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Patrística Caminhos da Tradição Cristã

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o s Padres da Igreja edificam os tópicos fundamentais 
da vida cristã, para crer, celebrar e viver. Para renovar 
a comunidade cristã, os cristãos hão de voltar sempre à 
sua primeira juventude e assim evitar o perene perigo do 
"envelhecimento" da Igreja. O Concílio Vaticano II 
inaugurou uma época de fidelidade mais decidida e 
mais esclarecida à tradição, em sua expressão patrística. 
A pontou à Igreja atual os caminhos da colegialidade, do 
diálogo, da partilha e da comunhão da graça do Espírito, 
bem como da valorização dos carismas e dos ministérios, 
na diversidade dos serviços e das vocações. São esses 
os "caminhos da tradição cristã" de que este livro, em 
boa hora, quer ser o manual, leve e simples, mas rico 
e seguro em informações, estimulando a aprofundar 
a reflexão e a pesquisa, e, por que não, a promover a 
contemplação, na convivência com os Santos Padres da 
Igreja.
Frei Carlos Josaphat
EM V A SO S DE BA RRO , 
U M T E SO U R O PRECIO SO
O s cristãos professam a cada dia sua fé no Deus 
único, que enviou seu Filho ao mundo para 
os santificar,- no Filho eterno, que realizou sua 
missão e enviou o Espírito de sabedoria e de 
entendimento. E procuram viver no amor a 
Deus e no amor recíproco entre os irmãos.
N o início da pregação do Evangelho aos povos, 
os apóstolos foram as testemunhas qualificadas 
de Jesus Cristo,- por meio deles recebemos as 
verdades que Jesus Cristo anunciou, como uma 
herança transmitida de geração em geração. 
H oje somos herdeiros de um tesouro precioso, 
que conservamos ao longo dos séculos: a 
herança apostólica da fé professada pela Igreja.
O título deste trabalho já indica o seu conteúdo: 
Patrística, caminhos da tradição cristã. Ele 
mostra a importância do itinerário de fé dos 
primeiros cristãos em Jesus Cristo, o Filho do 
Deus vivo, explicitando os fundamentos, as 
perspectivas e os objetivos da vida eclesial.
Seus autores, Pe. Antônio Sagrado Bogaz, Frei 
M árcio Alexandre Couto e o Professor João 
Henrique Hansen, ajudam-nos a coligar nossa 
prática cristã atual às raízes de nossa mais antiga 
tradição cristã.
Esta publicação sobre a Patrística nasceu da 
experiência pastoral, do aprofundamento das 
pesquisas teológicas, do magistério incansável 
de seus autores e do seu desejo de partilhar suas 
reflexões com os demais irmãos de fé. Que o 
livro seja uma ajuda a todos aqueles que se 
interessam por conhecer melhor as fontes da 
pregação e da catequese cristã.
Dom Odílo Pedro Scherer 
Cardeal Arcebispo de São Paulo
A n t ô n io S a ç r a d o Bo q a z , 
formado em Teologia 
Sistemática pela Universidade 
Qregoríana e em Teologia 
Lítúrgica pelo Pontifício 
Instituto de Liturgia Santo 
Anselmo, de Roma, é professor de Teologia 
Patrística no Instituto Teológico de São Paulo 
(ITESP) e na Escola Dominicana de Teologia 
(EDT) em São Paulo.
M á r c io A lex a n d r e C o u t o , 
formado pela Universidade de 
Friburgo (Suíça), é co-autor da 
coleção de vídeos "Patrística: 
caminhos da fé cristã" (Paulus) 
e professor de Teologia Moral 
e História da Teologia. Atualmente, em 
Roma, é assistente do mestre da Ordem dos 
Dominicanos para os estudos.
J o ã o H en riq ue H a n s e n , 
professor de Ética Filosófica 
e Cristã e de Literatura, 
formado pela Universidade 
de São Paulo (USP) em Letras 
e Literatura, dedicou sua 
pesquisa e escritos à literatura cristã, primitiva 
e hodierna. Atualmente atua no departamento 
de programação e avaliação da Universidade 
São Camilo e nos meios de comunicação, 
contribuindo com a formação ética e literária de 
nossa sociedade.
PATRÍSTICA 
CAMINHOS DA TRADIÇÃO CRISTÃ
TEXTOS, CONTEXTOS E ESPIRITUALIDADE 
DA TRADIÇÃO DOS PADRES DA IGREJA ANTIGA, 
NOS CAMINHOS DE JESUS DE NAZARÉ
PATRÍSTICA 
CAMINHOS DA TRADIÇÃO CRISTÃ
TEXTOS, CONTEXTOS E ESPIRITUALIDADE 
DA TRADIÇÃO DOS PADRES DA IGREJA ANTIGA, 
NOS CAMINHOS DE JESUS DE NAZARÉ
í;3£0*
Antônio S. Bogaz 
Márcio A. Couto 
João H. Hansen
PATRÍSTICA 
CAM INHOS DA TRADIÇÃO CRISTÃ
TEXTOS, CONTEXTOS E ESPIRITUALIDADE 
DA TRADIÇÃO DOS PADRES DA IGREJA ANTIGA, 
NOS C AM IN H O S DE JESUS DE NAZARÉ
PAULUS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bogaz, Antônio S.
Patrística: caminhos da tradição cristã: textos, contextos 
e espiritualidade da tradição dos padres da Igreja antiga, 
nos caminhos de Jesus de Nazaré / Antônio S. Bogaz, Márcio A. 
Couto, João H. Hansen. — São Paulo: Paulus, 2008.
ISBN 978-85-349-2927-1
1. Padres da Igreja primitiva 2. Tradição (Teologia) I. Couto, 
Márcio A. II. Hansen, João H. III. Título.
08-00863 CDD-270
índices para catálogo sistemático:
1. Patrística: História da Igreja 270
2. Patrística: Literatura cristã primitiva 270
Capa 
Marcelo Campanhã
Editoração, impressão e acabamento 
PAULUS
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Televenda: (11) 3789-4000 / 0800 16 40 11
MISTO
P ap el produzido a partir 
da fontes resp on sáve isp ç r
^ FSC* C108975
1* edição, 2008 
5a reimpressão, 2017
© PAULUS - 2008
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 - São Paulo (Brasil) 
Tel.: (11) 5087-3700 • Fax: (11) 5579-3627 
paulus.com.br • editorial@paulus.com.br
ISBN 978-85-349-2927-1
mailto:editorial@paulus.com.br
Com em oção e gra tidão, dedicam os esta obra 
a Dom André W. Suski, 
que nos o rien tou na pesquisa e nos estim ulou 
a garim par os tesouros da Patrística.
A p r e se n ta ç ã o
Em v a s o s d e b a r r o , um t e s o u r o p r e c io s o
Os cristãos professam a cada dia sua fé no Deus único, que en­
viou seu Filho ao mundo para os santificar; no Filho eterno, que 
realizou sua missão e enviou o Espírito de sabedoria e de enten­
dimento. E procuram viver no amor a Deus e no amor recíproco 
entre os irmãos.
No início da pregação do Evangelho aos povos, os apóstolos 
foram as testemunhas qualificadas de Jesus Cristo; por meio de­
les recebemos as verdades que Jesus Cristo anunciou, como uma 
herança transmitida de geração em geração. Hoje somos herdei­
ros de um tesouro precioso, que conservamos ao longo dos sécu­
los: a herança apostólica da fé professada pela Igreja.
O título deste trabalho já indica o seu conteúdo: PA­
TRÍSTICA, CAMINHOS DA TRADIÇÃO CRISTÃ. Ele mostra 
a importância do itinerário de fé dos primeiros cristãos em Jesus 
Cristo, o Filho do Deus vivo, explicitando os fundamentos, as 
perspectivas e os objetivos da vida eclesial.
Seus autores, Pe. Antônio Sagrado Bogaz, Frei Márcio 
Alexandre Couto e o Professor João Henrique Hansen, ajudam- 
nos a coligar nossa prática cristã atual às raízes de nossa mais 
antiga tradição cristã. Trata-se sempre de fazer aquilo que São 
Paulo também já fez: “o que recebi do Senhor, eu vos transmito:
t
que o Senhor Jesus deu a vida por todos nós, por nós padeceu na 
cruz e morreu e por nós ressuscitou” (cf. ICor 15,3).
Esta mensagem é a bela e alegre novidade a ser comunicada 
e testemunhada a cada fiel, em todos os tempos. A fidelidade à 
herança apostólica nos dá a certeza de estarmos na fé da Igreja e 
que nossas raízes estão plantadas na história dos apóstolos e de 
seus sucessores.
O conhecimento da teologia e da mística dos Padres da 
Igreja primitiva nos permite atualizar seus ensinamentos para as 
nossas comunidades na catequese e nos novos púlpitos de nossas 
pregações.
No conjunto de nossas tradições doutrinais, litúrgicas, 
morais e eclesiais, está presente a riqueza dos ensinamentos 
dos Santos Padres. De fato, nós não criamos a cada passo as 
verdades da nossa fé, mas as acolhemos e explicitamos junta­
mente com a comunidade eclesial, também com aquela que nos 
precedeu.
A Tradição cristã dos primeiros séculos e dos demais pe­
ríodos contém imensas riquezas, que passamos de geração em 
geração como relíquias preciosas de família; elas dão unidade à 
profissão de fé e à vida eclesial, solidificam e fazem crescer nossacerteza de que somos herdeiros da mensagem do Divino Verbo, 
que continua a anunciar seus oráculos no coração do mundo.
O conhecimento dos escritos primitivos nos dá a cons­
ciência de não crermos sozinhos; fazemos parte de um povo que 
crê e professa a mesma fé, com a Virgem Maria, Mãe de Deus e 
os apóstolos, com uma multidão de mártires, de sábios e santos, 
missionários e teólogos, gente simples e homens ilustres, que nos 
precederam na fé e já fazem parte da Igreja celeste. Cremos com 
eles e como eles creram; como eles no passado, somos chamados 
hoje a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo.
Nossos tempos são marcados pela onda avassaladora da 
mundialização e da virtualização das crenças e valores; é for­
te a tendência a sujeitar tudo à lógica do mercado, até mesmo
as propostas religiosas e crenças; os arquétipos sociais e cultu­
rais contemporâneos sofrem constantes transformações para se 
adaptarem às exigências fugazes da moda e das conveniências do 
pensamento dominante.
Para nós, é tempo de formar comunidades de fé viva, onde 
os cristãos sintam a Igreja como seu lar e sua família. A referên­
cia às raízes profundas da Patrística nos dá identidade, estabili­
dade e serenidade para vivermos e anunciarmos a mensagem de 
Jesus Cristo, Filho de Deus, nosso Salvador.
Esta publicação sobre a Patrística nasceu da experiência 
pastoral, do aprofundamento das pesquisas teológicas, do magis­
tério incansável de seus autores e do seu desejo de compartilhar 
suas reflexões com os demais irmãos de fé. Que o livro seja uma 
ajuda a todos aqueles que se interessam por conhecer melhor as 
fontes da pregação e da catequese cristã.
