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Intoxicação e seus desdobramentos MÓDULO XII TUT1

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Objetivos 
1) Definir intoxicação e identificar seus tipos de acordo com a evolução. 
2) Identificar as possíveis etiologias das intoxicações. 
3) Identificar as vias de intoxicação. 
4) Identificar os principais agentes tóxicos envolvidos nas intoxicações, indicando seus aspectos 
epidemiológicos. 
5) Descrever a ação, no organismo humano, desencadeada pela intoxicação por piretroides, carbamatos, 
organoclorados e organofosforados, incluindo suas manifestações clínicas e os antídotos usados em cada 
caso. 
6) Identificar as causas e sintomas das principais síndromes toxicológicas. 
7) Descrever as condutas terapêuticas gerais na abordagem inicial do paciente agudamente intoxicado. 
8) Identificar os órgãos de notificação e de orientação em casos de intoxicações. 
1)Intoxicação e seus tipos de acordo com a evolução. REFERÊNCIA: Fundamentos de toxicologia – Seizi Oga. 
 Conceitos básicos 
Toxicologia: ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações de substâncias químicas com o 
organismo, sob condições específicas de exposição. Essa ciência investiga a ocorrência, a natureza, a incidência, 
os mecanismos e os fatores de risco dos efeitos deletérios de agentes químicos. 
Os efeitos tóxicos variam desde os considerados leves (irritação dos olhos) até respostas mais sérias (dano 
hepático ou renal), que podem ser tão graves quanto a incapacitação permanente de um órgão, como a cirrose ou 
o câncer. 
Efeito nocivo: 
- Pode ser produzido numa exposição prolongada resultante em transtornos da capacidade funcional e/ou da 
capacidade do organismo em compensar nova sobrecarga. 
- Diminui perceptivelmente a capacidade do organismo de manter sua homeostasia, quer sejam efeitos reversíveis 
ou irreversíveis. 
- Aumenta a suscetibilidade aos efeitos indesejáveis de outros fatores ambientais tais como os químicos, os 
físicos, os biológicos ou os sociais. 
Agente tóxico ou toxicante: Entidade química capaz de causar dano a um sistema biológico, alterando 
seriamente uma função ou levando-o à morte, sob certas condições de exposição. 
Veneno é um termo de uso popular utilizado para designar a substância química, ou mistura de substâncias 
químicas, que provoca a intoxicação ou a morte com baixas doses, como também reservado para designar 
substâncias provenientes de animais, nos quais teriam importantes funções de autodefesa ou de predação. 
O conceito de toxicante envolve um aspecto quantitativo e outro qualitativo. 
 O toxicante no aspecto quantitativo significa que praticamente toda substância, perigosa em certas doses, 
pode ser desprovida de perigo em doses muito baixas. Como o cloreto de vinila, que é um potente hepatotóxico 
em doses elevadas, é um carcinógeno em exposição prolongada a baixas doses e, aparentemente desprovido de 
efeito nocivo em doses muito baixas. 
 No aspecto qualitativo, pode-se considerar que uma substância nociva para uma espécie ou linhagem, 
pode ser desprovida de perigo para outra espécie. Como o tetracloreto de carbono, altamente hepatotóxico para 
várias espécies, incluindo o homem, é relativamente seguro para frangos. 
Droga é toda substância capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou estado patológico, utilizada com 
ou sem intenção de benefício do organismo receptor. Difere do fármaco pois este e definido como sendo toda 
substância de estrutura química definida, capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou estado 
patológico em benefício do organismo receptor. 
Antídoto é um agente capaz de antagonizar os efeitos tóxicos de substâncias. 
A propriedade de agentes tóxicos de promoverem injúrias às estruturas biológicas, por meio de interações físico-
químicas, é chamada toxicidade. A toxicidade é a capacidade inerente e potencial do agente tóxico de provocar 
efeitos nocivos em organismos vivos. A toxicicidade raramente pode ser definida como um evento molecular 
único; preferentemente, envolve uma cascata de eventos que se iniciam com a exposição, seguida de distribuição 
e biotransformação e terminando em interações com macromoléculas (como o DNA ou proteínas) e a expressão 
de um end point para o efeito nocivo. 
Ação tóxica é a maneira pela qual um agente tóxico exerce sua atividade sobre as estruturas teciduais. Toxicidade 
deve ser diferenciada de risco, termo que traduz a probabilidade estatística de uma substância química provocar 
efeitos nocivos em condições definidas de exposição. 
A intoxicação é a manifestação dos efeitos tóxicos. É um processo patológico causando por substâncias químicas 
endógenas ou exógenas e caracterizado por desequilíbrio fisiológico, em consequência das alterações bioquímicas 
no organismo. Esse processo é evidenciado por sinais e sintomas ou mediante exames laboratoriais. 
 Tipos de acordo com a evolução 
Os complexos eventos envolvidos na intoxicação, desde a exposição do organismo ao toxicante até o 
aparecimento de sinais e sintomas, podem ser desdobrados, para fins didáticos, em quatro fases, ditas fases de 
intoxicação. 
a) Fase de exposição. É a fase em que as superfícies externa ou interna do organismo entram em contato com o 
toxicante. É importante considerar, nesta fase, a dose ou a concentração do xenobiótico, a via de introdução, a 
frequência e o duração da exposição, as propriedades físico-químicas das substâncias, assim como a 
susceptibilidade individual. Todos estes fatores condicionam a disponibilidade química do xenobióticos, ou seja, 
a fração do mesmo disponível para a absorção. 
b) Fase toxicocinética. Inclui todos os processos 
envolvidos na relação entre a absorção e a concentração do 
agente tóxico nos diferentes tecidos do organismo, através 
dos deslocamentos da substância no organismo. Intervêm 
nessa fase absorção, distribuição, armazenamento, 
biotransformação e os processos de excreção de 
substâncias químicas. As propriedades físico-químicas dos 
toxicantes determinam o grau de acesso aos órgãos-alvo, 
assim como a velocidade de sua eliminação do organismo. O balanço destes movimentos é que condiciona a 
biodisponibilidade do substância. 
c) Fase toxicodinâmica. Compreende a interação entre as moléculas do toxicante e os sítios de ação, específicos 
ou não, dos órgãos e, consequentemente, o aparecimento de desequilíbrio homeostásico. 
d) Fase clínica. É a fase em que há evidências de sinais e sintomas, ou ainda alterações patológicas detectáveis 
mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela interação do toxicante com o 
organismo. 
REFERÊNCIA: Toxicologia - Janis Elisa Ruppenthal – UFSM 
 Classificações 
De acordo com o tempo de exposição 
• Intoxicação aguda – decorre de um único contato (dose única/relacionado à potência da droga) ou múltiplos 
contatos (efeitos cumulativos) com o agente tóxico, num período de tempo aproximado de 24 horas. Os efeitos 
surgem de imediato ou no decorrer de alguns dias, no máximo 2 semanas. 
• Intoxicação sobreaguda ou subcrônica – exposições repetidas a substâncias químicas. Denomina-se intoxicação 
sobreaguda quando ocorre exposição durante um período menor ou igual a 1 mês. Enquanto que, para períodos 
entre 1 a 3 meses, classifica-se como intoxicação subcrônica. 
• Intoxicação crônica – efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas do toxicante, num período 
prolongado, geralmente maior de 3 meses chegando até a anos. 
Segundo a severidade 
• Leve – são rapidamente reversíveis, e desaparecem com o fim da exposição. 
• Moderada – quando os distúrbios são reversíveis e não são suficientes para provocar danos. 
• Severa – quando ocorrem mudanças irreversíveis suficientemente severas para produzir lesões graves ou morte. 
Segundo a EPA 
• Local aguda – efeitos sobre pele, membranas mucosas e olhos após exposição que varia de segundos a horas. 
• Sistêmica aguda – efeitos nos diversos sistemas orgânicos após absorção de substâncias por diversas vias, a 
exposição pode serde segundos ou horas. 
• Local crônica – efeitos sobre pele e olhos após repetidas exposições durante meses e anos. 
• Sistêmica crônica – efeitos nos sistemas orgânicos após repetidas exposições por diversas vias durante longo 
período de tempo. 
Outras classificações 
• Desconhecida – quando os dados toxicológicos sobre a substância são insuficientes. 
• Imediata – ocorre rapidamente após única exposição. 
• Retardada – ocorre rapidamente após longo período de latência. 
2) Etiologias das intoxicações. REFERÊNCIA: SCHVARTSMAN, Samuel & ALMEIDA, Waldemar F. Tratamento das 
Intoxicações Agudas. 4.ª ed., São Paulo: Associação Nacional de Defensivos Agrícolas, 1989. 
As principais etiologias toxicológicas são: 
· Acidentais 
· Iatrogênicas 
· Profissionais 
· Suicidas 
· Homicidas 
· Rurais 
· Urbanas 
· Sociais (toxicomanias) 
· Genéticas 
a) INTOXICAÇÕES ACIDENTAIS 
São as mais correntes em pediatria. As crianças se intoxicam ao ingerir medicamentos, substâncias cáusticas 
(ácidos ou álcalis), domissanitários ou defensivos devido as mais diversas circunstâncias, seja durante suas 
peripécias e brincadeiras, seja motivada pelo descuido e imprudência dos adultos ou sem causas aparentemente 
justificadas. Também sofrem, semelhante aos adultos, mas com agravo clínico de grandes proporções, as 
consequências das emanações de monóxido de carbono das cozinhas e de calefações; ou comem alimentos 
venenosos por conterem toxinas naturais ou por contaminação extrínseca; ou confundem plantas venenosas com 
as que não são, frequentemente ingerindo sementes altamente tóxicas como a do pinhão-bravo (pinhão-paraguaio 
Jatropha sp.); ou são vítimas de picadas de animais peçonhentos como serpentes, escorpiões, aranhas, lacraias ou 
lepidópteros. Absorvem através da pele as anilinas das tintas de suas roupas e sapatos, pelo couro cabeludo 
componentes de xampus pediculocidas a base de piretróides, cuja absorção e toxicidade são amplificados em 
virtude de lesões de continuidade provocadas pelo repetido ato das crianças de coçar a cabeça com as unhas. 
