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Trabalho sobre william wundt

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UNICEUG 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
ALESSANDRO CARANDINA RESENDE 
ANDREYA CRISTINA SANTOS BERNARDES 
GRACIELLE REGINA DA SILVA OLIVEIRA LEONEL 
ISABELA SOARES FORTUNA DORNELES 
 
 
 
 
 
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA COM WILHELM WUNDT 
Psicologia experimental x cultural /Consciência imediata / Método introspecção 
 
 
 
 
GOIÂNIA 
2020 
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ALESSANDRO CARANDINA RESENDE 
ANDREYA CRISTINA SANTOS BERNARDES 
GRACIELLE REGINA DA SILVA OLIVEIRA LEONEL 
ISABELA SOARES FORTUNA DORNELES 
 
 
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA COM WILHELM WUNDT 
Psicologia experimental x cultural /Consciência imediata / Método introspecção 
 
 
 
Trabalho realizado na disciplina 
História da Psicologia – curso 
Psicologia oferecido pelo Centro 
Universitário de Goiânia - para 
obtenção da nota parcial do 
semestre. 
 
 
 Orientadora: Prof.ª. Msª. Andreia Souza Reis 
 
 
 
 
 
 
GOIÂNIA 
2020 
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INTRODUÇÃO 
Wilhelm Wundt nasceu em 1832, na Alemanha. Com o ambiente acadêmico 
propício e uma família de estudiosos, Wundt começou seus estudos bem cedo, se formou 
em Medicina e chegou a atuar na área como assistente de Hermann Von Helmholtz, um 
médico fisiologista famoso por seu trabalho com percepção visual. 
Wundt desiste da carreira de fisiologista, porém usa sua experiência com Von 
Helmholtz para escrever e publicar “Princípios da Psicologia Fisiológica” em 1874. Essa 
ficou consagrada como sua obra mais importante, onde ele afirmava as conexões entre 
psicologia e fisiologia, enfatizando a psicologia como uma ciência própria. Três anos 
depois, em 1879, abre o primeiro Laboratório de Pesquisa em Psicologia, usando métodos 
empíricos, iniciando formalmente a história da psicologia experimental e a abordagem 
voluntarista. 
Existem alguns pontos que podem ser indicados como objetivos de Wundt, de 
forma resumida, já em 1862 elencou três tarefas para sua vida, sendo elas a criação da: 
psicologia experimental, uma metafisica cientifica, e a psicologia social, e ao longo do 
tempo, foi construindo seu legado. Suas obras representam muito dessas vontades, A 
primeira edição do livro-texto de Wundt, “Fundamentos da Psicologia Física” foi 
publicado em 1873, e no ano de 1879 ele criou um laboratório de psicologia. Já no ano 
de 1881 ele lançou uma revista de pesquisa Philosophische Studien, além disso, no início 
do século 20, Wundt também escreveu dez volumes de Psicologia Social. 
 Podemos mencionar inicialmente, a vontade de que a psicologia se tornasse 
reconhecida como ciência, de forma que esta fosse inserida no meio acadêmico. O alemão 
foi uma peça fundamental para que isso se tornasse realidade, sendo o responsável por 
um dos primeiros – se não o primeiro – laboratório de psicologia, na cidade de Leipzig, 
no leste da Alemanha, no ano 1879. Visando conquistar uma identidade alemã mais 
independente na área, foi capaz de proporcionar aos psicólogos maior liberdade para 
trabalhar certos conceitos, tendo como resultado a criação de diversas teorias mais 
elaboradas. Além disso, vale ressaltar que, com esse feito, Wundt faz com que a 
psicologia e a filosofia sejam entendidas como ciências independentes uma da outra. 
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 Quanto a metafisica cientifica, ele elaborou três obras referentes a esse tema: “uma 
de Lógica (conjunto de estudos que visam determinar quais são os processos intelectuais ou as 
categorias racionais para a apreensão do conhecimento); uma Ética (conjunto de estudos dos 
juízos de apreciação da conduta humana); e uma de Sistemas Filosóficos (conjunto de estudos 
das principais concepções filosóficas para Wundt).” (Bernardes, 1998) 
 Por fim, quanto a psicologia social, foi a iniciativa de Wundt de tentar entender as 
relações sociais e culturais, pois pensava que através destas surgiam processos mentais 
superiores, como a imaginação, as artes, linguagens e costumes, por exemplo. Ele nomeou essa 
esquematização de psicologia cultural, mas muitos conhecem como psicologia dos povos, por 
causa de traduções erradas. 
 Com relação à forma como Wilheim Wundt enxergava a psicologia e o que ele 
defendia quanto aos seus objetivos para a psicologia como ciência, é preciso que entendamos a 
influência do contexto histórico e acadêmico de Wundt nessa questão, ou seja, por ser um 
filósofo naturalista, acreditava e defendia que a psicologia enquanto ciência deveria ser como 
as ciências naturais, de forma que, o psicólogo deve analisar o seu objeto de estudo de forma 
semelhante a do cientista natural, isto é, através da observação. Sendo mais preciso, a 
observação da experiência imediata, a pretensão era de, por meio da observação, registrar 
pensamentos e sensações, e analisá-las em seus elementos constituintes, a fim de chegar à 
estrutura subjacente. 
 Se entendermos o contexto ao qual Wundt pertencia, seremos capazes de entender sua 
ambição, as ciências naturais, entre elas a química, se encontravam em posição de destaque, e 
o positivismo – doutrina que acreditava que as ciências humanas deveriam servir da ciências 
naturais como espelho, a fim de obter o êxito – era a filosofia implícita às ciências. Diante disso, 
podemos concluir que para entender como os elementos eram condensados e dispostos, e 
descobrir as leis que regiam esse processo, era preciso analisar os elementos mais simples, e o 
mesmo valia para a mente. 
 
