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Rios-e-Paisagens-Urbanas-Em-Cidades-Brasileiras

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PROJETO EDITORIAL 
Lucia Maria Sá Antunes Costa 
PROURB- Programa de Pós-graduação 
em Urbanismo FAUjUFR] 
Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Paisagismo 
CooRDENAÇÃO EDITORIAL 
Marta Mosley 
Editora Viana & Mosley 
CAPA E PROJETO GRÁFICO 
Leonardo Ventapane 
Patrícia Façanha 
Rafael Cazes 
IMAGEM DA CAPA 
Leonardo Venta pane- still de vídeo 
DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINAL 
Larissa Averbug 
Rafael Secim 
REVISÃO DE TEXTO 
Lilian Dias 
APOIO 
~APERJ 
ViANA & MOSLEY 
Editora 
Av. Ataulfo de Paiva, 1.079 I sala 704 
Leblon- Rio de Janeiro 
CEP: 22440-034 
Diretor Comercial: Richard Mosley 
Te! I Fax: 21-2540-8571 
E-mail: vmeditora@globo.com 
www.vmeditora.com.br 
prourb~ 
Programa de Pós-graduação em Urbanismo FAUIUFRJ 
Av. Reitor Pedro Calmon, sln-
Prédio da FAU- Reitoria- 5• andar- sala 521 
Cidade Universitária- Rio de Janeiro, R) - 21941.590 
Coordenação: Prof. Denise Barcellos Pinheiro Machado 
Te!: (55.21) 2598-1990 
Fax: (55.21) 2598-1991 
e-mail: prourb@fau.ufrj.br 
www.fau. ufrj. br lprourb 
Rios e paisagens urbanas em cidades brasileiras I 
Lúcia Maria Sá Antunes Costa (org.).- Rio de Janeiro : 
Viana & Mosley: Ed. PROURB, 2oo6. 
192 p.: i!.; 20 x 24 em. 
Inclui bibliografia. 
ISBN 85-88721-38-4-
r. Arquitetura paisagística. 2. Urbanismo. 
3· Cidades e vilas - Brasil. 4- Rios. 
I. Costa, Lúcia Maria Sá Antunes. 
II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de 
Pós-Graduação em Urbanismo. 
CDD: 7n 
RIO DE RO 
PROURB - FAU- UFRJ 
2006 
Entre a paisagem 
o rio fluía 
como uma espada de líquido espesso. 
A cidade é fecundada_ 
por aquela espada 
que se derrama 
"O Cão sem Plumas" 
João Cabral de Melo Neto 
ÍNDICE 
RIOS URBANOS E O DESENHO DA PAISAGEM 
Lucia Maria Sá Antunes Costa 9 
VIVER ÀS MARGENS DOS RIOS: UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO 
DOS MORADORES DA fAVELA PARQUE UNIDOS DE ACARI 
Ana Lucia Britto e Victor Andrade Carneiro da Silva 17 
MAPEAMENTO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS: 
ESTUDO DE CASO DO RIO CARIOCA 
Mônica Bahia Schlee, Ana Luiza Coelho Netto e Kenneth Tamminga 33 
A PAISAGEM DA BORDA: UMA ESTRATÉGIA PARA 
A CONDUÇÃO DAS ÁGUAS, DA BIODIVERSIDADE E DAS PESSOAS 
Paulo Renato Mesquita Pellegrino, Paula Pinto Guedes, Fernanda Cunha Pirillo e 
Sávio Almeida Fernandes 57 
A FLUVIALIDADE EM RIOS PAULISTAS 
Jorge Hajime Oseki e Adriano Ricardo Estevam 77 
RIBEIRÃO PRETO: OS VALORES NATURAIS E CULTURAIS DE SUAS PAISAGEM URBANAS 
Alessandra Soares Ghilardi e Cristiane Rose de Siqueira Duarte 95 
A FORMAÇÃO HISTÓRICA DAS PAISAGENS DO RIO CAPIBARIBE NA CIDADE DO RECIFE 
Vera Mayrink I2I 
o RIO SANHAUÁ E A CIDADE DE JOÃO PESSOA 
Flaviana Vieira Raynaud I4/ 
A PAISAGEM DO RIO RIO ITAJAÍ-AÇU NA CIDADE DE BLUMENAU 
Soraia Loechelt Porath e Sonia Afonso r63 
BELÉM, CIDADE DAS ÁGUAS GRANDES 
Cristóvão Fernandes Duarte I77 
RIOS URBANOS E O DESENHO DA PAISAGEM 
INTRODUÇÃO 
Existem muitas maneiras de falarmos sobre 
cidades. Elas são uma das materializações mais 
complexas da inteligência e da imaginação huma-
nas, e portanto apresentam múltiplas possibili-
dades de abordagem2 • Este livro fala de algumas 
cidades brasileiras a partir da paisagem de seus 
rios urbanos. Em cada capítulo, os autores bus-
cam observar uma cidade tendo seus rios como 
ponto de partida, trazendo questionamentos, 
indagações e observações que ampliam o nosso 
entendimento sobre os valores e significados dos 
rios urbanos no Brasil. 
O livro tem como objetivo principal a divulgação 
de um conjunto representativo de estudos sobre 
rios urbanos em cidades brasileiras, enfocando as 
relações entre rios, cidades e suas populações sob 
diferentes perspectivas. Os capítulos apresentados 
buscam reunir fundamentos e métodos em 
Paisagismo, Arquitetura e Urbanismo que possam 
contribuir para a valorização dos recursos hídricos 
em ambientes urbanos, reconhecendo ainda o 
enfoque interdisciplinar inerente ao tema. 
Lucia Maria Sá Antunes Costa 
Paisagem, país 
foito de pensamento da paisagem, 
na criativa distância espacitempo, 
à margem de gravuras, documentos, 
quando as coisas existem com violência 
mais do que existimos: nos povoam 
e nos olham, nos fixam. Contemplados, 
submissos, delas somos pasto, 
somos a paisagem da paisagem. 
Carlos Drummond de Andrade1 
As contribuições dos autores se dão a partir de 
alguns desdobramentos principais. Inicialmente, 
explorando e conectando diferentes possibilidades 
de leitura da paisagem fluvial urbana, como plane-
jamento ambiental, ecologia da paisagem, estudos 
culturais, história das cidades e fenomenologia, 
demonstram a riqueza da abordagem interdisci-
plinar nos estudos sobre a paisagem. Segundo, e 
a partir destas conexões, contribuem para o enten-
dimento do conceito de paisagem- com ênfase na 
paisagem fluvial urbana- enquanto um processo, 
que participa ativamente na construção de nossa 
visão de mundo3. E finalmente, ao iluminar os rios 
como foco principal de uma leitura da paisagem 
da cidade, ressaltam a imagem poética trazida por 
Carlos Drummond de Andrade: os rios, enquanto 
paisagem, "nos povoam e nos olham, nos fixam''. _ 
RlDS E PAW~lGENS URBANH~L 9 
RIOS URBANOS 
O menino tinha certeza de que 
havia nascido no dia 
em que viu o rio. 
(. .. ) 
O menino amou o rio 
pois acreditou que o rio havia 
também nascido no dia em que ele o viu. 
Ziraldo
4 
Como as cidades habitam os rios? 
É muito antiga a relação de intimidade que se 
estabelece entre rios e cidades brasileiras. Muitas 
das cidades coloniais surgiram inicialmente às 
margens dos rios - mesmo aquelas situadas em 
baias ou à beira-mar5• É, portanto, a partir de rios 
- grandes, médios, ou ainda pequenos cursos 
d'água- que muitos núcleos urbanos brasileiros 
vão surgir. Os rios tinham muito a oferecer, 
além de água: controle do território, alimentos, 
possibilidade de circulação de pessoas e bens, 
energia hidráulica, lazer, entre tantos outros. 
E desta forma as paisagens fluviais foram 
paulatinamente se transformando também em 
paisagens urbanas. 
A complexidade das relações entre rios e cida-
des brasileiras são abordadas ao longo dos capítu-
los a partir de suas congruências e contradições. 
Veremos que rios são importantes corredores bio-
lógicos que permitem a presença e a circulação 
da flora e fauna no interior das cidades. Veremos 
também que eles são espaços livres públicos de 
grande valor social, propiciando oportunidades 
de convívio coletivo e lazer que atendem aos mais 
diversos interesses. E veremos também que olhar 
para as relações entre cidades e rios a partir de sua 
bacia hidrográfica nos permite expandir e entrela-
çar suas dimensões culturais e ambientais. 
Esta relação de intimidade entre rios e cidades 
brasileiras, entretanto, não tem se dado sem con-
flitos. Veremos que os rios tem tido suas margens 
ocupadas por habitações informais ou irregulares, 
e suas águas transformadas em coletores de lixo 
e de esgoto doméstico e industrial. Ao longo dos 
anos, cidades e rios tem travado muitos embates, 
principalmente através de enchentes periódicas. 
Cidades invadindo as águas, e águas invadindo as 
cidades - situações pendulares, cíclicas, geradas 
a partir de antigos conflitos entre os sistemas da 
cultura e os sistemas da natureza. 
Seja cruzando a cidade ou passando ao lar-
go dela, é muito difícil para um rio, principal-
mente os pequenos rios e córregos, atravessar 
um tecido urbano. A base desta dificuldade se 
situa, de um modo geral, principalmente numa 
visão dos rios enquanto estrutura de saneamen-
to e drenagem urbanas. Os conflitos entre pro-
cessos fluviais e processos de urbanização tem 
sido de um modo geral enfrentados através de 
drásticas alterações na estrutura ambiental dos 
rios, onde, em situações extremas, chega-se ao 
desaparecimento completo dos cursos d'água da 
. b 6 paisagem ur ana . 
Certamente estas questões não se dão apenas 
entre os rios das cidades brasileiras7. Sabemos 
que idéias, modelos e gestos projetuais circulam 
internacionalmente,e as experiências relaciona-
das às inserções paisagísticas dos rios urbanos 
não seriam uma exceção. Porém, enquanto alguns 
dos valores atribuídos aos rios podem ser observa-
dos em muitas outras cidades ao redor do mundo, 
outros são mais específicos, e se relacionam com 
a história e a cultura do lugar. 
Voltamos, então, à questão: como as cidades 
habitam os rios? Habitar é construir, como ar-
gumenta Norbeg-Schulz a partir de Heidegger, 
é tornar-se um com a paisagem e com os atri-
butos do lugar8. É quando a intervenção huma-
na, no seu processo de construção, e portanto de 
transformação de mundo, revela e valoriza ainda 
mais os significados e os atributos da paisagem, 
tornando-os visíveis. Por este enfoque, muito de 
nossos rios ainda estão por ser habitados. Não te-
mos olhado para eles como o menino na estória 
10 _ f<IOS E PAISAGENS URBANAS 
de Ziraldo que, ao olhar para o rio, descobriu-o, 
descobrindo também a si mesmo. 