Muito preocupante, é a utilização indiscriminada do acaricida tóxico NEOCIDâ (tem 02 organofosforados: 
malation/ diclorvós) consagrado pela medicina popular como potente ectoparasiticida é lipossolúvel e penetra a 
pele integra. Outra forma que merece destaque é a intoxicação acidental medicamentosa, muito presente em 
Pronto-Socorros e Centros de Saúde, determinando muitas vezes, severo agravo à saúde, particulamente da faixa 
etária de 1-4 de idade, a mais acometida. Na verdade, as toxinas, os venenos, as substâncias nocivas podem 
ingressar em nosso organismo por qualquer via, às vezes sem que o paciente ou seus familiares percebam e se 
previnam contra essa eventualidade. A respeito dessa causa de intoxicação, toda precaução e todo cuidado são 
poucos, todos nós estamos o tempo todo sob risco iminente. 
Muitas formas de intoxicação são sutis, estão inseridas no nosso cotidiano e estão implícitas, nos contaminado 
cronicamente, de modo contínuo, ininterrupto até a saturação completa dos nossos mecanismos de ajuste e 
controle homeostáticos, gerando diversos distúrbios patológicos de diagnósticos difíceis e terapias marcadas pelo 
insucesso. 
b) IATROGÊNICAS 
Esta forma engloba os quadros clínicos causados por tratamentos e terapias, especialmente a farmacoterapia 
prescrita e não-prescrita. Podem ser devidos à sensibilidade individual do paciente, a idiossincrasia (seja uma 
resposta idiossincrásica por hiperdinamia, hipodinamia ou paradinamia), como as alergias dos pacientes frente a 
doses normais de certas drogas dentro de uma tratamento convencional (penicilina, sulfamidas, salicilatos, etc) 
gerando as farmacoalergias; ou também a tratamentos errôneos executados por leigos inaptos e imperitos como 
curandeiros. Intoxicações por "chá de papoula", "anis estrelado" e tantos outros elementos da medicina folclórica 
brasileira, que ainda se multiplicam em nosso meio e se apoiam nas crenças populares e num sistema público de 
saúde deficitário e mercantilista. As intoxicações por salicilatos (AAS, aspirina), por exempo, são muito comuns, 
porque os adultos dão este medicamento às crianças em quantidades que ultrapassam as doses terapêuticas e as 
administram sob o pretexto de alimento ou como "docinho" agradável ao paladar, deturpando completamente o 
real significado do medicamento, bem como sua finalidade. As atrosidade tarapêuticas não param por aí, xaropes 
antitussígenos a base de codeína ou de depressores respiratórios são prescritos e indicados para tratar afecções 
gripais ou rino-alérgicas; sedativos e psicofármacos somados a toda e variada gama de medicamentos que são 
autoprescritos encerram potencialmente perigos colaterais que conduzem a sintomatologia tóxica ou a 
verdadeiros envenenamentos. 
c) PROFISSIONAIS 
Também chamada de ocupacional, esta etiologia afeta a quem trabalha com substâncias tóxica e também a seus 
familiares e pessoas diretamente ligadas ao convívio no ambiente de trabalho. Pequenas indústrias estabelecidas 
no próprio lar; ofocinas de reparação de acumuladores elétricos para veículos automotores, impressoras, oficina 
de cromados, lojas de pinturas com tintas contendo chumbo, podem determinar o saturnismo, tinturarias, fábricas 
metalúrgicas, indústrias de borracha, etc. É imprescindível averiguar cuidadosamente na anamnese do doente a 
natureza de suas tarefas profissionais para esclarecer uma possível relação causa/efeito de sua enfermidade, 
traçando uma sensata hipótese diagnóstica. Igual conduta cabe ao pediatra e ao farmacêutico ao interrogar sobre 
o ambiente em que vive a criança. 
d) SUICIDA 
A auto-intoxicação deliberada é o epifenômeno de uma enfermidade cujo verdadeiro diagnóstico não é o coma 
barbitúrico ou o coma tóxico e sim tentativa de suicício (TS) ou ainda, tentativa de autoextermínio (TAE). Feito 
o diagnóstico correto do caso - a cada dia mais freqüente e numeroso - o tratamento não se limitará ao cuidado 
urgente do quadro tóxico e manutenção das funções vitais, imperativo ineludível para salvar a vida, mas deverá 
complementar-se de maneira harmônica, com o enfoque e cuidado global do paciente em sua patologia 
psicossocial. Para isto têm sido criados os Centros de Assistência ao Suicida, destinados a facilitar a reabilitação 
daqueles que tentaram se auto-eliminar para prevenir possíveis tentativas. Estes Centros estão ligados a uma 
entidade internacional que planifica a tarefa comum, enquadrada na integração de esforços através de equipes 
constituídas por toxicólogos, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e voluntários. A equipe multiprofissional 
deve auxiliar nessas crises vitais para resgatar efetivamente a vontade de viver do suicida, recuperando-o 
integralmente, removendo as causas do episódio e melhorando, na medida do possível, a psicopatologia 
individual de cada caso. Nas cidades grandes, onde as TS ocorrem com maior freqüência, é recomendável a 
criação de Centros Multiprofissionais de Assistência ao Suicida, para atender ao problema de forma idônea e 
integral. 
 
 
https://pfarma.com.br/
e) HOMICIDAS 
A suspeita de homicídios por envenenamentos escapa à responsabilidade de juízes, funcionários ou policiais, que 
intervém após a denúncia, e corresponde ao médico comum, em sua prática diária, pública ou particular. No 
capítulo da medicina legal, assim como outros desta especialidade, é de natureza eminentemente clínica. O crime 
mediante o uso de tóxicos toma contato direto com o médico através da vítima "enferma". Uma negligência 
culposa surge com o fornecimento de atestado de óbito sem haver suspeitado do mecanismo anômalo da morte, 
atendo-se ao simples dado do processo terminal. 
A toxicologia apresenta-se com os quadros da medicina corrente: neurológicos, psiquiátricos, cardiovasculares, 
hepáticos, etc. O que vale não é o diagnóstico sintomático, correto porém insuficiente, e simo etiológico. 
Não devemos relegar este tipo de homicídio a reduzidos ambientes sórdidos e excêntricos ou limitar-se a 
possibilidades dos argumentos de novelas, cinema ou televisão. Nas famílias mais bem conceituadas podem 
existir personalidades alteradas, desígnios funestos ou paixões aberrantes capazes de provocar intoxicações 
delituosas. 
f) RURAIS 
A medicina rural atua em muitos quadros de intoxicação: defensivos agrícolas, plantas tóxicas, animais 
peçonhentos e intoxicações endêmicas. Quanto aos agropesticidas, estes nos obrigam a mantermos uma 
atualização constante do conhecimento, pois se renovam periodicamente em suas fórmulas químicas, variando 
por isso a sua sintomatologia característica, seu grau de toxicidade e um tratamento específico e eficiente, 
juntamente com um antídoto em particular. 
Hoje em dia não há propriedade rural que não os manuseie. O perigo ameaça o trabalhador e também sua família 
em contato direto ou indireto com tão perigosas substâncias. Médicos e farmacêuticos atuam em um duplo papel 
de curar as intoxicações, individuais ou coletivas, e de trabalhar com agentes de saúde e de medicina preventiva. 
Devem aproveitar o contato com seus pacientes para elucidá-los sobre os perigos potenciais desses produtos, seu 
uso correto, as precauções que devem tomar, a destruição das embalagens vazias, a tríplice lavagem das 
embalagens vazias, o cuidado com a contaminação da água dos mananciais, represas, rios, lençol freático, e os 
cuidados constantes com os alimentos tratados com defensivos agrícolas. 
É extremamente útil e valioso a vinculação interprofissional de médicos e farmacêuticos com engenheiros 
agrônomos e veterinários, pois de sua tarefa comum redundarão evidentes benefícios para a saúde rural e urbana. 
g) URBANA 
Uma característica das grandes cidades é a chamada poluição urbana, que em alguns centros urbanos está 
assumindo proporções significativas. Descrevem-se dois tipos mais importantes: a poluição oxidante ou tipo "Los 
Angeles", em que a principal fonte são os veículos automotores, e a redutora ou tipo "Londres", consequente à 
queima de materiais para a produção de calor. Em ambos os casos as consequências sobre o ser humano são 
expressivas, pois apesar de geralmente não muito graves atingem proporção considerável da população. Os 
principais agentes químicos envolvidos são o monóxido de carbono, óxidos de enxofre e de nitrogênio, 
hidrocarbonetos e ozônio. 
 
h) SOCIAIS 
As toxicomanias não se reduzem aos casos graves, se bem que felizmente pouco frequentes, de morfinômanos 
ou cocainômanos. O diagnóstico clínico deve ser feito segundo a pessoa e não conforme a droga. É necessário 
estabelecer a existência de uma dependência entre o enfermo (toxicomaníaco) e o tóxico. Esta relação produz 
euforia, hábito, costume e determina a síndrome de abstinência quando o organismo do viciado se priva do tóxico. 
Entretanto, a marca patognomônica de uma toxicomania é a mudança de personalidade, ou seja, a 
despersonalização. Este conjunto de sinais e sintomas nos leva à conclusão de que estamos diante de um 
toxicômano, ainda que aparentemente a droga motivadora seja menos tirana que a morfina e a cocaína. O enfoque 
supracitado autoriza a considerar como toxicômano os alcoólatras, os fumantes inveterados, os habituados aos 
barbitúricos e às anfetaminas, etc. A transferência da personalidade de um indivíduo acarretado pelas drogas, 
gerando os fenômenos e síndromes inerentes a dependência química ou a dependência psíquica, está sempre 
presente para aquelas substâncias consideradas drogas despersonalizantes e por isso, dentre outros efeitos nocivos 
ao organismo humano, são na sua maioria ilícitos e tem seu tráfico combatido pela polícia federal. 
O toxicômano carece de tratamento especial e deve estar amparado por uma equipe multiprofissional (médicos, 
toxicólogos, farmacêuticos, psicólogos e assistentes sociais) juntamente com a família e amigos, objetivando a 
perda lenta e progressiva do hábito de consumir a droga como uma parte desintoxicante e outra, mais 
transcendental, de natureza psiquiátrica, tentando restaurar o livre-arbítrio do enfermo e romper todos os elos de 
ligação toxicômano-droga até anular completamente todos os níveis de dependência à droga. 
