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C iê n ci as C o n tá b ei s Joseilton Silveira da Rocha Introdução à Controladoria U n iv er si d ad e Fe d er al d a B ah ia In tr od uç ão à C on tr ol ad or ia Introdução à Controladoria Vamos iniciar nossa disciplina discutindo alguns conceitos básicos em contabilidade e teorias contábeis, ao tempo que buscaremos desenvolver os mesmos sob o enfoque de outras ciências, tais como: Administração, Economia, Psicologia, Matemática, Física, etc., verificando como esses conceitos e teorias podem contribuir para resolver questões apresentadas pela Controladoria. Em verdade, a construção do nosso debate se concentrará em atender ao gestor (controller) a tomar decisões, mesmo que para isso tenhamos que fazer uso da estrutura conceitual de outras ciências que não a Contábil. De fato, todos os nossos estudos terão como suporte informações advindas da Contabilidade, mas nem sempre será nela que encontraremos conceitos e teorias que nos permitam encontrar a melhor solução. FCCC50 C M Y CM MY CY CMY K INTRODUÇÃO À CONTROLADORIA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA BACHARELADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS INTRODUÇÃO À CONTROLADORIA Joseilton Silveira da Rocha Salvador, 2018 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Reitor: João Carlos Salles Pires da Silva Vice-Reitor: Paulo César Miguez de Oliveira Pró-Reitoria de Ensino de Graduação Pró-Reitor: Penildon Silva Filho Faculdade de Ciências Contábeis Diretor: Prof. Joséilton Silveira da Rocha Superintendência de Educação a Distância -SEAD Superintendente Márcia Tereza Rebouças Rangel Coordenação de Tecnologias Educacionais CTE-SEAD Haenz Gutierrez Quintana Coordenação de Design Educacional Lanara Souza Coordenadora Adjunta UAB Andréa Leitão Bacharelado em Ciências Contábeis Coordenadora: Profª Inês Teresa Lyra Gaspar da Costa Produção de Material Didático Coordenação de Tecnologias Educacionais CTE-SEAD Núcleo de Estudos de Linguagens & Tecnologias - NELT/UFBA Coordenação Prof. Haenz Gutierrez Quintana Projeto gráfico Haenz Gutierrez Quintana Foto de capa: Alessandro Faria Designed by: rawpixel.com / Freepik Equipe de Revisão: Edivalda Araujo Julio Neves Pereira Márcio Matos Simone Bueno Borges Equipe Design Supervisão: Alessandro Faria Editoração / Ilustração: Ana Paula Ferreira; Marcos do Nascimento; Moema dos Anjos; Sofia Casais; Ariana Santana; Camila Leite; Marcone Pereira Gerente de AVA: Jose Renato Oliveira Design de Interfaces: Raissa Bomtempo Equipe Audiovisual Direção: Haenz Gutierrez Quintana Produção: Leticia Oliveira; Ana Paula Ramos Câmera: Valdinei Matos Edição: Deniere Silva; Flávia Braga; Irlan Nascimento; Jeferson Ferreira; Jorge Farias; Michaela Janson; Raquel Campos; Victor dos Santos Animação e videografismos: Bianca Silva; Eduarda Gomes; Marcela de Almeida; Dominique Andrade; Roberval Lacerda; Milena Ferreira Edição de Áudio: Cícero Batista Filho; Greice Silva; Pedro Henrique Barreto; Mateus Aragão O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Esta obra está sob licença Creative Commons CC BY-NC-SA 4.0: esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam o devivo crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFBA Rocha, Joseilton Silveira da. Introdução à controladoria / Joseilton Silveira da Rocha. - Salvador: UFBA, Faculdade de Ciências Contábeis; Superintendência de Educação a Distância, 2018. 91 p.: il. Esta obra é um Componente Curricular do Curso de Bacharelado em Ciências Contábeis na modalidade EaD da UFBA/SEAD/UAB. ISBN: 978-85-8292-180-7 1. Contabilidade – Estudo e ensino. 2. Controladoria. I. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Ciências Contábeis. II. Universidade Federal da Bahia. Superintendência de Educação a Distância. III. Título. CDU: 657 R672 SUMÁRIO 1. UNIDADE TEMÁTICA I - DA CONTABILIDADE À CONTROLA - DORIA 11 1.1 CONTABILIDADE FINANCEIRA 12 1.1.1 Resgatando conceito de Mensuração 14 1.1.2 Avaliação a Valores de Entrada 18 1.1.3 Avaliação a Valores de Saída 19 1.2 CONTABILIDADE DE CUSTOS 21 1.2.1 Exemplo 01 24 1.2.2 Exemplo 02 25 1.3 CONTABILIDADE GERENCIAL 28 1.4 CONTABILIDADE ESTRATÉGICA 34 2. UNIDADE TEMÁTICA II - A CONTROLADORIA 37 2.1 A Controladoria como Ramo do Conhecimento 40 2.1.1 Controladoria e o seu objeto 42 2.2 A Controladoria como Unidade Administrativa 46 2.2.1 Posição Hierárquica da Controladoria 48 2.3 A Controladoria como Função 50 2.3.1 Funções Típicas da Controladoria 51 2.3.2 Trajetória do Controller 52 2.3.3 Per�l 53 2.3.4 Função do Controller 55 2.3.5 Mercado X Per�l do Controller 57 6 Introdução à controladoria 3. UNIDADE TEMÁTICA III- CONTROLADORIA – SISTEMA, MISSÃO E VISÃO. 61 3.1 SISTEMAS 62 3.1.1 Subsistemas Empresariais 65 3.2 VISÃO 66 3.2.1 Características da Visão Empresarial. 66 3.3 MISSÃO 68 3.3.1 Questões facilitadoras para de�nição da Missão: 68 3.3.2 Grupos de interesse: 68 3.4 DIFERENÇAS ENTRE VISÃO E MISSÃO 69 3.4.1 Visão 69 3.4.2 Missão 69 3.5 METÁFORAS ORGANIZACIONAIS 70 3.5.1 Máquinas 71 3.5.2 Organismos Vivos 72 3.5.3 Cérebros 74 3.5.4 Culturas 75 3.5.5 Sistema Político 76 3.5.6 Prisões Psíquicas 77 3.5.7 Fluxo de Transformação 78 3.5.8 Instrumentos de Dominação 79 REFERÊNCIAS 84 Joseilton Silveira da Rocha CARTA DE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Caro (a) Estudante, Vamos iniciar nossa disciplina discutindo alguns conceitos básicos em contabilidade e teorias contábeis, ao tempo que buscaremos desenvolver os mesmos sob o enfoque de outras ciências, tais como: Administração, Economia, Psicologia, Matemática, Física, etc., verificando como esses conceitos e teorias podem contribuir para resolver questões apre- sentadas pela Controladoria. Por exemplo: como podemos utilizar os conceitos de velo- cidade, tempo e aceleração para resolver problemas contábeis? Neste sentido, estamos falando de Momentum Accounting, que faz uso das leis da Física para construir informa- ções contábeis e de controladoria. Você já ouviu falar disso? Vamos conversar sobre isto e muitas outras coisas. Em verdade, a construção do nosso debate se concentrará em atender ao gestor (con- troller) a tomar decisões, mesmo que para isso tenhamos que fazer uso da estrutura con- ceitual de outras ciências que não a Contábil. De fato, todos os nossos estudos terão como suporte informações advindas da Contabilidade, mas nem sempre será nela que encon- traremos conceitos e teorias que nos permitam encontrar a melhor solução. A disciplina Introdução à Controladoria nos apresentará “um mundo” de opçõesem que o bacharel em Ciências Contábeis pode se especializar e, assim, assumir uma postura mais gerencial no uso, na elaboração e na transmissão da informação para a tomada de decisão, como coparticipante do processo, e não apenas como “informante”. Neste contexto, iniciaremos sob o enfoque da contabilidade financeira, passaremos pelos diversos ramos da contabilidade de custos, gerencial e estratégica, permitindo-nos criar ligações com outras ciências para entender melhor o que se estuda e produzir melhores resultados que suportem o processo de tomada de decisão organizacional. Portanto, ques- tões objetivas e subjetivas se nos apresentarão e, sob uma visão sistêmica, dinâmica, ana- lisaremos o universo apresentado e, via teorias e estudo de caso prático, veremos como a Controladoria pode e deve responder essas questões. Vamos aos estudos! Prof. Joseilton Silveira da Rocha % $ = 8 Introdução à controladoria 9 Joseilton Silveira da Rocha Mini currículo do Professor: O Professor Joseilton Silveira da Rocha é doutor em Engenharia de Produção pela UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, Mestre em Ciências Contábeis pela USP – Universidade de São Paulo, Especialista em Controladoria pela USP – Universidade de São Paulo, Especialista em Contabilidade Gerencial pela UFPB – Universidade Federal da Paraíba, Bacharel em Ciências Contábeis pela UEPB – Universidade Estadual da Paraíba. É professor permanente da Faculdade de Ciências Contábeis da UFBA- Universidade Federal da Bahia desde 1997, ministra as disciplinas da área Contabilidade Gerencial, com foco em Contabilidade de Custos, Contabilidade Estratégica, Análise das Demons- trações, Controladoria. Coordena, desde 2005, o Laboratório de Ensino a Distância da Faculdade de Ciências Contábeis. É Pesquisador do CNPq e atual líder do grupo de pes- quisa Contabilidade e Controladoria, certificado pela UFBA e cadastrado no diretório de grupo de pesquisas: plataforma Carlos Chagas - CNPq. 10 Introdução à controladoria Joseilton Silveira da Rocha UNIDADE 1 Seria a Controladoria uma evolução da Contabilidade? Evidente que não. Mas, nas páginas seguintes, entenderemos melhor esta resposta. 