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1 CONTROLADORIA EMPRESARIAL 1 Sumário INTRODUÇÃO 3 Uma breve história da Controladoria Empresarial 4 Conceito da Controladoria Empresarial 5 A missão e objetivo da Controladoria Empresarial 7 A Controladoria órgão de Gestão Empresarial 9 O ramo de conhecimento Controladoria Empresarial 11 O profissional da Controladoria Empresarial 12 Funções e Estruturas da Controladoria 13 Controle da qualidade da informação e o novo modelo de Controladoria 17 Controladoria nas MPEs 20 Controladoria Estratégica 23 Objetivos, metas e diagnósticos estratégicos 30 Análise de desempenho relativo 31 Comunicação 33 A Grande Travessia da Contabilidade à Controladoria 34 CONCLUSÃO 36 REFERENCIAS 38 2 FACULESTE A história do Instituto FACULESTE, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACULESTE, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A FACULESTE tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO O novo entorno econômico globalizador, vivido atualmente no mundo, tem introduzido profundas mudanças no ambiente econômico internacional, provocando um novo arranjo na Economia Mundial, que tende a um processo de globalização, caracterizado basicamente pela união de países em torno de uma proposta comum de intercâmbio comercial através da queda de barreira tarifárias cambiais e de outras condições de livre comércio. Como desdobramentos dessas mudanças, emergiram os blocos econômicos: NAFTA, MERCOSUL, Países Asiáticos e a Comunidade Econômica Europeia. Todo esse processo impacta tanto o contexto externo das relações contratuais das organizações, como o ambiente interno das empresas, criando assim a demanda por melhores práticas de gestão. Quer queiramos ou não, os movimentos sociais exigirão futuramente um posicionamento das empresas onde elas serão cobradas em seu papel social, principalmente em relação a seu desempenho, sendo assim, a otimização do uso dos recursos disponíveis é preocupação primeira dos gerenciadores das organizações. O objetivo de um negócio privado, em uma economia competitiva, é obter o maior lucro possível desde que este não seja inconsistente com o crescimento de longo prazo da companhia e, com os padrões éticos da sociedade. Num sentido específico, uma empresa é uma instituição econômica criada unicamente para prover a sociedade dos produtos e serviços necessários ou desejados, compatíveis com as atitudes sociais das nações e da humanidade. Aos olhos dos consumidores não existe nenhuma razão para a existência de um negócio, exceto pelo serviço que é prestado ou pelo produto que é oferecido, se esse objetivo não é alcançado, a tendência é de que a organização desapareça. Naturalmente, existem outros objetivos colaterais que possuem implicações sociais, por exemplo, oferecer emprego e boas condições de trabalho aos empregados, atender às aspirações por melhores remunerações, crescimento e reconhecimento profissional, pagar impostos ao governo para que os programas sociais possam ser desenvolvidos. Estes objetivos só poderão ser viabilizados se o primeiro deles, o lucro, for alcançado. A Contabilidade moderna tem se caracterizado como uma das ferramentas mais úteis aos administradores na otimização do processo 4 de tomada de decisão. Pois, como um sistema de informação e mensuração de eventos que afetam a tomada de decisão possibilita que, partindo do conhecimento de fatos passados, procedimentos futuros sejam delineados de forma que esta otimização seja, senão alcançada totalmente, buscada com maior segurança. A Controladoria começa com o entendimento de que todos os recursos que são mobilizados e utilizados pelas organizações têm um objetivo maior: produzir valor. A nova representação de uma organização empresarial para um Controller parte, então, da concepção de que ela executa uma transformação produtiva, na qual os recursos são convertidos em bens e/ ou serviços para os quais deve existir mercado e uma demanda econômica. Uma breve história da Controladoria Empresarial O surgimento do conceito de Controladoria deveu-se à necessidade aparente de controle por parte das organizações norte-americanas, de suas subsidiárias e filiais, no início do século XX. Devido ao processo de fusão ocorrido com muitas empresas, que proliferaram durante a Revolução Industrial, durante o século XIX, foram originados grandes conglomerados, os quais eram caracterizados por ter uma estrutura verticalizada em forte crescimento, organizada sob forma de departamentos e divisões. Com a formação desta estrutura tão complexa foi requisitado por parte dos acionistas e gestores um controle central em relação aos seus departamentos e divisões que se espalhavam rapidamente pelos Estados Unidos e outros países, seguindo a tendência da descentralização. (MARTINS, O., 2005) Com a evolução contínua da necessidade de informações relevantes ao negócio e o aumento da complexidade da atividade empresarial, o conceito se amplia e, segundo Figueiredo e Caggiano (2004), a Controladoria acaba se focando em zelar pela continuidade e progresso da empresa, assegurando a otimização do resultado global. Surge, assim, a definição da missão da Controladoria, como área de atuação dentro das empresas. 5 Conceito da Controladoria Empresarial A Controladoria, segundo Orleans Martins (2005), tem a finalidade de garantir informações adequadas ao processo decisório dos gestores, colaborando assim para a busca pela eficácia da empresa e de suas subdivisões, levando-se em conta o aspecto econômico. O que é reafirmado por Mosimann, Alves e Fisch (1999) que comentam que a Controladoria pode ser conceituada como o conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos das ciências de Administração, Economia, Psicologia, Estatística e principalmente da Contabilidade, que se ocupam da gestão Econômica das empresas, com o fim de orientá-las para a eficiência. Já Borinelli (2006) faz um apanhado geral dos principais teóricos do assunto incluindo José Pereira, (1991), Mosimann, Alves e Fisch (1999), Almeida, Parisi e Pereira (2001), e Garcia (2003), tentando consolidar uma definição única, que leva em conta as ideias préexistentes como complementares, ou seja, uma definição mais completa. Desta forma, Borinelli (2006) chega a seguinte conclusão: Controladoria é um conjunto de conhecimentos que se constituem em bases teóricas e conceituais de ordem operacional, econômica, financeira e patrimonial, relativas ao controle do processo de gestão organizacional. 17 - Controladoria empresarial Porém, apesar de a Controladoria ser conceituada através de um conjunto de princípios e apesar da nova tecnologia gerencial existente, Orleans Martins (2005) afirma que o modelo contábil- financeiro continua sendo a base de tudo, ou seja, o instrumento central,mas não único. O modelo contábil-financeiro é subdividido em três itens, conforme Figueiredo e Caggiano (2004): orçamento que é um instrumento direcional visando orientar a administração a atingir fins específicos, ou seja, objetivos empresariais; custos que são essencialmente medidas monetárias dos sacrifícios que a organização tem que arcar para alcançar esses objetivos; e finalmente, contabilidade que é o sistema de informação e mensuração de eventos que afetam a tomada de decisões. Desta forma, segundo Orleans Martins (2005), os princípios contábeis servem de referência para expansão, flexibilização e adaptação das novas realidades e situações empresariais. Não deixa de levar em conta outros instrumentos e técnicas provenientes de outras ciências de gestão, permitindo desta forma que cada empresa busque atender as necessidades da governança corporativa, ou seja, dos acionistas ou investidores. Sell 6 (2004) identifica de forma bem clara, o uso da Contabilidade pela Controladoria, que auxilia a gerência e aos superiores na administração do negócio, como forma de expansão, flexibilização e adaptação às novas realidades empresariais à medida que ele argumenta que a Controladoria (ou contabilidade gerencial) confecciona relatórios conforme as necessidades dos administradores, muitas vezes utilizando como fonte de informações dados contidos nos relatórios advindos da contabilidade financeira (ou contabilidade tradicional), em que os dados são transformados em uma linguagem mais concisa e clara para o administrador. Além disso, Sell (2004) vai mais longe e apresenta, no Quadro 1.1, as diferenças entre a contabilidade financeira (tradicional) e