Em pediatria tem-se diagnosticado a toxicomania de "cheirar colas", prouzidas pela inalação de solventes voláteis 
que causam embriaquez e narcose, conduzindo, às vezes, ao coma grave. A questão é bastante preocupante, em 
virtude da facilidade da instalação da dependência química, pois as criança tornam-se viciadas logo após as 
primeiras experiências com a aspiração dos solventes das colas modernas como a cola de sapateiro, a qual pode 
determinar lesões irreversíveis no SNC. 
i) GENÉTICAS 
O processamento desta matéria tem esclarecido muitos quadros considerados como de "idiossincrasia a drogas", 
mas na realidade, correspondem a falhas genéticas que provocam deficiências enzimáticas. Grupos étnicos, 
geneticamente puros, que não toleram anestesia nem medicamentos depressores do SNC; labilidade tipo familiar 
nos eritrócitos de certas pessoas afetadas por quadros de hemólise intravascular e icterícia provocada, por 
exempo, pela ingestão de certas favas ou de produtos farmacêuticos, por não possuírem a enzima glicose-6-
fosfato-desidrogenase suficiente para o metabolismo da hemácia, "acatalásia" ou impossibilidade de decompor a 
água oxigenada, por ausência das catalases no sangue; aqueles indivíduos da raça dos Judeos com deficiência de 
esterases séricas (principalmente a butirilcolinesterase) que não conseguem hidrolisar a succilcolina (bloqueador 
neuromuscular) podem evoluir para dispnéia, apnéia e parada respiratória. O panorama é amplo e este enfoque 
permite explicar quadros considerados antes como idiopáticos ou de origem desconhecida. 
3) Vias de intoxicação. REFERÊNCIA: Fundamentos de toxicologia – Seizi Oga. 
ABSORÇÃO: É a passagem de substâncias do local de contato para a circulação sanguínea. 
As principais vias de exposição de agentes tóxicos no organismo são a dérmica, a oral e a respiratória. Outras 
vias, tais como a intramuscular, a intravenosa e a subcutânea constituem meios normais de introdução de agentes 
medicamentosos que, dependendo da dose e das condições fisiológicas ou de doença do paciente, podem produzir 
efeitos adversos acentuados, com lesões graves em diversos órgãos. 
Absorção dérmica: A pele é um órgão formado por múltiplas camadas de tecidos, contribuindo com cerca de 
10% de peso corpóreo. A camada mais externa, a epiderme, contém o estrato córneo que é a barreira limitante da 
absorção. A camada mais interna é a derme, composta de tecido gorduroso, conjuntivo, irrigado por capilares e 
vasos sanguíneos e onde estão inseridos os folículos pilosos e as glândulas sudoríparas. A pele é relativamente 
impermeável à maioria dos íons, bem como às soluções aquosas; entretanto, é permeável a grande número de 
toxicantes sólidos, gases e líquidos lipossolúveis. 
Algumas substâncias atuam diretamente sobre a pele, causando efeitos deletérios na epiderme, como corrosão, 
sensibilização e até mesmo mutações gênicas. Ácidos, bases e certos sais e oxidantes são exemplos de substâncias 
que comumente causam efeitos locais. A atividade desses agentes pode se restringir aos tecidos de contato ou 
estender-se aos tecidos mais profundos da derme, promovendo efeitos sistêmicos. 
Os efeitos sistêmicos resultam da atuação de toxicantes sobre as células ou tecidos distantes do local de acesso, 
após sua absorção e distribuição pelo organismo. As substâncias de elevado coeficiente de partição óleo/água são 
absorvidas com maior facilidade por difusão lipídica, através do estrato córneo. Em menor escala, passam pelos 
folículos pilosos e canais de glândulas sudoríparas. 
Absorção transepidérmica 
A absorção dos agentes químicos pela pele tem sua velocidade limitada pela região córnea da epiderme,mais 
precisamente pelo extrato córneo contínuo. As substâncias lipossolúveis penetram por difusão passiva através 
dos lípides existentes entre os filamentos de queratina, sendo a velocidade desta absorção indiretamente 
proporcional à viscosidade e volatilidade do agente. Já as substâncias polares, de baixo peso molecular, penetram 
através da superfície externa do filamento de queratina. A absorção transepidérmica é o tipo de absorção cutânea 
mais frequente, devido ao elevado número de células epidérmicas existente, embora não seja uma penetração 
muito fácil para os AT. 
Absorção transfolicular 
O número de folículos pilosos representa apenas a 0,1 a 1% da superfície total da pele. Sendo assim, esta absorção 
não é tão significativa quanto a transepidérmica. Algumas substâncias químicas podem penetrar pelos folículos 
pilosos, alcançando rapidamente a derme. É uma penetração fácil para os agentes químicos, uma vez que eles 
não necessitam cruzar a região córnea. 
Fatores que influem na absorção cutânea 
Podem ser agrupados em quatro classes diferentes: 
 - Fatores ligados ao organismo 
✓ Superfície corpórea: homem > mulher. Este fato pode aumentar a absorção transepidérmica no homem. 
✓ Volume total de água corpórea: quanto maior o volume aquoso corpóreo, maior a hidratação da pele e, 
consequentemente, a absorção pela pele. Quando comparado à mulher, o homem possui maior volume 
aquoso, o que favorece a absorção cutânea. 
✓ Abrasão da pele: pele lesionada torna-se mais fácil a penetração. 
✓ Fluxo sanguíneo através da pele: quanto maior o fluxo sanguíneo na região, maior a absorção (i.e., 
gestantes). 
✓ Pilosidade: nas áreas em que existem pelos, a absorção cutânea pode ser 3,5 a 13 vezes maior do que 
nas regiões glabras. 
- Fatores ligados ao agente químico 
✓ Volatilidade e viscosidade 
✓ Grau de ionização 
✓ Tamanho molecular 
- Fatores ligados à presença de outras substâncias na pele 
✓ Vasoconstritores: vão reduzir a absorção cutânea, devido à diminuição da circulação sanguínea. 
✓ Veículos: podem auxiliar na absorção, mas não promovem a penetração de substâncias que, 
normalmente, não seriam absorvidas pela pele íntegra. 
✓ Água: a pele tem cerca de 90 g de água por grama de tecido seco. Isto faz com que a sua permeabilidade 
seja 10 vezes maior do que aquela do extrato totalmente seco. O contato prolongado com água pode 
aumentar a hidratação da pele em 3 a 5 vezes, o que resultará em um aumento na permeabilidade 
cutânea em até 3 vezes. 
✓ Agentes tensoativos: os sabões e detergentes são substâncias bastantes nocivas para a pele. Provocam 
alteração na permeabilidade cutânea. 
✓ Solventes orgânicos: aumentam a absorção cutânea para qualquer tipo de agente químico, pois 
removem lipídeos e lipoproteínas presentes no extrato córneo, tornando-o poroso e menos seletivo. 
- Fatores ligados às condições de trabalho (exposição ocupacional) 
✓ Tempo de exposição 
✓ Temperatura do local de trabalho: a cada 10ºC de aumento na temperatura pode haver um aumento de 
1,4 a 3 vezes na velocidade de penetração cutânea de agentes químicos. 
DISTRIBUIÇÃO 
Após a entrada do AT na corrente sanguínea, seja através da absorção ou por administração direta, ele estará 
disponível para ser distribuído pelo organismo. Normalmente a distribuição ocorre rapidamente e a velocidade e 
extensão desta dependerá principalmente do: 
✓ Fluxo sanguíneo através dos tecidos de um dado órgão; 
✓ Facilidade com que o tóxico atravessa a membrana celular e penetra nas células de um tecido. 
Assim, aqueles fatores que influem no transporte por membranas, discutidos anteriormente, serão importantes 
também na distribuição. Alguns agentes tóxicos não atravessam facilmente as membranas celulares e por isto tem 
uma distribuição restrita enquanto outros, por atravessá-las rapidamente, se distribuem através de todo organismo. 
Durante a distribuição o agente alcançará o seu sítio alvo, que é o órgão ou tecido onde exercerá sua ação tóxica, 
mas poderá, também, se ligar a outros constituintes do organismo, concentrando-se em algumas partes do corpo. 
A distribuição do AT através do organismo ocorrerá de maneira não uniforme, devido a uma série de fatores que 
podem ser reunidos em dois grupos: Afinidade por diferentes tecidos e Presença de membranas. 
ARMAZENAMENTO 
Os agentes tóxicos podem ser armazenados no organismo, especialmente em dois tecidos distintos: 
✓ Tecido adiposo: como a lipossolubilidade é uma característica fundamental para o transporte por 
membranas, é lógico imaginar que os agentes tóxicos de uma maneira geral poderão se concentrar no 
tecido adiposo. O tecido adiposo constitui 50% do peso de um indivíduo obeso e 20% de um magro. 
Sendo o armazanemanto um mecanismo de defesa é lógico imaginar que a toxicidade de um AT não 
será tão grande para o obeso como para o magro. 
✓ Tecido Ósseo: também pode servir como local de armazenamento de agentes químicos inorgânicos, 
tais como flúor, chumbo e estrôncio. Esse armazenamento reversível, podendo o AT ser liberado do 
osso de diversas formas. 
ELIMINAÇÃO 
Aceita-se, atualmente, que a eliminação é composta de dois processos distintos: a biotransformação e a excreção. 
a) Biotransformação: A intensidade e duração de uma ação tóxica é determinada, principalmente, pela 
velocidade de biotransformação do agente no organismo. Segundo alguns autores, se não existisse a 
biotransformação, o organismo humano levaria cerca de 100 anos para eliminar uma simples dose 
terapêutica de pentobarbital, que é um fármaco muito lipossolúvel. 
Pode-se conceituar Biotransformação como sendo o conjunto de alterações maiores ou menores que um agente 
químico sofre no organismo, visando aumentar sua polaridade e facilitar excreção. 
Existem dois mecanismos da Biotransformação: 
Mecanismo de Ativação, que produz metabólitos com atividade igual ou maior do que o precursor. Ex.: a piridina 
é biotransformada ao íon N-metil piridínico que tem toxicidade cinco vezes maior que o precursor. 
Mecanismo de Desativação, quando o produto resultante é menos ativo (tóxico) que o precursor. É o mais comum 
de ocorrer para os xenobióticos. 