 
 
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PSICOLOGIA SOCIAL 
Psicologia Social estuda a vida dos pequenos grupos e da Etnografia preocupada com a 
gênese dos povos. Estudaria a organização dos graus de evolução psicológica dos povos em 
seções transversais que aglutinariam os feitos humanos de cada época (religião, arte, casamento, 
política). As fases da evolução psicológica seriam caracterizadas por representações, 
sentimentos e condutas bem definidos e estariam circunscritas em quatros estágios: Primitivo; 
Totemismo; Heróis e Deuses; Evolução em direção à humanidade. 
No tocante ao primeiro estágio da evolução mental, Wundt afirma que o absolutamente 
primitivo seria um povo que não teria uma fase psíquica anterior ou que executasse um número 
menor de operações mentais em relação às qualidades gerais humanas. Cumpre examinar, o 
autor analisou dados coligidos por missionários e viajantes sobre tribos consideradas intactas 
do contato com outros povos: os pigmeus na região do Rio Nilo e algumas tribos asiáticas nas 
Filipinas e Malásia. 
Para Wundt, os primitivos teriam uma mitologia ingênua baseada na crença em vários 
deuses, demônios e na magia. Nesse período, insiste, não havia um pensamento pautado por 
uma causalidade lógica, mas por uma causalidade mágica. Suas relações familiares seriam 
marcadas primeiramente pela promiscuidade e depois pelo casamento dentro do próprio grupo. 
Por não estabelecerem trocas culturais com outros povos vizinhos, os primitivos teriam 
qualidades intelectuais e morais limitadas. Por seu turno, a fase totêmica demarcaria uma 
estreita relação entre homens e animais e plantas. 
Os dados sobre este estágio do psiquismo humano foram fornecidos por Spencer e 
Gillen em suas viagens à Austrália e ao noroeste dos Estados Unidos. Notadamente, essas tribos 
estavam divididas em clãs que cultuavam totens. Estes eram considerados antepassados a serem 
cultuados. As crenças religiosas desse período são baseadas na existência de almas e nos 
poderes sobrenaturais dos objetos (pedras, madeiras), que assumem poderes mágicos 
(fetichismo). No âmbito familiar, teria havido um avanço moral em direção à exogamia e à 
proibição do incesto. Este estágio seria marcado ainda pela consolidação do comércio entre as 
tribos e o desenvolvimento das artes plásticas com a confecção de objetos artesanais. 
A fase heróica e dos deuses trouxe à baila a emergência do processo de individualização 
dos sujeitos ante as sociedades gregas e romanas, haja vista a valorização da personalidade forte 
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e relevante dos heróis.Ademais, os deuses são concebidos por um viés antropomórfico. Wundt 
aponta este período como demarcando o princípio da religião nacional, já que cada Cidade-
Estado elegia os seus deuses e heróis a serem cultuados pela população. Destaca ainda que o 
pensamento religioso seria corolário de sentimentos e afetos despertados pelos mitos e lendas, 
que, por sua vez, se elevam e são reforçados pelo próprio sentimento religioso. 
 Outrossim, a arte teria alcançado seu apogeu com a edificação de templos religiosos, 
construção de esculturas e fabricação de pinturas de deuses e figuras humanas heróicas. Além 
do significativo desenvolvimento da Poesia. No período de Evolução, à Humanidade teria se 
iniciado a partir do movimento renascentista. Na acepção de Wundt, as funções psicológicas 
