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Estadios de futebol podem se tornar ambientes de opressão

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Pedro Silva Marra é o autor do presente artigo, que tem como objetivo trabalhar as diferentes sonoridades produzidas dentro de um estádio de futebol, mais precisamente, os sons gerados pelas diversas torcidas, incluindo tanto o apoio quanto quanta as vaias. Entendo o estádio de futebol como um local que gera diversas relações e laços sociais, unindo os mais diversos grupos sociais como: famílias, grupos de amigos, entusiastas do esporte e até mesmo profissionais de imprensa especializada. É importante ressaltar que por mais diferentes que esses grupos sejam, a paixão pelo esporte é o que os unem e entre os instrumentos que proporcionam essa união, estão os sons produzidos pelos mesmos.
Se faz necessário antes de um desenvolvimento propriamente dito, entender o que significa sonoridade em si, neste caso, podemos entender sonoridade como sendo uma característica imanente do som, mas que se relaciona simbolicamente com seu contexto de criação, uso e significação. Logo, o autor entende a sonoridade dentro do âmbito futebolístico, como uma manifestação do afeto provocado pela disputa, sendo esse o laço social em si que une os torcedores, assim sendo, é esperado que essas manifestações tenham características diversas, mas que podem ser mapeadas da seguinte forma: A sonoridade seria produzida a partir da prática esportiva, que relaciona tanto os jogadores quanto os torcedores, o sons produzidos se relacionam a partir da forma que eles percebem o ambiente ao seu redor. 
Sendo assim, se faz necessário explicar também o significado de ritmo, pois este é uma característica fundamental para entender as demasiadas sonoridades produzidas a partir dessas interações. Podemos entender como ritmo todo tempo regulado, que se expressa a partir de leis criadas racionalmente, mas que se expressão no menos racional, neste caso, no fervor do momento, no corpo e no vivido. É importante entender que em qualquer lugar que haja interação entre lugar, tempo e dispêndio de energia existirá ritmo.
Um dos exemplos apresentados por Pedro Silva Marra, é referente aos gols, de forma que gols marcados geram sonoridades mais intensas de grande intensidade e duração, podemos entender como momentos de pura catarse, efemeridade e irracionalidade também, em contrapartida, gols sofridos produzem sons mais curtos em formas de vaias, de curta duração, que expressão momentos de raiva até tristeza.
Uma partida de futebol não se resume unicamente a identidade de torcedores a determinadas equipes, há diversas ligações que vão muito além disso, e que devem ser aprofundadas, como por exemplo vínculos étnicos, econômicos, sociais e regionais. E todos esses vínculos, por muitas vezes se utilizam dos sons produzidos dentro de um estádio para se expressar, tanto em forma de xingamentos, como em forma de apoio. Entender esses sons é entender como funciona o diálogo não só dentro de campo, mas também fora sendo o estádio de futebol muitas vezes o reflexo do pensamento atual daqueles que compõem a sociedade.
Aprofundando a pesquisa 
A partir da discussão e das analises apresentadas por Marra em seu artigo é possível compreender que de fato os sons das arquibancadas influenciam tanto no sentimento quanto na razão dos sujeitos envolvidos no jogo de futebol. Desse modo a presente pesquisa foi elaborada a fim de aprofundar certos pontos na analise desses sons, abordando seu aspecto essencial e socialmente construído, que é o conteúdo, isto é, procuramos analisar especificamente o discurso sob a perspectiva de que as mensagens desses cantos ultrapassam os limites da esfera do futebol, atingindo diretamente a moral dos torcedores que é construída em relações sociais que vão além dos muros do estádio e perpassam por gerações se constituindo enquanto tradição dos brasileiros. Como Marra nos apresenta em seu artigo: 
Neste sentido, os estímulos produzidos pela prática esportiva funcionam como um fator de vinculação, que dizem respeito “à forma com a qual os atores sociais compartilham códigos culturais específicos de uma partida de futebol, utilizando todo ferramental comunicativo disponível” (FERNANDES, 2010:336). O futebol é visto como fenômeno produtor de identidades, seus signos como manifestação desta comunhão; o conteúdo de uma estrutura social maior, anterior à prática esportiva, mais abrangente e externa a sua dimensão simbólica.
