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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FICHAMENTO O QUE É SOCIOLOGIA Carlos Benedito Martins Aluna: Mariana Blanc Pereira Matrícula: 2019260030 Curso: Administração, 1º período, integral Disciplina: Sociologia – História, Temas e Atualidade (CSO098) INTRODUÇÃO A obra “O que é Sociologia” é uma síntese pragmática sobre tudo que permeia, ou não, a sociologia como um método científico. Dessa forma, é ressaltado também, todo o trajeto desta ciência política como um “projeto intelectual tenso e contraditório”, já dito pelo autor Carlos Benedito Martins. É necessário afirmar que todo o estudo é englobado mediante o olhar da nascente sociedade capitalista, sendo uma ciência que busca dialogar com diferentes épocas e fases deste modelo econômico e, para além, social. CAPÍTULO PRIMEIRO O sistema de sociedade feudal em crise e a consolidação capitalista são o marco para o surgimento da discussão da sociologia enquanto ciência, logo no século XVIII – ainda que o termo “sociologia” só veio surgir cerca de um século depois. Essas mudanças criaram problemas, até então, inéditos ao homem, e este, por sua vez, buscou maneiras diferentes de resolvê-los. Em contexto, o trecho do estudo, ressalta o impacto causado pela Revolução Industrial, que foi o pontapé esse novo sistema social: “Num período de oitenta anos, ou seja, entre 1780 e 1860, a Inglaterra havia mudado de forma marcante a sua fisionomia. País com pequenas cidades, com uma população rural dispersa, passou a comportar enormes cidades, nas quais se concentravam suas nascentes indústrias [...]. Tais modificações não poderiam deixar de produzir novas realidades para os homens dessa época.” (MARTINS, 1994, p. 6) A “nova realidade” causada pelas intensas transformações causaram um cenário um tanto quanto conturbado, onde se intensificou o consumo de álcool, a prostituição e o abuso no trabalho de mulheres e crianças. Pensadores como Owen, Thompson e Bentham, mesmo que divergindo entre si, entendiam que essas mudanças acarretaram problemas, até então, inéditos e que fizeram a sociologia se consolidar como uma ciência existente para entender a relação do homem com o mundo capitalista. Desta maneira, concebe-se que a sociologia existe porque o mundo capitalista existe, e por meio dele, os conflitos entre a classe operária e os proprietários fabris – além da condição social em que se encontram ambos. Dividindo cenário com essas transformações também vieram os avanços no campo da filosofia, onde a indução racional que viria a substituir a visão sobrenatural (religiosa e mística) do mundo. A adoção do método científico para analisar a natureza deu ao homem o “poder” de dominá-la de acordo com suas necessidades e desejos. Isto posto, além de impulsionar descobertas científicas, os setores fabris conseguiram produzir cada vez mais. Em síntese, o mundo caminhava para o que moldaria o princípio do que viria a ser o mundo do século XXI. Evidentemente, a sociologia também comungou destas novas técnicas. Por exemplo, para Francis Bacon o novo método de conhecimentos deveria ser aplicado a fim de realizar experimentos e acumular dados e formular leis gerais sobre a sociedade – ainda que isto tenha se mostrado inviável, tendo que a sociedade era formada por seres autônomos e distintos. Esse novo sistema baseado na razão representou um grande avanço para o campo científico que deixa de ser teológico e passar a ser técnico. A produtividade do século XVIII foi também um marco na história, sendo vista como algo nunca experimentado pelo homem, e junto dela, o pensamento social também atingiu novos níveis, impulsionando novas formas de se ver o mundo. Para Vico, a partir daquele momento, o homem se torna o produtor da história, sendo assim, ele teria todo o poder de determinar o rumo da humanidade. Esse primeiro pensamento da natureza como construção dos indivíduos, mais tarde, serviria de inspiração para outros pensadores, como Hume, Ferguson e até mesmo Hegel e Marx. “Liberdade, fraternidade e igualdade” o lema do Iluminismo também se mostrou marcante nesta fase de desenvolvimento da sociologia enquanto ciência. A França do século XVIII abrigava um novo semblante: uma burguesia forte e consolidada que atacava o sistema feudal, os privilégios da classe dominante e as restrições políticas e econômicas impostas a ela. Essa luta entre a burguesia e a sociedade feudal foi regada de desenvolvimento, de pensadores e