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Superior Tribunal de Justiça AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.390.289 - SC (2013/0192243-9) RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE AGRAVANTE : BAGGIO EDITORA JORNALÍSTICA LTDA ADVOGADOS : ALEXSANDRO KALCKMANN E OUTRO(S) FERNANDA KALCKMANN BATTISTELLA E OUTRO(S) AGRAVADO : ROMUALDO ANTÔNIO PEREIRA ADVOGADO : LUIZ CARLOS RIBEIRO EMENTA AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. MATÉRIA JORNALÍSTICA. NARRAÇÃO DOS FATOS COM ABUSO DO DIREITO DE INFORMAR. AFRONTA AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO DELINEADO PELO ACÓRDÃO A QUO . IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N. 7 E 83 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Esta Corte tem jurisprudência firmada no sentido de que "(...) é possível ao Relator negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente ou prejudicado não ofendendo, assim, o princípio da colegialidade. Ademais, com a interposição do agravo regimental, fica superada a alegação de nulidade pela violação ao referido princípio, ante a devolução da matéria à apreciação pelo Órgão Julgador" (AgRg no REsp 1.113.982/PB, Relatora a Ministra Laurita Vaz, DJe de 29/8/2014). 2. Não há ofensa à honra e à imagem quando há divulgação de informações verdadeiras e fidedignas no exercício do direito fundamental de liberdade de imprensa, notadamente quando exercida em atividade investigativa e consubstanciar interesse público. Todavia, a liberdade de informação não é absoluta, encontrando restrições, entre outras hipóteses, na proteção dos direitos da personalidade. Precedentes. Incidência da Súmula 83/STJ. 3. Concluindo o acórdão a quo, após a análise de todo o conjunto fático-probatório dos autos, que a matéria publicada pela insurgente acarretou dano moral, porquanto extrapolou a narrativa dos fatos, objeto de investigação policial, e fez afirmações inverídicas, revela-se impossível a modificação desse entendimento na via do recurso especial, em razão do óbice da Súmula 7/STJ. 4. Agravo regimental desprovido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 24 de novembro de 2015 (data do julgamento). Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator Documento: 1469257 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/12/2015 Página 1 de 7 Superior Tribunal de Justiça AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.390.289 - SC (2013/0192243-9) RELATÓRIO O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE: Cuida-se de agravo regimental interposto por Baggio Editora Jornalística Ltda. contra decisão monocrática de minha relatoria a qual negou seguimento ao recurso especial ante a incidência das Súmulas n. 7 e 83 do STJ. A decisão está assim ementada (e-STJ, fls. 154-158): RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. MATÉRIA JORNALÍSTICA. NARRAÇÃO DOS FATOS COM ABUSO DO DIREITO DE INFORMAR. AFRONTA AOS DIREITOS DE PERSONALIDADE. CONJUNTO FÁTICO DELINEADO PELO TRIBUNAL A QUO . IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME. SÚMULAS 7 E 83 DO STJ. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. Em suas razões (e-STJ, fls. 161-166), a editora alega a inviabilidade de julgamento de monocrática da questão, pois necessária a revaloração de provas, refutando, ainda, a incidência da Súmula 7/STJ. Por fim, repisa os argumentos trazidos nas razões do apelo nobre aduzindo que matéria jornalística foi publicada dentro dos limites dos direitos constitucionais de informação e de liberdade de imprensa, não havendo a caracterização de qualquer dano indenizável. Sem impugnação. É o relatório. Documento: 1469257 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/12/2015 Página 2 de 7 Superior Tribunal de Justiça AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.390.289 - SC (2013/0192243-9) VOTO O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE(RELATOR): Os argumentos trazidos pela insurgente não são capazes de modificar as conclusões da decisão monocrática. Inicialmente, quanto à suposta inviabilidade de julgamento monocrático na presente hipótese, vale anotar que este Tribunal tem jurisprudência firmada no sentido de que "(...) é possível ao Relator negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente ou prejudicado não ofendendo, assim, o princípio da colegialidade. Ademais, com a interposição do agravo regimental, fica superada