1. UNIDADE TEMÁTICA I - DA CONTABILIDADE À CONTROLADORIA Ao final desta aula você estará apto a: • Entender o processo de evolução da Contabilidade; • A evolução e surgimento da Controladoria; • A evolução necessária e o desafio da Contabilidade de pensar estrategicamente. Como a Controladoria e a Contabilidade estão intimamente relacionadas, é conveniente se entender a evolução histórica desta. É interessante como é possível identificar e rela- cionar a evolução histórica do homem e o desenvolvimento da contabilidade desde os primórdios até os dias de hoje. Vamos ver como isso acontece? Nesta unidade temática, nós vamos discutir o processo de evolução da contabilidade e ferramentas contábeis, administrativas, abordagens organizacionais, sistemas de custeio que impactam a contabilidade que, por sua vez, suporta os relatórios e informações pro- duzidas para e pela controladoria. $ 12 Introdução à controladoria Em linhas gerais, vamos conversar adotando uma abordagem sistêmica que norteará as nossas discussões sobre controladoria. Será uma forma de introduzirmos a controladoria neste nosso contexto contábil e, assim, percebermos a real contribuição que a Ciência Contábil pode dar aos gestores no processo de tomada de decisão. Vamos iniciar falando de contabilidade financeira, de custos, gerencial, estratégica e então veremos como cada um desses ramos pode e tem contribuído para a Controla- doria cumprir a sua missão. 1.1 CONTABILIDADE FINANCEIRA A primeira fase da contabilidade surgiu na Europa, mais especificamente na Itália, onde os homens de negócio, para controlar o seu patrimônio, começaram a desenvolver uma técnica de contabilização. Cabe salientar que, nessa fase, a contabilidade era basicamente utilizada para as firmas individuais. Como pode perceber, já em sua origem, a contabili- dade foi utilizada para o controle, o que, em última instância, nos dias atuais, pode ser visto com papel da controladoria, muito embora vamos ver que é muito mais do que isso, pois extrapola ao controle. Fonte: Pixabay A contabilidade surgiu como um sistema de registro das relações econômicas de troca. Inicialmente através das partidas simples e, posteriormente, através da evolução das ati- vidades econômicas às partidas dobradas, das partidas múltiplas e da plurilateralidade das contas. Cada evento era registrado com um lançamento de débito e/ou débitos e a 13 Joseilton Silveira da Rocha contrapartida no crédito e/ou créditos. Esse foi o primeiro passo ao que denominamos hoje de contabilidade moderna. Mas, de fato, temos indícios de contabilidade que são encontrados desde era mais remota. Lembre-se que você viu isso em Contabilidade Introdutória. Veja book da disciplina, nas páginas de 11 a 14 – surgimento da contabilidade. Apesar das críticas à contabilidade de que ela utiliza um sistema criado em 1.494 (Par- tidas Dobradas) e até hoje não mudou, isto não é fato. Quem faz essa crítica em verdade não conhece ou domina a contabilidade. Em verdade, as partidas dobradas datam de 1303 e há tempos que a contabilidade faz uso das partidas múltiplas. Em alguns casos, em algumas organizações, as partidas já são multilaterais, e têm evoluído para a plurilatera- lidade das contas. É importante que nós, como Bacharéis em Ciências Contábeis, pos- samos dominar esse assunto. Vamos pesquisar? Aqui está a sua primeira tarefa: pesquise e faça um resumo sobre Plu- rilateralidade das contas e sobre Partidas múltiplas. Depois anexe no link: Contribuições, disponível em nosso ambiente virtual de aprendizagem. Hoje, além do valor a débito e a crédito, é possível identificar o cliente ou fornecedor, o produto, a região, as quantidades, a certificação, e preparar a organização sob diversos aspectos relativos ao controle e lançamento simultâneos em vários setores da organi- zação a partir de lançamentos multilateriais e dessa plurilateralidade das contas, que per- mite, ao mesmo tempo, registrar a fatura no contas a receber, dar baixa no estoque, regis- trar os impostos a pagar ou a receber, programar o pagamento de comissões, de compras, projetar novas aquisições e tantas outras ocorrências. Destaque-se que grande parte desta inovação só foi possível em função do aporte da tec- nologia da informação (Hardware/software) que permite um melhor controle e entendi- mento dos fatos contábeis, sem, no entanto, atrasar o processo de elaboração e geração de informação. Sabendo um pouco mais 14 Introdução à controladoria Um outro aspecto importante da Contabilidade Financeira, que pode ser utilizado para elaborar relatórios, demonstrativos para a controladoria, é o sistema de mensuração. Em Contabilidade, estudamos conceitos de identificação, classificação, registro, men- suração e acumulação dos fatos econômicos realizados por uma organização, os quais interferem em sua riqueza. Assim, podemos divulgar informações, de natureza mone- tária, financeira e econômica, sobre tais eventos, ou mesmo utilizá-los para subsidiar o processo de tomada de decisões. Bem, até aí tudo certo! Mas vamos refletir novamente sobre o Grau de Interação entre Contabilidade e Contro- ladoria e o que se faz necessário considerarmos ao utilizarmos a informação advinda da Contabilidade Financeira para atender as demandas da Controladoria. Por exemplo: quando temos ou sabemos de atos, muitas vezes externos, que irão alterar todo esse processo de mensuração? Estes atos não são, ou não estão,registrados pela con- tabilidade, alguns deles ainda nem aconteceram, portanto, não poderiam mesmo estar refletidos nos informes contábeis, pois acabaram de acontecer. É isso mesmo?! Aconteceu ou está para acontecer alguma coisa que impacta os valores dos ativos e passivos registrados pela contabilidade e isso não aparece na contabilidade financeira, e, por outro lado, eu tenho que gerar informação, um relatório, uma demonstração, para o processo de tomada de decisão. O que fazer?! Sendo direto: faça uso do sistema de mensuração. Lembra?! Teoria da Contabilidade. Mas é bom destacar que esse uso é para fins gerenciais. Apesar de podermos utilizar quaisquer uma das possibilidades de base de valor, o que se produz para subsidiar a Con- troladoria visa dar uma resposta com maior acurácia e fortemente fundamentada nas teorias contábeis, ou em teorias de uma outra ciência. Já em contabilidade financeira, não. Nós só registramos o que realmente ocorreu, é pos- sível até utilizar julgamento de valor, mas sempre para fatos, e não atos, ou seja, sempre para o que já aconteceu (fato), e não para as possíveis ocorrências (ato). Vamos ver como tudo isso acontece? 1.1.1 Resgatando conceito de Mensuração A complexidade da mensuração fica bastante evidente no conceito de Nakagawa (1995, p. 79): 15 Joseilton Silveira da Rocha "A mensuração em Contabilidade, tradicionalmente, tem significado a atribuição de valores numéricos a objetos ou eventos relacionados a uma empresa, com validade, confiabilidade, clareza, valor econômico e que seja verificável, e ainda, que posam ser obtidos de tal maneira que possam ser agregados ou desagregados de acordo com as necessidades. " Para Hendriksen (1992, p. 488), mensuração é “o processo de determinar montantes quan- titativos monetários com significado a determinados objetos relacionados na empresa e obtidos de tal maneira que eles são apropriados para agregação ou desagregação”. A mensuração envolve o processo de medir o valor dos ativos e passivos das organiza- ções. Ou seja, tentar transformar algo, por vezes, subjetivo, em algo visível, mais tangível. Essa atribuição de valor pode ser representada por grandezas expressas em valores mone- tários (Real, Dólar, Euro, etc.) como por outras medidas que constituem a representação física das unidades, expressas em medidas de comprimento (metro), de massa (quilo- grama), de tempo (horas), de temperatura (graus Celsius), etc; entretanto deve-se evitar a atribuição de valor subjetivo, tais como: bom, ótimo, curto, rápido. É nesse contexto que a confiabilidade, a validade, a relevância, a consistência e a clareza têm a sua utilidade, pois não podemos desconsiderar a possibilidade da resposta da men- suração estar em, ou ter, relação direta com o poder da informação. Neste ponto é interes- sante trazer da obra de Atkinson et al (2000), quando explicam as implicações comporta- mentais da informação gerencial contábil, o seguinte trecho: “Temos acentuado o papel da informação gerencial contábil para ajudar, nas atividades decisórias e de resolução de problemas, os ope- radores e gerentes. A informação, porém, nunca é neutra. O simples ato de medir e informar afeta os indivíduos envolvidos. Esse princípio acontece até mesmo em fenômenos físicos, sobre os quais Heisenberg desenvolveu o princípio da incerteza, ao notar que o ato de medir a posição ou velocidade de uma partícula afetava sua posição ou velocidade. O efeito intruso da medida é mais pronunciado quando lidamos com humanos em lugar de partículas. Quando são usadas medidas em operações e, especialmente, em indivíduos e grupos, seus comporta- mentos mudam. Pessoas reagem às medidas. Elas se concentram nas Comentário 16 Introdução à controladoria variáveis ou nos comportamentos que estão sendo medidos e prestam menos atenção nas variáveis e nos comportamentos não medidos”. A mensuração, como se pode notar, é algo necessário para que o processo de informação sobre os eventos do patrimônio permita adequadas decisões dos usuários e, além disso, uma efetiva gestão do empreendimento mensurado. Mas o que deve ser mensurado? Ou o que realmente faz diferença mensurar? Assim é necessário saber o que significa cada item a ser mensurado. Abaixo fazemos uma revisão de dois itens, os principais a serem mensurados à luz da teoria da contabilidade. 