumento para a compreensão do mundo e interpretação dos seus fenômenos. É também um instrumento de ação e arma política. Esse fato é tão verdadeiro que a filosofia tem gerado, ao longo da história humana, atitudes contraditórias e paradoxais. Governos que, de um lado, alijam a filosofia como subvertedora da ordem, de outro, contratam especialistas para criarem um pensamento, uma forma de conceber o mundo que garanta a sua forma de administrar politicamente o povo e a nação. Não há como negar a filosofia sem fazer filosofia, porque para se negar o valor da filosofia dentro do mundo é preciso ter uma concepção do mundo que sustente esta negação. Os maus políticos, efetivamente, agem assim. Preferem a massificação do povo, por isso impedem o desenvolvimento do pensamento filosófico. Mas “filosofam” para sustentar sua ação deletéria contra a Filosofia. Vale lembrar os esforços dos governos totalitários na perspectiva de criar “uma filosofia capaz de justificar o sentido de sua política e propagá-la como filosofia total do universo” (Leôncio Basbaum). Em síntese, a filosofia é uma forma de conhecimento que, interpretando o mundo, cria uma concepção coerente e sistêmica que possibilita umaforma de ação efetiva. Essa forma de compreender o mundo tanto é condicionada pelo meio histórico, como também é seu condicionante. Ao mesmo tempo, é uma interpretação do mundo e é uma força de ação. Lembramos aqui a força do pensamento dos socialistas utópicos, como Robert Owen, Saint-Simon; dos socialistas científicos, como Marx e Engels; dos revolucionários, como Lênin, Mao Tse Tung, Amílcar Cabral etc. O pensamento filosófico constituído não é “limpo”, neutro, mas sim embebido de história e de seus problemas, de seus interesses e aspirações. O “filosofar” Já vimos que quando não temos um corpo filosófico que dê sentido e oriente a nossa vida, assumimos o que é comum e hegemônico na sociedade; assumimos o “senso comum”, que é o conjunto de valores assimilados espontaneamente, na vivência cotidiana. Mas, como é que se constitui a filosofia, como se constrói esse corpo de entendimentos, que poderemos assumir criticamente como aquele que queremos para o direcionamento de nossas experiências. Em primeiro lugar, temos que superar os preconceitos sobre a dificuldade e a especialidade da filosofia, pois ela não é inútil e nem tão difícil. Logo, contrariando muitos governantes e políticos, podemos e devemos nos dedicar ao filosofar. Filosofar é simples, porém não é algo mecânico, pois na mesma medida em que estamos inventariando os valores vigentes, estamos criticando-os e reconstruindo-os. Esses momentos não são separados, pois um nasce de dentro do outro. Estudando as correntes teóricas e históricas da filosofia veem que certos entendimentos da modernidade têm vínculos com a Idade Média, e certos valores, que vivemos hoje, tiveram seus prenúncios na Idade Moderna. Da mesma forma, quando iniciamos um processo de crítica dos valores enquanto estão vigentes, mas também enquanto entre eles iniciam-se os prenúncios de certas aspirações e anseios dos seres humanos. Assim, por exemplo, Herbert Marcuse, um filósofo alemão contemporâneo, criticou os valores da sociedade industrial e propôs os valores de uma nova sociedade preocupada com uma vida menos unidirecionada para a produtividade econômica e mais voltada para a vida plena, com sentimentos, emoções, amor, vida etc. Como e por que Marcuse conseguiu se posicionar dessa forma? Porque nasceu e viveu após a Revolução Industrial, podendo inventariar e criticar os seus valores. E também por ter vivido num momento histórico em que os seres humanos estão exaustos desses valores e aspirando por outros que lhes garantam mais vida. Marcuse entrou na corrente do contexto em que viveu, mas isso não quer dizer que ele seja um puro reprodutor dessa época, mas sim que ele captou o “espírito” dessa época. Para filosofar é preciso não só olhar o dia-a-dia, mas ler e estudar o que disseram os outros pensadores, os outros filósofos, que poderão nos auxiliar, tirando-nos do nosso nível de entendimento e dando-nos outras categorias de compreensão. O nosso exercício do filosofar será um esforço de inventário, crítica e reconstrução de conceitos, auxiliados pelos pensadores que nos antecederam. Eles têm uma