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PRINCÍPIOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
1 INTRODUÇÃO 
 Se pudéssemos conceituar Direito diríamos que é “o conjunto das normas gerais e 
positivas que regulam a vida social”. 
Portanto, o principal objetivo do Direito é harmonizar as relações sociais intersubjetivas; 
é tornar possível a vida em sociedade, conferindo-lhe ordem (ubi jus ibi societas – não há 
direito sem sociedade) através de regras de conduta dotadas de coercibilidade. 
Estabelecido o direito objetivo, faz nascer, por outro lado, a prerrogativa ou a faculdade 
individual de exigir o cumprimento dos preceitos que lhe diga respeito. Portanto, se a 
norma diz que “todos são iguais”, surge para cada um o direito de ser tratado sem 
discriminação. Fala-se, então, em direito subjetivo. 
A facultas e a norma são os dois lados de um mesmo fenômeno: um é o aspecto individual, 
o outro o aspecto social. Qualquer direito pode ser apreciado pelo lado do indivíduo, que 
dele extrai uma segurança jurídica ou uma função, como pelo lado do agrupamento social, 
que institui uma regra de conduta. 
O direito subjetivo manifesta-se através de uma relação jurídica, a qual pressupõe um 
sujeito, que é o ser a quem a ordem jurídica assegura um poder ou um dever de agir; um 
objeto, que é o bem ou a vantagem sobre a qual o sujeito exerce tal poder ou dever; e um 
vínculo, que é o liame que une ambos os sujeitos ou partes entre si e estes com o objeto, 
formando a relação jurídica. 
A vida em sociedade produz uma série de relações, que, quando protegidas pela ordem 
jurídica, transformam-se em relações jurídicas, como o casamento, o emprego, o aluguel 
de um imóvel etc. Todas elas são motivadas pelo desejo de satisfazer um direito 
subjetivo(1), ou seja, uma necessidade, um interesse (formar uma família, ganhar 
dinheiro, ter um lugar para morar etc). Quando isso ocorre fala-se em relação jurídica 
material. 
Mas pode acontecer que, numa relação jurídica material entre A e B, os interesses sejam 
opostos; por exemplo, A quer manter o casamento, mas B não. Surge, então, um conflito 
de interesses, ou seja, um “choque de duas ou mais vontades sobre o mesmo objeto”. 
Nesse momento, se A insiste em manter a sua posição, exigindo que B subordine ao seu 
interesse, surge o que chamamos de pretensão. Pretensão, portanto, é “a exigência de 
subordinação de um interesse alheio ao próprio.” 
 
