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Direito Canonico I 4

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Prévia do material em texto

EA
D
4
O Governo da Igreja em 
Âmbito Universal
1. ObjetivOs
•	 Compreender	os	vários	níveis	de	governo	da	Igreja.
•	 Estudar	o	primado	do	Romano	Pontífice	e	a	Colegialidade	
Episcopal.
•	 Conhecer	os	órgãos	de	governo	da	Igreja	universal.
2. COnteúdOs
•	 Premissas.
•	 Sacra potestas	(poder	sagrado,	potestade	sagrada).
•	 Primado	do	Romano	Pontífice	e	a	Colegialidade	Episcopal.
•	 Órgãos	de	governo	da	Igreja	universal.
3. Orientações para O estudO da unidade
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© Direito Canônico I200
1)	 Nesta	unidade,	vamos	conhecer	um	pouco	mais	de	per-
to	a	estrutura	de	governo	da	Igreja	em	nível	ou	âmbito	
universal.	 Isso	 o	 colocará	 diante	 de	 pessoas	 e	 institui-
ções	bastante	conhecidas,	como	é	o	caso,	por	exemplo,	
da	figura	do	Papa,	do	Colégio	Episcopal,	do	Concílio	Ecu-
mênico,	 do	 Sínodo	 dos	 Bispos,	 dos	 Cardeais,	 da	 Cúria	
Romana	e	dos	Legados	Pontifícios.	Tenha	presente	que	
não	é	possível	compreender	adequadamente	o	governo	
da	Igreja	sem	ter	presente	o	seguinte	dado	teológico:	a	
Igreja	não	nasce	de	uma	autônoma	e	livre	decisão	de	um	
grupo	de	pessoas	(como	ocorre	com	a	sociedade	civil),	
mas	de	um	chamado	divino.	Ela	vive	na	história	graças	
aos	 vínculos	 de	 comunhão	que	derivam	da	Palavra	de	
Deus	e	dos	sacramentos,	livremente	acolhidos	pelos	fi-
éis	sob	a	autoridade	dos	legítimos	pastores.	
2)	 Não	é	sem	razão	que	logo	de	início	você	irá	se	deparar	
com	algumas	premissas	de	ordem	teológica	que	 justa-
mente	têm	por	finalidade	indicar	alguns	elementos	que	
dão	 sustentação	à	 compreensão	eclesial	 do	 governo	e	
do	exercício	do	poder	na	 Igreja.	Particular	 importância	
adquire	o	discurso	relativo	à	"sacra potestas",	compre-
endida	em	torno	do	tríplice	múnus	de	Cristo	e	da	Igreja:	
santificar,	ensinar	e	reger.	Neste	tríplice	múnus,	 	mani-
festa-se	o	prolongamento	da	ação	de	Cristo	na	Igreja	e	
evidencia-se	 a	 natureza	 de	 tudo	 peculiar	 do	 poder	 no	
âmbito	interno	da	sociedade	eclesial.	
3)	 Particular	destaque	para	uma	correta	visão	do	governo	
da	Igreja	diz	respeito	ao	Papa	e	ao	Colégio	dos	Bispos.	
Nesse	sentido,	nunca	é	demais	recordar	as	palavras	do	
Concílio	Vaticano	 II	em	sua	constituição	dogmática	Lu-
men gentium	nº	18:	
Este	Sacrossanto	Sínodo,	seguindo	os	passos	do	Concílio	Vaticano	
I,	com	ele	ensina	e	declara	que	Jesus	Cristo,	Pastor	Eterno,	fundou	
a	santa	Igreja,	enviando	os	Apóstolos,	assim	como	Ele	mesmo	fôra	
enviado	pelo	Pai	(Jo	20,21).	E	quis	que	os	sucessores	dos	apóstolos,	
isto	é,	os	Bispos,	fossem	em	Sua	Igreja	Pastores	até	a	consumação	
dos	séculos.	E	para	que	o	próprio	Episcopado	fosse	uno	e	indiviso	
prepôs	aos	demais	Apóstolos	o	bem-aventurado	Pedro	e	nele	insti-
tuiu	o	perpétuo	e	visível	princípio	e	fundamento	da	unidade	de	fé	
e	comunhão.	Esta	doutrina	sobre	a	instituição,	perpetuidade,	po-
der	e	natureza	do	sacro	Primado	do	Romano	Pontífice	e	sobre	seu	
infalível	Magistério,	o	 Sagrado	Sínodo	novamente	a	propõe	para	
Claretiano - Centro Universitário
201© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
ser	crida	firmemente	por	todos	os	fiéis.	E	continuando	na	mesma	
iniciativa,	resolveu	declarar	e	professar	diante	de	todos	a	doutrina	
sobre	os	Bispos,	sucessores	dos	Apóstolos,	que	junto	com	o	Suces-
sor	de	Pedro,	Vigário	de	Cristo	e	Cabeça	visível	de	 toda	a	 Igreja,	
regem	a	casa	de	Deus	vivo.
4)	 Esperamos	 que	 no	 estudo	 desta	 unidade,	 tendo	 por	
base	este	subsídio,	como,	também,	a	bibliografia	indica-
da,	você	possa	adquirir	uma	visão	panorâmica,	mas	su-
ficiente,	do	governo	da	Igreja,	particularmente	em	nível	
universal,	e,	sobretudo,	dos	elementos	que	dão	susten-
tação	à	compreensão	eclesial	que	dele	se	tem.
4. intrOduçãO À unidade
Esta	unidade	e	a	próxima	têm	por	finalidade	possibilitar-lhe	
uma	adequada	compreensão	do	governo	da	Igreja	em	seus	vários	
níveis	que,	por	suas	características	muito	peculiares,	se	diferencia	
das	formas	de	governo	conhecidas	por	você.	
Nesta	primeira	parte,	faremos	uma	breve	apresentação	da-
queles	elementos	que	fundam	o	poder	de	governo	na	Igreja,	bem	
como	daqueles	órgãos	e	instituições	mediante	os	quais	são	exerci-
tadas	as	funções	de	governo	na	Igreja	universal.
No	 final	 desta	 unidade,	 você	 terá	 uma	 visão	 suficiente	 do	
primado	do	Romano	Pontífice,	 da	Colegialidade	 Episcopal	 e	dos	
principais	órgãos	do	governo	eclesial	em	âmbito	universal.	
Vamos	lá?
5. preMissas
A	Igreja,	que	nesta	terra	se	apresenta	como	sociedade	hie-
rarquicamente	organizada,	recebeu	do	Senhor	a	missão	de	pregar	
o	Evangelho	a	todos	os	povos	(munus docendi)	e	de	administrar	os	
sacramentos,	sinais	e	instrumentos	da	graça	divina,	que	perpetu-
am	a	presença	de	Cristo	na	história	para	a	santificação	das	pessoas	
(munus sanctificandi).	
© Direito Canônico I202
O Capítulo III da Lumen Gentium trata do Mistério da Igreja. No 
número 8, ela é apresentada, ao mesmo tempo, como uma comu-
nidade de fé, esperança e caridade e uma sociedade provida de 
órgãos hierárquicos, pois não se trata de duas realidades, mas de 
uma única realidade na qual se funde o elemento divino e humano.
A	Palavra	de	Deus	e	os	sacramentos	representam	bens	pre-
ciosos	e	são,	sem	dúvida,	a	fonte	mais	autêntica	do	ordenamento	
eclesial	e	de	sua	organização	de	governo,	pois	é	sobre	a	Palavra	de	
Deus	e	os	sacramentos	que	se	fundamenta	o	ordenamento	ecle-
sial.	A	missão	recebida	de	Cristo	e	os	meios	de	salvação	sobre	os	
quais	ela	se	realiza	diferenciam	a	Igreja	de	qualquer	outra	socieda-
de	que	você	conhece.
No	mandato	recebido	do	Senhor,	a	Igreja	funda	e	organiza	a	
própria	estrutura	hierárquica	e	o	poder	sagrado	(sacra potestas)	
que	estão	ordenados	à	transmissão	da	Palavra,	ao	culto	divino	e	
à	administração	dos	sacramentos.	Ela	se	constitui	em	uma	comu-
nidade	de	pessoas	ligadas	entre	si	por	vínculos	de	comunhão	que	
colocam	os	fiéis	em	um	tipo	de	relação	finalizada	à	realização	da-
quela	missão	que	Cristo	confiou	à	Igreja.	
A	imagem	da	Igreja	como	comunhão	institucional	hierarqui-
camente	ordenada,	fortemente	sublinhada	pelo	Concílio	Vaticano	
II,	exprime	o	caráter	específico	e	peculiar	da	Igreja.	Ela	não	nasce	
de	uma	autônoma	e	livre	decisão	de	um	grupo	de	pessoas	(como	
ocorre	com	a	sociedade	civil),	mas	de	um	chamado	divino.	Ela	vive	
na	história	graças	aos	vínculos	de	comunhão	que	derivam	da	Pa-
lavra	de	Deus	e	dos	sacramentos,	livremente	acolhidos	pelos	fiéis	
sob	o	governo	de	legítimos	pastores.	
Sem	esses	dados	de	base	e	de	fé	não	é	possível	colher	os	ele-
mentos	específicos	e	peculiares	do	governo	da	Igreja	em	relação	
aos	demais	governos	conhecidos	e,	portanto,	é	bom	você	 tê-los	
em	mente	como	premissa	para	o	estudo	e	a	compreensão	do	go-
verno	na	e	da	Igreja.
Claretiano - Centro Universitário
203© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
6. a SACRA POTESTAS (PODER SAGRADO, POTESTA-
DE SAGRADA)
Provavelmente,	a	expressão	sacra potestas	(poder	sagrado,	
potestade	sagrada)	lhe	é	estranha,	mas	não	se	assuste.	Contudo,	
você	precisa	saber	que	o	tema	da	sacra potestas	é	bastante	com-
plexo	e	qualquer	argumentação	sobre	o	assunto	requer	uma	refle-
xão	muito	bem	articulada.	Aqui,	não	será	possível	dar	conta	des-
ta	complexidade	e,	portanto,	nos	limitaremos	a	um	breve	aceno,	
cabendo	a	você	aprofundar	o	seu	conhecimento	sobre	este	tema	
com	alguma	leitura	complementar.	
Para conhecer a problemática que envolve o tema, como, tam-
bém, uma abordagem suficientemente abrangente sobre a sacra 
potestas, sugerimos que você leia: G. GHIRLANDA, G. O direito 
na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. 