Portanto procuramos entender a arquibancada enquanto espaço de manifestação cultural e de expressão de ideias, onde as ações dos que estão lá parar torcer podem se originar de dois sentimentos: de um lado são impulsionadas pela alegria de pertencer a um coletivo de gosto comum, de se sentir reconhecido no outro semelhante, e nesses casos gritam palavras de incentivo a vitória e cantam amor e fidelidade ao clube que torcem ; de outro são pela ofensa ao time e ao jogador adversário, quando cantam discursos de ódio que possuem o objetivo único de desqualificar a imagem do outro, através de xingamentos pautados em preconceitos de raça e gênero. Marra nos apresenta que: 
“Nas torcidas, vemos um amontoado aparentemente indistinto de pessoas unidas pela paixão por uma mesma equipe. Esta ligação leva em conta relações de várias naturezas: pode ser passada de pai para filho; pode levar em conta relações étnicas/raciais, como a que liga a colônia de imigrantes italianos de São Paulo à Sociedade Esportiva Palmeiras; pode basear-se em períodos vitoriosos da equipe, como aconteceu com o Santos durante a década de 60; ou relacionar-se com questões econômicas e sociais (DAOLIO, 2005:21-52), etc mas pode ser produzida ainda pela emoção da disputa em si.”
Dentre os motivos que nos incitaram a pesquisar esse tema pode-se destacar o aumento exponencial nos últimos anos de noticias veiculadas nas mídias sociais de casos de homofobia e racismo no futebol, tanto dentro do campo de jogo como nos arredores do estádio. Alguns dos casos que tiveram aclamação popular viraram processos jurídicos, como foi com Aranha, ex-goleiro da Ponte Preta de Campinas que em partida contra o Gremio Foot-Ball Porto Alegrense sofreu serias agressões morais. Na ocasião a torcida do time adversário jogou cascas de banana em sua direção e gesticularam como um macaco, a fim de provocar o goleiro e distribuir preconceito racial em uma partida de futebol. Outro caso de racismo, dessa vez internacional, ocorreu com o jogador brasileiro Daniel Alves quando defendia o clube espanhol Barcelona em clássico contra o Villareal, onde os torcedores do time de adversário arremessaram uma banana em sua direção
Além de tantos outros episódios de racismo no futebol, encontramos como tradição do esporte uma essência machista, que fica evidente tanto nos cantos das torcidas como em programas televisivos de debatedores do esporte, quanto dentro das próprias instituições formadoras desses atletas e nos investimentos. É valido destacar que até pouco tempo atrás a frase “futebol é coisa de homem” era quase uma lei no universo do futebol, tanto que apenas nos últimos anos houve reconhecimento e investimento nacional no futebol feminino, que ainda assim tem condições muito inferiores se comparada ao outro gênero. No país do futebol as mulheres jogam com menos: faltam salários, equipamentos, infraestrutura adequada e, principalmente, público. 
Como forma de tentar compreender melhor essas influencias do social dentro do campo de jogo, procuramos desenvolver uma metodologia que de alguma maneira ligasse o método utilizado por Marra em seu artigo, isto é, descrever os sons da torcida, bem como o reflexo dele na atuação dos jogadores, porem com o objetivo de absorver não apenas as sonoridades musicais, mas interpretar o texto das canções e o reflexo disso na cultura que se propaga no futebol. Para isso analisamos 2 jogos, que são: 
1. Corinthians x São Paulo – Final da Copa do Brasil Sub20 – 02/06/2018 
2. Brasil x Croácia – Abertura da Copa do Mundo – 12/06/2014 
A escolha dos jogos é precisa por vários motivos, no que se refere a manifestação da torcida, a começar pelo jogo da Copa do BrasilSub20, o que nos interessou na decisão foi por se tratar de um jogo clássico do futebol paulista marcado por tradições e histórias, mas que nesse momento se enfrentavam em situação diferente, se tratava de um processo de formação dos atletas. No nosso entendimento esse tipo de campeonato, que tem como função preparar os atletas jovens para uma futura carreira profissional, é marcado por processo educativos que transpassam o jogo em si, e afetam diretamente na constituição daquele atleta enquanto cidadão e profissional. Sendo assim, analisar os processos educativos que estão presentes nesse universo é mais que necessário, para entendermos não só que tipo de atleta formamos, mas qual o objetivo na formação desses atletas, e como são feitas essas etapas. 