a gerencial (Controladoria), em que as duas formas de contabilização são comparadas referentes aos seguintes fatores: atuação, objetivos, custos, controle, relatório e restrições nas informações. Desta forma, Sell (2004) consegue esclarecer, com sucesso, as características natas de cada contabilidade, deixando de certa forma subentendido o grau de relação entre uma e outra. O aumento da complexidade na organização das empresas, o maior grau de interferência governamental através de políticas fiscais, a diferenciação nas fontes de financiamentos das atividades, a percepção das necessidades de consideração dos padrões éticos na condução dos negócios, e principalmente a demanda por melhores práticas de gestão, 4 4 criando a necessidade de um sistema contábil mais adequado para um controle gerencial mais efetivo, tem sido, entre outras, algumas das razões para que a responsabilidade com o gerenciamento das finanças das empresas tenha aumentado de importância dentro do processo de condução dos negócios. Consequentemente, a função e as responsabilidades do executivo financeiro, individualmente, têm mudado. Considerando essas razões, a separação entre a função contábil e a função financeira foi o caminho lógico a ser tomado e neste período, ocorreu o nascimento e desenvolvimento de uma função diferenciada de Controladoria. Segundo Mosimann, Alves e Fisch 1993 4” A Controladoria consiste em um corpo de doutrinas e conhecimentos relativos a gestão econômica. Pode ser visualizada sob dois enfoques: a) como um órgão administrativo com uma missão, função e princípios norteadores definidos no modelo de gestão do sistema empresa. b) como uma área do conhecimento humano com fundamentos, conceitos princípios e métodos oriundos de outras ciências. 7 A missão e objetivo da Controladoria Empresarial Na atuação como órgão administrativo empresarial, a controladoria tem como missão, conforme afirma Catelli (2001, p. 346) “assegurar a otimização do resultado econômico da organização. ” Dessa forma, o autor sugere que a razão da controladoria existir é a busca pela eficácia institucional, de forma a possibilitar o crescimento dos ganhos corporativos, por meio de decisões assertivas. Isso, por intermédio da sinergia estabelecida com as demais áreas de conhecimento, que permite zelar pela continuidade da empresa, buscando constantemente a maximização do resultado. Quanto ao papel da controladoria, abordam Oliveira, Perez Jr e Silva (2010, p. 10) que “é assessorar as diversas gestões da empresa, fornecendo mensurações das alternativas econômicas e, por meio da visão sistêmica, integrar informações e reportá-las para facilitar o processo decisório. ” Percebe-se que é a área que processa os dados, interpreta e reporta-os aos responsáveis, prestando auxílio na busca por decisões assertivas que promovam a sustentabilidade do empreendimento. Entretanto, é importante observar a colocação de Almeida, Parisi e Pereira (2001, p. 346) onde ressaltam que a controladoria é “por excelência uma área coordenada das 8 informações sobre gestão econômica, no entanto, ela não substitui a responsabilidade dos gestores por seus resultados obtidos, mas busca induzi-los à otimização do resultado econômico. ” Os autores deixam claro que o auxílio prestado pela controladoria não exime a responsabilidade dos gestores perante as decisões tomadas, mas disponibiliza a eles um curso de ação mais assertivo a se seguir. Compreendida a missão, é necessário estabelecer os objetivos para que a mesma seja atingida, assim Catelli (2001, p. 347) sintetiza os seguintes: “promoção da eficácia organizacional; viabilização da gestão econômica; e promoção da integração das áreas de responsabilidade." O autor esclarece que quando a empresa trabalha com foco nestes vértices, aliados a visão sistêmica do empreendimento, o reflexo é a obtenção de resultados econômicos segundo as metas e condições estabelecidas, bem como a otimização do desempenho organizacional. 41 Entende-se que os objetivos representam de maneira detalhada a missão da empresa, assim na Figura será apresentada a perfeita sincronia entre os objetivos e missão da controladoria. Mediante a Figura apresentada, o autor entende que os objetivos da controladoria expressam-se nas ações tomadas que possibilitarão o cumprimento da sua missão de forma eficaz. Como visto, neste levantamento bibliográfico, os autores entendem que, a missão da controladoria está diretamente relacionada com a perpetuação da empresa. Resumidamente, é a área que orienta a gestão, apresenta os cenários, acompanha o desempenho e direciona os administradores aos caminhos 9 a percorrer, assim, para entender de forma detalhada esse contexto, tem-se a necessidade de elencar as principais funções da controladoria. A Controladoria órgão de Gestão Empresarial O órgão administrativo Controladoria tem por finalidade garantir informações adequadas ao processo decisório, colaborando com os gestores na busca da eficácia gerencial. Embora o delineamento da função, do órgão, e da posição do executivo possa variar de uma empresa para outra, existe um conceito que é comumente observado, quanto ao executivo: o controller é o chefe da contabilidade, aquele que supervisiona e mantém os arquivos financeiros formais da empresa embora suas funções não tenha que se restringir apenas às funções contábeis e, o que mais se espera é que ele amplie sua atuação ao desenvolvimento da contabilidade em aplicações gerenciais. Segundo Wilson and Colford 1990, 5 Embora existam muitas definições para a função da Controladoria que foram desenvolvidas ao longo dos anos. Uma revisão da literatura e da pratica empresarial ao longo dos anos, tem indicado que as responsabilidades e as atividades básicas podem ser caracterizadas da seguinte forma: Planejamento: Estabelecer e manter um plano integrado para as operações consistentes com os objetivos e metas da companhia, no curto e no longo prazo que deve ser analisado e revisado constantemente, comunicado aos vários níveis de gerência através de um apropriado sistemade comunicação. 4 Mossimann, Clara Pellegrinello, Alves, José Osmar de Carvalho, Fisch Silvio,Controladoria seu papel na administração das empresas, Florianópolis, Ed. da UFSC, Fundação ESAG, 1993. Controle: Desenvolver e revisar constantemente os padrões de avaliação de desempenho para que sirvam como guias de orientação aos outros gestores no desempenho de suas funções assegurando que o resultado real das atividades esteja de conformidade com os padrões estabelecidos. 10 Informação: Preparar, analisar e interpretar os resultados financeiros para serem utilizados pelos gestores no processo de tomada de decisão, avaliar os dados tendo como referência os objetivos das unidades e da companhia; Preparar as informações para uso externo para que atendam ás exigências do governo, os interesses dos acionistas, das instituições financeiras, dos clientes, e do público em geral. Contabilidade: Delinear, estabelecer e manter o sistema de contabilidade geral e de custos em todos os níveis da empresa, inclusive em todas as divisões, mantendo registros de todas as transações financeiras nos livros contábeis de acordo com os princípios de contabilidade e com finalidades de controle interno. Preparar as demonstrações financeiras externas de acordo com as exigências do governo, Outras Funções: Administrar e supervisionar cada uma das atividades que impactam o desempenho empresarial como impostos federais estaduais e municipais, envolvendo-se inclusive com negociações com as autoridades fiscais, quando necessário, manter um relacionamento adequado com os auditores internos e externos; Estabelecer planos de seguro; Desenvolver e manter sistemas e procedimentos de registro; Supervisionar a tesouraria; Instituir programas de financiamento; E muitas outras atividades. Obviamente, como as circunstancias variam, existem muitas diferenciações nestas funções básicas descritas anteriormente, entretanto, e necessário que se estabeleça, considerando que a informação ao lado dos Recursos Humanos pode ser vista como o fator diferencial no resultado da empresa, que o controller tem como base direcionadora de suas funções a busca da eficácia organizacional. Floriani (2001) salienta que a modelagem de informações gerenciais deve indicar a situação passada, o que se realizou e as tendências futuras comparadas ao plano orçamentário. Ressalta, ainda, que na maioria das empresas, os