 Se B ceder, o conflito é resolvido pela satisfação da pretensão de A. 
Porém, se B resiste, nasce uma lide, que, no conceito brilhante de Carnellutti, nada mais 
é que “um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”. Nesse momento 
ENCERRA O PLANO DE DIREITO MATERIAL(2) 
__________________________________________ 
(1) Para Ihering, direito subjetivo é o “o interesse juridicamente protegido”. 
(2) As leis classificam-se, quanto à sua natureza, em materiais ou substanciais (as que regulam 
o direito em si) e formais ou processuais (modo de realização da lei material - atos processuais) 
Acontece que, quando o Estado se estruturou e passou a dotar-se de maior poder, trouxe 
para si a responsabilidade de ditar a solução para os conflitos de interesses, proibindo 
qualquer espécie de justiça privada (atualmente, excepcionalmente, admite-se a 
autotutela, como o desforço imediato, a legítima defesa e a greve). 
O Estado assume, assim, o monopólio da JURISDIÇÃO (que significa dizer o direito no 
caso concreto), exercido precipuamente por um de seus poderes – o Poder Judiciário. 
 Como consequência da previsão desse direito objetivo à jurisdição (aliás, consagrado a 
nível constitucional – art. 5º, inciso XXXV – “a lei não excluirá da apreciação do Poder 
Judiciário lesão ou ameaça a direito”), ofertou-se ao indivíduo, que não podia mais 
realizar o seu interesse através da própria força, o poder, a prerrogativa, a faculdade, o 
direito subjetivo de bater às portas do Judiciário para exigir a solução do litígio que 
porventura pudesse estar envolvido. 
Tal direito subjetivo de provocar a jurisdição denominou-se direito de AÇÃO. Mas, como 
ele é exercido? 
O direito de ação é exercido através de um ato processual chamado demanda. Portanto, 
demanda é o ato processual pelo qual o autor exercita o direito de ação. Este ato 
materializa-se através de um instrumento denominado petição inicial. 
Mas, assim como se assegura ao autor o direito à tutela jurisdicional, o qual é exercido 
por meio do direito de ação, ao réu é garantido direito correlato, dando-lhe a chance de 
receber a prestação jurisdicional (direito à análise do mérito; de preferência, no sentido 
de improcedência do pedido do autor – tutela jurisdicional negativa). A este direito dá-se 
o nome de direito à defesa, previsto constitucionalmente no art. 5º, LV. 
O direito de defesa é exercido através de alguns atos, quais sejam, a contestação, a 
reconvenção e as exceções, os quais se materializam também através de uma petição, que, 
por não mais ser inicial, é chamada genericamente de petição interlocutória. Contestação 
(assim como os demais atos da defesa) não é, portanto, a petição da contestação, mas sim 
o ato processual pelo qual o réu exerce o direito de defesa, se opondo, formal e/ou 
materialmente, à pretensão do autor. 
Oportunizado ao réu o direito de defesa, independentemente se ele o tenha exercido ou 
não através de quaisquer daqueles atos, tem-se por formado o PROCESSO 
completamente. 
Assim, o processo poder ser entendido como sendo a relação jurídica de direito público 
(processual) que une autor, juiz e réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela sequência 
ordenada de atos com vistas a um fim, qual seja, a sentença. O processo será civil (ou de 
natureza cível, como queira) se a lide posta em juízo se instaurou em virtude de qualquer 
ramo do direito que não seja trabalhista ou penal (que possuem processos próprios 
correlatos, a saber, processo do trabalho e processo penal), ou seja, em virtude de um 
direito pertencente ao Direito Civil, Empresarial, do Consumidor, Tributário etc. 
Para regular o processo, o Estado criou um conjunto de normas jurídicas que formam o 
chamado Direito Processual, também denominado de formal ou instrumental, por servir 
de forma ou instrumento de atuação da vontade concreta das leis de direito material ou 
substancial, que solucionarão as lides colocadas pelas partes em juízo. 
1.1 Conceito de Direito Processual Civil 
A bem da verdade, Direito Processual é um só. A divisão em sub-ramos (Processo Civil, 
Processo Penal, Processo do Trabalho etc) e suas respectivas legislações são de ordem 
prática e didática, conforme a natureza da lide posta em juízo. 
Todavia, se pudéssemos individuar e conceituar, diríamos, com auxílio da doutrina mais 
robusta nessa matéria, que Direito Processual Civil é “o complexo de normas e princípios 
que regem o exercício conjunto da jurisdição pelo Estado, da ação pelo demandante e da 
defesa pelo demandado” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO). 
Ou, ainda: “é o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras 
do exercício da jurisdição civil”. (AMARAL SANTOS). 
Por fim, uma das melhores conceituações é a trazida pelo processualista italiano 
Chiovenda, para quem o Direito Processual Civil é “o ramo da ciência jurídica que trata 
do complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil” (CHIOVENDA). 
É, portanto, ramo do direito público, não se confundindo com o direito material que 
instrumentaliza (este normalmente pertencente ao direito privado, p. ex., D. Civil), 
devendo, portanto, sempre ser afastada a denominação direito adjetivo, por aludir a uma 
relação de dependência do direito processual para com o direito material, o que, na 
verdade, não existe. Enquanto o direito material cuida de estabelecer as normas que 
regulam as relações jurídicas entre os particulares, o direito processual visa regular uma 
das funções soberanas do Estado (função jurisdicional). Dessa forma, aindaque a lide 
seja eminentemente de interesse privado, há no processo sempre um interesse público, 
qual seja, a pacificação social e a manutenção da ordem jurídica. 
1.2 Evolução Histórica do Direito Processual Civil 
A história do Direito Processual Civil, assim como toda a Ciência Jurídica, encontra suas 
bases no Direito Romano, cujo processo se desenvolveu em 3 fases, que, em seu conjunto, 
denominou-se de IMANENTISTAS (direito processual imanente, dependente do direito 
material): 
a) primitiva ou das legis actiones (das ações da lei) => havia 5 ações da lei, as quais 
deviam ser manejadas pelas partes com muito rigor e formalismo, sob pena de perder a 
demanda caso se equivocasse em uma palavra ou gesto (não havia advogados). 
b) período formulário => com a expansão do Império, o manejo das 5 ações da lei ficou 
limitado. O magistrado, agora, examinava a pretensão do autor e a defesa do réu, e 
concedia uma fórmula de ação capaz de compor especificamente o conflito (ele fixava o 
objeto do conflito, cabendo ao árbitro, escolhido entre os cidadãos, o julgamento da causa 
– semelhante ao instituto do Júri Popular). Já havia advogados e princípios do livre 
convencimento do juiz e do contraditório. 
c) fase da cognitio extraordinária => desaparecem os árbitros, surgindo a figura do juiz 
como o único investido do poder jurisdicional. O procedimento passa a ser 
eminentemente ESCRITO, compreendendo desde o pedido do autor até a sentença e sua 
execução. 
Porém, com a queda do Império, já no período medieval, o processo civil sofreu um 
retrocesso ao ser influenciado pelo direito do povo bárbaro-germânico, caracterizado pelo 
formalismo exacerbado, fanatismo religioso e misticismos. Foi nesse contexto que 
surgiram os chamados “juízos de Deus”, “duelos judiciais” e “ordálias”. 
O processo era FORMAL, e as provas produzidas deviam ser interpretadas segundo 
regras legais, não possibilitando qualquer participação do juiz. Este só reconhecia o 
cumprimento/realização da “prova” e fixava a sentença segundo as regras do direito 
positivo. Não se buscava a verdade real, mas a formal, pois se acreditava na 
INTERFERENCIA DIVINA nos julgamentos (autênticos jogos de azar ou rituais de 
bruxaria). 
Entretanto, com o fim de preservar o direito romano, surge o Direito Canônico e o direito 
desenvolvido pelos glosadores nas Universidades, que, em conjunto com o direito 
germânico, formaram o chamado PROCESSO COMUM, que vigorou desde os séculos 
XI até XVI. 
O processo comum era escrito, lento e extremamente complicado. Mas, dele se extraíram 
as características que, aperfeiçoadas, inspiraram o processo moderno. Foram abolidas as 
ordálias e juízo de deus, mas a tortura continuou até o século passado, como meio de 
obtenção da verdade. Somente após a Revolução Francesa retomou-se o conceito de livre 
convencimento do juiz, relativamente às provas, eliminando a tarifa legal, primeiramente 
no processo penal, depois no civil. 
Além dessas 3 fases, o Direito Processual Civil conheceu outras duas: 
- CIENTÍFICA ou MODERNA (expoentes: Calamandrei, Chiovenda, Carnelutti, 
Liebman): emergida no século passado, com ela desenvolveu-se a teoria do processo 
como relação jurídica, e não mais como contrato; o direito processual passou a ser 
compreendido como ramo autônomo e público; as provas deixaram de ser tarifadas e 
passaram a ser valoradas pelo juiz segundo critérios próprios (deixando de atuar como 
expectador da vitória do mais hábil), tendo amplos poderes, inclusive, na sua produção; 
etc. 
- INSTRUMENTISTA ou ATUAL: processo passa a ser visto como instrumento não só 
de realização dos interesses particulares, como também de pacificação social e realização 
da lei. Mas, apesar de instrumental (meio para se atingir um fim – solução do litígio), 
exige-se que o processo seja efetivo, realizador de justiça, em tempo hábil e com o menor 
dispêndio possível. 
Pode-se dizer, resumidamente, que o processo de hoje e do futuro buscam: facilitação do 
acesso à justiça; duração razoável do processo; instrumentalidade; tutela de interesses 
coletivos e difusos; universalização; constitucionalização do direito processual; e 
efetividade do processo (GONÇALVES, 2015, p. 44). 
1.2.1 Direito Processual Civil Brasileiro 
Até a independência (1822), vigorou no Brasil a legislação portuguesa, consistente nas 
chamadas Ordenações do Reino (Ordenações Afonsinas, de D. Afonso V, de 1446; as 
Ordenações Manuelinas, de D. Manuel, de 1521; e as Ordenações Filipinas, de Filipe II, 
de 1603). Tinham por principais características: 
a) forma escrita, o juiz só podia apreciar o que estava nos autos (verdade formal); 
b) as partes não participavam da inquirição de testemunhas; 
c) princípio do dispositivo: autor e réu eram os donos do processo, cuja movimentação 
era privilégio das partes. 
Em 1850, o Brasil editou o Regulamento n. 737, o primeiro Código Processual nacional, 
que visava regular apenas as causas comerciais. Já no período republicano, o referido 
regulamento alcançou também as causas cíveis, por força da alteração dada pelo 
Regulamento n. 763, de 1890. 
Logo após, em 1891, a Constituição estabeleceu a divisão da Justiça Federal e Estadual, 
e, consequentemente, o poder de legislar sobre processo para cada esfera da federação, 
dando surgimento a um Código Federal e a vários Códigos estaduais, que acabaram por 
ser repetições do primeiro. 
Todavia, a Constituição de 1934 pôs fim aos códigos estaduais, atribuindo 
exclusivamente à União a competência para legislar sobre processo. Desta feita, uma 
comissão foi formada para a elaboração de um código unitário, o que redundou no 
surgimento de nosso primeiro CPC (Código de Processo Civil) em 1939. 
Como bem nos ensina Sérgio Bermudes (apud THEODORO JR, 2007, p. 17), havia no 
CPC de 39 “uma parte geral moderna, fortemente inspirada nas legislações alemã, 
austríaca, portuguesa e nos trabalhos de revisão legislativa da Itália, e uma parte especial 
anacrônica, ora demasiadamente fiel ao velho processo lusitano, ora totalmente 
assistemática”. 
Após 33 anos em vigor, o CPC foi totalmente reformado, com base no Anteprojeto do 
Ministro Alfredo Buzaid, destaque da Escola Paulista de Direito e discípulo direto do 
processualista italiano Enrico Tullio Liebman (radicado no Brasil no período da 2ª Guerra 
Mundial, viendo aqui falecer). Daí surgiu o CPC de 1973, a Lei n. 5869, de 11.01.1973, 
que é composto de 5 Livros: 
- Livro I: Do Processo de Conhecimento; 
- Livro II: Do Processo de Execução; 
- Livro III: Do Processo Cautelar; 
- Livro IV: Dos Procedimentos Especiais; 
- Livro V: Das disposições gerais e transitórias. 
O CPC de 1973 sofreu, ao longo de sua vigência, diversas alterações e reformas, todas na 
tentativa de se alcançar, conforme prega os instrumentalistas, um processo mais efetivo 
possível. O propósito foi abandonar a preocupação exclusiva com conceitos e formas, tão 
nos bem ensinado pela tradição romana e lusitana, para dedicar-se à busca de um processo 
de resultados, prevendo, por exemplo, uma tutela antecipada generalizada nos processos 
de conhecimento; a execução das sentenças no mesmo processo de conhecimento; o 
procedimento monitório; o poder geral de efetivação; os poderes dados ao relator frente, 
em especial, da afronta aos precedentes jurisprudenciais etc. 
Todavia, tantas reformas e as mudanças próprias da sociedade tornaram recomendável a 
edição de um novo código. 
Assim, por iniciativa de uma comissão de juristas, presidida pelo então Ministro do STF, 
Luiz Fux, foi levado ao conhecimento do Senado Federal, em 2010, o Projeto de Lei nº 
166, que, depois de passar pelas 2 casas legislativas, foi aprovado em dezembro de 2014 
e sancionado pela Presidente da República em março de 2015, convertendo-se na Lei n. 
13.105/15 – o NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL/NCPC, que vige desde 18/03/16. 
Dentre as alterações, pode-se destacar tanto a de cunhoorganizacional, com a previsão 
inédita de uma parte geral e uma parte especial, quanto a de cunho material, com o maior 
rigor nas fundamentações judiciais; a unificação das tutelas cautelar e antecipada sob a 
rubrica “tutelas de urgência”; a consagração de um processo sincrético; a força dos 
precedentes judiciais; o fortalecimento dos meios de solução consensual dos conflitos; o 
fim do juízo de admissibilidade pelo juízo de origem nos recursos; a solução coletiva de 
ações e recursos repetitivos, evitando o abarrotamento dos tribunais com causas que 
contém a mesma questão de direito; além da incorporação em seu texto entendimentos já 
consagrados na doutrina e na jurisprudência do STJ e do STF. 
Assim, o NCPC tem a seguinte configuração: 
 - PARTE GERAL (dedicada à formulação de regras sobre as Normas Processuais Civis. 
Contém princípios e regras gerais, aplicáveis a todos os tipos de processo): está dividida 
em 6 Livros, quais sejam: 
=> Livro 1: trata das Normas Fundamentais do Processo Civil; 
=> Livro 2: da Função Jurisdicional; 
=> Livro 3: dos Sujeitos do Processo; 
=> Livro 4: dos Atos Processuais; 
=> Livro 5: da Tutela Provisória; 
=> Livro 6: da Formação, Suspensão e Extinção do Processo. 
- PARTE ESPECIAL: contém 3 Livros, a saber: 
=> Livro 1: do Processo de Conhecimento (tanto procedimento comum, como 
procedimentos especiais, de jurisdição contenciosa e de jurisdição voluntária); 
=> Livro 2: do Processo de Execução; 
=> Livro 3: dos Processos nos Tribunais e os Meios de Impugnação das Decisões 
Judiciais. 
- LIVRO COMPLEMENTAR: das Disposições Finais e Transitórias 
1.3 Fontes 
O termo "fontes" provêm de fontos, expressão latina que significa "lugar de onde 
perenemente nasceu", "nascente de água". Em sentido figurado, fonte é a origem de algo, 
causa, motivação. 
Fonte do Direito seria, portanto, a origem do Direito, o seu nascedouro. Trata-se dos 
fatores reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, seja elas quais forem 
(princípios morais, políticos, pareceres, teorias etc), desde que influenciem na criação e 
aplicação do direito. 
Fontes do Direito Processual são os lugares de onde provém este ramo do Direito, dentre 
os quais podemos destacar: 
a) Constituição Federal => nela se encontram as normas fundamentais aplicáveis ao 
processo, especialmente no rol do art. 5º, como, por exemplo, os princípios do devido 
processo legal (inc. LIV), do contraditório e da ampla defesa (LV), da acessibilidade ao 
Judiciário (XXXV), da proibição de obtenção de provas ilícitas (LVI), da celeridade ou 
da duração razoável do processo (LXXVIII), além de regras acerca da organização e 
competência de julgar processos, em única ou última instância, pelos juízes e tribunais 
(arts. 102 e ss). 
Destaque-se o fato de o NCPC ter incorporado praticamente todos estes princípios 
constitucionais, fortalecendo e consagrando um sub-ramo do Direito Processual: o Direito 
Processual Constitucional(3) (consiste num conjunto de normas de índole processual que 
se encontram na Lei Maior, objetivando garantir a sua aplicação e a sua supremacia. Ex: 
previsão do mandado de segurança, mandado de injunção, recurso extraordinário). 
Por fim, vale lembrar, ainda, das emendas constitucionais. À guisa de exemplo, podemos 
citar a EC 62/2009, que trata do novo regime dos precatórios, e a EC 66/2010, que 
instituiu o divórcio direto, independentemente do prazo de separação. 
b) Leis Federais => a mais importante é a Lei n. 5.869/73, ou seja, o CPC, que está prestes 
a ser substituído pelo então NCPC, a Lei n. 13.105/2105. Mas há outras também 
relevantes como a Lei 6.515/77 (lei do divórcio), Lei n. 6.830/80 (execução fiscal); Lei 
n. 8.245/91 (lei da locação/despejo); a Lei n. 9.099/95 (Juizados Especiais Cíveis); Lei 
12.016/09 (novo mandado de segurança), etc. 
c) Leis Estaduais => as leis estaduais relativas ao processo são suplementares às federais, 
que são gerais, pois a competência para legislar sobre Direito Processual é de 
exclusividade da União. Sendo assim, cabem aos Estados legislar apenas sobre 
procedimentos administrativos de apoio ao processo, como, por exemplo, regras acerca 
da publicação dos atos processuais na imprensa oficial local. 
Todavia, calha lembrar que, no que se refere aos Juizados Especiais (art. 24, X, CF), têm 
os Estados e o DF competência concorrente com a União para legislar sobre processo, 
desde que não sejam contrárias às normas gerais (instituídas na Lei 9.099), e, nessa 
hipótese, não há como se negar à lei estadual o caráter de fonte do Direito Processual. 
___________________________________________ 
(3) Certo é que se tem falado também do contrário, ou seja, de um Direito Constitucional 
Processual, consistente num conjunto de normas de índole constitucional que visam 
garantir o processo, assegurando que este seja mais justo. 
 
