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CAP-16-TRAUMA-2

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CIRURGIA
261
TRAUMA
TR
AU
MA
CI
R
U
R
G
IA
Preparatório para Residência Médica
RMED
CAPÍTULO 16
RMEDCURSOS.COM.BR
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TRAUMA
CIRURGIA
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Ao tratar pacientes feridos, o tempo é crucial. Por isso, é essencial uma abordagem 
sistemática que possa ser aplicada com rapidez e precisão. Essa abordagem, denominada 
“avaliação inicial”, inclui preparação, triagem, avaliação primária (ABCDE) com ressuscitação 
imediata de pacientes com lesões que ameaçam a vida, consideração da necessidade 
de transferência do paciente, avaliação secundária, monitoramento contínuo pós-
ressuscitação e reavaliação constante.
TRAUMA
1 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA 
Nesse momento, os pacientes são avaliados e suas prioridades de tratamento são 
estabelecidas, com base em suas lesões, sinais vitais e mecanismos de lesão. As prioridades 
de tratamento são estabelecidas com base na avaliação geral do paciente. O manejo nessa 
etapa do atendimento consiste em uma rápida avaliação primária com ressuscitação 
simultânea de funções vitais.
A avaliação primária abrange o ABCDE de atendimento ao trauma e identifica condições 
com risco de vida, aderindo a esta sequência:
• A (airway): manutenção das vias aéreas pérvias e imobilização da coluna cervical;
• B (breathing): avaliação da respiração e ventilação;
• C (circulation): avaliação do estado circulatório com controle de hemorragia;
• D (disability): avaliação do estado neurológico;
• E (exposure/envoirment control): exposição do corpo do paciente e controle do ambiente.
Como a sequência priorizada é baseada no grau de ameaça à vida, a anormalidade que 
representa a maior ameaça à vida é tratada primeiro.
Mais recentemente foi adicionado ao início dessa sequência o X, referente à eXanguinação, 
ou seja, hemorragia exanguinante (hemorragia externa grave), que deve ser cessada 
rapidamente antes de seguir para a avaliação da via aérea. Sendo assim, a sequência se 
torna XABCDE.
Os médicos podem avaliar rapidamente o A, B, C e D em um paciente traumatizado 
(avaliação de 10 segundos), identificando-se, pedindo o nome do paciente e perguntando 
o que aconteceu. Uma resposta apropriada sugere que não há comprometimento
As avaliações primária e secundária 
devem ser repetidas frequentemente 
para identificar qualquer alteração 
no status do paciente que indique a 
necessidade de intervenção adicional. A 
sequência de avaliação apresentada neste 
capítulo reflete uma progressão linear ou
longitudinal de eventos. Em uma situação 
clínica real, no entanto, muitas dessas 
atividades ocorrem simultaneamente. 
A progressão longitudinal do processo 
de avaliação permite aos médicos uma 
oportunidade de revisar mentalmente o 
progresso da ressuscitação do trauma real.
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TRAUMA
importante das vias aéreas (capacidade de falar com clareza), a respiração não está 
severamente comprometida (capacidade de gerar movimento do ar para permitir a fala) 
e o nível de consciência não está diminuído acentuadamente (ou seja, alerta o suficiente 
para descrever o que aconteceu). A falha em responder a essas perguntas sugere 
anormalidades em A, B, C ou D que exigem avaliação e gerenciamento urgentes.
 
a) Via aérea e imobilização da coluna cervical
O primeiro passo da avaliação primária é verificar a perviedade das vias aéreas. Faz-se 
isso rapidamente pela inspeção de corpos estranhos; identificação de fraturas faciais, 
mandibulares e/ou traqueais/laríngeas e outras lesões que podem resultar em obstrução 
das vias aéreas; e aspiração para limpar o sangue acumulado ou secreções que podem 
levar ou estar causando obstrução. 
Se o paciente é capaz de se comunicar 
verbalmente, é improvável que as vias 
aéreas estejam em risco imediato; 
no entanto, a avaliação repetida da 
perviedade das vias aéreas é prudente. 
Além disso, pacientes com lesões graves na 
cabeça que têm um nível de consciência 
alterado ou uma pontuação na Escala de 
Coma de Glasgow (GCS) igual ou inferior 
a 8 requerem a colocação de uma via 
aérea definitiva (intubação orotraqueal). 
Inicialmente, a manobra de impulso 
da mandíbula (jaw-thrust) ou elevação 
do queixo (chin-lift) é suficiente 
como conduta inicial. Se o paciente 
estiver inconsciente e sem reflexo de 
vômito, a colocação de uma via aérea 
orofaríngea (cânula de Guedel) pode ser 
útil temporariamente. Estabeleça uma 
via aérea definitiva se houver alguma 
dúvida sobre a capacidade do paciente 
de manter a integridade das vias aéreas.