Reconhecer o rio como paisagem, portanto, é 
habitar o rio. 
Desenho da paisagem 
Cada cidade, em seu habitat paisagístico, 
estabelece um ambiente ecológico e cultural único 
em si mesmo (. .. ) 
9 
Lawrence Halprin 
Paisagem e cidade estão destinadas a uma per-
manente relação de cumplicidade. Em um texto 
seminal, o arquiteto paisagista Lawrence Halprin 
argumenta que as cidades mais interessantes são 
aquelas que deixam esta cumplicidade transpa-
recerw. A nossa experiência da paisagem urbana 
se enriquece quando a complexidade do sítio pai-
sagístico se faz presente na forma e no desenho 
da cidaden. 
Já sabemos da importância da água desenhando 
a paisagem, em suas diversas escalas. Neste con-
texto, a compreensão do papel dos cursos d'água 
é de fundamental importância. Os rios, córregos 
e riachos são os caminhos das águas doces que 
buscam um nível mais baixo de repouso. E des-
ta forma vão desenhando seu percurso em linha 
ao sabor da topografia, conectando montanhas e 
planícies, florestas e mares, conectando enfim di-
ferentes fisionomias paisagísticas. 
O rio é assim uma estrutura viva, e portanto 
mutante. É principalmente uma estrutura fluida, 
que pela sua própria natureza se expande e se re-
trai, no seu ritmo e tempo próprios. Ocupa tanto 
um leito menor quanto um leito maior, em fun-
ção do volume sazonal de suas águas. Ao fluir, seu 
percurso vai riscando linhas na paisagem, como 
um pincel de água desenhando meandros, arcos e 
curvas. O rio traz o sentido de uma maleabilidade 
primordial no desenho da paisagem. 
Esta maleabilidade deve encontrar uma corres-
pondência no desenho da paisagem urbana, para 
que o rio possa vibrar na cidade. Portanto, é básico 
considerar propostas projetuais a partir das quais 
o tecido urbano que tem o privilégio de receber 
um curso d'água possa participar desta qualidade, 
que é um dos atributos da paisagem fluvial. 
Por este motivo, já sabemos que não é mais 
aceitável pensar em retificar um rio, revestir seu 
leito vivo com calhas de concreto, e substituir suas 
margens vegetadas por vias asfaltadas, como uma 
alternativa de projeto para sua inserção na paisa-
gem urbana. Estas propostas, que tinham como 
uma de suas bases conceituais a busca do controle 
das enchentes urbanas, são muito criticadas não 
só pela fragilidade sócio-ambiental no resultado 
final do projeto, como também pela pouca eficiên-
cia no controle destas mesmas enchentes'2 • 
No adensamento do espaço construído, os rios 
trazem uma outra importante contribuição para a 
experiência urbana: como espaços livres de edifi-
cações, ampliam a possibilidade de fruição da pai-
sagem da cidade. O que se pode ver de um rio? Ele 
nos permite ver uma água que corre, o céu, as nu-
vens, as estrelas. Ele nos traz a perspectiva de um 
horizonte longínquo, ou o desejo do outro lado da 
margem, ou mesmo ainda sua fabular "terceira 
margem'', como nos conta Guimarães Rosa'3. 
O desenho da paisagem fluvial urbana na esca-
la do pedestre que favorece esta fruição inclui pos-
sibilidades de caminhar ao longo do rio e de ter 
acesso físico à água. Permite ainda atravessar para 
a outra margem, onde as pontes que trazem um 
outro ritmo ao seu percurso são também como 
terraços que nos permitem observar os horizon-
tes urbanos estando sobre a água. E já discutimos 
anteriormente como visibilidade e acesso público 
aos rios urbanos e suas margens, além de conec- _ 
tividade com os demais corpos d'água que com-
põem a rede hidrográfica, são critérios de desenho 
importantes para valorizar sua dimensão ambien-
tal e cultural'4 . 
Desenhar a paisagem urbana a partir das águas 
dos rios que cruzam ou bordeiam a cidade é, por-
Tainara
Realce
Tainara
Realce
Tainara
Realce
Tainara
Realce
Tainara
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Tainara
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Tainara
Realce
Tainara
Realce
Tainara
Realce
Tainara
Realce
Tainara
Realce
l 
tanto, um desafio e uma oportunidade privilegia-
da. Os autores que contribuem para este livro, em-
bora tragam abordagens distintas para diferentes 
cidades brasileiras, apresentam muitos pontos em 
comum. Entre estes, deixam claro que compreen-
der o rio urbano como paisagem é também dar à 
ele um valor ambiental e cultural que avança na 
idéia de uma peça de saneamento e drenagem. É 
reconhecer que rio urbano e cidade são paisagens 
mutantes e com destinos entrelaçados. 
Cidades brasileiras 
Ao apresentar um breve conteúdo das contri-
buições dos autores separadamente, é preciso 
também ressaltar outro aspecto da relevância do 
conjunto destes textos. Sua leitura vai nos reve-
lando lentamente o grande valor do patrimônio 
cultural, ambiental e paisagístico que representa a 
paisagem fluvial urbana nas cidades no Brasil. 
Ana Lucia Britto e Victor Silva iniciam a dis-
cussão sobre rios e paisagem urbana em cidades 
brasileiras, apresentando uma situação que se 
dá não apenas na cidade do Rio de Janeiro, mas 
também em muitas outras cidades no Brasil: a 
apropriação das faixas marginais de proteção por 
ocupações irregulares e favelas. Os autores dis-
cutem relação entre pobreza e riscos ambientais 
apresentando a complexidade dos elos que se es-
tabelecem entre o rio Acari e sua população ribei-
rinha: inundações, lixo, esgoto, mau cheiro, do-
enças. Argumentam que a situação só irá mudar 
quando forem tomadas medidas que reconheçam 
o rio e sua várzea inundável como uma única uni-
dade ambiental. E ressaltam que a recuperação 
dos recursos hídricos precisa estar necessaria-
mente atrelada a uma política habitacional para 
população de baixa renda. 
Ainda com o enfoque na cidade do Rio de Ja-
neiro, Monica Schlee, Ana Luiza Coelho Neto e 
Kenneth Tamminga apresentam um diagnóstico a 
partir do mapeamento sócio-ambiental do rio de 
maior importância histórica para a cidade: o rio 
Carioca, hoje parcialmente oculto da paisagem 
urbana. Ressaltando a importância da bacia hidro-
gráfica como recorte para análises ambientais e 
paisagísticas, os autores propõem uma metodolo-
gia de caráter interdisciplinar para avaliar a trans-
formação da paisagem ao longo da bacia e seus 
efeitos na qualidade ambiental urbana local. Os re-
sultados encontrados apontam que, quanto maior 
a transformação da paisagem conforme os padrões 
de urbanização existente, mais intensos e negati-
vos são os efeitos da qualidade ambiental local. 
A bacia hidrográfica é também o ponto de par-
tida do capítulo apresentado por Paulo Pellegrino, 
Paula Guedes, Fernanda Pirillo e Sávio Fernandes 
para o córrego Bananal, pertencente à bacia do rio 
Cabuçu de Baixo, no município de São Paulo. Eles 
discutem um programa de recuperação ambiental 
e da paisagem, visando principalmente a redução 
ou eliminação das inundações. Os autores salien-
tam o importante papel dos espaços abertos urba-
nos, livres de edificações, para a exploração de um 
novo paradigma para a drenagem das águas, que 
alia a melhoria da qualidade de vida urbana à me-
lhoria das condições ambientais. A metodologia 
utilizada para a apresentação de uma proposta de 
infra-estrutura verde inclui o planejamentoam-
biental, ecologia da paisagem, corredores verdes 
urbanos, e alagados construídos. 
Para uma avaliação das paisagens fluviais da ci-
dade de São Paulo, Jorge Oseki e Adriano Estevam 
trazem o conceito de mediância. Partindo de uma 
breve descrição do sítio paisagístico da cidade e 
dos processos de urbanização que desembocaram 
na inserção paisagística de seus rios e córregos, 
os autores discutem as propostas de cunho higie-
nista, as fases de canalizações e das avenidas de 
fundo de vale, e as experiências dos reservatórios 
de amortecimento nas bacias hidrográficas urba-
nas, discutindo com detalhes as propostas para a 
sub-bacia do rio Aricanduva. Os autores ressaltam 
a gradativa perda da relação entre a cidade e seus 
'12 _FHDS PAISAGENS tmBANAS 
rios urbanos e argumentam sobre a importância 
de se propor uma nova apropriação social para 
as paisagens fluviais urbanas, superando a visão 
quantitativa das engenharias. 
Uma ênfase no valor social dos rios, principal-
mente como espaços livres públicos de lazer, é uma 
das questões discutidas por Alessandra Ghilardi e 
Cristiane Duarte no estudo sobre o Ribeirão Preto, 
principal rio na cidade de mesmo nome situada 
no estado de São Paulo. Neste capítulo, as autoras 
fazem uma apresentação da evolução urbana da 
cidade, ressaltando as diferentes intervenções e 
projetos visando a inserção do rio no tecido urba-
no. Mostram que o rio vai perdendo importância 
à medida que as intervenções sobre seu curso vão 
acontecendo, visando conter as enchentes perió-
dicas. Ao avaliar os diferentes usos ao longo do 
Ribeirão Preto, concluem argumentando que o 
lazer é um dos valores mais importantes que a po-
pulação local atribui ao rio, apesar de sua situação 
ambiental degradada. 
A partir de uma outra perspectiva, V era Mayrink 
apresenta o rio Capibaribe, na cidade do Recife, 
através das representações de sua paisagem 
retratadas em mapas, poemas, relatos de viajantes 
e outros documentos, desde sua fundação até 
os dias de hoje. Reconhecendo o rio enquanto 
paisagem cultural, a autora argumenta que os 
diferentes grupos sociais, a partir de sua maneira 
de ver o mundo, nos trazem várias representações 
da paisagem do Capibaribe, contribuindo assim 
para um melhor entendimento das relações 
entre a população e o rio. Aponta a importância 
do rio na fundação da cidade, constituindo um 
dos elementos mais marcantes de sua paisagem 
urbana. Finalizando, a autora pergunta, a partir 
de uma relação contraditória com o rio, qual 
tem sido o significado do rio Capibaribe para a 
população do Recife. 
