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ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA - AVALIAÇÃO 1

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Disciplina: DIREITO CONSTITUCIONAL II (ORGANIZAÇÃO DO ESTADO)
Professor: DANIEL RICARDO STARKE
AV1 – 2º semestre do ano de 2020
Matrícula: 2536050
Turma: DIR-354
Acadêmico: CÁSSIO FERRO ROMANO
QUESTÃO 01 (PESO 10,0): Em análise da decisão disponibilizada como anexo a este exercício, bem como das demais peças processuais que envolvem o mandado de segurança nº 5010030-68.2020.8.24.0000 que tramita junto ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, responda aos seguintes questionamentos:
1 – A título inicial em seu trabalho, faça um breve e sintético resumo fático do caso concreto discutido nos autos, apontando as principais celeumas postas a julgamento.
A Federação das Cooperativas de Energia do Estado de Santa Catarina, representando as cooperativas de eletrificação do Estado, impetrou mandado de segurança coletivo contra ato praticado pelo Governador do Estado, Carlos Moisés da Silva. 
O ato em questão é a sanção da Lei Estadual nº 17.933/2020, a qual, em suma, proíbe a interrupção do serviço e a cobrança regular das faturas. Segundo a impetrante, a lei implica na alteração dos contratos de permissão firmados entre a União e as cooperativas associadas a ela, comprometendo a continuidade do serviço público de distribuição de energia elétrica prestado pelas cooperativas, haja vista que, os contratos de permissão são comutativos, as cooperativas arcam com custos relevantes com a compra de energia, a manutenção e operação de suas infraestruturas, que dependem das receitas obtidas mensalmente. 
Em razão da pandemia do Covid-19, a inadimplência dos cooperados tem aumentado consideravelmente e, nesse sentido, o corte de energia seria o meio utilizado para refrear o inadimplemento dos usuários. No entanto, a Lei Estadual nº 17.933/2020 impossibilita os cortes, comprometendo assim, o fluxo de caixa e a capacidade das cooperativas de honrarem suas obrigações.
Como uma alternativa para minimizar os impactos da crise em comento, as cooperativas associadas à impetrante pediram auxílio ao Governo do Estado em março de 2020, com o adiamento do recolhimento do ICMS ou não recolhimento sobre os usuários inadimplentes, no entanto, recebeu uma resposta negativa. 
Felizmente, a ANEEL editou a Resolução nº 878/2020, que proíbe o corte de energia relacionado a serviços e atividades essenciais, também onde se localizem pessoas usuárias de equipamentos de autonomia limitada e aos usuários residenciais de baixa renda e rural. Segundo a impetrante, esta resolução atende a realidade da população brasileira, sem desprezar a comutatividade das delegações dos serviços de distribuição de energia elétrica e com o cuidado de não inviabilizar a sua continuidade. 
Desta forma, as medidas concretas da Lei Estadual nº 17.933/2020 são inconstitucionais porque o Estado não reúne competência para legislar sobre serviço de distribuição de energia elétrica nem para alterar contrato firmado pela União e que a Resolução nº 878/2020 regulou de forma técnica.
Por fim, a impetrante requer que o Governador do Estado se abstenha de praticar o ato que impossibilita a cobrança regular das faturas de energia elétrica e a realização de suspensão de fornecimento de energia elétrica, sobrestando em relação às cooperativas associadas à Impetrante as medidas concretas estabelecidas pelos artigos 1º e 2º da Lei Estadual nº 17.933/2020 até o julgamento definitivo do mandado de segurança.
2 – No contexto da fundamentação esboçada na decisão, identifique quais os textos legais constitucionais utilizados pelo julgador para dizer o direito aplicável ao caso concreto, apontando-os de forma clara em relação ao mérito discutido.
O julgador citou o fundamento legal do mandado de segurança constante na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (artigo 5º, LXIX). Assim como, os dispositivos constitucionais que regulamentam a competência privativa da União para legislar sobre energia elétrica e para definir os termos da exploração do serviço e seu fornecimento (artigo 21, XII, “b”; 22, IV e 175 da CRFB/1988). O que, segundo o julgador, não se confunde com a competência concorrente do Estado para legislar sobre consumo, citando assim, o artigo 24, V e VIII da CRFB/1988. Ao final, ainda é citado o artigo 97 da Carta Magna.