relatórios gerenciais são apurados mensalmente, levando em consideração as projeções estipuladas em orçamento, comparadas ao que se realizou. Depois de detectadas as variações de maior relevância, estas serão transcritas e enviados a cúpula administrativa. Salienta- se que mensalmente reúnem-se os gerentes, supervisores e conselho administrativo para analisar os resultados e buscar ações preventivas, ou corretivas, caso necessário, com intuito de perpetuar o negócio e melhorar os indicadores operacionais, financeiros e econômicos. Em síntese, a controladoria é o órgão que possibilita que a gestão empresarial seja eficiente e eficaz. O primeiro termo refere-se 11 a fazer adequadamente um trabalho, enquanto o segundo reportase ao grau que são satisfeitas as expectativas de resultado. Padoveze (2003, p. 15) esclarece técnicamente a diferença entre estes dois termos: “eficácia é quando os objetivos preestabelecidos são atingidos como resultado da atividade ou do esforço; eficiência é a relação existente entre o resultado obtido e os recursos consumidos para conseguir aquele resultado. ” Dessa forma, a Figura, demonstra-se a importância da controladoria no ambiente organizacional. Percebe-se na Figura, que o autor apresenta a relevância da controladoria nas organizações como órgão responsável por munir os gestores de informações seguras, sendo este o recurso fundamental para o processo decisório. Isso, baseado na busca pela opção das melhores alternativas de curso, no qual o objetivo maior é fundamentado na continuidade do empreendimento. Infere-se, segundo os autores citados que a controladoria objetiva otimizar o resultado da empresa, garantindo sua continuidade dentro de cenário 49 econômico em que está inserida. Para tanto, deve disponibilizar informações fidedignas e tempestivas aos gestores para auxiliar a gestão empresarial. O ramo de conhecimento Controladoria Empresarial No processo de interação da empresa com os diversos agentes, começam a surgir uma série de fenômenos econômicos, sociais, políticos, educacionais, tecnológicos, ecológicos e regulatórios fazendo com que as necessidades da empresa na busca de sua eficácia transcendam aos conceitos oferecidos pela administração, contabilidade e economia. Dessa forma, tornouse necessário, para dar explicação e fornecer uma 12 compreensão a esses fenômenos, a definição de um modelo conceitual teórico de um ramo de conhecimento denominado Controladoria. Segundo Mosimann 1993, “A Controladoria pode ser conceituada como o conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos das ciências de Administração, Economia, Psicologia, Estatística e principalmente da Contabilidade, que se ocupam da gestão Econômica das empresas, com o fim de orientá-las para eficácia. O profissional da Controladoria Empresarial Este novo campo de atuação para os profissionais de contabilidade requer o conhecimento e o domínio de conceitos de outras disciplinas, como administração, economia, estatística informática, etc. Aí, a importância do profissional será medida muito mais pela sua contribuição para administração geral da organização do que pela correção com que são feitos os conjuntos de demonstrações contábeis que relatam puramente aspectos financeiros da gestão. O Controller é o gestor encarregado do departamento de Controladoria, seu papel é, através do gerenciamento de um eficiente sistema de informação, zelar pela continuidade da empresa, viabilizando as sinergias existentes fazendo com que as atividades sendo desenvolvidas conjuntamente, alcancem resultados superiores aos que alcançariam se trabalhassem independentemente. O controller tem como tarefa manter o executivo principal da companhia informado sobre os rumos que esta deve tomar onde ela pode ir e quais os caminhos que devem ser seguidos. Kanitz afirma que “os controladores foram inicialmente recrutados entre os indivíduos das áreas de contabilidade e finanças das empresas, por possuírem, em função do cargo que ocupam, uma visão ampla da empresa que os habilita a enxergar as dificuldades como um todo e propor soluções gerais. Além disso as informações que chegam ao controller são predominantemente de natureza quantitativa, física, monetária, ou ambas” 7 Segundo Mendes 1991”O controller pode ser visto ao mesmo tempo como protagonista e coadjuvante, de uma mudança comportamental importante sem precedentes na história da contabilidade e da administração. ” Dentre os requisitos necessários para o 8desempenho da função 13 da Controladoria podemos elencar: a) Um bom conhecimento do ramo de atividade ao qual a empresa faz parte, assim como dos problemas e das vantagens que afetam o setor. b) Um conhecimento da história da empresa e uma identificação com seus objetivos, suas metas e suas políticas assim como com seus problemas básicos e suas possibilidades estratégicas; c) Habilidade para analisar dados contábeis e estatísticos que são a base direcionadora de sua ação e conhecimento de informática suficiente para propor modelos de aglutinação e simulação das diversas combinação de dados; d) Habilidade de bem expressar-se oralmente e por escrito e profundo conhecimento dos princípios contábeis e das implicações fiscais que afetam o resultado empresarial. Hecker e Wilson estabelecem alguns princípios que devem nortear o trabalho do Controller: Stefen C. Kanitiz, Controladoria:teoria e estudo de casos. 8 Mendes Ivantídio Guiarães, A Cotroladoria e a Informação dos anos 90, Disertação de Mestrado FEA/USP, 1991 HECKERT, J Brooks, WILSON, James D. Controllership, 2 ed, New York, Ronaldo Press, 1963. Iniciativa, Visão Econômica, comunicação racional, síntese, Visão voltada para o futuro, oportunidade, persistência, cooperação, imparcialidade, persuasão consciência das limitações. Funções e Estruturas da Controladoria 14 As funções da controladoria estão diretamente ligadas à missão, pois surgem com intuito de auxiliar na consecução da mesma. Catelli (2001) evidencia que as funções são definidas como atos, que são desempenhados com a razão de atingir determinado objetivo. 42 Entre as principais funções, Kanitz (1977 apud OLIVEIRA; PEREZ JR; SILVA, 2010, p. 9) destaca: • Informação: compreende os sistemas contábil-financeiro-gerenciais; motivação: refere-se aos efeitos dos sistemas de controle sobre o comportamento; • Coordenação: visa centralizar informações com vista na aceitação de planos. O controller toma conhecimento de eventuais inconsistências dentro da empresa e assessora a direção, sugerindo soluções; • Avaliação: interpreta fatos, informações e relatórios, avaliando os resultados por área de responsabilidade, por processos, por atividades etc.; • Planejamento: assessora a direção da empresa na determinação e mensuração dos planos e objetivos; e • Acompanhamento: verifica e controla a evolução e o desempenho dos planos traçados a fim de corrigir falhas ou revisar tais planos. Infere-se que o processo decisório é influenciado pela atuação da controladoria, pelo intermédio das informações de planejamento e controle, assim, as funções fornecem informações para realização e planejamento, com o papel efetivo de atingir o plano traçado. Concilia-se ao entendimento anterior, a concepção de Catelli (2001) que estabelece funções complementares a controladoria, sendo elas: Subsidiar o processo de gestão: suprir os gestores com informações estratégicas, que permita projeções sobre eventos econômicos no processo decisório; Apoiar a avaliação de desempenho: elaboração e análise de desempenho econômico por departamentos da empresa, dos administradores e do próprio setor de controladoria; 15 Apoiar a avaliação de resultado: assessora a gestão por meio da elaboração de análise e avaliação do resultado econômico dos produtos e serviços, através da padronização e monitoramento dos processos; Gerir os sistemas de informações: elaboração dos modelos de decisões para os diversos cenários econômicos e padronização da modelagem de informações gerenciais, isso por meio da definição da base de dados de acordo com as necessidades informativas dos gestores; Atender aos agentes do mercado: analisar e mensurar de forma antecipada, por meio de planejamento, o impacto das legislações sobre o resultado econômico da empresa. 