Flaviana Raynaud nos traz também uma avalia-
ção de um rio de importância histórica, local de 
fundação da cidade: o rio Sanhauá, em João Pes-
soa. Olhando para o trecho do rio no bairro de Va-
radouro, local de fundação da cidade, a autora nos 
mostra como, a partir do momento em que foram 
abertas as relações viárias de João Pessoa com o 
mar, a cidade foi aos poucos de desvinculando do 
rio. Desta forma, o local, antes uma viva e impor-
tante área de comércio, foi tornando-se esquecido 
e desvalorizado. A paisagem ribeirinha foi sendo 
ocupada por comunidades carentes, e as edifica-
ções históricas foram recebendo novos usos. A au-
tora ressalta que este processo de abandono resul-
tou numa degradação ambiental e urbanística com 
grandes prejuízos para a cidade como um todo. 
O rio Itajaí-Açu e sua participação fundamen-
tal na construção da paisagem pública da cidade 
de Blumenau, em Santa Catarina, é a contribui-
ção trazida por Soraia Porath e Sonia Afonso. As 
autoras destacam a importância da navegabilida-
de fluvial e acesso à água para a escolha do sítio 
de implantação da cidade, fundada por imigran-
tes alemães. A partir de então, a cidade vai se es-
truturar a partir da topografia e do rio. Os lotes 
são demarcados em relação ao rio, para permitir 
acesso à água. Avaliando as grandes e sucessivas 
enchentes, as autoras também argumentam que 
a bacia hidrográfica deve ser o principal recorte 
de análises ambientais, e ressaltam a importân-
cia de um desenho da paisagem urbana que au-
mente o contato da população com as margens 
dos rios, de modo a valorizá-las. 
E finalmente, o livro apresenta a leitura de Cris-
tóvão Duarte sobre a paisagem líquida da cidade 
de Belém do Pará, situada na foz do rio Amazo-
nas, numa estratégica posição de posse e controle 
daquela parte do território brasileiro. O autor nos 
mostra que, ao patrimônio edificado de Belém, 
junta-se na construção de sua paisagem cultural 
a imensidão das águas que a cercam e a emoldu-
ram, e que também deságuam sobre ela em chu-
vas torrenciais que comandam a vida cotidiana da 
cidade. Tantos rios, tanta água, que ele argumenta -
que água e cidade se misturam em constante es-
tado de transição. E, para avançar nesta imagem, 
Cristóvão nos fala de uma Belém submersa e re-
nascente a partir de uma chuva que diariamente 
renova a paisagem mutante da cidade. 
H!DS PAISf4GENS UmlANAS~ 13 
Tainara
Realce
HoRIZONTEs 
Esta paisagem? 
Não existe. Existe espaço 
vacante, a semear 
de paisagem retrospectiva somos a paisagem da 
paisagem. 
Carlos Drummond de Andrade'' 
Esperamos que este livro seja um indutor de 
novos encaminhamentos e debates em torno da 
inserção paisagística e urbanística dos rios urba-
nos em cidades brasileiras. Os capítulos que se se-
guem não apenas discutem experiências passadas 
e suas repercussões na paisagem, mas principal-
mente sugerem caminhos a serem experimenta-
dos na busca do nosso relacionamento com pai-
sagens fluviais urbanas. Neste sentido, podemos 
dizer que este é um livro otimista, que traz uma 
visão prospectiva, destacando o quanto ainda há 
por fazer para que possamos apreender a riqueza 
do sítio paisagístico a partir do desenho da pai-
sagem. Como nos lembra o poeta Carlos Drum-
d d A d d 
. . ,r6 
mon e n ra e: "a paisagem vai ser . 
Para o sonhador de paisagens, desenhar com a 
água é sempre uma aventura transformadora, traz 
a dinâmica de um devir. Este livro portanto espera 
abrir novas janelas, sugerir aberturas metodológi-
cas de projeto paisagístico e urbanístico, provocar 
novos horizontes. A água, na sua mutante primor-
dialidade, permite múltiplos desenhos. 
Figura 1 -foto Carlos Murad 
NoTAS 
r- A ANDRADE, Carlos D. de. "Paisagem: como se faz''. In As 
Impurezas do Branco, Rio de janeiro: José Olympio Ed., 1974, 
pg46. 
2- Ver LYNCH, Kevin. Good City Form. Mass.: The MIT Press, 
!980. 
3- Ver CORNER, )ames (ed) Recovering Landscape: essays in 
Contemporary Landscape Architecture. New York: Princeton 
Architectural Press, 1999; 
4- ZIRALDO. Menino do Rio Doce. São Paulo: Companhia das 
Letrinhas, 1996, sjp. 
5- Ver, por exemplo, REIS, Nestor G. Imagens de Vilas e 
Cidades do Brasil Colonial. São Paulo: EDUSPjFAPESP, 2000. 
6- Ver, por exemplo, BARTALINI, Vladimir. "Os córregos 
ocultos e a rede de espaços públicos urbanos". In Revista do 
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da 
FAUUSP, W r6, 2004, pp. 82-96. 
7- Ver, por exemplo, MANN, Roy. Rivers in the City. New York: 
Praeger Publishers, 1973: PENNING-ROWSELL, Edmund 
& BURGESS, jaquelin. "River landscapes: changing the 
concrete overcoat?" In Landscape Research, Vol. 22, N°I, 1997, 
pp. 5 a n; ou ainda RILEY, Ann L. Restoring Streams in Cities: a 
guide for planners, policymakers and citizens. Washington D.C.: 
Island Press, 1998. 
8- NORBERG-SCHULZ, Christian. Genius Loci: Towards a 
Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. 
9- HALPRIN, Lawrence. "The collective perception of cities: 
we reflect our urban landscapes". In Taylor, L. (ed) Urban 
Open Spaces. Londres: Academy Ed., 1981, pp-4-6. 
IO· Ibid. 
n-Este argumento, inicialmente levantado pelo arquiteto 
paisagista McHARG, Ian. Design with Nature. Washington 
D.C: The Conservation Foundation, 1967, foi posteriormente 
retomado e elaborado por outros arquitetos paisagistas. Ver, 
por exemplo, SPIRN, A.W. The Granite Garden: urban natureand human design. New York: Basic Books, 1984, ou ainda 
HOUGH, M. Cities and Natural Processes. London: Routledge, 
1995· 
12- Ver RILEY, Op.cit. 
13- GUIMARÃES ROSA, João. Primeiras Estórias. Rio de 
janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1988. 
14- Estas questões foram discutidas, considerando o contexto 
brasileiro, em COSTA, L.M.S.A. e MONTEIRO, Patrícia M. 
"Rios urbanos e valores ambientais" In: Del Rio, V.; Duarte, 
C. R. e Rheingantz, P.A. (org) Projeto do lugar: colaboração 
entre psicologia, arquitetura e urbanismo. Rio de janeiro: Contra 
Capa, 2002, pp. 291-298, e ainda em COSTA, L.M.S.A. "A 
paisagem em movimento". In Pinheiro Machado, D.B. (org) 
Sobre Urbanismo. Rio de janeiro: Viana & Mosley f PROURB, 
2006, p. 154·163. 
15- ANDRADE, Carlos D. de. Op.cit., pg. 46. 
r6- Ibid, p-46. 
RIOS E PAISAGENS URBANAS_ 15 
VIVER ÀS MARGENS DOS RIOS: 
, -UMA ANALISE DA SITUAÇAO DOS MORADORES 
DA FAVELA PARQUE UNIDOS DE AcARI 
Os rios são elementos de fundamental impor-
tância na paisagem do Rio de Janeiro. Porém, no 
processo de crescimento urbano da cidade, sua 
importância foi menosprezada. Dos 250 rios exis-
tentes, poucos são visíveis. O processo de ocupa-
ção urbana da cidade fez com que a maior parte 
deles fosse canalizada e coberta, desaparecendo da 
paisagem visível, e, aos poucos, da memória dos 
habitantes do Rio de Janeiro. 
O tratamento dado aos rios pelas obras tradi-
cionais de engenharia hidráulica, através de reti-
ficações e canalizações, além de mudar sua fisio-
nomia e retirar sua visibilidade, fez com que eles 
se transformassem em um sistema de drenagem 
subterrâneo, cuja função inicial seria a de evitar 
enchentes e facilitar a ocupação urbana de um 
território com amplas terras de baixada, sujeitas 
a inundações no período de chuvas mais fortes. 
Com nascentes nas montanhas, mas correndo 
em áreas de baixada, os rios apresentavam uma 
velocidade baixa de escoamento da água, fazendo 
com que as terras das faixas marginais permane-
cessem alagadas por longos períodos de tempo. O 
sistema de canalização adotado buscava direcionar 
e conduzir as águas das enchentes o mais rápido 
possível rio abaixo, esperando assim controlar o 
problema. Hoje se reconhece que essas obras, em-
bora proporcionem melhorias locais em épocas de 
enchentes mais freqüentes, muitas vezes transfe-
Ana Lucia Britto 
Victor Andrade Carneiro da Silva 
rem o problema para jusante e agravam significa-
tivamente a situação das enchentes excepcionais. 
Por outro lado, as obras de saneamento, ao lon-
go de várias décadas, priorizaram a construção de 
sistemas de coleta de esgotos e relegaram a segun-
do plano a questão do tratamento destas águas 
usadas. Os rios eram usados indiscriminadamen-
te como receptáculo destes esgotos não tratados, 
em uma concepção de saneamento que desconsi-
derava as conseqüências nefastas da poluição dos 
corpos hídricos urbanos para o meio ambiente e 
para a qualidade de vida da população da cidade. 
A poluição dos rios e os riscos freqüentes de 
enchentes fizeram com que, até muito recente-
mente, grande parte das áreas ribeirinhas fosse 
considerada espaço desvalorizado, desprezado 
pelos processos formais de urbanização, transfor-
mando-se em paisagem residual, sujeita a ocupa-
ções irregulares. 
De fato, um dos graves problemas sócio-am-
bientais que a cidade hoje precisa enfrentar, asso-
ciado às inundações, é a ocupação irregular da fai-
xa marginal dos rios, principal causa de seu asso- _ 
reamento e, conseqüentemente, das inundações. 
