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1) DEFINIR INTOXICAÇÃO AGUDA, XENOBIÓTICO, VENENO, TOXICIDADE, ANTÍDOTO, DOSE LETAL. INTOXICAÇÃO AGUDA É uma alteração no estado de saúde de um indivíduo ou de um grupo de pessoas, que resulta da interação nociva de uma substância com o organismo vivo. Pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, a depender da quantidade de veneno absorvido, do tempo de absorção, da toxicidade do produto e do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento médico. Manifesta-se através de um conjunto de sinais e sintomas, que se apresenta de forma súbita, alguns minutos ou algumas horas após a exposição excessiva de um indivíduo ou de um grupo de pessoas a um toxicante, entre eles os agrotóxicos. Tal exposição geralmente é única e ocorre num período de até 24 horas, acarretando efeitos rápidos sobre a saúde. Neste contexto o estabelecimento da associação causa/efeito encontra-se facilitada. Apresenta-se a seguir, uma proposta de classificação geral para quadros leves, moderados ou graves de intoxicação por agrotóxicos. Porém, é preciso que a equipe de saúde e o médico em particular, fiquem atentos ao paciente, pois nem sempre, os limites entre um nível e outro se encontra bem definido. Intoxicação aguda leve. Quadro clínico caracterizado por cefaleia, irritação cutâneo-mucosa, dermatite de contato irritativa ou por hipersensibilização, náusea e discreta tontura. Intoxicação aguda moderada. Quadro clínico caracterizado por cefaléia intensa, náusea, vômitos, cólicas abdominais, tontura mais intensa, fraqueza generalizada, parestesia, dispnéia, salivação e sudorese aumentadas. Intoxicação aguda grave. Quadro clínico grave, caracterizado por miose, hipotensão, arritmias cardíacas, insuficiência respiratória, edema agudo de pulmão, pneumonite química, convulsões, alterações da consciência, choque, coma, podendo evoluir para óbito. Ressalte-se ainda, que dependendo do produto envolvido na intoxicação, da via de absorção, da quantidade de veneno absorvido e do tempo de absorção, o quadro clínico pode evoluir de um estágio para o outro. XENOBIÓTICO É o termo usado para designar substâncias químicas estranhas ao organismo. Agentes poluentes da atmosfera e metais do tipo chumbo e mercúrio são xenobióticos, desde que não possuam papel fisiológico conhecido. Em Toxicologia também é considerado xcnobiótico a substância química estranha quantitativamente ao organismo, como por exemplo, o manganês, elemento normalmente presente e necessário ao organismo, que cm condições de exposição elevada pode provocar intoxicação grave, às vezes irreversível, em trabalhadores. Eles são produzidos pela indústria ou pela natureza, através de vegetais e fungos. Podem ser enquadrados em diversas categorias, como por exemplo, pesticidas agrícolas, inseticidas, plásticos, produtos de limpeza e fármacos. Nossa sociedade utiliza esses compostos regularmente, sob várias formas, inclusive como medicamentos e antibióticos. Atualmente a Ciência busca aperfeiçoar o uso de medicamentos estudando todas as possíveis interações com o nosso organismo, pois os indivíduos respondem de maneira diferente sob ação de determinadas drogas. VENENO – s.m. Substância que introduzida no organismo altera a estrutura dos tecidos ou perturba as funções vitais. O mesmo que tóxico. Tudo que pode matar ou corromper. É um termo utilizado popularmente para designar compostos químicos - ou a mistura deles - que, mesmo quando administrados em baixas doses, causam intoxicação ou morte. TOXICIDADE A toxicidade de uma substância química refere-se à sua capacidade de causar dano em um órgão determinado, alterar os processos bioquímicos ou alterar um sistema enzimático. É a medida do potencial tóxico de uma substância. Roupas de proteção e equipamentos de respiração evitam exposição SP1 “O perigo mora ao lado...” Todas as substâncias, naturais ou sintéticas são potencialmente tóxicas, não existem substâncias químicas sem toxicidade; em outras palavras, podem produzir efeitos adversos para a saúde em alguma condição de exposição. É incorreto denominar algumas substâncias químicas como tóxicas e outras como não tóxicas. As substâncias diferem muito na toxicidade. As condições de exposição e a dose são fatores que determinam os efeitos tóxicos. A propriedade de agentes tóxicos de promoverem injúrias às estruturas biológicas, por meio de interações físico-químicas, é chamada toxicidade. Portanto, a toxicidade é a capacidade inerente e potencial do agente tóxico de provocar efeitos nocivos em organismos vivos. A toxicidade raramente pode ser definida como um evento molecular único; preferentemente, envolve uma cascata de eventos que se iniciam com a exposição seguida de distribuição e biotransformação e terminando em interações com macromoléculas (como o DNA ou proteínas) e a expressão de um endpoint para o efeito nocivo. Esta sequência pode ser atenuada pela excreção e reparo. A medida da toxicidade é complexa, pode ser aguda ou crônica, e variar de um órgão para outro, assim também com a idade, genética, gênero, dieta, condição fisiológica ou estado de saúde do organismo. O fator mais importante na toxicidade maior ou menor de uma substancia química, em humanos, é a variação genética, em oposto aos animais de experimentação, em que este fator pode ser controlado. Assim, a medida simples da DL50 é altamente dependente do controle rigoroso das variáveis. Como resultado, os valores da DL50 variam marcadamente de um laboratório para outro. ANTÍDOTO Podemos conceituar o antídoto como sendo o medicamento ou produto químico que age sobre o veneno, ou concomitantemente, opondo-se aos seus efeitos, através de diferentes mecanismos. O veneno, como qualquer outro fármaco, para desempenhar sua ação, necessita ser absorvido, distribuído a um ou vários locais no organismo, sofrer uma biotransformação e posterior excreção. Em qualquer uma destas fases, o antídoto pode agir contra o veneno, através de ações físicas e químicas. O prognóstico do paciente intoxicado depende da exatidão do diagnóstico e da rapidez e eficácia das condutas terapêuticas. Além disso, em alguns casos, a utilização de antídotos específicos torna-se imprescindível. Vale ressaltar que os antídotos também apresentam toxicidade, sendo necessário o conhecimento da sua cinética e dinâmica no organismo humano. A avaliação da necessidade de sua indicação deve ser acompanhada por uma utilização correta e pela prevenção de possíveis riscos, observando-se a sua eficácia e contraindicações. Infelizmente, em relação ao número de venenos quase ilimitado, dispõe-se de um reduzido número de antídotos. Além disto, as indústrias farmacêuticas não tem interesse na sua produção, uma vez que são produtos de aplicação restrita e que requerem embalagens em quantidades e concentrações especiais. Em consequência, ocorrem dificuldades na sua aquisição. Poucos são produzidos pela indústria, sendo a maioria obtida através de farmácias de manipulação. DOSE LETAL Um parâmetro importante em toxicologia é a chamada dose letal 50 (DL50), definida como a quantidade de uma substância química que, quando administrada em uma única dose por via oral, expressa em massa da substância por massa de animal (os mais usados são ratos, camundongos, coelhos, peixes e diversas espécies de macacos), produz a morte de 50% dos mesmos dentro de um período de observação de 14 dias. Conforme os níveis diferenciados de DL50, as substâncias químicas recebem diferentes classificações quanto ao seu nível de toxicidade. Apesar do avanço na área toxicológica, principalmente com relação às substâncias químicas, ainda hoje pouco se sabe a respeito da toxicidade de muitos produtos químicos comercializados (somente se têm fichasde dados de segurança e toxicidade para cerca de 6% deles). Isso acarreta como principal consequência o fato de muitas substâncias serem liberadas ao consumo sem um devido estudo toxicológico, a fim de detectar características nocivas à saúde humana após uso prolongado. 2) CARACTERIZAR AS FASES DA INTOXICAÇÃO, DESCREVENDO OS DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DE INTOXICAÇÕES NO BRASIL, AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS POSSIVELMENTE DECORRENTES DE INTOXICAÇÕES E AS CONDUTAS TERAPÊUTICAS NA ABORDAGEM INICIAL DO PACIENTE AGUDAMENTE INTOXICADO. CARACTERIZAR AS FASES DA INTOXICAÇÃO. Os complexos eventos envolvidos na intoxicação, desde a exposição do organismo ao toxicante até o aparecimento de sinais e sintomas, podem ser desdobrados, para fins didáticos, em quatro fases, ditas fases de intoxicação. Fase de exposição. É a fase em que as superfícies externa ou interna do organismo entram em contato com o toxicante. É importante considerar, nesta fase, a dose ou a concentração do xenobiótico, a via de introdução, a frequência e a duração da exposição, as propriedades físico- químicas das substâncias, assim como a susceptibilidade individual. Todos estes fatores condicionam a disponibilidade química do xenobiótico, ou seja, a fração do mesmo disponível para a absorção. Fase toxicocinética. Inclui todos os processos envolvidos na relação entre a absorção e a concentração do agente tóxico nos diferentes tecidos do organismo, através dos deslocamentos da substância no organismo. Intervêm nesta fase absorção, distribuição, armazenamento, biotransformação e os processos de excreção de substâncias químicas. As propriedades físico- químicas dos toxicantes determinam o grau de acesso aos órgãos-alvo, assim como a velocidade de sua eliminação do organismo. O balanço destes movimentos é que