superiores, como linguagem, costumes, pensamento religioso e expressão artística se tornam 
universais. 
A universalidade é entendida como o acesso geral de todos os seres humanos ao vasto 
cabedal de saberes e fazeres acumulados pelos povos em suas trajetórias históricas. A 
consolidação da escrita, por exemplo, permitiu que os diversos conhecimentos circulassem 
entre as diferentes sociedades, independentemente do tempo e do lugar que foram formulados. 
Nessa mesma direção, as duas religiões efetivamente universais - budismo e cristianismo - 
insistiam na salvação da humanidade em sua totalidade, sem levarem em consideração o gênero, 
a classe social e a etnia de seus adeptos. 
Em efeito, Wundt propõe um evolucionismo romântico da humanidade, posto haver 
uma valorização do caráter individual perante os desígnios de um Estado Nacional soberano. 
Aliás, a cultura universal seria paradoxalmente universal e individualista, pois caberia a cada 
sujeito elaborar seu próprio percurso em busca do aprimoramento espiritual, isto é, do 
refinamento de seus conteúdos psíquicos superiores. 
 Nessa perspectiva, acrescenta, a história da humanidade deveria açambarcar a história 
da produção mental de todos os povos e não apenas contemplar a historiografia das civilizações 
eruditas. Para Wundt, a Psicologia concebe dois tipos de temporalidades: a primeira concerne 
à objetividade e sequência cronológica dos fatos; a segunda remete à forma subjetiva que cada 
coletividade vivencia sua própria História. Desse modo, a História e a vida mental consciente 
estariam estreitamente imbricadas, já que o entendimento da história da humanidade deveria 
seguir os princípios referenciais que regem o psiquismo humano, qual seja: a incorporação de 
conteúdos psíquicos inferiores por sínteses mais complexas. 
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A propósito, a História e a Consciência Humana seriam intrinsecamente auto-
organizadoras. Assim, as funções mentais superiores propiciariam o encadeamento lógico das 
idéias. Para Wundt o método experimental é o adequado à investigação dos processos básicos 
como a sensação e associação, mas somente a observação deve ser usada para compreender os 
processos mentais superiores. Esta por sua vez, deve ser realizada através do estudo dos 
produtos ou artefatos culturais da vida social: arte, linguagem, hábitos, etc. 
O aspecto social de seus trabalhos, a seu contragosto, foi relegado a um segundo plano 
mas a sua obra Volkerpsychologie / Psicologia popular (10 volumes) contém análises 
detalhadas da linguagem humana (hoje psicolinguística) em 2 volumes; três volumes sobre 
cultura intitulados Psicologia dos mitos e religião; um volume sobre cultura e história intitulado 
Antropologia; um sobre Ética e Lei o que hoje corresponderia aos estudos da psicologia forense 
e um volume sobre a psicologia da arte, verdadeiro (manual de procedimentos dessa 
observação. 
Segundo Farr, uma moderna revisão dessa obra identifica sua influência na também 
emergente ciência social da época cientistas como Durkheim (1858-1917); Franz Boas (1858-
1942). Consta que Sigmund Freud (1856-1939) escreveu Totem e Tabu como uma resposta a 
Wundt. Ainda segundo Farr é relevante para compreensão da psicologia moderna a 
compreensão dos motivos de Wundt para separação da psicologia social da experimental e o 
seguimentos que estas proposições constituíram. 
 