d) Regimentos Internos dos tribunais => são conjuntos de normas que regem o 
funcionamento interno dos tribunais. Tais atos normativos podem conter normas atinentes 
ao procedimento. Ex.: embargos de divergência (art. 1.043, NCPC), cujo procedimento é 
o estabelecido nos RI’s do STJ e do STF. 
 
e) Princípios Gerais do Direito => são regras não escritas que se encontram presentes em 
todo o sistema, informando-o. Exs:. ‘O Direito não socorre os que dormem’ – primado 
geral presente em institutos como os da prescrição, decadência, preclusão; ‘O que não 
está nos autos não existe no mundo jurídico’ ou ‘Alegado e não provado é como não 
alegado’ – deles derivando regras como a do ônus da prova (art. 373), a do livre 
convencimento motivado (art. 371) etc. 
Obviamente, não se pode esquecer que dos princípios gerais derivam os específicos, 
aplicáveis a todo o Direito Processual, inclusive o Civil, tais como: devido processo legal, 
contraditório e ampla defesa, isonomia processual e paridade de armas, cooperação entre 
as partes, da duração razoável do processo etc. 
f) Costumes => conduta socialmente aceita e que é realizada para criar uma sensação de 
obrigatoriedade. Ex:. por força do disposto nos arts. 319, inc. VI e art. 336, do CPC, autor 
e demandado devem anunciar, de maneira específica, na petição inicial e na contestação, 
respectivamente, as provas que pretendem produzir. 
Há, porém, um hábito de muitos advogados de descumprir esse comando, anunciando 
apenas que pretendem produzir ‘todos os meios de prova admissíveis no direito’. Por 
conta dessa práxis (costume), os magistrados, após o encerramento da fase postulatória, 
tem determinado às partes que especifiquem as provas que pretendem produzir. 
g) Doutrina => conjunto de lições ou obras dos jurisconsultos acerca do Direito 
Processual Civil, desde os mais tradicionais aos mais de vanguarda. Exemplos: Moacyr 
Amaral Santos; Ernane Fidélis dos Santos; Athos Gusmão Carneiro; José Frederico 
Marques; Ovídio Baptista da Silva; Humberto Theodoro Jr.; Nelson Nery Jr; Cândido 
Rangel Dinamarco; Ada Pelegrini Grinover; Arruda Alvim; Sérgio Scarpinella Bueno; 
Luiz Guilherme Marinoni; Eduardo Talamini; Elpídio Donizete; Luiz Rodrigues 
Wambier; ; Marcos Vinicius Rios Gonçalves; José Carlos Barbosa Moreira; Fredie Didier 
Júnior; Alexandre Freitas Câmara; Daniel Amorim; Luiz Fux; Thereza Arruda Alvim 
Wambier etc. 
h) Jurisprudência => decisões reiteradas dos pretórios nacionais sobre idêntica matéria. É 
inegável a força das súmulas da jurisprudência dominante dos tribunais, principalmente 
dos superiores, que, no nosso sistema, são capazes de fazer recursos fracassarem 
precocemente (não tendo o seu mérito apreciado pelo tribunal) ou terem seus méritos 
julgados procedentes (providos) monocraticamente pelo relator; ou, ainda, de considerar 
uma causa com repercussão geral, para fins de conhecimento de recurso extraordinário 
(art. 1035 e 1036, CPC) etc. 
Aliás, convém registrar que, com o novo CPC, a força dos precedentes jurisprudenciais 
ganhou maior intensidade,vez que o próprio art. 557 foi profundamente alterado pelo art. 
932 do NCPC, que confere maiores poderes ao relator. Agora, este, mais do que impedir 
que o recurso seja julgado, está autorizado a indeferi-lo (o correto é dizer: negar o seu 
provimento), definitivamente, caso o mesmo esteja contrário a súmulas do STJ ou do 
STF, ou a acórdão proferido em julgamento de recursos repetitivos. 
1.4 Princípios 
Como qualquer outra ciência jurídica, o Direito Processual Civil está sujeito a princípios 
norteadores de todo o desenvolvimento da disciplina e tais primados servem de orientação 
segura a interpretação dos institutos que integram o campo de atuação da ciência, sendo 
certo que os mais importantes princípios processuais encontram-se consagrados na Lei 
Maior, por onde iniciaremos o nosso estudo. 
1.4.1 Princípios Constitucionais do Direito Processual 
a) Devido Processo Legal (Due Processo f Law) É o princípio dos princípios, pois dele 
irradiam os demais, estando prescrito no inciso LIV do art. 5º da CF/88. 
Tem origem no Direito Inglês, especificamente na Magna Carta de 1215, do Rei João 
Sem Terra, sob a cláusula due process of law, que, traduzida pela doutrina pátria, significa 
‘devido processo legal’. 
Surgiu como garantia de índole exclusivamente processual, assegurando aos 
jurisdicionados o trâmite de um processo conforme as regras processuais vigentes (devido 
processo legal formal). 
Mas, depois, passou a ter um aspecto de direito material, o que levou a doutrina a 
considerar a existência de um devido processo legal substancial, que deve ser entendido 
como uma garantia ao trinômio ‘vida-liberdade-propriedade’, através do qual se assegura 
que os indivíduos só sejam submetidos a leis razoáveis, as quais devem atender aos 
anseios da sociedade. Tal vertente pode ser considerada como o próprio princípio da 
razoabilidade ou da proporcionalidade, onde se busca a prevalência da solução mais justa. 
 Também, sob esta vertente, deve ser entendida como a garantia de acesso à ordem 
jurídica justa (KAZUO WATANABE), no sentido de que a todos aqueles que se 
encontram numa posição jurídica de vantagem deve ser assegurada uma verdadeira, 
efetiva e justa tutela jurídica. 
b) Isonomia => também conhecida como paridade de armas, a isonomia compreende dois 
aspectos: 
➢ Formal – todos devem ser tratados com igualdade, dando-se as mesmas oportunidades 
às partes. Ex.: art. 5º, CF, e art. 139, I, CPC. 
➢ Substancial – respeita-se as diversidades entre as partes para que a garantia da 
igualdade seja mais do que formal, mas seja real ou substancial. Para isso, lança-se mão 
de uma igualdade proporcional. Ex: prerrogativas da Fazenda Pública (art. 223 – prazo 
dobrado; art. 86 - honorários proporcionais; art. 994 – remessa necessária) e do Ministério 
Público (art. 180); prioridade às causas de pessoas maiores de 60 anos (Lei 10.173). 
O NCPC trouxe duas novidades importantes que visam garantir maior efetividade ao 
princípio da isonomia: a ordem cronológica de conclusão para que os juízes e tribunais 
profiram sentenças ou acórdãos (art. 12); e a observância aos precedentes judiciais, 
impedindo que pessoas que estejam em situações iguais tenham soluções diferentes 
c) Contraditório e Ampla Defesa => estão previstos no art. 5º , inciso LV, da CF e art. 9º, 
NCPC. O contraditório também deve ser estudado sob dois enfoques ou aspectos: 
➢ Jurídico – garantir o contraditório implica em dar à parte oportunidade de participar 
do processo em igualdade de condições. Dessa forma, por exemplo, se a uma parte foi 
dado o direito de juntar um documento no processo, à outra deve ser garantido o direito 
de sobre ele manifestar-se. Ou, então, se à autora deu-se o direito de acionar o Estado-
juiz formulando suas pretensões, ao respectivo requerido deve ser dada oportunidade de 
responder aos termos da ação. 
➢ Político – assim como se garante o direito de participação no exercício das outras 
funções estatais (p. ex., no Legislativo, por meio do plebiscito e do referendo; no 
Executivo, por meio do orçamento parcipativo etc), garante-se pelo contraditório o direito 
do jurisdicionado de participar no processo com o fim de legitimar o provimento 
jurisdicional (isso decorre do Estado Democrático de Direito). 
A exceção é a liminar (in limine – no início do processo, antes da citação do réu), onde o 
requerido só tem a chance de participar depois que o provimento judicial é proferido. 
Nesse caso, fala-se, na verdade, da existência de um contraditório postergado ou diferido, 
já que ele só será estabelecido num momento posterior do procedimento. 
Já a Ampla Defesa consagra, junto com o contraditório, o binômio ‘ciência+participação’, 
na medida em que a participação oportunizada se materializará pela prática de atos de 
defesas. Portanto, não basta à parte ser ouvida, é preciso que se lhe garanta o direito de 
provar a sua tese (antítese, na verdade) por todos os meios e recursos de defesa. Por isso 
é que é ampla! 
d) Dispositivo (da Ação ou da Demanda) e Inquisitivo (ou Impulso Oficial) 
Para assegurar a imparcialidade do juiz, a iniciativa do processo e da maioria da prática 
dos atos processuais cumpre às partes, à sua disposição, sob pena de contumácia. Tem 
previsão legal no art. 2º, CPC. Do princípio do dispositivo derivam-se outros como o 
princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao pedido (arts. 141 e 492). As 
exceções estão consagradas nos arts. 139, IV, e 297 (poder geral de efetivação e de 
cautela); art. 370 (produção de provas de ofício = interesse público/busca da verdade 
real/juiz de mero expectador à posição ativa), do que se conclui que o princípio do 
dispositivo restringe-se à propositura da ação e aos limites objetivos da lide, mas não à 
efetivação e à instrução do processo. 
Convive o princípio do dispositivo harmonicamente com o do inquisitivo, principalmente 
porque cabe ao juiz, provocada a jurisdição, promover o andamento do feito (art. 2º, 2ª 
parte), pois é interesse do Estado a rápida solução das causas, não podendo ficar à mercê 
das partes. 
e) Duplo Grau de Jurisdição 
Consiste na possibilidade de provocar reapreciação e o julgamento de matéria já decidida, 
mediante recurso, por órgão hierarquicamente superior. É com base nesse princípio que 
se estruturou o atual sistema recursal previsto no CPC, garantindo uma dualidade da 
jurisdição, em nítida observância extensiva ao princípio da acessibilidade ao Judiciário. 
Tem por fundamento a falibilidade e a má-fé do julgador, associado, por outro lado, ao 
inconformismo natural da parte vencida. O fundamento político assenta-se no controle 
interno (pelo próprio Judiciário) sobre a legalidade e a justiça de suas decisões. 
Malgrado tudo isso, certo é que o juiz de 1º grau se cerca de maiores cuidados ao decidir 
por saber que sua decisão é passível de reforma pelo órgão superior. 
Dessa forma, garante-se, mediante recurso, o reexame da matéria decidida pelo juízo de 
1º grau por órgão hierarquicamente superior, que supostamente tenderá a errar menos, 
por ser composto de vários juízes mais experientes e, para isso, dotados de um maior 
saber jurídico. 
O princípio do duplo grau esteve previsto expressamente apenas na Constituição do 
Império. As demais constituições, inclusive a atual, vigente, cuidaram tão somente de 
prever a existência de tribunais, dando-lhes competência recursal, sem garantir de forma 
explícita o referido princípio. 
Em virtude dessa omissão, permitiu-se a possibilidade de o legislador infraconstitucional 
vedar ou limitar o direito de recurso em alguns casos (Exemplo: não cabe apelação nas 
execuções fiscais de valor igual ou inferior a 50 OTN’s(4) - art. 34 da Lei n. 6.830/81; 
não cabe recurso de despachos – art. 1.001, CPC). 
Mas, embora o princípio do duplo grau de jurisdição não se encontre expressamente 
previsto na Constituição Federal de 1988, é ele consectário direto do princípiodo devido 
processo legal (art. 5º, inc. LIV), segundo a doutrina mais balizada. Por outro lado, o 
Código de Processo Civil, as demais leis extravagantes e as leis de organização judiciária 
o adotam como regra geral. 
José Frederico Marques (2000, p. 5-6) sustenta a existência não do duplo grau, mas da 
pluralidade dos graus de jurisdição face à previsão constitucional dos recursos especial e 
extraordinário, cujo julgamento compete ao STJ e STF, respectivamente, aludindo a um 
suposto 3º grau de jurisdição, o que, com a devida vênia, não existe. 
São, na verdade, juízos extraordinários, pois não reapreciam matéria de fato, mas tão 
somente matéria de direito, com o fim de velar pelo direito objetivo, garantindo a ordem 
jurídica. 
f) Juiz Natural 
Previsto no art. 5º, inc. XXXVII e LIII, da CF, pelo princípio do juiz natural se proíbe a 
existência de juízo ou tribunal de exceção (instaurado especificamente para o julgamento 
__________________________________________ 
4 Conforme orientação do STJ, a atualização deve ocorrer pela conversão sucessiva da OTN em 
BTN e UFIR. Da exegese jurídica da evolução desses índices resulta a seguinte fórmula, a ser 
considerada quanto ao valor de alçada recursal, a ser apurado na data da distribuição da 
execução fiscal: 50 OTN = 440,30 BTN = 444,85 UFIR. 
 