No município do Rio de Janeiro, a lei prevê que 
seja preservada a distância mínima de quinze me-
tros de cada lado do espelho d'água, para que a na-
tureza seja preservada. Como aponta a equipe da 
extinta Fundação Rio Águas, hoje Subsecretaria de 
I 
I 
Águas Municipais, na revista Rio-Águas, em ma-
téria onde tece comentários a respeito do Progra-
ma de Proteção das FNAs, (faixas non aedíficandi), 
esta delimitação de faixas, em alguns casos muito 
extensa, inviabiliza qualquer tipo de ocupação re-
gular ao longo das mesmas. Isto provoca o desin-
teresse dos proprietários de terrenos, que acabam 
ficando abandonados e sujeitos a invasões e ocu-
pações irregulares, atingindo níveis alarmantes 
no município do Rio. A Superintendência Estadu-
al de Rios e Lagoas (SERLA) calcula que existam 
hoje na cidade cerca de 25 mil construções irregu-
lares dentro da faixa marginal de proteção de 30 
metros ao longo de rios, canais e lagoas. 
Como mostra Maricato (2003), no Rio de Ja-
neiro, como em outras metrópoles brasileiras, a 
invasão de terras é uma regra e não uma exceção, 
sendo esta ditada pela falta de alternativas. O pro-
blema é grave e de difícil solução, pois está direta-
mente ligado à situação pobreza em que vive parte 
importante da população carioca, que não conse-
gue aceder à moradia dentro do mercado formal 
de habitação, e à inexistência de políticas de pro-
visão de habitação popular para a população de 
baixa renda. 
Estas políticas, visando ampliar o acesso legal 
e regular destes moradores da cidade à habitação 
com infra-estrutura adequada, são essenciais para 
evitar a ocupação irregular das margens dos rios. 
A legislação de proteção da faixa marginal e as 
políticas de ordenamento do solo urbano são ino-
perantes se não vierem associadas às políticas de 
provisão de habitação. 
Assim, é preciso enfrentar uma situação onde, 
o que do ponto de vista ambiental é identificado 
como problema, do ponto de vista de parte dos mo-
radores da cidade é percebido como solução. Toda-
via, esta solução implica para estes moradores em 
uma série de riscos, decorrentes das enchentes e 
do convívio diário com as águas poluídas, pois na 
maior parte das vezes os esgotos domésticos e o 
lixo destas ocupações são despejados diretamente 
nos rios. Neste trabalho, nos propomos a refletir 
sobre as situações de risco ambiental a que estão 
expostas as populações de baixa renda que vivem 
em ocupações irregulares e favelas nas margens 
dos rios que cortam o município do Rio de Janeiro, 
apresentando um estudo de caso da Favela Parque 
Unidos de Acari, situada às margens do rio Acari 
no bairro da Pavuna, AP3 (Área de Planejamento 3), 
do município do Rio de Janeiro. 
Esta reflexão se insere no âmbito da pesquisa 
"Desigualdades Sócio-Ambientais e Risco Am-
bientar' desenvolvida por uma equipe de professo-
res e pesquisadores do PROURB (Ana Lucia Brit-
to e Victor Andrade Carneiro da Silva) e do IPPUR 
(Luciana Correa do Lago e Adauto Lucio Cardo-
so). Nesta pesquisa, foram realizados estudos de 
caso sobre diferentes áreas de habitação popular 
na região metropolitana do Rio de Janeiro. Esses 
estudos tinham, entre os diferentes objetivos es-
pecíficos às três pesquisas, avaliar condições de 
acesso a serviços de saneamento, problemas am-
bientais e situações de risco ambiental. A pesquisa 
de campo referente ao estudo aqui apresentado foi 
realizada entre outubro e novembro de 2004. Fo-
ram feitas diversas visitas à área Parque Unidos 
de Acari, e a equipe de bolsistas de iniciação cien-
tífica aplicou 79 questionários domiciliares. Além 
destas informações, foram utilizados neste traba-
lho os estudos e diagnósticos elaborados por pes-
quisadores no âmbito do projeto de urbanização 
da área, produzidos pelo escritório de arquitetura 
Arqui Traço. ' 
Na pesquisa aqui apresentada, compreendemos 
por risco ambiental a existência de uma maior pro-
babilidade de ocorrência de desastres que afetem 
a integridade física, a saúde ou os vínculos sociais 
da população em determinadas porções do terri-
tório. O fato de que determinadas áreas estejam 
em situação de risco ambiental é uma decorrência 
da interação entre processos ambientais (carac-
terísticas geofísicas do sítio, clima, pluviosidade, 
etc.), processos econômicos (existência de indús-
trias poluidoras ou de equipamentos ou infra-es-
truturas sujeitas a acidentes) e processos sociais 
(características da população, como renda, escola-
ridade, etc.). Entendemosque o risco ambiental 
não se distribui de forma aleatória, mas obedece 
aos padrões de desigualdade e segregação social 
que marcam a estruturação das cidades. Ou seja, 
são as populações situadas nos níveis inferiores da 
escala da estratificação social, por características 
de renda, escolaridade, cor e gênero, que residem 
ou utilizam os territórios de maior risco ambien-
tal, como a população das favelas, o que as coloca 
numa situação que denominamos de vulnerabili-
dade sócio-ambiental, onde se sobrepõem vulnera-
bilidades sociais à exposição a riscos ambientais. 
Todavia, dentro de uma estratégia de sobrevi-
vência, uma parcela destes moradores vivencia 
esta exposição aos riscos ambientais como parte 
integrante de seu cotidiano, criando mecanismos 
para conviver com eles, a ponto de, muitas vezes, 
não identificá-los mais enquanto risco, como ob-
servamos no caso de Parque Unidos de Acari. 
A ÁREA DE ESTUDO: O TERRITÓRIO DA BACIA 
DO RIO AcARI 
Localizado na parte noroeste da bacia hidro-
gráfica da Baía de Guanabara o rio Acari compõe 
uma das sub-bacias desta macro-bacia (sub-bacia 
Pavuna- Acari) (Fig.I). O rio Acari possui 8300 
metros de extensão e uma área de drenagem de 
cerca de 107 Km\ e drena áreas de 8 bairros: Ma-
rechal Hermes, Guadalupe, Pavuna, Coelho Neto, 
Irajá, Acari, Parque Columbia e Jardim América, 
formando uma planície aluvionar. Tem sua foz no 
rio São João de Meriti, no bairro de Jardim Améri-
ca. Um de seus principais afluentes é o rio Tingui, 
cuja foz se encontra no trecho final do rio Acari, 
na travessia do mesmo com a estrada Camboatá 
no bairro de Deodoro, quando ele passa a ser de-
nominado rio Sapopemba. 
O território da bacia hidrográfica do rio Acari 
corresponde ao que foi designado no Plano Dire-
tor de Esgotamento de Sanitário da Região Metro-
politana do Rio de Janeiro de 1994 como bacia do 
RHJS 
Figura 1 - Foto área do Rio Acari 
Acari. O plano indica que, na maior parte da ba-
cia, os efluentes são lançados nas galerias fluviais 
e encaminhados para os córregos e para o rio Aca-
ri, que tem a qualidade das suas águas bastante 
comprometida, sendo classificado na categoria 4 
pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Am-
biente, que significa o grau mais alto de compro-
metimento das águas, que tem seus usos restritos 
à navegação, harmonia paisagística e outros usos 
menos exigentes. 
Apenas em uma pequena área da bacia existe 
rede de esgotamento e tratamento dos efluentes 
em duas estações: ETE (Estação de Tramamento _ 
de Esgoto) Realengo e ETE Acari. Esta área cor-
responde a parte do bairro de Realengo e de Padre 
Miguel e aos bairros de Vila Militar, Magalhães 
Bastos e Deodoro. Os outros bairros que com-
põem a planície aluvional do rio Acari são despro-
vidos de redes de esgotamento. Esta área deveria 
ser atendida pelo Sistema Pavuna, projetado pelo 
Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, 
que inclui estação de tratamento (ETE Pavuna) e 
redes de coleta. A ETE Pavuna foi construída, mas 
opera abaixo da sua capacidade, pois até de 2oo6 
apenas 23% dos coletores haviam sido instalados. 
De fato, não foram realizadas intervenções im-
portantes para ampliação da rede de esgotamento 
existente na bacia. O mesmo ocorre com a rede 
de drenagem. As obras realizadas de esgotamento 
e drenagem se inseriram dentro dos programas 
Favela Bairro e Bairrinho da prefeitura, voltados 
para urbanização de favelas, e de outros progra-
mas também da prefeitura como Rio-Cidade, Rio 
Comunidade e o programa de regularização de lo-
teamentos. Em 2005, no âmbito do Favela-Bairro 
estavam sendo realizadas intervenções na área do 
Complexo de Acari (Vila Esperança, Parque Prole-
tário Acari, Vila Rica de Irajá) e havia sido concluí-
da a intervenção na comunidade de Fazenda Bota-
fogo. O bairro de Acari sofreu intervenção do Rio 
Comunidade, e os bairros de Marechal Hermes e 
Pavuna do Rio-Cidade. 
A bacia do rio Acari foi objeto de um projeto 
básico de macrodrenagem e de um projeto de 
canalização elaborado em 1991 e modificado em 
I997· Mesmo assim, o problema das inundações 
permanece concentrado no rio, segundo a SERLA 
um dos mais problemáticos do município, com 27 
pontos de inundação. A área de inundação das en-
chentes em 2006 na bacia do Acari atingiu uma 
população de mais de 5o.ooo habitantes. Além do 
assoreamento, que afeta seis trechos de rios da ba-
cia como o Piraquê, o Catarino e o próprio Acari, 
há problemas ocasionados por pontes e travessias 
de pedestres, construídas pelos próprios morado-
res, que impedem o escoamento das águas e acu-
mulam lixo; é o caso das pontes das ruas Recife, 
Manuas e da avenida Marechal Alencastro Guima-
rães, todas sobre o rio Acari 2 .Constatamos que as 
obras hidráulicas realizadas não trouxeram solu-
ção para o problema das inundações, que ainda 
são recorrentes na época de chuvas intensas. Hoje 
as principais ações da prefeitura e da SERLA com 
relação ao rio Acari é a limpeza e dragagem, para 
minimizar o problema que tem como causa prin-
cipal a ocupação irregular de suas margens. 