Aparecida: Santuário, 2003, p. 285-306. Sobre as relações entre 
sacerdócio e governo eclesiástico, veja: FELICIANI, G. As bases 
do Direito da Igreja: comentários ao Código de Direito Canônico. 
São Paulo: Paulinas, 1994, p. 92. Veja, também: LOMBARDIA, 
P. Lições de direito canônico. Introdução. Direito Constitucional. 
Parte Geral. São Paulo: Loyola, 2008, p. 107-121.
As	exigências	 inseridas	na	pregaçãodo	Evangelho	e	na	ad-
ministração	dos	sacramentos,	bem	como	a	salvação	das	pessoas	
que,	na	Igreja,	é	sempre	a	lei	suprema	(cf.	cân.	1752),	manifestam	
a	existência	de	uma	dimensão	de	justiça	nas	relações	interpessoais	
na	Igreja	e	a	necessidade	de	pastores	a	serviço	da	comunidade.
Vejamos	o	que	sobre	isso	nos	diz	o	Concílio	Vaticano	II:	
Para	apascentar	e	aumentar	sempre	o	Povo	de	Deus,	Cristo	Senhor	
instituiu	na	Sua	Igreja	uma	variedade	de	ministérios	que	tendem	
ao	bem	de	todo	o	Corpo.	Pois	os	ministros	que	são	revestidos	do	
sagrado	poder	servem	a	seus	 irmãos	para	que	todos	os	que	 for-
mam	o	Povo	de	Deus	e,	portanto,	gozam	da	verdadeira	dignidade	
cristã,	aspirando	livre	e	ordenadamente	ao	mesmo	fim,	cheguem	à	
salvação	(LG	18ª).
O	 termo	 "sacra potestas"	 encontra-se	presente	em	alguns	
textos	do	Concílio	Vaticano	II	e	tem	sido	muito	utilizado	por	teólo-
© Direito Canônico I204
gos	e	canonistas	de	nosso	tempo.	Na	interpretação	mais	comum,	
a	"sacra potestas"	identifica-se	com	a	função	pastoral	em	um	sen-
tido	bem	amplo.	Seria,	portanto,	a	potestade	ou	poder	que	corres-
ponde	aos	ministros	sagrados	(clérigos)	e,	mais	concretamente,	ao	
Papa	e	aos	Bispos.	Tal	poder,	Cristo	transmitiu	aos	Apóstolos	e	a	
seus	sucessores	para	que	em	seu	nome	ensinassem,	santificassem	
e	governassem	a	Igreja.	
Na LG nº. 10, o termo sacra potestas é utilizado no contexto da 
distinção entre sacerdócio comum e ministerial. Já na LG nº. 18, 
o termo aparece em relação à constituição hierárquica da Igreja. 
Leia-os!
Há	no	poder	da	Igreja	um	caráter	pessoal	pelo	fato	de	estar	
vinculado	ao	sacramento	da	ordem	que	imprime	na	pessoa	um	ca-
ráter	que	não	se	apaga,	mas,	ao	mesmo	tempo,	possui	uma	forte	
dimensão	 institucional,	 em	virtude	dos	estreitos	 vínculos	de	 co-
munhão	que	ligam	entre	si	os	membros	do	Colégio	Episcopal	e	os	
seus	colaboradores	mais	próximos	(os	presbíteros).
A	 "sacra potestas",	 ou	 poder	 sagrado,	 estrutura	 a	 Igreja	
como	uma	sociedade	hierárquica	e,	embora	unitária,	distingue-se	
em	poder	de	ordem,	de	magistério	e	de	governo	ou	regime,	cor-
respondendo,	assim,	ao	tríplice	múnus de	Cristo	(sacerdotal,	pro-
fético	e	régio).	Nesta	tríplice	dimensão	do	poder	sagrado,	temos,	
então,	uma	espécie	de	prolongamento	da	ação	de	Cristo	na	Igreja	
e	se	evidencia	a	natureza	peculiar	do	poder	na	sociedade	eclesial.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A Lumen Gentium, ao tratar do ministério episcopal nos números 24-27, aprofun-
da o significado do múnus de ensinar, santificar e governar. O tríplice múnus de 
Cristo é o ponto de partida para especificar as funções que correspondem aos 
Bispos no serviço pastoral que prestam ao povo de Deus.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O	"poder	de	ordem"	é	aquele	ordenado	à	santificação	das	
pessoas	mediante	a	ação	litúrgica,	a	administração	dos	sacramen-
tos	e	dos	outros	meios	de	graça	(cân.	834).	É	conferido	pelo	sacra-
Claretiano - Centro Universitário
205© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
mento	da	ordem	e	possui	um	caráter	pessoal	no	sentido	de	que	
é	conferido	a	uma	pessoa	concreta,	nela	 imprimindo	um	caráter	
indelével.	A	sua	peculiaridade	consiste	no	fato	de	conferir	ao	seu	
titular	a	possibilidade	de,	sobretudo,	administrar	os	sacramentos.	
Trata-se,	na	verdade,	de	uma	faculdade	e	não	tanto	de	um	poder,	
uma	vez	que	não	 se	 traduz	no	poder	de	 governar	 a	 vida	 social,	
mas,	sim,	na	capacidade	de	realizar	determinados	atos	capazes	de	
gerar	vida	sobrenatural.
O	"poder	de	magistério"	consiste	em	uma	dupla	função	re-
cebida	 pela	 Igreja	 e,	 particularmente,	 confiada	 aos	 Apóstolos	 e	
a	 seus	 sucessores,	 como,	 também,	a	 seus	 colaboradores	diretos	
(presbíteros).	 Trata-se	 do	 dever	 de	 anunciar	 a	 verdade	 revelada	
e	 de	 reafirmar	 aqueles	 princípios	morais,	 inseridos	 na	 natureza	
humana	e	no	projeto	divino	da	criação,	que	representam,	para	a	
Igreja,	o	fundamento	da	dignidade	da	pessoa	humana	e,	portanto,	
valem	para	todos	(cân.	747	§§1	e	2).
Em	tempos	passados,	no	contexto	de	uma	sociedade	cristã,	
o	poder	de	magistério	dirigia-se,	essencialmente,	aos	crentes,	para	
ensiná-los	as	verdades	de	fé,	para	contrastar	os	erros	doutrinais	e	
convidá-los	a	observar	os	preceitos	da	moral	cristã.	Hoje,	ao	con-
trário,	no	contexto	de	uma	sociedade	amplamente	secularizada,	o	
magistério	da	Igreja	tende	sempre	mais	a	se	dirigir,	também,	para	
fora	da	comunidade	cristã,	tendo	em	vista	reafirmar	aqueles	prin-
cípios	morais	que,	segundo	a	doutrina	cristã,	se	fundam	sobre	a	
natureza	humana	e	que,	portanto,	vinculam	a	todos.
O	"poder	de	 regime	ou	governo",	que	na	 Igreja	existe	por	
instituição	divina,	consiste	na	capacidade	de	governar	a	vida	so-
cial	da	 Igreja	e	de	dirigir,	coordenar	e	controlar	as	atividades	de	
natureza	pública.	Tal	poder	encontra-se	intimamente	ligado	ao	sa-
cramento	da	ordem.	Sua	origem	está	na	pertença	ao	Colégio	Epis-
copal,	sucessor	do	Colégio	Apostólico,	ao	qual	se	chega	mediante	
a	via	ontológico-sacramental	da	ordenação	episcopal.	Uma	parti-
cipação	ontológica	a	tal	poder	cabe	aos	presbíteros	por	força	do	
© Direito Canônico I206
sacramento	da	ordem	que	os	 constitui	 como	colaboradores	dos	
Bispos	no	exercício	do	poder	sagrado.
A	sacra potestas não	expressa	somente	um	poder	 jurídico,	
pois	nela	está	 incluída	a	 capacidade	 recebida	no	 sacramento	da	
ordem	de	se	produzir	em	nome	de	Cristo	os	efeitos	sobrenaturais	
que	derivam	da	práxis	sacramental	e	da	pregação	da	Palavra.
Essa	característica	do	poder	de	regime	é	de	tudo	peculiar	ao	
governo	da	Igreja,	pois	seu	ordenamento	desenvolve-se,	especial-
mente,	sobre	a	base	do	sacramento	da	ordem,	reservando	a	quem	
o	recebeu	os	ofícios	de	governo,	embora,	como	já	visto,	os	leigos,	
também	possam	cooperar	no	exercício	do	poder	de	regime.
Um	último	elemento	a	considerar	é	que	o	poder	de	regime	
ou	governo	na	 Igreja	não	é	 tripartido,	como	ocorre	nos	ordena-
mentos	 civis.	 Assim,	 não	 temos	na	 Igreja	 o	 princípio	 da	 separa-
ção	dos	poderes	(legislativo,	executivo	e	judiciário),	colocados	um	
diante	 do	 outro	 com	 recíprocas	 funções	 de	 controle.	 Na	 Igreja,	
aqueles	que	ocupam	ofícios	capitais	(Papa	e	Bispos)	possuem	um	
poder	pessoal	e	próprio	que	é,	ao	mesmo	tempo,	legislativo,	exe-
cutivo	e	 judiciário.	Contudo,	 tal	poder,	em	seu	exercício,	no	que	
tange	a	determinadas	funções,	é	confiado	a	outros	que	o	exercem	
em	nome	do	titular	(poder	vicário).	Portanto,	quando	falamos	em	
tripartição	dos	poderes	na	 Igreja,	não	o	 fazemos	na	perspectiva	
dos	ordenamentos	civis,	pois	são	realidades	diferentes.	
Assim,	temos:
•	 O poder	legislativo:	destinado	à	produção	de	normas	ge-
rais	hierarquicamente	superiores.	Deve	ser	exercitado	no	
modo	estabelecido	pelo	direito.	Tal	poder	não	pode	ser	
delegado	a	ninguém	por	parte	de	qualquer	legislador	in-
ferior	à	autoridade	suprema	da	Igreja.
•	 O	poder	judiciário:	ordenado	à	resolução	das	controvér-
sias	mediante	a	aplicação	do	direito	ao	caso	concreto.	Tal	
poder	é	confiado	aos	juízes	e	aos	tribunais	(poder	vicário).	
Deve	 ser	exercitado	no	modo	estabelecido	pelo	direito.	
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207© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
Tal	poder	não	pode	ser	delegado,	exceto	quando	se	trata	
de	atos	preparatórios	de	qualquer	decreto	ou	sentença.