de determinadas causas ou pessoas. Ex:. Tribunal de Nuremberg que julgou os nazistas), 
garantindo ainda que ninguém seja sentenciado senão pela autoridade competente, ou 
seja, aquela investida de jurisdição, a qual é exercida pelos juízos concursados. Esta 
garantia está ligada a dois aspectos: 
➢ associa-se ao órgão jurisdicional => as causas devem tramitar em juízos competentes. 
A competência é preestabelecida na Constituição Federal. Por isso, se proíbe juízos de 
exceção ou ad hoc. 
➢ diz respeito à pessoa do juiz => exigência de imparcialidade (ausência de interesse 
pessoal; estranho às partes) para que se tenha um processo justo. 
g) Inafastabilidade jurisdicional/judicial 
Está previsto no art. 5º, XXXV, CF/88. Garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, que 
não pode deixar de atender a quem venha a juízo deduzir uma pretensão, pois a jurisdição 
é monopólio do Estado. A partir do momento que o Estado trouxe para si a 
responsabilidade, o poder de tão-somente ele dizer o direito ao caso concreto, na mesma 
medida atraiu para si o dever de assim o faze-lo, não podendo se eximir de julgar em 
qualquer situação. 
Essa é a inteligência dos arts. 4º, LINDB, e art. 140, CPC, os quais consagram um 
princípio derivado, denominado de princípio do non liquet. 
A consequência da garantia da inafastabilidade é outra garantia: a do acesso à jurisdição 
a todos quantos a invoquem, sem restrição. Havendo lesão ou ameaça de lesão a direito, 
nasce para o seu titular a pretensão de vê-lo tutelado pelo Judiciário. 
h) Persuasão racional do juiz ou do Livre convencimento motivado 
Previsão no art. 93, IX, CF/88, segundo o qual todas as decisões judiciais deverão ser 
fundamentadas, sob pena de nulidade, e no art. 371 do CPC, para quem o juiz apreciará 
livremente a prova.....mas deverá indicar os motivos que lhe formaram o convencimento. 
Quanto à apreciação da prova, o sistema do livre convencimento motivado coloca-se 
como intermediário a outros dois, a saber: 
➢ sistema da livre apreciação ou da convicção íntima => o juiz tem ampla liberdade para 
decidir, convencendo-se segundo critérios de valoração íntima, independentemente do 
que consta nos autos ou de uma fundamentação de seu convencimento. Ex: Tribunal do 
Júri. 
➢ sistema da prova legal ou tarifada => é justamente o oposto do anterior. Cada prova 
tem seu peso e valor preestabelecidos pela lei, ficando o juiz vinculado dosimetricamente 
às provas apresentadas. Este sistema limitava a liberdade de o juiz convencer-se da 
verdade. Ex: no Direito Romano. 
O nosso sistema, do livre convencimento motivado, dá liberdade ao juiz para apreciar a 
prova segundo critérios íntimos, mas o obriga, em contrapartida, a motivar as suas 
decisões, sem se esquecer das regras legais porventura existentes e as máximas de 
experiência, previstas nos arts. 374, IV e 375, CPC. 
i) Proibição de emprego de prova obtida ilicitamente (art. 5º, LVI, CF/88) 
O ordenamento constitucional coíbe a utilização nos autos do processo das provas obtidas 
por meio ilícito, ou seja, em violação das normas jurídicas materiais (ex: documento 
obtido mediante vício de consentimento, como coação ou estado de perigo; confissão 
obtida mediante tortura). 
Diferente é a chamada prova ilegítima, que é aquela produzida mediante violação de 
normas processuais (ex: no depoimento pessoal, uma parte ouvir o depoimento da outra 
– art. 385, §2º, CPC; o testemunho das pessoas incapazes, impedidas ou suspeitas para 
tanto – art. 447, §§1º, 2º, e 3º, CPC; o testemunho de quem não é obrigado a depor sobre 
certos fatos – art. 448, CPC). 
Desta feita, pode-se afirmar o seguinte: 
➢ PROVA ILÍCITA => a mácula, a ilegalidade ocorre no momento da OBTENÇÃO da 
prova. 
➢ PROVA ILEGÍTIMA => a ilegalidade se dá no momento de sua PRODUÇÃO. 
Ambas, as provas ilícitas e as provas ilegítimas, são espécies de um gênero maior, 
denominado prova ilegal. 
Mas o que a Constituição Federal proíbe é a prova cuja OBTENÇÃO tenha violado norma 
material, especialmente se corresponder a uma garantia fundamental. Ex: inviolabilidade 
de domicílio; da intimidade; do sigilo da correspondência ou de comunicação telefônica 
(sem o conhecimento de ambos interlocutores. Importante frisar que, se um deles tinha 
esse conhecimento, para o STF, a prova é lícita); em violação ao princípio da presunção 
de inocência (ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo – ex: bafômetro, 
coleta de material genético para exame de DNA...). 
Isso porque a violação de um direito material é mais grave que a violação de uma regra 
processual. Todavia, se a violação for de uma norma processual que traduz um direito 
fundamental processual, como é o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa 
etc, tal prova será considerada tanto quanto ilícita, sem qualquer possibilidade de influir 
sobre o convencimento do juiz. 
Por fim, há de se ressaltar que, como toda garantia fundamental, a proibição das provas 
ilícitas não é absoluta, porque pode haver necessidade de conciliá-la com outras garantias 
fundamentais da mesma grandeza. Imagine a hipótese de uma associação de proteção ao 
meio ambiente que não tem outra alternativa para proteger o direito ambiental senão por 
meio de uma prova ilícita? 
Portanto, o uso da prova ilícita poderá excepcionalmente admitido, por força do princípio 
da proporcionalidade, quando houver colisão entre o direito fundamental material que se 
deseja ver tutelado através do processo e o direito fundamental material violado pela 
obtenção da prova ilícita, sendo ambos igualmente dignos de tutela. 
j) Celeridade ou Duração Razoável do Processo (art. 5º, LXXVIII, CF/88; art. 4º, NCPC) 
Trata-se do mais recente princípio constitucional aplicável ao processo inserido na 
Constituição Federal, repetido no CPC, de forma também inédita, em seu art. 4º, para 
quem “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, 
incluída a atividade satisfativa”. 
A inserção constitucional se deu por meio da EC 45/04, que, em linha ao já consagrado 
princípio do devido processo legal e seus consectários, previu, no último inciso do extenso 
rol do art. 5º, a garantia da celeridade processual, ou, simplesmente, na dicção da doutrina 
constitucional portuguesa (cf. J.J. Gomes CANOTILHO), da duração razoável do 
processo. 
Com este princípio visa-se assegurar um processo, cuja duração seja o estritamente 
necessário para que se possa alcançar os resultados justos visados. Duração esta que não 
significa que será mínima, pois nem sempre conduzirá a um resultado justo, mas uma 
duração razoávelpara se alcançar o melhor, o mais adequado, o mais efetivo, enfim, o 
mais justo resultado possível ao processo. 
Tal princípio está estampado em vários artigos do CPC, tais como: 
➢ art. 80, VII => litigância de má-fé contra quem procrastina o feito; 
➢ art. 143, II => responsabilidade do juiz que injustificadamente retarda a prática do ato 
que deveria praticar. 
➢ art. 311, I => antecipação dos efeitos da tutela contra réu que abusa do direito de 
defesa. 
➢ art. 1.026, §2º => multa contra o embargante de declaração o opõe com o intuito de 
tão somente de interromper o prazo para os demais recursos (intuito protelatório). 
k) Instrumentalidade das formas 
Consiste em dar validade a ato processual que atingiu seu fim, ainda que praticado em 
inobservância à forma legal. Está previsto no art. 277, CPC, que assim afirma: “quando a 
lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro 
modo, lhe alcançar a finalidade”. Isso porque o processo é apenas um meio, um 
instrumento, e não um fim. 
l) Oralidade 
Autoriza a prática dos atos processuais na forma oral, primando pela sua concentração, 
pela imediação e identidade física do juiz, entre outras consequências procedimentais. 
Não é aplicado na sua inteireza no Processo Civil, principalmente no rito comum, diante 
da complacência dos magistrados em permitir que se façam inquirições sem a sua 
intervenção. A previsão legal da conversão das alegações orais por memoriais escritos é 
outro exemplo de sua mitigação (art. 364, §2º, CPC). 
Esperava-se um maior prestígio ao princípio com o advento do NCPC, mas não é isso o 
que se viu, mantendo-se um processo eminentemente escrito, com alguns elementos de 
oralidade (oralidade na conciliação e mediação; a identidade física do juiz; redução a 
termo de todos os atos judiciais orais; substituição de debates orais por memoriais; 
produção de provas em audiência como regra; oitiva de perito em audiência para prestar 
esclarecimentos; não interrupção da audiência como regra, bem como a sentença 
proferida em audiência). 
O rito sumaríssimo, previsto na Lei n. 9.099/95 (Lei que instituiu os Juizados Especiais 
Cíveis Estaduais), é que adotou verdadeiramente tal princípio. 
m) Publicidade Previsto no art. 93, IX, da CF, e no art. 189 do CPC, consiste na garantia 
fundamental de tornar públicos todos os atos judiciais. 
É, portanto, um instrumento de proteção das partes contra juízos arbitrários e secretos, 
bem como de fiscalização popular aos atos judiciais, tendo, assim, 2 dimensões: uma 
interna – publicidade para as partes; e outra externa – publicidade para terceiros, salvo 
quando a defesa da intimidade ou o interesse social exigir a restrição da publicidade 
apenas à interna. 
Tais exceções estão mais bem descritas nos incisos I a IV do art. 189 do CPC, exigindo, 
portanto, que o processo corra em segredo de justiça nas seguintes situações: 
- processos que exigir interesse público ou social; 
- processos que dizem respeito a casamento, separação de corpos, divórcio, separação 
(acabou com a EC66/10), união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e 
adolescentes; 
- processos em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; 
- processos que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, 
desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. 
Em tais casos, restringe-se às partes e seus procuradores o direito de consultar os autos e 
de pedir certidões (§1º), podendo o terceiro juridicamente interessado obter certidão do 
dispositivo da sentença mediante requerimento (§2º). 
n) Boa-fé processual 
Previsto no art. 5º, NCPC, tal princípio impõe a todo aquele, que de qualquer forma 
participa do processo, o dever de comportar-se de acordo com a boa-fé. Portanto, trata-
se, na verdade, de uma regra de conduta que se aplica não apenas às partes, mas aos seus 
advogados, e até ao juiz e aos auxiliares da justiça. 
Apesar de não ter previsão constitucional, a maioria dos autores, com apoio do STF, vê 
no princípio do devido processo legal o seu fundamento constitucional, vez que esta 
cláusula geral exige um processo leal, ético e pautado na boa-fé (criou-se, inclusive, a 
expressão: devido processo leal). 
O desrespeito ao princípio traduz-se em ilícito processual, combatido severamente pelo 
legislador com sanções do tipo condenação em litigância de má-fé (arts. 79 a 81); 
responsabilidade civil do juiz (art. 143, I), do escrivão e do oficial de justiça (art. 155), 
do intérprete (art. 164); do advogado (art. 32 do Estatuto da OAB); a condenação em ato 
atentatório à dignidade da justiça (ao devedor que pratica quaisquer atos previstos no art. 
774; e às partes que não comparecem injustificadamente na audiência de conciliação ou 
mediação, cf. §4º do art. 334); a tutela de evidência quando o réu abusar do direito de 
defesa (art. 311, I); etc. 
o) Princípios inéditos no CPC 
o.1) Princípio da Eficiência 
Corolário do devido processo legal (pois não se concebe como devido um processo 
ineficiente) e já previsto no art. 37 da CF, o qual também se dirige ao Poder Judiciário, 
este princípio foi inserido no CPC, pelo legislador de 2015, no art. 8º, o qual estabelece 
que o juiz, ao aplicar o ordenamento jurídico, deverá observar, dentre outros princípios, 
a eficiência. 
Ou seja, deve haver uma condução eficiente do processo pelo órgão jurisdicional, não só 
no sentido de que a prestação jurisdicional deve ser encarada como um serviço público, 
e, como tal, deve ser gerido e entregue com eficiência (consoante o art. 37 da CF), mas 
também segundo a velha ideia de um processo que prima pela economia processual, ou 
seja, deve-se dar o máximo resultado na atuação do direito com o mínimo emprego 
possível de atividades processuais. 
Dessa forma, o processo deve perseguir a justiça de modo satisfatório, utilizando-se, para 
tanto, dos meios mais rápidos, seguros e econômicos, evitando o dispêndio exagerado de 
tempo e dinheiro na prática dos atos processuais. Exemplos/aplicações do princípio: 
1) poder geral de efetivação => para entregar a tutela específica das obrigações de fazer 
e não fazer, o juiz pode aplicar a medida de efetivação que julgar mais adequada para 
satisfazer o direito do autor (art. 536, §1º); 
2) limite de prazo para a suspensão do processo (art. 313, §4º); 
3) reunião de causas conexas ou não (art. 55, §§1º e 3º); 
4) litisconsórcio => mais de uma pessoa litigando contra o mesmo autor ou réu (art. 113); 
5) nulidades processuais => possibilidade de sanar vício suprível (art. 288). 
 