EXPERIÊNCIA CONSCIENTE E O MÉTODO DA INTROSPECÇÃO 
O objeto de estudo da psicologia de Wundt era a consciência, embora, no início de sua 
carreira, ele também se preocupasse com a noção de inconsciente. Sobre o chamado 
Voluntarismo de Wundt, é preciso que entendamos o contexto do surgimento desse sistema. 
Estando inserido no século XIX, e ainda, devido a ascensão de correntes como a do empirismo 
e associacionismo, podemos identificar no seu sistema uma certa influência. Sabe-se que a 
consciência é o principal objeto de estudo da psicologia para Wundt, e quando ele defende que 
a consciência na verdade existe com várias partes diferentes, e que estas devem ser estudadas a 
partir de métodos como a análise, essa pequena influência contextual se comprova. 
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Porém, as poucas semelhanças entre as correntes e a sistematização de Wundt 
praticamente se resumem a isso. Wundt discorda da ideia de “átomos da mente”, que 
basicamente defendia a premissa de que os elementos da consciência seriam algo estático, e 
ainda, que se conectavam de forma passiva. Tal discordância levou ao surgimento do sistema 
denominado “voluntarismo”, termo esse que faz referência a palavra “volição”, que significa o 
ato ou a força de vontade. 
Para Wundt, a consciência não somente era algo ativo, mas também era capaz de 
organizar seu próprio conteúdo mental de pensamento superior. Dessa forma, o estudo separado 
dos elementos, da estrutura, e do conteúdo seriam apenas o início da compreensão dos processos 
psicológicos. Entretanto, não podemos deixar de mencionar que, apesar de levar mais em 
consideração os processos de organização e síntese do que os elementos em si, (como faziam 
os adeptos ao empirismo e associacionismo previamente citados) Wundt não negava o papel 
dos elementos da consciência, pelo contrário, os considerava fundamentais para a organização 
mental. 
A definição de psicologia wunditiana pode ser assim resumida: a psicologia é uma 
ciência empírica cujo objeto de estudo é a experiência interna ou imediata (cf. Wundt, 1896a, 
1896b). Essa expressão, ‘experiência imediata’, fundamenta toda a sua psicologia. Para ele, os 
psicólogos deveriam se dedicar ao estudo da experiência imediata e não da experiência mediata. 
Wundt entende por experiência em geral um todo unitário e coerente que pode ser 
concebido e elaborado cientificamente a partir de dois pontos de vista distintos, porém 
complementares: toda experiência pode ser analisada pelo seu conteúdo puramente objetivo 
(experiência mediata) ou subjetivo (experiência imediata). No primeiro caso, a ênfase recai 
sobre os objetos da experiência (mundo externo), pensados independentemente do sujeito da 
experiência, enquanto no segundo caso, investiga-se os aspectos subjetivos da experiência e sua 
relação com o próprio sujeito da experiência (mundo interno). Com base nesses dois pontos de 
vista, surge uma dupla possibilidade de se fazer ciência empírica: a ciência natural (física, 
química, fisiologia etc.), que cuida dos conteúdos específicos da experiência mediata, uma vez 
que os objetos fornecidos na experiência são sempre mediados pelos fatores subjetivos; e a 
psicologia, que tem por objeto a experiência imediata, já que não abstrai o próprio sujeito, como 
a ciência natural. 
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Ao definir a psicologia como ciência da experiência imediata, Wundt pretende, em 
primeiro lugar, atacar um tipo de psicologia bastante difundida em sua época, que vinha sendo 
definida como ciência da alma ou MENTE. Para Wundt, essa psicologia está assentada em 
hipóteses metafísicas (ESPIRITUALISMO OU MATERIALISMO) que extrapolam o domínio 
da experiência possível. Como sua intenção é inaugurar uma nova psicologia, autônoma e 
independente de teorias metafísicas, o únicocaminho possível era recusar essa psicologia e 
construir uma outra, que se atém somente à experiência psicológica propriamente dita. 
É importante enfatizar que, de acordo com essa definição, não há uma diferença 
essencial de natureza entre o mundo interno e o externo - uma vez que a experiência é um todo 