de ideias novas baseadas no homem e na razão, como mostra o trecho: “Ao invés de utilizar a dedução, como a maioria dos pensadores do século XVII, os iluministas insistiam numa explicação da realidade baseada no modelo das ciências da natureza. Nesse sentido, eram influenciados mais por Newton, com seu modelo de conhecimento baseado na observação, na experimentação e na acumulação de dados, fio que por Descartes, com seu método de investigação baseado na dedução. [...] Combinado o uso da razão e da observação, os iluministas analisaram quase todos os aspectos da sociedade.” (MARTINS, 1994, p. 11) O Iluminismo vem com a construção de uma visão clara, crítica e negadora do conhecimento, descontruindo diversas instituições (família, religião, moral, comércio, população) para repensá-las de acordo com suas convicções a cerca deste novo método. Este movimento também atingiu o campo das artes e das invenções e inovações tecnológicas, fazendo do “homem comum” um agente de transformação social participante das novas situações criadas pelo pensamento iluminista. Assim sendo, este mesmo homem – que antes não estava inserido no contexto acadêmico das ciências – também compartilha dos ideais da burguesia. Diante deste cenário, ascende na França no ano de 1789 a conhecida Revolução Francesa. Para tomar o poder, a burguesia movimentou as massas mais pobres e trabalhadoras contra o sistema feudal a fim de construir um Estado que comportasse os novos interesses capitalistas. Em menos de um ano, todo o ar da velha política havia sido liquidado e uma nova França estava sendo construída sem as instituições tradicionais, os velhos costumes e os hábitos arraigados. Foram limitados também os poderes da Igreja e suas poses, bem como sua atuação na educação, a reformulação do poder patriarcal das famílias e a diminuição de privilégios de classe. O impacto causado pela revolução foi comentado por Tocqueville – setenta anos após seu ápice gloriosos – como uma revolução sempre em curso, subjugando os “monstros” das velhas instituições e reformulando leis, comportamentos e até a língua. Durkhiem ressaltava também que assim que “a tempestade revolucionária passou, constituiu-se como que por encanto a noção de ciência social.”. Entretanto, a mudança no cenário político francês não se sustentou por muito tempo com a “cara revolucionária” de antes e surgiram diversos pensadores da época, como Saint-Simon, Comte e Le Play, para designarem a revolução como uma perturbação da ordem e buscaram resgatar os valores tradicionais da sociedade, como a família e a religião. Dava-se isto, pois, contestavam a legitimidade da revolução e afirmarem que ela era baseada em falsos dogmas (igualdade e liberdade). Sabe-se também que a própria burguesia, uma vez instalada no poder, se assusta com o espírito revolucionário e o poder que ele tem. Dessa maneira, a precursora de toda a causa também foi sua detentora. Dessa forma, a interpretação crítica e questionadora do Iluminismo agora deveria ser superada e ceder espaço para ordem e organização social. Saint-Simon revisava que se “a filosofia do último século foi revolucionária, a do século XX deve ser reorganizadora” e agora os filósofos deveriam assumir o papel de estabilização da nova ordem, como acrescentava Comte. O espaço também sofreu mudanças fortes que retomaram os problemas da Inglaterra no início da industrialização. Nesse sentido, também surgiamrevolta entres as classes que eram sufocadas pelas políticas da burguesia e a “higienização” de pensamento, como falava Durkheim: “O desmoronamento do antigo sistema social, ao instigar a reflexão à busca de um remédio para os males de que a sociedade padecia, incitava-o por isso mesmo a aplicar-se às coisas coletivas. Partindo da ideia de que a perturbação que atingia as sociedades europeias resultava do seu estado de desorganização intelectual, ele entregou-se à tarefa de pôr termo a isto. Para refazer uma consciência nas sociedades, são estas que importa, antes de tudo, conhecer. Ora, esta ciência das sociedades, a mais importante de todas, não existia; era necessário, portanto, num interesse prático fundá-la sem demora.” (MARTINS, 1994, p. 16) Neste contato inicial com o estudo de Martins, analisa-se os movimentos sociais que levaram à criação da sociologia enquanto pensamento científico. A Revolução Industrial e a Revolução Francesa foram momentos importantes para todos os âmbitos da história e causaram um ápice no amadurecimento e no surgimento