condiciona a biodisponibilidade da substância. Fase toxicodinâmica. Compreende a interação entre as moléculas do toxicante e os sítios de ação, específicos ou não, dos órgãos e, consequentemente, o aparecimento de desequilíbrio homeostático. Fase clinica. É a fase em que há evidências de sinais e sintomas, ou ainda alterações patológicas detectáveis mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela interação do toxicante com o organismo. TOXICOCINÉTICA A disposição de toxicantes consiste na absorção, distribuição, biotransformação e excreção dos mesmos nos sistemas biológicos, ou seja, corresponde ao movimento dos agentes tóxicos no organismo. A toxicocinética permite, através de determinados parâmetros, avaliar matematicamente os movimentos dos xenobióticos no sistema biológico, por meio do estudo dos mecanismos de transporte através das membranas biológicas, das vias de introdução no organismo, da distribuição pelo sangue e linfa, dos sítios de armazenamento, dos processos de biotransformação e de excreção de toxicantes e/ou de seus metabólitos. ABSORÇÃO O processo pelo qual os toxicantes atravessam as membranas e entram na corrente sanguínea. Os xenobióticos penetram através das membranas durante absorção, pelos mesmos processos, das substâncias essenciais como oxigênio e outros nutrientes. Os toxicantes, geralmente, atravessam grande número de células como as do epitélio estratificado da pele, as camadas de células finas dos pulmões ou do trato gastrintestinal, do endotélio capilar e as células de órgãos ou tecidos-alvo. Em geral, as membranas que circundam todas essas células são marcadamente similares. Elas têm espessura de 7 a 9 nm e são constituídas por uma dupla camada de fosfolipídeos com grupos polares voltados para a face externa, ácidos graxos enfileirados perpendicularmente e voltados para o espaço interno, além de moléculas de proteínas inseridas na bi-camada de lipídeos que, às vezes, podem atravessar as membranas, formando poros preenchidos por água. Os ácidos graxos da estrutura da membrana não têm estrutura rígida (são quase fluidos em temperatura fisiológica), o que torna mais rápida a absorção, podendo a membrana ser considerada uma estrutura dinâmica. Os fatores que influenciam na taxa de absorção de toxicantes podem ser: Relacionados com a substância Solubilidade: quanto maior a lipossolubilidade da substância, maior a capacidade de atravessar as membranas lipoprotéicas. As substâncias que possuem propriedades hidrofílicas ou polares (hidrossolúveis), ou seja, que formam pontes de hidrogênio com a água, apresentam menor capacidade de serem absorvidas. Grau de ionização: os toxicantes são, na maioria das vezes, ácidos ou bases fracas com grupos funcionais ionizáveis, cujo grau de ionização depende dos valores de pka do agente tóxico e pH do meio, que pode ser plasma, estômago ou intestino. Estes valores determinarão a proporção entre as formas ionizadas (I) e não ionizadas (NI) nos compartimentos. A fração não ionizada é geralmente lipossolúvel e pode difundir-se prontamente através das membranas. A fração ionizada é muitas vezes incapaz de atravessar a membrana lipoprotéica. O conhecimento das proporções entre formas ionizadas e não ionizadas de toxicantes em sistemas biológicos é útil para a escolha do material biológico mais adequado para a análise toxicológica e para o tratamento das intoxicações. Por exemplo, nas intoxicações por anfetaminas, a acidificação da urina sob diurese forçada pode acelerar a eliminação do toxicante. Tamanho e carga dos íons ou moléculas: substâncias com diâmetros menores que 8 Å (ângstrons) e que apresentam cargas negativas (ânions), têm mais facilidade de atravessar as membranas biológicas. Relacionados com o organismo Os fatores ligados ao organismo estão mais relacionados com a toxicocinética e a toxicodinâmica. A biodisponibilidade de um xenobiótico depende de uma série de fatores relacionados aos mecanismos de absorção, vias de introdução, locais de armazenamento, barreiras hematoencefálica e placentária, processos de biotransformação, indução e inibição de sistemas enzimáticos e excreção. Também deve ser considerado o local de administração de um toxicante. A absorção através da pele, por exemplo, é extremamente lenta, porque envolve a transferência através do extrato córneo, que é considerado a principal barreira de permeabilidade do organismo. Em contraste, a absorção através do ar tende a ser rápida, porque envolve a transferência através de uma fina membrana com grande área de superfície e bom fluxo sanguíneo. Mecanismos de transporte através das membranas biológicas: a) TRANSPORTE PASSIVO Difusão simples ou passiva. Contínuo movimento de moléculas e íons em líquidos ou gases. Depende da lipossolubilidade, do gradiente de concentração, do coeficiente de partição óleo/água e do grau de ionização da substância química. Os álcoois e grande parte dos medicamentos são exemplos de substâncias absorvidas por transporte passivo. Sendo uma molécula pequena e hidrofílica, o etanol é absorvido rapidamente do estômago e intestino e igualmente distribuído de forma rápida, por difusão simples, do sangue para todos os tecidos. Filtração. Quando a água flui através dos poros da membrana e carrega consigo qualquer soluto suficientemente pequeno para passar através desses poros, ocorre o processo denominado filtração. Depende do tamanho, da carga e da forma das partículas. A ureia é um exemplo de substância absorvida por filtração. b) TRANSPORTE ESPECIALIZADO Difusão facilitada. Constitui um mecanismo de transporte que ocorre a favor de um gradiente de concentração. Depende da disponibilidade de um transportador, que tem a função de tornar a substância a ser transportada solúvel em lipídeos. Os açúcares são exemplos de substâncias que atravessam as membranas por difusão facilitada.Transporte ativo. Mecanismo que ocorre contra um gradiente de concentração e através do consumo de energia. Depende da seletividade e saturabilidade de um transportador (T). Os íons são exemplos de compostos que atravessam as membranas por transporte ativo. Pinocitose e fagocitose. Neste mecanismo, ocorre quebra da tensão superficial e formação de vesículas denominadas pinocíticas. Este tipo de transferência tem sido importante para a remoção de material particulado dos alvéolos por fagócitos e do sangue pelo sistema reticulo endotelial do fígado e baço. VIAS DE INTRODUÇÃO: Via digestiva. A absorção por essa via ocorre ao longo de todo o trato gastrintestinal: boca, epiglote, glote, esôfago, estômago, duodeno, íleo, ceco e cólon. A absorção pode ocorrer por difusão simples, filtração e pinocitose. O agente tóxico é absorvido, passando para o sistema linfático e circulação portal. No fígado, sofre o efeito da primeira passagem (fenômeno de remoção de substâncias através do fígado, após absorção pelo trato gastrintestinal, antes de atingir a circulação sistêmica). O agente pode sofrer ainda uma reabsorção pela circulação enteroepática, como é o caso de alguns praguicidas e medicamentos. Fatores que condicionam a absorção gastrintestinal podem ser: O grau de dissociação da substância, ou seja, predomínio de formas não ionizadas ou ionizadas; O grau de lipossolubilidade da forma não ionizada e taxa de dissolução; A solubilidade do toxicante no pH do trato gastrintestinal; A estabilidade do agente tóxico em enzimas digestivas e na flora intestinal (por exemplo, as toxinas de cobra são muito menos tóxicas quando administradas oralmente do que por via endovenosa, porque são hidrolisadas por enzimas digestivas do trato gastrintestinal); A plenitude e vacuidade no trato gastrointestinal (GI); O veículo e tipo de formulação do composto; A presença de outras substâncias químicas que possam interagir com o agente tóxico; A capacidade da substância em produzir vômito e irritação. Via cutânea. A pele corresponde a aproximadamente 16% do peso corporal. Sua principal função é de proteção. Para ser absorvido, o toxicante deve atravessar a película hidrolipídica (água, suor, entre outros). Em seguida, a epiderme, que é constituída de várias camadas de células, sendo o extrato córneo (rico em queratina) a camada superior da epiderme e a barreira determinante na absorção de toxicantes. A terceira camada é formada pela derme, região altamente vascularizada, onde o toxicante geralmente provoca um efeito tóxico sistêmico. Portanto, o contato de um toxicante com a pele pode resultar em quatro ações diferentes: funcionamento da epiderme como uma barreira efetiva; irritação local; desenvolvimento de reação alérgica (com proteínas locais); absorção do agente tóxico, provocando um efeito sistêmico. Solventes orgânicos, praguicidas, herbicidas e compostos organometálicos são alguns exemplos de substâncias absorvidas pela via cutânea. Fatores que condicionam a absorção dérmica: Propriedades físico-químicas do toxicante: lipossolubilidade, grau de dissociação do composto, peso molecular, volatilidade e alta viscosidade; Condições da pele: integridade, grau de vascularização local, presença de pilosidades locais ou de glândulas sebáceas e sudoríparas; Condições da exposição: duração da exposição, tipo de contato com o agente tóxico (líquido ou vapor), alta temperatura do ambiente. Via respiratória. Aproximadamente 90% das intoxicações ocupacionais têm origem respiratória, devido: Ao estado físico do agente tóxico no ambiente, que podem ser partículas finas sólidas (poeiras) ou líquidas em suspensão e gases; Facilidade de introdução: de 5 a 6 L/min em repouso e cerca de 30 L/min em atividade; Extensão da área pulmonar (90 m2 e 400 milhões de alvéolos); Permeabilidade e vascularização que facilitam a difusão passiva. As vias respiratórias superiores e os alvéolos tomam parte na retenção e absorção de xenobióticos e sua atuação depende, fundamentalmente, do estado físico do toxicante: Partículas: A retenção de partículas está ligada ao seu tamanho. Quanto maior o diâmetro da partícula, menor a penetração. 