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Objetivos Reconhecer a história, teologia e celebração do tempo • da manifestação (Advento, Natal e Epifania), o tempo comum e o santoral. Identificar as diferenças e semelhanças dos vários • aspectos do mistério de Cristo, celebrados nesses tempos litúrgicos e no santoral. Analisar e compreender o sentido das celebrações das festas • do Senhor, de Maria e dos Santos ao longo do Ano Litúrgico. Conteúdos Tempo da manifestação: o Natal – origem, teologia e • celebração. Tempo da manifestação: a Epifania – origem, teologia e • celebração. Tempo da manifestação: o Advento – origem, teologia e • celebração. Tempo comum – origem, estrutura e celebração do • mistério de Cristo na sua totalidade. Santoral: as festas do Senhor durante o Ano Litúrgico.• Santoral: Maria na celebração do mistério de Cristo – • origem, teologia e celebração. Santoral: o culto aos Santos – origem, teologia e • celebração. TEMPO DA MANIFESTAÇÃO: ADVENTO, NATAL E EPIFANIA, TEMPO COMUM E SANTORAL U N ID A D E 3 CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais34 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Após o estudo do tempo pascal, o qual pela celebração do mistério da morte e ressurreição de Cristo representa o ápice do Ano Litúrgico, convidamos você a estudar nesta unidade o tempo da manifestação: Advento, Natal, Epifania, que constitui um segundo núcleo celebrativo no Ano Litúrgico. Além disso, será objeto de análise, nesta unidade, o tempo comum formado por 33 ou 34 semanas, durante o qual não se celebra um aspecto particular do mistério de Cristo, como acontece no tempo pascal ou no tempo da manifestação, mas sim a sua globalidade. Por fim, nesta unidade, entraremos em contato com o santoral, o qual envolve as celebrações das festas do Senhor durante o ano, bem como o culto aos santos e o culto mariano, que apresentam uma estrutura específica com suas festas distribuídas ao longo do Ano Litúrgico. Bom estudo! 2 TEMPO DA MANIFESTAÇÃO A Igreja primitiva possuía uma única festa, a Páscoa, a qual era celebrada nas suas duas expressões: semanal (o domingo – desde as origens); a) anual (a Páscoa – a partir do século 2º). b) Sucessivamente, no século 4º apareceram as festividades que celebravam a encarnação-vinda-manifestação do filho de Deus entre os homens. Essas festas são: o a) Natal, celebrado em 25 de dezembro e que nasce no ocidente. a b) Epifania, celebrada em 6 de janeiro e que é própria do oriente. Ambas podem ser consideradas uma aculturação de festas pagãs da luz e do sol, celebradas no solstício1 de inverno. Posteriormente, tais festas assumiram um caráter de sacramento (memorial) da redenção celebrada na Páscoa, da qual a encarnação do verbo é premissa e antecipação. Segundo Chupungco: A aculturação pode ser descrita como um processo graças ao qual elementos que sejam compatíveis com a liturgia romana possam ser incorporados nela, ou como substituição ou como ilustração de elementos eucológicos e rituais próprios do rito romano. É necessário que os elementos culturais, para serem aceitos, possuam uma conaturalidade que os torne aptos a exprimir o significado dos elementos romanos que eles vão substituir ou ilustrar. Tais elementos culturais, aliás, devem ser submetidos ao processo de purificação, graças ao qual adquirem significado cristão. O processo consiste em revalorizá- los e reinterpretá-los à luz do mistério cristão, impondo-lhes, como fez a praxe patrística, uma tipologia bíblica (CHUPUNGCO, 1992, p. 9). ATENÇÃO! Ao estudar esta unidade, sugerimos que tente se concentrar o máximo que conseguir. Evite receber visitas, atender telefonemas, ouvir conversas paralelas ou músicas barulhentas etc. Procure eliminar as causas externas de perturbação, pois desse modo poderá reduzir eventuais dificuldades internas de concentração. Pense nisso... (1) Solstício: época do ano em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral e durante a qual cessa de afastar- se do Equador (DICIONÁRIO AURÉLIO). As horas de luz se prolongam durante o dia, o que simboliza para essas festas pagãs a vitória do Sol, da luz sobre as trevas. Bacharelado em Teologia © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas • • • CRC Batatais – Claretiano 35 UNIDADE 3 Por meio desse processo, pode ser explicada a passagem de vários ritos judaicos e pagãos para a liturgia cristã: as festas judaicas da Páscoa e Pentecostes, o batismo, a imposição das mãos, a unção do enfermos etc. Natal A celebração do Natal A festa do Natal apareceu mencionada pela primeira vez no Cronográfo Filocaliano do ano 354 (de Furio Dionisio Filocalo). Esse primeiro calendário romano (espécie de almanaque de luxo) apresenta duas listas de sepulturas locais (igreja particular de Roma): a Depositio martyrum e a Depositio2 episcoporum, que são dois elencos distintos de memórias, respectivamente de mártires e bispos. No início da Depositio martyrum aparece o registro: VIII Kal (endas) Ian (uarii) natus Christus in Bethleem Iudae3, ou seja, a memória do nascimento humano de Jesus Cristo. Além disso, de acordo com Santo Agostinho sabe-se que, como em Roma, o Natal era celebrado também na África, na mesma data. Há documentos que atestam sua celebração na Espanha e depois em Constantinopla, como festa distinta de Epifania. O surgimento da festa do Natal deve-se à cristianização da festa pagã do Sol, pois para os cristãos, o sol era um sinal alusivo do messias, e este dia solene podia evocar sua memória. A data e o lugar (25 de dezembro e Roma) explicitam a preocupação de opor a festa cristã àquela do Sol Invictus, resquício do paganismo. Uma festa do Natale Christi4, no dia do Natalis Solis Invicti5, procurava mostrar que o messias é o “sol de justiça” (Ml 4,2), a “luz do mundo” (Jo 8,12) ao qual se deve adorar e seguir. No momento em que se celebrava o nascimento astronômico do sol, era apresentado aos cristãos o nascimento do verdadeiro sol, Cristo, que apareceu no mundo depois da longa noite do pecado. Essa origem, ao mesmo tempo ideológica e apostólica, de caráter bem diverso da celebração pascal, ligada aos grandes eventos da redenção, explica como o Natal pertencia ao calendário solar e, portanto, como festa fixa, diferentemente da Páscoa, que é móvel, porque ligada ao calendário hebraica, que é lunar (BERGAMINI, 1994, p. 196-197). Um segundo motivo que contribuiu para a instauração da festa do Natal foram as grandes heresias cristológicas dos séculos 4º e 5º, sobretudo as de Ario, Nestório e Eutiques. Tais heresias, de uma forma ou de outra, negavam a divindade consubstancial da pessoa do Verbo ou confundiam e misturavam as duas naturezas, a humana e a divina, anulando assim a realidade teândrica6 de Cristo, Homem-Deus. Desse modo, o mistério da encarnação perdia sua importância e, por seu turno, o valor da obra redentora