Dom Odilo Pedro Scherer 
Cardeal-Arcebispo de São Paulo
P r efá c io
S e m p r e q u e r id o s e in d is p e n s á v e is S a n t o s P a d r e s .
É de admirar o quanto os Santos Padres foram não apenas vene­
rados, mas queridos e bem-amados. Estiveram sempre no cora­
ção e no pensamento daqueles e daquelas que se empenharam 
em construir a Igreja e o mundo no decorrer dos séculos.
A grande e graciosa santa Teresa de Ávila encontrava seu 
Mestre interior no Espírito de Amor que habitava o centro de sua 
alma. Buscava a orientação de sua caminhada e de suas funda­
ções antes de tudo e essencialmente nas palavras e nos exemplos 
de Jesus. Mas como gostava de ser ajudada nesse encontro ínti­
mo e direto com Deus, lendo S. Jerônimo e Santo Agostinho!
Pode até haver certa surpresa, quando alguém tenta acompa­
nhar um missionário, como frei Bartolomeu de Las Casas, todo en­
tregue à evangelização, à libertação e à promoção dos ameríndios. 
Nas suas idas e vindas pelos caminhos ou pelos descaminhos da 
América, trazia sua biblioteca ambulante, carinhosamente trans- 
portada pelos índios, que sabiam que aqueles livros eram instru­
mentos para a defesa deles. Pois bem, em meio a seus calhamaços, 
lá estavam os Evangelhos, as Cartas do Apóstolo Paulo, a Suma 
de Tomás de Aquino. Mas, bem em relevo os escritos de S. João 
Crisóstomo, o predileto de Las Casas ao lado de Santo Agostinho, 
de S. Gregório, e de tantos outros Padres da Igreja de Deus e dos
f
pobres.Vinham ajudar a plantar a Igreja no Novo Mundo, como a 
haviam implantado na Ásia, na Europa e na África.
Aliás, já no momento em que surge na Igreja a teologia em 
moldes universitários, com Santo Alberto, São Boaventura, Santo 
Tomás, ela vinha como umíèlã|da inteligência e do coração, por­
que esses doutores começavam, é claro, por ser bons comentado­
res das Escrituras divinas. No entanto, seus primeiros manuais 
eram as Sumas sentenciárias, as antologias bem completas e or­
denadas dos Padres da Igreja.
E dada a imensa dificuldade e o alto preço dos livros ma­
nuscritos de então, era de ver como os mestres, doutores e es­
tudantes estimavam o que podiam encontrar de Agostinho, de 
Ambrósio, de Jerônimo, de um dos Clementes, de Roma, de 
Alexandria ou de Jerusalém. As histórias e até as lendas dão 
testemunho. Quando um confrade, apontando para Paris, per­
guntou a Tomás de Aquino se não gostaria de ser dono desta 
já admirada metrópole, o santo Doutor respondeu, revelando
o que trazia no coração: “Seria melhor que me oferecessem um 
pergaminho de São João Crisóstomo com seus comentários às 
Epístolas de Paulo”.
Os textos patrísticos inspiraram e iluminaram a teologia na 
Idade Média, até a alvorada do mundo moderno. Guiaram as lei­
turas, os estudos e as pesquisas até que, a partir do século XVI, 
os Padres foram cedendo lugar aos manuais que vinham facilitar
o trabalho de formação do clero. Essas compilações tornaram-se 
de fato um caminho de facilidade concorrendo para esvaziar a 
Sagrada Doutrina de sua densidade bíblica, a que concorriam 
de maneira decisiva os grandes mestres dos primeiros séculos 
cristãos.
E deveras bendito esse amanhecer da Igreja, no qual os 
Santos Padres foram os corajosos e luminosos pioneiros da di­
fusão do Evangelho, da sua apresentação como luz e alimento 
para os fiéis e as comunidades e da sua primeira e bem-sucedida 
inculturação'. Pois souberam conduzir o confronto da mensagem
cristã com as formas de pensar, de viver, de organizar e comu­
nicar, próprias ao mundo antigo, judaico, grego e romano, não 
hesitando em ir ao encontro dos chamados povoslbárbaros, ger­
mânicos, gauleses, ibéricos ou eslavos.
Assim se realizava a implantação da Igreja na fidelidade cria­
tiva ao seu divino Fundador e na docilidade ao Espírito de Amor 
e de Santidade. No seu tempo e nas épocas sucessivas,.para as 
gerações dos cristãos, sobretudo dos santos, dos místicos, dos ba- 
talhadores pelo Reino de Deus, os Santos Padres foram mesmo os 
pais que os formaram na fé. Eles os levavam a priorizar e a prati­
car o essencial, a acolher os dons divinos e a se deixar transformar 
pela forte e suave energia da graça salvadora e santificadora.
Graças ao trabalho lúcido e carinhoso de uma equipe com­
petente, este livro vem brindar nossa cultura com uma valiosa 
contribuição de pedagogia, de teologia e de espiritualidade.
É bem mais do que um feixe de boas informações sobre os 
Santos Padres, que prolongaram o labor dos Apóstolos, implan­
tando a Igreja e realizando a primeira evangelização do mundo 
greco-romano. Aqui se encontra uma iniciação à doutrina, ao 
modo de viver, de orar, de pregar dos mestres e das comunidades 
dos primeiros séculos cristãos, que, em uma incansável fidelida­
de criativa, levaram a cabo a primeira inculturação mundial da 
mensagem de Cristo.
É toda essa riqueza que quer sugerir o título simples e auda­
cioso: “Caminhos da tradição cristã”.
A um primeiro olhar, esses caminhos já apontam para uma 
primeira globalização, que nada tem de uma invasão pela espada 
ou dominação pelo dinheiro. É o reino da inteligência e do amor, 
contando com os guias espirituais que se dão quais mestres pací­
ficos do pensar, orar e bem fazer, surgindo de todos os recantos 
do mundo e marcando as etapas importantes da maior virada 
qualitativa da história. A pregação de Jesus de Nazaré se univer­
saliza, suscitando uma rede de comunidades, que são outras tan­
tas escolas de perfeição. O Evangelho se insere em novas formas
(
de linguagem e de cultura, que, para além do perfil judaico, lhe 
dão novos rostos, fazendo surgir bem unida uma humanidade 
multicor, multirracial e multicultural. É o belo e difícil labor de 
desfazer discriminações entre civilizados e bárbaros, homens e 
mulheres, escravos e livres, tendendo a estabelecer a nova criatu­
ra na verdade de Cristo e de seu Espírito (cf. G13,27).
A unidade já tão plural, inaugurada pelo judaísmo da diás- 
pora, se afirma com mais força e também mais harmonia na 
multiplicidade das comunidades cristãs, pois formam a imensa 
comunidade global da Igreja, que plantou suas tendas por toda a 
extensão do mundo greco-romano.
A novidade deste livro não está apenas em se dar como um 
guia seguro e convidativo, tecendo um desenho preciso e gra­
cioso das alamedas, dos amplos e graciosos jardins da cultura e 
espiritualidadepatrísticas.
Sem dúvida, ele realiza, sim, esta proeza de nos oferecer em 
um mínimo de páginas o máximo de conteúdo histórico e dou­
trinal. O que é sem dúvida de grande utilidade para os leitores e 
sobretudo para os estudiosos da patrologia.
Mas a originalidade e, portanto, o valor da síntese, aqui 
discretamente sugeridos pelos autores, merecem, no entanto, 
especial atenção. Pois, pela disposição mesma das matérias e 
dos textos, pelo realce dado a certas figuras e à marcha da his­
tória, revela-se o propósito de mostrar como a Igreja de Cristo, 
em todos os seus elementos, como presença mística de Cristo, 
como sacramento universal da salvação e como sociedade bem 
organizada, tomou corpo no mundo e na cultura dos primeiros 
séculos. Pode-se assim acompanhar, sob todos os seus aspectos 
e em toda a sua riqueza divina e humana, aquele processo pa- 
cífico, mas por vezes acidentado, que chamamos a inculturação 
do Evangelho.
Dessa forma, o empenho dos autores de nos iniciar no co­
nhecimento da história, das doutrinas, das figuras mais eminentes 
da patrística, não apenas obedece a um belo trabalho pedagógico
e a uma segura disposição cronológica, mas ainda e sobretudo se 
esmera em pôr em relevo como se foi formando e desenvolven­
do a jm e n sa ^ admirável arquitetura da Igreja a partir daquela 
pequenina, fecunda e graciosa comunidade apostólica, unida e 
animada pelo Sopro divino de Pentecostes.
Assim, à medida que vamos percorrendo as páginas deste 
livro, como que desabrocha e cresce aos nossos olhos o encan­
tador jardim de Deus, desdobrando-se no tempo e no espaço. A 
Igreja vai surgindo e mostrando-se semeada, plantada, cultivada 
por esses grandes agricultores da Palavra, da Graça e da comu­
nhão do Amor.
De maneira concreta, a gente vai contemplando e admiran­
do o surgir e a evolução, harmoniosa, porque cuidadosamente 
estimulada e vigiada, das doutrinas, dos costumes, do culto e do 
conjunto das instituições.
No centro, está a liturgia, a expressão primeira da vida da 
Igreja, de suas comunidades e de seus fiéis. Que preciosidade de 
doutrina e de graça não resplandece nos ritos dos sacramentos 
da iniciação cristã, inaugurada e aprimorada nas grandes comu­
nidades patrísticas! No coração da Igreja, qual força primordial 
de seu crescimento, a Eucaristia é celebrada de maneira fiel e 
participativa. O Dia do Senhor refulge como o núcleo transfor­
mador de todo o ciclo litúrgico, que se vai constituindo e am­
pliando pela fecundidade da palavra, dos sacramentos, do martí­
rio e de outros modelos de santidade dos fiéis de Cristo e de seus 
Pastores, guias e mestres de perfeição.
Vamos folheando e vamos vendo, na Didaqué, na Tradição 
Apostólica de Hipólito Romano, na discreta sabedoria de S. 
Justino, na catequese dos grandes bispos como S. Cipriano, 
Santo Irineu, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, S. Leão Magno, 
S. Basílio, S. João Crisóstomo, S. Cirilo de Jerusalém a inspiração 
de uma formação dos “neófitos”, das jovens plantas, enraizadas 
em Cristo, estimuladas a acolher e a cultivar o Dom inefável da 
filiação divina.
(
Um dos aspectos mais visíveis, de importância decisiva e 
duradoura na inculturação do Evangelho realizada na época pa­
trística vem a ser a elaboração e proclamação dos dogmas funda­
mentais da fé cristã. É a obra dos primeiros e grandes concílios, 
reunindo e empenhando a autoridade do conjunto dos bispos 
em comunhão de fé com toda a Igreja.