43 Neste contexto, com intuito de aprimorar este entendimento, Peleias (2002, p. 14) realiza a separação das funções em uma sequência ordenada de etapas: planejamento, execução e controle. Sendo contempladas da seguinte forma, a. subsídio à etapa de planejamento, com informações e instrumentos que permitam aos gestores avaliar o impacto das diversas alternativas de ação sobre o patrimônio e os resultados da organização, e atuar como agente aglutinador de esforços pela coordenação do planejamento operacional; b. subsídio à etapa de execução por meio de informações que permitam comparar os desempenhos reais nas condições padrão e realizado pelo registro dos eventos e transações efetivamente concluídos; e c. subsídio à etapa de controle, permitindo a comparação das informações relativas à atuação dos gestores e áreas de responsabilidade com o que se obteve com os produtos e serviços, relativamente a planos e padrões previamente estabelecidos. No raciocínio dos autores, a controladoria como órgão de apoio a cúpula administrativa, preocupa-se com o constante controle, eficiência e eficácia dos vários departamentos organizacionais. Sendo que, direciona suas atividades para prestar suporte informacional, por intermédio das ferramentas de planejamento e controle, expondo aos administradores os gargalos presentes e futuros que causam riscos, ou podem gerar redução da rentabilidade do empreendimento. Como visto, a controladoria é a responsável pelo sistema de informações contábil gerenciais da organização e visa assegurar seu resultado. Assim, Padoveze (2003) estrutura-a em duas grades áreas: contábil/fiscal e planejamento/controle como pode ser observado na Figura 16 Vislumbra-se na Figura a estruturação das funções exercidas pela controladoria, as quais dividem-se em dois vértices: planejamento/controle e escrituração. O primeiro é representado pelas projeções e acompanhamentos das peças orçamentárias, custos, divisões setoriais e estudos pontuais, ou seja, o contexto gerencial da empresa. Já o segundo está voltada à parte fiscal e societária do empreendimento, que engloba a contabilidade em âmbito societário, patrimonial e tributário. Percebese, ainda, a utilização efetiva de dados contábeis que permitem a visualização sistêmica do negócio, a qual possibilita medir a eficácia das unidades departamentais. 45 Em caráter de complemento, Oliveira, Perez Jr e Silva (2010, p. 7) comentam que a controladoria estrutura-se em dois segmentos, 17 • Contábil e fiscal: nesse segmento, são exercidas as funções e atividades da contabilidade tradicional, representadas pela escrituração contábil e fiscal, com a geração das informações e relatórios para fins societários, fiscais, publicações, atendimento a fiscalização e auditoria, etc. [...]; e • Planejamento e controle: caracteriza o aspecto moderno das funções e atividades da controladoria. Nesse segmento devem estar incorporadas as atribuições concernentes a gestão de negócios, o que compreende as questões orçamentárias, projeções e simulações, aspectos estratégicos da apuração e análise de custos, contabilidade e análise de desempenho por centros de responsabilidades, planejamento tributário etc. Tais contribuições confirmam a atuação da controladoria como órgão de apoio a gestão, que exerce auxílio às decisões setoriais com foco principal na otimização no resultado da organização. Controle da qualidade da informação e o novo modelo de Controladoria Como deve ser implantado nas organizações o sistema de controle da gestão dos recursos para que o apoio à governança seja eficaz e eficiente? Qual seria o órgão mais adequado para manejar as técnicas e os instrumentos necessários às suas funções? Poder-se-ia pensar num departamento especializado para a análise dos riscos, como é proposto por alguns autores, sob o nome EWRMD (Enterprise-Wide Risk Management Department) (DELOACH, 2000). Outros, por sua vez, acham que o ideal seria incluir as atribuições do controle da gestão dos recursos entre as do CIO (Chief Information Officer) (BOAR, 1994). Outros, afinal, propõem a Controladoria (BRITO, 2000). Merecem preferência esses últimos, uma vez que o risco é inerente às atividades empresariais e é impossível perseguir resultados econômicos sem incorrer em riscos. Como foi visto acima, o modelo contábil-financeiro das empresas, se 18 acompanhado de algumas extensões e adições, é particularmente moldado para analisar, acompanhar e projetar a aplicação dos recursos nas empresas e o seu desempenho em regime de risco, conforme é do interesse da governança. Logo, os controles de desempenho e custódia, que sempre empregaram a Contabilidade Financeira e Gerencial, devem ser realizados dentro da organização de forma unificada e coerente com o controle de riscos, sem o que não se poderia, realmente, preparar um quadro globalde controle empresarial com critérios consistentes e, o que é mais importante, verificar se os gestores estão fazendo a harmonização dos riscos e retornos de forma apropriada (ALLEN & GALE, 2000). Mas há um problema: o da independência. Lembrando, mais uma vez, a frase acima citada de Jensen & Meckling (1999), uma Controladoria, ao fazer o controle do risco/retorno dos recursos empregados na empresa, inevitavelmente estaria fazendo, também, uma auditoria da gestão dos administradores encarregados de tomar decisões sobre tais recursos. Todavia, um Controller, ainda que fosse um diretor, ficaria numa posição insustentável perante um Presidente, caso se subordinasse a ele e tivesse que criticá-lo peranteo Conselho. Por outro lado, se não o fizesse e deixasse que as informações de seus relatórios fossem "filtradas" ou "depuradas" das análises negativas sobre a atuação e as capacidades dos administradores, todo o sistema de controle poderia ser posto a perder pela ação do agenciamento (GUEDJE & KÜBLER, 2000). Isso é o que, na verdade, ocorre, atualmente, na maioria das empresas. Entretanto, com tais restrições fica limitado o papel das Controladorias - e, consequentemente, o da governança - para prevenir e evitar crises e garantir a continuidade empresarial. Assim, uma nova posição organizacional das Controladorias é absolutamente necessária para que haja o exercício efetivo da governança. Esse novo modelo desvincula hierarquicamente a Controladoria da gestão e estabelece uma dupla ligação estrutural. De um lado, a ligação do Controller com os principais executivos da empresa seria puramente informacional: eles sempre teriam o direito de receber todas as informações geradas pelo sistema de controle de custódia e do desempenho. Do outro lado, o Controller ficaria subordinado diretamente ao Conselho de Administração (CANO, 2002). Nessas condições, um Presidente nunca poderia demitir um Controller sem prévio assentimento do board, da mesma forma 19 que o executivo responsável por uma unidade de negócios também não poderia demitir um Divisional Controller sem prévia concordância do Controller Geral do grupo empresarial. Dessa forma, com sua posição e sua carreira a salvo, os Controllers poderiam garantir sistemas de controles da gestão dos recursos, cuja veracidade e qualidade informativa seriam totalmente isentos da possível contaminação pelo agenciamento, o que nenhum órgão da estrutura organizacional que seja subordinado à direção executiva jamais poderia assegurar. Diga-se de passagem que essa posição de independência não é nova e, por motivos que nessa altura devem estar claros, já é hoje estendida aos auditores internos (CANO, 2002). 