 
A biotransformação pode ocorrer em qualquer órgão ou tecido orgânico como, por exemplo, no intestino, rins, 
pulmões, pele, etc. No entanto, a grande maioria das substâncias, sejam elas endógenas ou exógenas serão 
biotransformadas no fígado. 
b) Excreção: Muitas vezes denominada eliminação, embora pelo conceito atual a eliminação é também 
o processo de biotransformação. A excreção pode ser vista como um processo inverso ao da absorção, 
uma vez que os fatores que influem na entrada do xenobiótico no organismo podem dificultar a sua 
saída. Basicamente existem três classes de excreção: 
✓ Eliminação através das secreções, tais como a biliar, sudorípara, lacrimal, gástrica, salivar e láctea. 
✓ Eliminação através das excreções, tais como urina, fezes e catarro. 
✓ Eliminação pelo ar expirado. 
O processo mais importante para a Toxicologia é a excreção urinária. 
Absorção pela via respiratória: A via respiratória é uma via de entrada importante de substâncias tóxicas para 
o organismo; as partículas sólidas ou líquidas suspensas no ar atmosférico, assim como gases e substâncias 
voláteis, passam pelas fossas nasais. faringe, laringe, brônquios, traqueia e alvéolos pulmonares, alcançando a 
circulação sanguínea sistêmica. 
As partículas suspensas no ar, com diâmetro menor do que 1um, podem chegar até aos alvéolos pulmonares, 
juntamente com o ar inspirado onde são absorvidas ou removidas pela linfa. pela fagocitose por macrófagos 
alveolares ou pela aspiração para o muco dos alvéolos da região 
traqueobronquial. Nesta localização são transportadas para boca e 
podem ser aspiradas. 
As partículas de 2 a 5 µm, geralmente, depositam-se na região 
traqueobronquiolar e, em seguida, são transportadas pelos mecanismos 
semelhantes aos descritos acima. As partículasmaiores que 5 µm tendem 
a ser retidas na região nasofaríngea e posteriormente são removidas por 
processos mecânicos de limpeza do nariz ou espirro. Os efeitos tóxicos 
mais comumente observados são inflamação e irritação das vias aéreas 
superiores. 
A absorção de gases e substâncias voláteis depende basicamente de sua solubilidade no sangue e ocorre 
principalmente nos pulmões. Vapores ou gases hidrossolúveis, quando inalados, são retidos parcialmente pela 
mucosa nasal, a qual é coberta por uma fina camada de fluido. À medida que as moléculas de gases atingem os 
alvéolos, se difundem para os sangue. onde são dissolvidas e assim distribuídas para os tecidos. Instala-se, após 
algum tempo, um equilíbrio dinâmico entre as moléculas contidas no ar inspirando e as dissolvidas no sangue. O 
equilíbrio é estabelecido rapidamente com as substâncias pouco solúveis e lentamente com as substâncias 
altamente solúveis. Nesse momento, é constante a relação da concentração do gás no sangue e no ar. A relação 
de solubilidade nos dois meios é denominada coeficiente de partição sangue/ar e é constante para cada gás. 
No estado de equilíbrio, a passagem de gás do espaço alveolar para o sangue é igual a quantidade de sua liberação 
do sangue para o espaço alveolar. Substâncias de alto coeficiente de partição sangue/ar, como clorofórmio, 
passam facilmente do ar para o sangue, ao passo que substâncias de baixo coeficiente de partição, como etileno, 
somente pequena quantidade é difundida para o sangue, em virtude de sua rápida saturação. 
A estimulação da circulação sanguínea e aumento da perfusão pulmonar favorecem principalmente a absorção 
de gases de baixo coeficiente de partição sangue/ar e pouco influi na absorção de gases de alto coeficiente de 
partição. No entanto, o aumento da frequência respiratória acentua predominantemente a absorção de gases de 
alto coeficiente de partição sangue/ar. Portanto, o fator limitante da 
absorção de gases e vapores de baixo coeficiente de partição sangue/ar é 
a circulação, e o de gases ou vapores de alto coeficiente de partição 
sangue/ar é a respiração. 
Absorção oral: Outra via importante de exposição aos toxicantes é o 
trato digestivo. A ingestão pode ser acidental, por meio de água ou alimentos contaminados, ou voluntária, no 
ato suicida ou na ingestão de drogas por indivíduos dependentes. A via oral é também a principal via de 
administração de medicamentos, muitos dos quais são responsáveis pelos efeitos adversos ao organismo. A 
absorção pode ocorrer tanto no estômago como no intestino. A absorção em cada compartimento é dependente 
da variação de pH, irrigação e características anatômicas, bem como das propriedades físico-químicas do agente 
tóxico. Desta forma, um dos fatores que favorecem a absorção de nutrientes e xenobióticos no intestino é a 
presença de microvilosidades altamente irrigadas, que proporciona grande área de superfície. 
A barreira no processo de absorção de substâncias é formada pela mucosa do trato digestivo e pelos epitélios 
capilares. Daí a facilidade de absorção de substâncias lipofílicas por difusão passiva. De modo geral, os 
compostos com elevado coeficiente de partição óleo/água são facilmente absorvidos, enquanto substâncias 
altamente polares são pouco absorvidas. O curare, um composto de amônio quaternário, não é absorvido pelo 
trato digestivo, daí a explicação porque as caças, abatidas com flecha contaminada pelo curare, não intoxicam as 
pessoas que se alimentam de suas carnes. 
O pH e o pKa são importantes, particularmente para absorção de eletrólitos fracos. Tomando-se como exemplo 
o ácido benzóico, um ácido de pKa igual a 4, e a anilina de natureza básica de pKa igual a 5, o grau de ionização 
é variável conforme o pH do meio. O ácido benzóico ioniza-se intensamente conforme aumenta o pH, enquanto 
a anilina ioniza-se mais em pH ácido. Sendo as moléculas não ionizadas fáceis de serem absorvidas por difusão, 
o ácido benzóico é mais absorvido em meio ácido e a anilina em meio alcalino. 
Outra particularidade da absorção pelo trato digestivo ê a possibilidade da ocorrência do ciclo entero-hepâtico, 
que consiste na reabsorção de uma substância já excretada, isso acontece, por exemplo, com as substâncias 
excretadas pela bile, na forma conjugada que, em contato com microrganismos intestinais, é degradada, voltando 
novamente à forma absorvível. Além do transporte passivo, as células do sistema gastrintestinal expressam 
carregadores responsáveis pela absorção de uma série de agentes químicos, entre os quais metais essenciais. 
Por exemplo, a absorção do ferro compreende duas etapas: na primeira, o ferro entra nas células da mucosa, onde 
se liga à proteína e se deposita na forma complexada denominada ferritina; na segunda. a ferritina libera 
lentamente o ferro para o sangue, à medida que a sua concentração plasmática é reduzida. O cálcio é absorvido 
também em duas etapas, de forma semelhante à do ferro, necessitando da ação de vitamina D no seu transporte. 
Vários metais interferem, entre si, no mecanismo de sua absorção. Assim. o cádmio reduz a absorção do zinco e 
cobre; o zinco reduz a do cobre, do cálcio e do cádmio. 
É importante ressaltar que, por esta via, a absorção é dependente da composição alimentar. O leite pode alterar 
a absorção de certos metais, contrariamente ao que se prega popularmente, ele aumenta a absorção do 
chumbo. Na vigência de tratamento com quelante, como o EDTA, a absorção de chumbo e de outros metais pode 
ser facilitada pela formação de complexos mais lipossolúveis. A presença de alimentos pode alterar o tempo de 
esvaziamento gástrico e o motilidade gastrintestinal influenciando também a velocidade e a quantidade de 
absorção de xenobióticos. Ademais, a absorção de xenobióticos e fármacos é reduzida sob ação de uma 
glicoproteína transmembrânica denominada glicoproteína P (gpP). Essa glicoproteína funciona como bomba de 
efluxo, dependente de ATP, na transferência de substâncias e metabólitos endógenos para fora das células. 
Absorção por outras vias: Entre outras vias de exposição, tem-se, de importância prática, a parenteral 
(intramuscular, intravenosa. subcutânea), utilizada na terapêutica e pelos dependentes de drogas do tipo cocaína 
e heroína. Em testes biológicos de xenobióticos em animais, usam-se com frequência as vias intraperitoneal e 
subcutânea., que permitem rápida absorção de substâncias. 
4. Principais agentes tóxicos e aspectos epidemiológicos. REFERÊNCIA: Apostila de Toxicologia Básica – Secretaria de Saúde 
ALGUNS GRUPOS DE AGENTES QUE CAUSAM INTOXICAÇÕES E SUAS CARACTERÍSTICAS 
Medicamentos: Tipo mais freqüente de intoxicação em todo o mundo, inclusive no Brasil. Ocorre 
frequentemente em crianças e em tentativas de suicídio. 
Domissanitários: Produtos de composição e toxicidade variada, responsável por muitos envenenamentos. 
Alguns são produzidos ilegalmente por “fábricas de fundo de quintal”, e comercializados de “porta em porta”. 
Geralmente tem maior concentração, causando envenenamentos com maior freqüência e de maior gravidade que 
os fabricados legalmente. 
Inseticidas de uso Doméstico: São pouco tóxicos quando usados de forma adequada. Podem causar alergias e 
envenenamento, principalmente em pessoas sensíveis. A desinsetização em ambientes domiciliar, comercial, 
hospitalar, etc., por pessoa ou “empresa” não capacitada pode provocar envenenamento nos aplicadores, 
moradores, animais domésticos, trabalhadores e principalmente em pessoas internadas, ao se utilizarem produtos 
tóxicos nestes ambientes. 
Pesticidas de Uso Agrícola: São as principais causas de registro de óbitos no Brasil, principalmente pelo uso 
inadequado e nas tentativas de suicídio. 
Raticidas: No Brasil, só estão autorizados os raticidas à base de anticoagulantes cumarínicos. São grânulos ou 
iscas, pouco tóxicos e mais eficazes que os clandestinos, porque matam o rato, eliminam as colônias. A utilizaçãode produtos altamente tóxicos, proibidos para o uso doméstico tem provocado envenenamentos graves e óbitos. 
Animais Peçonhentos: Constitui o grupo de maior número de casos registrados em nosso Estado. Isto se deve a 
alguns fatores. A Bahia é um Estado com extensa área rural, onde a ocorrência de acidentes por animais é grande. 