Seu curso atravessa a zona norte do município 
do Rio de Janeiro, na região identificada como AP3, 
sendo a área marcada por um número importante 
de favelas e ocupações irregulares (Fig. 2e 3). Segun-
do análise realizada por Silva, com base em dados 
do IBGE relativos à renda, escolaridade e acessos a 
serviços de saneamento (abastecimento de água, es-
gotamento sanitário e coleta de lixo) esta é uma área 
de alta vulnerabilidade sócio-ambiental, onde se as-
sociam pobreza, precárias condições de saneamento 
e exposição a riscos ambientais. (Silva, 2oo6) 
É na AP3 que se concentra o maior número de 
favelas do município (312 favelas). Segundo infor-
mações da prefeitura do Rio de Janeiro, em 2000, 
aproximadamente 544·737 dos habitantes da AP3 
viviam em favelas, o correspondente a 23,1% do 
total da população da área. Levando em conta 
que a população de favela, em 1991, correspon-
dia a 480.524 habitantes (ou 20,7%), houve um 
acréscimo dessa população na ordem de 13,4% no 
período I99I/2ooo. Enquanto isso, no mesmo in-
tervalo, a AP viu crescer sua população total em 
1,5%. A AP3 possui um total de 4-9n lotes distri-
buídos em 768.r8r m 2 , com 74,7% destes, ou seja, 
3.667 lotes, edificados em loteamentos irregula-
res inscritos no Núcleo de Regularização de Lotea-
mentos. Além do grande número de favelas, com 
alta densidade de ocupação do espaço, a região 
apresenta um expressivo esvaziamento econômi-
co que se caracteriza pelo abandono de terrenos e 
instalações onde havia uso industrial ou galpões, 
notadamente ao longo da avenida Brasil. A AP3 é 
ainda caracterizada pela carência de áreas verdes 
(menos de r mz por habitante), de espaços cultu-
rais e esportivos, de lazer, de contemplação. 
Uma parte importante das ocupações irregula-
res localiza-se às margens de rios, como o rio Aca-
ri. Neste rio, segundo estudo da Secretaria Muni-
cipal de Meio Ambiente, no trecho entre a nascen-
te no rio São João de Meriti e a avenida Automóvel 
Clube, o maior problema são as ocupações irregu-
BAÍA DE 
SEPETIBA 
lares das margens, com casas construídas pratica-
mente dentro d'água. É neste trecho, na margem 
esquerda, que se localiza a comunidade Parque 
Unidos de Acari, objeto deste trabalho. Na mar-
gem direita está o bairro de Parque Columbia. No 
trecho entre a avenida Automóvel Clube e a aveni-
da Brasil, o rio está canalizado, com 6o metros de 
largura de acordo com o cadastro da SERLA. De 
acordo com o estudo da Secretaria Municipal de 
Meio Ambiente, neste trecho, o canal serve como 
bacia de sedimentação de sólidos e detritos, o que 
exige dragagens permanentes (SMAC, 2006). No 
trecho seguinte, entre a avenida Brasil e a estrada 
João Paulo, em Honório Gurgel, as margens direi-
ta e esquerda estão parcialmente ocupadas pelas 
comunidades de Parque Bela Vista e Almirante 
Tamandaré. No trecho entre a estrada João Paulo, 
em Deodoro, até a rua Luis Coutinho Cavalcante, 
em Guadalupe, a margemesquerda está ocupada 
com edificações, algumas de baixo, outras de bom 
padrão construtivo. Na margem direita, existe 
uma área livre, possível de ser usada para reassen-
tamento de população. 
. I 
OCEANO ATLÂNTICO 
Figura 2 - Mapa das APs com a localização do Rio Acari 
Fonte: Acervo Grupo de Pesquisa Britto, PROURB 
As margens do rio Acari encontram-se assorea-
das ou erodidas. A presença de casas nas margens 
dificulta o trabalho de dragagem feito rotineira-
mente pela SERLA e pela Rio-Águas, da prefeitu-
ra, pois o leito não pode ser aprofundado como 
deveria porque os barracos na margem correm o 
risco de desabar. Além disso, a intensificação do 
processo de ocupação irregular das margens do 
rio, transformou partes do Acari em um esgoto a 
céu aberto. Pouco valorizado na paisagem local, 
o rio recebe grande quantidade de resíduos, tais 
como entulhos, galhada e lixo. 
Emrelaçãoàfaixamarginaldeproteçãodosrios,a 
revista Rio-Águas apresenta uma matéria onde 
tece comentários a respeito do Programa de Pro-
teção das FNAs. Esta matéria informa que, para 
cursos d'água perenes e com vazão igual ou superi- _ 
ora rom3fs no município do Rio de Janeiro, a faixa 
mínima determinada pela legislação vigente é de 
15 m para cada bordo (Rio Águas, 2002). Porém, o 
projeto de canalização do rio Acari anotou uma fai-
xa de ro m para cada lado da borda do canal, onde 
foi prevista uma via com o nome de avenida Canal. 
A coMUNIDADE PARQUE UNIDOS DE AcARI 
A comunidade Parque Unidos do Acari é uma 
área residencial localizada próximo à grande área 
industrial situada na margem esquerda do rio Aca-
ri, enquadrada como Zona Industrial 2. Ela ocupa 
a área entre a ma Embaú e o rio Acari, sendo re-
cortada pela Linha Verde. No entorno imediato, 
está localizada a avenida Automóvel Clube e a es-
tação de metrô Fazenda BotafogojAcari. Na escala 
metropolitana, Parque Unidos de Acari localiza-se 
entre a avenida Brasil e a rodovia Presidente Du-
tra, dois importantes eixos rodoviários da região 
metropolitana do Rio de Janeiro No entorno, há 
outras ocupações irregulares localizadas nos bair-
ros de Acari e Irajá (Parque Proletário Acari, Par-
que União, Vila Esperança, Vila Rica de Irajá), e 
Pavuna (Pedreira, Fazenda Botafogo e Parque Co-
lúmbia). A denominação Acari é usada para o bair-
ro, em função do rio que passa nas proximidades 
da região, hoje chamada de Complexo de Acari 
- que na verdade é a junção do Conjunto Ama-
relinho, constmído no final dos anos 50 na beira 
da avenida Brasil, e mais três localidades: Parque 
Proletário de Acari, Coroado e Vila Esperança. O 
Complexo de Acari iniciou seu processo de ocu-
Figura 3 - Mapa da Favelas do Entorno 
pação no ano de 1946 e atualmente possui uma 
população de cerca de 42 mil habitantes. Hoje 
apresenta um dos maiores índices de pobreza no 
estado do Rio de Janeiro. A comunidade aqui estu-
dada, Parque Unidos de Acari, está fora do Com-
plexo, como mostra a figura a seguir. 
A população de Parque Unidos de Acari tem re-
gistrado um crescimento expressivo nos últimos 
dez anos, pois, de acordo com o censo de 1991 
possuía 418 unidades habitacionais. Já na época 
da elaboração de uma proposta do programa de 
urbanização Favela-Bairro para a área, os dados 
indicavam 650 domicílios (dados do edital). O le-
vantamento realizado pela equipe da Arqui-Traço 
indicou a existência de r.o3r domicílios. 
Segundo dados censitários IBGE de 2000, Par-
que Unidos de Acari é uma comunidade de baixa 
renda, onde os chefes de família têm remuneração 
média de r salário mínimo e meio. Consta que pre-
dominam moradores com faixa de renda de até 500 
reais (68%). Existe uma parcela muito pequena de 
moradores com empregos fixos. Entre as empre-
sas empregadoras destacam-se a Casas Bahia, na 
ma Embaú e o Ponto Frio, em Irajá. Há também o 
FAVElAS 
Favelas 
Pq Un1dos deAcari 
relato de que algumas pessoas da comunidade tra-
balham no CEASA, situado próximo dali. A maior 
parte dos chefes de família garante o sustento fami-
liar com atividades informais como biscates (guar-
dadores de carros, camelôs e catadores de material 
para reciclagem como papéis, ferro velho e garra-
fas). Constatou-se, ainda, na pesquisa de campo, 
a importância dos programas sociais oficiais ou de 
igrejas locais que distribuem cestas básicas. Algu-
mas famílias vivem exclusivamente destes e de ou-
tros donativos, sendo que alguns poucos entrevis-
tados têm acesso ao cheque cidadão do governo do 
estado. A situação sócio-econômica é caracterizada 
também pela baixa escolaridade, que limita as pos-
sibilidades de uma melhor inserção no mercado de 
trabalho. A escolaridade média destes chefes de fa-
mília chega a cinco anos de atividade escolar, sem 
completar o ciclo fundamental. 
Estando assentada próximo ao morro da Con-
ceição e ao morro da Pavuna, e sendo limitada ao 
sul pelo rio Acari, a comunidade apresenta uma 
topografia variada, com uma encosta na parte cen-
tral e uma área mais plana junto ao rio. Os taludes 
das margens do rio Acari, junto à comunidade, 
encontram-se com solo exposto e vegetação rala, 
constituindo num ponto de lançamento de lixo; 
entulhojaterro. O lançamento desses detritos pro-
voca mobilizações recorrentes do talude em épo-
cas chuvosas, assoreando o rio a jusante. Na parte 
oeste da comunidade existe uma grande elevação 
resultado do acúmulo irregular de entulho em va-
zadouro clandestino. 
Na década de 50, o morro da Ferraria (ma Em-
baú) e terras próximas foram loteadas e vendidas. 
Foi o início da ocupação residencial e da pequena 
favela conhecida como "Corta Rabd' na encosta do 
morro da Ferraria próximo ao brejo. 
A década de 6o marcou o crescimento da favela 
impulsionado pelo desenvolvimento do parque in-
dustrial de Fazenda Botafogo atraindo migrantes 
do Norte Fluminense. 
Durante a década de 70, áreas próximas às mar-
gens do rio Acari passaram a servir de vazadouro 
de lixo, a Lixeira de Acari. O despejo de lixo próxi-
mo ao brejo da favela Corta Rabo acabou alterando 
o leito do rio que, na segunda metade da década de 
70, foi oficialmente retificado. (Figs. 4, 5 e 6). 
Figuras 4, 5 e 6 - Mapa histórico, elaborado por 
Flavia Royse. 
RIOB PniSAGENS UR8ANf!S _ 23 
Figura 7 - Barracos sob a Linha Verde, 
Acervo Grupo de Pesquisa Britto, PROURB. 
O aterro de lixo criou solo para a expansão da 
favela, onde foi construído um campo de futebol 
(1978) e também novos barracos. Estes barracos 
foram vendidos pelo Sr. Souza, primeiro presiden-
te da Associação de Moradores criada em r98o e 
que mudou o nome da favela Corta Rabo para Par-
que Unidos de Acari. Observa-se, portanto, que 
parte da ocupação se deu sobre um solo frágil, 
com a camada superior do terreno constituída de 
material de aterro e entulho. 
A Linha Verde, inaugurada em 1974, separou 
a comunidade em duas partes e criou uma cisão 
espacial entre elas (Fig. 7). 