20 Controladoria nas MPEs Conhecida a importância das pequenas e médias empresas para o cenário econômico mundial, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu o CPC PME - Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas respeitante a convergência para as normas internacionais de contabilidade, interpretando o The International Financial Reporting Standard for Small and Medium-sized Entities (IFRS for SMEs). (CPC, 2009) O CPC PME apregoa normas a serem adotadas no tocante às características qualitativas das demonstrações contábeis. Relacionando-as às rotinas ligadas a Controladoria pode-se elencar a relevância, a essência sobre a forma, a confiabilidade, a comparabilidade, a tempestividade e o equilíbrio da 21 relação custo e benefício. (CPC, 2009) Correlacionadas às demonstrações contábeis os controles devem passar pelos mesmos crivos que se submetem às demonstrações contábeis, devendo a informação ser confiável relevante aos usuários, sendo essas capazes de auxiliar a tomada de decisão, fazendo-se conhecida em tempo hábil para deliberação de alguma ação estratégica e ainda apresentada de 7 forma que se possa comparar com outros períodos. Outro fator considerável é que a vantagem de se obter a informação deve exceder o esforço para cons 8 Por outro lado, Wahlmann (2003) defende que na falta do órgão da controladoria, cabe ao contador reverter a imagem dos serviços contábeis ofertados, buscando transmitir ao cliente serviços de qualidade e orientação a fim de inferir a cultura de uma estrutura de Sistema de Informação Gerencial, possibilitando ao gestor lidar com informações antes inexistentes. De forma semelhante, Monteiro e Barbosa (2011) identificaram que em uma amostra de quarenta MPEs no Estado de Sergipe, a maioria dos proprietários desconhecia o tema e alegaram carência de instrumentos que os auxiliassem na gestão, demonstrando a necessidade de divulgação e aproximação entre os empresários e os profissionais da área. A aplicação de conceitos da controladoria em MPEs, segundo os autores, diminuiria a mortalidade dessas empresas, possibilitando ao empresário acesso às informações relevantes e tempestivas para a antecipação frente às adversidades do mercado. Cohen e Santana (2013) utilizaram pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, e através de um estudo de caso em uma pequena empresa familiar de Ribeirão Preto – SP, identificaram o nível de controle interno e de gerenciamento da mesma, ofertando melhorias passíveis de serem efetivamente implantadas. Desta maneira identificaram a inexistência não só do órgão da controladoria, mas também de controles internos, ficando a empresa exposta a diversos riscos e inertes a mudanças no cenário econômico e a novas oportunidades. Segundo as conclusões das autoras, devido a deficiência estrutural, a gestora financeira tem acumulo de funções, sendo responsável pelo recebimento, pagamento e administração do dinheiro da empresa. Além disso, a contabilidade não reflete a realidade da empresa, abrindo brechas que possibilitam o desvio de dinheiro e fraudes, gerando um risco maior na continuidade do negócio e prejuízos a toda cadeia de relacionamento da empresa, tais como funcionários, proprietários, fornecedores e clientes. Ao concluir as autoras sugerem melhorias que condizem com os princípios teóricos da controladoria, em que sua aplicabilidade seria viabilizada pelo fato de não trazer um bônus financeiro significante. 22 Cardoso Junior e Cáceres (2015) reforçam que a Controladoria tem grande relevância na comunicação das diversas áreas das empresas, conduzindo toda informação gerada pelas ferramentas de análise ao nível gerencial de tomada de decisão, podendo interferir inclusive na estratégia de marketing e gerando resultados positivos para a empresa, atraindo investimento. Para Souza (2010, p. 46) a implantação da Controladoria contribuiria com o aumento das receitas e da lucratividade, melhorando os processos de controle de custos e despesas, desenvolvendo competências aos funcionários e ampliando a visão estratégica dos gestores. Facilitando a ampliação de novos negócios, gerando valor à empresa e fidelização de novos clientes. Fernandes e Galvão (2016) expressam em seu trabalho que, embora a Controladoria seja bem aceita entre as médias e as grandes empresas, há uma resistência na utilização em MPEs, ocorrida pelo desconhecimento administrativo. Porém, os autores recomendam a utilização da Controladoria de maneira menos onerosa financeiramente, contratando um profissional consultor ou mesmo aproveitando a experiência do contador. Os autores afirmam ainda que a grande maioria das micro e pequenas empresas são geridas pelos próprios empresários, que por vezes não atentam para um controle rigoroso e que possa diferenciar custo de produção, despesas, lucratividade, liquidez, trabalhando e ofertando preços incompatíveis com o considerado 23 adequado. Além disso, os proprietários ignoram também o princípio da entidade, misturando o patrimônio particular ao da empresa. Segundo Andreolla (2015), as ferramentas de controle são imprescindíveis ao bomfuncionamento da máquina empresarial, munindo o gestor de informações que possibilitam uma tomada de decisão mais objetiva e racional, solidificando a continuidade da entidade. No planejamento, se faz necessário uma estrutura organizada de processos possibilitando a direção e controle do negócio. A empresa necessita de uma base de dados fidedigna para obter informações relevantes no processo decisório (ANDREOLLA, 2015). Controladoria Estratégica Na última década, em paralelo com iniciativas em outras áreas de administração que passaram a levar o rótulo "estratégico", tais como "marketing estratégico", "manufatura estratégica", "engenharia estratégica" etc., assistiu-se, dentro da gerencial, à emergência de um movimento chamado de "contabilidade estratégica", que pretende utilizar os instrumentais clássicos, como o custeio, com o objetivo de "incremento da competitividade empresarial" (Shank & Govindarajan, 1993). Segundo se pode depreender embora eles explicitamente não o digam - para os autores desse movimento a utilização das informações contábeis seria apenas episodicamente estratégica. Apenas um serviço adicional que poderia ser prestado em algumas especiais circunstâncias. Na verdade, para atender às necessidades de gestão moderna, a Controladoria precisa ser contínua e intrinsecamente estratégica, o que ela deve realizar sem perder jamais seu caráter de apoio operacional. Para conseguir essa conexão estratégico- operacional é necessária uma postura muito mais profunda, com mudanças inclusive de caráter epistemológico. A primeira diz respeito à compreensão da própria natureza da empresa e de seus objetivos, acima discutida. A segunda, ao entendimento de que qualquer empresa sempre está imersa num ambiente volátil e competitivo com o qual interage profundamente. 24 Forças ambientais, tais como as que estão presentes nos mercados, na concorrência e na tecnologia, afetam diretamente os resultados de todas as firmas que se encontram em determinado setor de negócios. Forças ambientais mais gerais ou sistêmicas, tais como as políticas, econômicas, sócio-culturais e demográficas, exercem sua influência sobre todas as áreas de negócios e, por conseguinte, sobre todas as empresas situadas dentro de um país. Todos os países, por sua vez, de acordo com o seu posicionamento e estágio de desenvolvimento, são impactados pelas chamadas forças globais, entre as quais, nos últimos tempos, emergiram as duas forças poderosíssimas já citadas: a globalização dos mercados (especialmente o financeiro) e a revolução da tecnologia (especialmente da informática associada às telecomunicações). Embora as forças ambientais sempre estivessem presentes, afetando os resultados das empresas, a contabilidade sempre abdicou de entendê-las como um problema propriamente contábil (Hatherly, 1993). Na verdade, um contador da escola tradicional poderia passar vinte anos dentro de uma empresa produzindo os demonstrativos financeiros convencionais, sem jamais, como contador, precisar saber algo sobre os concorrentes da empresa, a qualificação dos seus fornecedores, a necessidade de atender os clientes etc. (Franks, 1995). Entretanto, para a Controladoria esse entendimento é essencial, pois é o ambiente e suas forças que, na verdade, estão na base das estratégias, e estas correspondem a planos de ação e disposição de recursos segundo os quais as empresas procuram obter competitividade e produzir valor de forma crescente e sustentável, em interação com o quadro prevalecente e futuro de forças ambientais relevantes. A produção de valor de uma empresa deve passar por mudanças constantes, justamente porque a empresa deve sempre se antecipar e se adaptar a novas variáveis ambientais, tais como o gosto e os hábitos de compra de seus clientes/usuários, as ações de seus concorrentes em termos de qualidade ou preços, as novas perspectivas das taxas de juros e câmbio, as novas alíquotas de impostos, às novas tecnologias etc., etc. (Liautaud, 2001; Slywotzky, 1997). Enquanto a função do contador financeiro-fiscal se preenche e se esgota com a produção dos demonstrativos contábeis-financeiros, a função do Controller é muito mais abrangente e complexa, pois cabe a ele identificar, prever, mensurar e avaliar o 25 impacto das forças críticas ambientais sobre os resultados da empresa. Por exemplo, sem um profundo conhecimento e acompanhamento dos mercados e das forças de competitividade prevalecentes nesses mercados (Porter, 1989), como poderá explicar