A revelação divina e a tradição apostólica haviam transmiti­
do a mensagem desta fé em termos concretos, dentro do processo 
da história da salvação e da experiência de vida das comunidades 
e dos fiéis. O que estava em jogo era, portanto, a vida mesma 
da Igreja, consciente de ser a comunidade trinitária. Pois tudo 
anunciava, fazia, abençoava, consagrava, em nome do Pai, do 
Filho e do Espírito Santo, estabelecendo, entre o céu e a terra, a 
comunhão dos santos toda voltada para a Comunhão Trinitária.
Essa forma de pensar, de viver, de conviver com Deus, reco­
nhecido na perfeita unidade e na perfeita comunhão de ser, de 
conhecer, de amar, estava a exigir uma expressão, uma formu­
lação precisa e rigorosa dentro da nova perspectiva da cultura, 
da compreensão e da linguagem greco-romanas. Semelhante exi­
gência da vida interna da própria Igreja foi despertada e urgida 
pelos hereges, que reduziam o mistério divino aos limites de seus 
conceitos racionais, projetando, de maneira desajustada, sobre a 
mensagem bíblica suas representações e noções tomadas à expe­
riência comum ou aos sistemas filosóficos de então.
Por um esforço concertado e difícil, a dogmática, finalmente 
estabelecida e definida pelos primeiros concílios da época patrís­
tica, realizava como que a mais difícil das traduções, pois trans­
punha em conceitos, quase sempre filosóficos e sempre bem ela­
borados, aquela mensagem primitiva da revelação que nos foi 
dada na linguagem comum, concreta e histórica do povo bíblico. 
Era um trabalho exemplar de hermenêutica da Palavra divina, 
que continuava e era sempre exaltada em sua expressão primeira 
e fundadora que são as Sagradas Escrituras. E a maravilhosa li­
ção da fidelidade lúcida e dinâmica, de sabedoria acolhedora da
Palavra divina em todas as formas de linguagem humana através 
dos tempos.
No decorrer da história e nos dias de hoje, toda reforma da 
Igreja começa por ser um reviver da palavra e da graça de Deus, 
reencontrada nessa primavera do Espírito que são as comunida­
des e as figuras dos Santos Padres, os Pais por excelência, educa­
dores de nossa fé. A partir do Evangelho, a evolução da liturgia é 
acompanhada e envolvida pelo desenvolvimento das doutrinas, 
dos ministérios, da hierarquia. A Igreja há de voltar sempre a esta 
sua primeira juventude. Já um escrito como o Pastor de Hermas 
advertia sobre o perigo do “envelhecimento” da Igreja.
É verdade que alguns pontos importantes e mesmo essen­
ciais são desafios que se estendem pelos séculos. Foram enfren­
tados com lucidez, coragem e bastante discernimento. Mas não 
puderam ser levados a bom termo na época patrística.
Que se pense no intrincado problema do poder.
Como encontrar, como inventar ou criar formas adequadas 
de poder político para os “reis cristãos”, que antes estavam afeitos 
ao modelo do poder absoluto, e mesmo divinizado dos impera­
dores pagãos? E - questão mais delicada - como constituir mo­
delos eficazes para a autoridade apostólica que Cristo confiou à 
sua Igreja, cuja hierarquia, mais do que um poder sagrado, fosse 
deveras um serviço evangélico, uma consagração efetiva e total ao 
bem espiritual da comunidade? Não era Ejüiméricõlo risco de res- 
valar em um estilo de poder absoluto, excessivamente centraliza­
do, à maneira dos poderes profanos herdados do mundo pagão.
Esses e outros problemas similares foram transmitidos da 
era patrística às etapas ulteriores da vida da Igreja. Mas a inspi­
ração, o rumo certo, indicado ou pelo menos buscado, lá estão 
na vida, nos escritos, nas lutas dos Padres da Igreja, fiéis muitas 
vezes até o martírio. E preciso retomar, ter o sentido da histó­
ria, empenhar-se em prolongá-lo e por vezes redirecionar-lhe as 
opções e orientações assumidas em contextos de conflitos ou de 
concessões menos ajustadas.
O Concílio Vaticano II inaugurou uma época de fidelida­
de mais decidida e mais esclarecida à tradição em sua expressão 
patrística. Apontou à Igreja atual os caminhos da colegialidade, 
do diálogo, da partilha e da comunhão da graça do Espírito, bem 
como da valorização dos carismas e dos ministérios, na diversi­
dade dos serviços e das vocações. Lembrou, sobretudo, o grande 
tema da pregação patrística, que jamais se contentou em impor 
uma simples moral, mas propôs e enalteceu: “a vocação universal 
dos fiéis de Cristo à santidade”, para a plena realização da Igreja 
e felicidade de toda a humanidade.
São estes os “caminhos da tradição cristã” de que este livro 
em boa hora quer ser o manual, leve e simples, mas rico e seguro 
em informações, estimulandoa aprofundar a reflexão e a pes­
quisa, e, por que não, promover a contemplação, na convivência 
com os Santos Padres da Igreja.
Frei Carlos Josaphat, OP
In t r o d u ç ã o
P o r t a l d a g r a n d e t r a d iç ã o c r is t ã
Com o advento de Jesus Cristo, Deus encarnado e Redentor da 
Humanidade, os povos inauguram novos tempos. Com sua volta 
ao Pai, envia o Espírito Santo, luz para iluminar as nações. É um 
novo projeto de vida para a humanidade, onde Deus busca o ser 
humano e se insere em sua história, para transformar seus cami­
nhos e, igualmente, seu destino.
A revelação de Jesus Cristo, sua vida, seus ensinamentos e 
suas ações cotidianas nos é transmitida num primeiro momento. 
Seguem-se textos escritos por seus primeiros seguidores, que por 
sua vez inserem suas próprias experiências e o crescimento das 
comunidades onde atuam.
Depois de décadas de elaboração, do conteúdo revelado, e 
mesmo antes de chegar ao termo desse tempo, grandes santos, 
teólogos e pastores edificam a comunidade, escrevem hinos, re­
fletem os ensinamentos da mensagem cristã para novos povos.
Vamos conhecer estes grandes protagonistas da Igreja 
Antiga, para entendermos o texto e o contexto da tradição cristã. 
Os séculos foram fecundos. A fecundidade da mensagem cristã 
se inseriu em novas culturas e novos povos, permitindo a conti­
nuidade do anúncio da mensagem evangélica, com grande fideli­
dade e, ao mesmo tempo, inserindo-se nas comunidades.
Tocaremos os vários séculos de edificação dos ritos e da vida 
sacramental da Igreja, bem como os seus sujeitos, que viveram e 
apontaram caminhos da fé e da tradição que servirão de modelo 
para as gerações futuras. Naturalmente, os escritos são mais cur­
tos e simples nas primeiras décadas e tornam-se mais complexos 
e abundantes nos séculos seguintes. Por esta razão, os primeiros 
autores são analisados de forma mais profunda, pois dão as bases 
fundamentais dos grandes tratados que se seguem.
Em circunstâncias bem divergentes, como o período de 
perseguição e cristandade, os Padres da Igreja elaboraram um 
vastíssimo e precioso corpo doutrinal de nossa fé cristã que vai 
perdurar pelos séculos. Entre concílios, disputas, experiências, 
aprenderemos o que significa ser cristão na mente, no coração e 
na vida. Os Padres da Igreja e seus escritos inspirados e profun­
dos tecem o alicerce de nossa tradição que, desde sempre até os 
nossos dias, fundamentam a vida cristã em sua mística, sua or­
ganização eclesial, seus ritos litúrgicos e sacramentais e o modo 
de se inserir na realidade histórica.
Como a Patrística é o alicerce de toda a vida da Igreja e luz 
para as sínteses futuras da fé, acreditamos que o conhecimento 
profundo deste período da Igreja é fundamental para compreen­
der melhor todos os demais períodos da vida da Igreja.
Os autores
Antônio S. Bogaz - Mareio A. Couto - João H. Hansen
I - In t r o d u ç ã o 
a o P e r ío d o Patr ístic o
I - P a trística C r istã : T e x t o e c o n t e x t o
Estamos para entrar num oceano profundo da vida cristã. Depois 
do testemunho dos apóstolos e seguidores mais próximos de 
Jesus Cristo, a comunidade cristã inicia sua caminhada de fé.
Os discípulos seguem as pegadas do Mestre de Nazaré. 
Formam comunidades entre os judeus convertidos da Palestina. 
Seguem depois para os espaços judaizantes da diáspora, que são 
as comunidades judaicas na bacia do mar Mediterrâneo. Vão ain­
da mais longe, traçando itinerários que atingiam o continente eu­
ropeu e asiático. Esta exortação de Paulo, o missionário dos gen­
tios, foi assumida com seriedade pelos missionários e seguidores 
do Nazareno. Este período de expansão encontra seus registros 
nos textos bíblicos do Novo Testamento. Entre as narrativas dos 
fatos, as crônicas dos apóstolos e das comunidades, as explicações 
teológicas, as transcrições das experiências e as exortações para a 
vida cotidiana, desvelamos a vida, o pensamento, as obras e a fé 
dos primeiros fiéis, denominados, muito cedo, cristãos.
Nas pegadas dos apóstolos, vieram seus seguidores. Ao iniciar, 
esboçamos os caminhos da tradição cristão que, por séculos, vão 
delineando os fundamentos teóricos e práticos do cristianismo 
nascente. Falamos de uma comunidade de fé que segue a revelação 
de Jesus Cristo, a partir de sua pregação e suas proposições para 
nos unificar ao Pai e unir os povos como comunidade universal.
í
Neste período, a comunidade dá seus primeiros passos, edi­
fica seus rituais, organiza sua vida eclesial, define suas verdades 
doutrinais e descobre seu caminho ético de santificação.
Quem peregrinar neste itinerário da Igreja, certamente co­
lherá testemunhos fundamentais e descobrirá a genuína grande­
za de seguir o Mestre Jesus, que revela o Pai.
Abordaremos os primeiros momentos deste período, seus 
principais conceitos e títulos, seus períodos históricos e a sua for­
mação. Este é o período do desbravamento, das trilhas do cristia­
nismo, tendo como instrumento a revelação de Jesus Cristo e o 
testemunho de seus primeiros seguidores.
1 - M is s ã o d o s P a d r e s a n t ig o s d a Ig r e j a
As tradições anteriores e os contextos dos novos seguidores do 
Nazareno são básicos na Patrística, mas os caminhos da fé cris­
tã estão para ser traçados. A fidelidade aos princípios cristãos 
está no coração dos fiéis, mas tudo está para ser elaborado. A 
comunidade deve encontrar meios rituais para celebrar seus sa­
cramentos e suas festas. Deve encontrar conceitos e expressões 
para codificar seus dogmas. Os líderes espirituais e os fiéis devem 
traçar os seus valores e determinar as normas de seu agir. Mesmo
o governo, os líderes e os ministérios devem ser definidos e or­
denados para o sustento, o crescimento e a expansão dos con­
vertidos. Todos estes bens devem ser coerentes com a proposta 
original da pregação apostólica, bem como adequada aos novos 
tempos, lugares e culturas por onde a mão da Providência vai 
semeando a fé cristã.