Além de registrar os casos de atendimento direto e telefônico que realiza como Centro de Referência Estadual 
em Toxicologia, o CIAVE é o órgão estadual responsável pelo Programa Nacional de Controle de Acidentes por 
Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde, recebendo das Unidades de Saúde de todo o Estado, as notificações 
dos casos de acidentes por animais peçonhentos, através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação 
(SINAN), uma vez que são de notificação obrigatória, conforme portaria nº 1.234 de 29/07/2004. 
EPIDEMIOLOGIA: Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net 
ACIDENTE POR ANIMAIS PEÇONHENTOS - Notificações registradas no Sistema de Informação de 
Agravos de Notificação - Minas Gerais. 
Ano acidente Notificações 
Em Branco/ign 15 
2010 20014 
2011 22490 
2012 25033 
2013 28741 
2014 29246 
2015 30515 
2016 32074 
2017 40880 
2018 51325 
2019 49650 
Total 330017 
REFERÊNCIA: SINITOX 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. A ação, no organismo humano, desencadeada pela intoxicação por piretroides, carbamatos, organoclorados e 
organofosforados, incluindo suas manifestações clínicas e os antídotos usados em cada caso. REFERÊNCIA: Manual de 
Toxicologia Clínica: Orientações para assistência e vigilância das intoxicações agudas. Secretaria Municipal de Saúde de São 
Paulo. 2017. 
De acordo com a legislação brasileira os praguicidas são denominados agrotóxicos e são definidos como: 
“produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no 
armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou 
implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja 
alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados 
nocivos”. São também componentes desse grupo, as substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, 
dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento; (Lei Federal 7.802/1989). Podem ser classificados de 
acordo com o tipo de praga a ser controlada ou com a sua estrutura química. Serão descritos nesse capítulo, de 
acordo com o critério de incidência e gravidade das intoxicações, os seguintes produtos: 
• Inibidores da colinesterase: carbamatos e organofosforados; 
• Inseticidas Piretróides; 
• Inseticidas Organoclorados; 
• Herbicidas. 
As intoxicações por praguicidas podem ocorrer tanto no 
ambiente rural, com o no ambiente urbano. As 
circunstâncias mais comuns envolvendo crianças são os 
acidentes, pela presença desses agentes no ambiente 
doméstico. Os adultos geralmente se expõem por meio 
das tentativas de suicídio, das exposições ocupacionais e 
dos acidentes em decorrência do uso inadequado dos 
produtos. 
REFERÊNCIA: Fundamentos de Toxicologia. Lange. 
INSETICIDAS 
Particularmente em países em desenvolvimento, os inseticidas 
desempenham um papel de extrema relevância no controle de 
insetos considerados pragas. Todos os inseticidas químicos 
usados atualmente são neurotóxicos e agem no sistema nervo- 
so dos organismos-alvo. O sistema nervoso central dos insetos 
é altamente desenvolvido e não muito diferente do de 
mamíferos. Enquanto classe de compostos, os inseticidas 
apresentam alta toxicidade aguda para animais não alvo 
quando com- parados com outras classes de praguicidas. 
Alguns deles, mais precisamente os organofosforados, são os 
responsáveis, a cada ano, por um grande número de 
intoxicações humanas e mortes. 
COMPOSTOS ORGANOFOSFORADOS 
Os compostos organofosforados (OFs) apresentam, em geral, a seguinte estrutura: 
 
 
 
 
X é o grupo que se separa do composto quando os OF fosforilam a enzima acetilcolinesterase (AChE), e é o local 
mais sensível à hidrólise; R1 e R2 são comumente grupos alcóxi (p. ex., OCH3 ou OC2H5), embora possam 
existir outros grupos substituintes; nessa estrutura química podem estar ligados por dupla ligação ao fósforo tanto 
um átomo de oxigênio (O) quanto um de enxofre (S) (nesse caso, o composto pode ser identificado como 
fosforotioato). A partir de diferenças químicas, os OFs podem ser divididos em diversas subclasses, que incluem 
os fosfatos, os fosforotioatos, os fosforamidatos, os fosfonatos, entre outros. 
Biotransformação. Todos os compostos que contêm ligações P=S necessitam de ativação metabólica para que 
sua atividade biológica se manifeste, uma vez que apenas os compostos com li- gações P=O são inibidores da 
acetilcolinesterase (AChE). A des- sulfuração oxidativa (leva a formação de um “oxon”, ou oxigênio análogo ao 
inseticida de origem) e a oxidação tioéter (formação de sulfóxido, S=O, seguida de formação de sulfona, O=S=O) 
são catalisadas pelas enzimas do citocromo P450. A hidrólise cata- lítica pelas fosfotriesterases, conhecidas como 
A-esterases (que não são inibidas pelos OFs), desempenha um papel importante na detoxificação de alguns OFs. 
Pode, também, ocorrer a hidró- lise não catalítica dos OFs, quando esses compostos fosforilam as serina esterases 
classificadas como B-esterases. 
Sinais e sintomas de intoxicação e mecanismo de ação. Os inseticidas OFs apresentam alta toxicidade aguda, 
com valores de DL50 orais para ratos frequentemente inferiores a 50 mg/kg. A inibição da AChE pelos OFs leva 
ao acúmulo da acetilcolina nas sinapses colinérgicas e à estimulação exacerbada dos receptores colinérgicos 
muscarínicos e nicotínicos. Uma vez que esses receptores se encontram localizados na maioria dos órgãos do 
organismo, surge uma “síndrome colinérgica”, na qual são observados os seguintes sintomas: sudorese e 
salivação, grave secreção bronquial, broncoconstrição, miose, motilidade gastrintestinal aumentada, diarreia, 
tremores, espasmos musculares e diversos efeitos associa- dos ao sistema nervoso central. Embora a insuficiência 
respiratória seja a marca registrada da intoxicação por inseticidas OFs, no caso de intoxicações leves ou nos 
estágios iniciais de uma intoxicação grave, nem sempre os sinais e sintomas são evidentes. 
Os OFs que apresentam a ligação P=O fosforilam o grupo hidroxila no sítio esterásico ativo da serina na AChE, 
impedindo sua ação fisiológica. A AChE fosforilada é lentamente hidrolizada pela água, e a taxa de “reativação 
espontânea” depende da natu- reza química dos radicais substituintes R na estrutura dos OFs. A reativação da 
AChE fosforilada não acontece uma vez que o com- plexo enzima-inibidor “envelheça”, o que ocorre quando há 
perda (por hidrólise não enzimática) de um dos dois grupos alquilas (R). Quando a AChE envelhece, a enzima é 
considerada inibida de forma irreversível, sendo necessária a síntese de nova enzima, o que requer vários dias 
para acontecer. 
Tratamento da intoxicação. A via de exposição determina- rá os procedimentos a serem utilizados na 
descontaminação e/ ou diminuição da absorção. Nos casos de exposição dérmica, as roupas contaminadas devem 
ser retiradas, e a pele, lavada com sabão alcalino. Nos casos de ingestão, não são muito eficazes os procedimentos 
usados na tentativa de minimizar a absorção pelo sistema digestório. O uso da atropina, um antagonista do 
receptor muscarínico, previne o efeito acumulativo da acetilcolina nesses receptores. A atropina é preferivelmente 
administrada por via intravenosa, visando prevenir os sinais do excesso da estimulação colinérgica. A 
administração de pralidoxima (2-PAM) logo após a exposição aos OFs pode evitar o envelhecimento da AChE, 
porém sua eficácia é controversa. Podeser usado diazepam para diminuir a ansiedade no caso de intoxicações 
leves e para reduzir as fasciculações musculares, bem como controlar as convulsões em casos mais graves. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Síndrome intermediária. Um segundo efeito distinto dos OFs é a chamada síndrome intermediária, observada 
em 20 a 50% dos casos de intoxicação aguda por OFs. A síndrome desenvolve-se depois de 1 ou vários dias da 
intoxicação, durante o processo de recuperação do quadro colinérgico ou, em alguns casos, quando o paciente se 
recuperou completamente da crise colinérgica inicial. As características mais evidentes incluem fraqueza 
respiratória, da musculatura proximal dos membros e do pescoço. A mortalidade acontece em 15 a 40% dos casos 
devido a parali- sia respiratória e outras complicações orgânicas, sendo que, nos indivíduos sobreviventes, a 
recuperação pode ocorrer em até 15 dias. A síndrome intermediária não é um efeito associado à inibição da AChE, 
e seu mecanismo de ação ainda é desconhecido. 
Polineuropatia retardada induzida por organofosforado (NRIOP). Alguns OFs podem causar NRIOP. Os 
sinais e sintomas incluem formigamento de mãos e pés seguido de perda sensorial, fraqueza muscular progressiva 
e flacidez da musculatura esquelética distal das extremidades superiores e inferiores, além de ataxia. Esses sinais 
e sintomas podem aparecer em 2 a 3 semanas após uma exposição única, quando abrandaram os sinais tanto da 
sín- drome colinérgica aguda quanto da intermediária. A NRIOP pode ser classificada como uma axonopatia 
distal sensório-motora. 
A NRIOP não é relacionável a inibição da atividade da AChE. De fato, um dos compostos sabidamente 
relacionáveis a diversos casos dessa neuropatia é o orto-cresil fosfato, que, por sua vez, interfere pouco na inibição 
da AChE. O alvo da NRIOP é uma esterase, presente em tecidos nervosos e em outros teci- dos (p. ex., linfócitos), 
denominada esterase neuropática alvo, ou esterase neurotóxica (NTE). Existem diversos OFs, alguns carba- 
matos e sulfonil fluoretos que podem inibir a NTE. Outros compostos que também inibem essa esterase, mas não 
produzem reação de envelhecimento, não são neurotóxicos, o que indica que a inibição da atividade catalítica da 
NTE não segue o mecanismo de degeneração axonal. 
Toxicidade crônica. Ainda hoje existe controvérsia sobre os possíveis efeitos crônicos dos OFs. Existe a 
possibilidade de que a exposição a baixas doses desses compostos, nas quais não há sinais de interferência 
colinérgica, pode levar a efeitos adversos crônicos, em especial no sistema nervoso central e no periférico. 