1.1.1.1 Ativo Inicialmente podemos entendê-lo como bens, direitos. Segundo a Lei no. 6.404/1976, Art. 179 (item IV), classificam-se no ativo imobilizado os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens (Redação dada pela Lei no. 11.638/2007). Fonte: Lei 6404/76 (consolidado). O pronunciamento técnico CPC 27 define ativo imobilizado como um bem tangível que: a) É mantido para uso na produção ou fornecimento de mercadorias ou serviços, para aluguel a outros ou para fins administrativos; b) Espera-se que seja utilizado por mais de um período. 1.1.1.2 Passivo O passivo representa prováveis sacrifícios econômicos que ocorrerão no futuro e que são provenientes de obrigações atuais de uma entidade particular quando transferem ativos ou fornecem serviços a outras organizações no futuro, como resultado de transações ou eventos que ocorreram no passado. (MOST, 1986). O passivo representa as obrigações que uma entidade assume perante terceiros para obter ativos ou realizar serviços e essas obrigações, normalmente, são resultantes de transações que ocorreram no passado ou no presente, no entanto, devem ser liquidadas no futuro. (SPROUSE e MOONITZ, 1962). O passivo de uma entidade encerra os sacrifícios futuros, prováveis de benefícios econô- micos que resultaram de obrigações presentes. (HENDRIKSEN e BREDA, 1999) 17 Joseilton Silveira da Rocha De acordo com a Teoria da Contabilidade, tanto os ativos como os passivos podem ser mensurados a valores de entrada e a valores de saída, ou seja, considerando que eles “estão chegando” ou “estão saindo” da empresa, visto que a empresa os está comprando ou vendendo. Vamos ver como isso acontece? Os valores de entrada podem ser expressos em função de: custos históricos, custos histó- ricos corrigidos, custos correntes, custos correntes corrigidos. Os valores de saída podem ser expressos em função de: preços correntes de saída ou valor realizável líquido, valor de liquidação, equivalentes correntes de caixa e valores descontados de entradas de caixa futuro (fluxo de caixa descontado). Inicialmente vamos admitir que mensuração seja, conforme exposto por Mock e Grove (1979), o conjunto de procedimentos que atribui números a objetos e eventos com o objetivo de prover informações válidas, confiáveis, apropriadas e econômicas para os tomadores de decisão. O objetivo principal da utilização do sistema de mensuração sobre as informações é determinar o valor econômico, pois, até a sua aplicação ou utilização, as informações contábeis estão registradas a custo histórico, o que provoca distorções, pois evidencia o valor real do que está sendo registrado. Guerreiro (1989) apresenta etapas para o processo de mensuração. A primeira etapa é a identificação do tipo de decisão a ser tomada. Sob este aspecto, o modelo de mensuração recomenda: a) identificar o tipo de decisão a ser tomada; b) identificar o sistema relacional empírico; c) identificar a característica de interesse da medição; d) identificar a unidade de mensuração; e) definir a base conceitual (critérios de mensuração); f) identificar o sistema relacional numérico; e g) analisar o sistema de mensuração caracterizado à luz do purposive view (infor- mação adequada) e do factual view(confiabilidade, validade, tipo de escala e signi- ficado numérico). 18 Introdução à controladoria Nós vamos, inicialmente, estudar os conceitos de mensuração sob o enfoque de valores de entrada e valores de saída, com vantagens e desvantagens para cada um deles. 1.1.2 Avaliação a Valores de Entrada Para Hendriksen e Van Breda (1999), os preços de troca podem ser passados, correntes e futuros, todos merecendo seu exame pela importância no processo de mensuração para serem relevantes na divulgação externa. Os preços de troca são extraídos do mercado. Como se opera em dois mercados tem-se os valores de entrada (Ex. Aquisição de merca- doria) e valores de saída (Ex. Venda da mercadoria). Para Tinoco (1992, p. 1): “Nos últimos anos várias correntes de pensamento têm externado suas posições ante o pro- blema inflacionário que assola os países capitalistas ocidentais, contribuindo para o debate. Essas contribuições buscam soluções teóricas que minimizem os efeitos das variações de preços nos demonstrativos contábeis de forma a possibilitar informações mais amplas, úteis, objetivas e transparentes para os usuários da informação contábil”. 1.1.1.1 CH - Custo Histórico É aquele que representa o valor pelo qual determinado ativo foi adquirido, ou o valor dos insumos necessários para fabricá-lo e colocá-lo em condições de gerar benefícios futuros para a organização. Uma das vantagens de utilizar o CH é que por esta forma os registros são efetuados a partir dos documentos comprobatórios. Torna-se mais fácil a verifica- bilidade dos registros por parte da auditoria. E as receitas reconhecidas e as despesas incorridas estão efetivamente realizadas, consequentemente o lucro apurado a partir da utilização dos custos históricos está completamente realizado. O CH apresenta a desvan- tagem de que o valor dos ativos registrados a custos históricos, com o passar do tempo, perde a sua representatividade, em decorrência da flutuação dos preços. 1.1.1.2 CHC - Custo Histórico Corrigido Este critério está voltado para a restauração dos custos históricos, ou seja, os custos histó- ricos são atualizados pela variação de um índice escolhido. E consiste em trazer os ativos adquiridos em datas diferentes a uma moeda de mesma data. Como vantagem, possibi- lita uma melhoria nos relatórios contábeis, ou seja, sua comparabilidade, conduzindo-os a uma melhor avaliação do patrimônio bem como favorece a comparação entre ativos adquiridos em datas diferentes. A desvantagem do CHC está no fato de as empresas possivelmente terem uma taxa de inflação interna diferente dos índices de inflação publicados, consequentemente seus ativos perdem um pouco da comparabilidade. 19 Joseilton Silveira da Rocha 1.1.1.3 CC - Custo Corrente Refere-se ao valor pago pela aquisição dos fatores utilizados pela empresa na produção do bem objeto de avaliação na data em que foi adquirido. Assim, o custo corrente e o custo histórico são iguais na data de aquisição, mas o custo corrente de um ativo é o valor de mercado deste mesmo ativo em estado novo, em se tratando de um imobili- zado, deduzido do percentual de depreciação correspondente à realização. A vantagem para o usuário das informações contábeis é que o valor revelado pode aproximar-se, com ajustes, do valor que deveria desembolsar para obter um ativo igual ou equivalente àquele que está sendo avaliado. 1.1.1.4 CCC – Custo Corrente Corrigido Ao se considerar o custo corrente e acrescer um percentual de correção, ele oferece a van- tagem de solucionar, ao mesmo tempo, dois importantes problemas: as variações verifi- cadas no valor da moeda e as variações específicas nos preços dos bens e serviços. O seu uso reconhece o lucro independente da realização, provoca informações mais acuradas tanto para a administração como para os demais interessados. Entretanto, apresenta a desvantagem de perda de objetividade. 1.1.1.5 CFR - Custo Futuro de Reposição Se a empresa decide continuar as suas operações e com os mesmos tipos de produtos, considerando aqui que serviço é um produto, o verdadeiro lucro consiste na diferença entre a receita obtida e o custo futuro da substituição da unidade vendida. Este custo futuro de substituição não é o da data de ocorrência da venda do bem, mas sim o da data em que for realizada a próxima compra. O CFR apresenta a desvantagem de que as ino- vações tecnológicas podem reduzir o valor corrente dos serviços de um ativo fixo, ainda que os custos de reposição tenham aumentado. 1.1.3 Avaliação a Valores de Saída Sua utilização tem sido alvo de grande discussão, principalmente com relação às merca- dorias adquiridas, dado ao alto grau de subjetividade que o envolve. 1.1.2.1 Valores Descontados das Entradas Futuras Líquidas de Caixa O valor de um ativo é o equivalente monetário de seus serviços potenciais. Ou seja, o valor de um ativo é a soma dos preços futuros de mercado dos fluxos dos serviços a serem obtidos, descontados pela probabilidade de ocorrência e pelo fator de juro e seus 20 Introdução à controladoria valores atuais. Nesse contexto, ele apresenta a vantagem de que se trabalha com valor presente, mas os recebimentos monetários previstos dependem de distribuições de pro- babilidades subjetivas, que não são verificáveis por sua própria natureza, e isso pode ser compreendido como uma desvantagem. 1.1.2.2 Preços Correntes de Venda Equivalem aos valores realizados no decurso do período corrente pela venda de bens e serviços, preço de venda do produto. Pode ser considerado também o valor que seria pra- ticado ou esperados, ou que se esperam receber no futuro através de venda da produção, de acordo com o plano de operações da empresa. Entretanto, o fato de antecipar lucros ou prejuízos, violando os princípios do custo como base de valor e da realização, pode ser visto como uma desvantagem, além do alto grau de subjetividade deste processo. 1.1.2.3 ECC - Equivalentes Correntes de Caixa A mensuração, considerando o ECC, representaria o total de dinheiro que poderia ser obtido vendendo cada ativo sob condições de liquidação ordenada. Neste caso preços passados são irrelevantes para ações no futuro e preços futuros podem ser apenas espe- culações. O conceito de equivalente de caixa corrente evita a necessidade de agregar preços do passado, presente e futuro. Mas apresenta a desvantagem o fato de que seria necessário excluir das demonstrações contábeis todos os itens que não tenham um preço de mercado. 