fatos tais como a perda de market-share, que podem implicar substanciais perdas de receitas e lucratividade? E, mais que isso, como poderá distinguir se a causa de um declínio dos resultados é decorrente de uma perda de competitividade perante um concorrente mais hábil ou de movimentos econômicos mais amplos e gerais como uma recessão? Saber diferenciar entre tais situações pode ser determinante para a seleção e implantação de planos específicos de defesa do valor econômico dos acionistas. No primeiro caso, tais planos irão enfocar apenas a volta do poder competitivo perdido em relação aos concorrentes (Reduções de custos e preços? Campanhas de publicidade ou promoção?). No segundo caso, como as causas subjacentes são sistêmicas, as estratégias deverão proporcionar um "hedge" mais duradouro da empresa perante a situação recessiva (Contração das atividades? Busca de maior liquidez nas vendas? Paralisação ou postergação dos investimentos?). Nota-se facilmente que é absolutamente necessário distinguir entre tais situações. Um Controller, que é, por definição, um "expert" na apuração dos resultados econômico-financeiros através do modelo contábil, ao possuir um entendimento preciso das forças que estão impactando tais resultados (mesmo quando tais forças não sejam totalmente controláveis), passa a ter uma importância absolutamente inestimável na fixação dos rumos de qualquer empresa (Hatherley, 1993). É óbvio que, num momento qualquer, há sempre uma infinidade de forças ambientais atuando direta ou indiretamente sobre uma empresa, qualquer que seja a sua área de negócios. À primeira vista, pode parecer que a tarefa de identificar e avaliar tais forças teria tal complexidade e extensão que, na prática, seria impossível realizá-la. Não é o caso. Conforme sabem muito bem os estrategistas, em qualquer cenário ambiental nem todas as variáveis ambientais têm a mesma importância, como se poderia esperar pelo princípio de Pareto. Em cada momento, apenas um pequeno grupo de fatores (geralmente não mais do que meia dúzia e raramente mais de uma dezena) são os que efetivamente determinam a situação da empresa. São os chamados fatores críticos ambientais (FCA) (Grant, 1991). Além de influenciar decisivamente as transformações estruturais sistêmicas ou intersetoriais, são os FCA que reconfiguram as variáveis que comandam o valor que 26 os usuários/clientes atribuem aos produtos e as dimensões que a competitividade assume em cada ramo de negócios. Identificar, mensurar e avaliar o efeito dos FCA e das mudanças estruturais dos setores sobre a produção e sustentação do valor para os clientes/usuários e para os investidores/proprietários é, portanto, uma tarefa fundamental da Controladoria, já que tais informações são ansiosamente demandadas por qualquer governança empresarial, com exceção, é claro, das absolutamente ineptas ou alienadas. Toda a gestão empresarial está voltada para o futuro. Fica claro, portanto, que a função estratégica da Controladoria para apoiar a gestão deve necessariamente se projetar para o futuro. Como disse Ansoff, "a função das estratégias é a de preparar no presente a empresa para que ela possa estar viva e rentável no futuro" (Ansoff, 1984). Todavia, como já disse um crítico, "é impossível dirigir um veículo para frente, olhando apenas para oespelho retrovisor"(Drucker, 1964), como o faz a contabilidade financeira para atender ao princípio da objetividade. Na verdade, o novo modelo contábil de representação da realidade deve estar perenemente preocupado com o desdobramento futuro dos FCA e com o futuro que está sendo "moldado" através das decisões atuais. Essa preocupação faz com que a Controladoria naturalmente busque incorporar instrumentos e técnicas de projeção e exploração futura das variáveis ambientais, tais como a técnica dos cenários e do future planning (Ringland, 1998; Godet, 1985; Bontempo, 1999). Sem tais técnicas, a orçamentação operacional e de capital de uma empresa, que faz parte das atribuições básicas de uma Controladoria, seria apenas um exercício matemático sem maiores fundamentos. Como se poderia, por exemplo, projetar um fluxo de caixa com um horizonte de 10 anos para a compra de uma máquina ou de uma empresa, sem se procurar saber como se comportarão as variáveis ambientais futuras e como estas irão afetar os resultados do investimento feito? Não se trata apenas de prever os fluxos de caixa futuros, mas saber, antes, se no futuro haverá fluxos de caixa. Muitos poderão objetar que o exercício de projetar o futuro é fútil, já que o futuro é praticamente impossível de ser antecipado. O que deve ser considerado é que praticamente todas as decisões empresariais mais importantes precisam de informações básicas sobre suas possíveis consequências futuras para serem avaliadas (Modis, 1998). Esta necessidade de informações precisa, portanto, ser 27 atendida, e cabe à Controladoria prover tais informações. Assim, embora se saiba que o futuro será sempre inexoravelmente incerto, isto não quer dizer que não deva ser entendido e explorado, o que pode ser feito incorporando ao modelo contábil uma outra dimensão: o da incerteza ou risco (Daniel, 2000; Pickford, 2001; George, 1996). Com esta, as projeções futuras passam a ser feitas em regime de risco e não mais se poderia falar, por exemplo, numa projeção de vendas de R$3 milhões para o próximo ano. Esta seria uma previsão determinística e o futuro não pode ser representado logicamente dessa forma. Como o risco implica necessariamente uma possível variação dos resultados futuros, previsões com risco sempre devem associar uma medida de dispersão dos resultados (a variância ou o desvio-padrão, por exemplo) a uma medida posicional ou escalar (como a média, por exemplo) dentro de uma certa distribuição de probabilidades. Desta forma, saindo de um regime determinístico para um de risco, se falaria, no exemplo, de uma distribuição normal de vendas para o próximo ano, com uma expectativa ou média de R$3 milhões com um desvio-padrão de 5%. Qual a vantagem da incorporação do risco ao modelo da Controladoria? A resposta é simples: melhora consideravelmente as informações que tal modelo passa a prover sobre a realidade e, com isso, propicia decisões melhores e mais conscientes (Doherty, 2000; Culp, 2001; Koller, 2000; Young & Tippins, 2001). Tome-se como exemplo um empresário que acaba de tomar a decisão de investir num determinado projeto, porque, após uma análise do tipo determinístico, lhe foi informado que ele teria uma taxa de retorno de 25% aa, a qual, quando comparada ao custo de capital dessa empresa, da ordem de 20% aa, demonstraria a viabilidade do empreendimento. Essa decisão de investimento seria tomada se o empresário soubesse que, embora a média esperada de retorno fosse de fato 25% aa, há também uma probabilidade de mais de 30% de que o projeto venha a gerar retornos inferiores a 12% aa? Um bom número de administradores, talvez a maior parte, já não aprovaria tal projeto. A elaboração do perfil de risco de um projeto - e da própria empresa, que é a atribuição de probabilidades a um intervalo de resultados esperados de um empreendimento, é uma metodologia de avaliação simultânea das dimensões associadas de risco e rentabilidade, que permite dar aos administradores uma informação de conteúdo infinitamente mais rico do que 28 o que era fornecido ao se adotar uma premissa determinística de certezas totalmente dissociada da realidade. A adoção de modelos para a avaliação dos riscos empresariais é um exemplo de representações do futuro, que certamente tornam a equipe de direção das empresas - da qual faz parte o Controller - mais consciente e mais capacitada a tomar melhores decisões de aplicação de recursos. E é essa aplicação de recursos que deve ter um direcionamento estratégico básico. Como foi visto acima, para alcançar e sustentar a produção competitiva de valor, a empresa deve ter um desempenho superior ao de seus concorrentes e deve ser capaz de preservar tal vantagem. O fator essencial é a adoção de estratégias adequadas aos mercados em que a empresa compete e à natureza da concorrência que ela enfrenta. Segundo Porter (Porter, 1989) há, em última instância, apenas duas estratégias alternativas que geram vantagem competitiva: A estratégia de eficácia de mercado: em que a empresa compete oferecendo produtos que possuem um "pacote" de benefícios ou qualidade maior ou mais amplo, que devem proporcionar um retorno