a alegação de nulidade pela violação ao referido princípio, ante a devolução da matéria à apreciação pelo Órgão Julgador." (AgRg no REsp 1.113.982/PB, Relatora a Ministra Laurita Vaz, DJe de 29/8/2014). No que tange ao mérito da insurgência, consoante já dito na deliberação unipessoal, a questão não é nova e diz respeito à colisão entre garantias fundamentais previstas na Constituição da República: de um lado, a liberdade de informação, e de outro, a proteção dos direitos da personalidade. Desde o juízo de primeira instância constata-se que o tema em desfile tem sido debatido conforme duas perspectivas de análise. A primeira, enfatiza o relevante papel da imprensa e do direito de informar na garantia de um verdadeiro Estado Democrático de Direito, elucidando que a liberdade de informação deve ser abrangente, porém exercida com responsabilidade. A segunda, destaca a importância dos direitos da personalidade, emanados da própria dignidade humana, funcionando como "atributos inerentes e indispensáveis ao ser humano" (TEPEDINO, Gustavo. A Tutela da Personalidade no Ordenamento Civil-Constitucional Brasileiro. 2001. p. 33). Dessa forma, embora a liberdade de informação mereça proteção, não pode seu exercício ultrapassar as barreiras estabelecidas pelas demais garantias Documento: 1469257 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/12/2015 Página 3 de 7 Superior Tribunal de Justiça fundamentais. É dizer, a despeito de a "Bíblia Política do Estado" assegurar o direito à livre informação, quem desbordar dos postulados da correção e da imparcialidade será responsável pelos danos causados pela notícia, notadamente quando afetar outros direitos também protegidos pelo constituinte. (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra. Almedina. 2010. p. 59). O Superior Tribunal de Justiça, à procura de solução que melhor se ajusta às reflexões precedentes, estabeleceu, para situações de conflito entre a liberdade de informação e os direitos da personalidade, entre outros, os seguintes elementos de ponderação: a) o compromisso ético com a informação verossímil; b) a licitude do meio empregado para a obtenção da notícia; e c) o interesse público na divulgação da matéria. Nesse sentido: RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. 1. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. MATÉRIAS JORNALÍSTICAS COM RELATOS DE FATOS CONTIDOS EM AÇÃO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL. VIOLAÇÃO DO SEGREDO DE JUSTIÇA. NOTÍCIAS FUNDAMENTADAS APENAS NA VERSÃO DE UMA DAS PARTES ENVOLVIDAS. JUÍZO DE VALOR NEGATIVO SOBRE O COMPORTAMENTO DA RECORRIDA. PERDA DO CONTATO ENTRE MÃE E FILHA APÓS A DIVULGAÇÃO DAS REPORTAGENS. ABUSO NO EXERCÍCIO DO DIREITO DE INFORMAÇÃO. DEVER DE INDENIZAR. CONFIGURAÇÃO. 2. VALOR REPARATÓRIO. REVISÃO EXCEPCIONAL. MONTANTE RAZOÁVEL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. 3. RECURSO IMPROVIDO. 1. A regra geral é a liberdade de informação. Entrementes, esta não é absoluta, encontrando restrições, entre outras hipóteses, na proteção dos direitos da personalidade. Daí fazer-se mister a identificação de limites à livre manifestação da imprensa, a partir da proteção dos direitos da personalidade, especialmente com fundamento na tutela da dignidade humana.[...] 4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1380701/PA, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 07/05/2015, DJe 14/05/2015) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ARTIGO 544 DO CPC) - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES DA EXIBIÇÃO DO NOME E DA IMAGEM DE SERVIDORA PÚBLICA EM MATÉRIA JORNALÍSTICA INFUNDADA ALUDINDO À PRÁTICA DE NEPOTISMO - DECISÃO MONOCRÁTICA CONHECENDO DO AGRAVO PARA NEGAR SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA RÉ. 1. Violação do artigo 535 do CPC não configurada. Acórdão estadual que enfrentou todos os aspectos Documento: 1469257 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/12/2015 Página 4 de 7 Superior Tribunal de Justiça essenciais à resolução da controvérsia de forma clara e fundamentada. 2. Indenização por danos morais em razão de matéria jornalística infundada. 2.1. Consoante cediço nesta Corte, inexiste ofensa à honra e imagem dos cidadãos quando, no exercício do direito fundamental de liberdade de imprensa, há divulgação de informações verdadeiras e fidedignas a seu respeito, mormente quando exercida em atividade investigativa e consubstanciar interesse público. Precedentes. [...] 