 o.2) Princípio da Efetividade 
Também decorrente do devido processo legal, o princípio da efetividade garante o direito 
fundamental à tutela executiva, ou seja, à satisfação de um direito já reconhecido. Afinal, 
não basta “ganhar”; para o processo ser devido, é preciso também “levar”. 
Todavia, não pode ser confundido com o princípio anterior (da eficiência), pois “efetivo 
é o processo que realiza o direito afirmado e reconhecido judicialmente; eficiente é o 
processo que atingiu esse resultado de modo satisfatório” (DIDIER JR, 2015, p. 103). 
O princípio da efetividade está previsto no NCPC, em seu art. 4º, para quem “as partes 
têm o direito (...) a atividade satisfativa”. Tal entendimento já era reforçado pelo 
conhecido princípio da inafastabilidade jurisdicional, que garante não apenas, 
formalmente, o acesso à justiça, mas também a obtenção de uma tutela jurisdicional 
tempestiva, adequada, eficiente e efetiva. 
 
o.3) Princípio da Adequação Corolário dos princípios do devido processo legal, da 
inafastabilidade jurisdicional e até da efetividade, o princípio da adequação exige que 
tanto o legislador, ao prever as regras processuais (in abstrato), quanto o juiz, ao entregar 
a tutela jurisdicional (in concreto (5) ), deverão adotar o procedimento, a técnica maisadequada para a realização do direito material. 
A doutrina leciona que tal princípio revela-se em 3 aspectos: 
- subjetivo => o processo deve ser adequado aos sujeitos processuais. Exemplos: 
intervenção obrigatória do MP em processos que envolvam interesse de incapaz – art. 
178, II; diferenciação de regras de competência em razão da pessoal, como a regra do 
domicílio do alimentando para as ações de alimentos, ou da previsão de uma Justiça 
Federal para as causas que envolvem entes públicos federais – art. 53, II, CPC e art. 109, 
I, CF, respectivamente; prazos processuais especiais para entes públicos – art. 183; etc. 
- objetivo => adéqua-se o processo a um tipo ou outro de procedimento de acordo com a 
natureza do direito litigioso (ações possessórias; ação de alimentos; busca e apreensão em 
alienação fiduciária etc), com a evidência do direito litigioso (mandado de segurança; 
ação monitória; tutela de evidência do art. 311), ou com a sua urgência (tutelas de 
urgência – arts. 300 a 310). 
- teleológico => a adequação se faz a depender dos objetivos que se quer, com o processo, 
alcançar. Exemplos: um tipo de processo ou de procedimento a depender da tutela 
pretendida (de conhecimento, de execução ou cautelar); procedimento sumaríssimo para 
alcançar os propósitos de duração razoável do processo e efetividade que impõe a lei nos 
Juizados. 
Especificamente quanto à aplicação do princípio pelo juiz no caso concreto, também 
conhecido como princípio da adaptabilidade ou da elasticidade, são exemplos: 
- art. 139, VI => o juiz pode dilatar prazos processuais e alterar a ordem de produção de 
provas de acordo com as peculiaridades do caso; 
- art. 373, §1º => redistribuição judicial do ônus da prova; 
- arts. 355 e 356 => encurtamento do rito com o julgamento antecipado do mérito; 
- art. 334, §4º, II => não realização da audiência de conciliação ou mediação se a causa 
não admitir a autocomposição; etc. 
Portanto, desde que o juiz garanta sempre o contraditório, evitando surpresas às partes 
com a alteração do procedimento, certo é que a flexibilidade procedimental às exigências 
da causa é fundamental para que mais facilmente o processo alcance os seus fins (DIDIER 
JR, 2015, p. 119). 
_______________________________________ 
(5) Há que se lembrar também da adequação negocial feita em concreto pelas próprias partes, 
que poderão negociar o rito que mais se amolde às suas necessidades (negócio jurídico 
processual – art. 190, NCPC). 
 