3 – Na qualidade de aplicador da ciência jurídica e diante da análise de todos os argumentos apresentados pelas partes, decida o mérito da questão versada nos autos, qual seja, proferindo a sentença final do mandado de segurança em questão.
RELATÓRIO
[...]
FUNDAMENTAÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 determina a competência privativa da União para legislar sobre energia elétrica e para definir os termos da exploração do serviço e seu fornecimento no artigo 21, XII, “b”; 22, IV e 175 da CRFB/1988, respectivamente:
Art. 21. Compete à União:
[...]
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
[....]
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
[...]
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
Mediante a fundamentação legal retro citada, não há dúvida de que a competência para legislar sobre energia elétrica é privativa da União. Os Estados, os Municípios e o Distrito Federal devem observar o processo legislativo conforme dispõem os artigos 59 e seguintes presentes na Seção VII – Do Processo Legislativo da CRFB/1988, ou seja, os entes federados não podem alterar, substancialmente, o processo legislativo previsto no texto constitucional. Cabendo a ANEEL a definição do controle dos preços e das tarifas, assim como homologar seus valores iniciais, os reajustes e as revisões, conforme dispôs o artigo 175 da CRFB/1988. 
A competência da ANEEL ainda encontra fundamento legal no artigo 3º, IV da Lei nº 9.427/1996:
Art. 3º Além das atribuições previstas nos incisos II, III, V, VI, VII, X, XI e XII do art. 29 e no art. 30 da Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, de outras incumbências expressamente previstas em lei e observado o disposto no § 1º, compete à ANEEL:
[...]
IV - gerir os contratos de concessão ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica, de concessão de uso de bem público, bem como fiscalizar, diretamente ou mediante convênios com órgãos estaduais, as concessões, as permissões e a prestação dos serviços de energia elétrica; 
Com efeito, em razão da competência que lhe foi atribuída, a ANEEL, expediu corretamente a Resolução Normativa nº 878/2020, a qual, de forma técnica, proíbe o corte de energia relacionado a serviços e atividades essenciais, também onde se localizem pessoas usuárias de equipamentos de autonomia limitada e aos usuários residenciais de baixa renda e rural. O que vai ao encontro da realidade da população, sem desprezar a comutatividade das delegações dos serviços de distribuição de energia elétrica e com o cuidado de não inviabilizar a sua continuidade.
Com base no escopo legal citado na presente decisão, fica claro que o Governador do Estado, Carlos Moisés da Silva, ao sancionar a Lei Estadual nº 17.933/2020, extrapolou a competência legislativa do Estado: o Estado não é competente para legislar sobre energia elétrica, competência que é privativa da União.
DISPOSITIVO
Antes o exposto, torno definitiva a liminar, na forma do inciso I do artigo 487 do Código de Processo Civil, concedo a segurançapara assegurar o direito líquido e certo das cooperativas associadas à Impetrante e determinar que a autoridade coatora se abstenha de praticar ato que imponha obstáculo à cobrança regular das faturas de energia elétrica e a realização de suspensão de fornecimento de energia elétrica em razão do não pagamento das respectivas faturas, desde que sempre com o cumprimento das normas regulamentares, especialmente das condicionantes prescritas na Resolução nº 878/2020 da ANEEL, com a declaração incidental de inconstitucionalidade das medidas concretas estabelecidas pelos artigos 1º e 2º da Lei Estadual nº 17.933/2020, nos termos da fundamentação.
Sem honorários (Lei 12.016/09, art. 25). 
Eventuais custas remanescentes pela parte impetrada, que também, mediante a pessoa jurídica à qual pertence, deverá restituir aquelas adiantadas pela impetrante, corrigidas pelo IPCA-E desde o desembolso.
Sentença registrada e publicada eletronicamente. Intimem-se.
Sentença não sujeita a reexame necessário (Lei 12.016/09, art. 14, § 1º).
Havendo recurso, cumpra a Secretaria o disposto no artigo 1.010 e parágrafos do Código de Processo Civil, remetendo-se, em seguida, os autos à instância superior, com nossas homenagens.

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