50% das partículas com diâmetro superior a 8 m são retidas pelas fossas nasais. Os mecanismos que impedem a penetração nos estágios mais profundos das vias respiratórias são a atividade dos cílios vibráteis, a incorporação da partícula ao muco secretado pelas células e o reflexo nervoso ocasionado pela presença de corpos estranhos. Juntos, estes mecanismos concorrem para a rejeição das partículas e impedem a sua penetração. Entretanto, se a partícula alcança os alvéolos, seu destino poderá ser: o Passagem direta para o sangue, dependendo do seu tamanho e solubilidade; o Remoção até os brônquios seguida de deglutição ou expectoração; o Passagem para o sistema linfático; o Retenção nos alvéolos, podendo causar pneumoconioses; Gases e vapores: Um gás com solubilidade pronunciada apresenta uma tendência maior a ser retido nas vias aéreas superiores. O ácido clorídrico e o amoníaco são muito hidrossolúveis e afetam principalmente as vias respiratórias superiores. Os vapores nitrosos, menos solúveis em água, penetram mais profundamente e lesionam os alvéolos. A absorção alveolar de gases tóxicos depende do gradiente de pressão entre o ar alveolar e o sangue. Quanto maior a pressão do ar alveolar, maior será a absorção. Um gás com baixa pressão no ar alveolar apresenta uma maior tendência a ser eliminado. Com relação às leis das trocas gasosas, observa-se que quanto maior a concentração do gás no ar inalado, mais fácil será a absorção devido: à maior pressão parcial; à maior difusão; à maior solubilidade no sangue. DISTRIBUIÇÃO Após a absorção, o toxicante está disponível para a distribuição no organismo, que depende da afinidade com componentes deste último. Alguns toxicantes acumulam-se em determinadas partes do organismo como resultado de ligação com proteínas, transporte ativo ou alta solubilidade em tecido gorduroso. O local de acumulação de um toxicante pode também ser o local de maior ação tóxica, mas, frequentemente, isso não ocorre. Se um agente tóxico se acumula num sítio que não seja o órgão ou tecido-alvo, esse acúmulo pode ser visto como um processo de proteção em relação aos níveis plasmáticos e, consequentemente, a concentração do toxicante no local de ação estará diminuída. Neste caso, assume-se que o agente químico no local de armazenamento se encontre toxicologicamente inativo. Os toxicantes estão, frequentemente, concentrados num tecido específico. Alguns xenobióticos encontram-se em altas concentrações no local de ação tóxica, como o monóxido de carbono (CO), o qual possui alta afinidade com a hemoglobina, e o paraquat, que se acumula nos pulmões. Outros agentes concentram-se em outros locais diferentes do seu sítio de ação. Por exemplo, o chumbo é estocado nos ossos, mas as manifestações de uma intoxicação pelo metal aparecem nos tecidos moles. Os toxicantes em seus locais de armazenamento estão em equilíbrio com sua fração livre no plasma. Quando os agentes tóxicos da fração livre são excretados do organismo, mais compostos são liberados do local de estocagem. Portanto, o tempo de meia vida biológico dos compostos armazenados pode ser longo. PRINCIPAIS LOCAIS DE ARMAZENAMENTO: a) proteínas plasmáticas: Várias proteínas plasmáticas ligam-se a xenobióticos assim como alguns constituintes do organismo. A albumina é a proteína mais abundante no plasma e serve como depósito e proteína transportadora para muitos compostos exógenos e endógenos. Liga-se a um grande número de xenobióticos. Exemplos: fármacos de caráter ácido(fenobarbital, fenilbutazona, ácido valpróico). As lipoproteínas têm alto peso molecular e são lipossolúveis. Exemplos: fármacos de caráter básico (imipramina, clorpromazina, propanolol). A 1- glicoproteína ácida liga-se a hormônios esteróides e metais pesados. A importância da ligação de proteínas a xenobióticos relaciona-se com a toxicidade dos mesmos. Existe um equilíbrio entre a fração ligada, que é farmacologicamente inativa, e a fração livre, farmacologicamente ativa. Por exemplo, o paration etílico é convertido em paraoxon metílico, responsável pela atividade anticolinesterásica. Existem diferentes afinidades entre esses dois compostos com as proteínas plasmáticas, sendo que o paraoxon apresenta uma menor afinidade com a albumina. Isso explica, em parte, sua maior toxicidade, pois apresenta-se em maior proporção na forma livre, que é farmacologicamente ativa. O paration apresenta uma maior afinidade com a albumina. b) tecido lipídico: Muitos compostos orgânicos presentes no ambiente são altamente lipofílicos. Esta característica permite rápida penetração pelas membranas celulares e captura pelos tecidos. Portanto, toxicantes altamente lipofílicos são distribuídos e concentrados na gordura do organismo. Este acúmulo em tecidos adiposos tem sido observado para vários agentes químicos incluindo clordano, DDT (diclorodifeniltricloroacético) e bifenilas policloradas. c) ossos: Compostos como fluoreto e chumbo podem ser incorporados e estocados na matriz óssea. Aproximadamente 90% da carga corpórea do chumbo, por exemplo, encontra-se no esqueleto. A captura de xenobióticos para o esqueleto é essencialmente um fenômeno químico de superfície, com trocas ocorrendo entre a superfície óssea e o líquido em contato com ela. Barreiras biológicas: constituem estruturas anatômicas especiais que apresentam a função de seletividade na passagem de substâncias químicas ao sistema nervoso central (SNC) e feto. Barreira encefálica: não é absoluta para a passagem de toxicantes para o SNC, mas representa um local que é menos permeável do que a maior parte das áreas do organismo. Dentre as razões anatômicas e fisiológicas está a justaposição das células dos capilares endoteliais deixando poucos ou nenhum poro entre as células. Além disso, são revestidas com astrócitos. Outra explicação seria o fato da concentração de proteína no fluído intersticial do SNC ser muito mais baixa do que nos outros fluídos, o que limita o movimento de compostos insolúveis em água pelo transporte paracelular. A passagem através da barreira hematoencefálica depende da lipossolubilidade do agente tóxico. Os álcoois, as drogas de abuso, os praguicidas organofosforados, os solventes orgânicos, o CO e alguns metais pesados, são exemplos de substâncias que ultrapassam a barreira encefálica. Barreira placentária: entendia-se que sua principal função era proteger o feto contra a passagem de substâncias nocivas advindas do organismo materno. Entretanto, a placenta tem muitas outras funções, como nutrição para o feto, trocas gasosas, excreção de metabólitos fecais e manutenção da gravidez através da regulação hormonal. A passagem de toxicantes pode ocorrer por difusão passiva, difusão facilitada, transporte ativo e filtração. Depende basicamente da lipossolubilidade e do peso molecular do agente tóxico. Etanol, DDT (diclorodifeniltricloroetano), metais e drogas de abuso são alguns exemplos de substâncias que atravessam a barreira placentária. BIOTRANSFORMAÇÃO Os xenobióticos absorvidos nos sistemas biológicos por difusão passiva são geralmente solúveis em lipídeos e, consequentemente, inapropriados para excreção. Após absorção, o xenobiótico pode sofrer uma biotransformação no sentido de formar produtos que são rapidamente excretados e eliminados. Facilitar a excreção de um composto significa que o seu tempo de meia vida biológica é reduzido, portanto, seu potencial de toxicidade é mantido no mínimo. Entretanto, a biotransformação também pode mudar a atividade biológica da substância. A biotransformação pode ser definida como o conjunto de alterações estruturais que as substâncias sofrem no organismo por processos enzimáticos, com o objetivo de formar compostos mais polares e mais hidrossolúveis para serem eliminados. Uma exceção para essa regra geral é a eliminação dos compostos voláteis por exalação que, após biotransformação, podem formar compostos não voláteis ou substâncias solúveis em água, podendo assim retardar a taxa de eliminação. No caso dos compostos lipofílicos não sofrerem biotransformação, os mesmos podem ser excretados do organismo muito lentamente, podendo eventualmente causar morte do organismo. Portanto, após a biotransformação de um toxicante, pode-se obter: Formação de compostos mais polares, que são eliminados na urina; Redução total ou parcial da toxicidade, também conhecida como destoxificação; Formação de compostos de toxicidade semelhante ou maior que o original. Neste caso, alguns exemplos são a biotransformação da cocaína para a norcocaína, paration para paraoxon, metanol para ácido fórmico, anilina para fenilidroxilamina. Reações de fase I e fase II. As reações catalisadas pelas enzimas biotransformadoras de xenobióticos são geralmente divididas em dois grupos denominados fase I e fase II, embora uma biotransformação adicional dos conjugados possa ocorrer (fase III). As reações da fase I consistem na alteração da molécula exógena original através da adição de um grupo funcional, o qual pode ser posteriormente conjugado na fase II. As reações envolvem hidrólise, redução e oxidação. Introduzem um grupo funcional (-OH, - NH2, -SH ou - COOH) e normalmente resultam num pequeno aumento da hidrossolubilidade. Como consequência, pode-se