Observou-se que animais expostos cronicamente a OFs, em do- ses que inibem a AChE de forma significativa, 
mas que não necessariamente apresentam sinais clínicos dessa inibição, podem desencadear um efeito de 
tolerância aos efeitos colinérgicos (mediados, pelo menos em parte, pela baixa regulação dos receptores 
colinérgicos). Essa exposição crônica de animais também vem sendo associada a anomalias 
neurocomportamentais, sobretudo no que se refere aos aspectos cognitivos. 
CARBAMATOS 
Inseticidas carbamatos são derivados do ácido carbâmico e, em sua maioria, são N-metilcarbamatos. A toxicidade 
oral aguda varia de moderada a baixa, como no caso do carbaril, a extremamente tóxica, como no caso da 
intoxicação por aldicarb. A absorção dérmica dos carbamatos tende a aumentar com solventes orgânicos e 
emulsificantes presentes na maioria das formulações. Esses compostos são suscetíveis a uma variedade de reações 
de biotransformação catalisadas enzimaticamente, nas quais as principais vias de biotransformação envolvem a 
hidrólise e a oxida ção. O mecanismo de ação dos carbamatos é a inibição da AChE, rapidamente reversível. Os 
sinais e sintomas de intoxicação por esses compostos incluem miose, diurese, diarreia, salivação, fas- ciculação 
muscular e efeitos no sistema nervoso central. Em geral, a intoxicação aguda por carbamatos desaparece em 
algumas horas. O tratamento desse tipo de intoxicação requer o uso de atropina. Esses compostos podem inibir a 
NTE, porém, nesse caso, em que a NTE carbamilada não envelhece, acredita-se que não levem ao aparecimento 
de NRIOP. Além disso, ao se ad- ministrar carbamatos previamente à exposição a inseticidas OFs, aqueles 
oferecem um efeito protetor contra a NRIOP, porém, em caso contrário, pode-se observar o aparecimento desta. 
Os metilcarbamatos não são mutagênicos, e não existe evi- dência de que promovam carcinogênese. A 
embriotoxicidade ou fetotoxicidade pode ser observada apenas em casos de doses em que seja manifestada 
toxicidade materna. Existem evidências li- mitadas sugerindo que os carbamatos (p. ex., aldicarb) apresen- tem 
toxicidade aguda mais exacerbada em animais jovens do que em adultos, provavelmente devido à baixa 
detoxificação. 
REFERÊNCIA: Manual de Toxicologia Clínica: Orientações para assistência e vigilância das intoxicações agudas. Secretaria 
Municipal de Saúde de São Paulo. 2017. 
INIBIDORES DA COLINESTERASE: CARBAMATOS E ORGANOFOSFORADOS 
Visão geral 
Utilizados amplamente no controle de insetos e outros parasitas, podendo ser utilizados com finalidade agrícola, 
doméstica ou veterinária. Atualmente existem cerca de 29 princípios ativos organofosforados e 14 carbamatos, 
utilizados sozinhos ou em formulações. 
Mecanismo de efeitos tóxicos 
• Inibição da Acetilcolinesterase, resultando no acúmulo de acetilcolina nas sinapses colinérgicas no sistema 
nervoso central, periférico somático e autônomo, levando ao aumento da resposta nos receptores pós-sinápticos, 
nicotínicos ou muscarínicos; 
• No caso dos inseticidas carbamatos, a inibição é reversível e a reativação da enzima é espontânea e rápida, 
geralmente acontece em menos de 24 horas; 
• Nas exposições a inseticidas organofosforados, a inibição é quimicamente mais estável quando comparada aos 
carbamatos e a recuperação da enzima pode ser mais lenta, podendo levar dias a semanas e até ser irreversível, 
onde a reativação dependerá da síntese de novas moléculas de acetilcolinesterase. 
Dose tóxica 
• Varia de acordo com o princípio ativo porém é sempre uma intoxicação potencialmente grave necessitando de 
um diagnóstico rápido e pronta intervenção terapêutica; 
• Atentar para: º Produtos destinados ao uso agrícola, veterinário e os clandestinos, por conterem maiores 
concentrações do princípio ativo; º Tentativa de suicídio, onde existe o risco de ingestão de doses elevadas. 
→ Farmacocinética dos Carbamatos 
• Absorção 
º Bem absorvidos por ingestão e inalação e através da pele e mucosas; Intoxicação por praguicidas 10 346 voltar 
ao menu 
º Trabalhos recentes mostram que atravessam a barreira hematoencefálica; 
º Pico plasmático em cerca de 30 a 40 minutos da ingestão. 
• Distribuição 
º São lipossolúveis possibilitando uma boa distribuição em todo os tecidos incluindo o SNC; 
º O Aldicarb na forma líquida possui uma elevada lipofilicidade e uma toxicidade dérmica muito maior que a de 
outros carbamatos. 
• Metabolismo 
A maior parte é biotransformada no fígado. 
• Eliminação 
Cerca de 90% é excretado na urina dentro de 3 a 4 dias. 
→ Farmacocinética dos organofosforados 
• Absorção 
º Bem absorvidos por todas as vias. Deve-se ficar atento às exposições cutâneas maciças, pois podem causar 
grave toxicidade; 
º A presença de lesões cutâneas ou ambientes com altas temperaturas aumentam a absorção; 
º A dificuldade de remoção destes compostos da pele e da roupa, pode explicar algumas intoxicações crônicas, 
assim como o uso inadequado dos EPIs para via respiratória e cutânea; 
º O pico plasmático difere muito conforme o princípio ativo, variando de minutos como é o caso dos derivados 
oxons ou tions de ação rápida, até horas como é o caso do clorpirifós. 
• Distribuição 
Volume de distribuição: A maioria é lipofílico, levando a um grande volume de distribuiçãoe a possibilidade de 
acúmulo em tecido adiposo protegidos do metabolismo. A mobilização deste estoque pode causar recorrência da 
crise colinérgica, sendo mais provável com compostos altamente lipofílicos como a fentiona. 
• Metabolismo 
º Hepático; 
º Alguns OF, após biotransformação, geram subprodutos mais Intoxicação por praguicidas 10 347 tóxicos que os 
compostos que lhes deram origem como, por exemplo, a parationa e a malationa, que se transformam em 
paraoxon e malaoxon, respectivamente. 
• Eliminação 
Renal. 
→ Manifestações clínicas 
• Agudas 
º Muscarínicas: Salivação, sudorese, lacrimejamento, hipersecreção brônquica, bradicardia, miose, vômitos e 
diarreia; 
º Nicotínicas: Taquicardia, hipertensão, midríase, fasciculações, fraqueza muscular e hiporreflexia, podendo 
evoluir para paralisia dos músculos respiratórios; 
º Centrais: Agitação, labilidade emocional, cefaleia, tontura, confusão mental, ataxia, convulsões e coma. 
• Tardias 
º As intoxicações graves por inseticidas inibidores das colinesterases habitualmente estão associadas a distúrbios 
ácidobásicos, metabólicos e hidroeletrolíticos; 
º Nas intoxicações agudas por inseticidas OF, podem ocorrer quadros clínicos neurológicos mais tardios; 
º Síndrome intermediária: Aparece 24 a 96 horas após a exposição, e é caracterizada pela paralisia das 
musculaturas proximal e respiratória que pode ocorrer com alguns OF tais como: fentiona, malationa, diazinona, 
monocrotofos, metamidofos, parationa metilica, parationa etílica; º Polineuropatia tardia: pode ocorrer após 7 a 
21 dias da exposição a alguns OF como o metamidofos, a malationa e o clorpirifos entre outros (Organic 
Phosphorous-Counpoud Induced Delayed Neuropathy - OPIND); 
º Desordens neuropsiquiátricas: Em exposições agudas à altos níveis de OF ou nas exposições à baixas doses 
por períodos prolongados, tem sido descritas em trabalhadores expostos à OF, desordens neuropsiquiátricas 
induzidas por OF (Chronic organophosphate induced neuropsychiatric disorder - COPIND); Estas desordens vão 
desde manifestações inespecíficas tais como sonolência, ansiedade. alterações da memória, fadiga, até 
manifestações mais graves como delírio, agressividade e alucinação. 
→ Tratamento 
• Medidas de suporte 
º Desobstruir vias aéreas e administrar oxigênio suplementar quando necessário; 
º Monitorizar sinais vitais; 
º Manter acesso venoso calibroso; 
º Hidratação adequada; 
º Evitar o uso de succinilcolina em caso de IOT. 
• Descontaminação 
º Em pacientes que apresentem exposição cutânea, as medidas de descontaminação externa da pele, cabelos, 
olhos, e a retirada de vestimentas e calçados contaminados devem ser realizadas concomitantemente com as 
medidas de reanimação e a aplicação de antídotos. Indica-se lavar a pele com quantidades abundantes de água e 
utilizar sabão neutro, principalmente em banho de chuveiro, se possível. Os atendentes devem utilizar luvas e 
proteção para evitar contato com secreções e roupas contaminadas; 
º Realizar lavagem gástrica precoce com SF 0,9% até 1 hora após ingestão; 
º Administrar carvão ativado por SNG após realizar a lavagem gástrica; 
º Observar se o paciente apresentou episódios de vômitos espontaneamente. Nessa situação, a lavagem gástrica 
não é Intoxicação por praguicidas 10 350 voltar ao menu indicada, devendo-se realizar o tratamento sintomático 
(antieméticos) e administrar apenas o carvão ativado. 
• Antídotos 
º A atropina e as oximas são recomendadas para o tratamento das intoxicações causadas por inibidores de 
colinesterases. 
º Atropina 
□ Age como um bloqueador dos receptores muscarínicos, evitando a ação da acetilcolina acumulada nas sinapses. 
É um antagonista competitivo e o medicamento de escolha para as manifestações muscarínicas e do SNC. Não 
estabelece a reativação da enzima inibida e não influi na eliminação dos agentes anticolinesterásicos; não atua 
nos sintomas causados pela estimulação de receptores nicotínicos, principalmente de origem muscular e na 
depressão respiratória; 
□ O tratamento adequado com o sulfato de atropina pode salvar a vida do paciente intoxicado. 