O projeto da Linha Verde criou uma ponte so-
bre o rio Acari, proporcionando um acesso mais 
rápido até a rua Automóvel Clube. Para a cons-
trução da Linha Verde, foi necessário fazer novas 
obras de movimento de terra, gerando uma rearti-
culação dos barracos da favela. A encosta "central", 
conhecida como morro da Ferraria, foi cortada na 
época da execução da Linha Verde, e não foram 
feitos no corte remanescente a contenção e o sis-
tema de drenagem adequados, nem foi plantado 
algum tipo de vegetação que auxiliasse na prote-
ção da encosta. A parte superior foi densamente 
ocupada e apresenta árvores de grande porte loca-
lizadas no limite do corte e que se projetam sobre 
as casas edificadas na parte baixa. Essa parte baixa 
também apresenta um grande número de casas 
Figura 8 - Vazadouro, 
Acervo Grupo de Pesquisa Britto, PROURB. 
junto ao "barranco", e no caminho do que seria a 
drenagem "naturaY' do terreno. Nessa encosta, há 
risco de deslizamentos 
Como outras favelas do município do Rio de Ja-
neiro, Parque Unidos de Acari apresenta uma forte 
heterogeneidade interna, com áreas de ocupação 
maisantiga já consolidadas e de ocupação mais re-
centes extremamente precárias. Na década de 8o, 
a favela se expandiu para as margens do rio Acari e 
sob os viadutos da Linha Verde, onde foram cons-
truídos novos barracos em situação de risco. 
O período registrou uma piora das condições 
econômicas dos moradores em função da falência 
de inúmeras indústrias como Formiplac, princi-
pal empregadora da região. No caso das moradias 
construídas ao longo da Linha Verde, não há afas-
tamento frontal. 
No final da década de 8o, parte do terreno da 
antiga Olaria, então desocupado, começou a ser 
utilizada como vazadouro clandestino de entulho. 
Com quinze anos de funcionamento, o vazadouro 
conforma uma montanha de entulho de aproxi-
madamente ro metros de altura, que continua a 
crescer e se projetar em direção à Linha Verde. O 
vazadouro clandestino de entulho é fonte de re-
cursos para diversas famílias (Fig. 8). 
Nos anos 90, foi criada uma nova área de expan-
são da comunidade em área contígua a este vaza-
douro, conhecida como Terra Nostra (Fig. 9 e 10). 
Figura 9 - Mapa histórico com a localização de 
Terra Nostra, elaborado por Flavia Royse. 
A ocupação se deu a partir da migração interna 
de moradores mais pobres da comunidade para 
essa área, principalmente com as desocupações 
geradas pela construção da Linha Verde. Mora-
dores que foram removidos da área para a cons-
trução da via, migraram para o mangue, situado 
próximo ao local de intervenção. 
Esta área possui hoje cerca de 150 barracos, 
construídos com materiais precários, e é desprovi-
da de saneamento; a maior parte dos moradores 
não possui qualquer tipo de renda, e subsiste ca-
tando entulho, ou com apoio de programas sociais 
que distribuem cestas básicas. Segundo relatos dos 
moradores da área, parte das casas é atingida quan-
do as águas do rio Acari sobem com as chuvas. 
Em levantamento realizado para o diagnóstico 
do programa Favela-Bairro, foram identificados na 
comunidade três setores com diferentes padrões 
de ocupação. O primeiro é denominado setor 
Parque Unidos, ou Beira-Rio, delimitado pelo rio 
Acari que conforma o eixo referencial da comuni-
dade no sentido leste-oeste, reafirmado pela rua 
Padre Lima, que é paralela ao rio. A estrutura de 
lotes característica do setor foi sendo conformada 
de maneira não planejada, com acesso às edifica-
ções por becos e travessas com traçado irregular 
e alta densidade de edificações. No setor Parque 
Unidos, embora existam algumas casas de ma-
deira, o padrão construtivo da maioria das casas 
é de alvenaria e grande parte delas não apresenta 
revestimento. Neste setor, as melhores casas estão 
localizadas ao longo da rua Projetada e no largo 
da Associação. 
O setor Parque Unidos apresenta três eixos 
principais: Linha Verde, rua Padre Lima e rua Pro-
jetada. Este setor tem o campo de futebol Beira 
Rio, importante área livre interna em uma ocupa-
ção de alta densidade. 
O campo do "Beira Rid', na parte central da co-
munidade, abriga os campeonatos que mobilizam 
times do entorno, como o do Ceasa, o "Sensação 
do Nordeste", o do "Ferro Velho" e o "Flor do Em 
Cima da Hora" - os dois últimos, times do local, 
cujos fundadores ajudam a manter esse campo. 
Segundo entrevistas com os moradores, o campo de 
futebol se situa numa área deprimida, o que faz as 
águas da chuva convergirem para ele, drenando-as, 
o que colabora com as pessoas que vivem no seu en-
torno. Somente quando ele é saturado, a água passa 
a atingir os moradores das suas proximidades. 
Nesta área há o maior contato da população com 
rio. As casas estão localizadas à margem do rio 
Acari, que corre paralelamente à rua Padre Lima, 
sendo que as casas têm a frente para a rua e os 
fundos para o rio. Não existem limites entre o rio 
e as casas. Os lotes têm como limite o leito do rio. 
Esta parte posterior das casas é usada muitas vezes 
como depósito de objetos sem uso, de lixo e entulho. 
Figura 1 O -Terra Nostra, 
Acervo Grupo de Pesquisa Britto, PROURB. 
Figura 11 - Casas na margem do rio, 
Acervo Grupo de Pesquisa Britto, PROURB. 
E DSC é o trecho mais sujeito a inundações, 
que ocorrem em épocas de chuvas fortes, quando 
o rio Acari extravasa seu leito, chegando a inundar 
até o campo de futebol. Algumas casas, para se 
proteger das enchentes, passaram por reformas, 
tendo sido soerguidas sobre pilotis; outras apre-
sentam a tipologia de palafita, ou então uma ver-
são simplificada de porão com o objetivo de impe-
dir o alagamento do interior das casas. 
O segundo setor- Em baú tem como elemen-
tos marcantes: a própria encosta do morro da Fer-
raria, fator determinante na paisagem do setor; 
a rua Embaú, importante eixo viário do entorno 
imediato, que funciona como principal eixo do se-
tor e determina o limite da comunidade; e o lote-
amento projetado em r942 no morro da Ferraria 
onde foram planejadas vilas perpendiculares à rua 
Embaú. Vale ressaltar uma característica peculiar 
do setor Em baú: a maioria das ruas são sem saída, 
dando um caráter privado aos becos e travessas da 
comunidade. O setor Embaú apresenta o padrão 
construtivo de melhor qualidade, com uma signi-
ficativa quantidade de residências de alvenaria e 
com revestimento externo. Este setor, nos trechos 
da rua Embaú e da rua Projetada é conhecido pe-
los moradores como a "Zona Sul da comunidade", 
pois segundo eles, é habitado por pessoas com 
maior poder aquisitivo. Mesmo assim, podemos 
constatar que não há sistema de drenagem na 
comunidade e muitas casas possuem pequenas 
trincheiras de cimento nas portas de entrada, para 
impedir a entrada da água em dias de chuva. Se-
gundo moradores, a água chega a atingir um me-
tro de altura próximo à rua projetada. 
O setor Terra Nostra, de mais recente ocupação, 
não possui uma estrutura formalizada, e os acrés-
cimos e modificações nos barracos de madeira são 
registrados com freqüência. 
Segundo informações do presidente da associa-
ção de moradores, a "Terra Nostra" seria uma área 
de ocupação "provisória" para aqueles (as) que, 
por algum motivo, passassem por necessidades 
extremas de moradia e tivessem algum tipo de re-
lação com a associação de moradores, no sentido 
de obter indicação e permissão para assentar-se 
ali. Desta forma, várias das unidades existentes 
não seriam de posse dos moradores, mas mora-
dias provisórias, nas quais as pessoas permanece-
riam até a superação das dificuldades pelas quais 
passam. Assim, segundo uma espécie de pacto 
estabelecido, não é permitido que os moradores 
edifiquem com alvenaria o local. Melhorias reali-
zadas nas moradias ficam por conta dos morado-
res. Tivemos informação, também, de que, embo-
ra as pessoas autorizadas a morar nas casas tem-
porariamente não precisassem pagar nenhuma 
forma de aluguel, deveriam contribuir com algum 
dinheiro para os que deixam a moradia no mo-
mento da ocupação, como forma de compensar as 
benfeitorias realizadas. 
O setor apresenta um beco principal com traça-
do extremamente irregular que conecta os barra-
cos de madeira. A área oeste do setor é delimitada 
pelo vazadouro clandestino de entulho em terreno 
pertencente à Pulmman, pelo rio Acari e pela Li-
nha Verde. O vazadouro clandestino já apresenta 
uma elevação de cerca de ro m de altura, decor-
rente do acúmulo irregular de material de aterro. 
Junto ao vazadouro existe um depósito de ferro 
velho, do qual o vice-presidente da associação de 
moradores é um dos proprietários. 
O setor sofre com as inundações freqüentes. O 
rio Acari, neste trecho, é bastante poluído, exala 
mau cheiro, e suas margens são tomadas por ha-
bitações precárias, algumas com estrutura seme-
lhante à de palafitas. Para passar entre as casas 
nas pequenas ruelas, a população coloca, perma-
nentemente, tábuas que servem como caminho 
sobre a lama 
Esse trecho pode ser considerado área de risco, 
levando-se em conta que não houve um planeja-
mento para sua ocupação como aterro, nem foram 
realizadas obras de contenção para o armazena-
mento do material.Além disso, não há controle da 
procedência e nem da forma como foi e continua 
sendo depositado o material no local. Sendo as-
sim, pode haver deslizamentos ou contaminação, 
dependendo do tipo de material que foi usado no 
aterro (Figs. n e r2). O setor Terra Nostra é o ex-
tremo oposto do Embaú, por apresentar uma he-
gemonia de edificações de madeira e sucata com 
alta vulnerabilidade, constituindo uma situação 
de alta precariedade ambiental e de risco. 
A comunidade de Parque Unidos possui redes 
de abastecimento de água operadas pela CEDAE 
Companhia Estadual de Águas e Esgotos). Na al-
tura da rua Embaú, foi executado um ramal com 
diâmetro de 300 mm, que se desenvolve ao longo 
desta via, e atende ao setor morro da Ferraria. Pró-
ximo à Linha Verde, os moradores, juntamente 
com a CEDAE, instalaram um ramal secundário 
de 75 mm para atender ao setor Parque Unidos. 