observar inativação, ativação ou alteração da toxicidade da substância química. As reações de biotransformação da fase II incluem a glucuronidação, sulfonação, acetilação, metilação, conjugação com a glutationa e conjugação com aminoácidos. A maior parte das reações de biotransformação da fase II resulta num aumento significativo da hidrossolubilidade do xenobiótico promovendo, portanto, a excreção de compostos químicos exógenos. O benzeno, por exemplo, é uma molécula altamente lipofílica, a qual não está pronta para ser excretada. A fase I da biotransformação converte o benzeno numa série de metabólitos, sendo o mais abundante o fenol. A inserção de um grupo hidroxila permite que a reação de conjugação da fase II ocorra com a adição de um grupamento sulfato polar. O fenil sulfato, seu metabólito final, é altamente hidrossolúvel e rapidamente excretado pela urina. Localização das enzimas biotransformadoras. O órgão que apresenta maior concentração de enzimas é o fígado, onde ocorre a biotransformação de grande número de substâncias. Entretanto, outros órgãos como pulmões, rins, adrenais, pele e mucosa gastrintestinal têm também participação significativa. O fígado, quando submetido à homogeneização seguida de centrifugações sucessivas a velocidades crescentes, fornece diversas frações das células hepáticas. Um dos precipitados contém fragmentos do retículo endoplasmático denominado microssomas, enquanto o sobrenadante ou citosol possui enzimas solúveis, daí o nome fração solúvel. As enzimas biotransformadoras se encontram, portanto, nas seguintes frações: Fração microssomal: as enzimas microssômicas catalizam a maioria das reações da fase I. O citocromo P-450 é a enzima de maior importância entre as envolvidas nas reações da fase I; Fração solúvel (ou citosol): contém esterases, desidrogenases e amidases; Fração mitocondrial: monoamino oxidase (MAO), que degrada aminas. Indução e inibição de sistemas enzimáticos. Indução microssomal: observa-seaumento da atividade enzimática. Como consequência ocorre um aumento da velocidade de excreção de produtos biotransformados ou da formação de compostos inativos ou menos ativos, ou ainda mais ativos. Ocorre particularmente com o citocromo P-450. Exemplos de substâncias que podem sofrer indução microssomal: barbitúricos, etanol, praguicidas organoclorados (DDT, aldrin), dioxinas. Inibição microssomal: neste caso, observa-se uma diminuição na velocidade do processo de biotransformação. Por exemplo, a etilmorfina e a codeína inibem a biotransformação do hexobarbital; em determinadas situações funcionais orgânicas, como em animais cuja dieta é pobre em proteínas, observam- se reduções na sua atividade biotransformadora. Inibição não microssomal: neste caso, também ocorre uma diminuição na velocidade do processo de biotransformação. Os inibidores da monoamino oxidase (IMAO) são os exemplos mais importantes: aminas (anfetaminas), compostos organomercuriais, cocaína, anticolinesterásicos. ELIMINAÇÃO A excreção de xenobióticos pode ocorrer através de fluidos corporais e outros materiais, como fezes e ar expirado. A via de eliminação de importância é determinada pelas propriedades físico-químicas dos compostos. Urina: Maior via de eliminação para compostos de baixo peso molecular e polares. Compostos lipossolúveis são filtrados nos glomérulos, mas reabsorvidos na passagem do túbulo renal. Estes compostos são eliminados após metabolismo e seus metabólitos removidos para urina ou bile. Ar expirado: Compostos voláteis (solventes, aerossóis, gases). Depende da pressão parcial destes compostos. Saliva: Compostos de baixo peso molecular, mas reabsorção ocorre (intestino). Fezes: Importante rota de eliminação de compostos não absorvidos do intestino e para compostos excretados pela bile. Alguns agentes químicos podem passar da circulação para o lúmen do intestino por difusão ou transporte ativo e sofrer eliminação nas fezes. Bile: Compostos de alto peso molecular, geralmente metabólitos conjugados. Reabsorção ou metabolismo bacteriano pode ocorrer no intestino (cólon). Leite: Compostos hidrossolúveis ou lipossolúveis estão presentes no leite. Esta rota tem limitada significância para as mães, mas assume importância crítica na exposição do neonato. Cabelo: Quantitativamente sem importância, mas o crescimento do cabelo permite uma história da exposição a ser determinada com base na posição do agente químico ao longo do cabelo. TOXICODINÂMICA Como resultado de um grande número de agentes tóxicos e de estruturas biológicas e processos fisiológicos que podem sofrer danos, existe também uma variedade de manifestação de possíveis efeitos tóxicos. Consequentemente, existem vários caminhos que podem levar à toxicidade. A Figura ao lado mostra os estágios potenciais no desenvolvimento da toxicidade após a exposição a xenobióticos. Uma via comum é quando o toxicante alcança a molécula alvo e reage com ela, resultando numa disfunção celular. Outras vezes, o xenobiótico não alcança o alvo específico, mas influencia adversamente o (micro) ambiente biológico, causando disfunção molecular, celular, de organelas ou órgãos, levando a efeitos deletérios. O caminho mais complexo envolve mais etapas. Primeiro, o toxicante alcança o alvo e interage com moléculas endógenas, causando perturbações na função ou estrutura celular, iniciando mecanismos que provocam dano. Quando estas perturbações induzidas pelo toxicante excedem a capacidade de reparação do organismo, a toxicidade se manifesta, podendo ocorrer, por exemplo, necrose tissular, câncer ou fibrose. A figura ao lado demonstra que o alcance do toxicante no sítio de ação é o primeiro passo no desenvolvimento da toxicidade. A intensidade de um efeito tóxico depende primariamente da concentração e persistência do toxicante (toxicante final) no seu sítio de ação. O toxicante final é a espécie química que reage com moléculas endógenas alvo (por exemplo, receptor, enzima, DNA, proteína, lipídio) ou altera criticamente o (micro) ambiente biológico, iniciando alteração estrutural ou funcional que resulta na toxicidade. Frequentemente, esse toxicante final é um metabólito do composto inicial, ao qual o organismo é exposto, gerado na biotransformação. Ocasionalmente, o toxicante final pode ser uma molécula endógena. O alcance do toxicante no sítio- alvo de ação depende de vários fatores descritos a seguir: A) ABSORÇÃO VERSUS ELIMINAÇÃO PRÉ-SISTÊMICA: O processo de absorção corresponde à transferência de um agente químico do local de exposição para a circulação sistêmica. Durante o processo de absorção, o toxicante pode ser eliminado, ocorrendo uma diminuição da sua disponibilidade sistêmica. Quando absorvidos pelo trato gastrintestinal, os toxicantes podem sofrer uma eliminação pré-sistêmica durante a passagem pela mucosa gastrintestinal e pelo fígado, que apresentam uma capacidade de eliminar significativas frações desses compostos. Com isso, haverá uma redução dos efeitos tóxicos dos xenobióticos. O etanol, por exemplo, é oxidado pela enzima álcool-desidrogenase na mucosa gástrica; o manganês é recapturado no fígado e excretado pela bile. Entretanto, pode ocorrer injúria dos tecidos e órgãos envolvidos na eliminação pré-sistêmica, como, por exemplo, no caso dos pulmões pelo paraquat. B) DISTRIBUIÇÃO PARA O ALVO VERSUS LONGE DO ALVO: Os toxicantes saem da circulação sanguínea durante a fase de distribuição e entram para o espaço extracelular, podendo penetrar nas células. Os compostos solúveis em lipídeos movem-se rapidamente para dentro das células por difusão. Em contraste, substâncias altamente ionizadas e xenobióticos hidrofílicos estão restritos ao espaço extracelular, a menos que um transporte especializado ocorra na membrana. Os principais mecanismos que facilitam a distribuição ao alvo são: porosidade do endotélio capilar; transporte especializado através da membrana plasmática; acúmulo nas organelas celulares; ligação intracelular reversível (por exemplo, ligação com a melanina). Os principais mecanismos que dificultam a distribuição ao alvo: ligação com proteínas plasmáticas; barreiras especializadas (por exemplo, baixa porosidade aquosa dos capilares do cérebro); distribuição para sítios de armazenamento; associação com proteínas intracelulares; exportação das células (toxicantes intracelulares podem ser transportados de volta para o espaço extracelular). C) EXCREÇÃO VERSUS REABSORÇÃO: Excreção é definida como remoção de xenobióticos do sangue e seu retorno para o ambiente externo. A excreção é um mecanismo físico, enquanto a biotransformação é um mecanismo químico para eliminação de um toxicante. Para substâncias não voláteis, a maior estrutura excretora dentro do organismo é o glomérulo renal, que filtra moléculas pequenas através dos poros; as células dos túbulos proximal transportam ativamente agentes químicos do sangue para os túbulos renais. A rota e a velocidade de excreção dependem das propriedades físico-químicas do toxicante. Não existe um mecanismo eficiente de eliminação de compostos altamente lipofílicos como, por exemplo, bifenilas polialogenadas e praguicidas clorados. Quando resistentes a biotransformação, são eliminados muito lentamente e tendem a acumular-se no organismo após repetidas exposições. A reabsorção por difusão é um processo que depende da lipossolubilidade do composto. Para ácidos e bases orgânicas, a difusão está inversamente relacionada com a extensão da ionização. A ionização é fortemente dependente do pH. A acidificação da urina favorece a excreção de bases fracas, e a alcalinização favorece a eliminação de ácidos fracos. D) TOXIFICAÇÃO