•	 O poder	executivo:	ordenado	aos	 fins	da	administração	
eclesiástica	mediante	a	aplicação	das	 leis.	Tal	poder	é	o	
mais	utilizado	e	o	possui	quem	ocupa	determinados	ofí-
cios	na	Igreja,	podendo	ser	delegado	e	até	subdelegado,	a	
não	ser	que	haja	uma	proibição	do	direito.
7. O priMadO dO rOManO pOntÍFiCe e a COLe-
GIALIDADE EPISCOPAL
A	 constituição	 hierárquica	 da	 Igreja	 por	 instituição	 divina	
está	fundada	sobre	o	Colégio	dos	Bispos	e	sobre	o	primado	que,	
no	âmbito	interno	deste	Colégio,	compete	ao	Papa,	Bispo	de	Roma	
e	 sucessor	de	Pedro.	Portanto,	a	 constituição	hierárquica	possui	
uma	natureza	colegial	e	primacial.	
O	Colégio	dos	Bispos	sucede	ao	originário	Colégiodos	Após-
tolos	ao	qual	Cristo	confiou	a	missão	da	 Igreja.	Trata-se	de	uma	
sucessão	orgânica	e	não	pessoal,	no	sentido	de	que	cada	Bispo,	no	
momento	de	sua	ordenação,	passa	a	fazer	parte	do	Colégio,	par-
ticipando	de	sua	inteira	missão	e	não	sucedendo	singularmente	a	
um	dos	12	apóstolos.	Já	no	caso	do	Papa,	temos	uma	sucessão	de	
caráter	pessoal,	pois	ele,	pessoalmente,	ocupa	o	lugar	de	Pedro,	a	
quem	Cristo	confiou	uma	 função	e	específicas	prerrogativas	 (Mt	
16,	18-19).
A	 relação	entre	 colegialidade	e	primado	 representa	o	eixo	
fundamental	do	sistema	de	governo	da	Igreja.	Nela,	a	suprema	au-
toridade	 é	 constituída	 pelo	 Papa	 e	 pelo	 Colégio	 dos	 Bispos	 que	
estão	unidos	entre	si	(cân.	330).	Ambos	gozam	de	poder	supremo	
sobre	a	Igreja	universal,	mas,	enquanto	o	primeiro	pode	sempre	
o	exercitar	livremente,	ou	seja,	sem	estar	subordinado	a	qualquer	
autoridade	 humana,	 o	 segundo	 não	 pode	 ser	 entendido	 sem	 o	
Papa	(LG,	22b).	
© Direito Canônico I208
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os números 22 e 23 da Lumen Gentium tratam da relação entre o Papa e o 
Colégio Episcopal, e da dos Bispos entre si. A nota explicativa prévia da Lu-
men Gentium esclarece que a expressão "Colégio" não deve ser entendida em 
um sentido estritamente jurídico, ou seja, como um grupo de iguais, mas, sim, 
como um grupo estável cuja estrutura deriva da Revelação. De fato, o Colégio 
Episcopal, necessariamente e sempre, tem como cabeça o Romano Pontífice e 
sem ele não pode ser compreendido. No Colégio, o Papa conserva íntegro o seu 
ofício de Vigário de Cristo e de Pastor da Igreja universal. Em outras palavras, 
a distinção não é entre o Papa e os Bispos em seu conjunto, mas entre o Papa, 
separadamente, e o Papa juntamente com os Bispos. Dessa forma, o Romano 
Pontífice, enquanto Cabeça do Colégio, pode, sozinho, realizar certos atos que 
não competem aos Bispos, como, por exemplo, convocar e dirigir o Colégio, 
aprovar suas decisões, etc. Um comentário sobre esta nota explicativa da Lumen 
Gentium, você poderá encontrar na seguinte obra: NEVES, A. O Povo de Deus: 
renovação do Direito na Igreja. São Paulo: Loyola, 1987, p.129-132. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Como	você	pode	perceber,	estamos	diante	de	uma	estrutu-
ra	de	governo	diferente	das	que	conhecemos	em	outros	ordena-
mentos	 civis.	 Trata-se	 de	 algo	originário	 que	deriva	 da	natureza	
da	Igreja,	tal	como	disposta	por	seu	fundador,	que	confiou	a	mis-
são	apostólica	ao	inteiro	Colégio	Apostólico,	tendo	como	cabeça	o	
apóstolo	Pedro.	Na	Igreja,	o	poder	sagrado	vem	do	alto,	por	força	
de	uma	espécie	de	investidura	ontológico-sacramental,	e	não	de-
baixo,	como	nas	experiências	seculares	de	governo	democrático.
O	método	colegial	que	inspira	o	funcionamento	da	Igreja	e	
de	suas	instituições	não	pode	ser	assimilado	de	maneira	simplista	
à	 lógica	democrática	 (maioria/minoria)	que	é	seguida	na	organi-
zação	da	comunidade	política,	mas	deve	ser	compreendido	como	
uma	expressão	da	natureza	da	Igreja	como	comunhão,	na	qual	se	
perpetua	a	missão	apostólica.	
Tendo	presente	o	significado	da	sacra potestas,	do	primado	
do	Papa	e	da	Colegialidade	Episcopal	que	constituem	o	eixo	cen-
tral	para	uma	adequada	compreensão	do	governo	na	e	da	Igreja,	
podemos	passar,	agora,	para	o	estudo	dos	órgãos	de	governo	em	
âmbito	universal.
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209© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
8. ÓRGÃOS DE GOVERNO DA IGREJA UNIVERSAL
Não	 detalharemos,	 aqui,	 toda	 a	 normativa.	 Faremos,	 ape-
nas,	um	breve	aceno	para	os	tópicos	de	maior	relevância,	cabendo	
a	você	o	desafio	de	aprofundá-la	em	seu	estudo	individual.	
O romano pontífice (cânn. 331-335) 
O	cân.	331,	ao	tratar	do	Romano	Pontífice,	usa	o	título	"bispo	
da	Igreja	de	Roma"	(LG	nº.	22),	pois	é	este	o	seu	título	originário,	
não	somente	em	sentido	histórico,	mas,	também,	do	ponto	de	vis-
ta	teológico-canônico.	O	ministério	do	Romano	Pontífice	é,	acima	
de	 tudo,	 um	 serviço	 que	 ele	 presta	 à	 sua	 diocese,	 sobre	 a	 qual	
possui	uma	responsabilidade	episcopal	imediata	e	direta	(cân.	381	
§1).	Radicado	localmente	na	Igreja	de	Roma,	o	Romano	Pontífice	
é,	também,	a	título	pessoal,	supremo	pastor	do	corpo	das	Igrejas,	
enquanto	sucessor	de	Pedro.
Os	outros	títulos	elencados	pela	norma	são:	
•	 Cabeça	do	Colégio	Episcopal.	
•	 Vigário	de	Cristo.	
•	 Pastor	da	Igreja	universal.
Mediante	o	ofício	do	Romano	Pontífice,	permanece	na	Igreja	
a	função	de	Pedro.	O	Colégio	Episcopal	não	é	um	sujeito	autôno-
mo,	separado	ou	independente	do	Papa,	uma	vez	que	tal	Colégio	
somente	poderá	existir	cum Petro et sub Petro.	Em	virtude	da	or-
denação	episcopal,	o	Romano	Pontífice	é	membro	do	Colégio	dos	
Bispos	e,	sobre	o	plano	sacramental,	é	igual	aos	outros	Bispos;	em	
virtude	da	eleição	por	ele	aceita,	ele	é	a	cabeça	do	Colégio	Episco-
pal	e	o	pastor	da	Igreja	universal,	e,	por	isso,	há	uma	desigualdade	
de	natureza	jurisdicional	em	relação	aos	outros	Bispos.
O	Papa,	segundo	a	doutrina	do	Vaticano	I,	retomada	e	de-
senvolvida	pela	LG	nº.	18b,	enquanto	exercita	o	próprio	ministério	
na	obediência	e	na	fidelidade	a	Cristo,	princípio	e	fundamento	invi-
© Direito Canônico I210
sível,	é	o	fundamento	e	o	princípio	visível	da	unidade	da	Igreja,	na	
dupla	direção	do	episcopado	e	da	fé	e	comunhão	dos	fiéis.	O	Papa,	
portanto,	não	age	nem	como	um	monarca	absoluto,	nem	como	
um	mero	representante	de	um	colégio	que	pode	decidir	tudo	por	
maioria.	As	decisões	do	Colégio	são	aquelas	que	o	Papa	ratifica	ou	
aprova,	mesmo	permanecendo	como	decisões	de	um	Colégio.	
No	Bispo	da	Igreja	de	Roma,	permanece	o	ofício	concedido,	
singularmente,	a	Pedro.	Diante	deste	múnus recebido	do	Senhor,	a	
potestade	nada	mais	é	do	que	o	poder	ou	a	capacidade	de	atuá-lo,	
com	todas	as	faculdades	necessárias	para	este	fim.	Portanto,	em	
força	de	seu	ofício,	o	Romano	Pontífice	possui	uma	potestade	ordi-
nária	não	somente	na	Igreja	universal,	mas,	também,	sobre	todas	
as	Igrejas	particulares	(e	seus	agrupamentos)	confiadas	aos	cuida-
dos	dos	Bispos	(cân.	333	§2),	salva	a	justa	autonomia	deles	(LG	23).
Segundo	 o	 cân.	 331,	 retomando	 a	 constituição	 apostólica	
Pastor aeternus,	capítulo	3,	e,	também,	o	cân.	218	do	CIC	de	1917,	
as	notas	do	poder	do	Papa	são	as	seguintes:	ordinário,	supremo,	
pleno,	imediato	e	universal	e	pode	sempre	ser	exercido	livremente	
(cân.	331).	
Vejamos,	então,	mais	detalhadamente,	cada	uma	dessas	no-
tas.	
1)	 Ordinário:	porque	é	anexo	diretamente	ao	seu	ofício	e	à	
dignidade	dele	por	direito	divino	e	em	maneira	absoluta-
mente	estável	(cânn.	131	§1	e	141	§1).	Também	porque	
habitual	e	contínuo,	não	se	reduzindo	a	casos	ordinários	
ou	extraordinários.	
2)	 Supremo:	 significa	 que,	 na	 Igreja,	 não	 existe	 nenhum	
poder	 superior	 àquele	do	Papa,	 o	qual	 não	é	 limitado	
nem	pelo	concílio,	nem	pela	autoridade	civil.	O	Papa	não	
pode	ser	 julgado	por	quem	quer	que	seja	 (cân.	1404).	