de Cristo. O dogma cristológico foi reafirmado pelos grandes concílios ecumênicos de Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451), os quais confutaram essas heresias. A instituição do Natal no Ocidente e da Epifania no Oriente, com sua rápida difusão, serviu para afirmar a ortodoxia da fé nesses pontos fundamentais do cristianismo. (2) Depositio: deposição, ou seja, o dia em que alguém foi sepultado. (3) Octavas Kalendas Januarri natus Christus in Bethleem Iudae: na oitava (oito dias) das Calendas de Janeiro, nasceu Jesus Cristo em Belém da Judéia. (4) Natale Christi: Natal=nascimento de Cristo. (5) Natalis Solis Invicti: Natal do Sol Invencível. INFORMAÇÃO: Nesse processo de aculturação da festa do Sol Invencível, ocorreu uma mudança no sentido que os cristãos davam ao termo Natal. De fato, até então, usavam o termo Natal para indicar o dia da morte de uma pessoa (Dies Natalis), pois este era o dia de seu verdadeiro nascimento para Deus. Com a instauraçãoda festa do Natal, o termo passou a significar também o nascimento na carne. INFORMAÇÃO: A data do Natal, 25 de dezembro, foi escolhida a partir dos cômputos astronômicos, os quais calculavam o solstício de inverno e a festa do Sol. Além disso os cômputos, também, calculavam a possível data do nascimento de Jesus, partindo da data de sua morte, que segundo alguns aconteceu no mesmo mês de sua encarnação (25 de março) e, assim, seu nascimento seria 25 de dezembro. Outros calculavam a partir do solstício de verão (24 de junho) e a ligavam à festa do nascimento de João Batista. O que é certo é que não se sabe a data do nascimento de Jesus. (6) Teândrica: de Theos = Deus e Andros = Homem, ou seja, homem-deus. CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais36 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 Celebração da Epifania O surgimento da Teophania7, nome original helenístico, tal qual o Natal no ocidente, corresponde à cristianização de festas pagãs no solstício de inverno no oriente. No entanto, desde sua origem, essa festa privilegiava o conteúdo da “manifestação” do Messias Salvador no Jordão. No Egito e na Arábia, a solenidade do solstício de inverno, segundo cômputos diversos do calendário, caía no dia 6 de janeiro. Nesta região, o culto do Sol tinha raízes profundas e distantes. No Egito, país do sol, evocava o mito do parto virginal de Kore, que gera Aton, o deus sol. Nos anos 120-140, uma seita gnóstica tentou cristianizar esse mito, em conseqüência da união do Verbo com a humanidade Jesus (vista como hierogamia8), que ocorreu, segundo a seita, no batismo de Jesus no Jordão. Celebravam, no dia 6 de janeiro, não o nascimento de Jesus, mas o início de sua vida pública a partir de seu batismo, que é o momento que ele se manifesta como filho de Deus. Assim, a Igreja oriental, deixando de lado os conteúdos pagãos, começa a celebrar, em 6 de janeiro, a Teofania/Epifania, enfocando inicialmente a manifestação de Jesus como Filho de Deus em vários momentos de sua vida: o batismo no Jordão; a) a adoração dos magos; b) as bodas de Canác) . O Natal no ocidente, por sua vez, terá como conteúdo primeiro o nascimento de Jesus, ou seja, a encarnação do Verbo por meio de Maria. Somente no final do século 4º é que Roma acolheu a festa da Epifania e, posteriormente, o oriente passou a celebrar o Natal. Houve, desse modo, uma troca dessas tradições e modificação de seu conteúdo celebrativo, pois no ocidente o Natal era centrado no nascimento de Jesus e a Epifania na adoração dos magos (a manifestação de Cristo ao mundo). Natal – memória ou sacramento? Desde sua origem, a festa do Natal foi objeto de discussão entre os Padres da Igreja. Santo Agostinho, ao redor do ano 400, afirma que o Natal é uma celebração da memória (recordação) do nascimento de Jesus, mas que não representa um “mistério” e não é, portanto, um sacramento. A Páscoa é a única celebração sacramental. São Leão Magno, Papa, em seus sermões, por ocasião do Natal, aprofundou o conteúdo desta festa e afirmou que ele é um “mistério” – sacramentum natalis Christi ou nativitatis Dominicae sacramentum9. Ele tem em mente o mysterium salutis (o mistério da salvação), o qual se atualiza quando celebramos o Natal, pois entramos em contato com as primícias do sacramento pascal. O Natal é o início da redenção que se cumpre na morte-ressurreição de Cristo na Páscoa. Por isso, o Natal celebrava a humanidade como lugar da manifestação de Deus – o Verbo se faz homem para que o homem se torne divino. Tal teologia do Natal, defendida por Leão Magno, se conservou nos formulários eucológicos desta festa no Sacramentário Veronense e, depois se repetiu nos demais sacramentários, chegando até nossos dias. (7) Os termos Teofania e Epifania, em grego, indicam a vinda, a chegada, a manifestação e serão traduzidos para o latim como Adventus. Tal termo referia- se, por exemplo, ao cortejo de entrada do Imperador quando visitava uma cidade. Nesse caso, é vinda de Jesus. (8) Hierogamia: casamento sagrado. ATENÇÃO! Você pode encontrar maiores informações sobre o batismo de Jesus no Jordão em Mt 3, 13 – 17 e em paralelos sinóticos (durante o batismo de Jesus ouviu-se a voz de Deus): “Este é meu Filho, aquele me aprouve escolher”. INFORMAÇÃO: Esses três mistérios são citados nas Antífonas ao Cântico Evangélico da celebração da Liturgia das Horas deste dia. (9) Nativitatis Dominicae sacramentum: Sacramento do Natal de Cristo ou Sacramento da natividade do Senhor. ATENÇÃO! Amplie seus conhecimentos em relação aos sermões sobre o Natal de São Leão Magno (Papa), consultando a obra: LIMA, M. T., GOMES, C. F. (org.). Sermões sobre o natal e a epifania. São Leão Magno, Papa. Petrópolis: Vozes, 1974. (Fontes da catequese 9). Bacharelado em Teologia © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas • • • CRC Batatais – Claretiano 37 UNIDADE 3 Assim, tal qual a Páscoa, o Natal se tornou uma celebração mistérica, marcada pela sacramentalidade, a qual brota do mistério de Cristo. A imitação da Páscoa passou a contar com uma oitava e com um tempo de preparação (Advento), pois, tal qual na Vigília Pascal, os sacramentos da iniciação cristã começaram a ser celebrados no Natal. Celebração do Natal e Epifania hoje Em relação ao Natal e Epifania assim diz a NUALC: A Igreja nada considera mais venerável, após a celebração anual do mistério da Páscoa, do que comemorar o Natal do Senhor e suas primeiras manifestações, o que se realiza no Tempo do Natal (nº 32). A celebração desse tempo esta estruturada da seguinte maneira: Solenidade do Natal –a) são celebradas: a Missa da Vigília; • a Missa da Noite (conhecida como Missa do Galo); • a Missa da Aurora; • a Missa do Dia. • Em cada uma destas celebrações manifesta-se um aspecto do mistério da encarnação do Verbo. Oitava do natal –b) durante a oitava do Natal celebram-se as festas de: Santo Estevão, o primeiro mártir (25/12). • São João, apóstolo e evangelista (27/12).