organizado que abrange ambos –, mas apenas uma diferença na maneira de se abordá-los. Por 
isso, a relação entre a psicologia e as ciências da natureza é de complementaridade. Elas se 
complementam, na medida em que fornecem relatos diferentes da mesma experiência, sem que 
haja a possibilidade de haver uma subordinação ou redução de uma a outra. Por outro lado, na 
medida em que a psicologia é a ciência das formas universais da experiência humana imediata, 
ela pode ser considerada a mais geral de todas as ciências do espírito e, portanto, o fundamento 
de cada uma delas em particular (filologia, história, direito etc.). 
De acordo com ele, a experiência mediata ou externa, nos revela objetos estáveis e 
concretos, e proporciona ao indivíduo as informações ou o conhecimento relacionado com algo 
além dos elementos de uma experiência. É a forma usual de empregar a experiência para 
adquirir o conhecimento do nosso mundo. A utilização dessa experiência é limitada às 
condições generalistas do mundo externo. 
 Na experiência mediata, pretende-se abstrair a atividade do sujeito e considera-se 
somente os objetos em sua regularidade espaço-temporal. Caracteriza, portanto, o tipo de 
experiência ao qual se dedicam as ciências naturais. O outro tipo de experiência, chamada de 
imediata ou interna, seria aquele referente ao domínio intuitivo, ou seja, da apreensão direta dos 
próprios fenômenos subjetivos. A ciência mais geral que adota esta perspectiva seria a 
psicologia. 
Segundo Wundt, a experiência imediata não sofre nenhum tipo de influência de 
interpretações pessoais. Dessa forma ao descrevermos a sensação de extrema dor e desconforto 
ao martelarmos acidentalmente o dedo, relatamos a nossa experiência imediata. Porém, se 
apenas informarmos que martelamos o dedo, estaremos nos referindo à experiência mediata. 
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Para Wundt (1897), enquanto a experiência mediata contaria com a regularidade e a 
constância do objeto, além de certa independência em relação à apreensão subjetiva, garantindo 
assim a não-interferência do observador e a possibilidade de manipulação experimental, os 
fenômenos da experiência imediata seriam caracterizados por um caráter ativo e processual. 
Isto é, de que a vida psíquica se desenvolve gradual e continuamente do simples para o 
complexo, através de uma série de processos regulares, que constituem nossa experiência 
psicológica na vida cotidiana. Neste sentido, nossa experiência imediata só nos fornece 
conteúdos de natureza complexa, que resultam da ligação de vários elementos simples. 
Esses elementos psíquicos, constituem a base de toda nossa vida mental. Como o 
conteúdo de nossa experiência imediata varia entre dois pólos, um objetivo e outro subjetivo, 
os elementos podem ser, seguindo essa divisão, de dois tipos: as sensações puras ligadas ao 
conteúdo objetivo (som, luz etc.) e os sentimentos simples relacionados ao conteúdo subjetivo 
(prazer, desprazer etc.). O próximo passo é a formação, a partir das sensações puras ou dos 
sentimentos simples, daquilo que Wundt chamou de complexos psíquicos, que se diferenciam 
uns dos outros por certas características próprias formando uma unidade relativamente 
autônoma. 
Admitindo que as sensações, sentimentos, representações e vontade são os indicadores 
a partir dos quais se reconhece a existência dos fenômenos mentais, Wundt afirma que o método 
natural para a investigação psicológica deve ser aquele que começa justamente por estes fatos. 
Partindo, portanto, da investigação experimental dos fenômenos simples da consciência, a 
experiência imediata poderia ser estudada em seus conteúdos objetivos (sensações) e subjetivos 
(sentimentos simples). 
 A proposta de Wundt consistia em analisar a mente com base em seus elementos, suas 
partes componentes, exatamente do mesmo modo que os cientistas naturalistas trabalhavam 
para dividir o seu objeto de estudo, ou seja, o universo físico. A sensação e o sentimento seriam 
então, aspectos simultâneos da experiência imediata. 
Nesse entendimento, uma sensação ocorre sempre que um órgão dos sentidos é 
estimulado. E o impulso que resulta dessa estimulação atinge o cérebro. As sensações apresenta 