Não	existe	apelo	ou	recurso	contra	as	suas	sentenças	ou	
decretos	(cânn.	333	§3,	1372,	1405	§2,	1732).	Este	poder	
supremo,	evidentemente,	possui	 limites	que	se	encon-
tram	na	Palavra	de	Deus	(DV	10),	no	direito	divino	e	na-
tural,	naquelas	disposições	que	Cristo	estabeleceu	para	
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211© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
a	sua	Igreja,	não	lhe	sendo	permitido,	portanto,	mudar	
a	sua	constituição.	Além	disso,	deve	ter	presente	o	Colé-
gio	dos	Bispos	e	o	direito	dos	fiéis.	Portanto,	o	poder	do	
Romano	Pontífice	não	se	identifica,	em	nenhum	modo,	
com	arbítrio	e	não	é	absoluto.	
3)	 Pleno	ou	Total:	não	lhe	falta	nenhum	elemento	necessá-
rio	e	nenhum	suplemento	de	autoridade	deve	pedir	para	
obter	o	fim	intrínseco	que	o	justifica.
4)	 Imediato:	tem	um	duplo	sentido,	seja	porque	pode	ser	
exercitado	 sobre	 todas	 as	 Igrejas	 particulares	 e	 sobre	
todos	os	fiéis,	seja	porque	qualquer	um	na	Igreja	pode	
se	comunicar	diretamente	com	o	Papa,	sem,	necessaria-
mente,	 recorrer	 a	 alguma	mediação,	 como,por	 exem-
plo,	a	dos	Bispos.	
5)	 Universal:	 enquanto	 território,	 sobre	 a	 Igreja	universal	
e	Igrejas	particulares;	enquanto	pessoal,	sobre	todas	as	
pessoas	 (pastores	e	 fiéis),	 individualmente	ou	em	gru-
pos.
6)	 De	 livre	exercício:	 a	 afirmação	 conclusiva	do	 cân.	 331,	
relativa	ao	livre	exercício	da	potestade	papal,	é	uma	con-
sequência	 lógica	das	notas	anteriores,	pois,	 faltando	a	
liberdade	de	exercício,	essas	notas	seriam	mera	forma-
lidade.	
Evidentemente, todas essas notas da potestade do Papa não 
comportam, certamente, que esta seja ilimitada e, muito menos, 
arbitrária. Não o pode ser porque pertence à mesma constituição 
divina da Igreja, à qual pertencem, também, outros elementos 
constitutivos (a Palavra de Deus, os sacramentos, a condição de 
igualdade fundamental dos fiéis, os direitos inerentes a esta con-
dição, o episcopado etc.) e porque é exercitada somente a serviço 
da Igreja e da sua missão. Portanto, os limites naturais da potes-
tade primacial do Papa são: o direito divino, natural e positivo, e a 
natureza e o fim próprio da Igreja. 
Como	Pedro	recebeu	o	seu	poder	diretamente	de	Cristo,	sem	
alguma	mediação,	assim	o	Romano	Pontífice	recebe	diretamente	
de	Deus	o	seu	ofício	e	com	o	ofício	o	poder	que	lhe	é	anexo,	cujas	
notas	vimos	anteriormente.
© Direito Canônico I212
O	modo	de	obter	este	ofício	é	a	eleição	legítima,	aceita	pelo	
eleito,	juntamente	com	a	consagração	episcopal	(cân.	332	§1).	Por-
tanto,	uma	vez	aceita	a	eleição	ao	sumo	pontificado,	o	eleito,	se	
já	havia	recebido	a	ordenação	episcopal,	é,	imediatamente,	Bispo	
da	Igreja	de	Roma,	verdadeiro	Papa	e	Cabeça	do	Colégio	dos	Bis-
pos.	Imediatamente,	adquire	a	plena	e	suprema	potestade	sobre	
a	Igreja	universal,	podendo	exercitá-la	livremente.	Faltando	algum	
elemento	indicado	(eleição	legítima,	aceitação	e	ordenação	epis-
copal),	o	poder	primacial	não	está	plenamente	constituído.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A possibilidade de se eleger um papa fiel, leigo ou clérigo, privado do caráter 
episcopal, repropõe a questão da relação entre o poder de ordem e aquele de 
jurisdição. Aqui, nós temos duas teses: aquela da natureza sacramental da po-
testade e aquela que afirma que a potestade não deriva do sacramento, mas da 
missio canonica. Conforme a primeira tese, toda a potestade na Igreja, compre-
endida aquela de ensinar e de governar, é de natureza sacramental e encontra 
a sua fonte no sacramento da ordem. Aqui, a comunhão hierárquica e a missão 
canônica seriam necessárias para o exercício da potestade de ensinar e gover-
nar, mas não confeririam, propriamente, um poder, e sim apenas as condições 
para o exercício de um poder. Segundo tal tese, o Papa é tal não com a eleição, 
mas com a ordenação episcopal. De acordo com a segunda tese, a potestade 
de governo não é conferida mediante o sacramento da ordem, mas por meio da 
missio canonica. Portanto, o Papa receberia a potestade diretamente de Deus, 
uma vez realizada a eleição legítima e aceita por ele, sem, necessariamente, ter 
recebido o sacramento da ordem. A solução encontrada pelo legislador foi a de 
exigir que o eleito, se não for Bispo, receba imediatamente a ordem episcopal. 
Desse modo, tentou-se reduzir a distância entre o sacramento e a jurisdição, 
mas, sem dúvida, a questão está longe de ser uma doutrina segura e certa, pois 
não cabe ao CIC tal função.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Quanto	 ao	 exercício	 do	 seu	múnus	 e	 de	 sua	potestade	na	
Igreja,	a	constituição	LG	nº.	22b	afirma	que	o	Colégio	dos	Bispos	
não	pode	existir	sem	o	Papa,	nem	pode	agir	contra	ele	ou	sem	ele.	
O	Romano	Pontífice	preside	o	Colégio	dos	Bispos	não	enquanto	
deste	 recebe	a	 sua	potestade,	mas	porque,	 imediatamente,	 por	
missão	divina,	a	recebe	de	Cristo.	
O	Pontífice,	portanto,	possui	o	direito	de	determinar,	segun-
do	as	necessidades	da	 Igreja,	a	modalidade,	pessoal	ou	colegial,	
de	exercitar	o	seu	múnus	e	a	sua	potestade	(cân.	333	§2).	Na	carta	
Claretiano - Centro Universitário
213© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
encíclica	Ut unum sint nº. 88, o	Papa	João	Paulo	II	reconheceu	que,	
para	a	maior	parte	dos	outros	cristãos,	há	uma	dificuldade	para	se	
acolher	o	exercício	do	primado	e,	por	isso,	convidou	aos	teólogos	
e	aos	responsáveis	por	outras	Igrejas	e	comunidade	eclesiais	para	
iniciarem	um	diálogo	sobre	formas	alternativas	para	o	exercício	do	
seu	ministério.	
É	evidente	que,	em	tal	diálogo,	alguns	pontos	deverão	per-
manecer	inalterados,	a	saber:	
1)	 a	 Igreja	 reconhece	 como	 seu	 elemento	 constitutivo	 o	
primado	confiado	diretamente	por	Cristo	a	Pedro	e	con-
tinuado	nos	seus	sucessores;	
2)	 o	primado	deve	ser	supremo,	ou	seja,	não	submetido	a	
qualquer	outra	autoridade	eclesial;	
3)	 cada	 fiel	deve	sempre	poder	apelar	ao	Papa,	ao	passo	
que	seus	atos	não	conhecem	apelo;	
4)	 a	 relação	 entre	 o	 primado	 e	 a	 colegialidade	 episcopal	
não	pode	ser	compreendida	em	termos	concorrenciais,	
mas	a	potestade	colegial	dos	Bispos,	por	sua	vez,	deve	
ser	coligada	e	distinta	da	potestade	que	cada	Bispo	pos-
sui	em	sua	diocese;	
5)	 o	Papa	no	exercício	do	seu	poder	deve	sempre	se	manter	
em	comunhão	com	os	outros	Bispos	e	está	sempre	limi-
tado	no	seu	agir	pelo	direito	divino,	natural	e	positivo	e	
pelo	princípio	da	necessidade	da	Igreja	que	irá	determi-
nar	a	finalidade	e	as	modalidades	do	seu	agir.
A	 liberdade	 que	 o	 direito	 reconhece	 ao	 Romano	 Pontífice	
no	exercício	do	seu	poder	permanece	um	elemento	constitutivo	
do	seu	ministério	pastoral.	Todavia,	esta	 liberdade	concerne,	es-
pecialmente,	ao	exercício	do	poder	(cân.	333	§2).	Sobre	esse	pla-
no,	o	Papa	possui	uma	verdadeira	discrecionalidade.	A	partir	do	
Concílio	 Vaticano	 II,	 os	 Papas	 insistiram	 sobre	 a	 necessidade	 de	
dar	ao	governo	da	Igreja	universal	um	estilo	participativo	e	corres-
ponsável.	De	fato,	esse	estilo	atua	nos	sínodos	dos	Bispos	junto	ao	
Papa,	nos	sínodos	continentais	e	regionais,	nos	concílios	particu-
lares,	nas	Conferências	Episcopais.	Tudo	isso,	juntamente	com	as	
© Direito Canônico I214
visitas	ad limina apostolorum	e	as	viagens	apostólicas	do	Papa,	é	
uma	expressão	da	união	dos	membros	do	Colégio	dos	Bispos	com	
o	Romano	Pontífice	e	vice-versa.
Durante	a	vacância	da	Sede	apostólica,	que	se	verifica	com	
a	morte	do	Papa	ou	por	sua	legítima	renúncia	ao	ofício,	o	governo	
da	Igreja	é	interinamente	assumido	pelo	Colégio	dos	Cardeais,	que	
não	pode,	porém,	modificar	ou	inovar	nada	na	vida	da	Igreja.	No	
caso	de	renúncia	do	Papa,	esta	somente	é	válida	se	for	realizada	
livre	e	devidamente	manifestada,	sem	necessitar	de	qualquer	tipo	
de	aceitação,	pois,	na	Igreja,	o	Papa	é	sempre	a	última	instância,	
uma	vez	que	o	seu	poder	é	supremo.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
É possível que se eleja um papa enquanto o predecessor ainda está vivo, como 
seria no caso da renúncia ou da sede totalmente impedida (cân. 335). Na segun-
da hipótese, poderíamos pensar em uma gravíssima doença que impeça o Ro-
mano Pontífice de se comunicar até mesmo por carta com os fiéis ou por outros 
motivos indicados pelo (cân. 412).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para se inteirar um pouco mais da normativa relativa ao Romano 
Pontífice, veja as seguintes obras: FELICIANI, G. As bases do Di-
reito da Igreja: comentários ao Código de Direito Canônico. São 
Paulo: Paulinas, 1994, p. 95-100; GHIRLANDA, G. O direito na 
Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. Apa-
recida: Santuário, 2003, p. 564-574; LOMBARDIA, P. Lições de 
direito canônico. Introdução. Direito Constitucional. Parte Geral. 