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AgRg no AREsp 584036/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 16/06/2015, DJe 24/06/2015) Assim, a Corte a quo, em consonância com o entendimento acima exposto, consignou que a matéria jornalística publicada pela insurgente mencionou o nome e publicou a foto do ora recorrido, bem como extrapolou a narrativa de divulgação dos fatos, objeto de investigação policial, pois fez afirmações inverídicas acerca da aplicação de novos golpes pelo autor da presente demanda, ficando configurado o abalo à imagem deste. Confira-se o seguinte trecho extraído do aresto combatido: Portanto, denota-se que a notícia veiculada pelo Jornal, requerido e ora apelado, extrapolou a narrativa de divulgação de fatos, objeto de investigação policial, pois, apesar de o autor realmente ter sido preso em flagrante (16-11-2007, fl. 23), na data da publicação da matéria veiculada pelo Jornal requerido (6-12-2007, fl. 35), na qual afirmou que: "Menos de uma semana depois de ter saído do Presídio Regional, Romualdo Antônio Pereira, (...) voltou a aplicar golpes pela cidade.", o apelante estava preso (alvará de soltura em 17-1-2008, fl. 32), assim não poderia estar aplicando os referidos golpes pela cidade, caracterizando o abalo à imagem do autor e o consequente direito à indenização. (grifos no original) Dessarte, para infirmar as conclusões a que chegou o acórdão recorrido acerca da inexistência de abuso do direito de informar, seria imprescindível o revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado nesta instância extraordinária, consoante dispõe a Súmula 7/STJ. A propósito: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - MATÉRIA JORNALÍSTICA - EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO DE INFORMAÇÃO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - RAZOABILIDADE - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO. 1. Não se configura o dano moral quando a matéria jornalística limita-se à narração de fatos de interesse público, havendo, nestes casos, Documento: 1469257 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/12/2015 Página 5 de 7 Superior Tribunal de Justiça exercício regular do direito de informação. Precedentes. A discussão acerca da existência ou não do dever de reparar demanda a reapreciação probatória, providência obstada pela incidência da Súmula 7/STJ. 2. Conforme pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, só é permitido modificar valores fixados a título de honorários advocatícios se estes se mostrarem irrisórios ou exorbitantes, exigindo-se, ainda, que as instâncias ordinárias não tenham emitido concreto juízo de valor sobre o tema. Do contrário, o recurso especial queda obstado pelo texto cristalizado na Súmula n. 7/STJ. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 525516/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 18/09/2015, DJe 25/09/2014) Ademais, tendo em vista que o entendimento adotado pelo acórdão recorrido encontra-se em harmonia com a jurisprudência desta Corte Superior, imperiosa, ainda, a aplicação da Súmula 83/STJ. Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental. É como voto. Documento: 1469257 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/12/2015 Página 6 de 7 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA AgRg no Número Registro: 2013/0192243-9 REsp 1.390.289 / SC Números Origem: 039080115690 20090014501 20090014501000100 39080115690 EM MESA JULGADO: 24/11/2015 Relator Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. CARLOS ALBERTO CARVALHO VILHENA Secretária Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAÇÃO RECORRENTE : BAGGIO EDITORA JORNALÍSTICA LTDA ADVOGADOS : ALEXSANDRO KALCKMANN E OUTRO(S) FERNANDA KALCKMANN BATTISTELLA E OUTRO(S) RECORRIDO : ROMUALDO ANTÔNIO PEREIRA ADVOGADO : LUIZ CARLOS RIBEIRO ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Material - Direito de Imagem AGRAVO REGIMENTAL AGRAVANTE : BAGGIO EDITORA JORNALÍSTICA LTDA ADVOGADOS : ALEXSANDRO KALCKMANN E OUTRO(S) FERNANDA KALCKMANN BATTISTELLA E OUTRO(S) AGRAVADO : ROMUALDO ANTÔNIO PEREIRA ADVOGADO : LUIZ CARLOS RIBEIRO CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator. Documento: 1469257 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/12/2015 Página 7 de 7
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