superior porque permite à empresa vendê-los a preços unitários superiores, os quais não só compensariam os custos maiores de proporcionar maior qualidade, como também trariam à empresa uma rentabilidade maior que a dos concorrentes. A estratégia da eficiência operacional: em que a empresa compete oferecendo produtos que, para um dado nível padrão de qualidade, têm preços (e demais custos de obtenção e uso) inferiores aos de seus concorrentes. A grande utilidade das estratégias é que elas oferecem uma diretriz geral sobre como devem ser aplicados os recursos de uma empresa para produzir valor. Mas seria um sério erro imaginar que uma diretriz, não importa quão divulgada e claramente estabelecida, seja suficiente para dirigir a aplicação total de recursos nas empresas, já que mesmo as mais simples fazem essa aplicação com dezenas de finalidades, formas e métodos diferentes. Para controlar a transformação produtiva de uma empresa e seu alinhamento estratégico para a dupla produção de valor, a Controladoria precisa incorporar em sua representação da realidade um modelo que 29 indique em detalhe, qualitativa e quantitativamente, a forma pela qual os recursos são efetivamente empregados no contexto das atividades empresariais. As estratégias adotadas por uma empresa levam a diferentes configurações do seu sistema produtivo, o que significa a constituição interna de conjuntos articulados de processos que devem dar suporte ao direcionamento estratégico selecionado. Um grupo específico desses processos, combinados e integrados, tem a responsabilidade de executar todas as operações que produzem os bens e serviços da empresa. Esse conjunto articulado de processos é chamado de rede de valor. Os demais processos da empresa, que não estão envolvidos diretamente na criação de valor para os clientes e estão mais ligados à sustentação, à integridade e à segurança da organização como um todo, constituem os processos subsidiários ou de suporte (Davenport, 1993). A Controladoria deve efetuar um efetivo controle dos processos, o que ocorre com a sua identificação, o mapeamento de suas articulações e subdivisões e a mensuração do seu desempenho e de sua consistência estratégica, através de uma métrica mista, composta por medidas financeiras dos custos, associadas a medidas de qualidade, de tempo (Anupindi, 1999; Kock, 1995) e de eficácia competitiva. Este controle deve ser abrangente, compreendendo tanto a rede de valor como os processos de suporte, porque de nada adiantaria a empresa tentar ganhar uma vantagem competitiva através de uma redução do consumo de recursos na manufatura, por exemplo, e ver tal vantagem dissipada através de um gastoineficaz de recursos no suporte de informática ou no marketing. Falando num seminário relativo à governança, Prahalad, o grande teórico das estratégias, disse o seguinte: "o grande problema da governança empresarial, tanto a externa (efetuada pelos acionistas e pelo Board que os representa) como a interna (efetuada pelos diretores executivos), é que ainda não existe um quadro totalmente estruturado e completo de avaliação do desempenho empresarial num determinado 30 momento e, muito menos, um que nos permita avaliar a sustentação futura desse desempenho" (Prahalad, 1997). Esta é a grande oportunidade da Controladoria. A partir do modelo contábilfinanceiro, que já é um modelo de síntese, é possível elaborar modelos de representação da realidade empresarial muito mais complexos, gerais, integrados, fundamentados e voltados para o futuro e com eles quadros mais completos de desempenho. Foi o que fizeram Kaplan & Norton com seu balanced scorecard (Kaplan & Norton, 1996; Kaplan & Norton, 2001), embora seu modelo, que sob muitos aspectos é notável, deva ser entendido apenas como um ponto de partida e ser expandido (incluindo indicadores de mudanças estruturais), adaptado para cada tipo de negócio (já que cada setor tem FCA externos próprios) e especificado para cada empresa (já que cada empresa tem pontos críticos internos peculiares, que são resultantes da sua configuração particular das estratégias>processos>recursos e de seu posicionamento perante os mercados e os concorrentes). Objetivos, metas e diagnósticos estratégicos 31 [A] Objetivos e metas: Para esta parte do quadro geral de representação da empresa, a Controladoria deve saber, a partir de consultas à governança externa e interna: (1) Os participantes relevantes ou PR (stakeholders), que devem ser objeto de atendimento prioritário pela empresa. Já se discutiu que os dois PR prioritários ou polares são os clientes/usuários e os acionistas/proprietários. (2) As metas quantitativas específicas para a produção de valor para cada um dos PR prioritários da empresa. Uma meta financeira essencial é, como já foi dito, o custo de capital dos investidores/ acionistas. Para os clientes/usuários uma meta vital sempre será o porcentual de clientes satisfeitos. [B] Diagnóstico externo dos FCA e das principais tendências das mudanças que estão ocorrendo no setor de negócios e como estão afetando a empresa e seus concorrentes. O ponto-chave aqui é acentuar as possíveis ameaças (sobre o mix de produtos, sobre a atuação mercadológica, sobre os canais de mercado etc.), bem como as oportunidades (novos mercados, novos negócios, novos produtos etc.), que poderão estar surgindo. [C] Diagnóstico interno, com base nos processos e nos recursos deve-se identificar e medir os pontos críticos em relação aos processos (ociosidade, improdutividade etc.) e aos recursos (ativos estratégicos e seu aproveitamento), localizando omissões, ausências, falta de incentivos, etc., que poderão fazer com que a empresa esteja preparada (ou não!) Para aproveitar as oportunidades ou se defender das ameaças ambientais. Análise de desempenho relativo Com os elementos recolhidos na etapa (1), a Controladoria passa, então, a executar a análise de desempenho propriamente dito, que consta de duas perspectivas e dois horizontes de planejamento. Como foi dito, sempre haverá em cada empresa pelo menos dois stakeholders prioritários, cuja demanda sobre os resultados e sobre a 32 produção de valor a empresa deve satisfazer simultaneamente e em equilíbrio: os clientes/usuários, de um lado, e os investidores/acionistas, de outro. Não cabe aqui discutir todo o imenso cabedal metodológico hoje já existente, que capacita uma Controladoria não só a compilar os dados e efetuar as medidas da produção de valor para cada um dos seus PR, mas também a verificar a sua competitividade face aos concorrentes. Com a localização específica, nos processos e nos recursos, das ociosidades, das improdutividades, das inconsistências, das omissões, dos custos excessivos etc., que poderiam estar destruindo o valor e a competitividade da empresa, as medidas de desempenho passam a ter um caráter estratégico fundamental. Não basta, todavia, efetuar uma análise de desempenho focalizada apenas no presente e na comparação com os concorrentes. Para buscar uma posição superior de competitividade, não é suficiente para uma empresa comparar seu desempenho com a liderança de seu setor em termos da qualidade dos produtos, tempos de ciclo, custos, faturamento por número de empregados, níveis de produtividade etc. O seu objetivo ao fazer isso é colocar-se numa posição no mínimo igual aos "melhores da classe". É claro que esse exercício pode ser produtivo, como base da REC, por exemplo, para a eliminação de ociosidades e desperdícios. Este tem sido, afinal, o foco de boa parte das reestruturações e reengenharias empresariais havidas nas últimas três décadas. Mas um quadro de avaliação de desempenho não pode se concentrar apenas em informações sobre diferenciais de "performance", já que eliminar tais diferenciais é uma condição necessária mas não suficiente da criação superior de valor. Se não todos, a maior parte dos problemas de desempenho nas empresas resulta tanto de uma má gestão dos seus parâmetros de desempenho relativo em relação aos concorrentes, como de respostas insatisfatórias ou tardias às mudanças estruturais em seu próprio setor de negócios. São os diagnósticos estratégicos externos que permitem à empresa verificar as tendências ambientais que podem estar provocando mudanças estrutu-rais no seu setor de negócios. Uma parte importante da análise de desempenho sempre será, pois, a exploração do futuro da empresa em regime de risco e a verificação, através de cenários, da forma pela qual os