• Santos Inocentes (28/12). • No domingo, dentro da oitava do Natal, celebra-se a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José; no fechamento da oitava, a Solenidade de Maria, Mãe de Deus. Solenidade de Epifaniac) – está colocada no dia 6 de janeiro, mas no Brasil é celebrada no domingo entre os dias 2 e 8 de janeiro. Festa do Batismo de Jesusd) – é celebrada no domingo após a Epifania, mas no Brasil, como a Epifania cai no domingo, a festa do Batismo de Jesus acaba comemorada na segunda-feira após a Epifania, após o período que tem início no tempo comum. Quadro 1 Lecionário das missas do Natal. Missas Primeira Leitura Segunda Leitura Evangelho Vigília Is 61,1-5 At 13,16-17.22-25 Mt 1,1-25 (genealogia de Cristo) Da Noite Is 9,1-6 Tt 2,11-14 Lc 2,1-14 (o nascimento de Jesus) Da Aurora Is 62,11-12 Tt 3,4-7 Lc 2,15-20 (os pastores, Maria e o recém-nascido) Do Dia Is 52,7-10 Hb 1.1-6 Jo 1,1-18 (o Verbo se fez carne) Fonte: Acervo pessoal. ATENÇÃO! As obras referenciadas, a seguir, trazem informações que podem auxiliar na preparação da celebração do Natal: a) BOGAZ, Antonio Sagrado. Natal, festa de luz e de alegria: para animação litúrgico pastoral. São Paulo: Paulus, 1996. p. 150. (Ano litúrgico) b) BUYST, I. Preparando advento e natal. São Paulo: Paulinas, 2002. c) IRMÃO NERY. Natal: teologia, tradição, símbolos. Aparecida: Santuário, 2004; VOCÊ SABIA QUE... As três missas do Natal (Noite, Aurora e Dia) nasceram por razões pastorais da Igreja de Roma. Em Roma, o papa celebrava a comemoração do Natal com uma celebração à meia-noite na Basílica de Santa Maria Maior. Na manhã seguinte, celebrava a missa da mártir Santa Anastácia para a comunidade grega do Palatino e, depois, celebrava em São Pedro uma missa do Natal para as comunidades da periferia. Na Idade Média, os liturgistas da época viram nessas missas ocasião para celebrar uma espéciede missas devocionais do Natal. Atualmente, elas foram revistas para celebrarem numa unidade o mistério da encarnação do Verbo. CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais38 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 Vejamos alguns exemplos da eucologia dessas celebrações, nas quais encontramos a teologia do Natal proposta por Leão Magno: Dai-nos, ó Deus, celebrar com grande fervor esta Eucaristia que antecipa a solenidade do Natal, pois neste mistério vós nos mostrais o início da nossa salvação (Oração sobre as oferendas da Missa da Vigília). Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade (Oração do Dia – Missa do Dia). Ele, no mistério do Natal que celebramos, invisível em sua divindade, tornou- se visível em nossa carne. Gerado antes dos tempos, entrou na história da humanidade para erguer o mundo decaído. Restaurando a integridade do universo, introduziu no Reino dos Céus o homem redimido (Prefácio do Natal II) Por ele, realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá vida nova em plenitude. No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos (Prefácio do Natal III). Transparece nestes textos a teologia do Natal como sacramento da redenção, da qual é o início e a antecipação. Assim, pela encarnação do Verbo há uma nova criação, o homem se torna eterno. A humanidade é o lugar onde Deus se revela e por isso é preciso reconhecer a dignidade da pessoa humana, criada à imagem de Deus e redimida do pecado pela salvação que Cristo realizou. 3 ADVENTO A origem do Advento (de teophania e adventus – vinda, manifestação) ocorreu tardiamente na história da liturgia. Inicialmente, seus primórdios situaram-se na Espanha e na Gália, onde, entre o fim do século 4º e o início do século 5º, foi instaurado um tempo de catecumenato (à imitação da Quaresma) do dia 17 de dezembro a 5 de janeiro, em preparação à festa da Epifania, durante a qual seriam celebrados os sacramentos da iniciação cristã. Posteriormente, esse tempo se prolongou e assumiu um caráter ascético- penitencial recebendo o nome de Quaresma de São Martinho, pois começava no dia 11 de novembro, data da comemoração deste santo. Em Roma, o Advento apareceu somente na segunda metade do século 6º, ligado às Quatro Têmporas de dezembro. Os domingos colocados antes do Natal seriam destinados a fechar o Ano Litúrgico com a lembrança da segunda vinda de Jesus. Não houve em Roma um Advento ascético-penitencial como o Advento galicano, mas sim um Advento voltado para a vinda de Jesus. Celebração do Advento Vejamos o que diz o calendário litúrgico sobre o Advento: O Tempo do Advento possui uma dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa (NUALC nº 39). ATENÇÃO! É interessante que você consulte a seguinte obra: DUMAS, B. A. Natal, festa do homem: és tu aquele que há de vir? São Paulo: Paulinas, 1983. (Fé e vida). ATENÇÃO! Para aprofundar seus conhecimentos sobre a teologia e a espiritualidade da celebração do Natal, consulte as obras a seguir: a) BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico, São Paulo: Paulinas, 1994. p. 209–218. (Coleção liturgia e participação) b) BOFF, L. Natal: a humanidade e a jovialidade de nosso Deus. Petrópolis: Vozes, 1976. c) CANTALAMESSA, R. O mistério do natal. Aparecida: Santuário, 1993. d) GOEDERT, V. M. Nasceu o salvador: espiritualidade natalina. São Paulo: Paulinas, 2004. (Arte e Mensagem) e) RAVAGLIOLI, A. M.; Em clima de natal: refletir sobre o fato para vivenciar a festa. São Paulo: Paulinas, 1995. Bacharelado em Teologia © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas • • • CRC Batatais – Claretiano 39 UNIDADE 3 Tal número nos apresenta uma síntese de como o Advento é celebrado atualmente. Em primeiro lugar, o Advento não é um tempo penitencial como a Quaresma, ainda que tenha como conteúdo a vigilância e a expectativa diante da vinda de Jesus. O enfoque do Advento na vinda de Jesus se dá em duas direções: na sua segunda vinda na parusia, cujo tema transparece nas leituras e a) orações do 1º e do 2º Domingo do Advento; na sua primeira vinda, da qual será feita a memória no Natal, sendo que b) este conteúdo aparece nas leituras e orações do 3º e do 4º Domingo do Advento. Os dias que vão de 17 a 24 de dezembro possuem leituras e orações próprias para a preparação próxima ao Natal. Temos, assim, o Advento escatológico (referente à segunda vinda de Jesus) e o Advento natalício (referente à primeira vinda de Jesus). Alguns exemplos da eucologia sobre o advento escatológico e natalício: Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos (Oração do Dia – Primeiro Domingo do Advento). – tema é o advento escatológico. Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o natal do Senhor, daí chegarmos às alegrias da Salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia (Oração do Dia – Terceiro Domingo do Advento) – tema é o advento natalício. Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos (Prefácio do Advento I) – tema são as duas vindas de Jesus: o seu nascimento e a parusia. Predito por todos os profetas, esperado com amor de mãe pela Virgem Maria, Jesus foi anunciado e mostrado presente no mundo por São João Batista. O próprio Senhor nos dá a alegria de entrarmos agora no mistério do seu Natal, para que sua chegada nos encontre vigilantes na oração e celebrando os seus louvores (Prefácio do Advento II) – enfoca a primeira vinda de Jesus, mas também fala que à sua chegada (2ª vinda) devemos estar vigilantes. Segue um quadro com as leituras do tempo do Advento: VOCÊ SABIA QUE... Ainda hoje temos na liturgia do Advento resquícios de quando era visto como tempo penitencial: a cor roxa dos paramentos, a omissão do hino do Glória, a sobriedade nos enfeites do altar etc. INFORMAÇÃO: Os quatro domingos do Advento são representados simbolicamente na Coroa do Advento, a qual se usa como ornamento neste tempo em muitas comunidades. ATENÇÃO! Para aprofundar seus conhecimentos sobre o enfoque do advento na vinda de Jesus consulte a obra: BECKHAUSER, A. Símbolos do natal. Petrópolis: Vozes, 1992. 54 p. INFORMAÇÃO: Esses dias representam a “Novena do Natal” litúrgica e, a exemplo dela, são feitas nas comunidades as Novenas de Natal em várias modalidades. Assim, você pode compreender melhor a Novena de Natal com as obras: a) FAUS, F. Natal: reunião dos sorrisos: novena de natal. São Paulo: Quadrante, 2001. (Temas cristãos, n. 102); b) PEDRINI, A. J. Natal de Jesus, natal evangelizador: celebrações em forma de novena. São Paulo: Paulinas, 1997. ATENÇÃO! Para aprofundar seus conhecimentos sobre o advento escatológico e o Advento natalício, consulte as obras: a) BROWN, R. E. Um Cristo que vem no advento: ensaios sobre as narrativas evangélicas em preparação para o nascimento de Jesus (Mateus 1 e Lucas 1). SãoPaulo: Ave Maria, 1996. p. 88. b) RYAN, V. Do advento a epifania. São Paulo: Paulinas, 1992 (Espiritualidade litúrgica). INFORMAÇÃO: Esta oração faz referência ao discurso escatológico de Jesus em Mt 25, 31-46 – as boas obras (dar de comer, dar de beber...) feitas aos pequeninos e a separação entre bons e maus. CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais40 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 Quadro 2 Leituras do tempo do Advento. Ano A Ano B Ano C I Dom. Is 2,1-5 Rm 13,11-14 Mt 24,37-44 Is 63,16-17;64,1.3.8 1Cor 1,3-9 Mc 13,33-37 Jr 33,14-16 1Ts 3,12-4,2 Lc 21,25-28.34-36 II Dom. Is 11,1-10 Rm 15,4-9 Mt 3,1-12 Is 40,1-5.9-11 2Pd 3,8-14 Mc 1,1-8 Br 5,1-9 Fl 1,4-6.8-11 Lc 3,1-6 III Dom. Is 35,1-6.8.10 Tg 5,7-10 Mt 11,2-11 Is 61,1-2.10-11 1Ts 5,16-24 Jo 1.6-8.19-28 Sf 3,14-18 Fl 4,4-7 Lc 3,10-18 IV Dom. Is 7,10-14 Rm 1,1-7 Mt 1,18-24 2Sm 7,1-5.8-12.14.16 Rm 16,25-27 Lc 1,26-38 Mq 5,1-4 Hb 10,5-10 Lc 1,39-48 Fonte: BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. (Coleção liturgia e participação), p. 179. 4 TEMPO COMUM Além do tempo pascal e do tempo da manifestação, o Ano Litúrgico possui em sua estrutura o tempo comum, no qual, durante 33 ou 34 semanas, tem como finalidade celebrar o mistério de Cristo em sua totalidade. Além dos tempos que têm característica própria, restam no ciclo anual trinta e três ou trinta e quatro semanas nas quais não se celebra nenhum aspecto especial do mistério de Cristo; comemora-se nelas o próprio mistério de Cristo em sua plenitude, principalmente nos domingos. Este período é chamado Tempo comum. O Tempo comum começa na segunda-feira que segue ao domingo depois do dia 6 de janeiro e se estende até a terça-feira antes da Quaresma inclusive; recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes das Primeiras Vésperas do 1º Domingo do Advento (NUALC nº 43-44). O tempo comum, também chamado tempo ordinário, é um tempo novo dentro da estrutura do Ano Litúrgico, pois é fruto da reforma litúrgica do Vaticano II. Anteriormente, esse tempo dividia-se em duas partes: domingos depois da Epifania e domingos depois de Pentecostes. Aos domingos do tempo comum, como vimos na citação anterior, procure-se dar uma unidade – a celebração do mistério de Cristo em sua plenitude. Vale ressaltar que esse tempo foi estruturado com um ordenamento de leituras e eucologia que manifestassem tal conteúdo. A organização desse tempo obedece a três pedidos do Vaticano II: a revisão do Ano Litúrgico acomodando-o às circunstâncias de nosso tempo e a) colocando em destaque a centralidade do mistério pascal (SC 107); a necessidade de revalorizar o domingo e os ciclos b) de tempore10, acima do calendário santoral ou festas dos santos, das quais se manda fazer uma seleção para que não prevaleçam sobre a celebração dos mistérios da salvação (SC 106.108.111); ATENÇÃO! Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tempo comum, consulte as obras: a) AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração. Anámnesis 5. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 217–232. b) BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico, São Paulo: Paulinas, 1994. p. 415-426 (Coleção liturgia e participação). c) BOGAZ, A. S. Tempo comum e festas dos santos: tempo de crescer na fé e santificar para a animação litúrgico pastoral. São Paulo: Paulus, 1997, (Ano Litúrgico). d) BORTOLINI, J. Tempo comum: 40 perguntas e respostas. São Paulo: Paulus, 2006. (Por que Creio). ATENÇÃO! Uma descrição mais detalhada da história e desenvolvimento desse tempo litúrgico pode ser encontrada na obra: GAITAN, J. D. La celebración del tiempo ordinário. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 1994. (Biblioteca litúrgica 2). (10) De tempore: compreende os tempos pascal e da manifestação do Senhor. (10) De tempore: compreende os tempos pascal e da manifestação do Senhor. Bacharelado em Teologia © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas • • • CRC Batatais – Claretiano 41 UNIDADE 3 a ordem de que a palavra de Deus fosse oferecida com mais abundância c) aos fiéis, de modo especial na celebração da eucaristia, para que, em um período de anos a determinar, se leiam ao povo as partes mais significativas da Sagrada Escritura (SC 51). Assim, o tempo comum não é, de forma alguma, um tempo secundário em relação aos outros ciclos. Pelo contrário, possui como eles uma importância única: o caráter pascal de toda celebração dominical são sua estrutura interna mais a) importante; o tempo comum é a expressão da estrutura básica semanal da celebração b) da Páscoa do Senhor, ou seja, o domingo, que dá sentido e unidade a todo Ano Litúrgico. De seu seio foram brotando, posteriormente, as distintas celebrações mais específicas e particulares do mistério de Cristo. A estrutura do tempo comum, como tempo unitário da celebração do mistério de Cristo em sua plenitude, é nova, mas a sua idéia de fundo é muito antiga. De fato, na