São Paulo: Loyola, 2008, p.134-138.
O Colégio episcopal (cânn. 336-341) 
Não	detalharemos,	aqui,	toda	a	normativa,	mas	faremos	um	
breve	aceno	para	os	 tópicos	de	maior	 relevância.	Caberá	a	você	
aprofundar	o	seu	conhecimento	acerca	deste	conteúdo,	conforme	
o	seu	interesse.
A	estrutura	 fundamental	do	colégio	dos	apóstolos	perdura	
no	Colégiodos	Bispos.	O	ofício	conferido	pelo	Senhor	a	Pedro	per-
Claretiano - Centro Universitário
215© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
dura	nos	seus	sucessores	e,	do	mesmo	modo,	o	ofício	apostólico	
de	apascentar	a	 Igreja	perdura	na	ordem	dos	Bispos,	os	quais	o	
exercitam	sem	interrupção.
O	Concílio	Vaticano	II	confirmou	a	doutrina	do	primado	do	
Romano	Pontífice	e	do	seu	 infalível	magistério	(LG	nº.	18),	e,	ul-
teriormente,	a	precisou,	esclarecendo	a	natureza	colegial	da	hie-
rarquia	eclesiástica	ao	afirmar	que	o	primado	e	o	episcopado	são	
diretamente	correlativos	entre	si	(LG	nº.	22).
A	noção	de	colégio	aplicada	aos	Bispos,	 juntamente	com	o	
Romano	Pontífice,	não	deve	ser	assumida	no	sentido	de	um	gru-
po	de	iguais	que	delegaram	a	própria	potestade	ao	presidente	do	
colégio,	mas,	sim,	no	sentido	de	um	grupo	estável,	cuja	estrutura	
deriva	da	própria	revelação.	
O	Colégio	Episcopal,	cuja	"Cabeça"	é	o	Papa,	é	formado	por	
todos	os	Bispos	em	razão	da	ordenação	episcopal	e	da	comunhão	
hierárquica	 com	o	 Papa	 e	 com	os	 demais	membros	 do	 Colégio.	
Portanto,	a	colegialidade	encontra	o	seu	fundamento	na	ordena-
ção	episcopal	e	na	comunhão	hierárquica	que	constituem	os	dois	
elementos	 fundamentais	 sem	 os	 quais	 não	 é	 possível	 se	 tornar	
membro	do	Colégio.	Assim,	somente	um	Bispo	legitimamente	or-
denado	está	em	comunhão	hierárquica	e	pode	ser	assumido	em	
um	determinado	ofício	com	a	respectiva	missio canonica.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A legítima consagração existe quando o novo Bispo foi nomeado livremente pelo 
Romano Pontífice ou foi por ele confirmado (se eleito legitimamente – cân. 377 
§1) e existiu um mandato pontifício para a sua consagração (cânn. 1013 e 1382).
A missio canonica é o ato jurídico da competente autoridade eclesiástica (nesse 
caso, o Papa) com o qual confere um determinado ofício (no sentido do cân. 
145 §1) ao Bispo legitimamente ordenado. Nela, determina-se, juridicamente, o 
âmbito de exercício do tríplice múnus da Igreja.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Tanto	o	Romano	Pontífice	pessoalmente,	quanto	o	Colégio	
dos	Bispos	com	o	Papa	representam	a	Igreja	universal	e	possuem	
sobre	ela	plena	e	suprema	potestade	 (cânn.	331	 -	333	§1;	336).	
A	potestade	é	plena	porque	possui	em	si	todos	os	elementos	ne-
© Direito Canônico I216
cessários	para	ser	aplicada,	e	suprema	porque	somente	é	limitada	
pela	Palavra	de	Deus	(DV	10),	pelo	direito	divino	e	natural	e	pelas	
disposições	que	Cristo	estabeleceu	para	a	 sua	 Igreja,	não	 sendo	
possível	mudar	a	sua	constituição.	
A	 potestade	 colegial,	 em	 sentido	 estrito,	 é	 exercitada	 em	
modo	solene	sobre	a	Igreja	universal	no	concílio	ecumênico	(cân.	
337	§1).	Enquanto	o	Colégio	dos	Bispos	é	de	direito	divino,	o	con-
cílio	ecumênico	é	de	direito	eclesiástico	e	é	regulado	por	normas	
positivas.	
O	concílio	ecumênico	pode	ser	definido	como	uma	legítima	
reunião	de	 todos	os	Bispos	e	de	outros	 convocados	pelo	Roma-
no	 Pontífice	 para	 deliberar	 questões	 doutrinais,	 disciplinares	 e	
pastorais	relativas	a	toda	a	Igreja.	Possuem	o	direito	e	o	dever	de	
participar	do	 concílio	ecumênico	com	voto	deliberativo	 todos,	e	
somente,	os	Bispos	membros	do	colégio	 (diocesanos,	 titulares	e	
eméritos),	isto	é,	os	legitimamente	consagrados	e	em	comunhão	
entre	si	e	com	o	Bispo	de	Roma	(cân.	339	§1).	Não	participam,	por	
direito,	os	que	foram	apenas	eleitos	para	o	episcopado	e	aqueles	
que	foram	colocados	à	frente	de	uma	Igreja	Particular	e	que,	pelo	
direito,	se	equiparam	aos	Bispos.	Outros	que	não	sejam	Bispos	po-
dem	ser	convocados	pelo	Romano	Pontífice,	ao	qual	compete	de-
terminar	qual	será	a	participação	deles	(cân.	339	§2).	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O CIC de 1917, fundado em uma antiga tradição histórica, estabelecia que fos-
sem chamados ao concílio ecumênico e tivessem direito a voto deliberativo os 
cardeais, mesmo os não Bispos, os patriarcas, os primazes, os arcebispos e 
Bispos residenciais, mesmo se não ainda consagrados, os abades primazes e os 
superiores das congregações monásticas, os moderadores supremos dos insti-
tutos religiosos isentos (cân. 223 §1). Previa, ainda, a participação de teólogos e 
canonistas, mas apenas com voto consultivo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os	direitos	do	Papa	em	relação	ao	concílio	são	enunciados	
pelos	 cânn.	 338,	 340	e	341.	Compete	a	 ele	 convocar	o	 concílio,	
dirigi-lo	e	confirmá-lo	e,	além	disso,	aprovar	os	argumentos	que	
serão	 tratados,	 dissolver	 o	 concílio,	 transferir,	 eventualmente,	 a	
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217© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
sua	sede,	suspender,	temporariamente,	os	trabalhos,	dar	continui-
dade	ao	concílio	interrompido	e	promulgar	os	decretos,	tornando-
-os	vinculantes.	
A	potestade	colegial	é	exercitada,	também,	mediante	a	ação	
conjunta	dos	Bispos	espalhados	pelo	mundo,	desde	que	sugerida	
ou	livremente	recebida	pelo	Papa,	transformando-se	em	um	ver-
dadeiro	ato	colegial	 (cân.	337	§2).	Nesse	caso,	a	 intervenção	do	
Papa	é	essencial	(cân.	337	§3).	A	ação	colegial,	assim	entendida,	
poderia	realizar-se	mediante	uma	pesquisa	a	respeito	da	opinião	
dos	 Bispos	 em	meio	 aos	 sínodos	 provinciais	 ou	 às	 Conferências	
Episcopais	(LG	nº.	22).
Para maior compreensão das normas que tratam do Colégio Epis-
copal, sugerimos que você consulte os seguintes textos: GHIR-
LANDA, G. O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compên-
dio de Direito Eclesial. Aparecida: Santuário, 2003, p 574-578; 
LOMBARDIA, P. Lições de direito canônico. Introdução. Direito 
Constitucional. Parte Geral. São Paulo: Loyola, 2008, p.129-132; 
NEVES, A. O Povo de Deus: renovação do Direito na Igreja. São 
Paulo: Loyola, 1987, p. 138-144. 
instituições e pessoas que ajudam o papa (cânn. 342-367) 
O	Papa	no	governo	da	Igreja	é	assistido	por	pessoas	e	insti-
tuições
Em	 razão	da	pertença	 ao	Colégio	dos	Bispos,	 a	 cooperação	
maior	compete,	acima	de	tudo,	aos	Bispos.	O	Sínodo	dos	Bispos	é	
uma	das	 formas	privilegiadas	de	cooperação	colegial,	baseada	na	
corresponsabilidade	dos	Bispos	no	confronto	de	toda	a	Igreja	(cânn.	
342-348).	 Em	 seguida,	 aparecem	os	 Cardeais,	 que	 tanto	 colegial-
mente	 quanto	 singularmente	 (cânn.	 349-359)	 ajudam	 o	 Romano	
Pontífice	no	governo	da	Igreja.	Por	fim,	temos	a	Cúria	Romana	(cânn.	
360-361)	e	os	Legados	Pontifícios	(cânn.	362-367),	que	também	au-
xiliam	o	Romano	Pontífice	em	questões	de	governo	e	pastoral.	
© Direito Canônico I218
Vejamos,	agora,	de	modo	bem	sucinto,	cada	uma	dessas	ins-
tituições.
O sínodo dos bispos (cânn. 342-348)
Provavelmente,	você	já	deve	ter	ouvido	falar	no	Sínodo	dos	
Bispos,	pois,	de	vez	em	quando,	este	nome	aparece	nos	órgãos	de	
imprensa.
O	Sínodo	dos	Bispos	foi	criado	pouco	antes	do	encerramento	
do	Concílio	Vaticano	II,	por	iniciativa	do	Papa	Paulo	VI,	em	sintonia	
com	as	 conclusões	 dos	 debates	 ocorridos	 no	 concílio.	O	 pedido	
inicial	do	Papa	ao	Concílio	era	o	de	ver	associado	a	si,	em	certo	
modo	 e	 para	 certas	 questões,	 alguns	 representantes	 do	 episco-
pado,	particularmente	entre	os	Bispos	que	dirigem	uma	diocese,	
para	auxiliá-lo	no	governo	eclesiástico.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A resposta do Concílio veio no art. 5 do decreto Christus Dominus, que assim 
estabelece:
Bispos escolhidos de diversas regiões do orbe, segundo modos 
e métodos estabelecidos ou a serem estabelecidos pelo Romano 
Pontífice, prestam ao Supremo Pastor da Igreja ajuda mais válida 
no Conselho que tem por nome Sínodo Episcopal. Este Sínodo, re-
presentando todo o Episcopado católico, ao mesmo tempo significa 
que todos os Bispos em comunhão hierárquica participam na solici-
tude pela Igreja Universal. 