Na Linha Verde, o ramal de 75 mm segue no di-
âmetro de 2"-PVC. As moradias são atendidas 
por ramais secundários que percorrem todas as 
ruas dos setores Embaú e Parque Unidos. A área 
nordeste da comunidade se encontra urbanizada 
e, desta forma, a região ribeirinha ao rio Acari, 
junto à rua Leão Cordado, é atendida por rede de 
água executada durante a urbanização. Todavia, 
o abastecimento da grande maioria das residên-
cias é realizado por meio de ligações domiciliares 
precárias e clandestinas na rede oficial. Existem 
redes executadas pelos moradores para atender 
os becos. Não há sistema de medição de água e 
controle de perdas através da instalação de micro-
medidores (hidrômetros) nas moradias, e de ma-
cro-medição nas redes principais. Na maioria dos 
domicílios pesquisados (59%) o abastecimento se 
dá através de ligações clandestinas na rede oficial, 
não havendo pagamento de conta de água. 
Durante uma das visitas de campo, havia um 
enorme vazamento jorrando água em uma das ca-
nalizações da CEDAE que atravessa a comunidade. 
O setor denominado Terra Nostra é atendido 
por uma rede muito precária pendurada sob a 
estrutura da ponte sobre o rio Acari. Esta linha, 
construída pelos moradores, é proveniente da 
rede que alimentava a desativada fábrica de gelo 
seco, com diâmetro de roo mm, ramal da 2" linha 
da av. Automóvel Clube, localizada na margem 
sul do rio Acari. As ruas do setor Terra Nostra não 
são pavimentadas, e a rede que alimenta a comu-
nidade se encontra aparente, com canos rachados 
Figura 12- Casas na margem do rio, Acervo Grupo de 
Pesquisa Britto, PROURB. 
que passam por dentro do esgoto e da lama con-
taminada. Não há ligação formal de água para 
nenhum domicílio desse setor. O diagnóstico re-
alizado para o Favela-Bairro, indica que, segundo 
informações obtidas junto à associação dos mo-
radores, o sistema de abastecimento de água não 
atende satisfatoriamente a comunidade, com for-
necimento fraco em alguns períodos do ano. Nas 
entrevistas que realizamos, apenas no setor Terra 
Nostra foram levantados problemas com relação à 
qualidade do abastecimento. 
Como visto anteriormente, a região não dispõe 
de sistema de coleta de esgotos. Conforme dados 
do cadastro da CEDAE, o entorno da comunidade 
é caracterizado por loteamentos particulares. Exis-
tem loteamentos que utilizam fossas, e outros que 
são desprovidos de sistema de coleta de esgotos. 
O efiuente das fossas e o esgoto "in natura" são 
encaminhados para as redes de drenagem execu-
tadas nas ruas dos loteamentos, e lançados no rio 
Acari. A comunidade Parque Unidos é totalmente 
desprovida de redes formais para coleta de esgoto 
sanitário. A maioria dos moradores executou re-
des coletoras improvisadas nos becos e na Linha 
Verde, com tubos em anéis de concreto com os di-
âmetros variando de 200 mm e po mm e caixas 
de passagem em alvenaria. Estas redes se desen-
volvem em determinados trechos sob as residên-
cias correndo o risco de serem obstruídas, e sem 
condições de recuperação. Destaca-se ainda o fato 
de existirem várias casas geminadas e aglomera-
das, o que prejudica a delimitação da rede pública 
com a ligação domiciliar. As residências lançam o 
esgoto "in natura" no sistema de drenagem pre-
visto para a comunidade, ou diretamente no rio 
Acari. Foi verificada, em diversos locais da comu-
nidade, a existência de rasgos no pavimento para 
a instalação de tubos de esgoto. 
A situação é mais precária no setor Terra Nos-
tra, onde foi executada pelos moradores uma rede 
destinada à coleta de águas pluviais e esgoto sani-
tário. Em alguns trechos desta rede, o esgoto é en-
caminhado a céu aberto, no meio de amontoados 
de lixo. Este fato permite que, em épocas de chuva 
intensa, ocorra o afloramento e estagnação dessas 
águas servidas em diversos trechos da rede, tra-
zendo problemas de toda natureza, acompanha-
dos de mau cheiro e mau aspecto, além de facilitar 
a proliferação de ratos e outros vetores transmis-
sores de doenças. Durante as entrevistas e as visi-
tas de campo, o forte cheiro de esgoto foi relatado 
pelos pesquisadores. 
"tinha um cheiro muito forte que fazia arder os 
olhos e os moradores dali não sentiam nada e nem co-
mentavam do cheiro, apenas reclamavam dos insetos 
e ratos, que estão até mesmo dentro de casa." 
De fato, o principal problema relacionado à 
precariedade do sistema de coleta de esgoto, iden-
tificado nas entrevistas com os moradores, foi a 
proliferação de insetos e ratos. 
As redes de esgoto executadas pelos moradores 
são utilizadas também para captação de águas plu-
viais, por meio de ralos instalados ao longo dos 
becos. Em algumas áreas, estas redes passam por 
baixo de várias residências, para permitir o lança-
mento do esgoto no rio. Segundo informações ob-
tidas junto aos moradores, não foram executadas 
fossas nas residências. 
Apesar do governo estadual, sob a gerência da 
SERLA, ter contratado a dragagem do rio Acari, 
segundo os moradores em alguns períodos o rio 
fica assoreado. Este fato provoca, em épocas de 
chuva intensa, inundações em algumas regiões 
às margens do rio. Como as redes de drenagem 
que coletam também esgoto desembocam no rio, 
acontece o inevitável: o retorno do esgoto às resi-
dências. 
As moradias existentes ribeirinhas ao rio Acari 
lançam o esgoto diretamente no rio, por meio de 
tubulações penduradas nas paredes, caracterizan-
do que na maioria das residências não há caixas 
separadoras de gordura, peça indispensável para 
viabilizar qualquer tratamento de esgoto. 
Um dos principais problemas enfrentados pela 
comunidade são as inundações. Dos domicílios 
pesquisaclos, 78% afirmaram sofrer com as inun-
dações. Foram realizados pela SERLA serviços de 
dragagem do rio Acari (Contrato 043/98). Segun-
do a associação de moradores, após a realização 
destes servips, a situação melhorou. Porém, como 
a dragagem do rio não é executada regularmente, 
nos períodos de chuva intensa o rio extravasa seu 
leito e inunda as regiões ribeirinhas, neste caso a 
área ocupada pela comunidade Parque Unidos de 
Acari. Na área da comunidade, segundo os proje-
tos analisados na Rio Águas e dados levantados 
em campo para o diagnóstico do programa Favela 
Bairro, só foram executadas redes de drenagem 
nas ruas Embaú, Projetada e nas ruas da área ur-
banizada localizada no nordeste da comunidade. 
As águas pluviais são enc:;minhadas ao rio Acari 
por meio das redes de drenagem existentes cons-
truídas pelos moradores. Estas redes são em geral 
constituídas por tubos de concreto com diâmetros 
variando entre 40 em e 150 em, e PV's com espa-
çamento de cerca 40 m. A captação é realizada por 
meio de caixas de ralo nos dois lados das ruas. O 
estado geral das redes não é satisfatório, pois foi 
verificado que a maioria dos ralos estão assorea-
dos e com lixo. 
No cruzamento das ruas Embaú e Projetada foi 
executada uma bateria de ralos. Na travessa de Lima 
e rua Padre Lima, e em vários becos, foram cons-
truídos pelos moradores redes provisórias para co-
leta de esgoto que também são utilizadas indevida-
mente para o transporte de águas pluviais e obvia-
mentenão atendem a nenhum dos dois sistemas. 
Um dos problemas que contribui para o agrava-
mento das enchentes é a presença de lixo deposita-
do em vários pontos da comunidade. Existe coleta 
regular de lixo em Parque Unidos, executada pela 
COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza 
Urbana). A coleta de lixo é realizada três vezes por 
semana das TOOh às r5:2oh, nas ruas principais: 
Linha Verde, nas ruas Padre Lima, Projetada e 
Embaú, e nas travessas Padre Lima, União, Bom 
Jardim e Embaú. A con:unidade possui garis co-
munitários que realizam a varredura e limpeza 
geral das áreas públicas. Os garis comunitários 
têm seu apoio funcionando na associação de mo-
radores. Este sistema, no entanto, parece não ser 
suficiente pois existe grande quantidade de lixo 
acumulado nas margens do rio Acari, principal-
mente próximo à ponte da Linha Verde. De fato, 
nas áreas de mais difícil acesso, a coleta de lixo 
não é realizada. Segundo uma moradora de Terra 
N ostra, todos os moradores desta região levam o 
lixo doméstico para o terreno ao longo do leito do 
rio, para onde é dirigido todo o esgoto local; isto 
é relatado de forma natural, já que, segundo ela, 
é feito há anos. Ela informou ainda que doenças 
como dengue, cólera, leptospirose, ascaridíase e 
diarréias já apareceram em sua família. Apesar 
da existência de diversos depósitos irregulares e 
do vazadouro clandestino de entulho em terreno 
pertencente à empresa Pulmman (no limite oeste 
da comunidade) alguns moradores afirmaram nas 
entrevistas que não existem depósitos de lixo na 
comunidade. Outros moradores entrevistados de-
monstraram a consciência da necessidade de pre-
servação do rio Acari, e consideram as pessoas mal 
informadas por continuarem jogando lixo no rio. 
Os MORADORES E O RIO ACARI 
O trecho da comunidade aterrado próximo ao 
rio Acari, identificado como Parque Unidos ou 
Beira Rio, apresenta um grande número de habi-
tações. Muitas delas são palafitas que estão locali-
zadas na faixa de inundação do rio. Há, portanto, 
o risco recorrente de inundações. Todavia, são os 
fundos dos lotes que estão em contato com o rio; 
pode-se afirmar que, em termos de estrutura físi-
ca, a comunidade está de costas para o rio. 
As precárias condições de saneamento, associa-
das ao risco de inundações, fazem com que a relação -
da comunidade de Parque Unidos de Acari com o 
rio Acari seja extremamente complexa. As entrevis-
tas revelaram que, para muitos, o rio é visto como 
uma fonte de problemas, em conseqüência das 
inundações que já foram extremamentefreqüentes. 
Na pesquisa de campo, a maior parte dos mo-
radores assinalou que a área sofre com as inun-
dações, sendo este, juntamente com a os riscos 
ligados à violência, os principais problemas apon-
tados pelos moradores do bairro. Alguns aponta-
ram como principal problema a poluição do rio, 
reconhecendo que ela decorre do despejo de lixo 
nas águas e da inexistência de sistemas adequa-
dos de coleta e tratamento de esgotos, fazendo 
com que, em determinadas épocas, o rio exale um 
cheiro forte de esgoto. 