igreja dos primórdios, a estrutura fundamental originária do Ano Litúrgico é a celebração dominical (a páscoa semanal), para a qual foram se organizando esquemas de leituras e orações ao longo dos séculos. Cabe mencionar também a origem das celebrações diárias da eucaristia, as quais se organizam a partir de alguns dias que tinham significado especial: a quarta-feira e a sexta-feira, por serem dias estacionais (de jejum) com referência aos dias em que Jesus foi preso e, depois, morto. Esses dias de jejum eram encerrados com a eucaristia. O outro dia de destaque é o sábado, que também era dia de jejum e que recordava semanalmente o grande jejum pascal. Aos poucos, os demais dias da semana também passarão a ter celebrações eucarísticas, às quais se darão um sentido “litúrgico” próprio (de caráter devocional). Desse modo, todos os dias da semana contarão com a celebração eucarística. Celebração do tempo comum Para a celebração do tempo comum, o missal e a Liturgia das Horas possuem uma organização própria do lecionário e da eucologia. Eucologia O missal romano apresenta para o tempo comum uma série própria de orações para a missa: são 34 formulários que contam com orações do dia, orações sobre as oferendas e orações depois da comunhão para cada um dos domingos desse tempo, as quais se repetem durante a semana seguinte. Além disso, foi composta uma série de nove prefácios para os domingos do tempo comum, e mais seis prefácios comuns, para as celebrações durante a semana, nesse tempo quando não há prefácio próprio. Tais prefácios apresentam uma síntese da história da salvação, considerando que o mistério de Cristo possa ser celebrado em sua totalidade e possam ser agrupados, segundo o seu conteúdo em: cristológico-soteriológicos: I,II,III,IV e VII;a) cristológico-eclesiais: I,VII e IX;b) trinitário-eclesiais: VI,VIII;c) o mundo, obra de Deus e do homem: V;d) pascais: I, VI e IX.e) CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais42 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 Vejamos a seguir alguns exemplos da eucologia: Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso, por Cristo, vosso Filho, que, pelo mistério da sua Páscoa, realizou uma obra admirável. Por ele, vós nos chamastes das trevas à vossa luz incomparável, fazendo-nos passar do pecado e da morte à glória de sermos o vosso povo, sacerdócio régio e nação santa, para anunciar, por todo o mundo, as vossos maravilhas (Prefácio dos Domingos do Tempo comum I – O mistério pascal e o povo de Deus) Segundo a classificação anterior, vemos que o conteúdo deste prefácio enfatiza o tema cristológico-soteriológico (como Cristo nos salvou), otema cristológico-eclesial (a páscoa de Cristo é que congrega sua igreja) e o pascal (Cristo é nossa Páscoa). “Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas” (Oração do dia do 14º domingo comum). A citação anterior apresenta o tema da kénosis do Verbo, que se encarna e dá sua vida por nossa salvação e libertação dos pecados, na qual participamos pela eucaristia a cada domingo. Lecionário Para que a palavra de Deus fosse aberta a todos os fiéis, sobretudo nas celebrações litúrgicas, o tempo comum possui o lecionário, organizado segundo a tradição litúrgica da leitura semi-contínua e temática da sagrada escritura, com o seguinte resultado: Lecionário dominicala) : organizado em três ciclos: A (Mateus), B (Marcos) e C (Lucas), nos quais se lêem, respectivamente, de maneira semi-contínua os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Nesses ciclos, a primeira leitura será tirada do Antigo Testamento, de forma temática em relação ao tema do Evangelho do dia. O mesmo se dá com o salmo responsorial. A segunda leitura será tirada do Novo Testamento e será feita de maneira semi-continua, mas sem uma referência direta ao Evangelho do dia. Lecionário ferialb) : para as missas durante a semana, o lecionário apresenta dois ciclos: I e II, ou ímpar e par, os quais serão seguidos conforme o ano em que se está. Cada um dos ciclos trará os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, lidos de maneira semi-contínua. A primeira leitura seguirá, variando durante o ano, leituras semi-contínuas de livros do Antigo e Novo Testamento divididos em dois ciclos, de modo que ao longo de dois anos serão lidos duas vezes os Evangelhos sinóticos. Assim, se terá uma visão global dos livros bíblicos de ambos os testamentos. Observe, como exemplo, o esquema do ordenamento da segunda leitura e do Evangelho nos domingos do tempo comum: ATENÇÃO! Para ampliar seus conhecimentos, confira a Unidade 2 da disciplina Introdução à Liturgia. Bacharelado em Teologia © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas • • • CRC Batatais – Claretiano 43 UNIDADE 3 Quadro 3 Esquema do ordenamento da segunda leitura e do Evangelho nos domingos do tempo comum. Fonte: BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. p. 418. (Coleção liturgia e participação). Observe, agora, o ordenamento das leituras nos dias da semana do tempo comum: CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais44 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 Quadro 4 Ordenamento das leituras nos dias da semana do tempo comum. Fonte: BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. p. 420. (Coleção liturgia e participação). 5 SANTORAL Durante o Ano Litúrgico, celebra-se o mistério de Cristo, tanto na sua totalidade (tempo comum) como em seus aspectos especiais (tempo pascal e tempo da manifestação). Há, contudo, outra organização (ou esquema/ estrutura) ou ciclo celebrativo referente ao mistério pascal, centro do Ano Litúrgico, o qual recebe o nome de santoral. Este nome deriva do termo santo, considerando que esse ciclo envolve todas as festas do Senhor, de Maria e dos Santos que a liturgia celebra durante o Ano Litúrgico. Bacharelado em Teologia © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas • • • CRC Batatais – Claretiano 45 UNIDADE 3 Solenidades do Senhor Ainda que a liturgia considere “a existência histórica de Cristo na sua unidade e na sua dimensão oikonomica11, a saber, na sua tensão rumo ao evento pascal e em ordem à nossa salvação” (AUGÉ, 1991, p. 233), encontramos no calendário litúrgico uma série de celebrações referentes a Cristo e que não têm como objeto de celebração um aspecto particular do seu mistério, ou um conteúdo novo, particular, que já não esteja presente nas outras celebrações do Ano Litúrgico. Desse modo, as solenidades celebradas em datas móveis são: Santíssima Trindade. a) Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. b) Sacratíssimo Coração de Jesus e cristo. c) Rei do Universo. d) Já as festas fixas são: Apresentação do senhor (2 de fevereiro). a) Anunciação do senhor (25 de março). b) Transfiguração do senhor (6 de agosto). c) Exaltação da santa cruz (14 de setembro).d) Essas celebrações não