de ideias novas para o mundo. Nota-se que a sociologia vem por meio da existência do capitalismo, e este, por sua vez, vem por meio das revoluções que ocorriam pela Europa. O ideal de sociologia enquanto ciência surge, entre outros fatores, por uma necessidade de analisar o homem enquanto ser social e agente atuante e condicionado das mudanças. Pensadores citados: Owen, William Thompson, Jeremy Bentham, Francis Bacon, Vico, David Hume, Adam Ferguson, Hegel, Karl Marx, Descartes, Hobbes, Condorcet, Montesquieu, Tocqueville, Durkheim, Saint-Simon, Comte, Le Play. CAPÍTULO SEGUNDO A sociologia enquanto uma ciência reconhecida e respeitada é muito marcante atualmente, todavia nem sempre ela foi considerada como instrumento de estudo válido. Henri Poicaré determinava a “sociologia como ciência de muitos métodos e poucos resultados”. Essa visão não se perpetuou por muito tempo, afinal as mentes pensantes da sociologia pouco a pouco ganharam espaço dentro da sociedade, com respeito e destaque. Mesmo dentro de espaços não acadêmicos como empresas e organismos estatais, a sociologia se faz presente, seja por meio de pesquisas ou como instrumento de avaliação. Evidenciou-se o surgimento da sociologia através da consolidação do sistema capitalista e seus interesses, além de detectar o estigma do caráter antagônico dessa organização social. Essa ciência, então, surge com a proposta de avaliar o comportamento dos indivíduos, mesmo que com um conflito entre os sociólogos acerca dos objetos e métodos de estudo, mas sem perder de vista o contexto em que ela surge e a perspectiva que a norteava. Desta forma, surgem os primeiros estudiosos conservadores, nomeados até de “profetas do passado”, que se colocam contrários ao Iluminismo e de suas ideias revolucionárias. A inspiração para esse pensamento vinha de ideias ligadas ao sistema feudal e a hierarquia de classes, tal como a preservação da família, da Igreja e da monarquia. No entanto, pensadores como Edmund Burke, Joseph de Maistre e Louis de Bonald buscavam descontruir este ideário do século dezoito, exaltando as ideias iluministas, atacando as ideias de preservação do homem e mostrando o progresso da sociedade moderna baseada na urbanização e industrialização. Ainda na visão conservadora, a Revolução Francesa foi o último elo de acontecimentos nefastos e de destruição da sociedade, junto do Renascimento, da Reforma Protestante e da Era da Razão. Estas ideias serviram de base e referência para os pioneiros da sociologia, ainda que com algumas modificações. Ficaram mais conhecidos os sociólogos como Saint- Simon, Auguste Comte e Emile Durkheim, que ficaram responsáveis por dar as ideias conservadores uma “roupagem nova”. Cientes que o feudalismo não teria espaço no mundo moderno, eles baseavam seus ideais na conservação da sociedade capitalista e na preservação da nova ordem econômica. O Positivismo, método de estudo baseado nas ciências experimentais em detrimento das demais técnicas, era usado como base para o diálogo no “novo” conservadorismo. Estes pensadores concebiam que a sociedade francesa estava corrompida e carecia de restaurar sua ordem social, e para tornar isso realidade, o único caminho seria o industrialismo e o progresso econômico – ou seja, orientar os meios de produção, preservando o capitalismo. Formou-se então, uma espécie de sociedade nos moldes feudais usando personagens modernos: a ciência desempenhando a função da religião, os cientistas, do clero e a burguesia, os senhores feudais. Os sociólogos sustentavam uma visão otimista da sociedade, mas percebiam a inexistência da ciência na sociedade, e por isso esta área deveria descobrir as leis do progresso e do desenvolvimento social. Além disso, era conhecido o conflito entre possuidores e não possuidores e propunham como solução medidas normativas que orientassem a conduta dos indivíduos e a melhoria da condição dos trabalhadores para acalmar o espírito revolucionário da classe. Comte, por exemplo, reprimia as ideias iluministas e de cunho religioso – visto que esse havia perdido, há muito tempo, sua força – e promovia a ideia de um conjunto de crenças comuns à todos os homens. A sociologia positivista tinha como ponto de partida as ciências naturais, ou seja, o estudo era baseado na observação, na experimentação e na comparação, e de acordo com Comte, isto levaria a uma evolução do conhecimento científico. Dessa forma, a ciência sociológica deveria usufruir de procedimentos e pesquisas