o.4) Princípio da Cooperação Embora já tenhamos visto os princípios do dispositivo e do 
inquisitivo separadamente, certo é que estes estão diretamente relacionados com o que o 
Novo Código de Processo Civil chama de princípio da cooperação. 
Isso porque sempre convivemos, no mundo ocidental, com dois tipos de modelos de 
processo: o modelo dispositivo, intimamente ligado à atribuição de poderes às partes; e o 
modelo inquisitivo, o qual confere poderes ao juiz. 
Todavia, tem sido cada vez mais difícil identificar, principalmente no Brasil, qual dos 
dois modelos é adotado, uma vez que ora a lei confere poderes às partes, como, por 
exemplo, de instaurar o processo e fixar o seu objeto, ora ao juiz, ao investi-lo de poderes 
instrutórios. 
Em razão disso, tem-se falado que o direito processual brasileiro adota o modelo 
cooperativo, segundo o qual se espera que todos os sujeitos do processo, tanto as partes 
quanto o juiz, devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão 
de mérito justa e efetiva. Estas são as palavras descritas no art. 6º, do CPC. 
Percebe-se que não há uma condução do processo só a cargo das partes, tampouco só do 
juiz, que, tendo o contraditório, a boa fé e o devido processo legal como bases, 
comparticipam de todos os atos praticados do processo. 
Vê-se que o Estado-juiz adota dupla posição no processo: paritária, com diálogo e 
equilíbrio na condução e cognição do processo (modelo dispositivo); e assimétrico e 
imparcial no momento da decisão do processo (modelo inquisitivo). 
O princípio aplica-se às partes no que se refere aos seus deveres de esclarecimento (os 
demandantes devem redigir suas demandas com clareza e coerência, sob pena de inépcia), 
de lealdade e de proteção (não pode a parte causar danos à outra). Já quanto ao juiz o 
princípio se revela, por exemplo, no dever também de ser claro e preciso ao fundamentar 
suas decisões, ou, antes de indeferir um ato, tirar dúvidas ou buscar esclarecimentos junto 
à parte; agir com lealdade e boa-fé; e até o dever de consulta, de informar as partes antes 
de decidir (art. 10); e de prevenção, apontando deficiências nas postulações às partes, para 
que possam ser supridas (ex: arts. 76; 321; 932, par. único; 1.017, §3º; 1.029, §3º). 
o.5) Princípio do Respeito ao Autorregramento da Vontade no Processo 
Originado no direito fundamental à liberdade e à dignidade da pessoa humana, o direito 
ao autorregramento da vontade (ou simplesmente, a autonomia da vontade) consiste no 
direito que todo indivíduo possui de regular juridicamente os seus interesses, de fazer as 
próprias escolhas. 
Obviamente que este princípio não tem a mesma dimensão e extensão no direito 
processual civil como tem no direito civil, uma vez que naquele há a presença pública do 
Estado nas relações, o que significa que a negociação processual é mais regulada e o seu 
objeto mais restrito. 
A liberdade ou a autonomia da vontade no processo tem sido cada vez mais difundida 
pois a liberdade é um dos alicerces do Estado Democrático de Direito, não se concebendo 
um processo devido em que a liberdade da vontade de seus participantes é hostilizada, 
prevalecendo a arbitrariedade. 
É possível a convivência harmoniosa entre processo e liberdade, sem que com isso se 
admita a adoção de um modelo predominantemente dispositivo (ampla liberdade às partes 
para dispor dos atos processuais, figurando o juiz como mero expectador). Existe a 
liberdade de negociar acerca do processo, porém limitada. A própria lei cuida de 
estabelecer os seus limites, como, por exemplo, no art. 190 do NCPC, que prevê tal 
iniciativa apenas às partes plenamente capazes e que estejam discutindo direitos que 
admitam autocomposição. 
São exemplos de aplicação deste princípio: 
- a autocomposição, sobre a qual hoje se estrutura o sistema processual civil brasileiro 
(arts. 3º, §§2º e 3º; arts. 165 a 175; arts. 334 e 335); 
- delimitação do objeto do processo (art. 141 e 490) e do recurso (arts. 1.002 e 1.013) pela 
vontade da parte; 
- negócios processuais típicos, como eleição de foro (art. 63), negócio tácito de que a 
causa tramita em juízo relativamente incompetente (art. 65); calendário processual (art. 
191); acordo para a suspensão do processo (art. 313, II); adiamento negociado da 
audiência (art. 362, I); etc. 
- cláusula geral de negociação processual do art. 190 (subprincípio da atipicidade da 
negociação processual) – as partes, desde que capazes e o direito admitir autocomposição, 
poderão negociar mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa; 
- consagração do princípio da cooperação (art. 6º); 
- o prestígio à arbitragem, cujo processo é totalmente negociado. 
o.6) Princípio da Primazia da Decisão de Mérito Segundo este princípio, o juiz deve 
priorizar a entrega da decisão de mérito. Nos termos do art. 4º do CPC, a parte tem o 
direito à solução integral do mérito, seja da demanda principal, incidental ou da demanda 
recursal. São exemplos: 
- art. 6º, que diz que todos os sujeitos devem cooperar para que se obtenha decisão de 
mérito justa e efetiva; 
- art. 139, IX: o juiz tem o dever de determinar o suprimento dos pressupostos processuais 
e o saneamento de outros vícios processuais; 
- art. 282, §2º: o juiz deverá ignorar os defeitos processuais, se a decisão de mérito não 
prejudicar aquele que se beneficiaria com o reconhecimento da nulidade; 
- art. 321: quando a petição inicialcontiver defeitos corrigíveis, não deverá o juiz indeferí-
la sem antes dar oportunidade ao autor de corrigí-la em 15 dias; etc. 
o.7) Princípio da Proteção da Confiança 
Trata-se da versão subjetiva do princípio da segurança jurídica, ou seja, o direito que a 
parte tem de poder confiar nos atos jurisdicionais, sob a premissa de estes são praticados 
segundo um devido processo legal, não podendo o Estado trair tal confiança. 
Exemplos: 
- o dever de o tribunal uniformizar a sua própria jurisprudência; 
- o dever de o tribunal modular os efeitos de decisão que altera jurisprudência 
consolidada, resguardando posições jurídicas de quem havia confiado no entendimento 
que até então prevalecia; 
- sistema de invalidades processuais, que dificulta a decretação de invalidades ou limita 
temporariamente os seus efeitos, preservando alguns efeitos do ato invalidado; 
- o órgão jurisdicional adotar “regras de transição” para minimizar o impacto da quebra 
da confiança (exemplo clássico aconteceu no julgamento do RE n. 631.240 MG, que o 
STF regulou a transição para aqueles que não haviam requerido administrativamente 
benefício previdenciário antes do julgamento desta matéria); etc. 
 