são propriamente memoriais (mistéricas) e por isso são chamadas festas de “idéia” (ideológicas) ou de “devoção”. Por essa razão, nem sempre é fácil sua articulação dentro do Ano Litúrgico, ainda que a reforma do Vaticano II tenha- as revisto, dando-lhes novos textos bíblicos e eucológicos, o que, no entanto, não lhes modificou seu conteúdo essencial. Tais solenidades do Senhor surgiram na sua maioria ao redor do ano 1000 e são fruto de idéias devocionais fundadas na compreensão dogmática da época. São elas : Santíssima Trindadea) : sua celebração teve início ao redor do ano 800, após longa e contrastada pré-história, sendo introduzida no calendário litúrgico em 1334 pelo Papa João XXII. Essa solenidade traz como conteúdo o louvor, a adoração e a confissão da Trindade Divina. No entanto, a Trindade é considerada mais na sua imanência do que na sua economia de salvação, ou seja, enfatiza-se mais o aspecto do dogma trinitário do que o modo como o Pai, o Filho e o Espírito Santo se revelaram por sua ação ao longo da história da salvação, a qual culminou no mistério pascal. Apesar dos novos textos bíblicos e mudanças na eucologia, o seu conteúdo apóia-se numa concepção tradicional e devocional, ou seja, mantém-se conceitual e temática. Santíssimo Corpo e Sangue de Cristob) : esta solenidade, celebrada na quinta-feira depois do domingo da Santíssima Trindade, nasceu a partir do despertar da devoção eucarística, a qual se desenvolveu do século 12 em diante, acentuando particularmente a presença real de Cristo no sacramento — portanto, sua adoração. Ela foi prescrita para toda a igreja em 1264 por Urbano IV, após a forte influência de Juliana de Cornillon, monja de Liège, e suas visões. Vale ressaltar que essa festa acaba sendo uma duplicata, pois a eucaristia encontra seu significado no mistério pascal, do qual ela faz a memória. Tal celebração tem seu ponto alto a cada domingo e na solenidade da Páscoa anual. Os textos eucológicos espelham uma “impostação devocionalista e grande distância com respeito aos temas bíblicos e exigências celebrativas da eucaristia” (GONZALEZ, 2000, p. 189). (11) Oikonomica: quer dizer a História da Salvação, na qual Deus dispôs seus desígnios salvíficos, que tiveram na Páscoa de Cristo sua plena realização. ATENÇÃO! Amplie seus conhecimentos sobre as solenidades do Senhor, consulte as obras: a) AUGÉ, M. As festas do senhor, da mãe de Deus e dos santos. In: AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração. Anámnesis 5. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 233–238. b) BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. p. 427–438 (Coleção liturgia e participação). c) GONZALEZ, R. Outras festas do Senhor. In: BOROBIO, D. (org.). A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Edições Loyola, 2000. v. 3. p. 185–198. CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais46 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 O Sacratíssimo Coração de Jesusc) : esta solenidade brota da devoção ao Coração de Cristo crucificado, transpassado pela lança nascida na piedade dos séculos 12 e 13. Ela se propagou pela ação da devotio moderna (século 16), de São João Eudes e de Santa Margarida Maria Alacoque (século 17). O conteúdo desta festa é devocional, uma vez que não celebra particularmente um evento salvífico, mas enfatiza oCoração de Jesus como símbolo da revelação do amor de Deus, o que pode ser encontrado, sobretudo, na sua entrega na morte de cruz. Cristo, Rei do Universod) : esta solenidade tem origem muito recente. Ela foi instituída pelo papa Pio XI em 1925, por meio da encíclica Quas primas, na qual o pontífice declara que essa festividade deseja afirmar a soberana autoridade de Cristo sobre os homens, e sobre as instituições, diante dos progressos do laicismo na sociedade moderna. Como se vê, uma festa de cunho ideológico, uma vez que não celebra um mistério particular de Cristo, mas que, por razões apologéticas, faz com que seja colocado como oposição à modernidade. Na verdade, Cristo é o Senhor, mas seu soberano senhorio é celebrado a cada domingo (o dia do Senhor), quando se atualiza sua páscoa redentora, assim como está presente em outras festas do Ano Litúrgico, como Páscoa, Epifania e Ascensão. Maria na celebração do mistério de Cristo A igreja celebra os mistérios da redenção no decorrer do Ano Litúrgico, como temos visto até agora e, ao fazê-lo, venera os “santos” por sua participação no mistério de Jesus. Dentre os “santos” sobressai como primeira, pela sua comunhão e participação no mistério salvífico de Jesus, sua mãe Maria. Assim, ao venerar os “santos”, a igreja venera antes de tudo a memória de santa Maria, a virgem mãe de Deus. Nesta celebração anual dos mistérios de Cristo, a Santa Igreja venera com especial amor a Bem-aventurada Mãe de Deus Maria, que por um vínculo indissolúvel está unida à obra salvífica de seu Filho; nela admira e exalta o mais excelente fruto da Redenção e a contempla com alegria como uma puríssima imagem daquilo que ela mesma anseia e espera ser (SC 103). “No ciclo anual, a Igreja, celebrando o mistério de Cristo, venera também com particular amor a Santa Virgem Maria, Mãe de Deus, e propõe à piedade dos fiéis as memórias dos Mártires e outros Santos” (NUALC nº 8). Nota-se, nesses textos, o sentido teológico-litúrgico do culto mariano. Aliás, o próprio termo “culto” merece esclarecimento, pois, neste caso, ele só pode ser entendido em analogia ao culto devido a Deus. No caso de Maria e dos santos fala-se de veneração, pois a adoração cabe somente a Deus. Um pouco da história O sentido do culto mariano se expressa no reconhecimento de sua participação no mistério de Cristo e não em sua pessoa, considerada individualmente com suas características e virtudes. Ainda hoje os estudiosos não chegaram a um consenso em relação à origem oficial do culto mariano, mas reconhecem sua antiguidade e, sobretudo, o fato de que o “sensus fidelium”12 precedeu a instituição desse culto. Encontram-se já nos textos neotestamentários, e da antiga literatura cristã, citações em que Maria é considerada como uma testemunha privilegiada e ao mesmo tempo protagonista importante na economia da salvação (Lc 1, 38.46-55). ATENÇÃO! Entre os conceitos relacionados à Maria na celebração do ministério de Cristo, merecem destaque as seguintes referências, pelo seu conteúdo histórico, teológico- litúrgico e pastoral: a) BEINERT, W. (ed.). O culto à Maria hoje. São Paulo: Paulinas, 1979. (Coleção teologia hoje). b) MAGGIONI, C. Maria na igreja em oração: solenidades, festa e memórias marianas no ano litúrgico. São Paulo: Paulus, 1998. INFORMAÇÃO: Maria é vista como a mãe e a imagem da igreja. Para compreender um pouco mais você pode conferir todo o capítulo VIII da Constituição Dogmática Lumen Gentium: a bem-aventurada virgem Maria mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja (n. 52–69). Sobre o culto mariano em particular: LG 66 – 67. ATENÇÃO! Para aprofundar seus conhecimentos sobre o culto mariano, consulte as obras: a) AUGÉ, M. As festas do senhor, da mãe de Deus e dos santos. In: AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração. Anámnesis 5. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 239-259. b) BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. p. 447–479; (Coleção liturgia e participação). c) LLABRÉS, P. O culto a santa Maria, mãe de Deus. In: BOROBIO, D. (org.) A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 199–221. (12) Sensus fidelium: o senso (sentidos) dos fiéis – os fiéis desde o início reconheceram Maria como exemplo pela sua participação no mistério de Cristo. Bacharelado em Teologia © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas • • • CRC Batatais – Claretiano 47 UNIDADE 3 A presença de Maria pode ser encontrada na oração da Igreja antiga e no século 3º. Ela é citada na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma e no antigo Cânon Romano. Assim, merece destaque a oração Sub tuum praesidium (século 3º), considerada a mais antiga oração à Nossa Senhora, a qual já traz o conceito da Maternidade divina com o termo técnico Theotokos13. Outra remota oração é o hino litúrgico da igreja grega antiga, chamado Akáthistos14, o qual é uma longa composição poética que celebra o mistério da Mãe de Deus. O culto mariano se expressa nas festas em sua honra e quase todas as primeiras festividades mariana têm sua origem no oriente, de onde se propagam para o ocidente. Interessante notar que as primeiras festividades marianas surgem em Jerusalém (séculos 5º e 6º) como memória dos eventos bíblicos, e nos lugares que viram a presença de Maria. Em relação às origens do culto mariano, vale ressaltar que teve grande importância o Concílio de Éfeso, em 431, no qual se proclamou a maternidade divina de Maria. Logo em seguida, apareceu no oriente a celebração da memória de Santa Maria, em 15 de agosto, na qual se comemora a koimesis ou dormitio (dormição) de Maria, ou seja, o seu dies natalis15, que é celebrado de maneira análoga dos mártires e dos santos em geral. Na origem dessa e demais festas marianas estão presentes, na maioria das vezes, os escritos apócrifos que trazem as narrativas de vários acontecimentos da vida de Maria, de José, de Jesus etc. Desse modo, surgiram em seguida outras festas marianas: a natividade de Maria (8 de setembro), que marca o início do litúrgico a) bizantino; a apresentação de Maria no templo, b) a apresentação do Senhor, na qual a presença de Maria se destaca e que hoje c) é celebrada em 2 de fevereiro; a anunciação do Senhor, que possui estreita relação com o Natal.d) Vale ressaltar que o ocidente acolheu e celebrou todas estas festas marianas, de origem oriental, por volta do século 7º. Antes, porém, já era celebrada na oitava do Natal a festa de Maria, mãe de Jesus, como acontece ainda hoje. Além dessas festas mais antigas, o culto mariano também teve grande propagação e se desenvolveu com o aparecimento de uma grande quantidade de outras festas, as quais tinham, sobretudo, a partir do século 11, um conteúdo devocional privilegiando uma visão subjetiva sobre a visão histórico-bíblica das origens. Essas festas tardias enfocaram a pessoa de Maria de modo autônomo, exaltando suas virtudes e privilégios ou até mesmo suas aparições e revelações. A partir daí, criou- se um “ciclo mariano”, quase independente do cristológico: a celebração semanal de Maria nos sábados, os meses de maio, outubro dedicado a Maria etc. A celebração do culto mariano hoje O sentido do culto mariano na atualidade pode ser visto nas citações da Sacrosanctum Concilium e do calendário, transcritas anteriormente e que expressam a recuperação, na reforma litúrgica do Vaticano II, do seu significado original – Maria é venerada pela sua participação no mistério de Cristo. (13) Theotokos: termo técnico que significa mãe de Deus. INFORMAÇÃO: A oração Sub tuum praesidium é usada ainda hoje: “À vossa proteção recorremos Mãe de Deus...” (14) Este hino é usado ainda hoje nas liturgias orientais. Há, inclusive, no tempo quaresmal o sábado do Akathistos. O termoakathistos significa em grego – não (a) – sentado (kathistos), pois é um hino que se entoa em pé. (15) O dies natalis é o dia da morte, o qual é considerado o dia do verdadeiro nascimento. ATENÇÃO! Para saber mais sobre o culto mariano hoje, consulte as obras a seguir: a) PAULO VI. O culto da virgem Maria: apresentação didática. São Paulo: Loyola, 1974. b) JOÃO PAULO II. Carta encíclica redemptoris mater. São Paulo: Paulinas, 1987. CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais48 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 Por isso que no calendário litúrgico as festas marianas foram revistas segundo sua importância em relação ao mistério pascal e à história da salvação, considerando sempre os eventos histórico-salvíficos e não a pessoa de Maria e suas virtudes. Foram revistos, segundo tal perspectiva, o lecionário e a eucologia das festas marianas. Atualmente o calendário litúrgico apresenta as seguintes celebrações marianas: Solenidadesa) : Imaculada Conceição da bem-aventurada virgem Maria (8 de dezembro). • Maria santíssima, mãe de Deus (1 de janeiro). • Assunção da bem-aventurada virgem Maria (15 de agosto)• . Festasb) : Natividade da bem-aventurada virgem Maria (8 de setembro).• Visitação da bem-aventurada virgem Maria.• Memórias obrigatóriasc) : Nossa Senhora Rainha (22 de agosto). • Nossa Senhora das Dores (15 de setembro). • Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro). • Apresentação de Maria (21 de novembro). • Imaculado Coração de Maria (sábado após o segundo domingo depois de • Pentecostes). Memórias facultativasd) : Nossa Senhora de Lourdes (11 de fevereiro). • Nossa Senhora do Carmo (16 de julho). • Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior (5 de agosto).