* Dose inicial: Sulfato de atropina IV, na dose de 1 a 4 mg (em crianças, 0,05 a 0,1 mg/kg de peso) in bolus; 
* Repetir a cada 2 a 15 minutos até a atropinização plena do paciente, dependendo da gravidade do caso. Em 
casos graves poderá ser necessário o uso de grande quantidade de atropina, sendo fundamental manutenção de 
estoque mínimo na sala de emergência; 
* A atropinização adequada traduz-se pelo desaparecimento dos sintomas muscarínicos, especialmente com a 
melhora da hipersecreção pulmonar, do broncoespasmo e consequentemente da oxigenação tecidual, além da 
secura de pele e mucosas e elevação da frequencia cardíaca. A melhora pulmonar nem sempre ocorre 
simultaneamente ao desaparecimento dos demais sintomas colinérgicos; 
* A miose é um dos últimos parâmetros a ser revertido, e não deve ser utilizado para avaliar a melhora da 
intoxicação aguda; 
* A persistência ou retorno dos sintomas muscarínicos indica a necessidade de doses adicionais de atropina; 
* Nos casos graves, poderá ser necessário o aumento das doses ou a redução do intervalo entre elas; 
º Oximas 
□ O efeito terapêutico esperado das oximas é a reativação da acetilcolinesterase; 
□ A indicação das oximas deve basear-se na gravidade das manifestações clínicas do paciente, especialmente 
aqueles que apresentam sintomas colinérgicos graves e persistentes, mesmo após várias horas de atropinização 
adequada. O início do tratamento deve ser o mais precoce possível em relação à exposição, e mantido 
preferencialmente até 12 horas após o desaparecimento dos sintomas colinérgicos; 
□ Pode ser recomendada essencialmente no tratamento das intoxicações moderadas a graves por inseticidas 
organofosforados, sendo mais efetiva quanto mais precocemente utilizada nas primeiras 24 horas após a 
exposição, e antes de ocorrer inativação permanente da acetilcolinesterase; 
□ Nas intoxicações por carbamatos, as oximas são contra -indicadas apenas para o inseticida carbaril; 
□ Pode ser utilizada nas intoxicações graves por carbamatos de alta toxicidade aguda, como o aldicarbe, 
promovendo uma recuperação clínica mais rápida e sem efeitos adversos importantes. Como outros carbamatos 
geralmente determinam intoxicações leves e de curta duração, as oximas não são indicadas no seu tratamento; 
□ Apesar das indicações este produto é de difícil acesso no mercado nacional. 
• Medidas de eliminação 
Não estão indicadas. 
• Sintomáticos 
º Diazepam para controlar fasciculações, convulsões e hipertensão; 
º Corrigir hipotensão com volume, utilizar drogas vasoativas em casos refratários; 
º Antibioticoterapia em caso de broncopneumonia aspirativa. 
→ Vigilância 
• Os casos suspeitos de intoxicação devem ser notificados, de acordo com a Portaria MS/GM nº 204 de 17 de 
fevereiro de 2016 na Ficha de Investigação de Intoxicação Exógena-FIIE. Ver anexos I e II; 
• Se intoxicação confirmada, preencher campo 66 da FIIE como: 
º Efeito tóxico de inseticidas organofosforados e carbamatos - T60.0 
REFERÊNCIA: Fundamentos de Toxicologia. Lange. 
PIRETROIDES 
As piretrinas foram desenvolvidas inicialmente como inseticidas a partir de extratos das flores do crisântemo 
(Chrysanthe- mum cinerariaefolium), cujo potencial inseticida era conhecido e usado desde a antiguidade na 
China e na Pérsia. Esses compostos se decompõem rapidamente à luz solar, e, por isso, foram desenvolvidos 
análogos sintéticos que fossem menos suscetíveis a esse efeito. Em função da alta atividade inseticida, da 
toxicidade relativamente baixa em mamíferos, de nenhuma persistência no ambiente e da baixa tendência a 
induzir resistência em insetos, esses compostos atualmente representam mais de 25% do mercado global de 
inseticidas. Os piretroides são amplamente usados como inseticidas domésticose agrícolas, como medicamento 
no tratamento de escabiose e piolhos, e, nos países tropicais, são embebidos em mosquiteiros visando evitar 
picadas de mosquitos. Os piretroides alteram a função nervosa normal dos insetos porque modificam a 
sensibilidade dos canais de sódio, os quais medeiam, de forma passageira, o aumento da permeabilidade do sódio 
na membrana nervosa subjacente à ação potencial nervosa. 
Uma vez absorvidos, os piretroides são rapidamente bio- transformados por duas vias principais: pela hidrólise 
da ligação éster, catalisada por carboxiesterases plasmáticas e hepáticas, e pela oxidação da ligação alcoólica 
pelas enzimas do citocromo P450. A essas reações iniciais, seguem-se outras reações de hi- drólise e oxidação, 
além de conjugações com sulfato ou ácido glucurônico. 
Sinais e sintomas de intoxicação e mecanismo de ação. Os efeitos tóxicos dos piretroides foram divididos em 
dois tipos, que se baseiam nos efeitos observados em estudos em ratos. Esses compostos interrompem os canais 
de sódio voltagem-dependentes em mamíferos e insetos; ligam-se à subunidade 􏰁 do canal de sódio e diminuem 
a ativação (abertura), bem como a taxa de inativação (fechamento), do canal de sódio, levando a um estado estável 
de hiperexcitação. Acredita-se que a alta suscetibilidade dos insetos aos piretroides, comparando-a à dos 
mamíferos, seja resultante da combinação da maior susce- tibilidade dos canais de sódio no inseto, da menor 
temperatura corpórea (piretroides apresentam um coeficiente de ação negati- vo em função da temperatura) e de 
menor biotransformação. Os piretroides tipo II ligam-se e inibem os receptores GABA e blo- queiam canais de 
cloro em concentrações maiores do que aque- las necessárias para afetar os canais de sódio (10-7 M versus 10-
10 M). Acredita-se que esse efeito contribua para o aparecimento das convulsões observadas nos casos graves de 
intoxicação por piretroides tipo II. 
Animais jovens são mais suscetíveis à toxicidade aguda dos piretroides deltametrina e cipermetrina, 
provavelmente em fun- ção de sua menor capacidade de detoxificação. 
de sua menor capacidade de detoxificação. 
Em casos de exposição ocupacional, a parestesia é o efeito adverso mais relevante, resultante do contato dérmico 
com os piretroides. Os sintomas incluem formigamento contínuo ou ardor, em casos mais graves. Esses efeitos 
são revertidos em 24 horas após a exposição, sendo de grande utilidade a aplicação tópica de vitamina E. 
Provavelmente, a parestesia ocorre em função 
da ati- vidade repetitiva da indução anormal 
causada pelos piretroides nas terminações 
nervosas da pele. Estudos de toxicidade crônica 
indicam que, em altas doses, os piretroides 
podem causar um leve aumento do fígado, 
frequentemente acompanhado de modificações 
histopatológicas. Observou-se, no caso de 
exposição a deltametrina, um aumento da taxa 
de incidência de linfomas em roedores, porém 
esse efeito não estava relacionado com a dose. 
REFERÊNCIA: Manual de Toxicologia Clínica: 
Orientações para assistência e vigilância das intoxicações agudas. Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. 2017. 
Visão geral 
São um grupo de inseticidas sintéticos derivados das piretrinas naturais, que são extraídas das flores de 
crisântemo. De acordo com a sua estrutura química, podem ser dividos em 2 grupos: 
• Tipo I: não possuem o grupo ciano. A maioria produz a síndrome T, caracterizada por tremores em 
experimentos com ratos; 
• Tipo II: possuem um grupo ciano, o que aumenta muito a neurotoxicidade em animais e insetos e tende a 
produzir a síndrome CS em estudos com animais, que cursa com coreoatetose e salivação. 
→ Mecanismo de efeitos tóxicos 
• Atuam diretamente nos axônios prolongando a despolarização do canal de sódio, levando a uma hiperexcitação 
do sistema nervoso; 
• Em concentrações altas, os piretróides do tipo II ligam-se aos receptores do GABA bloqueando os canais de 
cloro e sua ativação o que também leva a uma hiperexcitabilidade do SNC. Dose Tóxica 
• Varia de acordo com o princípio ativo; 
• A dose oral tóxica em mamíferos é superior a 100 a 1000 mg/Kg. A dose oral aguda potencialmente letal é de 
10 a 100 g; 
• Observar que produtos de uso doméstico e medicamentos contendo piretroides tem baixa concentração, 
enquanto produtos de uso agrícola, veterinário e clandestinos contem maiores concentrações do princípio ativo. 
→ Farmacocinética 
• Absorção 
º Absorvido por via oral e inalatória; sendo observados efeitos sistêmicos após exposições maciças. Os piretroides 
não são compostos voláteis, e a toxicidade pulmonar é devido ao solvente utilizado como veículo; 
º Pouco absorvido pela pele, no entanto podem atingir as terminações nervosas periféricas. Intoxicação por 
praguicidas 10 358 voltar ao menu 
• Distribuição 
º Piretrinas e piretroides são lipofílicos e portanto rapidamente distribuídos ao SNC. 
• Metabolismo 
Rapidamente metabolizados a produtos menos tóxicos que as substâncias originais pelo sistema enzimático 
CYP450, portanto não se acumulam no organismo. 
• Eliminação 
Os compostos originais e seus metabólitos são eliminados na urina em 12 a 24 horas. Não há evidência que 
tenham recirculação. 
→ Manifestações Clínicas 
• Tontura, salivação, cefaléia, vômitos, irritabilidade, sintomas de sensibilização e fenômenos alérgicos 
semelhante a quadros de rinite ou asma, pneumonite e broncoespasmo; 
• Sintomas neurológicos são incomuns, porém existem relatos de convulsões e neuropatias complexas associadas 
à ingestão de doses elevadas; 
• Sensações de formigamento e queimação podem ocorrer em áreas da pele em contato direto com o inseticida. 
→ Tratamento 
• Suporte 
º Desobstruir vias aéreas e administrar oxigênio suplementar quando necessário; 
º Monitorizar sinais vitais; 
º Manter acesso venoso calibroso; º Hidratação adequada; 
º CABD quando indicado. 