2 JURISDIÇÃO 
 
2.1 Introdução e conceito 
Sabe-se que o Estado, com o fim da monarquia absolutista, em pleno Iluminismo, se 
estruturou e se modernizou, consagrando a já aristotélica tripartição dos poderes, por meio 
dos quais o Estado exerce as funções legislativa (responsável pela estruturação da ordem 
jurídica pela elaboração das leis), administrativa (cujo papel é o de aplicar a lei na busca 
do bem comum/coletivo) e jurisdicional (a qual faz atuar a vontade da lei no caso 
concreto, solucionando as lides). 
A função jurisdicional difere da legislativa, na medida em que esta é anterior ao caso 
concreto, sendo exercida para prever casos ou situações gerais e abstratas; também difere 
da função administrativa em que pese esta última não ser substitutiva à vontade das partes, 
mas sim de iniciativa do próprio Estado na tutela do bem estar social mediante a aplicação 
de programas e ações de governo. 
Jurisdição, etimologicamente, significa dizer o direito. É, portanto, “a função pela qual o 
direito é aplicável ao caso concreto”. Não obstante tal conceituação, há quem também a 
identifique à atividade ou ao próprio poder estatal de decidir os litígios (Poder Judiciário). 
Neste último aspecto, a jurisdição, por ser um monopólio estatal, equivale também a um 
dever, já que o Estado não pode se eximir de solucionar ou de compor as lides que 
porventura os indivíduos da sociedade, os quais estão proibidos de exercer a autotutela 
ou a justiça privada, possam estar envolvidos. 
2.2 Características 
A jurisdição caracteriza-se pela: 
a) substitutividade => o Estado substitui as partes e soluciona o conflito, por conta do 
monopólio da atividade jurisdicional. Ou seja, o Estado cumpre a lei no lugar das partes, 
que não a observaram espontaneamente. 
b) definitividade ou imutabilidade => em nome da segurança jurídica, as decisões 
judiciais tendem, em regra, a se tornarem imutáveis, passíveis apenas de ação rescisória. 
Já as decisões administrativas, em regra, são modificáveis, podendo ser revistas pelo 
Judiciário, exceto aquelas fundadas em juízo de conveniência e oportunidade (mérito 
administrativo). 
c) inércia => a atividade jurisdicional deve ser provocada pela parte, pois se trata de uma 
atividade desinteressada, imparcial e equidistante dos interesses das partes. Apesar de o 
art. 2º confirmar esse entendimento ao dizer que “o processo civil começa por iniciativa 
da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”, há 
exceções ao princípio do dispositivo ou da inércia jurisdicional, como na a execução da 
sentença que condena em obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa distinta de 
dinheiro (arts. 536 e 538); na arrecadação dos bens do ausente (art. 744) e na arrecadação 
dos bens do falecido no caso de herança jacente (art. 738); em alguns incidentes 
processuais, como o incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 976), conflito 
de competência (art. 951) e incidente de arguição de inconstitucionalidade (art. 948). 
d) instrumentalidade => através da atividade jurisdicional é possível impor os comandos 
legais violados, ou seja, é um instrumento da sanção. 
e) presença da lide => a existência de uma lide pressupõe a existência da jurisdição, pois 
que seu objetivo é justamente por fim aos conflitos de interesses surgidos entre as partes. 
Hélio Tornaghi e Alexandre Câmara entendem que a lide não é elemento essencial à 
jurisdição, mas sim a pretensão, pois que há casos em que o Estado é chamado a atuar 
sem que tenha havido litígio. Exemplo clássico é a ação de divórcio consensual, feito no 
Judiciário, quando há filhos menores. 
2.3 Princípios da jurisdição 
A jurisdição é também informada por alguns princípios, dentre os quais se destacam: 
a) investidura => a jurisdição só pode ser exercida por quem o Estado investiu de poder 
para tanto (os juízes concursados). 
b) aderência ao território ou territorialidade => o juiz deve exercer a função jurisdicional 
dentro de certo território definido pela lei (tem a ver com competência, ou seja, com 
limites da jurisdição, que estudaremos mais adiante). 
c) indelegabilidade => as atribuições jurisdicionais só podem ser exercidas pelos órgãos 
judiciais, não podendo ser delegadas a outrem. 
IMPORTANTE: a carta de ordem (ato de comunicação de uma parte, que esteja fora dos 
limites da jurisdição onde se processa o feito, dirigida a um juiz ou tribunal subordinado 
àquele de que ela emanar) ou a carta precatória (endereçada a outro órgão judiciário do 
país, entre os quais não há relação hierárquica) não contraria este princípio, pois que não 
se trata de delegação de jurisdição, mas, sim, de competência. 
Parte da doutrina entende que a arbitragem configura uma espécie de delegação do 
exercício da jurisdição estatal a particulares (árbitros) pela vontade das partes e 
autorização legislativa. 
 No entanto, há entendimento no sentido de que a arbitragem se enquadra no que 
Carnelutti chamou de equivalentes jurisdicionais (expressão utilizada na doutrina pátria 
por Alexandre Câmara, Dinamarco etc), pois, apesar de ser proferida uma sentença, 
compondo o litígio entre as partes, o árbitro não tem o poder jurisdicional de executá-la, 
tarefa esta exclusiva do Estado. 
São considerados equivalentes jurisdicionais todos os outros meios alternativos de 
solução dos litígios fora da jurisdição estatal, como: 
✓ autotutela => é a solução do litígio pela força (justiça privada) por um dos litigantes. 
A princípio, é proibida, mas há resquícios da autotutela no nosso atual ordenamento 
jurídico (desforço imediato, legítima defesa e a greve). 
✓ autocomposição => solução dada pelos próprios litigantes que abrem mão total ou 
parcialmente de seu direito em favor do outro (e não pela força). 
Pode haver ou não interferência de terceiros. Se houver, como no caso da mediação ou da 
conciliação, o terceiro (mediador, conciliador ou juiz) apenas sugere a solução, que 
continua sendo dada pelas partes. A autocomposição se subdivide em 2 espécies: 
- transação ou acordo => a solução é dada pelas partes que estabelecem concessões 
mútuas ou recíprocas, cada qual abrindo mão de parte do seu direito a favor da outra. 
Pode ser dentro ou fora do juízo (judicial ou extrajudicial); 
- submissão => há verdadeira abdicação espontânea do direito, o qual poderá ser feita em 
juízo (renúncia, se autor; ou reconhecimento do pedido, se réu). 
✓ tribunal administrativo => solução dada por um terceiro, mas de caráter administrativo, 
sem cunho jurisdicional (não opera coisa julgada, passíveis de controle externo). Ex: 
Tribunal Marítimo; Tribunal de Contas; Agências Reguladores; CADE (Conselho 
Administrativo de Defesa Econômica). 
✓ arbitragem=> diferentemente da mediação, o terceiro escolhido pelas partes, 
conhecido como árbitro, soluciona o litígio, proferindo uma decisão a que as partes 
deverão se sujeitar. A arbitragem foi adotada no Brasil pela Lei n. 9.307/96, recentemente 
alterada pela Lei n. 13.129/15, e é constituída pela chamada convenção de arbitragem, 
onde as partes pactuam, por força da previsão em contrato da cláusula compromissória, a 
arbitragem como meio de solução de conflitos que porventura sobrevierem sobre o 
negócio jurídico ali avençado, abrindo mão da jurisdição estatal (há quem defenda a 
inconstitucionalidade desta lei por ferir os princípios do acesso ao Judiciário e do juiz 
natural – art. 5º, incisos XXXIV e LIII, CF/88). Caso o conflito de fato ocorra, tais partes 
firmarão o compromisso arbitral. 
Segundo a Lei 9.307, a decisão do árbitro é uma sentença, contra a qual não cabe qualquer 
recurso (salvo ação anulatória, num prazo de até 90 dias após sua publicação, caso tenha 
sido dada com vício), e nem pode ser rediscutida no Judiciário, a quem cabe tão somente 
executá-la, já que ao árbitro carece apenas do poder executar suas próprias decisões. 
Por fim, convém lembrar também que o árbitro deverá ser pessoa física e capaz; e que a 
arbitragem só se dá entre pessoas capazes que estejam litigando direito disponível. 
Para a maioria da doutrina, a arbitragem é jurisdição, porém não delegada pelo Estado, 
mas escolhida pelas partes e autorizada pela lei, e não equivalente jurisdicional. 
d) inevitabilidade => independentemente da vontade das partes, a jurisdição deve alcançar 
o seu fim, qual seja, o de compor o litígio, sujeitando-as à decisão. A autoridade das 
decisões se impõem, independentemente da aceitação dos seus destinatários, pois se trata 
de um ato emitido por um poder soberano do Estado. 
e) indeclinabilidade => com o monopólio estatal da jurisdição, os órgãos judiciais têm a 
obrigação de prestar a tutela jurisdicional quando invocada, não lhe sendo mera 
faculdade. O juiz não pode deixar de julgar alegando omissão na lei (art. 5º, XXXV, CF 
– princípio da inafastabilidade da jurisdição; e art. 140, NCPC - princípio do non liquet). 
Para tanto, ele dispõe dos meios integrativos (costumes, analogia e princípios gerais do 
direito – art. 4º, LINDB). 
f) improrrogabilidade => a função jurisdicional, delimitada segundo a organização 
judiciária brasileira, não pode ser alterada pelo legislador ordinário. 
 2.4 Poderes da jurisdição 
Por outro lado, são poderes da jurisdição: 
a) conhecimento (notio, cognitio) => implica no poder de conhecer, investigar, instruir. 
Ou seja, compreende o poder atribuído aos órgãos jurisdicionais de conhecer dos litígios, 
de prover a regularidade do processo, de investigar a presença de pressupostos de 
existência e de validade da relação processual, das condições da ação e de recolher o 
material probatório. 
b) chamamento (vocatio) => consiste no poder de convocar, de fazer comparecer em juízo 
todos aqueles cuja presença seja necessária ao regular desenvolvimento do processo. Faz-
se mediante os atos de comunicação (citação, intimação etc). 
c) coerção (coertio, coercitio) => também conhecido como poder de polícia, abrange o 
poder de utilização de medidas coercitivas a fim de que se observe o regular 
desenvolvimento do processo. Ex: aplicação de multas (astreintes) por atraso no 
cumprimento da decisão; retirar alguém da sala de audiência etc. 
d) julgamento (juditio) => engloba o poder de julgar, o poder de concretizar a vontade da 
lei diante de um conflito de interesse ou de definir o direito a partir de uma situação de 
controvérsia. Ao decidir, o juiz deve observar as seguintes regras: 
d.1) o juiz é obrigado a decidir, ainda que a lei for omissa – art. 140, NCPC e art. 4º, 
LINDB (princípios da inafastabilidade da jurisdição e do non liquet; e princípios da 
indeclinabilidade da jurisdição); 
d.2) o juiz deve, a princípio, observar a lei – interpretação a contrário do art. 4º, LINDB; 
d.3) excepcionalmente, apenas nos casos previstos em lei, o juiz julgará com equidade – 
parágrafo único do art. 140. Exemplos: art. 85, §8º (valor dos honorários por apreciação 
equitativa); art. 723, parágrafo único (o juiz não é obrigado observar a legalidade estrita 
nos feitos de jurisdição voluntária); 
d.4) o juiz decidirá a lide nos limites do pedido do autor (a sentença tem que ser 
congruente, adstrita ao pedido) – arts. 141 e 490; 
 d.5) o juiz pode decidir prejudicando as partes quando estas agem com fraude – art. 142; 
d.6) o juiz decide de acordo com o seu livre convencimento, mas deve motivá-lo – art. 
371. 
e) execução (executio) => consiste no poder de cumprir o definido em decisão judicial e 
realizar/concretizar no mundo dos fatos o comando judicial. A melhor e mais moderna 
doutrina tem lembrado do chamado poder geral de efetivação do juiz, que poderá, de 
ofício, determinar medidas coercitivas (astreintes, por exemplo) em nome do princípio da 
efetividade processual. 
 
f) poder geral de cautela (nem sempre lembrado pela doutrina) => poder de adotar 
medidas de cautela sobre o bem, objeto da demanda, quando houver fundado receio de 
dano irreparável ou de difícil reparação pela demora do processo (arts. 297 e 301). 
 
2.5 Espécies de jurisdição 
 
Por fim, calha lembrar que a jurisdição pode ser voluntária, cujo procedimento está 
previsto nos arts. 719 a 770, NCPC; ou contenciosa. 
 
A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa, é 
aquela exercida inter volentes, isto é, entre pessoas que não estão litigando, mas que têm 
interesses comuns. 
 