É interessante notar que as casas ribeirinhas 
se estruturam com a parte de fundos para o rio, 
com a sala e as partes mais nobres voltadas para 
a rua, o que denota o pouco valor dado a este im-
portante elemento da paisagem. Outros morado-
res, sobretudo os mais antigos, lembram de um 
rio não poluído, onde era possível nadar e pescar, 
atividades que hoje são pouco freqüentes devido à 
alta contaminação das águas; estes moradores re-
conhecem a necessidade de buscar soluções para 
os problemas de inundação e poluição. 
A melhoria do sistema de esgotamento aparece 
entre as reivindicações de alguns moradores. To-
davia, as principais reivindicações dos entrevista-
dos em Parque Unidos de Acari estão vinculadas a 
serviços relacionados ao trabalho, como creches e 
melhor acesso aos transportes. De fato, a situação 
de pobreza em que vive a maior parte dos mora-
dores, a questão da violência relacionada ao tráfico 
de drogas, e a premência da garantia da subsistên-
cia cotidiana indicam que os problemas relativos 
à qualidade do ambiente são considerados secun-
dários. Mesmo reconhecendo que a qualidade do 
ambiente é precária, as entrevistas mostram que 
a comunidade, apesar de já densamente ocupada, 
continua em expansão, com famílias recém-insta-
ladas. A escolha do local se faz através de família ou 
amigos que já moravam na área, e da localização, 
que facilita as possibilidades de acesso ao trabalho. 
A proposta de urbanização para a área dentro 
do programa Favela-Bairro de 2003 implicava 
várias ações que, segundo a equipe técnica do es-
critório Arqui-Traço, responsável pela sua elabora-
ção, tinham um custo financeiro muito elevado. 
A proposta envolvia a construção de casas para o 
reassentamento da população ribeirinha na área 
onde hoje existe o vazadouro de lixo. Este deveria 
ser desativado e a área devidamente adequada à 
construção de habitações para a população do se-
tor Terra Nostra e do setor Parque UnidosjBeira 
Rio. Alegando que os custos eram muito elevados, 
a prefeitura não chegou a desenvolver a proposta. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Os rios são atributos importantes da paisagem 
da cidade e podem propiciar uma situação privile-
giada aos seus habitantes, particularmente àqueles 
que vivem na sua proximidade. Eles podem usu-
fruir dos recursos hídricos, e de um habitat rico, 
com grande variedade de características biológicas 
(espécies vegetais, de pássaros e outros pequenos 
animais) e geomorfológicas (Penning - Rowsell 
& Burgess, 1997 e Costa e Medeiros, 2002). Por 
outro lado, as paisagens dos rios são elementos 
de contemplação, podem ter efeitos relaxantes e 
estimulantes, através do fluxo das suas águas e da 
vegetação das suas margens, assim como podem 
ser um lugar para atividades esportivas e de lazer. 
Neste sentido, os rios podem ser percebidos como 
amenidades urbanas. 
Diferentemente de outras áreas onde os rios 
são elemento de contemplação e lazer, constituin-
do-se em uma amenidade ambiental que valoriza 
a paisagem e o espaço de vida cotidiana para aque-
les que habitam suas margens, em Parque Uni-
dos de Acari e em grande parte da zona norte do 
Rio de Janeiro, os rios são ameaças à segurança e 
integridade física dos habitantes ribeirinhos, que 
temem as enchentes, enfrentam o rnau cheiro e o 
contato com as águas poluídas. 
Refletindo sobre os caminhos para transformar 
esta situação, podemos relacionar algumas medi-
das no âmbito da sub-bacia do Rio Acari, e outras 
medidas, de caráter local, voltadas para as particu-
laridades de Parque Unidos de Acari, que seriam 
necessárias para reduzir os riscos e melhorar as 
condições ambientais e de habitabilidade para a 
população que vive nas margens do rio. Estas me-
didas partem do princípio de que o rio e sua vár-
zea são uma unidade. 
Uma primeira medida a ser aplicada no âmbito 
da sub-bacia seria a construção das redes de esgoto 
previstas, e a complementação do Sistema Pavuna, 
que reduziria o lançamento de esgotos não tratados 
no rio. Uma outra medida seria a dragagem do rio 
Acari a ser realizada com a freqüência adequada e 
baseada em estudos hidrológicos e hidráulicos. Se-
ria necessária a delimitação de áreas polder, previs-
tas para o armazenamento das águas de enchente 
e o aumento da largura do canal, assim como a 
delimitação de logradouros públicos nas margens 
do rio, com o uso de pavimentação permeável que 
permita que a água da chuva se infiltre no solo. 
Observamos que a maior parte dos autores que 
discute a preservação e valorização paisagística dos 
rios urbanos ressaltam a visibilidade e o acesso 
público como importantes estratégias de melhoria 
ambiental de rios urbanos. Neste sentido, seriam 
importantes intervenções que possibilitassem ca-
minhadas ao longo de suas margens e permitis-
sem o acesso público à água. No caso do rio Acari, 
esta é uma estratégia importante, pois hoje, em di-
ferentes trechos, inclusive no trecho que margeia a 
comunidadede Parque Unidos de Acari, o rio fica 
oculto da paisagem por estar como fundo de lote. 
No caso específico de Parque Unidos de Acari, fa-
zem-se necessários a remoção e o reassentamento 
da população que vive na área sujeita à inundação, 
bem como da que vive na área de risco junto à Linha 
Verde. Esta proposta, que já estava presente na in-
tervenção do programa Favela-Bairro, elaborado pelo 
escritório Arqui-Traço, e não chegou a ser executada, 
está contida na proposta de reabilitação integrada 
do rio Acari, elaborada pela Secretaria Municipal de 
Meio-Ambiente. Segundo este estudo, não apenas 
na área de Parque Unidos de Acari, mas também em 
outros trechos ao longo do rio, deveria haver remo-
ções das habitações construídas na faixa marginal. 
O projeto exige um volume de recursos finan-
ceiros importante, pois implica na construção de 
novas habitações para grande parte das famílias 
removidas. Como as casas apresentam, na maioria 
dos casos, baixo padrão construtivo, a indenização 
por benfeitoria implicaria no pagamento de um 
valor muito baixo, o que inviabilizaria o realoja-
mento das famílias cujas casas fossem removidas. 
Isso demonstra de forma extremamente objetiva 
que a política de proteção da faixa marginal e de 
recuperação dos recursos hídricos têm que estar 
necessariamente integradas a uma política públi-
ca de provisão de habitação para a população de 
baixa renda. Somente a possibilidade de acesso à 
habitação dentro do mercado formal poderá evitar 
que a população de baixa renda venha ocupar irre-
gularmente as áreas ribeirinhas. 
A criação de áreas de lazer e parque lineares nas 
áreas de várzea ao longo das margens liberadas, 
com tratamento paisagístico e implantação 
de equipamentos seria um passo importante 
para impedir a invasão da área por novas 
habitações. As áreas de lazer, das quais a região 
da AP3 é extremamente carente, permitiram o 
estabelecimento de uma nova relação entre os 
moradores, grande parte deles de comunidades 
carentes, e o rio. Neste sentido, faz-se necessária 
também a recuperação da mata ciliar e das 
áreas de mangue, que vão atuar no sentido de 
minimizar a erosão e a sedimentação. O plantio 
de árvores e a recuperação da vegetação poderiam 
ser acompanhados da implantação de caminhos 
para bicicletas e pedestres, e lugares de descanso 
e contemplação da água. 
A região, mesmo com a retirada da população ri-
beirinha, continuará marcada pela presença de fa-
velas, e por isso é imprescindível a implantação de 
um programa de coleta de lixo adequado a este tipo 
de ocupação, para que as áreas liberadas e recupe- _ 
radas não se tornem depósitos de lixo. Estes progra-
mas devem envolver a capacitação dos garis comu-
nitários, e a utilização de equipamentos de peque-
no porte, capazes de percorrer ruas e vielas estrei-
tas. Seria interessante conceber sistemas de com-
pra de lixo, como os existentes em outras cidades. 
NoTAS 
r- Nos referimos aos estudos elaborado por Victor Carneiro da 
Silva e Tatiana Dahmer Pereira. 
2- Informação do Jornal o Globo de r6(o2(2oo6, pp.r6. 
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I995· (parte IV) 
MAPEAMENTO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICO 
DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS: 
EsTuDo DE cAso Do Rio CARIOCA 
INTRODUÇÃO 
Este capítulo apresenta um diagnóstico das 
condições ambientais e paisagísticas da bacia do 
Rio Carioca, no Rio de Janeiro, embasado por uma 
abordagem transdisciplinar que integra análises 
históricas, biológicas, urbanísticas e de ecologia 
da paisagem, através de mapeamento geo-referen-
ciado que reúne indicadores tais como qualidade 
da água, evolução do uso do solo e cobertura vege-
tal (análises temporais de 1972 e 1999), dinâmi-
ca populacional (análises temporais relativas aos 
censos IBGE de 1991 e 2000), unidades de con-
servação, configuração da fronteira floresta-malha 
urbana e correlação entre o sistema viário local e 
o adensamento construtivo, organizados coletiva-
mente ao longo de um perfil topográfico longitu-
dinal síntese. 
O Rio Carioca foi, ao longo do tempo, teste-
munha e agente transformador da paisagem do 
Rio de Janeiro. O processo de transformação da 
paisagem que ocorreu nesta bacia reflete bastante 
bem a tensão existente entre a estruturação urba-
na carioca e a natureza tropical. Primeira fonte 
de abastecimento d'água para seus habitantes, o 
Carioca foi vetor de ocupação humana em direção 
às encostas e indutor na preservação da floresta 
Atlântica carioca. 
Mônica Bahia Schlee 
Ana Luiza Coelho Netto 
Kenneth Tamminga 
Este estudo procura demonstrar as vantagens 
da utilização de bacias hidrográficas como recorte 
espacial em análises ambientais e paisagísticas, 
com aplicação direta no planejamento e gestão de 
cidades. O mapeamento ambiental e paisagístico 
de bacias hidrográficas apresenta-se como um ins-
trumento eficaz para auxiliar planejadores, gesto-
res e membros da comunidade no planejamento, 
preservação e na reabilitação de ambientes situa-
dos às margens e nos raios de abrangência de cor-
pos d'água urbanos. 
O processo de urbanização levado a cabo no 
Rio de Janeiro a partir do século XVI promoveu 
alterações radicais no sistema ambiental local, dei-
xando profundas marcas em seus corpos d'água. 
Córregos, rios, lagoas e baías cariocas refletem os 
impactos

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