1.1.2.4 VL - Valores de Liquidação É uma hipótese extremada de valores de saída, porque presume uma venda forçada, tanto para clientes normais, a preços extremamente reduzidos, como para outras firmas, bem abaixo do custo. Deveriam ser usados apenas quando as mercadorias ou outros ativos se tornassem obsoletos e quando a empresa entrasse em processo de descontinuidade. Mas podemos partir do princípio de que os ativos não devem ser mensurados pelos valores incorridos na sua produção ou elaboração, mas pela capacidade que eles têm de gerar riquezas ao longo da sua vida útil. Nesse contexto, é imprescindível, para sua per- feita mensuração, definir o método de atribuir custos aos estoques (FIFO, NIFO, LIFO ou Custo Médio), principalmente quando essas informações serão utilizadas para determi- nação do custo de produtos. Agora, vamos pensar nisso tudo um pouco... 21 Joseilton Silveira da Rocha Se temos como mensurar um ativo de 05 (cinco) formas a valor de entrada e mais 04 (quatro) a valor de saída, ou seja, sob 09 (nove) formas diferentes e, ainda assim, eles poderão ser acumulados de 03 sistemas diferentes, PEPS, UEPS e Custo Médio, isso quer dizer que temos 27 (vinte e sete) formas de avaliar um mesmo ativo, todas corretas? Lembrando, ainda, que temos outras formas de avaliar ativos, como, por exemplo: ava- liação individualou agregada, e essa avaliação também tem impacto nos resultados apurados. No item seguinte, nós vamos conversar sobre a fase subsequente da contabilidade finan- ceira, que se inicia partir da Revolução Industrial, ou seja, a contabilidade de custos, e vamos verificar o que se faz necessário considerar ou mesmo alterar quando se estão ela- borando informações para a controladoria, para o processo de tomada de decisões. Antes, não deixe e acessar nosso ambiente virtual o Fórum 001, comentar e responder aos questionamentos sobre: os impactos da contabilidade financeira e seus possíveis ajustes para geração de informação para tomada de decisão. 1.2 CONTABILIDADE DE CUSTOS Com o advento da Revolução Industrial, a contabilidade já não era mais capaz de res- ponder às questões relativas ao custo do processo produtivo, pois as empresas não apenas comercializavam produtos prontos, elas transformavam matéria prima, agregando valores (mão de obra + Gastos Gerais de Fabricação), produzindo novos produtos e ser- viços que precisavam ser valorados, surgindo assim a Contabilidade de Custos. Análise 22 Introdução à controladoria Fonte: Pixabay Para Martin (2002), a contabilidade de custos nasceu da contabilidade financeira, quando da necessidade de avaliar estoques na indústria, tarefa essa que era fácil na empresa típica da era do mercantilismo. Seus princípios derivam dessa finalidade primeira e, por isso, nem sempre conseguem atender completamente a seus outros dois, mais recentes e pro- vavelmente mais importantes ramos: Gerencial e Estratégica, que envolvem as tarefas: controle e decisão. De fato, a contabilidade de custos ou os dados que a suportam são, obrigatoriamente, extraídos da contabilidade financeira. Sendo assim, a contabilidade de custos reflete o que foi registrado e sabemos que esse registro tem uma finalidade. Portanto, quando o uso da informação de custo não for para elaboração das demonstrações contábeis, for para suprir o processo de tomada de decisão, alguns dados deverão sofrer alteração para que possam refletir o mais fielmente possível a realidade da organização. 23 Joseilton Silveira da Rocha Ao invés de utilizar o valor registrado na contabilidade pela compra de um material, o valor registrado do pagamento de um salário ou uti- lizar valores gastos na produção de um bem com base no valor no dia de sua ocorrência, deve-se ponderar se este valor deve ser atualizado, ou corrigido, para refletir, por fim, o real valor do bem. Resumindo: ao invés de dizer quanto custou, dizer quanto custa produzir agora, amanhã ou em uma data futura. Para Anthony e Govindarajan (2002), a contabilidade de custo é responsável pelo custeio de produtos (inclua-se em produtos os serviços) para fins de avaliação de estoques, da precificação e da lucratividade dos produtos. Em contabilidade de custos, temos várias formas de informar o custo de um produto. Ele pode ser determinado pelo custeio por absorção, pelo custeio variável, ou com base no custeio da atividade, do esforço, pode ser a custo de aquisição (histórico), histórico corri- gido, pelo valor do bem, ou seja, a custo corrente, pode ser a curso corrente corrigido, ou mesmo a custo de reposição. Pode ser, ainda, a valores descontados das entradas futuras líquidas de caixa, a equivalentes correntes de caixa, preço de venda, a valor de liquidação. Lembra dessa discussão em Teoria da Contabilidade? Sistema de Mensuração de Ativos? Pois bem. Mas ainda há a possibilidade de distribuir custos indiretos via departamenta- lização, utilizando um dos custeios citados acima, o que melhora a informação e reduz arbitrariedades no momento de alocação dos gastos. Sendo assim, um produto que pelo custeio absorção apresentaria um prejuízo em uma dada venda, ao se introduzir melhorias na distribuição dos custos indiretos de fabricação ou na simples escolha de uma outra forma de custear, poderia gerar lucro, mesmo se mantendo os gastos e preço de venda. Exemplo 24 Introdução à controladoria Este exemplo demonstra como a mudança da forma de distribuir os gastos de fabricação – custos indiretos - pode interferir no processo de tomada de decisão, até mesmo na continuidade da organização. Vejamos: imagine uma empresa que tem R$ 1.000,00 de custos indiretos de fabricação, ou seja: Mão de Obra Indireta, Material Indireto e Outros Gastos Gerais de Fabricação. Ela produz produto A, B e C. Em um determinado mês, produziu: 100 unidades do produto A, 200 unidades do produto B, 300 unidades do produto C. Pelo custeio absorção, que é um custeio com base no volume produzido, o custo indireto do produto A, B e C seria: A = R$ 166,67 {1.000,00/600,00*100} B = R$ 333,33 {1.000,00/600,00*200} C = R$ 500,00 {1.000,00/600,00*300} Vamos supor, mesmo utilizando o custeio absorção, cuja base é o volume produzido, que a empresa decida adotar a departamentalização para melhoria dos controles de custos. E verifique o fluxo que os produtos realizam, a saber: A empresa tem quatro departamentos: D1, D2, D3, D4. Fluxo dos Produtos: A = É elaborado nos Departamentos 1, 2, 3 B = É elaborado nos Departamentos 2 e 3 C = É totalmente elaborado no Departamento 4 Exemplo 25 Joseilton Silveira da Rocha O valor de custos indiretos de fabricação R$ 1.000,00 pode ser distribuído da seguinte forma nos departamentos: Ilustração: Marcone Silva Veja só: mesmo mantendo o custeio absorção para determinar o custo do produto, o que não se recomenda para fins de tomada de decisão, sem a departamentalização, o custo das 30 unidades seria R$ 500,00 e com a departamentalização R$ 200,00. Imagine você que um cliente deseja comprar 1.000.000 de unidades do produto C pagando R$ 300,00 por unidade. • Com a primeira informação, a empresa diria que teria um Prejuízo de R$ 200.000.000,00 • Com a segunda informação, a empesa diria que teria um Lucro de R$ 100.000.000,00 Então, antes de gerar qualquer informação, precisamos saber qual o uso que se fará dela. É muito importante, em se tratando de gerar informação para o processo de tomada de decisão, que o responsável por essa geração saiba para que se deseja essa informação. Assim, poderá fazer uso das melhores práticas contábeis para prestar a informação mais realística possível. Neste exemplo, nós estamos atualizando o valor dos bens adquiridos e dos gastos, considerando o valor mais atualizado, real, o mais próximo do que está sendo praticado no momento. ITEM MÃO DE OBRA INDIRETA MATERIAL INDIRETO OUTROS GASTOS CUSTO TOTAL POR DEPARTAMENTO D1 D2 D3 D4 (supervisor) 200.00 200.00 200,00 200.00 (correia para máquinas) Espelho adquirido para sanitário feminino 50,00 50,00 50,0050,00 250,00 250,00 300,00 200,00 Exemplo 26 Introdução à controladoria Vejamos: PRODUTO A – Custo de 01 Unidade Custo com Material Direto =R$ 200,00 Custo com Mão de Obra direta =R$ 100,00 Custos Indiretos de Fabricação =R$ 50,00 CUSTO TOTAL =R$ 350,00 Preço Venda – Mercado =R$ 400,00 Lucro =R$ 50,00 p/unidade Considere que o custo com Material Direto utilizado no produto foi adquirido há dois anos e que neste intervalo houve um aumento de 50%, em material e em salário. Sendo assim, apesar do fato de que na contabilidade o valor está registrado a custo histó- rico, como acima, o real valor do material e de mão obra para a próxima fabricação deste mesmo produto é: PRODUTO A – Custo de 01 Unidade Custo com Material Direto =R$ 300,00 Custo com Mão de Obra direta =R$ 150,00 Custos Indiretos de Fabricação =R$ 50,00 CUSTO TOTAL =R$ 500,00 Preço Venda – Mercado =R$ 100,00 Prejuízo p/unidade Em verdade, só alterandoo sistema de mensuração para um mesmo item nós teríamos 09 (nove) possibilidades de mensurar um ativo. Se considerarmos que este ativo é matéria prima (estoque), então temos uma outra pos- sível variação, em verdade 03 (três) outras, a forma de atribuir custos aos produtos, nós podemos fazer isso pelo FIFO – First In First Out - (PEPS – Primeiro a Entrar primeiro a Sair); LIFO – Last In First Out - (UEPS – Último a Entrar Primeiro a Sair); e Custo Médio. Vamos pensar um pouco sobre o que significam essas possibilidades?! 