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Direito Coletivo do Trabalho Direito Coletivo e Direito Sindical Os autores que adotam a denominação “Direito Sindical” afirmam ser o sindicato a figura de maior destaque neste ramo do direito. Relações coletiva de trabalho não se restringem ao sindicato, assim parte da doutrina adota a expressão “Direito Coletivo do Trabalho”. Natureza jurídica e autonomia Direito Coletivo do Trabalho possui autonomia em relação aos demais ramos do direito, inclusive Direito do Trabalho (minoritaria). O Direito do Trabalho, como ramo dotado de autonomia científica, possui como um de seus setores o Direito Coletivo do Trabalho, com peculiaridades próprias, mas sem se desvincular do Direito do Trabalho. a) Não há autonomia jurisdicional, pois a Justiça do Trabalho decide tanto controvérsias envolvendo Direito Individual do Trabalho, quanto Direito Coletivo do Trabalho. b) a natureza jurídica do Direito Coletivo do Trabalho é de segmento ou setor do Direito do Trabalho, o qual possui autonomia científica. Conceito O Direito Coletivo do Trabalho pode ser conceituado como segmento do Direito do Trabalho que regula a organização sindical, a negociação coletiva e os instrumentos normativos decorrentes, a representação dos trabalhadores na empresa e a greve. (G.F.Barbosa). Para Maurício Godinho Delgado: Direito Coletivo do Trabalho é o conjunto de regras, princípios e institutos regulatórios das relações entre os seres coletivos trabalhistas: de um lado, os obreiros, representados pelas entidades sindicais, e, de outro, os seres coletivos empresariais, atuando quer isoladamente, quer através de seus sindicatos”, identificando, desde logo, os sindicatos e os próprios empregadores como sujeitos. (Adalberto Martins). ORIGEM E EVOLUÇÃO O Direito Coletivo do Trabalho surgiu após a Revolução Industrial do século XVIII; Desaparecimento das corporações de ofício; Surgimento da “chamada questão social”; É possível identificar três fases distintas do Direito Coletivo do Trabalho: a- a fase da proibição; b- a fase da tolerância; c- a fase do reconhecimento. Fase da proibição: França, por força da Lei Le Chapelier, de 1791, que proibia a coalização de trabalhadores; Revolução Francesa (1789); Código Penal de Napoleão (1810) que tipificou como crime a associação de trabalhadores, o que inviabilizava a organização sindical. Fase de tolerância: início no ano de 1824, na Grã-Bretanha, quando foram revogadas as leis que proibiam as associações de trabalhadores (seguido por outros países europeus e Estados Unidos da América). Fase de reconhecimento: Trade Unions Act (1871) na Inglaterra, Waldeck-Rousseau (1884) na França e ao Clayton Act (1914) nos Estados Unidos, à Constituição do México (1917) e à Constituição de Weimar, da Alemanha (1919), onde se verifica o reconhecimento do movimento sindical pelos Estados. Evolução no Brasil A Constituição imperial de 1824, no art. 179, inciso XXV, estabelecia a abolição das corporações de ofício. Instituições assistenciais: “Liga Operária de Socorros Mútuos”, “Liga de Resistência dos Trabalhadores em Madeira”, “Liga de Resistência das Costureiras”, no início do século XX. A Constituição 1891, art. 72, § 8º “A todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas; não podendo intervir a polícia senão para manter a ordem pública”. Em 1907 surge o primeiro sindicato urbano, que criou sociedades corporativas, facultando a qualquer trabalhador, inclusive de profissões liberais, a associação a sindicatos, com objetivos de estudo e defesa dos interesses da sua profissão e de seus membros. O Decreto 19.770 de 19 de março de 1931, conhecido como a “Lei dos Sindicatos”, estabeleceu a distinção entre sindicato de empregados e sindicato de empregadores, exigindo o reconhecimento do Ministério do Trabalho para aquisição de personalidade jurídica, bem como instituiu o sindicato único para cada profissão da mesma região. A Constituição de 1937, seguindo o regime corporativista, previa no art. 138: “A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o sindicato regulamente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria de produção para que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de Poder Público”. PRINCÍPIOS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO princípios próprios. 1- Liberdade sindical: a) veda a intervenção do Estado na criação ou funcionamento do sindicato; b) liberdade de fundação, organização, filiação, administração e atuação dos entes sindicais; A liberdade sindical é regulada pela Convenção 87 da OIT, embora ainda não ratificada pelo Brasil. Autonomia coletiva privada Trata-se do poder de que são titulares os atores sociais, inseridos nas relações coletivas, possibilitando a criação de normas que regulem os conflitos laborais, ao mesmos tempo em que estabelecem condições de trabalho (Gustavo Felipe Barbosa Garcia in Curso de Direito do Trabalho). O direito positivo não é de responsabilidade exclusiva do Estado. Os sindicatos negociam com a finalidade de criarem, alterarem ou suprimirem direitos trabalhistas normalmente de caráter privado, que irão vincular as partes atingidas pelo convênio resultante da negociação coletiva. (Vólia Bomfim Cassar in Direito do Trabalho). 3- Princípio da adequação setorial negociada Indica as possibilidades e os limites que devem ser observados pelas normas coletivas, decorrentes de negociação coletiva de trabalho. Referidos instrumentos coletivos podem estabelecer direitos mais benéficos aos empregados, conforme os princípio da norma mais favorável, adotado pelo art. 7º, caput, da Constituição Federal. O objetivo da negociação coletiva é o de adequar as relações trabalhistas à realidade enfrentada pelos interessados, que e modifica a cada dia, a depender da base territorial, empresa e época. Busca a harmonia temporária dos interesses antagônicos. O grupo deve avaliar, em cada caso, o quanto aquela coletividade deve ceder para não perder seus empregos ou ganhos de forma coletiva. As normas coletivas que atuam na relação trabalhista devam garantir equilíbrio entre empregador e empregado e salvaguardar garantias e direitos mínimos do trabalhador nas relações empregatícias. Art. 611 – A, § 2º da CLT: “A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio jurídico.” Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I - pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais; II - banco de horas anual; III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; IV - adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei n° 13.189, de 19 de novembro de 2015; V - plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; VI - regulamento empresarial; VII - representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII - teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente; IX - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X - modalidade de registro de jornada de trabalho; XI - troca do dia de feriado; XII - enquadramento do grau de insalubridade; XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho;XIV - prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XV - participação nos lucros ou resultados da empresa. XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XIV - prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XV - participação nos lucros ou resultados da empresa. O art. 611 – B limita o poder de negociação. Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: I - normas de identificação profissional, inclusive as anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; III - valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); IV - salário mínimo; V -valor nominal do décimo terceiro salário; VI - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; VII - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; VIII - salário-família; IX - repouso semanal remunerado; X - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% (cinquenta por cento) à do normal; XI - número de dias de férias devidas ao empregado; XII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XIII - licença-maternidade com a duração mínima de cento e vinte dias; XIV - licença-paternidade nos termos fixados em lei; XV - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XVI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; XVII - normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho; XVIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas; XIX - aposentadoria; XX - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador; XXI - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; XXII - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência; XXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; XXIV - medidas de proteção legal de crianças e adolescentes; XXV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso; XXVI - liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho; XXVII - direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender; XXVIII - definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e disposições legais sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em caso de greve; XXIX - tributos e outros créditos de terceiros; XXX - as disposições previstas nos arts. 373-A, 390, 392, 392-A, 394, 394-A, 395, 396 e 400 desta Consolidação. Parágrafo único. Regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste artigo. Princípio da preponderância do interesse coletivo sobre o individual O interesse da maioria prevalece sobre o interesse da minoria. princípio da solidariedade social da coletividade conjugado com o da democracia interna, pois a solução é tomada no interesse do grupo de acordo como que lhe for, naquele momento melhor. A solução tomada em nome da coletividade e seus efeitos poderão repercutir no campo social, econômico e político do país. A negociação não se preocupa com o indivíduo e sim com a coletividade. Princípio da boa-fé entre os negociantes Os sindicatos devem agir no interesse da categoria e não no interesse próprio. O direito à informação deve ser garantido aos negociantes, para que os trabalhadores tenham a exata noção da contabilidade da empresa e os empregadores, dos reais problemas enfrentados pelos empregados. Princípio da intervenção obrigatória dos sindicatos Para a validade da negociação coletiva a lei (art. 8, III e VI da Constituição Federal c/c art. 611 da CLT) exige a intervenção obrigatória dos sindicatos, salvo rara exceções como nos casos de ausência de sindicato da categoria ou recursa nas negociações. ORGANIZAÇÃO SINDICAL NA CF DE 1988 A organização sindical estabelecida na Constituição Federal DE 1988 adota o princípio da liberdade sindical, com certas restrições. Art. 8º, inc. I da Constituição Federal: veda e interferência e intervenção do Estado na organização sindical. Art. 8º, inc. V da Constituição Federal: ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato. Sistema da unicidade sindical, art. 8º, inciso II: e vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa da categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores e empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um município. O sistema sindical é organizados em categorias, o que não afasta a presença de categorias diferenciadas (art. 511, § 3º da CLT). Art. 7º, inciso XXVI da Constituição Federal prevê o direito ao “reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho”. O art. 8º, inciso VI prevê a obrigatória participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho O art. 8º, inciso VIII : “é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro de sua candidatura a cargo de direção ou representação sindical e se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.” UNICIDADE SINDICAL e PLURALIDADE SINDICAL Unicidade sindical Sistema no qual a lei exige que apenas um ente sindical seja representativo de determinada categoria, em certo espaço territorial. Conceito de Wilson de Campos Batalha: “a unicidade sindical implica na existência de uma única entidade representativa da mesma categoria em determinada base territorial. Vantagem: possibilidade de união maciça de vontades e a maior coalizão e solidez dos interessados, tanto na tomada de deliberações como na colocação de reivindicações perante a categoria contraposta. Desvantagem: artificialismo da vontade dos atores sociais interessados, porquanto imposta por lei; o cerceamento do direito de liberdade na constituição de sindicatos, não restando opções para a criação de nova organização sindical; intervencionismo exacerbado por parte do Estado. Pluralidade sindical facultada a criação, simultânea ou não, numa mesma base territorial, de mais de um sindicato representativo de trabalhadores ou de empresários da mesma profissão. Desvantagem: dispersão da força do sindicato dificultando a ação eficaz e conjunta dos membros do grupo ou da categoria especialmente a profissional. O sistema brasileiro, ainda que seja de unicidade sindical, admite o desmembramento ou dissociação da categoria, dando origem a categoria específicas, seja quanto à atividade econômica, seja quanto à área territorial de atuação.Fim! Obrigada!
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