contribuição a nos oferecer, para nos auxiliar em nosso trabalho de construir nosso entendimento filosófico do mundo e da ação. PARA APROFUNDAMENTO LUCKESI, Cipriano C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. FILME A guerra do fogo; 1981, França/Canadá Hoje, geralmente se define a Filosofia em oposição ao conceito de ciência, entendido como pesquisa empírica da realidade. Houve tempos em que a filosofia foi definida em oposição à teologia, como na Idade Média; e em outras épocas a filosofia se opunha ao conceito de mito, como entre os gregos do século V a. C. Etimologicamente, a palavra “filosofia” formou-se pela junção de Filos-filia” que significa “amigo” e “Sophia” que é “sabedoria, saber”, e surge na Grécia do século VI a. C., nos escritos de Pitágoras, que não querendo definir-se como “sábio”, prefere autodenominar-se “Filos-sophos” - ou seja “amigo do saber”, aquele que busca a sabedoria, “amante da sabedoria”, para ele uma denominação mais fiel à sua postura de tentar compreender a realidade de seu tempo. A filosofia consiste, então, em um conhecimento sistematizado sobre o mundo da natureza, sobre a condição humana pessoal e social, sobre a sociedade, sobre a cultura. Alcançado de maneira sistemática e disciplinada, indo além do saber comum, desconexo, fragmentado, o nível do senso comum, geralmente preconceituoso e limitado, sobre a realidade pessoal, social e da natureza. No entanto a filosofia tem incomodado a muitos. A história registra muitas tentativas e empreitadas em destruí-la, desqualificá- la, negá-la. Os tiranos, os mistificadores, os dominantes e todos os interessados na alienação e mediocridade do povo preferem um consciência de rebanho, de fácil manipulação, cativa e obediente, a um questionamento sistemático e profundo sobre a realidade. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo. A proposta original da Filosofia é estabelecer uma crítica a uma determinada concepção de mundo, alinhavar alguma significação para a existência humana, pessoal e social e se tornar uma teoria de alcance eficaz no permanente processo de mudança e construção social da realidade. Não existe pensamento filosófico uniforme. Existem diversas tendências, métodos, escolas e tradições diferentes. Determinada tendência filosófica perdura enquanto existirem as condições históricas que lhe deram origem. Cabe a cada homem exercitar o seu “ser filósofo”, pôr-se em busca de uma apreensão significativa da cultura, de uma crítica leitura da realidade e de uma ação engajada no mundo. A reflexão filosófica GIRA em torno de três grandes perguntas ou questões: Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? LEIA MAIS... NUNES, César Aparecido. Aprendendo Filosofia. Campinas: Papirus, 1993. Com efeito, o aprofundamento na compreensão dos fenômenos se liga a uma concepção geral da realidade, exigindo uma reinterpretação global do modo de pensar essa realidade. Então, a lógica formal, em que os termos contraditórios mutuamente se excluem, inevitavelmente entra em crise, postulando a sua substituição pela lógica dialética, em que os termos contraditórios mutuamente se incluem (princípio de contradição, ou lei da unidade dos contrários). Por isso, a lógica formal acaba por enredar a atitude filosófica numa gama de contradições freqüentemente dissimuladas através de uma postura idealista, seja ela crítica (que se reconhece como tal) ou ingênua (que se autodenomina realista). A visão dialética, ao contrário, nos arma de um instrumento, ou seja, de um método rigoroso (crítico) capaz de nos propiciar a compreensão adequada da realidade e da globalidade na unidade da reflexão filosófica. A importância da filosofia Vivemos em um mundo pragmático, isto é, voltado para as coisas práticas da vida, interessado na aplicação imediata dos conhecimentos. Nesse sentido a filosofia não encontra muitos adeptos e, ao contrário, é freqüentemente repudiada como sendo uma teoria inútil e, conseqüentemente, perda de tempo. Entretanto, a filosofia é necessária. Por meio da reflexão é possível que se tenha mais de uma dimensão, ou seja, aquela que é dada pelo agir imediato no qual o homemprático se encontra mergulhado. É a filosofia que permite o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam, levantando, conseqüentemente, o