27 Joseilton Silveira da Rocha Se um ativo pode assumir 09 (nove) valores diferentes e pode ser acumulado de 03 (três) formas diferentes, então temos 27 possíveis valores para um ativo. É isso? Resposta: Mais ou Menos. Em verdade, sob este enfoque, são 25 possíveis valores. Veja bem: quando nós utilizamos o custo de reposição, que é uma das nove opções, o resultado do valor do ativo é o mesmo, seja para PEPS, UEPS ou Custo Médio. É o que chamamos de NIFO – Next In First Out - (Próximo a Entrar Primeiro a Sair). Sendo assim, temos 25 possíveis valores para um mesmo ativo. Consequentemente, 25 possíveis resultados (Lucro/Prejuízo) para um mesmo balanço, em uma mesma empresa no mesmo ano, considerando as mesmas operações. Daí a importância da controladoria se suportar na teoria da contabilidade para poder gerar ou utilizar a informação contábil, ou advinda da contabilidade. Mas esta é uma das coisas que nós, em Controladoria, temos que observar ao utilizar informações elaboradas pela contabilidade de custos e/ou financeira. O ramo da conta- bilidade chamado de Gerencial vem nos auxiliar a compreender melhor a dimensão dos informes contábeis e das suas possíveis modificações. Mas é importante que não saiamos deste ramo da contabilidade sem destacar suas con- tribuições para o que vamos conversar mais adiante sobre o papel controladoria. Não podemos nem imaginar desempenhar esse papel sem dominar essas questões, essas possibilidades ou nuances que a informação pode assumir ao simplesmente trocarmos o usuário da informação, ou seja, para quem a informação está sendo elaborada? Para cada usuário, há um conjunto de ferramentas, regras, das quais podemos fazer uso e cumprir com o papel da contabilidade de gerar informação oportuna, com a acurácia necessária para quem dela faz uso. Vai ver que foi por aí que surgiu a brincadeira: Chefe: Quanto é dois mais dois? Contador: Quanto você quer que dê?! (Nada mais que o uso do sistema de mensuração em toda a sua grandeza) 28 Introdução à controladoria 1.3 CONTABILIDADE GERENCIAL • Estamos realmente entendendo o que os números nos dizem?! • Temos realmente certeza do que estamos vendo? Informando? Fonte: Pixabay Apesar de na sua origem a contabilidade já ter “nascido” com enfoque Gerencial, foco no controle. As firmas foram crescendo, os modelos de financiamento do capital foram se desenvolvendo e a necessidade de prestação de contas (principalmente para os financia- dores) foi se tornando cada vez mais exigida. Como vimos, com o desenvolvimento da indústria, tornou-se necessário o conhecimento mais pormenorizado dos custos produtivos. Cresceu a necessidade de se conhecer mais profundamente a produção e ao mesmo tempo fazer escolhas, decidir, levar em conside- ração abordagens como as que vimos acima. Surgia então a contabilidade gerencial, instrumento de caráter eminentemente interno e que tinha como objetivo suprir os administradores de informações a fim de prepará-los para as decisões a serem tomadas. O aprimoramento da contabilidade gerencial se deu nos Estados Unidos. Neste país, os contadores sentiram a necessidade de dar uma maior contribuição ao processo decisório das empresas. Era necessário um conhecimento mais pormenorizado dos custos produ- tivos. O crescimento das grandes corporações norte-americanas, incluindo as institui- ções financeiras, foi crucial para tal situação. 29 Joseilton Silveira da Rocha • Iudícibus (2000) a entende como um enfoque especial conferido às várias técnicas e procedimentos contábeis já conhecidos e tratados na contabilidade financeira, na contabilidade de custos, na análise de balanços, etc., colocados numa perspectiva diferente, num grau de detalhe mais analítico ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada, de maneira a auxiliar os gerentes das entidades em seu processo decisório. • Grzeszezeszyn (2005) defende que, no final do século XIX, com o advento das grandes companhias de produção industrial, tornaram-se necessárias novas téc- nicas de controle e custeio dos produtos. Com o crescimento das empresas, mais era exigido da contabilidade como fonte de informações e controle dos resultados da gestão, um enfoque mais gerencial. • Para o IFAC - International Federation of Accountants/International Manage- ment Accounting Practice Statement. Management Accounting Concepts. Rela- tório de fevereiro de 1989, apud Padoveze 1999, pág 1, “A Contabilidade Geren- cial pode ser definida como o processo de identificação, mensuração, acumulação, análise, preparação, interpretação e comunicação de informação (tanto financeira como operacional) utilizada pela administração para planejamento, avaliação e controle dentro da organização e para assegurar o uso e a responsabilidade sobre seus recursos”. Ainda para o mesmo autor: “O campo da atividade organizacional abarcado pela conta- bilidade gerencial foi desenvolvido através de quatro estágios reconhecíveis. • Estágio 1 Antes de 1950, o foco era na determinação do custo e controle financeiro, através do uso das tecnologias de orçamento e contabilidade de custos. • Estágio 2 Por volta de 1965, o foco foi mudado para o fornecimento de informação para o controle e planejamento gerencial, através do uso de tecnologias, tais como análise de decisão e contabilidade por responsabilidade. • Estágio 3 Por volta de 1985, a atenção foi focada na redução do desperdício de recursos usados nos processos de negócios, através do uso das tecnologias de análise do pro- cesso e administração estratégica de custos. • Estágio 4 30 Introdução à controladoria Por volta de 1995, a atenção foi mudada para a geração ou criação de valor através do uso efetivo dos recursos, através do uso de tecnologias, tais como exame dos direcionadores de valor ao cliente, valor para o acionista e inovação organizacional”. No Brasil, a contabilidade gerencial ganha força nos anos 80. Mas, apesar de todo o enten- dimento da necessidade e das possíveis contribuições da contabilidade gerencial para as organizações, ela não é, neste momento em específico, utilizada em toda a sua magnitude. Borinelli et al (2005) comentam que, em 1987, em pleno período de fortes transforma- ções nos cenários mundiais político, econômico e tecnológico, os norte-americanos H. Thomas Johnson e Robert S. Kaplan publicam a obra "Relevance Lost - The Rise and Fall of Management Accounting". Nessa obra, os autores afirmavam que os sistemas de contabilidade gerencial já não eram mais adequados para aquele contexto vivido pelas organizações empresariais, ou seja, a contabilidade gerencial tinha perdido sua relevância. E encerram sua fala destacando que parte das deficiências apontadas pela obra acima foi superada. (Borinelli et al, 2005). Em verdade, estamos em constante processo de desenvolvimento, em se falando de Ciên- cias Contábeis, em qualquer um dos seus ramos. Devemos lembrar que a contabilidade atende as necessidades do homem e, mais, que à medida que o homem evolui, novas necessidades se lhe apresentam. Neste contexto surge o ramo da Contabilidade, chamado de Contabilidade Estratégica. Em verdade, não se pode ter uma contabilidade gerencial se não for estratégica. Então continuaremos falando de contabilidade gerencial comuma nova roupagem, nomencla- tura. Alguns autores nem fazem esta diferença, é uma questão de dimensão. Mas o fato é que vários livros de contabilidade gerencial não passam de um resumo de custos, planejamento, orçamento, de análise das demonstrações, de sistema de mensu- ração de desempenho e dos seus modelos. Eles não vinculam essas análises, resultados, à questão estratégica. Mas a contabilidade gerencial não é o estudo dos principais pontos ou abordagens de ramos do conhecimento, ou mesmo de outros conhecimentos. Faz-se necessário que, ao revelar esses números via contabilidade de custos, por exemplo, o contador gerencial os analise ou desenvolva sua análise sob o olhar de um gestor, de um tomador de decisão, levando em consideração não só a missão da organização e as normas ou determinações legais de apuração de resultado, mas também que a infor- mação deve ser analisada ou revelada, considerando a estratégia, a visão organizacional. Dessa forma, os números devem representar ou revelar-se o mais próximo da realidade, para que se possa decidir com uma informação não apenas precisa, mas acurada, que seja 31 Joseilton Silveira da Rocha a verdadeira representação do que ocorre na empresa em um contexto sistêmico, que considere aspectos internos e externos à organização. Neste contexto, podemos exemplificar: um resultado de balanço que informa lucro organizacional pode ser visto como um resultado ruim para a organização (imagine que o resultado apresente um lucro de R$ 100.000,00 quando, pelos recursos investidos durante o período, ele devesse ser de no mínimo R$ 800.000,00. Então, sob essa perspectiva, foi, sim, um resultado ruim) Imagine você que o indicador de liquidez de uma empresa seja de R$ 8,00 quando a literatura diz que acima de R$ 1,00 é considerado bom. Sob o olhar da contabilidade gerencial, R$ 8,00 pode ser ruim, pois depende do tempo em que esse valor ficou parado nas contas de disponíveis. Depende do que se fez com esse recurso. É preciso traçar estra- tégias