O texto conciliar reconhece, portanto, que o Sínodo dos Bispos é expressão da 
colegialidade episcopal e uma forma particular de sua atuação.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
No	motu proprio	Apostolicasollicitudo	(15-09-65),	de	Paulo	
VI,	e	nos	documentos	sucessivos,	o	Sínodo	dos	Bispos	é	apresenta-
do	como	um	órgão	consultivo	do	ofício	primacial	e,	nessa	perspec-
tiva,	desenvolveu-se	a	normativa	atual.	
O	cân.	342	descreve	o	Sínodo	dos	Bispos	como:
A	assembléia	dos	Bispos	que,	escolhidos	das	diversas	 regiões	do	
mundo,	reúnem-se	em	determinados	tempos,	para	promover	a	es-
treita	união	entre	o	Romano	Pontífice	e	os	Bispos,	para	auxiliar	com	
seu	conselho	ao	Romano	Pontífice	na	preservação	e	crescimento	
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219© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
da	 fé	e	dos	costumes,	na	observância	e	consolidação	da	discipli-
na	eclesiástica,	e,	ainda,	para	examinar	questões	que	se	referem	à	
ação	da	Igreja	no	mundo.
O	Sínodo	dos	Bispos,	de	um	ponto	de	vista	substancial,	é	um	
órgão	que	manifesta	o	afeto	colegial	do	inteiro	episcopado,	parti-
cipando	da	potestade	do	Papa	para	o	bem	da	Igreja	universal.	De	
um	ponto	de	vista	jurídico	formal,	o	sínodo	é	um	órgão	consultivo	
primacial,	ou	seja,	um	instrumento	utilizado	pelo	Papa	para	exer-
citar	melhor	o	seu	ofício.	Com	base	nesse	ponto	de	vista,	o	Sínodo	
dos	Bispos	possui	somente	uma	função	consultiva,	e,	por	essa	ra-
zão,	não	pode	vincular	o	Papa	em	seus	pareceres	e,	nem	mesmo,	
possui	competência	jurídica	no	governo	da	Igreja	universal.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Alguns autores chegaram a sugerir que fosse estendido ao Sínodo dos Bispos 
o poder deliberativo. Mas isso não foi aceito porque, na verdade, o sínodo não 
é uma expressão de todo o colégio episcopal, sendo um instituto autônomo e 
distinto do segundo. Na verdade, o sínodo é um meio mediante o qual o Papa 
exercita o próprio ofício primacial de um modo colegial. Isso não significa que o 
sínodo não tenha o seu valor, pois as conclusões por ele formuladas podem fazer 
parte do processo de formação das decisões e dos pronunciamentos pontifícios 
que se seguem ao sínodo. Nos casos em que o Romano Pontífice tenha conce-
dido ao sínodo uma potestade deliberativa (delegada), as decisões tomadas por 
este órgão deverão ser ratificadas pessoalmente pelo Papa (cân. 343). Sobre o 
caráter consultivo do Sínodo, Dadeus Grings observa o seguinte: 
Não gozando de poder decisório, o Sínodo dos Bispos vive continu-
amente num impasse. Discutem-se longamente os temas e todos 
voltam um pouco frustrados para casa, à espera de que o Papa 
eventualmente faça algum uso das sugestões apresentadas. Senão 
tudo passa para o arquivo. Na verdade, porém, têm surgido, em 
conseqüência das assembléias sinodais, documentos pontifícios 
importantes, como, por exemplo, sobre a evangelização, a cateque-
se, a família, a penitência (1986, p. 67). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Além	da	índole	consultiva,	ao	Sínodo	dos	Bispos	é	reconhe-
cida	uma	finalidade	de	comunhão	que	se	realiza	por	meio	da	in-
formação	sobre	a	efetiva	situação	das	Igrejas	em	relação	a	deter-
minadas	matérias,	da	comunicação	de	experiências	pastorais	e	da	
proposta	de	soluções	para	os	problemas	em	estudo.	Tal	comunhão	
© Direito Canônico I220
visa	favorecer	uma	estreita	união	entre	o	Romano	Pontífice	e	os	
Bispos	(cân.	342)	e	promover	um	acordo	de	opiniões	sobre	pontos	
essenciais	da	doutrina	e	sobre	o	modo	pastoral	de	agir	no	governo	
da	Igreja.
Cf. o Motu proprio Apostolica sollicitudo, n. II, 1-2. Tratam-se, por-
tanto, de objetivos e finalidades que colocam o Sínodo dos Bispos 
em relação com todo o episcopado com a intenção de se atingir 
um governo de comunhão, como requer uma eclesiologia de co-
munhão. Por meio da communio pastorum, realiza-se a communio 
ecclesiarum e, como consequência, a unidade da Igreja.
O	Sínodo	dos	Bispos	pode	ser	convocado	pelo	Romano	Pon-
tífice	em	três	formas	diversas,	indicadas	pelo	cân.	345:
•	 assembleia	geral	ordinária:	quando	o	assunto	a	ser	trata-
do,	pela	sua	natureza	ou	importância,	requer	a	doutrina,	
a	prudência	e	o	parecer	do	inteiro	episcopado	católico;
•	 assembleia	geral	extraordinária:	quando	o	assunto	a	ser	
tratado,	 mesmo	 sendo	 relacionado	 ao	 bem	 de	 toda	 a	
Igreja,	exige	uma	rápida	definição;
•	 assembleia	especial:	quando	o	argumento	a	ser	estudado	
diz	respeito	a	uma	ou	mais	regiões	geograficamente	de-
terminadas	e,	portanto,	sem	alcance	universal.	
As	três	diversas	assembleias	são	reguladas	com	normas	es-
pecíficas	que	determinam	a	composição	do	sínodo,	a	sua	estrutura	
orgânica	(presidência,	secretaria,	ofícios,	organismos),	a	convoca-
ção	e	os	procedimentos.	Os	detalhes	desta	normativa	encontram-
-se	no	Ordo Synodi.
Quanto	aos	direitos	do	Romano	Pontífice	em	relação	ao	Sí-
nodo	(cân.	344),	convém	observar	a	existência	de	um	evidente	pa-
ralelismo	com	o	cân.	338,	do	qual	já	falamos	anteriormente.	
Por	fim,	é	importante	considerar	que	o	legislador,	tratando	
da	Constituição	hierárquica	da	 Igreja,	 colocou	os	 cânones	 relati-
vos	ao	Sínodo	dos	Bispos	(cânn.	342-348)	imediatamente	depois	
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221© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
daqueles	relativos	ao	Romano	Pontífice	(cânn.	331-335)	e	ao	Colé-
gio	Episcopal	(cânn.	336-341),	antes,	portanto,	daqueles	relativos	
ao	Colégio	Cardinalício	 (cânn.	349-359)	e	à	Cúria	Romana	(cânn.	
360-361).	Trata-se	de	uma	posição	canônica	de	privilégio	que	reco-
nhece	seja	a	particular	dignidade	do	Sínodo	dos	Bispos,	seja	a	sua	
superioridade	 teológica	 e	 funcional	 em	 relação	 aos	 organismos	
tradicionais	da	cúria	romana.	
Para maior compreensão do assunto, sugerimos que você leia 
alguns dos textos que se ocupam do Sínodo dos Bispos: MAR-
CHESI, M. Organismos de participação numa Igreja de comunhão. 
In: CAPPELLINI, E. (Org.). Problemas e perspectivas de Direito 
Canônico. São Paulo: Loyola, 1995, p. 123-128; FELICIANI, G. 
As bases do direito da Igreja. Comentários ao Código de Direito 
Canônico. São Paulo: Paulinas, 1994, p. 107-109; GHIRLANDA, 
G. O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direi-
to Eclesial. Aparecida: Santuário, 2003, p. 579-584; NEVES, A. O 
Povo de Deus: renovação do Direito na Igreja. São Paulo: Loyola, 
1987, p. 144-146.
O Colégio Cardinalício (cânn. 349-359)
O	nome	cardeal	não	 lhe	é	estranho,	certo?	A	etimologia	do	
termo	cardeal	encontra-se	no	latim	cardo/cardinis,	e	no português	
gonzo	ou	eixo,	algo	que	gira	em	torno	de	alguma	coisa,	nesse	caso,	
em	torno	do	Papa.	Assim,	os	Cardeais	da	santa	Igreja	Romana	são	
chamados	desse	modo	em	razão	do	peculiar	vínculo	que	há	entre	o	
Colégio	Cardinalício	e	a	Igreja	de	Roma	e,	em	particular,	com	o	Papa.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Nos primeiros séculos da Igreja, o Papa era auxiliado no governo da diocese de 
Roma por um grupo de presbíteros, incardinados em uma igreja titular de Roma, 
e de diáconos, responsáveis pelos serviços litúrgicos, pela administração dos 
bens temporais e pelo serviço da caridade nas regiões político-administrativas 
de Roma. A partir do século 6º, os sete Bispos das dioceses que circundavam 
Roma, chamadas suburbicárias, passaram a prestar serviços litúrgicos na basíli-
ca do Latrão, sendo, portanto, nela incardinados. 
A partir do século 10, em Roma, os três grupos, Bispos cardeais, presbíteros car-
deais e diáconos cardeais, já estavam definidos e ser cardeal comportava sim-
plesmente assistir ao Bispo de Roma nas celebrações litúrgicas mais solenes. 
© Direito Canônico I222
A passagem mais importante se dá quando esses três grupos se tornam um 
único colégio, no interior do qual as diferenças entre as ordens tornam-se secun-
dárias e somente nominais. A partir de 1059, esse colégio intervém diretamente 
na eleição do Papa, juntamente com os outros clérigos e leigos de Roma e, do 
Concílio Lateranense III em diante (1179), torna-se o único a escolher o Papa. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os	Cardeais	constituem,	na	Igreja	de	Roma,	um	peculiar	co-
légio	ao	qual	compete,	sobretudo,	assegurar	a	eleição	do	Romano	
Pontífice	e	assisti-lo,	sejacolegialmente,	quando	são	convocados	
para	 juntos	 tratar	as	questões	de	maior	 importância,	seja	singu-
larmente,	nos	ofícios	que	ocupam,	prestando	ajuda	ao	Papa,	es-
pecialmente	no	cuidado	cotidiano	pela	Igreja	universal	(cân.	349).