• Descontaminação 
º Indica-se lavar a pele ou cabelos com quantidades abundantes de água e utilizar sabão neutro, se possível em 
banho de chuveiro. Os atendentes devem utilizar luvas e proteção para evitar contato com secreções e roupas 
contaminadas. Em pacientes que apresentem exposição ocular, fazer lavagem com SF 0,9%; 
º Em caso de ingestão de grande quantidade de piretroide tipo 2, realizar lavagem gástrica precoce com SF 0,9% 
e administrar dose única de carvão ativado, desde que o diluente não seja um solvente derivado de petróleo. 
 
 
• Antídoto 
Não há. 
• Medidas de eliminação 
Não indicadas. 
→ Vigilância 
Os casos suspeitos de intoxicação devem ser notificados, de acordo com a Portaria MS/GM nº 104 de 17 de 
fevereiro de 2016 na Ficha de Investigação de Intoxicação Exógena-FIIE. Ver anexos I e II; Intoxicação por 
praguicidas 10 360 voltar ao menu 
• Se intoxicação confirmada, preencher campo 66 da FIIE como: 
º Efeito tóxico de outros inseticidas - T60.2 
REFERÊNCIA: Toxicologia dos praguicidas. Lourival Larini. 
Toxicidade e ação tóxica dos piretroides 
Para o entendimento de sua ação tóxica, os inseticidas piretróides são divididos em duas classes distintas: 
CLASSE I: Estão incluídos nesta classe os inseticidas: aletrina, permetrina, resmetrina, fenotrina e outros. Estes 
compostos determinam, experimentalmente em ratos, efeitos neurológicos provavelmente de origem periférica, 
provocando um quadro de agressividade, tremores, espasmos convulsivos, incoordenação e prostração, que, em 
conjunto, é conhecido por “SÍNDROME T”, pela prevalência dos espasmos convulsivos e tremores. 
CLASSE II: Estão incluídos nesta classe os compostos: fenpropanato, cipermetrina, deltametrina, cialotrina, 
flumetrina e fenvalerato. Estes compostos determinam efeitos que parecem ser de origem central, produzindo 
salivação excessiva, movimentos irregulares dos membros, convulsões tônicas e clônicas e sensibilidade 
aumentada aos estímulos externos. Estes compostospossuem em comum a estrutura do tipo alfa-ciano-3-
fenoxibenzil. A intoxicação provocada por eles é conhecida como “SÍNDROME CS” (coreoatetose e salivação) 
Os estudos sobre o mecanismo da ação tóxica dos inseticidas piretróides não são conclusivos. Alguns compostos 
como a cipermetrina e a permetrina promovem um aumento de cálcio livre na terminação nervosa através da 
inibição da Ca+2 ATPase e da “calmodulina”, proteína responsável pelas ligações intracelulares dos íons Ca+2. 
Ao final, tem-se um aumento na liberação dos neurotransmissores. 
Os compostos da classe II promovem uma despolarização persistente na membrana do nervo pelo influxo 
contínuo de íons Na+, com redução na amplitude do potencial de ação e colapso na condução axonal. Esta 
alteração é reversível, com o retorno à normalidade das funções dos canais de sódio pela ausência do composto 
piretróide. A atividade da corrente de sódio pela polarização da membrana é pouco afetada pelos piretróides. Por 
outro lado, a inativação da corrente é geral-mente afetada. Ainda, estudos em células de neuroblastomas 
demonstram que os compostos piretróides não afetam a amplitude da corrente de sódio e aumentam o tempo 
médio de abertura do canal. Como resultado ocorre uma corrente caudal prolongada de sódio. 
A duração da corrente caudal de sódio é depen-dente da estrutura do composto piretróide. Em geral, observa-se 
que os compostos da classe I afe-tam os canais de sódio das membranas do nervo, causando influxo do sódio 
prolongado para a célula, suficiente para elevar o pós-potencial até atingir o limiar, ocorrendo descargas neuronais 
repetitivas. Há a prolongação do influxo de sódio com uma demora no fechamento do “portão” de ativação de 
sódio, resultando numa corrente caudal de sódio aumentada e prolongada. As descargas repetitivas devem ocorrer 
em qualquer local do sistema nervoso. 
Os compostos da classe II produzem um atraso maior e constante na inativação do canal de sódio, levando à uma 
despolarização persistente da mem-brana do nervo sem causar uma descarga repetitiva, uma redução na amplitude 
do potencial de ação, uma falha eventual da condução axonal e um bloqueio de impulsos. 
Alguns autores consideram que os compostos da classe II ligam-se aos receptores GABA, inibindo o influxo do 
íon cloro, produzindo excitabilidade e convulsões. Existem evidências experimentais que os compostos da classe 
I também possuem ação ao ní-vel dos receptores GABA, porém menos efetiva quan-do comparada aos da classe 
II. 
A interação dos compostos piretróides com os canais de sódio é altamente estéreo-específica, tendo os isômeros 
cis uma ligação competitiva em alguns sítios e os isômeros trans uma ligação não competitiva. 
Os compostos piretróides não apresentam atividade anticolinesterásica e determinam um pequeno efeito na 
sensibilidade muscular da acetilcolina. A deltametrina aumenta os níveis de noradrenalina plasmática, com ação 
na contração dos va-sos mesentéricos e na contratilidade cardíaca (ação periférica). 
A avaliação da toxicidade de alguns compostos piretróides pode ser evidenciada através dos valores de DL50 
aguda apresentados na tabela 3.6. Os isômeros cis e trans apresentam diferentes graus de toxicidade aguda em 
mamíferos. Comumente, a forma cis é cerca de dez vezes mais potente que a forma trans. 
→ Manifestações clínicas dos piretroides 
Síndrome tóxica: 
Nas exposições ocupacionais a poeiras finas ou aerossóis, ou quando do contato dérmico aos compostos 
piretróides, é comum o aparecimento de ardência, sensação de formigamento ou queimadura na face. Também 
pode ocorrer vertigens de intensidade e duração dependente do grau de exposição. Nos envenenamentos por 
ingestão, inicialmente ocorrem dores epigástricas, náuseas e vômitos. Estes sinais e sintomas também ocorrem 
nas exposições ocupacionais em concentrações elevadas dos compostos piretróides. 
Nos casos graves ocorrem fasciculações, especialmente dos músculos das extremidades, sonolência, ataques 
convulsivos e coma. A morte normalmente ocorre por falência respiratória. 
Os sintomas sistêmicos compreendem vertigens, dor de cabeça, fadiga muscular e anorexia. Com me-nor 
freqüência, ocorre parestesias, palpitação, embaçamento da visão e transpiração excessiva. Em crianças tem sido 
descritos acidentes ocula-res com abrasão da córnea pelo uso inadequado de xampus contendo compostos 
piretróides. 
Tratamento das intoxicações dos piretroides 
O emprego de eméticos, as medidas provocadoras de vômitos e a lavagem gástrica com solução de bicarbonato 
de sódio a 2%, são indicados nas intoxicações agudas por ingestão. 
Nos casos de contato dérmico deve-se promover o banho com água fria e sabão alcalino. A irritação dérmica e 
parestesia, provocadas pelo contato dérmico com piretróides, são aliviadas com a aplicação de cremes à base de 
vitamina E. 
A mefenesina, em doses moderadas, tem alto grau de seletividade nas intoxicações pelos compostos piretróides 
da classe II na proteção à coreoatetose. Para outros sinais musculares o efeito da mefenesina é observado somente 
com a administração de doses ele-vadas. Efeitos similares são produzidos por outros re-laxantes musculares como 
o metocarbamol, a clorfe-nenisa e a metaxalona. 
Para os compostos da classe II, a atropina suprime a salivação e reduz a severidade dos sintomas. 
REFERÊNCIA: Fundamentos de Toxicologia. Lange. 
COMPOSTOS ORGANOCLORADOS 
Os inseticidas organoclorados incluem os derivados etanoclorados, tais como o DDT e seus análogos; os 
ciclodienos, tais como clordano, aldrin, dieldrin, heptacloro, endrin e toxafeno; os hexaclorociclohexanos, tais 
como o lindano; e as estruturas fechadas, como o mirex e a clordecona. Esses inseticidas apresentam toxicidade 
aguda moderada (menor do que a dos OFs), porém a exposição crônica pode estar associada a efeitos adver- sos, 
sobretudo no fígado, e a interferência endócrina, no sistema reprodutor. 
DDT e seus análogos. DDT é eficaz contra uma enorme variedade de pragas observadas na agricultura, bem 
como contra insetos transmissores de moléstias infecciosas disseminadas mundialmente, tais como tifo, malária 
e febre amarela. O DDT apresenta toxicidade oral aguda moderada, e sua absorção dérmica é bastante limitada. 
Em seres humanos, as doses de 10 a 20 mg/kg produzem efeitos tóxicos, porém doses tão altas quanto 285 mg/kg 
já foram ingeridas acidentalmente sem que os indivíduos fossem a óbito. A toxicidade dérmica também é baixa 
em casos de exposição humana, como foi observado na ausência de efeitos adversos significativos quando 
milhares de indivíduos foram pulverizados com o composto. O DDT, ao ser absorvido, distribui-se por todos os 
tecidos, sendo que as maiores concentrações são encontradas no tecido adiposo. 
A exposição aguda a altas doses de DDT leva a agitação motora, aumento da frequência de movimentos 
espontâneos, suscetibilidade anormal a sensação de medo e hipersuscetibilidade a estímulos externos (luz, toque 
e sons). Esses sinais são seguidos de tremores leves, posteriormente mais bruscos, e convulsões tônico-clônicas. 
Em seres humanos, os primeiros sintomas de intoxicação por DDT são hiperestesia da boca e parte inferior da 
face, seguida de parestesia nessas mesmas áreas e na língua. Seguem-se tontura, tremores das extremidades, 
confusão e vômito; as convulsões ocorrem apenas nos casos de intoxicação grave. Tanto nos insetos como nos 
seres humanos, o DDT interfere nos canais de sódio na membrana axonal, apresentando um mecanismo 
semelhante ao dos piretroides tipo I. 
Na exposição crônica ao DDT, o fígado é um órgão-alvo importante. Tanto esse composto como seu produto de 
biotransformação, o DDE, aumentam o peso do fígado e causam hipertrofia e necrose das células hepáticas, uma 
vez que são potentes indutores das enzimas do citocromo P450, particularmente das CYP2B e CYP3A. Tanto o 
DDE quando o DDD, outro produto de biotransformação, são carcinogênicos

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