para todas as possíveis ocorrências em uma organização. Saber o que fazer na hora certa é fundamental. Nesse contexto, faz-se necessário unir o ambiente interno ao ambiente externo à organi- zação, conforme proposto por Martin (2002), apresentado na figura a seguir. FONTE: Martin (2002, p.07) / Ilustração: Marcone Silva Exemplo PROPOSTAS RELATÓRIOSANÁLISES COMUNICAÇÃO DOS RESULTADOS CAPACIDADE DE IDENTIFICAÇÃO E MENSURAÇÃO COM MÚLTIPLAS MÉTRICAS PERSPECTIVAS DOS PROCESSOS PERSPECTIVAS DOS RECURSOS CAPACIDADE DE DIAGNÓSTICO INTERNO PERSPECTIVA DO VALOR PERSPECTIVA ESTRATÉGICA CAPACIDADE DE DIAGNÓSTICO EXTERNO QUADRO DE CONTROLE DO DESEMPENHO Figura 01: Eixos de Transformação da Contabilidade Gerencial 32 Introdução à controladoria Em resumo, para Martin (2002, p.01), Não pode haver ciência sem um modelo adequado de percepção e representação da realidade. Neste início do século XXI, já se tornou óbvio que, no ambiente moderno dos negócios, uma contabilidade gerencial, que tenha por base um modelo exclusivamente financeiro, não mais consegue propiciar as informa- ções necessárias para dar apoio à gestão das empresas nas suas mais importantes decisões. Para manter a sua relevância decisorial, o modelo contábil financeiro precisa ser estendido e flexibilizado, incorporando e integrando novas dimensões e novos instrumentos de pesquisa e avaliação. Esta profunda transformação da gerencial, que levaria à moderna Controladoria, se faz integrando ao seu modelo explicativo básico, que é de natureza contábil, a identificação e a avaliação de variáveis, que têm elevado impacto sobre os resul- tados das empresas, tais como o valor dos produtos, os fatores ambientais seto- riais e sistêmicos, os processos de trabalho e os recursos tangíveis e intangíveis mobilizados. Essas novas dimensões da Controladoria, quando associadas ao modelo contá- bil-financeiro, formam um quadro geral de avaliação do desempenho, que não apenas tem poder explicativo sobre o estado atual da empresa, mas também per- mite projeções e simulações de cenários futuros, dando lugar à exploração de oportunidades e à proteção ou hedge contra riscos, ambas de vital interesse para os stakeholders de qualquer empresa. Ao final, procura-se demonstrar quais são as novas posturas, atitudes e percepções que, ao lado de novas técnicas e instru- mentos de trabalho, devem ser adotados por um contador para se transformar num moderno Controller. Em se falando de contabilidade gerencial/estratégica, segundo Os princípios Globais de Contabilidade Gerencial - AICPA tradução Luiz Roberval Vieira Goes. 2018, Dois dos mais prestigiados órgãos contábeis do mundo, AICPA e CIMA, for- maram uma joint venture para criar a designação Chartered Global Management Accountant® (CGMA®) (em português, contador gerencial global certificado) para elevar e construir o reconhecimento da profissão de contabilidade gerencial. Esta designação internacional concede reconhecimento aos contadores geren- ciais mais talentosos e comprometidos com esta disciplina e com habilidade para conduzir a organização a um desempenho robusto do negócio. Os detentores da designação CGMA são os CPAs (sigla em inglês para Contadores Públicos Cer- tificados) com experiência qualificada em contabilidade gerencial, ou associados ou membros do Chartered Institute of Management Accountants. (Luiz Roberval Vieira Goes – Tradutor do documento: Princípios Globais de Contabilidade 33 Joseilton Silveira da Rocha Gerencial© Princípios Globais De Contabilidade Gerencial© Contabilidade gerencial eficaz: Melhorando as decisões e construindo organizações de sucesso”. Disponível em: https://www.cgma.org/Resources/Reports/DownloadableDocument- s/2016-07-26-Principios-Globais-De-Contabilidade-Gerencial.pdf em 05 de março de 2018.) A seguir, apresenta-se o texto, em sua íntegra, deste documento do IACPA e CIMA, que aborda os quatro princípios de contabilidade gerencial. A saber: Os Princípios são um guia de boas práticas. Eles foram preparados pelo American Institute of CPAs (AICPA) e o Chartered Institute of Management Accountants (CIMA) - que juntos representam mais de 600.000 membros e estudantes em 177 países. Eles refletem a perspectiva de CEOs (executivos-chefes), CFOs (diretores financeiros), acadêmicos e outros pro- fissionais que contribuíram durante uma consulta global nos cinco continentes. Existem quatro princípios focados em quatro resultados: Influência A comunicação provê ideias que influenciam. A contabilidade geren- cial começa e termina com diálogos. Os Princípios foram concebidos para ajudar as organizações a romper seus silos (barreiras entre as unidades da organização) e incentivar o pensamento integrado, levando a uma melhor tomada de decisão. Relevância A informação é relevante. A contabilidade gerencial disponibiliza as informações relevantes aos tomadores de decisões quando eles necessitam. Os Princípios fornecem orientação para a identificação de informações sobre o pas- sado, presente e futuro, incluindo dados financeiros e não financeiros de fontes internas e externas. Isto inclui dados sociais, ambientais e econômicos. Valor O impacto no valor é analisado. A contabilidade gerencial conecta a estra- tégia da organização ao seu modelo de negócio. Estes Princípios ajudam as organizações a simular diferentes cenários para enten- derem seus impactos na geração e preservação de valor. Confiança Gerenciamento dos recursos e relações (Stewardship) constrói con- fiança. Prestação de contas (Accountability) e a análise detalhada tornam o pro- cesso de tomada de decisão mais objetivo. Equilibrar os interesses comerciais de curto prazo com o valor de longo prazo para as partes interessadas (stakeholders) aumenta a credibilidade econfiança. 34 Introdução à controladoria Os Princípios destinam-se a ser universalmente aplicáveis para ajudar as organi- zações grandes e pequenas, públicas e privadas a obter valor a partir do crescente volume de informação disponível. Bem, agora é preciso que você leia os textos complementares, responda ao questionário de autoavaliação e, em nosso chat, discutiremos mais sobre este assunto. 1.4 CONTABILIDADE ESTRATÉGICA Em contabilidade estratégica, muitas são as oportunidades. Como escolher aquela que nos traz maior benefício? Qual a melhor escolha? Esta é a forma mais atual de se compreender e se utilizar a contabilidade gerencial, ou de se conceber como a contabilidade pode continuar atendendo a necessidade do homem em ambiente em constante mudança. Fonte: Pixabay A capacidade que se tem em responder estrategicamente aos fatos é um diferencial que contribui para sua continuidade. Voltada para o futuro, podemos dizer que é uma contabilidade que suporta decisões de longo prazo, que, em última instância, se dedica à geração de relatórios contábeis que reflitam o desempenho organizacional em relação à estratégia ou estratégias que a empresa determinou em função da sua missão, buscando atingir a visão desejada em determinado período de tempo. 35 Joseilton Silveira da Rocha De uma maneira mais tempestiva, apesar de ressaltar o aspecto físico e financeiro da contabilidade, se incluem neste contexto as informações de cunho político e social; elas não ficam relegadas a um segundo plano. Uma informação deve levar em conta fatos e atos que podem interferir no resultado operacional de uma organização. Concebe-se que aspectos tangíveis e intangíveis devam ser considerados. É o encontro do emocional e do racional. No momento em que o homem compreende que aspectos ambientais, sociais, comporta- mentais e outros mais subjetivos são tão importantes quanto o financeiro e que eles inter- ferem igualmente no resultado das organizações, reconhece-se a necessidade de produzir informações financeiras e não financeiras para garantir a criação de valor. Apesar de todos os esforços, só com o avanço da tecnologia da informação é que se tornou possível reativar na contabilidade a importância da visão gerencial. O computador como ferramenta operacional permitiu registros e análises mais tempestivas deixando o con- tador mais livre para atuar nos aspectos gerenciais – estratégicos - da organização. Em resposta e diante deste “novo cenário”, a academia introduz no currículo dos cursos de Ciências Contábeis a disciplina Contabilidade Gerencial, o que só iria se refletir nas organizações muito tempo depois, pois ainda havia a cultura geral implícita sobre conta- bilidade, fruto de anos de atuação centrada na contabilidade financeira. Por outro lado, havia nas organizações uma insatisfação com a não produção dessas informações não financeiras, além do fato de que as tentativas agora disponibilizadas ainda não atendiam ou suportavam questões relativas à subjetividade, e em muitos casos, o interesse era por informações sobre as empresas, considerando-se como ponto de par- tida a descontinuidade - descontinuidade essa que não faz parte do cenário de informa- ções contábeis. De fato, a insatisfação com as informações prestadas, ou não prestadas, recai sobre os contadores, administradores, economistas e outros envolvidos no processo de gestão organizacional. A sensação é que ninguém consegue atender e dar as respostas necessá- rias para que seja possível conduzir a organização com vistas à realização da sua visão. A contabilidade gerencial criada como resposta a esses anseios ainda estava desvinculada das questões estratégicas e ainda estava vinculada a um modelo exclusivamente finan- ceiro. Na tentativa de atender a essas questões, alguns pesquisadores passam a falar em contabilidade estratégica, mas gerenciar, por natureza, já é estratégico! De fato, faltou a quebra do vínculo financeiro, a “permissão” para introduzir aspectos não financeiros, uma visão mais estratégica. 