Para a melhor compreensão desse assunto, sugerimos que você 
realize a leitura do seguinte texto: GHIRLANDA, G. O direito na 
Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. Apa-
recida: Santuário, 2003, p. 584-587.
Vejamos,	agora,	os	principais	aspectos	relativos	à	organiza-
ção	do	Colégio	Cardinalício:
1)	 Funções:	os	Cardeais	constituem	um	peculiar	colégio	de	
prelados	ao	qual	compete	assegurar	a	eleição	do	Roma-
no	 Pontífice	 (UDG	 33)	 e	 assisti-lo,	 seja	 colegialmente,	
quando	convocados	para,	 juntos,	tratarem	as	questões	
de	maior	 importância,	 seja	 singularmente,	 nos	 ofícios	
que	 ocupam	 (cân.	 349).	 Os	 Cardeais	 podem	 ajudar	 o	
Papa	 ocupando	 alguns	 ofícios	 na	 Cúria	 Romana	 (cân.	
356)	ou,	também,	como	legados	a	latere	(cân.	358).	Du-
rante	a	sede	vacante	o	governo	da	Igreja	compete	ao	Co-
légio	dos	Cardeais	até	a	eleição	do	novo	Pontífice.	
2)	 Nomeação:	os	Cardeais	são	escolhidos	livremente	pelo	
Romano	Pontífice,	entre	Bispos	e	presbíteros	que	se	dis-
tinguem	em	modo	eminente	pela	 doutrina,	 costumes,	
piedade	e	prudência	no	agir.	Aqueles	que	não	são	Bispos	
devem	receber	a	ordenação	episcopal	(cân.	351	§1).	
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223© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
O Papa pode autorizar que um presbítero continue como tal, como 
no caso dos Cardeais Henri de Lubac (1983), Pietro Pavan (1985) 
e Paolo Dezza (1991).
 
Cardeais	são	criados	com	um	decreto	do	Romano	Pontífice	
que	se	torna	público	diante	do	Colégio	dos	Cardeais	(Consistório).	
No	caso	do	Papa	manter	em	segredo	uma	nomeação,	surge	a	figu-
ra	do	cardeal	in pectore,	o	qual	não	possui	qualquer	dever	ou	di-
reito	relativo	aos	Cardeais	(cân.	351	§§	2-3)	enquanto	o	seu	nome	
não	for	publicado.
3)	 Articulação	do	colégio	cardinalício:	o	Colégio	dos	Carde-
ais	é	dividido	em	três	ordens,	a	saber,	episcopal,	pres-
biteral	 e	 diaconal.	 A	 primeira	 é	 composta	 por	 aqueles	
aos	quais	o	Romano	Pontífice	atribuiu	o	 título	de	uma	
igreja	suburbicária	e	pelos	patriarcas	orientais	incluídos	
no	Colégio.	A	segunda	é	composta	por	aqueles	aos	quais	
o	Papa	atribuiu	um	título	de	uma	Igreja	de	Roma.	A	ter-
ceira	é	composta	por	aqueles	aos	quais	o	Papa	confiou	o	
título	de	uma	diaconia	de	Roma	e,	normalmente,	esses	
ocupam	funções	na	Cúria	Romana	(cân.	350).	Em	deter-
minadas	 condições,	 os	 Cardeais	 da	 ordem	 presbiteral	
e	diaconal	podem	passar,	 respectivamente,	para	outro	
título	ou	outra	diaconia	(cân.	350	§5).	Os	Cardeais	diá-
conos	que	permaneceram	como	tal	por	dez	anos	podem	
passar	para	a	ordem	presbiteral	com	precedência	sobre	
outros	Cardeais	presbíteros	 cooptados	 sucessivamente	
(cân.	350	§6).	O	Colégio	é	presidido,	sem	qualquer	po-
testade	de	governo	sobre	os	outros	membros,	pelo	Car-
deal	 Decano;	 caso	 este	 esteja	 impedido,	 é	 substituído	
pelo	Subdecano	(cân.	352	§1).
4)	 O	Consistório:	os	Cardeais	ajudam	colegialmente	o	Ro-
mano	 Pontífice	 nos	 consistórios	 ordinários,	 ou	 seja,	
quando	são	convocados	todos	os	que	residem	em	Roma	
para	tratar	assuntos	de	certa	gravidade	ou,	então,	para	
participar	 de	 grandes	 solenidades.	 Neste	 último	 caso,	
o	consistório	pode	ser	público	e	são	admitidos	Bispos,	
representantes	diplomáticos	e	outros	convidados.	Já	os	
© Direito Canônico I224
consistórios	extraordinários	ocorrem	quando,	diante	de	
necessidades	especiais	da	Igreja	ou	de	graves	questões	
a	serem	tratadas,	são	convocados	todos	os	Cardeais	da	
Igreja	(cân.	353).	O	processo	de	internacionalização	do	
Colégio	Cardinalício	faz	com	que	este,	mesmo	não	sendo	
um	órgão	 representativo	do	episcopado	mundial,	 pos-
sa	recolher	opiniões	de	Bispos	do	mundo	inteiro	sobre	
questões	particularmente	significativas.	
5)	 Outros	 aspectos	 relevantes:	 ao	 completar	 75	 anos	 de	
idade,	os	Cardeais	são	convidados	a	apresentar	a	renún-
cia	ao	ofício	que	ocupam,	e,	ao	cumprir	80	anos,	perdem	
o	direito	de	participar	do	conclave	e,	portanto,	de	eleger	
o	Romano	Pontífice	(cân.	354).	
No	caso	de	vacância	da	Sé	Apostólica,	o	Colégio	Cardinalício	
assume	o	governo	da	Igreja,	mas	possui	somente	aquela	potesta-
de	estabelecida	por	legislação	peculiar	(cân.	359).	
a Cúria romana (cânn. 360-361) 
O	Papa	no	exercício	do	seu	ofício,	além	da	ajuda	dada	pelo	
Episcopado	e,	em	particular,	pelo	Sínodo	dos	Bispos	e	pelo	Colégio	
dos	Cardeais,	utiliza-se	de	um	complexo	de	pessoas,	de	ofícios	e	de	
instituições	denominado	Cúria	Romana.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O CIC atual dedica apenas dois cânones à Cúria Romana (cânn. 360-361). Isso 
porque há uma normativa que não se encontra no CIC, mas em uma legislação 
particular promulgada pelo Papa João Paulo II em 1988, chamada Pastor Bonus. 
Neste documento, o Papa assim descreve a Cúria Romana:
A cúria romana é o conjunto dos dicastérios e dos organismos que 
coadjuvam o romano pontífice no exercício do seu supremo ofício 
pastoral para o bem e o serviço da Igreja universal e das Igrejas 
particulares, exercício com o qual se reforçam a unidade da fé e 
a comunhão do povo de Deus e se promove a missão própria da 
Igreja no mundo (art.1). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Claretiano - Centro Universitário
225© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
Para compreender melhor este assunto, leia: GHIRLANDA, G. 
O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito 
Eclesial. Aparecida: Santuário, 2003, p. 587-595.
Do	ponto	de	vista	eclesiológico,	a	Cúria	Romana	surgiu	com	
uma	única	finalidade:	tornar	mais	eficaz	o	exercício	universal	do	
ministério	que	Cristo	confiou	a	Pedro	e	a	seus	sucessores.	Isso	faz	
que	a	Cúria	 tenha	um	caráter	eclesial	e	ministerial.	Certamente,	
não	pertence	à	constituição	divina	da	Igreja	nem	pode	ser	equipa-
rada	ao	Colégio	Episcopal.	Possui	um	caráter	eclesial	enquanto	e	
na	medida	em	que	a	sua	existência	e	competência	se	fundamen-
tam	na	vontade	do	pastor	da	Igreja	universal.	
Do	 ponto	 de	 vista	 jurídico,	 a	 Cúria	 é	 um	 instrumento	 nas	
mãos	do	Romano	Pontífice	e	não	possui	qualquer	autoridade	ou	
poder	além	daquele	que	recebe	diretamente	do	Papa,	tendo,	por-
tanto,	um	poder vicário. Por	isso,	a	Cúria	Romana	não	age	por	ini-
ciativa	própria	nem	por	direito	próprio.	É	no	poder	que	recebeu	do	
Papa	que	está	sua	força,	seus	limites	e	suas	prerrogativas.	
Quanto	à	composição,	a	constituição	apostólica	Pastor bo-
nus afirma	que	a	Cúria	se	compõe	de	dicastérios	e	institutos	(ar-
tigos	1	e	2;	cân.	360). Com	o	nome	de	dicastérios,	entende-se:	a	
Secretaria	de	Estado,	as	Congregações,	os	Tribunais,	os	Conselhos	
e	Ofícios	(Câmara	Apostólica,	Administração	do	patrimônio	da	S.	
Apostólica,	a	Prefeitura	dos	negócios	econômicos	da	S.	Sede).	Já	
com	o	nome	de	institutos:	a	Prefeitura	da	casa	pontifícia	e	o	ofício	
das	celebrações	litúrgicas	do	Romano	Pontífice.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Eis um breve apanhado desta complexa estrutura: 
1) Secretaria de Estado: possui o objetivo de ajudar, de muito perto, o Romano 
Pontífice no exercício de sua missão suprema (artigos 39-40). É presidida 
pelo cardeal secretário de Estado e possui duas secções: a secção dos negó-
cios gerais, dirigida por um substituto (artigos 41-44), e a secção das relações 
com os Estados, dirigida pelo próprio secretário (artigos 45-47).
© Direito Canônico I226
2) Congregações (artigos 48-116): são nove, no total, a saber, para a Doutrina 
da Fé; para as Igrejas Orientais; para o Culto Divino e a disciplina dos Sacra-
mentos; para a causa dos Santos; para os Bispos; para a Evangelização dos 
Povos; para o Clero; para os IVC e SVA; para a Educação Católica.
3) Tribunais (artigos 117-130): temos três tribunais, quais sejam, Penitenciaria 
apostólica; Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica;Tribunal da Rota Ro-
mana.