VERSUS DESTOXIFICAÇÃO: Uma variedade de xenobióticosapresenta diretamente uma toxicidade, enquanto outros são tóxicos devido a seus metabólitos. A biotransformação para produtos mais tóxicos é chamada de toxificação ou ativação metabólica. No processo de toxificação, o xenobiótico tem sua reatividade aumentada após a formação de eletrófilos, radicais livres, nucleófilos ou reagentes redox-ativos (redox-active reactants). O processo de biotransformação que elimina o toxicante final (aquele que alcança o sítio-alvo) ou previne a sua formação é chamado destoxificação. Este processo pode tomar vários caminhos, dependendo da natureza do agente químico. A toxicidade é mediada por uma reação do toxicante final com a molécula alvo. Ainda em relação à Figura anterior, no caso do toxicante ter chegado ao sítio alvo de ação, consequentemente, uma série de eventos bioquímicos secundários ocorrem, levando a disfunção ou injúria, que é manifestada a vários níveis de organização biológica. A toxicidade pode relacionar- se com a molécula alvo em si, organelas celulares, células, tecidos e órgãos ou mesmo todo o organismo. Praticamente todos os componentes endógenos podem ser alvos potenciais para toxicantes. Principais mecanismos de ação tóxica: A) Modificação na permeabilidade da membrana: Afetará a entrada e saída de nutrientes como fármacos e excretas, além dos íons Na, K e Ca, responsáveis pelos fenômenos de polarização e despolarização da membrana e, consequentemente, pela transmissão elétrica do impulso nervoso. Por exemplo, a neurotoxicidade do DDT é o resultado da interferência nos íons sódio, alterando a permeabilidade da membrana. O álcool etílico parece alterar a fluidez das membranas devido à sua propriedade lipofílica. b) Modificação na atividade enzimática: Por exemplo, os metais bloqueiam os grupos tióis (-SH), inativando enzimas importantes da respiração celular, como as desidrogenases. Os praguicidas organofosforados inibem a enzima colinesterase. Além do fenômeno de inibição enzimática deve-se considerar o fenômeno relacionado com a indução enzimática, que supõe um incremento na atividade de algumas enzimas como consequência da absorção de determinados xenobióticos. c) Complexação com biomoléculas: Os xenobióticos podem complexar-se com componentes enzimáticos, proteínas e lipídeos. O monóxido de carbono, por exemplo, fixa-se à forma reduzida do ferro da hemoglobina, diminuindo o transporte de oxigênio aos tecidos, além de combinar-se com a enzima citocromo oxidase. As aflatoxinas, através do seu metabólito ativo (2,3-epóxido), ligam-se covalentemente ao DNA. O paraquat induz a peroxidação lipídica. d) Interações de agentes tóxicos com receptores: Os receptores seriam macromoléculas situadas nas membranas celulares, citoplasma ou núcleo. Por exemplo, o curare (alcalóide extraído de plantas da América do Sul) atua em receptores das junções neuromusculares. e) Inibição da fosforilação oxidativa: Interferências na produção de energia celular (ATP) e bloqueio da liberação de oxigênio aos tecidos. O cianeto, por exemplo, bloqueia a utilização de oxigênio pelos tecidos por inibição do transporte de elétrons. INTERAÇÕES ENTRE AGENTES TÓXICOS. Na exposição a mais de dois toxicantes, deve-se considerar a possibilidade de um composto interferir na ação do outro. Portanto, numa mistura de agentes tóxicos, pode haver alterações nos efeitos que produziriam separadamente. No efeito aditivo, o efeito tóxico final é igual à soma dos efeitos produzidos separadamente. Por exemplo, a exposição a chumbo e arsênio na inibição da biossíntese do heme, onde ocorre um aumento aditivo de coproporfirinogênio na urina. No efeito sinérgico, o efeito final é maior do que a soma dos efeitos individuais. A exposição ao tetracloreto de carbono e compostos clorados aromáticos promovem uma hepatotoxicidade sinérgica. Na potenciação, um xenobiótico apresenta seu efeito aumentado por interagir com outro toxicante que, originalmente, não produziria aquele efeito tóxico. O propanolol não é hepatotóxico, entretanto, junto com o tetracloreto de carbono aumenta a hepatotoxicidade deste. Quando um toxicante reduz o efeito tóxico de outro, observa-se um antagonismo, onde o efeito tóxico final será menor. No antagonismo competitivo, o antagonista compete com o agonista pelo mesmo sítio de ação, sem reagir com este último, nem com seus receptores. Por exemplo, os praguicidas organofosforados inibem a enzima colinesterase, com o acúmulo de acetilcolina nas sinapses colinérgicas. A atropina (antagonista) bloqueia os receptores de acetilcolina, sendo usada no tratamento das intoxicações por organofosforados. No antagonismo químico, o antagonista reage com o agonista (responsável pela ação tóxica), inativandoo. Por exemplo, o EDTA forma complexos solúveis com o chumbo. Quando dois agonistas agem sobre o mesmo sistema produzindo efeitos contrários, tem-se o antagonismo funcional. Os glicosídeos cardiotônicos, por exemplo, aumentam a pressão arterial e os bloqueadores -adrenérgicos atuam diminuindo a pressão arterial. INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA (DADOS DE 2012- 2016) Dentre o universo de substâncias tóxicas, os medicamentos são os principais agentes envolvidos em intoxicações humanas. Muitos fatores têm colaborado para essa prevalência como a presença de diversas formulações farmacêuticas de segurança e eficácia duvidosa no mercado varejista, a disseminação de farmácias e drogarias que facilitam o acesso ao medicamento, propagandas da indústria farmacêutica, erros de prescrição médica e dispensação farmacêutica entre outras causas. Foram registrados no Sinitox (Sistema Nacional de Informações TóxicoFarmacológicas) 129.428 casos de intoxicações medicamentosas ocorridas no Brasil entre os anos de 2012 a 2016. O ano que se destacou com maior frequência de intoxicações foi em 2012 com 29.946 casos (23%) (Gráfico 1). As faixas etárias mais acometidas foram de um a quatro anos, com 37.582 ocorrências; 20 a 29 anos, com 18.424 casos; e 30 a 39 anos com 15.726 casos. Há a prevalência de intoxicações medicamentosas em crianças de um a quatro anos, porém ao considerar a faixa etária de 20 a 49 anos, que corresponde ao período economicamente ativo das pessoas, esse valor supera o número de casos de intoxicações infantis, com frequência absoluta de 44.548 casos. A ocorrência prevalente em jovens e adultos sugere o uso comum de medicamentos não para fins terapêuticos, mas para autointoxicações intencionais. Com relação à faixa etária de 50 a 80 anos, as intoxicações medicamentosas tendem a diminuir. Os dados analisados estão disponibilizados na Tabela 2. INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS NO BRASIL (PERÍODO DE 1995 A 2010) Os agrotóxicos estão entre os mais importantes fatores de risco para a saúde da população geral, especialmente para saúde dos trabalhadores e para o meio ambiente. O Brasil se destaca no cenário mundial como o maior consumidor de agrotóxicos, respondendo na América Latina por 86% dos produtos. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola (SINDAG), do total de agrotóxicos consumidos no país, 58% são herbicidas, 21% inseticidas, 12%, fungicidas, 3% acaricidas e 7% outros. O estudo epidemiológico realizado em 2011 procurou descrever o perfil epidemiológico das intoxicações por agrotóxicos no Brasil notificadas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação em dois períodos: 1995-2007 e 2006-2010. Trata-se de estudo descritivo retrospectivo. No primeiro período foram avaliados 13.982 e, no segundo, 23.430 registros. A análise dos dados demonstrou que do total de 23.430, 53% (13.554) dos casos são do sexo masculino e 39% (9.870) são do sexo feminino. A faixa etária predominante é de 20 a 49 anos de idade, 63% dos homens e 45% das mulheres,ou seja, a população ativa, seguida pela faixa de adolescentes e adultos jovens (16%). Quanto à zona de exposição, 49% dos homens foi a zona urbana e 33% zona rural. Para as mulheres 69% foi zona urbana e 15% zona rural. Quanto à circunstância de exposição, 46% dos homens foram por tentativa de suicídio e 32% acidental sendo que a maioria (24%) ocorreu durante a atividade de pulverização. Para as mulheres, 64% foram por tentativa de suicídio e 23% acidental. As vias de exposição predominantes foram: a digestiva (61% H e 80% M), seguida da respiratória (19% H e 8% M) e cutânea (10% H e 5% M). Para a maioria dos indivíduos a exposição não foi ocupacional (62% H e 91% M), a maioria teve atendimento hospitalar (74% H e 76% M) e o tipo de exposição foi aguda única (80% H e 83% M). A maioria dos casos (83% H e 85% M) evoluiu para cura sem sequela, mas 4% (1.020) evoluíram para óbito sendo 86% advindos de tentativa de suicídio. Em relação à faixa etária, observa-se que em menores de 10 anos a circunstância principal é a acidental (83%). Dos 10 aos 19 anos, dos 20 aos 49 anos e acima de 50 anos, a principal foi tentativa de suicídio (66%; 61%; 49%) seguido de acidental (17%; 20%; 27%). INTOXICAÇÕES HUMANAS POR RATICIDAS NO BRASIL (DADOS 2000-2008) Devido à falta de saneamento básico adequado, o uso indiscriminado de raticidas tem se tornado um ato muito comum na população, principalmente aquela socioeconomicamente desfavorável. Um estudo traçou o perfil epidemiológico das intoxicações humanas por raticidas no Brasil e Regiões, no período de 2000 a 2008. As Regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores taxas de letalidade do período, enquanto as Regiões Sudeste e Sul mantiveram seus coeficientes em números inferiores a 1%. A faixa etária de 1 a 4 anos teve incidência mais elevada em todas as regiões, exceto na Região Nordeste, onde a faixa etária de 15 a 19 anos foi a mais acometida. Os casos de intoxicação por raticidas foram mais incidentes na zona urbana e no sexo feminino, correspondendo a mais da metade dos casos em todas as regiões. A tentativa de suicídio com raticida foi a circunstância mais predominante em todas as regiões do país. Embora a maior parte dos casos registrados de intoxicação por raticidas tenha evoluído para a cura, observou-se um percentual de quase 40% de cura não confirmada na Região Sul, e cerca de 57% de evolução ignorada na Região Sudeste. Os percentuais de óbitos causados pela ingesta de raticidas foram abaixo de 5% em todo o país. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS Acidentes por animais peçonhentos representam um sério problema de saúde pública nos países tropicais. Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico- Farmacológicas (SINITOX) mostram que animais peçonhentos são o segundo maior agente de intoxicação humana no Brasil, sendo suplantado apenas por medicamentos. O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), vinculado ao Ministério da Saúde, vem a cada ano registrando um aumento nos números de notificações para animais peçonhentos. Em 2010 foram notificados cerca de 124.000 acidentes por animais peçonhentos. Em 2014 esse número se ampliou para mais de 170.000 acidentes, sendo os mais frequentes os causados por escorpiões (cerca de 88.000 acidentes), seguidos por serpentes e aranhas (cerca de 27.000 acidentes cada) e por abelhas (cerca de 14.000 acidentes). Em todo o Brasil, o número de acidentes por animais peçonhentos vem crescendo, inclusive nas grandes capitais, em virtude principalmente de desequilíbrio ecológico ocasionado por desmatamento e alterações climáticas ocorridas ao longo de vários anos. Esses fatores, aliados ao crescimento urbano desordenado, geram a sobreposição de uso do espaço pelo homem e por esses animais, que acabam buscando abrigo e alimento nas cidades. MANIFESTAÇÕES CLINICAS Síndrome tóxica é um conjunto de sinais e sintomas produzidos por doses tóxicas de substancias químicas diferentes que tem efeitos semelhantes. Seu reconhecimento agiliza a identificação do agente causal e permite um tratamento mais adequado. Síndrome de depressão neurológica: O quadro clínico é de sonolência ao coma, miose, redução da PA, bradicardia (FC<60bpm) e edema pulmonar. Os principais agentes são: benzodiazepínicos, barbitúricos, carbamazepina, derivados imidazólicos, antidepressivos tricíclicos, inibidores da colinesterase, salicilatos, álcoois, monóxido de carbono, Opióides naturais e seus análogos, carisoprodol, zolpidem. Síndrome anticolinérgica (antiacetilcolina): É resultante da ação de substâncias antagonistas da acetilcolina nos receptores muscarínicos - antiparassimpático (resultado: aumento dos efeitos do sistema nervoso simpático). O quadro clínico é agitação, midríase, taquicardia, hipertermia, mucosas secas. Também pode ocorrer confusão mental, alucinações visuais, dificuldade na acomodação visual hipertensão moderada, arritmias, diminuição da motilidade intestinal, retenção urinária e mais raramente rabdomiólise, choque cardiogênico e parada cardiorrespiratória. O principais agentes são: fenotiazinas, antidepressivos tricíclicos, antiparkinsonianos, (biperideno), antihistamínicos (prometazina), dimenidrinato (Dramim), vegetais beladonados, atropina, escopolamina e outros. Síndrome simpatomimética: Resultante da estimulação excessiva da atividade simpática. O quadro clínico são alucinações, taquicardia, hipertensão e midríase. Caracterizada por agitação psicomotora, alucinações, paranoia, sudorese, taquicardia, hipertensão arterial (ou hipotensão em casos graves), dor precordial, hipertermia, tremores, convulsões e arritmias em casos mais graves. Os principais agentes são: anfetaminas, ecstasy, cocaína, teofilina, fenilpropanolamina, efedrina, pseudoefedrina e etc. Síndrome serotoninérgica: Causada por estimulação excessiva de receptores serotoninérgicos do SNC e periférico. O quadro clínico é disfunção autonômica (sudorese abundante, diarreia, febre, taquicardia sinusal, hipo ou hipertensão, midríase, rubor, sialorréia, calafrios), alterações mentais (agitação, hiperatividade, letargia, insônia) e neurológicas (tremores, vertigens, hiperreflexia, mioclonia, rigidez muscular, opistótono, ataxia, convulsões). Os principais agentes são: o triptofano, bromocriptina, nefazadona, meperidina, inibidores seletivos da recaptação da serotonina (fluoxetina, paroxetina, sertralina), venlafaxina, iproniazida, antidepressivos tricíclicos, LSD, lítio etc. Síndrome narcótica: Causada pelo uso de opiódes e derivados; tríade clássica no quadro clínico: miose, depressão respiratória e neurológica. Ainda pode se ter rabdomiólise, mioglobinúria, hipercalcemia e insuficiência renal aguda, convulsões, embolia pulmonar séptica (drogas EV), náuseas, sonolência e coma. Os principais agentes são o ópio, tintura de ópio, morfina, codeína, metadona, heroína, fentanyl, antidiarreicos (difenoxilato e loperamina). Síndrome da metemoglobinemia tóxica: Originada pela conversão excessiva de hemoglobina em metemoglobina, que é incapaz de transportar oxigênio. O quadro clínico é cianose, palidez e taquicardia. Os principais agentes são: benzocaína, lidocaína, cloroquina, dapsona, sulfonas, sulfametoxazol, nitroprussiato, nitrofenol, naftalina, removedor de esmaltes, solventes, anilina, tintas de carimbo, cocaína adulterada com benzocaína, nitritos e nitratos orgânicos e inorgânicos. Síndrome da acidose metabólica: Seu principal sintoma é a acidose metabólica produzida diretamente pelo agente químico. São excluídos casos de acidose como complicação de outras alterações clínicas. O quadro clinico é acidose metabólica, distúrbios neurológicos e/ou gastrointestinais. Os principais agentes são o metanol (distúrbios neuro-ocularese gastrointestinais associados) e salicilatos (distúrbios neurológicos e gastrointestinais associados). INTOXICAÇÃO AGUDA LEVE: → Quadro clínico caracterizado por: • Cefaleia; • Irritaçã o cutâneo -mucosa; • Dermatite de contato irritativa ou por hipersensibilização; • Náusea; e • Discreta tontura. INTOXICAÇÃO AGUDA MODERADA: → Quadro clínico caracterizado por: • Cefaleia intensa; • Náusea; • Vômitos; • Cólicas abdominais; • Tontura mais intensa; • Fraqueza generalizada; • Parestesias; • Dispneia; • Salivação; e • Sudorese aumentadas. INTOXICAÇÃO AGUDA GRAVE: → Quadro clínico grave, caracterizado por: • Miose; • Hipotensão; • Arritmias cardíacas; • Insuficiência respiratória; • Edema agudo de pulmão; • Pneumonite química; • Convulsões; • Alterações da consciência; • Choque; • Coma, podendo evoluir para a morte. CONDUTAS TERAPÊUTICAS O primeiro passo para o diagnóstico do envenenamento é avaliar a condição geral do paciente. A intoxicação grave pode requerer rápida intervenção para tratar comprometimento das vias respiratórias ou colapso cardiopulmonar. A intoxicação pode ser reconhecida na primeira apresentação. Ela deve ser suspeitada se os pacientes tiverem sintomas inexplicáveis, especialmente alteração de consciência (que pode variar de agitação, sonolência a coma). Se ocorrer autoenvenenamento proposital em adultos, múltiplas substâncias precisam ser suspeitadas. A história é a ferramenta mais valiosa. Como muitos pacientes (p. ex., crianças que ainda não falam e adultos psicóticos ou suicidas, pacientes com alteração de consciência) não apresentam uma informação fiel, deve-se solicitar auxílio de amigos, parentes e pessoas do resgate. Mesmo pacientes nos quais se pode confiar, às vezes, relatam incorretamente o tempo de ingestão da substância. Quando possível, a residência do paciente deve ser inspecionada para se obterem indícios (p. ex., caixas de comprimidos parcialmente vazias, uma nota de suicídio, evidência de uso de drogas recreacionais). Farmácia e registros médicos podem fornecer indicações úteis. Em locais de trabalho com potencial de envenenamento, outros trabalhadores e supervisores devem ser interrogados. Todos os produtos químicos industriais precisam ter um informativo a respeito dos dados da segurança (IRDS) prontamente disponível no local de trabalho; o IRDS fornece informação detalhada acerca da toxicidade e de qualquer tratamento específico. Em muitas regiões do mundo, informações a respeito de químicos industriais e domésticos podem ser obtidas em centros de controle de intoxicações. A consulta aos centros é estimulada, pois ingredientes, medidas de primeiros socorros e antídotos impressos nas embalagens dos produtos são às vezes imprecisos ou antiquados. Também, o recipiente pode ter sido substituído ou a embalagem alterada. Os centros de controle de intoxicações devem estar aptos a auxiliar a identificação de comprimidos desconhecidos com base em sua aparência. Eles possuem também acesso rápido a toxicologistas. Às vezes, o exame físico detecta sinais que sugerem tipos particulares de substâncias (p. ex., toxidromes [Síndromes tóxicas comuns (toxidromes)]; hálito; presença de drogas tópicas, marcas de agulha, sugerindo uso de drogas injetáveis; estigmas de uso crônico de álcool). Mesmo se um paciente é reconhecido como intoxicado, a alteração de consciência pode ter outras causas (p. ex., infecção do sistema nervoso central, trauma craniano, hipoglicemia, choque, encefalopatia hepática, encefalopatia de Wernicke), as quais também devem ser levadas em consideração. Tentativa de suicídio precisa sempre ser pensada em crianças maiores, adolescentes e adultos