36 Introdução à controladoria Cabe ressaltar que, apesar de reclamar da falta de informações estratégicas, os “donos” do negócio se negavam a publicar a estratégia organizacional por ser estratégico. Então como produzir informações sobre a estratégia se não se conhece a estratégia? E cada vez mais a insatisfação aumentava, ao ponto ou ao cúmulo de se dizer que a contabilidade só gera informações sobre o passado. Ignorando que, ao elucidar os seus desejos, a contabilidade durante anos tem produzido diversas respostas seja em termos de demonstrações ou via oferta de sistemas e de fer- ramentas para atendê-los, os “donos” do negócio, ávidos por informações, instituem a figura do controller ou da controladoria. Seja como função ou como setor, tornam-no responsável pela solução do “problema” informacional que se instalou. Para ocupar a função de Controller, ou para ocupar a Controladoria, até mesmo pela quebra de confiabilidade das informações que havia, não importava a formação, desde que, com a autonomia que lhe fora concedida, cumpra a missão de garantir o fluxo de informações, seja controlando, normatizando, criando sinergias, executando, ou mesmo informando para que o resultado econômico desejado se concretize. Neste momento percebe-se a importância de se introduzirem nos relatórios gerenciais aspectos não financeiros, desvinculando-se assim a contabilidade gerencial da contabili- dade financeira, o que permitiu a geração de uma gama de informações e percepções que tornam o modelo gerencial de informação contábil o ideal para a tomada de decisões e que ainda se encontra em franco processo de evolução. Aquele que domina a Ciência Contábil sente-se mais seguro para o cargo, pois quase que a totalidade das atividades que ele desenvolverá para cumprir a sua missão como controller ou na controladoria é suportada pelas Ciências Contábeis. Antes de darmos início a novas discussões, vamos conversar! Acesse o Fórum 002: Da Contabilidade à Controladoria: mensuração, custeio e outras abordagens. Vamos esclarecer possíveis questiona- mento, dê sua contribuição! Comentário Joseilton Silveira da Rocha UNIDADE 2 2. UNIDADE TEMÁTICA II - A CONTROLADORIA Nesta aula você irá compreender: A relação existente entre a contabilidade e a controladoria, e visualizar a controladoria nas suas três diferentes perspectivas: • como unidade administrativa, como ramo do conhecimento e como função; • determinar o seu objeto de estudo e identificar as funções típicas; • conhecer aspectos ligados à posição hierárquica. Como a Contabilidade e a Controladoria estão intimamente relacionadas, é conveniente se entender a evolução histórica destas. Mas é importante, desde o início, destacarmos que a Controladoria não é uma evolução da Contabilidade; portanto, quando dizemos Da Contabilidade à Controladoria, não estamos estabelecendo um processo de evolução, mas de fatos, ocorrências, em uma ordem de acontecimentos. A controladoria se inter-relaciona com diversas outras ciências, porém ela tem uma relação mais próxima e está fortemente centrada sobre a contabilidade, sendo mais pre- ciso, sobre as Ciências Contábeis. 38 Introdução à controladoria Fonte: Acervo do autor A interface entre controladoria e contabilidade encontra-se no fato de a primeira utilizar os conceitos oriundos das Ciências Contábeis para identificar, classificar, registrar, men- surar e sumarizar os fatos ou atos que envolvem uma organização e/ou um processo de tomada de decisão, com a possibilidade de mesclar nesses conceitos um enfoque ou um olhar, auxiliando, também, com outros conceitos advindos das mais diversas ciências à disposição do homem, ou do controller, podendo ser numa visão de passado, presente ou futuro, ou seja,a controladoria é atemporal. Inicialmente, cabe destacar que não existe um consenso entre todos os autores, não há um conceito unanimemente aceito acerca da Controladoria. Entretanto, a maioria dos pesquisadores concordam que a controladoria tem por objetivo primordial fornecer sub- sídios (informações) para facilitar o processo de tomada de decisão. Apesar da controladoria não ter um conceito unanimemente aceito, seus fundamentos o são. Ela é a ferramenta que tem por objetivo primordial auxiliar a organização na sua continuidade, realizar suas metas e alcançar sua visão. Borinelli (2006), por exemplo, acredita que a teoria sobre controladoria não está consoli- dada, encontra-se ainda em desenvolvimento. O que existe é válido, porém carece de um processo de organização e sistematização. Ou seja, percebe-se que, para esse autor, essa área merece um maior aprofundamento, o que está de acordo com o exposto por Oliveira (1998), que afirma não existir no Brasil nítidas definições das funções e atividades da controladoria. 39 Joseilton Silveira da Rocha “Uma controladoria eficiente e eficaz deve estar capacitada a organizar e reportar dados e informações relevantes e exercer uma força capaz de influir nas decisões dos gestores da entidade”. (OLIVEIRA, 1998, p.19) Segundo este mesmo autor, uma controladoria eficiente deve: • Organizar e reportar dados e informações relevantes para os tomadores de decisões; • Manter permanente monitoramento sobre os controles das diversas atividades e do desempenho de outros departamentos; • Exercer uma força ou influência capaz de influir nas decisões dos gestores da entidade. Já para Slomski (2005), Controladoria, termo de difícil definição, no entanto, é feita desde os primórdios. Controladoria é, portanto, a busca pelo atingimento do ótimo em qual- quer ente, seja ele público ou privado, e o algo mais, procurado pelo conjunto de ele- mentos que compõem a máquina de qualquer entidade. O que se percebe de maneira geral é que à controladoria cabe a responsabilidade de suprir os gestores com informações relevantes para facilitar o processo decisório. De acordo com Borinelli (2006, p. 95), a Controladoria pode ser definida sob três pers- pectivas diferentes, descritas na figura abaixo: Ilustração: Marcone Silva • Unidade Administrativa ou órgão Administrativo - o que envolve os aspectos organizacionais; • Ramo do Conhecimento - diz respeito aos aspectos conceituais; • Função se relaciona com os aspectos procedimentais. CONTROLADORIA PERSPECTIVA 02: PERSPECTIVA 03:PERSPECTIVA 01: ASPECTOS ORGANIZACIONAIS ASPECTOS PROCEDIMENTAIS ASPECTOS CONCEITUAIS RAMO UNIDADE FUNÇÃO 40 Introdução à controladoria A Controladoria, como ramo do conhecimento (aspectos conceituais), serve de base para identificação de suas atividades / funções (aspectos procedimentais) e se consolida nas organizações como unidade (aspectos organizacionais). Fonte: Pixabay Vamos ver a seguir cada um deles! 2.1 A Controladoria como Ramo do Conhecimento Aqui a controladoria é entendida como sendo um ramo do conhecimento que faz uso de diversas ciências. A mesma é identificada como uma área que reúne diversas teorias do conhecimento. Portanto, área esta que se relaciona com as demais ciências, buscando entender-se como a controladoria se materializa no âmbito das organizações. Fonte: Pixabay Aspectos Organizacionais Aspectos Procedimentais Aspectos Conceituais 41 Joseilton Silveira da Rocha Diferentes autores possuem diferentes visões da controladoria como uma área do conhecimento. O quadro a seguir apresenta o exemplo de alguns deles, a saber: Cada uma das ciências (ou conhecimento) contribuirá para a formatação de como a con- troladoria estará contribuindo, dentre outros aspectos, no processo de operacionalização da estratégia organizacional. O quadro a seguir apresenta como cada uma das ciências pode auxiliar, ou auxilia, a con- troladoria na consecução dos seus objetivos. Almeida at al. (1999) Apoiada na Teoria da Contabilidade e numa visão multidisciplinar, é responsável pelo estabelecimento das bases teóricas e conceituais necessárias para a modelagem, construção e manutenção de Sistema de Informação e Modelo de Gestão Econômica, que supram adequadamente as necessidades informativas dos gestores e os induzam durante o processo de gestão, quando requerido, a tomarem decisões ótimas. Mosimann et al (1993) Pode ser conceituada como o conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos das ciências da Administração, Economia, Psicologia, Estatística e, principalmente, da Contabilidade, que se ocupa da gestão econômica das empresas, c rientá-las par Nakagawa (1993) Os modernos conceitos de Controladoria indicam que o Controller desempenha sua função de controle de maneira muito especial, isto é, ao organizar e reportar dados relevantes exerce uma for induz os gerentes a tomarem decisões lógicas e consistentes com a missão e objetivos da empresa. Borinelli (2006) Controladoria é um conjunto de conhecimentos que se constituem em bases teóricas e conceituais de ordem operacional, ec ceira e patrimonial, relativas ao controle do processo de gestão organizacional. 