4) Pontifícios Conselhos (artigos 131-170): no total, são 12: para os leigos; para 
o desenvolvimento da unidade dos cristãos; para a família; para a justiça e a 
paz; para a promoção da caridade; da pastoral para os migrantes e itineran-
tes; da pastoral para os operadores de saúde; para a interpretação dos textos 
legislativos; para o diálogo inter-religioso; para o diálogo com os não crentes; 
da cultura; das comunicações sociais.
5) Oficinas (artigos 171-179): são três, a saber, Câmara apostólica; Administra-
ção do patrimônio da Sé Apostólica; Prefeitura dos assuntos econômicos da 
Santa Sé.
6) Outras instituições (artigos 180-182): Prefeitura da casa pontifícia; Ofício das 
celebrações litúrgicas do sumo pontífice.
7) Coligados com a S. Sé (187-193): o Arquivo secreto do Vaticano; a Biblioteca 
apostólica Vaticana; a Pontifícia Academia das ciências; a Tipografia Poliglota 
Vaticana, a LEV; o L´Osservatore Romano, a Rádio Vaticana e o Centro Tele-
visivo Vaticano; a Fábrica de São Pedro e a "Elemosineria" apostólica.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Há,	entre	os	dicastérios,	uma	paridade	(art.	2	§2).	São	com-
postos	pelo	cardeal	prefeito	ou	por	um	arcebispo	presidente;	por	
um	número	determinado	de	padres	cardeais	e	Bispos,	com	a	aju-
da	de	um	secretário.	Além	desses,	há	os	 consultores,	os	oficiais	
maiores	e	um	número	apropriado	de	outros	oficiais.	A	presença	
de	leigos	em	determinados	dicastérios	não	lhes	permite	o	exercí-
cio	da	potestade	de	governo,	reservada	àqueles	que	receberam	o	
sacramento	da	ordem.	
Por	 fim,	por	Santa	Sé,	ou	Sé	Apostólica,	deve-se	entender,	
em	primeiro	lugar,	o	Papa,	mas,	também,	observando-se	a	nature-
za	e	o	contexto,	a	Secretaria	de	Estado,	o	Conselho	para	os	negó-
cios	públicos	da	Igreja	e	a	Cúria	Romana	com	os	seus	organismos	
(cân.	361).
Os Legados pontifícios (cânn. 362-367) 
A	expressão	"legado	pontifício"	talvez	 lhe	seja	desconheci-
da,	embora,	na	prática,	alguma	ideia	você	já	tenha.	Por	exemplo,	
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227© U4 - O Governo da Igreja em Âmbito Universal
certamente,	já	ouviu	falar	na	figura	do	núncio	apostólico	aqui	no	
Brasil.	Trata-se	de	alguém	que,	pessoalmente,	representa	o	Papa.	
A	Igreja	Católica	afirma	o	direito	nativo	e	independente	do	
Romano	Pontífice	de	nomear	e	enviar	seus	Legados,	seja	junto	às	
Igrejas	 particulares	 nas	 várias	 regiões	 do	mundo,	 seja	 junto	 aos	
Estados	e	Governos	(cân.	362).
O	fundamento	teológico	do	direito	de	representação	da	San-
ta	Sé	é	individuado	na	missão	confiada	por	Cristo	ao	Papa	de	con-
firmar	os	irmãos,	de	guiá-los,	de	mantê-los	unidos,	de	sustentá-los	
e	de	confortá-los,	não	somente	com	a	sua	palavra,	mas,	também,	
com	a	sua	presença.
O	direito	de	representação	da	Santa	Sé	sempre	obteve	re-
conhecimento	jurídico	por	parte	do	direito	internacional	e,	ainda	
hoje,	entre	a	Santa	Sé	e	muitos	Estados	há	relações	com	objetivos	
mais	espirituais	do	que	políticos.	
Por	causa	da	dupla	dimensão	que	caracteriza	o	ofício	de	le-
gado	pontifício	(em	muitos	casos,	intraeclesial	e	diplomática),	esse	
instituto	jurídico	é	regulado	por	diversos	tipos	de	normas.	A	fun-
ção	diplomática	dos	legados	pontifícios	é	realizada	com	base	nas	
normas	do	direito	 internacional,	enquanto	a	 função	 intraeclesial	
observa	as	normas	canônicas	(cânn.	362-367),	sendo	que	estas	es-
tão	em	íntima	sintonia	com	aquelas.	
Para se interar melhor sobre os legados pontifícios, sugerimos que 
você faça a leitura das seguintes obras: CORRAL SALVADOR, C.; 
URTEAGA EMBIL, J. M. (Org.). Dicionário de Direito Canônico. 
São Paulo: Loyola, 1993, p. 428-433; GHIRLANDA, G. O direi-
to na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. 
Aparecida: Santuário, 2003, p. 595-598.
O	instituto	da	representação	do	Romano	Pontífice	compre-
ende	uma	pluralidade	de	figuras	referentes	ao	tipo	e	ao	grau	de	
representação.	A	classe	do	representante	pontifício	diferencia-se	
em	relação	ao	caráter	temporal	ou	estável	do	mandato	recebido.	
© Direito Canônico I228
Para	as	missões	temporárias	 junto	às	autoridades	eclesiásticas	e	
que	não	possuem	um	caráter	diplomático,	temos	as	seguintes	fi-
guras:	os	legados	a	latere,	ou	seja,	Cardeais	que	recebem	a	missão	
de	representar,	como	uma	espécie	de	alter	ego,	a	pessoa	do	Papa	
em	particulares	 celebrações	ou	 assembleias	 solenes;	 o	 visitador	
ou	delegado	apostólico,	quando	a	missão	recebida	tem	uma	fun-
ção	de	controle.	Tratando-se	de	uma	missão	diplomática,	usa-se	a	
figura	do	enviado	especial.	Para	as	missões	estáveis,	o	CIC		indica-
-nos	os	seguintes	 tipos	de	 legados:	Delegados	Apostólicos;	Nún-
cios;	Representantes	e	Observadores;	 Encarregados	de	negócios	
ad interim.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os núncios desenvolvem a própria função de modo estável contemporaneamen-
te diante dos chefes de Estado e diante da Hierarquia Eclesiástica do lugar. No 
direito internacional, são equiparados aos embaixadores de um país. Atualmen-
te, a Santa Sé possui Núncios Apostólicos junto a 172 países e em 50 deles o 
Núncio é o Decano do Corpo Diplomático.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O	cân.	363	não	exige	que	o	legado	pontifício	tenha	recebido	
o	sacramento	da	ordem.	Os	clérigos	continuam	tendo	a	preferên-
cia	por	razões	pastorais	e	devido	à	participação	do	legado	ao	mú-
nus	do	Bispo	de	Roma.
As	 funções	dos	 legados,	 que	 são	elencadas	pelo	 cân.	 364,	
dizem	respeito	à	tutela	do	exercício	da	potestade	dos	Bispos	(2º,	
6º,	7º);	às	relações	com	as	Conferências	Episcopais	(3º);	à	nomea-
ção	dos	Bispos	(4º);	à	informação	à	Santa	Sé	sobre	a	situação	das	
Igrejas	particulares	(1º);	à	promoção	do	ecumenismo,	da	paz	e	da	
cooperação	entre	os	povos	(5º),	às	relações	com	os	institutos	de	
vida	consagrada	(Sollicitudo omnium Ecclesiarum	IX,	1;	2).	Aqueles	
que,	também,	exercitam	a	função	junto	aos	governos	dos	Estados	
possuem	a	missão	de	promover	 e	 sustentar	 as	 relações	 entre	 a	
Santa	Sé	e	as	autoridades	do	lugar.	
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9. Questões autOavaLiativas
Confira,	na	sequência,	as	questões	propostas	para	verificar	
seu	desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Quem	na	Igreja	possui	poder	supremo?	
2)	 O	poder	na	Igreja	é	tripartido,	como	acontece	em	vários	países?	Esclareça.
3)	 Quais	são	os	requisitos	necessários	para	ser	membro	do	Colégio	Episcopal?
4)	 Quais	são	as	notas	da	potestade	do	Romano	Pontífice.	Explique-as.
5)	 Podemos	afirmar	que	o	Sínodo	dos	Bispos	ocupa	no	CIC	uma	posição	ca-
nônica	de	privilégio	em	relação	ao	Colégio	Cardinalício	e	à	Cúria	Romana?	
Justifique.	
6)	 Quem	escolhe	os	Cardeais	e	quais	os	requisitos	para	se	tornar	cardeal?
7)	 Um	leigo	pode	ser	legado	pontifício?	Justifique.
10. COnsiderações
Esta	unidade	apresentou	uma	breve	abordagem	a	respeito	
do	governo	da	Igreja	universal.	Agora,	caberá	a	você,	valendo-se	
da	bibliografia	indicada,	esclarecer	outros	aspectos	da	normativa.	
Com	tais	conhecimentos,	estamos	aptos	a	estudar,	na	Uni-
dade	5,	o	governo	da	Igreja	em	âmbito	particular,	a	Igreja	Católica	
é	uma	comunhão	de	Igrejas	particulares	que	possuem	um	próprio	
governo	e	é	dele	que	nos	ocuparemos	logo	na	sequência.	
Esperamos	que	essa	seja	mais	uma	oportunidade	de	cresci-
mento	e	amadurecimento	para	todos	nós!
Vamos	lá?
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPPELLINI,	E.	(Org.).	Problemas e perspectivas de direito canônico.	São	Paulo:	Loyola,	
1995.
© Direito Canônico I230
DE	LIMA,	M.	C.	Introdução à história do direito canônico.	São	Paulo:	Loyola,	1999.
FELICIANI,	G.	As bases do direito da igreja.	Comentários	ao	código	de	direito	canônico.	
São	Paulo:	Paulinas,	1994.
GEROSA,	L.	A interpretação da lei na igreja:	princípios,	paradigmas	e	perspectivas.	São	
Paulo:	Loyola,	2005.
GHIRLANDA,	G.	O direito na Igreja:	mistério	de	comunhão.	Compêndio	de	Direito	Eclesial.	
Aparecida:	Santuário,	2003.
GRINGS,	D.	A ortopráxis da igreja.	O	direito	canônico	a	serviçoda	pastoral.	Aparecida:	
Santuário,	1996.
	 LOMBARDIA,	 P.	 Lições de direito canônico.	 Introdução.	 Direito	 Constitucional.	 Parte	
Geral.	São	Paulo:	Loyola,	2008.
NEVES,	A.	O Povo de Deus:	renovação	do	direito	na	igreja.	São	Paulo:	Loyola,	1987.

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