A segunda escolha se deu por se tratar de um jogo de abertura do maior evento futebolístico do mundo envolvendo dois times que representavam nações, de um lado a Croácia representando uma nação europeia, de outro o país sede da Copa do Mundo daquele ano, o Brasil, que era incentivado por mais de 50 mil torcedores, que cantavam em apoio a seleção e pela estreia de Neymar, mas ao mesmo tempo vaiavam e ofendiam quando a então presidenta Dilma Roussef, eleita pelo Partido dos Trabalhadores naquele mesmo ano, aparecia em seu camarote. Vale lembrar que esse evento é televisionado para a maior parte dos países do globo, e os veículos nacionais, tomados por seus instintos golpistas, se aproveitavam do momento para enfatizar as reações. 
Nossa analise se dará em torno da discussão sobre alguns momentos desses dois jogos, que foram marcados por manifestações das torcidas tanto positivamente quanto negativamente. Porem antes de analisarmos os jogos, é preciso fazer um apontamento dessa paixão nacional, como Marra traz em seu texto: 
“Assim, é a partir da arquibancada, durante as partidas, que os torcedores têm uma chance efetiva de influir no resultado da disputa, pois os signos sonoros se tornam identificáveis pela equipe em campo, que se motiva de acordo com o entusiasmo com que se torce. Como afirma o historiador Hilário Franco da Rocha “impotente na arquibancada, o adepto de um clube crê que sua fé e seu estímulo possam colaborar para que seus ídolos levem a divindade comum à vitória” (ROCHA, 2007:292).
Dados do Observatório da Discriminação Racial no Brasil, mostrado numa notícia online da ESPN, mostram que o número de casos de racismo no futebol aumento, enquanto as punições caíram drasticamente. De 2014 a 2015, houve acréscimo de 85% de casos de racismo; em números, 37 casos. Mas apenas um teve punição no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que foi o caso do jogador Alberto, quando jogava no Tigre. Foi chamado de “macaco”, “Vera Verão” e “Zeca Urubu”. O Guaraí, time da torcida que manifestou os gritos racistas (pegos por relatos, e intervenção da polícia, no jogo), foi punido e multado em quinhentos raciais que deveriam ser pagos ao clube adversário. O clube, Guaraí, também prometeu campanhas anti-racismo entre os torcedores. Os agressores não foram identificados na época. 
Diferentemente, no caso do ex-goleiro do Ponte Preta, Aranha, uma agressora foi identificada e punida. Foi exposta e teve de prestar depoimento na polícia. O ex-jogador de futebol, Tinga, deu um parecer à situação, levantando que a ação repressiva contra a mulher foi exagerada. Alegou que todo um contexto de racismo foi jogado nas costas de uma pessoa só, e, se o intuito era promover alguma mudança ou conscientização na pessoa ou no resto do público, foi falha. Esse comentário de Tinga fortalece que há a necessidade de punições aos crimes de racismo dentro do futebol – e demais esportes – mas que a situação engloba todo um contexto social maior e externo ao estádio e as torcidas. Uma reflexão mais aprofundada deve ser feita em relação ao preconceito dentro do futebol, e mais, na sociedade que engloba a prática esportiva.
Na prática do machismo, temos alta influência – assim como na sociedade, como reflexo e com movimento dialético entre os meios sociedade-estádio. O afastamento das mulheres no esporte, tanto na prática quanto na torcida (e comentários, conversas, discussões, etc.), é evidente. O “mansplaining” – prática de um homem em ver necessidade de explicar a uma mulher coisas que ela possivelmente já sabe, por achar que ela é incapaz de compreender por si mesma e discutir sobre – é um fenômeno forte. Emily Lima foi a primeira e única mulher a entrar no alto escalão da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Foi eleita em novembro de 2016. Durou um ano no comando técnico da seleção de futebol feminino; sua demissão não foi justificada. Relatou vários atos machistas enquanto presidia o cargo, como: silenciamento, dificuldade em trabalhar e expor ideias, propostas e melhoras; dificuldade em contatar superiores. A demissão gerou um protesto das jogadoras, que enviaram cartas (24 de 26 nomes) para evitar a mesma. Não foram ouvidas, nem mesmo retornadas. Como ultimato no protesto, várias jogadoras se aposentaram para manifestarem-se contra a demissão de Emily. 