seus resultados poderão ser impactados pelos fatores de mudança setorial, especialmente os tecnológicos e os de mudança das preferências dos consumidores/usuários. O controle da implantação das estratégias, através da análise de viabilidade estratégico- 33 financeira de projetos de investimento, faz parte deste controle de desempenho num horizonte futuro, que jamais deve ser descurado pelos Controllers. Comunicação Poucos, infelizmente ainda muito poucos Controllers se preocupam efetivamente com o aspecto da comunicação dos resultados de seu trabalho. Não obstante, esse é uma das facetas mais importantes de suas modernas atribuições. Como um Controller não tem poder para tomar decisões, ele precisa produzir e dar as informações pertinentes e relevantes a outros executivos, de forma a provocar decisões corretas e dentro do prazo adequado. Apesar de ele mover-se num mundo de especialistas, suas análises, propostas e demonstrativos não deverão, pois, padecer dos jargões típicos de especialistas, que, por não serem entendidos, jamais serão utilizados de forma apropriada. Por outro lado, deve ficar claro que o valor de uma informação pode ficar rapidamente obsoleto, se tal informação não for veiculada antes que tenha passado a oportunidade de tomar decisões sobre a situação ou o fato que está sendo reportado. Jamais um Controller deve perder a oportunidade de ser relevante para poder ser mais preciso ou mais profundo. Esta é uma das pragas que sempre assolaram os contadores, que de forma alguma deve também cair sobre os Controllers. O ponto vital da comunicação da Controladoria é a confecção de relatórios de desempenho para a governança empresarial, como se pode verificar na Figura. Esses relatórios devem ter elementos que permitam, através dos resultados, aquilatar o direcionamento estratégico e, dessa forma, permitir aos principais executivos (governança interna) e ao Board (governança externa) avaliar, de um lado, os objetivos e metas da empresa e, dooutro, as estratégias e a própria ação dos administradores que as formularam e as implantaram (ou não!). Aqui é pertinente um comentário: alguns teóricos e muitos executivos não aceitam, em hipótese alguma, que um Controller possa enviar relatórios diretamente ao Conselho de Administração, "por cima das cabeças dos executivos". Todavia, quando a comunicação Controladoria-Conselho não existe, ocorre uma grave deficiência no fluxo de 34 informações para a governança externa, que, na prática, já tem outros obstáculos enormes para o exercício de suas funções com um mínimo de eficácia. Para superar o impasse, basta assegurar que os relatórios que são preparados pela Controladoria para envio ao Board sejam remetidos simultaneamente para a Direção executiva. Ficaria, assim, preservada a independência dos Controllers, sem quebrar a hierarquia e o espírito de equipe que devem existir em todo corpo diretivo empresarial. A Grande Travessia da Contabilidade à Controladoria A Controladoria deve ser vista como o pináculo da carreira do contador numa empresa e o caminho natural de sua ascensão à Direção. Afinal, no mundo todo, não é pequena a proporção de Controllers que se tornaram os principais executivos (CEO) de suas empresas. Todavia, há uma questão anterior de vital importância: como os contadores podem tornar-se Controllers? Não são pequenos os obstáculos. Um deles, como já foi discutido acima, decorre da própria visão que, ao menos do Brasil, os dirigentes de empresas têm do Contador. (Porque, a não ser numa empresa 35 especializada em auditoria ou planificação tributária, se daria oportunidade a um expert em demonstrativos financeiros para fins fiscais de fazer parte da equipe de Direção?) Mas o maior obstáculo, na opinião do autor, vem da própria postura, percepções, atitudes e excesso de especialização na área tributária que caracterizam a "mentalidade típica do contador fiscal", que é altamente limitante e está bastante generalizada entre os contadores, o que, de certa forma, é natural, uma vez que, como já foi dito acima, mais de 80% deles no Brasil se dedicam exclusivamente à contabilidade financeira. Esta mentalidade é o fator que, de fato, mais estão restringindo a sua capacidade de se tornarem Controllers. A Figura demonstra as características que distinguem a Controladoria da Contadoria Financeira. As transformações da contabilidade gerencial que estão ocorrendo no mundo e que procuram colocá-la em sintonia com as transformações recentes no panorama mundial dos negócios têm imensas implicações para o ensino e a formação de Controllers. A mais importante delas é que, se se deseja preparar Controllers, não se deve mais formar especialistas em contabilidade, já que as atribuições da Controladoria abrangem a contabilidade financeira ou externa, mas vão muito além. O Controller, como foi demonstrado acima, precisa ser por excelência um generalista, com uma capacidade de entender profundamente sua empresa e seu ramo de negócios, além de saber entender, manejar e criticar métodos, instrumentos de pesquisa e análise e formas de atuação de um grande número de especialistas funcionais. Para formar um Controller, no currículo didático da área acadêmica de contabilidade deveria ser incluído, portanto, um elenco de outras disciplinas (que não seria muito grande, como pode parecer a alguns) que, a partir do modelo contábil-financeiro que teria um papel central, expandiria tal modelo ao longo dos eixos de evolução acima discutidos e formaria o núcleo básico de formação (Cano, 1994). Essas disciplinas, no seu conjunto, preparariam um profissional generalista, cujo conhecimento estratégico, atitude crítica, base humana e diálogo inteligente com os especialistas das áreas funcionais lhe permitiriam arquitetar o banco de dados e montar o fluxo de informações e relatórios, os quais constituiriam o grande quadro de avaliação do desempenho competitivo de cada empresa, que é o instrumento básico de sua governança. 36 Com a formação adequada e livre da "mentalidade típica do contador fiscal", um contador moderno deve considerar que o status legal atual da profissão contábil no Brasil, que lhe confere exclusividade na preparação dos demonstrativos contábeisfinanceiros é, na verdade, uma grande oportunidade e uma importante "vantagem competitiva" para se promover a Controller. CONCLUSÃO 37 A atuação da Controladoria, sua estruturação, suas funções o seu conceito depende de cada empresa ou como a empresa deseja ser conduzida. Portanto, existe uma limitação para o trabalho da Controladoria, conforme a empresa, suas atividades, o tamanho dela, e as condições de cada uma. Pode-se ter uma Controladoria atuante, planejando, controlando, motivando, coordenando, avaliando e acompanhando cada passo de cada departamento, em conformidade às suas funções. Pode-se ter uma Controladoria menos atuante, atendendo somente a função de fins fiscais, para usuários externos. Assim, a Controladoria possui um papel de suma importância, dentro de uma empresa, é ela que demonstra, através de relatórios, para cúpula administrativa a situação da empresa; é ela que fornece dados e informações; que planeja e pesquisa, mostrando os pontos que põem em perigo ou reduzem a rentabilidade. O planejamento tem recebido atenção crescente, pois este tem como resultado a colocação da empresa na melhor posição, aproveitando o máximo de vantagens e oportunidades que apresentem. Em relação ao controle, este se preocupa com implementação dos planos, e assegura que as tarefas estão sendo desempenhadas com eficiência. A qualidade da informação é necessária para a tomada da decisão. É notório que o sucesso empresarial está ligado a vários fatores como dispor de produtos e/ou serviços de qualidade e inovadores, contar com uma estratégia alinhada à expansão do empreendimento e, no mesmo grau de importância, contar com profissionais comprometidos, que estejam empenhados em desempenhar suas funções com maestria, com atitudes de proprietários no que tange a preocupação com o desempenho organizacional. Destaca-se que é necessário que os gestores determinem quais competências devem ser desenvolvidas nos colaboradores para sustentar a estratégia do negócio. 38 REFERENCIAS ABELL, DEREK F. DUPLO PLANEJAMENTO. HSM MANAGEMENT, SÃO PAULO, ANO 3, N. 16, P. 106-114, SET./OUT. 1999. ALBRECHT, KARL. REVOLUÇÃO NOS SERVIÇOS. 5. ED. SÃO PAULO: PIONEIRA, 1998. ALDAY, HERNAN E. 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