2 - O s s é c u lo s p a t r ís t ic o s
Nossa primeira preocupação é delimitarmos o período patrísti- 
co, que se insere numa definição mais global da vida e da história 
da tradição eclesial. Se considerarmos os vários períodos da ca­
minhada do povo de Deus, podemos colocar a teologia patrística 
como o primeiro destes períodos.
O início da Patrística não é definido como um marco cro­
nológico, mas como um período de passagem. Se considerarmos 
que os textos bíblicos estão inscritos no período da segunda me­
tade do Século I, consideramos que nesta passagem inicia-se o 
período dos “Padres e Mães da Igreja primitiva”. Esta passagem 
está no final do primeiro século da era cristã. Podemos apresen­
tar a Instrução “Didaqué” como o marco inicial deste período, 
datada, aproximadamente, do ano 90. Consideramos ainda que 
temos textos bíblicos canônicos posteriores a esta data. Isso nos 
faz pensar que, além do tempo histórico, outros elementos ca­
racterizam estes escritos que estudamos.
Para delimitar a finalização deste período, consideramos 
duas áreas - geográficas, culturais e eclesiásticas - da Igreja na­
queles séculos: Oriente e Ocidente cristãos.
Os estudiosos definem o fechamento deste período, no Oci­
dente, com Gregório Magno (ou Isidoro de Sevilha), no século 
VII, e, no Oriente, com João Damasceno, no século VIII.
P e r ío d o s d a h is tó r ia d a Ig r eja
Por razões acadêmicas e didáticas, os historiadores e teólogos sepa­
ram a História da Igreja nestes períodos:
1- ANTIGUIDADE - do tempo dos Apóstolos até a Invasão dos 
Bárbaros (séc. VI), com uma subdivisão (perseguição e martí­
rio até 313, com o Edito de Milão, e início da cristandade).
2- MEDIEVAL - da invasão dos bárbaros (séc. VI) até o Concílio 
de Trento (séc. XVI), com uma subdivisão entre alta e baixa 
escolástica, levando em conta a evolução teológica ou cisma do 
Oriente/Ocidente, considerando os fatores históricos.
3- MODERNO - desde o Concílio de Trento até a Revolução 
Francesa (séc. XVIII), que é o períodoque abrange o Renas­
cimento Cultural e a Filosofia Moderna.
4- CONTEMPORÂNEO - desde a Revolução Francesa até o Con­
cílio Vaticano II (1962-1965), com algumas subdivisões como
o Iluminismo, a Restauração, o Modernismo e o Movimento 
Litúrgico.
5- PÓS-CONTEMPORÂNEO - considerando as últimas déca­
das da vida eclesial, sobretudo as Conferências Episcopais, o 
Ecumenismo e o Diálogo Religioso e a nova Inculturação do 
Cristianismo.
3 - C o n c e it o s f u n d a m e n t a is
Patrística é o conjunto de escritos primitivos da era cristã, regis­
trando suas experiências, seus ensinamentos, seus rituais e a vida 
eclesial. Esta denominação é cunhada por João Gerhard, teólogo 
luterano, em 1653. Esta denominação quer distinguir os escritos 
do período da Antiguidade cristã. Seus escritores são intitulados 
Padres da Igreja.
Assim, temos a Patrística para distinguir outros modelos de 
teologia como: bíblica, canônica, moral ou pastoral, embora a 
teologia patrística incorra em todas estas áreas dos estudos ecle­
siásticos.
“Patrologia” designa o estudo deste período, sua evolução 
histórica, seus protagonistas e, sobretudo, seu conteúdo litúrgi­
co, místico e teológico vivenciados na sequência dos textos da 
Sagrada Escritura.
4 - Id e n t id a d e d o s P a d r e s d a Ig r e j a
Os Padres da Igreja são teólogos e místicos da Igreja nos seus 
primeiros séculos. Muitos eram epíscopos, presbíteros, diáconos, 
outros eram leigos. Entre eles temos muitos monges e mártires. 
São considerados cristãos de grande santidade.
Os Padres sentiram necessidade de aprofundar, refletir, re­
gistrar e intercomunicar os ensinamentos e os rituais das comu­
nidades cristãs. Outra função importante era o testemunho cris­
tão diante de autoridades e mesmo o confronto e o combate dos 
heréticos e dos adversários das comunidades cristãs.
Consideramos São Jerônimo como autor do primeiro estu­
do histórico deste grupo de teólogos, embora a distinção entre 
heréticos e ortodoxos seja posterior a ele, uma vez que esta dis­
tinção é atribuída ao autor dos escritos, após a consagração ou 
condenação de suas afirmações.
A variedade e a criatividade eram louváveis na composição 
dos textos, orações e fórmulas rituais, mas era inaceitável a con­
tradição entre elas, devido ao espírito lógico do pensamento gre­
go que permeava o espírito dos Padres da Igreja.
5 - C a r a c t e r iz a ç ã o d o s Pa d r e s
Os Padres da Igreja se integram em quatro condições funda­
mentais:
1 - DOUTRINA ORTODOXA
Os textos devem ser considerados verdadeira doutrina, isen­
tos de heresia e de desvios da doutrina cristã. Aceitam-se inexati­
dões na doutrina, uma vez que ainda não tinham sido definidos 
seus termos e seu conteúdo definitivos.
2 - SANTIDADE DE VIDA
Os Padres da Igreja são exemplos de vida, sejam leigos pro­
fissionais, presbíteros ou pastores, monges ou monjas, contem­
plativos ou ativos. Nãoestão isentos de pecado, mas devem ser 
considerados verdadeiros santos de conduta exemplar, seja na 
virtude, na penitência e na obediência à Igreja.
3 - ANTIGUIDADE NA HISTÓRIA DA IGREJA
A Igreja tem teólogos, místicos e escritores de textos dou­
trinais e litúrgicos ao longo dos séculos, mas os Padres da Igreja 
estão inseridos no período da Patrística. Padres e Mães da Igreja 
são os escritores da doutrina, de orações, de hinos e de ensina­
mentos cristãos que se inscrevem neste período histórico do cris­
tianismo.
4 - APROVAÇÃO DA IGREJA
O título é aplicado aos escritores como se fosse um título 
honorífico da Igreja. Como os títulos de “canonização” nos pri- 
meiros séculos, a Igreja elabora, por assim dizer, o “cânon” dos 
Padres e Mães da Igreja. Considerando sua santidade, sua or­
todoxia e seu período histórico, seus nomes são inscritos como 
“Padres da Igreja” primitiva.
5 - COLEGIALIDADE E DIÁLOGO
Os Padres estão em comunhão e a serviço das comunidades 
e dos fiéis. Alguns têm abrangência limitada à sua cidade, seu 
mosteiro ou diocese, mas alguns atravessam fronteiras, com in­
fluência, diríamos, universais no seu tempo. Há entre eles comu­
nhão, integração e complementaridade do patrimônio doutrinal 
da Igreja.
6 - D iv is ã o d o p e r ío d o p a t r ís t ic o
Para a divisão do período patrístico, devem-se considerar alguns 
elementos históricos e os próprios conteúdos. São divisões didá­
ticas, elaboradas posteriormente em vista de estudos e compara­
ções. Os períodos são denominados épocas.
Ia Época: DAS ORIGENS
Consideram-se os escritos que vão da passagem da Revelação 
à Tradição, terminando com o Concílio de Niceia (325). São tex­
tos com grande originalidade que trazem assistematicamente os 
ensinamentos da tradição.
2a Época: DE OURO
É o período mais fecundo e denso da tradição patrística. 
Compreende o período desde o Concílio de Niceia até o Concílio 
de Calcedônia (451). Neste período, as discussões tocam os trata­
dos e temas nucleares da tradição. Seu conteúdo, como o símbo­
lo apostólico, organização eclesiástica, rituais e dogmas canôni­
cos são elaborados e aprovados pelos pastores da Igreja, e, muito 
especialmente, pelos Concílios Ecumênicos.
3a Época - DO DECLÍNIO
Engloba o período entre o Concílio de Calcedônia e o final 
da Patrística, com Isidoro de Sevilha (636) ou Gregório Magno 
(604), no Ocidente, e João Damasceno (730), no Oriente. Este 
período trata de questões secundárias da tradição, corno a dis­
puta iconoclasta e questões políticas, entre a sociedade civil e a 
comunidade eclesiástica.
A lIn g u a d o s escritos
Vivemos num período de grande esfacelamento étnico, onde os 
grupos humanos se comportam como tribos, com histórias, costu­
mes, culturas e línguas próprias. Com a conversão ao cristianismo, 
pela pregação dos apóstolos ou missionários, tornam-se cristãos. 
Não havendo imposição de uma língua ou cultura, pois os ritos, 
doutrinas e ensinamentos cristãos transcendem todas as culturas. 
São escritos nas línguas autóctones. Destacam-se, sobretudo, o gre­
go e o latim, mas encontramos obras em siríaco, copta e aramaico, 
armênio etc.
F o n t e s d o s escritos patrIstico s
Trataremos como fontes dos escritos patrísticos algumas coleções 
importantes, onde existe uma compilação considerável de obras 
para pesquisa.
1 - Migne: Trata-se de uma coleção valiosa, que traz dois grandes
grupos: a Patrologia Latina (PL ou ML: Migne Latim) com 211 
volumes, e a Patrologia Grega (PG ou MG: Migne Greco), com 
textos em duas colunas. É a maior e mais preciosa fonte dos 
textos originais.
2 - CSEL: uma obra de coletânea de escritos: Corpus Scriptorum
Ecclesiasticorum Latinorum.
(
3 - Sources Chrétiénnes: Esta é uma preciosa edição dos textos,
com tradução em francês. Apresentações dos textos e estudos 
críticos. Esta coleção está em fase de elaboração e ainda tem 
muitas obras a serem publicadas.
4 - Fontes da Catequese: Coleção de textos, pela editora Vozes, com
algumas obras, apresentando sempre uma apresentação críti­
ca dos textos. São apenas os textos mais antigos e simples da 
Patrística.
5 - Patrística: É uma coleção em fase de edição, muito importante
para a pesquisa dos textos na sua íntegra pela editora Paulus. 
Cada volume apresenta breves introduções e histórico dos tex­
tos e dos seus autores.
7 - C a r a c t e r ís t ic a s d a p a t r ís t ic a
A fé cristã parte de uma narrativa histórica, mas não se resume 
a um fato histórico ou ideologia, como conjunto de ideias e de 
proposições existenciais. Embora encerre uma verdade espiri­
tual, é um dom de Deus que nos é entregue e espera uma opção 
pessoal. Embora se expresse também por conceitos, o cristianis­
mo significa uma aliança entre Deus e o ser humano, mediada 
por Jesus Cristo.