modalidades distintas: visual, auditiva, gustativa, etc. e intensidades: forte/fraca, alta/baixa, etc. 
Todas as sensações, segundo ele, são acompanhados de sentimentos; porque ele percebeu que 
certas sensações são mais agradáveis do que outras. 
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A partir daí ele formulou a teoria tridimensional dos sentimentos, que diz que qualquer 
sentimento pode ser descrito a partir de 3 atributos: agradabilidade/desagradabilidade, 
excitamento/calma, tensão/relaxamento. Para estudar esses processos mentais básicos, 
envolvidos na experiência imediata das pessoas, ele usou vários métodos incluindo a 
introspecção experimental. 
Para ele o método de observação devia utilizar essa introspecção para que se obtenha 
um melhor resultado, porque "somente o indivíduo que passa pela experiência é capaz de 
observá-la" (Schultz, 2016, p. 72). Tal método era chamado de Percepção Interna. Em outras 
palavras a introspecção é a autoanálise da mente a fim de inspecionar e relatar pensamentos, 
sensações e/ou sentimentos pessoais. 
Em seu laboratório, na Unversity of Leipzig, Wundt determinou condições ideais para 
que fossem feitas as percepções internas (introspecção): Os observadores deviam ser capazes 
de determinar o momento quando o processo seria introduzido. Para isso eles deveriam estar 
em constante estado de alerta. Deveria haver condições adequadas para variar as situações 
experimentais quanto a manipulação controlada do estímulo. A equipe deveria garantir 
condições adequadas para que a observação pudesse ser repetida quantas vezes fosse 
necessário. 
Para isso, requeria o uso de instrumentos laboratoriais para alterar as condições do 
experimento e segundo ele, tornar os resultados da percepção interna tão precisos quanto à 
percepção externa. Wundt, desenvolveu dispositivos específicos para mensurar os processos 
mentais, envolvidos na experiência imediata. 
Visando deixar os indivíduos rápidos na observação experiente e alertas quanto à 
experiência consciente a ser observada, Wundt submeteu seus alunos a um treinamento 
persistente e repetitivo, pois somente assim estariam aptos a realizar mecanicamente as 
observações necessárias. Na teoria, as pessoas que foram treinadas por Wundt não precisariam 
de uma pausa para pensar tão pouco para refletir sobre o processo (evitando que a pessoa tivesse 
alguma interpretação pessoal) e seriam capazes de, automaticamente, descrever a experiência 
consciente quase de forma imediata e automática. 
O maior legado de Wundt foi tornar a psicologia independente da filosofia. Ele foi o 
mais importante organizador e sistematizador da emergente psicologia. Com a criação de um 
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laboratório experimental; inaugurou uma psicologia científica baseada na observação e na 
experimentação, ao introduzir na psicologia o rigor e a objetividade das outras ciências 
existentes na época, através da provocação de situações em laboratório e da análise das 
sensações por uma pessoa diferente da que se auto descreve. Desse modo, Wundt proporcionou 
à psicologia todos os acessórios necessários de uma ciência moderna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
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ARAUJO, Saulo de Freitas. Uma visãopanorâmica da psicologia científica de Wilhelm Wundt. 
Sci. viga. São Paulo, v. 7, n. 2, p. 209-220, junho de 2009. Disponível em 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
31662009000200003&lng=en&nrm=iso 
ERICEIRA, Ronald Clay dos Santos. História e vida mental: a psicologia dos povos wundtiana. 
Anais Do XIV Encontro Nacional Da Abrapso, [s.d.]. Disponível em 
http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/anexos/AnaisXIVENA/conteudo/html/sessoes/1261_s
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Brasil. Disponível em http://www.revispsi.uerj.br/v11n1/artigos/html/v11n1a16.html 
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SCHULTZ, Duane P; Schultz, Sydney Ellen. História da Psicologia Moderna. 10ª ed. São 
Paulo: Cengage Learning, 2016.

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