bem como a astronomia e a física, buscando acontecimentos constantes e repetitivos. Um dos pontos altos desta visão era o apreço pela ordem e pelo progresso. Novamente diante do pensamento de Comte, ele detectava um equívoco neste ideal conservador: colocar a ordem em detrimento do progresso. Seus argumentos, de contramão a esses, era que a ordem era o ponto de partida e o progresso viria como uma consequência positiva, suave e gradual. Para Durkheim, a ordem social era uma preocupação constante. O contexto de seus estudos, no século XX, se deu em meio a uma crise econômica, que intensificaram as lutas de classes e o uso constante das greves como instrumento de reivindicação, entretanto, os avanços tecnológicos e a descoberta do petróleo criaram um clima de euforia entre os industriais. Ainda nesse período, a ascensão do ideal socialista era evidente e Durkheim se propunha a elaborar teses que respondessem, de maneira contrária, as teorias socialistas. Para ele, a raiz do problema não era econômica e sim, moral, mais especificamente, pela fragilidade desta no mundo moderno. Logo, ele buscava novas ideias morais – em comunhão com Saint-Simon – que pudessem guiar o indivíduo, e com isso solucionar os problemas da época. Com uma visão otimista, Durkheim via na divisão do trabalho um meio de incentivar a solidariedade entre os operários. Mas, por conta da rapidez das transformações socioeconômicas ainda faltava um conjunto de ideias morais que fosse capaz de guiar a sociedade e por isso ela mergulhava em um estado de anomia – um estado sem regras, anárquico e desviados das leis naturais. Para estabelecer um objeto de estudo para a sociologia, ele definiu a existência dos “fatos sociais” que apresentavam os indivíduos como seres exteriores e coercitivos. Salientava também o peso dos costumes dentro da sociedade, desde a maneira de se comportar até o modo como se sente as coisas, tudo era determinado por ordens pré- estabelecidas e já aprovadas, sendo assim, o homem enquanto ser pacífico seria incapaz de mudar a realidade histórica. Incentivava, também, a disciplina e o dever, o culto à sociedade e às leis e hierarquias. Em resumo: “O positivismo durkheimiano acreditava que a sociedade poderia ser analisada da mesma forma que os fenômenos da natureza. A partir dessa suposição, recomendava que o sociólogo utilizasse em seus estudosos mesmos procedimentos das ciências naturais. Costumava afirmar que, durante suas investigações, o sociólogo precisava se encontrar em um estado de espírito semelhante ao dos físicos ou químicos.” (MARTINS, 1994, página 26) Em contrapartida, o pensamento socialista vem para fazer uma crítica radical ao capitalismo e seus antagonismos e contradições, e a partir desse momento, para essa linha de pensamento, a sociedade capitalista começa a ser vista como um acontecimento transitório. É fomentado, dentro do proletariado, o espírito revolucionário e a formação de uma crítica social. As mais expressivas e conhecidas mentes socialistas, sem dúvidas, são a de Marx e Engels – mesmo que estes não estivessem focados em fundar a sociologia como uma disciplina. Eles colocavam as lutas políticas e sociais como centro do trabalho. “A formação teórica do socialismo marxista constitui uma complexa operação intelectual, na qual são assimiladas de maneira crítica as três principais correntes do pensamento europeu do século passado, ou seja, o socialismo, a dialética e a economia política.” (MARTINS, 1994, p. 28) O século XIX foi marcado por levantes populares, acirrados pela luta entre as classes sociais e, especialmente, da exploração da burguesia para com o proletariado. A reinvindicação era por igualdade política e social entre os cidadãos. O socialismo pré- marxista, também conhecido por “socialismo utópico”, era uma reação clara ao capitalismo e que foram absorvidas por Marx e Engels, todavia, acrescentaram críticas quanto à validade da consistência teórica e sua efetividade. Fizeram um balanço crítico ressaltando ideias geniais de pensadores como Saint-Simon, Owen e Fourier, porém apontando suas limitações e equívocos com as contradições entre burguesia e proletariado. Marx e Engels não enxergavam no socialismo utópico uma maneira possível de ser concretizado, por isso buscavam teorias que fossem mais do que um “desabafo crítico” ou um “sonho utópico”, colocando o agente histórico transformador no centro. Karl Marx ao encontrar com as ideias de Hegel absorveu a dialética hegeliana, que