A literatura cristã tem valor oficial, mas não tem o mesmo 
nível das Sagradas Escrituras. A literatura cristã é de responsabi­
lidade eclesiástica e usa categorias da cultura greco-romana. Há a 
inserção nas línguas e nas mentalidades dos povos cristianizados. 
Os escritos assimilam as línguase as culturas onde a fé se encarna. 
Eles são eminentemente cristãos e dão testemunho da conversão 
dos fiéis e expõem as verdades fundamentais dos ensinamentos 
cristãos. A literatura patrística é oficial por sua ortodoxia e proxi­
midade das fontes. Tem por função clarificar os dogmas cristãos, 
particularmente relacionados com a Trindade e a Cristologia, 
mas também com as outras áreas da doutrina cristã.
Os Padres partiram do discurso greco-romano e da filosofia 
social, da antropologia, da linguística e das teorias humanistas
de seu tempo. Apesar de toda a riqueza de conteúdo, os Padres 
não fizeram uma teologia sistemática nem mesmo uma exposi­
ção metódica e racionalista da doutrina. Foram apresentando^s 
verdades da fé e os ensinamentos da tradição, na medida em que 
urgiam explanação e definição diante das comunidades.
A base da reflexão da fé dos Padres é a palavra de Deus; 
como ela se insere na vida e na história. Todos os seus esforços 
eram dirigidos para a formação dos catecúmenos.
8 - T e o l o g ia b íb l ic a n o s Pa d r e s
Os Padres elaboram uma teologia bíblica e, por meio dos exem­
plos dos místicos, dos santos e dos mártires, os Padres entendem 
a revelação bíblica. Há um grande esforço para que a teologia bí­
blica seja a expressão da Revelação, e a Tradição se torne a atua­
lização e a concretização da mensagem evangélica na vida das 
comunidades.
Um dos temas agradáveis aos Padres é a Criação, suas ori­
gens e a ação do Criador na história da Igreja e do mundo. Com 
base na filosofia grega, no direito romano e na filologia clássi­
ca, os Padres elaboram os principais tratados que sustentam a 
fé cristã.
Os escritores da Patrística entendem que a fé é a síntese da 
conversão ao Deus vivo, revelado em Jesus Cristo. A fé exige con­
fiança e fidelidade, mas também caridade. A caridade é a inter­
secção entre fé e vida, pois se unificam na história pessoal dos 
fiéis.
9 - S o c ie d a d e n a Ig r e j a a n t ig a
Apesar de não terem tratados sistemáticos de doutrina social e 
política, os Padres têm um discurso social que eleva a caridade e 
a justiça. A força destes valores está na misericórdia e na partilha. 
A fé é a sustentação de toda a vida moral. Criticando duramente
os poderes dominadores, todas as suas obras realizadas são con­
cretas, em favor dos irmãos pobres e infelizes.
Dos ensinamentos doutrinários, emerge a moral cristã, que 
se certifica da presença de Deus na comunidade dos fiéis e na 
forma de viver profundamente a mensagem bíblica.
Vejamos algumas características do período patrístico para 
enquadrar seus ensinamentos.
1 - Uma sociedade complexa: Na Palestina, encontramos 
muitos grupos sociais e religiosos entre os judeus. Os povos são 
dominados pelo Império Romano, onde houve grande persegui­
ção aos cristãos e a outras confissões religiosas. Mais tarde, há a 
tolerância e a oficialização do cristianismo.
2 - Ascensão e queda: O Império Romano, durante o cristia­
nismo, conhece seu apogeu e seu declínio. Em meio às estruturas 
imperiais, no tempo da cristandade, o cristianismo se expande; 
com a queda do Império, os povos bárbaros se cristianizam e a 
Igreja cristã continua sua expansão.
3 - Moral e costumes: Do ponto de vista moral, a sociedade 
tem graves problemas, como o escravagismo, a libertinagem dos 
costumes e uma diversificação de classes sociais e de grupos de 
poder. Havia grande luxo entre as castas políticas e dominadoras. 
Havia necessidade de invadir novos povos, para conquistar es­
cravos e servos, para sustentar a riqueza e o poder romano, com 
seus exércitos.
4 - Religiosidade e religiões: A religião era livre, mas havia 
perseguição às religiões instituídas. Nota-se grande politeísmo e 
religiões mistéricas. Na primeira fase, os imperadores notaram 
que o cristianismo era nocivo ao seu domínio e depois viram em 
suas estruturas meios de homogeneização do poder.
5 - Unidade e conflito entre Oriente e Ocidente: Apesar de 
unificado e centralizado em Roma, cada vez mais os Impérios do 
Oriente e do Ocidente vão se distanciando. Tanto é assim que, 
na queda do Império Romano do Ocidente, a sede oriental, em 
Constantinopla, segue por mais quase mil anos.
6 - Ciências e pensamento na Igreja Antiga: Da influência 
grega, conhecemos a formulação do pensamento ocidental. Da 
influência romana, colhemos a formulação do direito e da orga­
nização dos Estados modernos. Sem dúvida a organização ecle­
siástica advém destas estruturas temporais.
1 0 - Im p o r t â n c ia d a P a t r ís t ic a
Destacamos alguns pontos sobre as razões da Patrística:
1 - Compondo uma parte da História da Igreja, a primeira 
fase nos insere no pensamento cristão, como se partilhássemos a 
experiência dos primeiros seguidores do Nazareno.
2 - Os escritos patrísticos são importantes na literatura gre- 
co-romana e ocupam espaço privilegiado na literatura cristã e 
universal.
3 - Os Padres da Igreja respondem às questões referentes à fé 
cristã, mas tocam e respondem a questões referentes à condição 
humana, tanto temporal quanto transcendental.
4 - Eleva-se a capacidade e a liberdade dos Padres da Igreja 
de atualizar, encarnar e inculturar a fé cristã.
5 - A proximidade das fontes e a liberdade nas discussões 
permitem o aprofundamento dos temas doutrinais.
6 - Como todos os Padres e as escolas teológicas têm liberdade 
de reflexão, os temas atingem grande profundidade nas discussões.
7 - Nos tempos do martírio, os testemunhos são fundamentais 
para definir a santidade cristã. É um tempo kairológico muito forte.
8 - Apesar das discussões filológicas e filosóficas, os Padres 
têm grande sentido pragmático e procuram definir normas mo­
rais, ritos litúrgicos e sacramentais.
9 - Os escritos patrísticos têm valor existencial, permitindo 
aprofundamento do evento salvífico naquele tempo e em nossos 
dias.
10 - A teologia bíblica e a sistemática se aproximam da vida, 
ao mesmo tempo que garantem a unanimidade da fé, sem des-
t
respeitar a pluralidade cultural dos povos. A ortodoxia se realiza 
como ortopráxis.
A teologia patrística é um modelo para a metodologia teoló­
gica e bíblica de todos os séculos.
11 - P o s s ib il id a d e s e l im it e s d a P a t r ís t ic a
O período patrístico tem grande densidade teológica e eclesial.
Este longo processo é perpassado por algumas limitações. 
Destacamos:
1 - Os Padres são inseridos numa época específica, com cul­
turas e meios limitados. Embora a cultura greco-romana tenha 
perpassado a história, seus métodos não são imperecíveis, exi­
gindo reformulações nos conceitos e nas metodologias.
2 - Alguns temas são muito bem aprofundados, outros 
foram encerrados sem maiores incursões filosóficas e teoló­
gicas.
3 - Como os conceitos básicos da fé estão em fase de defini­
ção ou são trazidos da tradição filosófica grega, há imprecisão na 
linguagem e indefinição de alguns termos.
4 - Os Padres vivem limitados por seus contextos, produzin­
do uma teologia condicionada a estas realidades onde vivem e 
atuam pastoralmente.
5 - A filosofia dos Padres é eclética, tocando muitas verten­
tes das culturas do Oriente Médio. No entanto, por influência 
acadêmica, valorizam o platonismo e o neoplatonismo. Por esta 
incursão filosófica, favorecem o maniqueísmo e o dualismo.
6 - Pela influência do pensamento grego, a cosmovisão dos 
Padres é primordialmente antropológica. Esta visão “insere” a 
vida cristã - conversão e vivência - na pessoa, seus sentimentos, 
seu espírito e sua vida pessoal.
7 - As verdades da fé tocam o espírito humano, centralizan­
do sua extensão à pessoa, o que limitou a percepção das implica­
ções sociais, cosmológicas e ideológicas da revelação.
8 - A epistemologia teológica é indefinida. Os Padres não 
elaboram tratados, apenas desenvolvem temas conforme as cir­
cunstâncias e exigências das comunidades e das próprias escolas 
teológicas.
1 2 - C o n h e c e r o u n iv e r s o d a Pa t r ís t ic a
Para fazer um estudo valioso da Patrologia, épreciso aprofundar 
a cultura bíblica e os conceitos filosóficos, bem como conhecer 
a evolução histórica do cristianismo. Percebemos a passagem, 
com vantagens e desvantagens de uma Igreja carismática a uma 
Igreja institucional, bem como a passagem dos tempos de martí­
rio para a cristandade. A Igreja vai evoluindo da ministerialidade 
laical para a hierarquização dos ministérios.
Com a Patrologia, denotamos o significado dos mistérios 
cristãos, relacionados com a vida, no modelo mais genuíno de 
ser cristão. A teologia é instrumento de compreensão e anúncio 
da mensagem de Jesus Cristo, sendo expressão teórica da revela­
ção como autocomunicação do amor divino em Jesus Cristo.
A grande missão da Patrística é a elaboração do patrimônio 
cristão, a partir das fontes bíblicas. Para constituir uma comu­
nidade eclesial de fé, devem edificar a doutrina, a eclesiologia, a 
ética e a vida litúrgica dos seguidores de Jesus de Nazaré.
Representam um tempo forte da fé cristã, com ensinamen­
tos práticos para viver e celebrar a fé, aproximando os dogmas da 
práxis cristã, sendo um modelo para comunidades atuais.
II - Pa s sa g e m d o u n iv er so bíb l ic o
À TRADIÇÃO CRISTÃ
Os primeiros seguidores do Nazareno anunciaram o querig- 
ma e iniciaram novas comunidades, para viver o projeto de seu 
Senhor.
Jesus deixou uma comunidade de eleitos para perpetuar 
suas palavras e seus exemplos.
Seus escritores, como jornalistas, assumiram a missão de re­
gistrar os fatos e propagar os acontecimentos. Tinham ainda o 
objetivo de proteger os acontecimentos e seus ensinamentos.
Pedro, entre os apóstolos, escolhido para a primazia, tem 
uma visão mais “ad intra” . Esforça-se muito para que a comuni­
dade judaica assuma o novo Messias e renove a vida. Paulo, por 
sua vez, lança suas redes entre os gentios e os pagãos. É conside­
rado o pai da Patrística.