que ingeriram uma droga. Além disso, as crianças frequentemente compartilham comprimidos e substâncias encontradas; deve-se fazer uma investigação rigorosa para identificar outros pacientes potencialmente intoxicados entre companheiros de brincadeiras e irmãos. AVALIAÇÃO INICIAL O primeiro passo no atendimento de um paciente intoxicado é a realização de um breve exame físico para identificar as medidas imediatas necessárias para estabilizar o indivíduo e evitar a piora clínica. Portanto, neste momento, é de fundamental importância checar: • Sinais vitais; • Nível e estado de consciência; • Pupilas (diâmetro e reatividade à luz); • Temperatura e umidade da pele; • Oximetria de pulso; • Medida de glicose capilar (dextro); • Obter ECG e realizar monitorização eletrocardiográfica se necessário; • Manter vias aéreas abertas e realizar intubação orotraqueal (IOT), se necessário; • Obter acesso venoso calibroso (neste momento, podem ser coletadas amostras para exames toxicológicos); • Administrar tiamina e glicose via intravenosa (IV) se o paciente se apresentar com alteração do nível de consciência, a menos que os diagnósticos de intoxicação alcoólica e hipoglicemia possam ser rapidamente excluídos; • Administrar naloxona em pacientes com hipótese de intoxicação por opioide. A hipótese de intoxicação por opioide é feita com base na exposição à substância e sinais clínicos como rebaixamento do nível de consciência, depressão respiratória e pupilas mióticas puntiformes; • Procurar sinais de trauma, infecção, marcas de agulha ou edema de extremidades. DIAGNÓSTICO DA INTOXICAÇÃO A abordagem diagnóstica de uma suspeita de intoxicação envolve a história da exposição, o exame físico e exames complementares de rotina e toxicológicos. HISTÓRIA DA EXPOSIÇÃO Utiliza-se a estratégia dos “5 Ws”, isto é, deve-se obter os dados relacionados ao paciente (Who? - Quem?), à substância utilizada (What? - O quê?), horário da exposição (When? - Quando?), local da ocorrência (Where? - Onde?) e motivo da exposição (Why? - Por quê?). Atentar para o fato de que muitas informações podem ser distorcidas ou omitidas, principalmente quando há tentativas de suicídio ou homicídio envolvidas, uso de drogas ilícitas, abortamento ou maus tratos. • Paciente: obter o histórico de doenças, medicações em uso, tentativas de suicídio anteriores, ocupação, acesso a substâncias, uso de drogas e gravidez. • Agente tóxico: procurar saber qual foi a substância utilizada e a quantidade. Sempre que possível, solicitar para os acompanhantes trazerem os frascos ou embalagens e questionar se pode ser um produto clandestino. • Tempo: verificar qual foi o horário da exposição e por quanto tempo a substância foi utilizada, nos casos de exposições repetidas. Questionar se houve algum sintoma prévio à exposição. • Local: saber onde ocorreu a exposição e se foram encontrados frascos, embalagens, seringas ou cartelas de comprimidos próximos ao paciente. Verificar quais medicamentos são utilizados pelos familiares ou pelas pessoas onde o indivíduo foi encontrado. Também é útil saber se foi encontrada alguma carta ou nota de despedida em casos de tentativa de suicídio. • Motivo: identificar a circunstância da exposição, já que é de extrema importância saber se foi tentativa de suicídio, homicídio, acidente, abuso de drogas e outras EXAME FÍSICO Realizar exame físico do paciente verificando os principais sinais e sintomas descritos abaixo: • Odores característicos: ex.: hálito etílico (uso de álcool), odor de alho (organofosforados); • Achados cutâneos: sudorese, secura de mucosas, vermelhidão, palidez, cianose, desidratação, edema; • Temperatura: hipo ou hipertermia; • Alterações de pupilas: miose, midríase, anisocoria, alterações de reflexo pupilar; • Alterações da consciência: agitação, sedação, confusão mental, alucinação, delírio, desorientação; • Anormalidades neurológicas: convulsão, síncope, alteração de reflexos,alteração de tônus muscular, fasciculações, movimentos anormais; • Alterações cardiovasculares: bradicardia, taquicardia, hipertensão, hipotensão, arritmias; • Anormalidades respiratórias: bradipneia ou taquipneia, presença de ruídos adventícios pulmonares; • Achados do aparelho digestório: sialorreia, vômitos, hematêmese, diarreia, rigidez abdominal, aumento ou diminuição de ruídos hidroaéreos; Estes sinais e sintomas descritos, quando agrupados, podem caracterizar uma determinada síndrome tóxica. As principais síndromes tóxicas utilizadas para o diagnóstico da intoxicação aguda são: síndrome sedativo-hipnótica, opioide, colinérgica, anticolinérgica, adrenérgica, serotoninérgica e extrapiramidal. TRATAMENTO O manejo adequado de um paciente com suspeita de intoxicação depende do agente envolvido e da sua toxicidade, assim como do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento. Além do suporte, o tratamento envolve medidas específicas como descontaminação, administração de antídotos e técnicas de eliminação, descritas a seguir: ↳ DESCONTAMINAÇÃO Visa a remoção do agente tóxico com o intuito de diminuir a sua absorção. Durante o procedimento, a equipe de atendimento deverá tomar as precauções para se proteger da exposição ao agente tóxico. Os seguintes procedimentos estão indicados, de acordo com a via de exposição: • Cutânea: retirar roupas impregnadas com o agente tóxico e lavar a superfície exposta com água em abundância; • Respiratória: remover a vítima do local da exposição e administrar oxigênio umidificado suplementar; • Ocular: instilar uma ou duas gotas de colírio anestésico no olho afetado e proceder a lavagem com SF 0,9% ou água filtrada, sempre da região medial do olho para a região externa, com as pálpebras abertas durante pelo menos cinco minutos. Solicitar avaliação oftalmológica; • Gastrintestinal (GI): consiste na remoção do agente tóxico do trato gastrintestinal no intuito de evitar ou diminuir sua absorção. ↳ DESCONTAMINAÇÃO GASTRINTESTINAL A indicação da descontaminação GI depende da substância ingerida, do tempo decorrido da ingestão, dos sintomas apresentados e do potencial de gravidade do caso. Recomenda-se avaliação criteriosa do nível de consciência do paciente, antes de iniciar o procedimento e sempre considerar intubação orotraqueal, caso julgar necessário, para proteção de vias aéreas. Os benefícios maiores desse procedimento estão nas seguintes situações: • Na ausência de fatores de risco para complicações, como torpor e sonolência; • Na ingestão de quantidades potencialmente tóxicas da(s) substância(s); • Nas ingestões recentes, isto é, até 1 a 2 horas da exposição; • Nos casos envolvendo agentes que diminuam o trânsito intestinal (anticolinérgicos, fenobarbital, etc.) ou de substâncias de liberação prolongada, a indicação da descontaminação pode ser mais tardia. Habitualmente, o procedimento divide-se em duas etapas: a realização da lavagem gástrica seguida da administração do carvão ativado. LAVAGEM GÁSTRICA (LG) Consiste na infusão e posterior aspiração de soro fisiológico a 0,9% (SF 0,9%) através de sonda nasogástrica ou orogástrica, com o objetivo de retirar a substância ingerida. Sempre avaliar criteriosamente a relação risco x benefício antes de iniciar o procedimento, pois há grande risco de aspiração. • É contraindicada na ingestão de cáusticos, solventes e quando há risco de perfuração e sangramentos. Evitar a infusão de volumes superiores aos indicados, pois pode facilitar a passagem da substância ingerida pelo piloro e aumentar a absorção do agente tóxico. • Deve-se utilizar sonda de grande calibre, adultos de 18 a 22 e crianças de 10 a 14, mantendo o paciente em decúbito lateral esquerdo para facilitar a retirada do agente tóxico, e diminuir a velocidade do esvaziamento gástrico para o intestino. • Infundir e retirar sucessivamente o volume de SF 0,9% recomendado de acordo com a faixa etária, até completar o volume total recomendado ou até que se obtenha retorno límpido, da seguinte forma: o Crianças: 10 mL/Kg por infusão até volume total de: o Escolares: 4 a 5 L. o Lactentes: 2 a 3 L. o RN: 0,5 L. o Adultos: 250 mL por vez até um volume total de 6 a 8 L ou até que retorne límpido. CARVÃO ATIVADO (CA) É um pó obtido da pirólise de material orgânico, com partículas porosas com alto poder adsorvente do agente tóxico, que previne a sua absorção pelo organismo. Geralmente é utilizado após a LG, mas pode ser utilizado como medida única de descontaminação GI. Nestes casos, a administração pode ser por via oral sem necessidade da passagem de sonda nasogástrica. Na maioria das vezes deverá ser utilizado em dose única, porém pode ser administrado em doses múltiplas como medida de eliminação, em exposições a agentes de ação prolongada ou com circulação ênterohepática, como o fenobarbital, carbamazepina, dapsona, clorpropramida, dentre outros. As formas de administração estão descritas a seguir: • Dose Única: o Crianças: 1 g/kg, em uma suspensão com água ou SF 0,9% na proporção de 4-8 mL/g. o Adultos: 50 g em 250 mL de água ou SF 0,9%. • Múltiplas doses: o Intervalos de 4/4 horas; associar catártico, preferencialmente salino, junto à 3ª dose, e repetir quando necessário. Utilizar o catártico como parte da suspensão do CA. Exemplo: utilizar 100 mL Sulfato de Magnésio 10% (10 g), acrescentar 150 mL de SF 0,9% (total 250 mL) e acrescentar 50 g de Carvão Ativado (suspensão 1:5) CONTRAINDICAÇÕES AO USO DO CARVÃO ATIVADO: • RN, gestantes ou pacientes muito debilitados, cirurgia abdominal recente, administração de antídotos por VO. • Pacientes que ingeriram cáusticos ou solventes ou que estão com obstrução intestinal. • Pacientes