se tornou parte do processo revolucionário marxista, com um caráter idealista onde o pensamento ou o espírito era responsável por criar a realidade. Dessa forma, eles adentraram na filosofia materialista, onde os fenômenos da sociedade eram invariáveis e permanentes e, este, teve como mérito a criação de uma teoria científica altamente explicativa: o materialismo histórico. A conclusão chegada foi que todo fenômeno social deveria, previamente, ser estudado mediante a estrutura econômica da sociedade. Ao constatarem os fatos econômicos como base de estudo, suas ideias foram de encontro com os economistas da Escola Clássica, tais como Adam Smith e Ricardo. A teoria altamente individualista desses pensadores e que baseavam que os bens materiais eram obra de homens isolados se divergiam no ponto que Marx e Engels acreditavam que isto não passava de uma grande ficção, sendo “o homem um animal essencialmente social”. Diferentemente, da sociologia positivista, essa não buscava solucionar problemas, mas realizar mudanças radicais na sociedade, sendo o socialismo, especialmente o marxista, responsável por dar um caráter crítico para a sociologia. “Ao contrário do positivismo, que procurou elaborar uma ciência social supostamente “neutra” e “imparcial”, Marx e vários de seus seguidores deixaram claro a íntima relação entre o conhecimento por eles produzido e os interesses da classe revolucionária existente na sociedade capitalista, o proletariado. Observava Marx, a este respeito, que assim como os economistas clássicos eram os porta-vozes dos interesses da burguesia, os socialistas e os comunistas constituíam, por sua vez, os representantes da classe operária.” (MARTINS, 1994, p. 31) À vista disso, a sociologia marxista vinha com o caráter de designar as diferenças entre proletariado e burguesia. Mostrando as partes que estavam sujeitas à dominações econômicas e as partes que dominavam, não só os meios de produção mas, também, o Estado, as leis, a cultura e o pensamento político. Dessa forma, contribuíram de maneira significativa para a compreensão das classes sócias e as lutas entre si, desprendendo-se da alienação e da exploração. Max Weber tinha uma visão referente à condição científica da sociologia enquanto disciplina. Ele fazia uma clara distinção entre o conhecimento científico e os julgamentos de valor sobre a realidade, sendo assim, o cientista não poderia possuir preferências políticas e ideológicas, mesmo que enquanto cidadão ele comungasse com uma lado ou outro. Desta maneira, ele cria uma distinção profunda entra o homem do saber e o político, e estes dois, não poderiam deixar que as influências de cada uma das partes afetasse a outra. Neste ponto, então, têm-se um momento decisivo da profissionalização da sociologia enquanto ciência, visto que ela a isola dos movimentos revolucionários. O período vivido por Weber na Alemanha foi marcado por um grande surto industrial e um elevado crescimento econômico, mesmo que fosse uma industrialização tardia e diferente das vividas pela Inglaterra e pela França. Não houve uma ruptura brusca com as forças feudais, mas sim de um compromisso advindo de interesses dos latifundiários. As políticas na sociedade industrial alemã eram de grande exploração da mão de obra e de um forte despotismo burocrático que criavam um clima propício para fomentar lutas por direitos políticos e sociais por grande parte da população. Além de sofrer influencia de pensadores como Kant e Nietzche, Weber também estava sujeito às ideias de Marx. Suas teorias conversavam principalmente no que diz respeito à relação da economia com as demais esferas sociais e na rejeição do positivismo, todavia, ele não admitia possuir fundamento que a economia fosse massivamente dominante em cima das outras esferas sociais. Em tese, ele considerava o indivíduo e a sua ação como o ponto inicial para a investigação, e com isso compreender a sociedade, ao invés de partir das instituições ou grupos sociais. Weber alertava que o homem não é uma matéria inerte, como as ciências naturais, por exemplo, e transformava o pesquisador em agente ativo no estudo, influenciando diretamente no seu resultado, sendo pioneiro na pesquisa empírica. Por fim, outro ponto incomum à Marx era sua visão sobre o capitalismo, já que para ele, esse sistema não era injusto ou irracional, e mais ainda, colocava o empresário como um revolucionário. Em resumo, esse capítulo aborda sobre as principais representações da sociologia (Marx, Durkheim, Weber, Comte e Tocqueville) e como suas teorias conversam, de maneira igual ou em discordância entre si. Seus trabalhos, em geral, apresentaram grandes contribuições para o mundo e como se estuda ele a partir dos indivíduos, assim sendo, as obras destes autores são importantes documentos para se estudar tanto a época analisada quanto a atualidade. Pensadores citados: Edmund Burke, Joseph de Maistre, Louis de Bonald, Engels, Durkheim, DAlambert, Malinowski, RadcliffeBrown, Mertom, Parsons, Marx, Engels, Adam Smith, Ricardo, Max Weber, Kant, Nietzche, Sombart CAPÍTULO TERCEIRO Há uma forte mudança de cenários com o passar dos anos, e a burguesia deixa de lado os ideais de liberdade e fraternidade, experimentados na Revolução Francesa, e a crise entre proletário e proletariado se torna cada vez mais forte. O mundo também passa por um cenário conturbado com a eclosão de guerras e a ascensão socialista, em consoante a isso, o espaço industrial se torna cada vez mais monopolizado, influenciando na política de maneira direta. A sociologia nesse contexto se torna uma técnica de manutenção das relações dominantes. Dentro de grandes empresas, de partidos políticos ou até mesmo do Estado, a sociologia ganha um novo espaço de atuação, mesmo que esse espaço restrinja sua autonomia intelectuale criativa. A demanda é por uma sociologia mais neutra e envolvida na malha de produção, sem condições para o desenvolvimento das matrizes mais socialistas ou revolucionárias – e estas foram ignoradas e marginalizadas até dentro do meio acadêmico. A Segunda Guerra Mundial acarretou a priorização das outras ciências sociais, como o direito e a economia, para solucionar os problemas derivados dela, portanto, a sociologia, sendo uma ciência extremamente teórica, cede seu lugar para as novas prioridades. Todavia, dentro das universidades, a sociologia alcança seu ápice e era cada vez mais desenvolvida de maneira contraria a burguesia e suas exigências. A classe burguesa adquiria uma faceta cada vez mais conservadora e imponente, tanto que o poder soviético na Rússia ainda não era capaz de promover todo o levante popular capaz de neutralizar o poder dela. Neste mesmo momento, a sociologia experimentou sua fase mais produtiva e rica em pesquisas. Os sociólogos clássicos não deixaram de ser citados, e muitas vezes, suas obras eram retomadas como base de estudos diante das pesquisas de campo. Povos e sociedades consideradas “primitivas” diante das sociedades europeias foram “cobaias” do desenvolvimento sociológico em larga escala, tendo suas vidas e costumes analisados constantemente. A exemplos, têm-se os seguidores de Durkheim, Marcel Mãuss e Levy Bruhl que analisavam a vida de povos não-europeus e seus ritos de trocas de mercadorias e a mentalidade daquelas sociedades. Ascende por toda a Europa um ímpeto de estudos acerca do mundo moderno e seus diversos e variados problemas sociais. Para Karl Mannheim, a sociologia poderia ser um instrumento de planejamento social, e para isso, ele fornece grandes correlações entre os modos de pensamento e das origens sociais de cada grupo analisado. Não somente se limitando a isto, mas toda a área é agregada com vários pensadores, como se relata abaixo: “Durante esse período, vários estudiosos buscaram formular e classificar os diferentes tipos de relações sociais que ocorrem em todas as sociedades, independente do tempo e do lugar. Os estudos de Pareto sobre a ação humana, de Von Wiese sobre os processos básicos de vida social, os trabalhos de Roos sobre os mecanismos e as variedades do controle social constituem exemplos ilustrativos desta tradição de pesquisa. Estes trabalhos proporcionaram a elaboração de vários conceitos fundamentais da sociologia.” (MARTINS, 1994, p. 41) Nos Estados Unidos da América, logo após a Primeira Guerra Mundial, a sociologia adentra as universidades e foca em estudar a “nova sociedade” e um novo conceito de estilo de vida, visto o enorme quantitativo de imigrantes que haviam entrado no país naquela época. Alguns sociólogos afirmaram que essa urbanização veloz e a formação de uma metrópole industrial era a causadora de uma “desorganização urbana” e de problemas sociais. William Thomas e Znaniecki desenvolveram uma pesquisa inovadora, com técnicas ainda não usadas na sociologia, para mensurar o impacto da urbanização sobre os homens e o trajeto dos que saíam do campo para se “aventurar” nas cidades. Posteriormente, estenderam esse trabalho até