A tradição machista da sociedade impregnou em todos os âmbitos culturais, inclusive no esporte. A dificuldade de ascensão profissional no futebol feminino é eminente. É propagado principalmente – e por estar onde está, fatalmente – nos altos cargos da hierarquia do futebol, como técnicos, treinadores e comissões (compostas por homens). Numa pesquisa feita pelo Superesportes, 55 mulheres foram entrevistadas para relatarem sua vivência dentro do esporte. 27% das entrevistadas alegou assédio moral e sexual. 32,7% disse ter presenciado assédio feitos com outras mulheres. Muitos desses casos não são relatados no momento em que são realizados, e muito menos prestadas queixas, por medo do que pode acontecer com o futuro profissional das atletas. Gerlane Alves, jogadora, foi excluída de um time por negar sair com o treinador. As ameaças de demissão e impedimento de ascensão profissional, em casos de assédio como este, são uma realidade para as mulheres no futebol (assim como nas outras áreas de trabalho). 
Por conta dos gritos que perpetuam a cultura machista dentro – e fora – do futebol, esse contexto impede a entrada e a permanência das mulheres dentro do esporte. E não só nesses fatores, mas na própria representatividade enquanto mulheres. 87% das atletas tem sua sexualidade questionadas por comentários e gritos machistas, como: “sapatão”, “só quer ser homem”, “vai lavar prato”, “deve ser lésbica”, “futebol é pra homem”, “jogo de menina não presta”, “sai da quadra que lugar de mulher é na cozinha”, “machinho”, “vem que eu te mostro o que é homem”, “maria macho”, “mulher homem”, “macho fêmea”, etc. Também sua capacidade e talento é extremamente questionada, como em tudo na sociedade. 
Considerações
Ao propormos o nome do artigo - “A arquibancada educa: manifestações que ultrapassam o campo de jogo” – buscamos elementos, tanto no artigo do jornalista Pedro Marra quanto nas demais bibliografias referenciadas, que contribuíssem para uma compreensão mais racional e clara das manifestações de torcedores em partidas de futebol. Assim, ao apresentarmos a ideia de que “a arquibancada educa”, estamos nos referindo a uma educação não formal, reproduzida e aceita, mesmo que inconscientemente, pelos frequentadores daquele espaço. Por sua vez, quando citamos as “manifestações que ultrapassam o campo de jogo”, fazemos referência a uma prática caracterizada como um fenômeno sociocultural (HOBSBAWN, citado por PIMENTA, 1997, p. 133), e como tal traz em si uma gama de preceitos tradicionalmente construídos.
Ao nortearmos nosso trabalho a partir desta temática, trilhamos o seguinte caminho, conforme a imagem abaixo.
(Fonte: Elaboração Própria)
O artigo, “Vou de arquibancada pra sentir mais emoção – Uma proposta de pesquisa acerca das sonoridades do futebol” foi utilizado como suporte para a construção da nossa linha de pesquisa, no qual o autor salienta que seu trabalho “busca investigar a interação comunicativa entreuma disputa futebolística, as reações da torcida presente no estádio e a sonoridade produzida neste tipo de evento esportivo” (p. 175), onde a partir dele as observações das ações dos torcedores e seus impactos dentro de campo, porém, privilegiamos as manifestações de ataque aos adversários (jogadores e torcedores rivais) em detrimento daquelas de incentivo ao seu time. Assim, buscamos em outras ocorrências, além das apresentadas pelo autor, de grande repercussão e veiculadas pelas emissoras de televisão como nas redes sociais, separando-as em três categorias: i. Racistas; ii. Homofóbicas; e ii Políticas Tendenciosas.
Na primeira categoria destacamos os casos de racismo envolvendo os jogadores Daniel Alves, quando atuava pela equipe do Barcelona em 2014, quando a torcida atirou em sua direção uma banana, e o goleiro Aranha quando este atuava pela equipe do Santos em uma partida contra o clube do Grêmio, também no ano de 2014, quando uma torcedora foi flagrada chamando o goleiro de “macaco”. A segunda categoria apresenta dois casos de homofobia, sendo um envolvendo o Jornalista Willian De Lucca, o qual recebeu várias críticas e ofensas após publicar em uma rede social seu repúdio ao cântico da torcida de seu próprio clube e o caso de gritos de “bicha” disparados pela torcida durante a saída de bola pelo goleiro em um jogo de futebol. Por fim, a terceira categoria se refere à manifestação Política Tendenciosa, onde apresentamos o caso da Presidenta Dilma Rousseff sendo vaiada em um estádio de futebol durante uma partida da copa do mundo realizada no Brasil em 2014.