Segundo a doutrina majoritária, que se filia à teoria clássica ou administrativista, a 
jurisdição voluntária não é jurisdição, mas apenas uma administração judicial de 
interesses privados, já que a autoridade judicial intervém não para compor um litígio, pois 
que este nem sequer existe, mas, sim, para dar validade, chancelar, homologar um ato ou 
negócio jurídico firmado pelas partes. 
 
Já a jurisdição contenciosa, ou jurisdição propriamente dita, pressupõe um litígio 
(contenda) a ser resolvido pelo Estado. 
Todavia, convém notar que pequena parcela da doutrina (como Dinamarco, Ovídio 
Baptista, entre outros) filia-se a teoria revisionista, segundo a qual será considerada 
jurisdição sempre que o juiz aprecia um caso concreto, decidindo-o (aplicando a lei) ou 
simplesmente homologando-o. 
 
Apesar das divergências, pode-se resumir as diferenças entre jurisdição contenciosa e 
jurisdição voluntária através do seguinte paralelo: 
 
CONTENCIOSA VOLUNTÁRIA 
Lide Interesses comuns 
Açaõ requerimento 
Partes interessados 
Contraditório Sem contraditório 
Processo Procedimento 
Sentença Decisão Homologatória 
Coisa Julgada Sem Coisa Julgada 
Atividade Jurisdicional Atividade Administrativa (6) 
 
Daí, conclui-se que atividade judicial é o gênero, das quais são espécies as atividades 
jurisdicional, exercida no âmbito da jurisdição contenciosa, e administrativa, exercida no 
âmbito da jurisdição voluntária. 
 
3 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO PODER JUDICIÁRIO 
 
 O Poder Judiciário do Brasil é o conjunto dos órgãos públicos ao qual a Constituição 
Federal brasileira atribui a função jurisdicional, ou seja, de solucionar as lides que lhes 
são encaminhadas. 
O Poder Judiciário é regulado pela Constituição Federal nos seus artigos 96 a 126. 
Em geral, os órgãos judiciários brasileiros exercem dois papéis. O primeiro, do ponto de 
vista histórico, é a função jurisdicional, também chamada jurisdição. Trata-se da 
obrigação e da prerrogativa de compor os conflitos de interesses em cada caso concreto, 
através de um processo judicial, com a aplicação de normas gerais e abstratas. O segundo 
papel é o controle de constitucionalidade. 
O exercício da jurisdição, assegurado constitucionalmente, é disciplinado por vários 
princípios, balizas doutrinárias,conexões com a principiologia processual, ligações com 
a Teoria do Estado, mas também deve ser regrado de ponderações de ordem mais 
praticista, fundadas na ordem jurídica constitucional vigente. 
É com este escopo que se organiza uma espécie de “esquema” de apresentação do 
exercício da jurisdição no Brasil, indo do STF até o juiz estadual de primeira instância. 
Os órgãos judiciários brasileiros podem ser classificados quanto ao número de julgadores 
(órgãos singulares e colegiados), quanto à matéria (órgãos da justiça comum e da justiça 
especial) e do ponto de vista federativo (órgãos estaduais e federais). 
______________________________________________ 
(6) Segundo a doutrina majoritária, que adota a teoria clássica ou administrativista, jurisdição 
voluntária ou graciosa não é jurisdição, mas apenas “administração pública de interesses 
privados”, ou seja, a autoridade judiciária intervém não para compor um litígio, mas para validar, 
para chancelar um ato ou negócio jurídico. 
 
Um Tribunal Regional Federal é órgão colegiado, enquanto que um Juiz Federal é 
considerado órgão singular. 
Da mesma maneira, o Tribunal de Justiça de um estado é órgão colegiado, sendo o Juiz 
de Direito um órgão singular. 
Os Tribunais e Juízes estaduais, os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais são 
considerados órgãos de justiça comum. Já os Tribunais e Juízes do Trabalho, Eleitorais e 
Militares formam a justiça especial, por decidirem sobre matérias específicas de cada área 
de atuação. 
Por fim, os juízes de 1º grau estão distribuídos em comarcas (de diferentes entrâncias, as 
maiores são de 3ª entrância; as médias são de 2ª; e as menores são de 1ª; havendo aquelas, 
ainda, que de tão pequenas são respondidas por outra, por região), se tratar de justiça 
estadual; ou seções judiciárias, se justiça federal, os quais costumam coincidir com as 
comarcas. 
3.1 Supremo Tribunal Federal (STF) Trata-se do tribunal eminentemente “constitucional” 
na sistemática jurisdicional pátria, responsável pelo julgamento dos casos mais notórios 
de eventuais ofensas à Constituição Federal. 
O STF não é uma Corte só de controle e guarda da Constituição, uma vez que, na estrutura 
pátria, também se vê às voltas com o julgamento de recursos extraordinários (controle 
constitucional difuso), conflitos de competência entre tribunais, conflito entre Estado 
estrangeiro e a União, a revisão criminal de seus julgados, dentre outras matérias nas 
quais o foco não é um julgamento apenas de ordem constitucionalista mas que são 
abordadas matérias constitucionais. 
O Supremo Tribunal Federal (STF) é o guardião da Constituição Federal. Compete-lhe, 
dentre outras tarefas, julgar as causas em que esteja em jogo uma alegada violação da 
Constituição Federal, o que ele faz ao apreciar uma ação direta de inconstitucionalidade 
ou um recurso contra decisão que, alegadamente, violou dispositivo da Constituição. 
Na CF/88, o STF é disciplinado nos arts. 101/103. É composto por 11 Ministros, 
escolhidos entre cidadãos com mais de 35 anos e menos de 65 anos, de notável saber 
jurídico e conduta ilibada. Os Ministros são nomeados pelo Presidente da República, mas 
a escolha passa pela apreciação do Senado Federal. 
3.2 Superior Tribunal de Justiça (STJ) 
Trata-se do tribunal responsável pelo controle da legislação infraconstitucional (CDC, 
Lei Inquilinato, ECA, ente outras) no ordenamento pátrio, introduzido pela CF/88, 
substituindo o já extinto Tribunal Federal de Recursos. 
Previsto na Constituição Federal, nos arts. 104/105, é composto por 33 ministros, também 
escolhidos pelo Presidente da República dentre cidadãos com mais de 35 e menos de 65 
anos de idade, de notável saber jurídico e conduta ilibada. Assim como o STF, tal 
indicação carece de aprovação do Senado Federal. 
Os 33 Ministros devem ser escolhidos tendo em mente os seguintes critérios: 
- 11 devem ser escolhidos entre desembargadores federais dos Tribunais Regionais 
Federais; 
- 11 devem ser escolhidos entre desembargadores dos Tribunais Estaduais; 
- 11 devem ser escolhidos dentre advogados ou membros do Ministério Público. 
3.3 Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 
Embora não exerça jurisdição propriamente, um estudo completo da estrutura básica do 
Poder Judiciário não poderia deixar de abordar este Conselho, instituído no artigo 103-B 
da CF/88 pela Emenda Constitucional 45/04. 
Tal Conselho, objeto de muita controvérsia e discussões acerca de sua 
constitucionalidade, deve ser composto por 15 membros com mais de 35 anos e menos 
de 66 anos, com mandato de 2 anos, permitida uma recondução. Interessante na 
composição deste Conselho é a inclusão de membros indicados pelo Ministério Público, 
pela OAB e dois cidadãos com notório saber jurídico indicados pelo Poder Legislativo. 
O Conselho Nacional de Justiça colima o controle da atuação administrativa e financeira 
do Poder Judiciário, bem como zelar pelo cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. 
3.4 Justiça Federal (Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais) 
A Justiça Federal é prevista na Constituição Federal nos arts. 106/110. É composta pelos 
Tribunais Regionais Federais os Juízes Federais. 
À Justiça Federal compete processar e julgar todos os feitos em que a União, autarquias, 
empresas públicas e fundações públicas e federais sejam autoras, rés ou intervenientes, 
bem assim os processos criminais quando se tratar de crimes que o Brasil, por convenção 
internacional, obrigou-se a coibir. 
Os Tribunais Regionais Federais são compostos por no mínimo 07 juízes, recrutados, 
quando possível, na região do Tribunal. São nomeados pelo Presidente da República 
dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos, sendo certo que 1/5 dos nomeados 
deve ser dentre advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e 
membros do Ministério Público Federal com mais de 10 anos de carreira. Os outros 
membros são escolhidos mediante a promoção de juízes federais com mais de 05 anos de 
exercício, promovidos por antiguidade ou merecimento. 
3.5 Justiça do Trabalho 
A Justiça do Trabalho é prevista nos arts. 111/116 da CF/88. É composta pelo Tribunal 
Superior de Trabalho (TST), Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) e Juízes do 
Trabalho. 
O Tribunal Superior do Trabalho é composto por 27 Ministros, todos escolhidos dentre 
brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos. São nomeados pelo Presidente da 
República, dependendo de aprovação do Senado Federal. A composição do TST deve 
conter um 1/5 de membros entre advogados com mais de 10 anos de efetividade 
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de 10 anos de 
efetivo exercício. Os demais membros devem ser indicados através de promoção entre 
juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho oriundos da Magistratura. 
Já os Tribunais Regionais do Trabalho são compostos por no mínimo 07 juízes, 
recrutados, quando possível, na respectiva região. São nomeados pelo Presidente da 
República, dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos, sendo 1/5 dentre 
advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e membros do 
Ministério Público do Trabalho com mais de 10 anos de efetivo exercício e os demais 
retirados mediante promoção de juízes do trabalho, seja por merecimento, seja por 
antiguidade. 
Os órgãos da Justiça do Trabalho são o Tribunal Superior do Trabalho (TST), os Tribunais 
Regionais do Trabalho (TRTs) e os Juízes do Trabalho. Compete-lhe julgar as causas 
oriundas das relações de trabalho. Os Juízes do Trabalho formam a primeira instância da 
Justiça do Trabalho e suas decisões são apreciadas em grau de recurso pelos TRTs. O 
TST, dentre outras atribuições, zela pela uniformidade das decisões da Justiça do 
Trabalho. 
Em 31.12.2004 teve a sua competência fortemente ampliada, para processar e julgar toda 
e qualquer causa decorrente das relações de trabalho, o que inclui os litígios envolvendo

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