problema dos valores. É a filosofia que reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade. A filosofia impede a estagnação e sempre se confronta com o poder, não devendo sua investigação estar alheia à ética e à política. Nesse sentido tem a função de desvelar a ideologia, ou seja, as formas pelas quais é mantida a dominação. Aliás, atentando para a etimologia do vocábulo grego correspondente à verdade (a-létheia, a-letheúein, “desnudar”), vemos que na verdade põe a nu aquilo que estava escondido; aí reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo convencional, pelo poder. FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: CONCEITOS E ARTICULAÇÕES A educação é um típico “que fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada sociedade. As relações entre Educação e filosofia parecem ser quase “naturais”. Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade. Percorrendo a História da Filosofia e dos filósofos, vamos verificar que todos eles tiveram uma preocupação com a definição de uma cosmovisão que deveria ser divulgada através dos processos educacionais. Filosofia e Educação são dois fenômenos que estão presentes em todas as sociedades. Uma como interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação. A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela. Assim sendo, não há como se processar uma ação pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica. Se a reflexão filosófica não for realizada conscientemente, ela o será sob a forma do “senso comum”, assimilada ao longo da convivência dentro do grupo. Se a ação pedagógica não se processar a partir de conceitos e valores explícitos e conscientes, ela se processará, queiramos ou não, baseada em conceitos e valores que a sociedade propõe a partir de sua postura cultural. Quando não se reflete sobre a educação, ela se processa dentro de uma cultura cristalizada e perenizada. Isso significa admitir que nada mais há para ser descoberto em termos de interpretação do mundo. É propriamente a reprodução dos meios de produção. Inconscientemente, adaptamo-nos a essa interpretação do mundo e ele permanecerá como a única para nós, se não nos pusermos a filosofar sobre ela, a questioná-la, a buscar- lhe novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana. Filosofia e educação, pois, estão vinculadas no tempo e no espaço. Não há como fugir a essa “fatalidade” da nossa existência. Assim sendo, parece-nos ser mais válido e mais rico, para nós e para a vida humana, fazer esta junção de uma maneira consciente, como bem cabe a qualquer ser humano. É a liberdade no seio da necessidade. A Pedagogia inclui mais elementos que os puros pressupostos filosóficos da educação, tais como os processos socioculturais, a concepção psicológica do educando, a forma de organização do processo educacional etc.; porém, esses elementos compõem uma Pedagogia à medida que estão aglutinados e articulados a partir de um pressuposto, de um direcionamento filosófico. A reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à pedagogia, garantindo-lhe a compreensão dos valores que, hoje, direcionam a prática educacional e dos valores que deverão orientá- la para o futuro. Assim, não há como se ter uma proposta pedagógica sem pressuposições (no sentido de fundamentos) e proposições filosóficas, desde que tudo o mais depende desse direcionamento. Para lembrar exemplos corriqueiros, a “Pedagogia Montessori”, a “Pedagogia Piagetiana”, a “Pedagogia da Libertação” do professor Paulo Freire, e todas as outras sustentam-se em um pensamento filosófico sobre a educação. Se nem sempre esses pressupostos estão tão explícitos, é preciso explicitá-los, desde que eles sempre existem. Por vezes, eles estão subjacentes, mas nem por isso inexistentes. O estudo e a reflexão deverão “obrigá-los” a aparecer, desde que só a partir da tomada de consciência desses pressupostos é que se pode optar por escolher uma ou outra pedagogia para nortear nossa prática educacional. PARA APROFUNDAMENTO LUCKESI, Cipriano C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994, p.30-33. ARANHA, Maria Lúcia de A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1989, p.43. FILMES Sociedade dos Poetas mortos; 1989 O destino. 1997 – Egito/França Tempos modernos; 1936 – EUA