As manifestações flagradas e aqui apresentadas demostram algo sintomático à sociedade brasileira. Atitudes racistas e homofóbicas encontram nesses espaços condições propícias para sua expressão, como salienta PIMENTA (1997):
“Dentro de uma praça desportiva, as regras sociais se afrouxam, propiciando momentos de transgressões não permitidas nas relações grupais fora de campo do jogo, surgindo, então, as trocas de ofensas morais e físicas entre os protagonistas do espetáculo” (p. 53)
Assim, os frequentadores desses espaços entendem que as regras sociais se tornam mais flexíveis, fazendo com que ocorram manifestações excessivas de tensões e estresse acumulados durante sua atividade rotineira, aproveitando-se do anonimato entre a massa para extravasar tais sentimentos.
Atitudes de torcedores como no caso da banana atirada em direção ao Jogador Daniel Alves durante uma partida disputada pelo campeonato espanhol, em uma clara referência racista, bem como o caso da torcedora gremista ao chamar o jogador de “macaco”, são reflexos do extravasamento do racismo enraizado na sociedade, não somente brasileira, como se observa. Em nosso caso, muito em decorrência da falácia da democracia racial, responsável por mascarar o racismo, deslegitimando a luta pela igualdade de direitos, que ainda encontra poderosas barreiras.
A denúncia apresentada pelo jornalista Willian De Lucca em uma rede social ganha grande repercussão nacional. Nela, o jornalista se queixa da torcida de seu próprio time dizendo: “A torcida do Palmeiras, em sua homofobia típica, canta que 'todo viado nessa terra é tricolor”. Em uma clara manifestação homofóbica na tentativa de agressão verbal à torcida rival. Na ocasião, Willian ressalta ainda que: “Parece que encontrei uma exceção à regra: eu mesmo, viado e palmeirense, e que cola no estádio em TODOS os jogos.”. 
Com esta atitude, Willian foi insultado e ameaçado inúmeras vezes por torcedores de seu clube, principalmente pelas redes sociais, em uma clara expressão de repúdio a um membro homossexual na torcida, pois segundo a premissa deste conjunto de regras comportamentais que se espera, um torcedor gay depreciaria a autoimagem do grupo frente a um rival. 
Caso semelhante ocorre durante a maioria das partidas de futebol, quando na cobrança de tiro de meta realizado por um jogador adversário, principalmente os goleiros, a torcida profere um grito de “bicha”, em uma clara tentativa de ofensa ao atleta. Especificamente analisamos uma partida realizada entre as equipes do São Paulo e Corinthians, que disputavam a final da Copa do Brasil Sub-20. Assim, evidencia-se que não importa quais os times ou faixa etária que disputam as partidas e sim a ofensa e ataque ao adversário, visto nesses casos como o inimigo.
As ações de um determinado grupo de torcedores variam e não se restringe aos ataques racistas e Homofóbicos. Um bom exemplo são as vaias e xingamentos disparados à então Presidenta Dilma Rousseff durante a Copa do Mundo realizada no Brasil em 2014. Este evento também se caracteriza como um extravasamento pois se refere a um grupo específico de torcedores, uma vez que este grupo era formado majoritariamente por brancos e de classe média, pois como se evidencia, as partidas da Copa do Mundo são excludentes devido aos elevados preços praticados na compra dos ingressos. Assim, percebe-se que tais torcedores possuem interesses comuns, contraditórios aos da maioria da população brasileira e diferem das concepções políticas praticadas pela chefe do Estado eleita.
Contudo, entendemos que o futebol é um fenômeno social de grande expressão no país e que se apresenta como um dos elementos característicos de nossa cultura. Dessa forma, traz consigo expressões e manifestações que extrapolam e repercutem o local da prática esportiva, que merecem atenção e combate quando necessário, pois não se pode entender que esses espaços estão livres para tais condutas transgressoras, as quais contribuem para a perpetuação dos males que assolam nossa sociedade. Diante desta perspectiva, o futebol pode ser visto como difusor de tais mazelas, porém, preferimos voltar o olhar às suas potencialidades, ou seja, a partir de sua prática propor e construir condições de combate e resistência a um padrão comportamento nocivo, possibilitando a construção de uma sociedade igualitária e justa.

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