analisar a rotina em cortiços e a vida de prostitutas, músicos de jazz e outros grupos marginalizados. Mesmo sendo consolidada como ciência, a sociologia ainda encontrava limitações. Por exemplo, na Alemanha ainda havia uma forte influência para neutralizar a influência desta disciplina no meio acadêmico. Além disso, também foram produzidas algumas obras com um empirismo pouco revelador, basicamente fundado em teoria e sem nenhuma relevância prática para a sociologia, até mesmo, com conceitos arbitrários e artificiais. O século XX foi uma época conturbada para a sociologia. O início da época foi de grande expansão imperialista, levando a sociologia a campos ainda inexplorados, entretanto, nos meados do século, com a eclosão das duas guerras mundiais, o mundo voltou a criar cercas. Os regimes totalitários e o medo de invasões criou um clima de perseguição de intelectuais e pensadores, especialmente aqueles que criticavam as medidas estatais. Em resposta à isso, esses cientistas se refugiaram na Inglaterra e, demasiadamente, nos Estados Unidos e, por isso, as obras da sociologia passaram a se preocupar com as questões de bem-estar social já existentes nesses locais. A emergência dos EUA como potencia capitalista após as guerras conferiu à sociologia um status de conservadora da ordem existente. Nesse sentido, a ciência da sociologia dedicou-se, ao longo dos anos cinquenta, à combater e frear a expansão socialista. Dentro das universidades, as pesquisas e projetos eram voltados ao combate das ideias revolucionárias e na criação de uma política conservadora, que preservasse o capitalismo e resguardasse os EUA das ameaças externas. Além dos projetos internos, a sociologia também serviu para regular o plano político, econômico e cultural, sendo assim, ela fazia com que tudo girasse em torno dos interesses do Estado. Mais tarde, George Lundberg retomaria a tese positivista afirmando que esta seria mais eficaz ao sistema do que a metodologia empírica, que se encontrava em grandes divergências técnicas no meio acadêmico. Ou seja, houve uma forte ruptura entre o estilo já tradicional dos grandes pensadores sociais e o mundo moderno. Tudo isso levou a afirmação da sociologia enquanto ciência conservadora, dedicada a proteger o capitalismo e combater as ideias marxistas, e adiante, voltava a pensar nas soluções para os problemas do mundo. Nesse contexto, também, se firma o sociólogo como profissional como outro qualquer empenhados na conservação da ordem em escala mundial. Em via de regra, a universidade perde um pouco do estigma de diante do Estado e das instituições de poder e se vincula à elas para promover um bem comum. O profissional, por sua vez, se torna um assalariado intelectual e seu trabalho é domesticado. O método funcionalista adotado se preocupa com as condições de funcionamento dos sistemas sociais. Robert Mertom, dizia que o excesso de funcionalismo deixava a sociedade abusiva, sem realmente acreditar quem toda instituição cultural ou social contribuía de forma positiva para o alinhamento da sociedade. Mas, essas ideias não se opunham a ordem conservadora vigente, ao entender que não entraria em questão a validade da ordem estabelecida, sempre sendo guiada para o aperfeiçoamento e não para a extinção. “Em grande medida, a função do sociólogo de nossos dias é liberar sua ciência do aprisionamento que o poder burguês lhe impôs e transformar a sociologia em um instrumento de transformação social. Para isso deve coloca-la ao lado –sem paternalismo e naguardismo – dos interesses daqueles que se encontram expropriados material e culturalmente, para junto deles construir uma sociedade mais justa e mais igualitária do que a presente.” (MARTINS, 1994, p. 50) Ao fim deste trabalho, nota-se que a sociologia está intimamente ligada às questões econômicas, até mais, talvez, do que à questões humanas e históricas. Nota-se o grande conflito dentro da própria disciplina entre o positivismo e o marxismo e até mesmo a indagação do pertencimento destas duas correntes dentro do movimento. Entende-se, porquanto, a sociologia como um instrumento de estudo e avaliação social que tem inúmeras facetas e meios de realizá-la. Pensadores citados: Marcel Mãuss, Levy Bruhl, Maurice Halbwachs, Sombart, Durkheim, Max Weber, Marc Bloch, Henri Pirenne, Max Scheller, Karl Mannhein, Pareto, Von Wiese, Roos, William Thomas, Robert Park, Znaniecki, George Lundberg, Roberto Mertom.
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