• 6 CULTO AOS SANTOS Além das festas do Senhor e do culto mariano, o calendário litúrgico contempla o culto aos santos sobre o qual a Sacrosanctum Concilium afirma: No decorrer do ano a Igreja inseriu ainda as memórias dos Mártires e dos outros Santos que, conduzidos à perfeição pela multiforme graça de Deus e recompensados com a salvação eterna, cantam nos céus o perfeito louvor de Deus e intercedem em nosso favor. Pois nos natalícios dos Santos prega o mistério pascal vividos pelos Santos que com Cristo sofreram e foram glorificados e propõe seu exemplo aos fiéis, para que atraia por Cristo todos ao Pai e por seus méritos impetre os benefícios de Deus (SC 104). Os Santos sejam cultuados na Igreja segundo a tradição. Suas relíquias autênticas e imagens sejam tidas em veneração. Pois as festas dos Santos proclamam as maravilhas de Cristo operadas em Seus servos e mostram aos fiéis os exemplos oportunos a serem imitados. Que as festas dos Santos não prevaleçam sobre as que recordam os mistérios da salvação. Muitas destas festas sejam deixadas à celebração de alguma Igreja particular, Nação ou Família Religiosa, estendendo-se somente à Igreja toda aquelas que comemoram os Santos que manifestam de fato importância universal (SC 111). INFORMAÇÃO: As solenidades marianas apresentam o ponto alto da participação de Maria na história da Salvação, que é a sua maternidade divina e para a qual ela foi preparada, desde sua concepção, por Ana. Maria mereceu ser a primeira a estar na glória (Assunção). ATENÇÃO! Merecem destaque neste tópico, pelo seu conteúdo histórico, teológico-litúrgico e pastoral, as seguintes referências: a) BEINERT, W. O culto aos santos hoje: estudo teológico- pastoral. São Paulo: Paulinas, 1990. (Coleção teologia e liturgia). b) LODI, E. Os santos do calendário romano: rezar com os santos na liturgia. São Paulo: Paulus, 2001. Bacharelado em Teologia © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas • • • CRC Batatais – Claretiano 49 UNIDADE 3 Tais números trazem em síntese o sentido teológico-litúrgico do culto dos santos na atualidade, no qual se recuperou o sentido original desse culto, que é a consideração do santo como participante do mistério pascal de Cristo e, portanto, exemplo para a comunidade cristã. Por isso que a origem do culto aos santos está no culto aos mártires16, os quais davam sua vida por Cristo e, por isso, eram sepultados com a honra de heróis da fé. Desse modo, aparece o sepultamento de Estevão, o primeiro mártir (At 8,2), e no século 2º temos o primeiro documento que testemunha o culto aos mártires, numa carta da Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélio e a todas as comunidades cristãs sobre o martírio de seu bispo Policarpo (em 156). O culto aos mártires deriva do culto aos defuntos, no qual os cristãos honravam seus mortos por meio da sepultura (inumação) e de cerimônias fúnebres (eucaristia), junto à sepultura, tanto no momento do sepultamento como em datas posteriores, em particular, no aniversário de morte. Assim, com o término das perseguições e martírios, começaram a ser honrados outros fiéis ilustres, como os confessores da fé, as grandes figuras de bispos, virgens, ascetas etc. Desse modo, passa-se do culto aos mártires ao culto aos santos. Tal culto, que inicialmente estava ligado à comunidade na qual o mártir ou santo viveu e testemunhou sua fé, propagou-se com a partilha das Atas dos Mártires e suas relíquias, entre as comunidades que passaram a construir igrejas, nas quais se fazem a memória desses santos. Posteriormente, esse processo assumiu características alheias ao seu objetivo inicial, sendo marcado por abusos, como o comércio de relíquias. Aos poucos, o culto aos santos atingiu proporções desmedidas e surpreendentes, como se vê nos séculos 12 e 14. Apesar da tentativa tridentina de reformar o calendário santoral, para que o culto dos santos não predominasse sobre o ciclo cristológico, esse objetivo só foi atingido na reforma litúrgica do Vaticano II. O resultado dessa reforma aparece nas citações apresentadas anteriormente, nas quais se expressa o sentido teológico-litúrgico do culto dos santos – eles são venerados pela sua participação no mistério de Cristo, de acordo com as orientações para a elaboração do calendário santoral, dentro do Ano Litúrgico. O centro do Ano Litúrgico é o mistério de Cristo, que não pode ser substituído pelo santoral, considerando que constam no calendário litúrgico somente os santos que tenham importância para a igreja universal, os outros são celebrados em suas igrejas locais. Assim, a organização do santoral irá privilegiar esse critério. Além disso, também será feita a revisão do lecionário e das orações de cada uma das solenidades, festas ou memórias dos santos, para que nelas transpareça sua participação no mistério pascal de Cristo e não sua pessoa, considerada de modo autônomo. ATENÇÃO! Para aprofundar seus conhecimentos sobre o culto aos santos consulte as obras: a) AUGÉ, M. As festas do senhor, da mãe de Deus e dos santos. In: AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração. Anámnesis 5. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 260-275. b) BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. p. 480–485. (Coleção liturgia e participação). c) LLABRÉS, P. O culto à santa Maria, mãe de Deus. In: BOROBIO, D. (org.) A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 223–252. (16) O termo martyr na língua grega significa testemunha. Os mártires são as testemunhas da fé em Cristo. CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas Claretiano – Batatais50 Bacharelado em Teologia UNIDADE 3 7 CONSIDERAÇÕES Chegamos ao final da exposição sobre o Ano Litúrgico como celebração do mistério de Cristo no tempo. Assim, pudemos analisar suas origens e desdobramentos e a centralidade da Páscoa, a qual é celebrada semanalmente no domingo e anualmente no tríduo pascal. Além disso, no decorrer desta unidade, estudamos a Quaresma como tempo de preparação para a Páscoa e a Qüinquagésimapascal como um grande domingo de Páscoa, assim como o ciclo da Manifestação do Senhor (Advento, Natal-Epifania) e o tempo comum como tempo da celebração do mistério de Cristo em sua plenitude. Para finalizar a unidade, estudamos também as festas do senhor, o culto mariano e culto dos santos, os quais foram contemplados como expressões de particularidades do mistério de Cristo manifestadas ao longo da história na vida da igreja. Na próxima unidade você será convidado a estudar a celebração da Liturgia das Horas. 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGÉ, M. As festas do senhor, da mãe de Deus e dos santos. In: AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração. Anámnesis 5. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 233–275. BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. (Coleção liturgia e participação). CHUPUNGCO, A. Adaptação. In: SARTORI, D. TRIACCA, A. M. (org.). Dicionário de liturgia. São Paulo/ Lisboa: Paulinas/ Paulistas. 1992. p. 1-12. GAITÁN, J. D. La celebración del tiempo ordinário. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica. 1994. (Biblioteca litúrgica 2). GONZALEZ, R. Outras festas do senhor. In: BOROBIO, D. (org.) A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 185–198. LLABRÉS, P. O culto à santa Maria, mãe de Deus. In: BOROBIO, D. (org.). A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 199–221. ______. O culto aos santos. In: BOROBIO, D. (org.) A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 223–252. VATICANO II. Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a sagrada liturgia. In: Compêndio do Vaticano II. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 259-306.