intoxicados com substâncias que não são efetivamente adsorvidas pelo carvão, como os ácidos, álcalis, álcoois, cianeto e metais como lítio, ferro, entre outros. COMPLICAÇÕES QUE PODEM OCORRER COM O USO DO CA: • Constipação e impactação intestinal, principalmente quando utilizado em doses múltiplas. • Broncoaspiração, especialmente quando realizado em pacientes torporosos, sem a proteção da via aérea. ↳ LAVAGEM INTESTINAL Consiste na administração de solução de polietilenoglicol (PEG) via sonda naso-enteral para induzir a eliminação do agente através do trato gastrintestinal pelas fezes. É raramente utilizada, salvo nos casos de ingestão de pacotes contendo drogas (body-packing) ou de quantidades potencialmente tóxicas de substâncias não adsorvidas pelo carvão ativado (ex.; ferro, lítio, etc). Está contraindicada na presença de íleo paralítico, perfuração gastrintestinal, hemorragia gastrintestinal e instabilidade hemodinâmica. A dose recomendada é: • Crianças de 9 meses a 6 anos: 500 mL/h. • Crianças de 6 a 12 anos: 1000 mL/h. • Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/h. ↳ ANTÍDOTOS São substâncias que agem no organismo, atenuando ou neutralizando ações ou efeitos de outras substâncias químicas. A administração desses medicamentos não é a primeira conduta a ser tomada na maioria das situações. A maior parte das intoxicações pode ser tratada apenas com medidas de suporte e sintomáticos. Entretanto, algumas situações exigem a administração de antídotos e, às vezes, de medicamentos específicos. A disponibilidade destas substâncias é estratégica do ponto de vista de saúde pública. Devem estar disponíveis seja para uso imediato, no primeiro atendimento, em ambulâncias ou nas unidades de emergência, seja em poucas horas para uso hospitalar ou em serviços de referência. ↳ MEDIDAS DE ELIMINAÇÃO São utilizadas para potencializar a eliminação do agente tóxico. As principais medidas utilizadas são: • Carvãoativado em dose-múltipla: indicado em casos de intoxicação por medicamentos como fenobarbital, dapsona e carbamazepina. A forma de utilização está descrita no item Descontaminação. • Alcalinização urinária: pode potencializar a excreção urinária de alguns agentes. Alcalinizar a urina favorece a conversão de ácidos fracos lipossolúveis (como fenobarbital e salicilatos) para a forma de sal, impedindo a sua reabsorção pelo túbulo renal. As contraindicações são insuficiência renal, edema pulmonar ou cerebral e doenças cardíacas. Técnica: o objetivo é atingir pH urinário > 7,5 enquanto o pH sérico deve se manter em torno de 7,55 a 7,6. Portanto, é recomendada a administração em bolus de 1-2 mEq/Kg de bicarbonato de sódio (NaHCO3) a 8,4%, seguida por infusão contínua de 150 mEq de NaHCO3 em 1 litro de soro glicosado a 5% (SG 5%) (manter infusão entre 200-250 mL/h). • Hemodiálise ou hemoperfusão: são técnicas raramente utilizadas. São geralmente indicadas quando a velocidade de depuração da substância pode ser maior pela remoção extracorpórea do que pelo próprio clearance endógeno, que ocorre nos casos de nítida deterioração do quadro clínico do paciente ou quando os níveis séricos da substância determinam mau prognóstico. A hemodiálise pode ser útil em intoxicações por fenobarbital, teofilina, lítio, salicilatos e álcoois tóxicos. Hemodiálise: é realizada em 90% dos casos que requerem um método de remoção extracorpórea. Durante a hemodiálise, até 400 mL de sangue por minuto atravessam um circuito extracorpóreo em que compostos tóxicos difundem-se em uma membrana semipermeável e são retirados do organismo. É mais efetiva na remoção de compostos com as seguintes características: o Baixo peso molecular (< 500 daltons); o Pequeno volume de distribuição (< 1 L/Kg); o Baixa ligação a proteínas plasmáticas. Hemoperfusão: consiste na depuração do agente tóxico fazendo o sangue passar através de uma coluna de resinas não iônicas ou de microcápsulas de carvão ativado. Tem a capacidade de remover mais efetivamente as toxinas adsorvidas pelo carvão ativado quando comparada à hemodiálise, porém a disponibilidade desta técnica nos centros de emergência é limitada. 3) DISCRIMINAR OS AGENTES TÓXICOS UTILIZADOS COM MAIOR PREVALÊNCIA (MEDICAMENTOS, SANEANTES DOMÉSTICOS E RATICIDAS) E MORBIMORTALIDADE (RATICIDAS, AGROTÓXICOS E PSICOFÁRMACOS). SANEANTES Saneantes são substâncias ou preparações destinadas à higienização, desinfecção ou desinfestação de ambientes e superfícies e ao tratamento de água, incluindo inseticidas, raticidas, desinfetantes e detergentes, que devem ser formuladas com substâncias que não apresentem efeitos comprovadamente mutagênicos, teratogênicos ou carcinogênicos em mamíferos e são classificados de acordo com o grau de risco, a destinação/restrição e finalidade de uso. Quanto à finalidade de uso, são classificados em produtos para limpeza, que têm a finalidade de remover sujidades do ambiente, utensílios, objetos e superfícies; para desinfecção, utilizados para eliminar ou repelir animais sinantrópicos que se encontram em ambientes, objetos e superfícies inanimadas, através de processos físicos ou químicos; antimicrobianos, para destruir ou inibir o crescimento de microrganismos em ambientes, objetos e superfícies inanimadas; para jardinagem amadora, no controle de pragas em jardins e plantas ornamentais, além de revitalizar e embelezar; e os destinados à limpeza com ação antimicrobiana. O risco oferecido por esses produtos ocorre devido à toxicidade das substâncias e suas concentrações nos produtos, à finalidade de uso, às condições e ao modo de uso, à população exposta, à frequência e duração de exposição e às formas de apresentação do produto final. Os profissionais da área da saúde, principalmente os que atuam nos hospitais, estão constantemente submetidos aos riscos trazidos por esses produtos, pois é necessária a limpeza e desinfecção constante de superfícies, de materiais e de equipamentos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem como responsabilidade e missão promover e proteger a saúde, garantindo segurança sanitária de serviços e produtos de saúde. Sua atuação abrange desde o registro até a autorização para entrada no mercado e acompanha o desempenho durante as fases subsequentes (pós-comercialização). Apesar dos esforços de fiscalização, muitos produtos clandestinos estão à venda sem permissão e avaliação do Ministério da Saúde, circulam no mercado informal e são comercializados de forma ilegal, incluindo os saneantes. Sem qualquer garantia legal de bons resultados e de segurança ao serem utilizados, os saneantes clandestinos (ou piratas) são vendidos por ambulantes em ‘caminhões’, diretamente nas residências, mas também em estabelecimentos comerciais que revendem produtos e artigos para limpeza. Geralmente têm cores bonitas e atrativas, principalmente para crianças, e costumam ser vendidos em embalagens reaproveitadas de refrigerantes, sucos e outras bebidas. A circulação de saneantes clandestinos no país coloca em riscos a saúde da população, porque suas formulações não possuem ingredientes próprios para a finalidade informada, ou os contêm em quantidade insuficiente ou aumentada, por isso é considerada um problema para a Saúde Pública e um desafio para a Vigilância Sanitária, porque torna a população susceptível a eventos adversos e a intoxicações. Os saneantes, quando utilizados de forma inadequada, representam risco para a saúde, devido à alta toxidade da maioria de seus compostos, levando a manifestações clínicas graves e à utilização de serviços de saúde de alta complexidade, que impactam na extensão de incapacidades, dor e desconforto, na família e em custos elevados de tratamento ao sistema de saúde. Outro problema diz respeito a contaminação do meio ambiente; provocado principalmente pelas industrias fabricantes quando poluem o ar, as aguas dos rios e dos solos. Esses saneantes são divididos em duas categorias, dependendo do risco que o produto pode impor a saúde. Os de maior potencial de risco são considerados de GRAU DE RISCO II (inseticidas, raticidas, repelentes, esterilizantes hospitalares e desinfetantes domésticos) e necessitam possuir registro junto ao Ministério de Saúde. Já os de menor potencial de risco (GRAU DE RISCO I), como detergentes domésticos e amaciantes de roupas, são dispensados do registro. MEDICAMENTO Medicamento pode ser definido como produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico, mas que pode ser um potencial causador de dano e óbito. Neste sentido, vários autores citam o medicamento como um dos principais agentes responsáveis por intoxicações resultando em atendimento, nas emergências toxicológicas, hospitalização e óbitos em diferentes países. O medicamento é o conjunto de agentes terapêuticos, às vezes medicamentos e remédios, para tentar chegar à cura ou ao alívio dos sintomas do paciente. A maioria dos medicamentos só pode ser adquirida mediante uma receita médica. Eles têm na embalagem uma tarja de cor vermelha ou preta, com dizeres indicando a necessidade da receita. Os que tem tarja preta são os que exigem maior cautela e só devem ser adquiridos com receita especial em seu nome. Enquanto alguns medicamentos não possuem qualquer tarja ou inscrição na embalagem e não é exigida a apresentação de receita médica para sua aquisição. A automedicação como uso irracional, compreende o uso de medicamento sem prescrição, orientação e/ou acompanhamento do médico ou dentista; esta definição difere do conceito de automedicação responsável, que define o uso de medicamento não prescrito, porém, sob
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