1 - fW j l o , in s p ir a d o r d o s s a n t o s P a d r e s
Para entender^òrigens das Igrejas dos gentios, é imprescindí­
vel conhecer a figura e o itinerário de Paulo, que transpassou as 
fronteiras do judaísmo.
Com a mesma personalidade e voracidade com que perse­
guia os cristãos, tornar-se-á pregador e batalhador dos cristãos.
(
Não teve medo de assumir o Cristo como Messias e autor da 
salvação. E esta proposta se dirige a todos os povos (At 9,1-30). 
Por esta razão prega até os confins da terra, registrando várias 
viagens e tantas comunidades.
Paulo sente-se chamado por Jesus Cristo, pessoalmente. 
Tanto é convicto desta postura que se auto-intitula “apóstolo”, 
como os 12 apóstolos chamados diretamente por Cristo (ICor 
1,1). Considera-se um “obreiro do Evangelho” e por sua con­
vicção de pregador se considera “apóstolo de todas as gentes”. 
Fortalecendo-se na adesão ao querigma, faz das verdades sobre 
Cristo o alicerce de suas pregações (At 2,22).
Paulo é um aprendiz dos apóstolos, dos quais recebeu a he­
rança da mensagem dos Evangelhos. No entanto, partindo dos 
eventos da vida de Cristo, interpreta sua mensagem para os no­
vos convertidos.
Depois de partir das comunidades que fundara, escreve-lhes 
epístolas, que se tornaram o patrimônio mais precioso da teo­
logia cristã. Suas pregações e seus escritos nos fazem perceber 
que Paulo argumenta com a lógica dos mestres de Israel e, como 
exegeta, ultrapassa a herança tradicional judaica e se insere no 
universo religioso dos pagãos. Mesmo sendo um pregador com 
grande especulação filosófica e teológica, demonstra a verdadei­
ra mística dos cristãos: viver o ideal de Jesus Cristo.
Seus escritos são circunstanciais, conforme as necessidades 
das comunidades e as situações concretas. Nota-se, por suas pro­
posições e conceitos, que seus escritos têm formação na filosofia 
grega e nas religiões dos mistérios, que são dois elementos co­
muns na cultura de seu tempo.
As explanações de sua mensagem transcendem os eventos 
conhecidos através dos apóstolos. Ele procura encontrar e de­
finir o significado destes fatos, apresentando sua compreensão 
da pessoa de Jesus Cristo, bem como de todos os seus gestos, 
palavras e atitudes. Paulo transpõe, geográfica, cultural e religio­
samente, as fronteiras do judaísmo.
A soma destas duas habilidades de Paulo: a interpretação 
teológica do evento Jesus Cristo e a extrapolação das fronteiras 
da tradição hebraica merecem-lhe o título de “pai da Patrística”.
2 - A m b ie n t e c u l t u r a l e r e l ig io s o
O cristianismo inicia sua epopeia circunscrito ao Império 
Romano, às bordas do mar Mediterrâneo. A força imperial é tão 
prepotente que se impõe como religião de Estado. Mesmo assim, 
os povos conquistados na política de expansão do poder intro­
duzem os mais diversificados cultos e divindades, desde a África 
até os países nórdicos, atravessando os povos europeus.
Por outro lado, o cristianismo se insere na cultura grega, 
exercendo grande influência no pensamento dos cristãos.
As comunidades eram dirigidas pelos presbíteros ou conse­
lho de anciãos, semelhantes à tradição judaica; com o passar dos 
tempos, elas organizam seus ministérios.
Consideramos, nesta perspectiva, que o cristianismo é uma 
revelação divina, que se insere no contexto religioso e social do 
judaísmo, integrando o pensamento filosófico grego e queimais 
tardiamente, assume as estruturas jurídicas do governo impe­
rial, assumindo seus títulos, seus ritos e sua organização institu­
cional.
O Im pér io Ro m a n o n o c r is tia n is m o
Caracterizamos como Império Romano o Estado constituído nos 
séculos posteriores ao primeiro imperador César Augusto. Antes 
desse período, as colônias e províncias constituíam a República 
Romana. Quando era um Estado republicano, havia maior partici­
pação dos cidadãos. Com a formação imperial, o governo inspira- 
se numa “descendência divina” e normalmente governa em caráter 
vitalício ou perde o poder em golpes militares ou assassinato. É 
considerado um dos impérios mais longos e poderosos de toda a 
história da humanidade e que deixou importantes legados arqui-
l
tetônicos. A língua oficial é o latim e Roma é capital permanente. 
Sua população chegou a 1.200.000 habitantes, no século II. Tendo 
se iniciado como monarquia, mais tarde se torna república e final­
mente assume as características governamentais de império. Seu 
chefe de Estado é um Imperador, com plenos poderes; um cônsul é 
chefe de governo e tem um corpo legislativo, que é o senado roma­
no. Sua área atingiu 5.900.000 km2 e sua população variou entre 55 
e 120 milhões de habitantes.
3 - G ê n e s e d a s p o l ê m ic a s d o u t r in a is
Quando atravessamos o período patrístico, deparamos com vá­
rios grupos religiosos ou adeptos de algumas doutrinas, as quais 
foram caracterizadas como heresias, após longas discussões e 
concílios.
No século I, grandes tensões levaram à formação de núcleos 
de cristãos, adeptos de “seitas”. Desde os tempos dos Apóstolos e 
da formação das comunidades primitivas, esses grupos despon­
tam e se propagam. Ao escrever aos cristãos da Galácia, Paulo 
acusa certos pregadores que anunciam um falso evangelho (G1 
1,6). Ele se refere a pregadores que se desviam das pregações her­
dadas e propagadas pelos apóstolos e de seus primeiros sucesso­
res. Paulo não os classifica como “hereges”, mas pede que os fiéis 
se afastem deles (2Cor 11,1-4).
Paulo elogia as comunidades, mas alerta os fiéis contra os 
falsos mestres. Na Igreja de Éfeso (Ap 2,2.6) despontam os “ni- 
colaítas”, que são libertinos e permissivos. Na Igreja de Pérgamo 
(Ap 2,15) alguns seguem a doutrina dos “nicolaítas” e outros se­
guem a “doutrina de Balaão”. Nota-se que os dois grupos têm 
grande afinidade, se entregam a práticas pagãs e participam de 
cultos sacrificais pagãos. Na Igreja de Tiatira, por sua vez, nota-se 
a influência de uma falsa doutrina, liderada por Jezabel, a “men­
sageira de Deus”. Acredita-se que estas doutrinas formaram a 
base filosófica e teólogica do gnosticismo.
4 - F a l s a s e x p e r iê n c ia s g n ó st ic a s
No testemunho de outros livros das cartas paulinas e apostólicas, 
encontramos estas falsas doutrinas que desembocam no gnosti- 
cismo. Notam-se estas tendências nas cartas apostólicas.
Nas cartas de João, seu autor mostra que Jesus é o único 
Filho de Deus e, como seus herdeiros, conquistamos a vida eter­
na ( l jo 5,13).
João, nas suas cartas, acusa aqueles que se acreditavam no 
gozo pleno da luz, como se fossem diferentes dos cristãos das co­
munidades apostólicas ( l jo 1,5-10). Igualmente, Paulo denuncia 
estes fiéis que se julgavam superiores, pois afirmavam fazer expe­
riências místicas, como se fossem ressuscitado^ (1 Cor4^7-8J?)
5 - G ê n e s e d o d o c e t is m o e o u t r a s d o u t r in a s
A humanidade de Jesus Cristo é um mistério da fé cristã, como 
a sua divindade. Nas cartas de João ( l jo 2,22-23; 4,1-3), encon­
tramos traços do docetismo, que se imporá como uma heresia 
nos séculos posteriores. Os “falsos profetas” negam a messia- 
nidade de Jesus, bem como sua filiação divina. Eles professam 
que Jesus não é verdadeiro ser humano. Esta teoria possibilitava 
aos fiéis viver experiências místicas mais excitantes. Os docetis- 
tas afirmam que Jesus tem aparência de Messias ou de Filho de 
Deus. O grande defensor desta doutrina é Cerinto, que afirma 
que “a divina essência”, ou seja o “Cristo”, tomou posse do corpo 
humano de Jesus. Esta possessão se concreitizou no batismo de 
Jesus e no momento da crucifixão o “ser divino” o abandona. Os 
estudiosos acreditam que a Primeira Epístola de João seja uma 
resposta a Cerinto. Judas não fala diretamente de gnósticos, mas 
“de fiéis psíquicos”, que são dominados por seus desejos naturais 
(Jd 19).
As cartas apostólicas são respostas veladas às doutrinas des­
tes falsos profetas. Ao mesmo tempo que denuncia suas crenças,
(
apresentam uma mensagem para os fiéis, para que se protejam 
contra estes pregadores. Os cristãos devem estar unidos às comu­
nidades dos Apóstolos e seus sucessores. Os cristãos devem viver 
como Jesus, o que se manifesta no amor ao próximo. Sem aceitar 
a própria condição humana de pecadores, ninguém é discípulo 
de Jesus.
6 - R o s t o d o s s e g u id o r e s d o N a z a r e n o
O século I, sobretudo a segunda metade, merece particular aten­
ção. As comunidades estão se formando, definindo suas caracte­
rísticas, e os ministérios são exercidos de forma espontânea.
A região que circunda o mar Mediterrâneo é o primeiro 
campo vital do cristianismo. Neste ambiente, pululam inúmeras 
comunidades raciais e étnicas, unificadas pelo poder imperial 
romano. Todas estas comunidades têm suas próprias práticas re­
ligiosas, hábitos morais e organização eclesiástica.
O primeiro grupo é de origem judaico-cristã. Esta proximi­
dade os aproxima de sua literatura, de seus costumes e de suas 
práticas cultuais. Estes elementos herdados do judaísmo influen­
ciam a identidade do cristianismo primitivo.
O segundo grupo é oriundo do contexto pagão-cristão. 
Estes cristãos têm outras composições religiosas, sobretudo na 
linguagem e na mentalidade. Destaca-se sobretudo a influência 
da filosofia grega.
Na origem, a figura dos anciãos e presbíteros é mais evidente. 
Com a aproximação das comunidades paulinas, evidenciam-se as 
figuras do bispo e dos diáconos para o governo e para a expansão 
da Igreja. A expansão do cristianismo se deve aos próprios fiéis 
convertidos, que, no seu cotidiano, promovem o conhecimento 
da própria fé, por testemunhos e exemplos, incorporando sem­
pre mais fiéis, vindos de todas as raças e povos.
III - V ida ec lesia l na P atrística
Colaboração: Prof. Ivanir Signorini
Trataremos sinteticamente de alguns dos principais aconteci­
mentos da história da Igreja em seus primórdios. O objetivo 
deste capítulo é situar a Patrística, seus teólogos, obras, concílios 
e definições doutrinárias a serem desenvolvidas nos próximos 
capítulos.
O cristianismo surge no e do interior do Judaísmo. Nas origens 
é compreendido como um movimento de renovação do Judaísmo. 