42 Introdução à controladoria 2.1.1 Controladoria e o seu objeto Segundo Tung (1993, p. 435) a Controladoria se responsabiliza pela manutenção e integridade dos registros contábeis e pela evidenciação das informações econômi- co-financeiras. Analisa as variações das demonstrações contábeis e dos indicadores CIÊNCIA Contabilidade Administração Economia Direito Estatística Matemática Psicologia Física Sociologia CONTRIBUIÇÃO PARA A CONTROLADORIA Empresta o arcabouço conceitual, sistemas, métodos e a própria teoria para informar, identi�car, classi�car, registrar, mensurar, acumular e sumarizar as transações e eventos decorrentes das operações realizadas pelas entidades. Auxilia a compreender o funcionamento, evolução, crescimento e comportamento das organizações e gestão dos recursos. Possibilita o estudo da forma pela qual os indivíduos fazem suas escolhas e decisões econômicas/�nanceiras, para que os recursos possam contribuir para satisfação das necessidades das organizações. Permite analisar o conjunto de Leis, Normas, Regras que exige dos homens e das entidades jurídicas determinadas formas de conduta. Auxilia no estudo da organização via: descrição, discussão, análise e interpretação de dados presentes, passados e futuros. Disponibiliza meios para se calcular as operações em tempo real, por exemplo: Momentum Accounting. Auxilia no estudo do comportamento humano, suas motivações, valores e estímulos e atitudes. Disponibiliza meios para se calcular as operações em tempo real, por exemplo: Momentum Accounting. Permite estudar a sociedade, suas relações e suas formas de se organizar e auto-organizar. Como conjunto de conhecimentos advindos de várias ciências, a controladoria possibilita a compreensão da organização como um �uxo contínuo de transformações. 43 Joseilton Silveira da Rocha econômico-financeiros, compilando os dados relevantes e reportando-os aos gestores da empresa à administração. Em verdade, essa é a base para que ela possa cumprir uma das facetas de sua missão, que é prover os gestores com informações precisas e oportunas para a tomada de decisão que leve à eficácia organizacional (TUNG, 1993). Borinelli (2006) questiona: Quantos objetos de estudo possuem a controladoria? Quais são eles? Segundo Vatter (1950, p. 238), a natureza da controladoria encontra-se nas relações que acontecem com os vários níveis de executivos nas quais o controller exerce sua influência, e faz contribuições úteis à efetividade gerencial. O significadode controladoria encon- tra-se na natureza dessas contribuições. Destaque-se que ele foca o objeto da controladoria nas relações com os executivos, con- tribuindo para a efetividade gerencial e que o real significado da controladoria está na natureza dessas contribuições. Como identificar a mensuração no objeto da Controladoria? Bem, veja outros pensa- mentos sobre o objeto da Controladoria no quadro que se segue, apresentado por Bori- nelli (2006). Ilustração: Marcone Silva Autores Objeto De Estudo Valter (1950, p. 238) A natureza da controladoria encontra-se nas relações que acontecem com os vários níveis de executivos nas quais o controller exerce sua in�uência, e faz contribuições úteis à efetividade gerencial. O signi�cado de controladoria encontra-se na natureza destas contribuições Regel (2003, p. 32) Considera que o modelo de controladoria deve atender a três tipos de informações: �duciária (usuário externo), operacional (usuário interno) e estratégica (usuário interno) Fernandes (2000, p. 45) A abrangência da atividade de controladoria estende-se a todo o processo de formação de resultados das entidades, com todos os seus aspectos - estruturais, sociais, quantita- tivos e outros. Catelli (apud PADOVEL, 2004, p. 5) A identi�cação, mensuração, comunicação e decisão relativas aos eventos econômicos. Oliveira et. al (2002, p . 14) O estudo e a prática das funções de planejamento, controle, registro e divulgaçãi dos fenô- menos da administração econômica e �nanceira das empresas em geral. Padoveze (2004, p. 34) Os objetivos empresariais são o ponto central de atuação da controladoria. Padoveze (2004, p. IX) O foco da Controladoria é a criação de valor para a empresa e para os acionistas, valor esse que será obtido pelos gestores das diversas atividades desenvolvidas dentro da empresa, inseridas em processo de gestão claramente de�nifo. Guerreiro et. al (1997, p. 11) A gestão econômica, compreendida pelo conjunto de decisões e ações orientando por resultados desejados e mensurados segundo conceitos econômicos. Mosimann e Fisch (1999, p. 99) A gestão econômica, ou seja, todo conjunto de decisões e ações orientado por resulta- dos desejados e mensurados segundo conceitos econômicos. Farias (1998, p. 40) A gestão econômica, de modo que é responsável pelos sistemas de informações geren- ciais e pela disponibilização de modelos de mensuração e de informação que possibili- tem as melhores decisões, tendo em vista a otimização dos resultados da empresa. Almeida et. al (in CATELLI, 2001, p. 345) Modelo de gestão, processo de gestão, modelo organizacional, modelo de decisão (teoria da decisão), modelo de mensuraçãi (teoria da mensuração), modelo de identi�- cação e acumulação e modelo de informação (teoria da informação). Quadro 3 - Objeto de estudo da Controladoria, segundo a literatura. Fonte: Borinelli (2006, p. 106) 44 Introdução à controladoria Nesse aspecto, Regel (2003) direciona o foco de estudo da Controladoria para a questão das informações. Mas, em verdade, o objeto de estudo compreende as necessidades de informação da organização? Sim, com certeza. Quanto a Oliveira et al (2002), eles destacam o estudo e a prática das funções de planeja- mento, controle, registro e divulgação. Mas, em sua essência, a Controladoria não estuda a função de planejamento e controle propriamente dito. De fato, a Controladoria atua nessas funções, desempenhando diferentes papéis, e estes papéis se alteram em função do desenho organizacional de cada entidade. Neste aspecto, cabe destacar que se faz necessário compreender neste conjunto as ques- tões de ordem financeira e operacionais. No Quadro a seguir, podemos identificar o objeto de estudo da Controladoria como sendo a organização, vista como uma composição de modelos de gestão, de decisão e de informação, que conduzem a um modelo de mensuração e acumulação, segundo Bori- nelli (2006) . Fonte: Borinelli (2006, p. 109) / Ilustração: Marcone Silva Subdividido em : MODELO DE DECISÃO MODELO DE INFORMAÇÃO Que conduzem ao processo de formação dos resultados: MODELO DE MENSURAÇÃO E MODELO DE INDENTIFICAÇÃO E ACUMULAÇÃO OBJETO DE ESTUDO DA CONTOLADORIA: AS ORGANIZAÇÕES (Modelo Organizacional) MODELO DE GESTÃO 45 Joseilton Silveira da Rocha O modelo de gestão compreende o planejamento e controle, com suas respectivas ênfases: gestão operacional, econômica, financeira e patrimonial. O modelo de decisão relaciona-se à forma pela qual a organização decide, e o modelo de informação estrutura as informações e o processo de formação dos resultados organizacionais. Vinculado ao modelo de informação, estão os modelos de mensuração e de acumulação, que deter- minam qual tratamento será utilizado na valoração das ações e ativos e como ele será reportado. Cabe destacar que, neste contexto de objeto da controladoria ser a organização, há diversas formas de se conceber uma organização e consequentemente diversos enfoques do objeto da controladoria. Por exemplo, sendo a organização, isto inclui seus recursos físicos, humanos, financeiros, materiais, etc Auxiliar na melhoria contínua na gestão econômica e permitir um processo de tomada de decisão ótimo é papel da Controladoria. Neste contexto, qual é o seu objeto de estudo da controladoria? • Oliveira et al (1998) defendem que o objeto de estudo é a prática das funções de planejamento, controle, registro e divulgação dos fenômenos da administração eco- nômica e financeira das empresas em geral. • Catelli (1999) afirma que o objeto é a identificação, mensuração, comunicação e decisões relativas aos eventos econômicos. • Guerreiro et al (1997) acreditam que o objeto de estudo da controladoria é a gestão econômica, compreendida pelo conjunto de decisões e ações orientadas por resultados desejados e mensurados segundo conceitos econômicos. Pode-se afirmar que o objeto de estudo da controladoria é a organização quanto à forma de utilização dos recursos, sejam eles, materiais, financeiros, humanos, políticos, ou informacionais. Ela deve buscar a ampliação e aplicação dos conhecimentos advindos das diversas áreas que a auxiliam para que o processo de tomada de decisões crie valor para a organização e, principalmente, para a sociedade como um todo. 46 Introdução à controladoria 2.2 A Controladoria como Unidade Administrativa Nesta perspectiva, ela é visualizada como um subsistema do sistema organizacional- -formal, uma parte de um todo. Fonte: Pixabay Ela estará presente no organograma da organização, seja na forma de uma diretoria, gerência, staff, entre outros. Ela fará parte da estrutura organizacional. Enquanto uni- dade administrativa, a controladoria terá o seu corpo de técnicos, o seu responsável (con- troller), as suas responsabilidades delegadas, entre outros. Como uma unidade administrativa, tem por finalidade garantir informações adequadas ao processo decisório; colaborar com os gestores na obtenção de
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