Assim, os cristãos frequentavam as sinagogas quando houve a des­
truição do templo judaico algumas décadas mais tarde.
O TEMPLO JUDAICO
O Templo foi construído pelo rei Salomão entre 965 e 922 a.C. 
e destruído no ano de 587 a.C. quando Nabucodonosor, rei da 
Babilônia, invade Jerusalém exilando os líderes políticos e religio­
sos do judaísmo. Com o fim do Exílio na Babilônia promovido 
por Ciro, rei persa, em 539 a.C., tem início sua reconstrução. Em 
70 d.C., o imperador romano Tito invade Jerusalém, reprime uma 
revolta judaica e o destrói novamente, o qual não será mais re­
construído. A partir deste acontecimento, os judeus se reúnem nas 
muralhas do Templo (muro das lamentações) para rezar.
1 - O Im p é r io R o m a n o
Jesus era judeu, e o judaísmo situava-se em terras dominadas 
pelo Império Romano.
O Império de Roma dominava grande parte da atual Europa, 
todos os povos do Mediterrâneo, todo o norte da atual África e 
parte da Ásia atual. Caracterizava-se por uma unidade política, 
jurídica, econômica e cultural. Esta unidade subdividia-se em 
cidades, províncias e dioceses; cada qual governada por admi­
nistradores e juristas submetidos a Roma. O Direito Romano era 
o grande responsável pela solidificação deste império. Todos os 
povos submetidos a Roma seguiam a lei romana, mas tinha liber­
dade de manter sua própria cultura, costumes, festas e a própria 
religião.
O imperador Augusto (27 a.C.-14 d.C.), no tempo de Jesus, 
levou a pax romana (paz do direito) a todos os recantos do im­
pério, construiu estradas para facilitar o deslocamento dos exér­
citos, a movimentação comercial e a circulação de pessoas. A 
facilidade de locomoção é propícia para o cristianismo se expan­
dir para além do judaísmo e, mais tarde, atingir todo o Império 
Romano.
Jesus prega para os judeus, chama apóstolos para continuar 
a pregação do Reino; nasce no governo do imperador Augusto e 
morre sob o governo do imperador Tibério (14-37 d.C.).
2 - P r im e ir a s c o m u n id a d e s
Lucas, nos Atos dos Apóstolos, narra os primeiros momentos da 
vida dos seguidores de Jesus após sua morte e ressurreição. Os 
Apóstolos continuaram anunciando que Jesus era o Messias en­
viado por Deus, a ressurreição dos mortos e o Reino de Deus. 
Este anúncio começa com o acontecimento de Pentecostes (At 
2,11-13), a partir do qual passaram a formar comunidades de 
seguidores de Jesus.
As primeiras comunidades ficaram restritas a Jerusalém. 
Depois começaram a se espalhar para outras regiões do Império 
Romano. Significa que começava a haver um grande número de 
novos seguidores desta religião. Entre o número dos seguidores 
contava-se: a) os judeus-cristãos (judeus provenientes das comu­
nidades judaicas em torno de Jerusalém); b) cristãos-helenistas, 
também judeus, mas pertencentes à diáspora, para os não-ju- 
deus, ou seja, cristãos provenientes do paganismo.
D iáspo ra
Considerada a dispersão e a formação de comunidades judai­
cas fora da Palestina. Esta dispersão foi forçada e teve início com 
Nabucodonosor quando invade Jerusalém, deportando os ju­
deus. A segunda diáspora ocorre em 70 d.C. com a destruição de 
Jerusalém e do Templo pelos romanos, obrigando muitos judeus a 
fugirem para regiões longínquas do Império Romano.
Este afluxo de novos seguidores ao cristianismo gerou ten­
sões na igreja primitiva. Entre elas podemos citar:
a) A queixa dos helenistas de que suas viúvas não eram sufi­
cientemente atendidas pelos Apóstolos (At 6,1-7,60).
b) Os cristãos judeus exigiam que os cristãos provenientes 
do paganismo fossem circuncidados, submetendo-se, assim, às 
doutrinas mosaicas.
Estas tensões levaram o cristianismo a repensar-se como 
Igreja.
Após o Concílio de Jerusalém (At 15,1-33; G12,1-10), Paulo 
prega o cristianismo a todos os povos, fundando comunidades 
em várias regiões do Império Romano. Entre perseguições e via­
gens, Paulo é martirizado (64 d.C.), durante as perseguições aos 
cristãos promovidaspelo imperador Nero.
No início, Pedro resistiu à universalização do cristianismo, 
colocando-se em choque com Paulo (G1 2,1-11). Porém, mais 
tarde, aderiu à universalização.
t
Após as tensões iniciais internas, a Igreja define-se como 
portadora universal da mensagem evangélica e professa que 
Jesus Cristo é o único Deus-Senhor. A definição de identidade 
do cristianismo vai gerar constantes atritos com vários impera­
dores romanos, desencadeando uma série de perseguições aos 
cristãos.
3 - T e m p o d o s m á r t ir e s
O culto a Jesus Cristo desencadeou perseguições aos cristãos, as 
quais provêm tanto de imperadores romanos quanto de autori­
dades judaicas.
T e m p lo e S in a g o g a
Com o exílio na Babilônia, os judeus estavam longe do Templo 
para fazer suas orações e estudar a Torá. Assim, edificam constru­
ções com a finalidade de reunir judeus para o ensino da Torá, da 
doutrina judaica e para fazer suas orações. As sinagogas serão fun­
damentais para os judeus distantes de Israel e do Templo, permi­
tindo a difusão do Judaísmo por todo o mundo. Com a destruição 
do segundo Templo em 70 d.C. até os dias de hoje o judaísmo man­
tém sua identidade em torno das sinagogas.
O conflito maior com os judeus ocorre em torno do Messias. 
Jesus, para os cristãos, é o Messias esperado pela Bíblia Hebraica 
(Antigo Testamento), mas não é reconhecido entre os judeus. 
Assim, começa um distanciamento dos cristãos em relação ao 
judaísmo, distanciamento de suas normas, práticas, fé e crença 
messiânica.
Nesta perspectiva, os judeus “...incluíram os cristãos como 
minim (hereges) no Shemone Esre, sua oração cotidiana, e insti­
garam contra eles a opinião pública”.
Estas acusações geram perseguições mútuas. Os cristãos 
desenvolveram uma polêmica antijudaica “como se pode ver na
‘Carta de Barnabé’ ou no ‘Diálogo com Trifão’, de Justino. Inácio 
de Antioquia ainda opõe o cristianismo ao judaísmo como uma 
nova forma de vida (Magn. 10,13; Rm 3,3); em Militão de Sarde 
(morre antes de 190 d.C.) já aparece a palavra maligna ‘assassínio 
de Deus’ (Homilia sobre a Páscoa 94-97)...” Esta polêmica anti- 
judaica gerou embates e foi retomada ao longo da história como 
um dos motivos para perseguir os judeus.
Por outro lado, os judeus perseguem os hereges cristãos. 
Estêvão será lapidado pelos judeus e após a lapidação desenca- 
deia-se uma perseguição judaica a um grupo de cristãos que se­
rão obrigados a deixar Jerusalém em direção às regiões da Judeia 
e da Samaria (At 6,1-8,4). Ocorreu a revolta judaica contra Roma 
liderada por Bar-Kokhba (132 a 135); este, após a luta contra os 
romanos, passa a perseguir e a castigar os seguidores de Jesus em 
Jerusalém por terem se afastado da tradição mosaica.
Quando os cristãos já constituíram um grupo numeroso, 
suas práticas passaram a apresentar perigos para os romanos, 
gerando perseguições. Num primeiro momento, caracteriza-se 
por perseguições localizadas. Num segundo momento, ocorre a 
perseguição universal em todas as regiões do Império Romano.
3.1 - Mártires Pioneiros
As primeiras perseguições foram protagonizadas pela es­
pontaneidade de populações ou por órgãos estatais específicos 
de determinada administração romana. Estas perseguições ocor­
reram entre os anos de 50 d.C. (governo do Imperador Cláudio
- 41-54 d.C.) até 192 d.C. (governo de Cômodo, 180-192 d.C.). 
Este período é marcado pela alternância de intensas perseguições 
e mortes sangrentas e por certa tolerância à fé cristã.
A primeira perseguição cristã (50 d.C.) é protagonizada 
pelo Imperador Cláudio (41-54 d.C.). Cláudio expulsa os ju ­
deus de Roma acusando-os de distúrbios sociais. Neste período, 
os cristãos e os judeus, em algumas regiões, ainda mantinham 
estreitos relacionamentos, e os próprios cristãos, em algumas
(
comunidades, eram constituídos por judeus que se tornaram 
seguidores de Jesus. Restringiu-se a expulsá-los para longe da 
cidade de Roma.
A segunda perseguição aos cristãos ocorre no verão de 64 
d.C., sob o comando do Imperador Nero (54-68 d.C.). Esta é 
a primeira perseguição romana que tem como objeto somente 
cristãos e decorre de grande incêndio na cidade de Roma. Nero 
teria planos para reformar Roma e realizar novas construções. 
Diante disso, incendeia a cidade e acusa os cristãos de serem os 
responsáveis.
Acontece uma perseguição aos cristãos sob os domínios 
do imperador Domiciano (81-96 d.C.). Domiciano intitula- 
se Dominus et Deus (Senhor e Deus), instituindo um culto e o 
juramento pelo imperador, o que, inevitavelmente, chocou-se 
com a fé cristã. O imperador executou cristãos acusando-os de 
ateísmo. Nesta perseguição, o Evangelista João teve de exilar-se 
para Patmos. “É bem provável que a execução do Cônsul Flávio 
Clemente, por causa de seu ‘ateísmo’, bem como o exílio de sua 
mulher, Flávia Domitila (Cássio Dio, Hist. Rom. LXVII, 14,s), te­
nha ocorrido por causa de sua profissão da fé cristã”.
Sob o governo de Trajano (98-117 d.C.), temos duas perse- 
guições. A primeira, acontece em torno do ano 110 d.C.; os cris­
tãos de Antioquia são perseguidos, e o bispo desta cidade, Inácio, 
foi levado para Roma e jogado às feras da arena para divertir o 
povo. A segunda acontece em torno de 112 d.C., quando Trajano 
decreta que, se alguém se confessar cristão, deve ser punido.
Em Jerusalém, sob Adriano, os judeus-cristãos são perse­
guidos após a revolta judaica (132-135 d.C.) liderada por Bar- 
Kokhba. O imperador Adriano esmaga a revolta, enche Jerusalém 
de templos gregos, troca o nome da cidade para Aelia Capitolina, 
e proíbe os judeus de entrarem na cidade sob pena de morte. 
As perseguições não se estendiam aos gentios-cristãos. Sob o 
governo do imperador Antonino (138-161 d.C.), Policarpo de 
Esmirna é sacrificado na arena de Roma (156).
No governo de Marco Aurélio (161-180 d.C.)> ocorre, em 
Lião, um levante popular contra os cristãos. Aproximadamente 
cinquenta cristãos são torturados e devorados pelos animais.
3.2 - M artírio universal
Sob o governo de Sétimo Severo (193 d.C. até 311 d.C.), o 
imperador proclama oficialmente perseguições aos cristãos em 
todo o Império. Mesmo neste período, as perseguições sofrem 
alternâncias entre perseguições, punições e mortes sangrentas.
Sétimo Severo (202 d.C.), edita uma lei proibindo a conver­
são ao judaísmo e ao cristianismo. Com esta lei temos a primeira 
perseguição universal aos cristãos.
De Sétimo Severo até Décio (249) os cristãos são tolerados. 
Décio, para reforçar sua autoridade e garantir a unidade do im­
pério, reforça e exige a veneração aos deuses do império e o culto 
ao imperador, ordena a prisão dos bispos cristãos das principais 
comunidades.
Valeriano (253-260 d.C.) inflamou-se uma nova persegui­
ção (258 d.C.), que obrigava o clero a sacrificar aos deuses e lhe 
proibia todo e qualquer culto cristão, mesmo nos cemitérios. Seu 
sucessor, Galieno (260-268 d.C.), inaugurou um período de paz 
que durou quarenta anos, devolvendo os bens e os lugares de 
culto aos cristãos.
O imperador Aureliano (270-275 d.C.), após lutas contra os 
germanos, busca uma unificação do império. Ele introduz um 
culto comum no império: ao “Sol invictus”. Atribui-se o título de 
“Dominus et deus” . A recusa dos cristãos gera no império uma 
perseguição aos cristãos.
Com Diocleciano (284-305 d.C.), produz-se uma série de 
perseguições e assassinatos de cristãos. Os cristãos eram nume­
rosos e se recusavam a servir no exército, a fazer sacrifícios pú­
blicos e a cultuar o imperador. O imperador proíbe as reuniões e 
os cultos dos cristãos, recolhe seus livros litúrgicos e demole suas 
igrejas. Com isso, Diocleciano torturou, matou e derramou san-
(
gue de cristãos como nunca se viu na história. Com a abdicação 
de Diocleciano, temos o fim da perseguição. Inicia-se uma fase 
de aproximação ao Estado romano.
4 - T e m p o s d e c r is t a n d a d e
Diocleciano abdica e assume Galério (305-311 d.C.), que pro­
mulga o Edito de Tolerância reconhecendo o fracasso da políticade Diocleciano, reconhecendo o cristianismo como religião, per­
mitindo a liberdade de culto.
Constantino (312-337 d.C.) assume o império após uma 
batalha vencedora e sob a égide de símbolos cristãos em suas 
insígnias, contra seu opositor Maxêncio. Percebendo que o 
apoio de cristãos seria fundamental para o governo do império, 
Constantino, em 313, proclama o Edito de Milão, reconhecendo 
o cristianismo e mesmo concedendo privilégios à religião cristã, 
com a construção de igrejas, dispensa dos impostos e a prestação 
de serviços públicos, para os clérigos, equiparação dos bispos 
com os altos funcionários e a doação de propriedades de terras. 
Constantino passa a intervir diretamente na organização cristã 
e na solução de controvérsias teológicas, como no Concílio em 
Aries (325 d.C.) e convoca o Concílio de Niceia (325).
Após Constantino, seus sucessores continuaram a política 
de aproximação. Teodósio (379-395 d.C.), em 380 d.C., pelo 
Edito De Fide Catholica, torna a fé cristã lei oficial do Império.
C ar ta de C o n s t a n t in o a o g o v e r n a d o r d a B it ín ia 
(E d it o de M ilã o - 3 1 3 )
Eu, Constantino Augusto e, como eu, Licínio Augusto, reunidos fe­
lizmente em Milão para discutir todos os problemas relativos à se­
gurança e ao bem público, julgamos de nosso dever regulamentar, 
em primeiro lugar, entre outras disposições da natureza a assegu­
rar, segundo nós, o bem da maioria, aquelas sobre as quais repousa 
o respeito da divindade, isto é, dar aos cristãos, bem como a todos,
a liberdade e a possibilidade de seguir a religião de sua escolha, a 
fim de que tudo o que há de divino na celeste morada possa ser 
benevolente e propício a nós e a todos aqueles que se acham sob 
a nossa autoridade. Por isso, num desígnio salutar e muito reto, 
julgamos dever tomar a decisão de não recusar essa possibilidade 
a quem quer que seja, tenha ele ligado sua alma à religião dos cris­
tãos ou à que julgar mais conveniente para si, a fim de que a di­
vindade suprema, à qual prestamos uma homenagem espontânea, 
nos testemunhe em todas as coisas a seu favor e sua benevolência 
habituais. (...) Convém, pois, que a tua excelência saiba que, su­
prindo completamente as restrições contida nos escritos enviados 
anteriormente à tua administração a respeito do nome dos cristãos, 
nós decidimos abolir as estipulações que nos pareciam totalmente 
inadequadas e estranhas à nossa mansidão, e permitir, daqui para a 
frente, a todos aqueles que têm a determinação de seguir a religião 
dos cristãos que o façam livre e completamente, sem ser inquieta­
dos nem molestados.
(Sources Chrétiennes, 39, pp. 132-133)
4.1 - Nova realidade dos cristãos
Com o Edito de Milão, as regras de conduta dos cidadãos 
sofrem grandes transformações. Em consequência, a realidade 
dos cristãos também é muito diversa dos tempos do martírio. As 
leis do Império não atacam e não perseguem os cristãos, antes os 
protegem e lhes dão benefícios. Algumas determinações mere­
cem ser destacadas:
- Em relação aos condenados, proíbe-se a marca da ignomí­
nia no rosto dos condenados, bem como a crucifixão e a ruptura 
dos ossos;
- Quanto à moral, fica proibida a exposição de crianças, es­
petáculos imorais e luta de gladiadores;
- No tocante à religião, são proibidas as penas corporais no 
período quaresmal e pascal, bem como a elaboração de normas 
para o matrimônio e a organização da família;
- As leis eclesiásticas são acolhidas pelo poder civil e as leis 
do Estado se tornam leis da Igreja;
Exigência de 30 dias, no mínimo, entre as sentenças e as 
execuções, sejam pena de morte ou confisco de bens.
Com o Edito de Milão, inicia-se o período da cristandade na 
vida da Igreja. Com a tranquilidade nas comunidades, a Igreja 
organiza suas estruturas de forma sistemática, em dioceses, paró­
quias, e os ministérios são ordenados para custodiar estas estru­
turas. Certamente, o catecumenato perde sua força e as comuni­
dades lutam para viver a fidelidade evangélica.Uma das respostas 
a esta situação é o crescimento da vida monástica, como forma 
de garantir a fidelidade dos primeiros cristãos. Com isso, o Ano 
Litúrgico é bem organizado, bem como o culto dos mártires e os 
livros litúrgicos.
4.2 - Cristandade e poder
A partir do imperador Teodósio, a única religião no Império 
é a cristã, que se fortifica cada vez mais e dedica-se a questões 
teológicas e doutrinais.
Com a morte de Teodósio (395), o império romano divi- 
de-se em Império Romano do Ocidente e Império Romano do 
Oriente.
O Império Romano do Ocidente tem como último impera­
dor Rômulo Augústulo, deposto pelo germano Odoacro (476). 
Até a queda do império do Ocidente a Igreja viveu harmôni­
ca com o Estado. Após a queda do império, não havia mais um 
poder político central, mas vários domínios de conquistadores 
germânicos com os quais teve de negociar e depender de favores 
e até mesmo cristianizá-los.
O Império Romano do Oriente desapareceu quando 
Constantinopla é tomada pelos turcos (1.453). O cristianismo 
segue seu curso na história da humanidade, como um rio que 
atravessa a floresta.
II - E scritos P io n e ir o s
I - P rim eiras T r a d iç õ e s
Voltemos no tempo. Há algumas décadas, os apóstolos testemu­
nharam os últimos acontecimentos da passagem histórica de 
Jesus de Nazaré. Eles contaram a história muitas vezes e criaram 
uma tradição oral. Esta tradição oral circulou entre os segui­
dores do Nazareno, que muito cedo, em Antioquia, passaram 
a ser chamados de “cristãos” (IC or 12,2). As tradições foram 
ordenando-se e tornando-se uma história narrativa. Os após­
tolos e seus discípulos escreveram estas histórias, compondo 
os nossos evangelhos. Simultaneamente, mas de forma muito 
espontânea, cartas eram escritas para as comunidades, para 
orientar, corrigir, ensinar e evangelizar. Aos poucos foi sendo 
composto o livro cristão mais importante de todos os tempos, o 
Novo Testamento. Ao longo da história, recebemos esta herança, 
que perpassou os séculos e foi a referência e a estrela-guia da co­
munidade cristã por todos estes séculos do cristianismo. Muitas 
tradições eram, porém, orais - narrativas não escritas, mas con­
tadas de fiéis para fiéis. Algumas foram depois registradas como 
livros da tradição, outras, perderam-se na história. Ainda mais, 
algumas destas tradições foram inscritas em livros décadas ou 
séculos mais tarde.
Este precioso período da tradição cristã registra a passagem 
da tradição bíblica para a tradição patrística.
O objeto de nosso estudo é a gênese da tradição patrísti­
ca, que conheceremos em dois modos distintos: uma tradição 
oral, que é o CREDO APOSTÓLICO, e uma tradição escrita, a 
DIDAQUÉ.
1 - C r e d o a p o s t ó l ic o
Quando um neófito pedia o batismo para a comunidade, ele 
deveria ser instruído na fé e entender a mensagem de Jesus de 
Nazaré.
A comunidade tinha alguns elementos que deveriam ser co­
nhecidos, professados e vividos pelos iniciantes.
H is tó r ic o d o c r e d o a p o s t ó l ic o
Este compêndio oral das primeiras comunidades é um testemunho 
da iniciação dos primeiros cristãos. Por ser uma tradição oral, era 
contada nas formações catequéticas. O texto escrito, que recupera, 
como uma espécie de anamnesis dos antepassados, o seu conteúdo, 
é datado do século VI. Este texto recupera os principais ensinamen­
tos da fé cristã, como era ensinada pelos mestres aos novos adep­
tos do cristianismo. Sua fórmula apresenta 12 artigos, em forma 
sucinta. Acredita-se que era usado na instrução dos catecúmenos, 
com o nome de “Symbolum Apostolicum”. Diz uma lenda que os 
apóstolos, depois de Pentecostes, antes de se separarem para pregar 
o evangelho, definiram um breve sumário da doutrina. Este for­
mulário é a base comum para as pregações apostólicas.
Este símbolo apostólico é uma síntese das principais verda­
des do cristianismo, a partir da revelação de Jesus Cristo. Mais 
que normas éticas ou comunitárias, encontramos verdades dou­
trinais. Estas verdades