Ao avaliar e gerenciar as vias aéreas 
de um paciente, é fundamental o 
cuidado para evitar movimentos 
excessivos da coluna cervical. Com base 
no mecanismo do trauma, deve-se 
assumir sempre que existe uma lesão na 
coluna vertebral. O exame neurológico 
por si só não exclui o diagnóstico. 
A coluna vertebral deve ser protegida da mobilidade excessiva com um colar cervical 
para impedir o desenvolvimento ou a progressão de uma lesão. Quando o controle das 
vias aéreas é necessário, o colar cervical é aberto e um membro da equipe restringe 
manualmente o movimento da coluna cervical. 
Embora todo esforço deva ser feito para reconhecer o comprometimento imediato das 
vias aéreas e garantir uma via aérea definitiva, é igualmente importante reconhecer o 
potencial de perda progressiva das vias aéreas. A reavaliação frequente da perviedade das 
vias aéreas é essencial para identificar e tratar pacientes que estão perdendo a capacidade 
de manter uma via aérea adequada. Estabeleça uma via aérea cirurgicamente se a 
intubação for contraindicada ou não puder ser realizada.
OBSERVAÇÕES
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TRAUMA
Anexo 1. Fonte: ATLS, 10ª edição.
b) Via aérea e imobilização da coluna 
cervical
A perviedade das vias aéreas isoladamente 
não garante ventilação adequada. A 
ventilação requer função adequada dos 
pulmões, parede torácica e diafragma; 
portanto, os médicos devem examinar e 
avaliar rapidamente cada componente. 
Para avaliar adequadamente a distensão 
venosa jugular, a posição da traqueia e a 
excursão da parede torácica, o pescoço e 
o peito do paciente devem ser expostos. 
A inspeção visual e a palpação podem 
detectar lesões na parede torácica que 
podem comprometer a ventilação. A 
ausculta é necessária para avaliar o 
fluxo de ar nos pulmões. A percussão 
do tórax também é fundamental. 
As etapas a seguir ajudam a identificar sinais objetivos de ventilação inadequada:
1. Assimetria da caixa torácica e de sua expansibilidade. Sugere fratura de costelas, 
pneumotórax ou tórax instável. 
2. Ausculta dos sons respiratórios. Os sons respiratórios diminuídos ou ausentes em um 
ou ambos os hemitórax devem alertar o examinador para a presença de lesão torácica. 
Cuidado com a frequência respiratória rápida, pois a taquipneia pode indicar desconforto 
respiratório.
3. Percussão. Macicez à percussão sugere hemotórax, enquanto timpanismo sugere 
pneumotórax.
4. Use um oxímetro de pulso para medir a saturação de oxigênio do paciente e medir a 
perfusão periférica. A baixa saturação de oxigênio pode ser uma indicação de hipoperfusão 
ou choque.
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TRAUMA
As lesões que prejudicam significativamente a ventilação a curto prazo incluem 
pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço, pneumotórax aberto e lesões traqueais 
ou brônquicas. Essas lesões devem ser identificadas durante a avaliação primária e 
geralmente requerem atenção imediata para garantir uma ventilação eficaz. Como um 
pneumotórax hipertensivo compromete a ventilação e a circulação de maneira dramática 
e aguda, a descompressão torácica deve ser feita imediatamente quando houver suspeita 
de avaliação clínica. Exames complementares não devem atrasar o diagnóstico e o manejo.
Anexo 2. Fonte: ATLS, 10ª edição.
Todo paciente traumatizado deve 
receber oxigênio suplementar. Se o 
paciente não for intubado, o oxigênio 
deve ser fornecido por um máscara 
facial com reservatório para obter uma 
oxigenação ideal. Use um oxímetro de 
pulso para monitorar a adequação da 
saturação de oxigênio da hemoglobina. 
O pneumotórax simples,o hemotórax 
simples, as costelas fraturadas, o 
tórax e a contusão pulmonar podem 
comprometer a ventilação em menor 
grau e geralmente são identificados 
durante a pesquisa secundária. Um 
pneumotórax simples pode ser 
convertido em pneumotórax hipertensivo 
quando um paciente é intubado e 
é fornecida ventilação com pressão 
positiva antes de descomprimir o 
pneumotórax com um tubo torácico.
A maioria das lesões torácicas com risco 
de vida pode ser tratada com controle das 
vias aéreas ou descompressão do peito 
com uma agulha ou tubo. Não atrase a 
conduta com exames complementares 
diante de um quadro de suspeição!
c) Circulação e controle de hemorragias
O comprometimento circulatório em pacientes traumatizados pode resultar de uma 
variedade de lesões. Volume sanguíneo, débito cardíaco e sangramento são os principais 
problemas a serem considerados. A hemorragia é a causa predominante de mortes evitáveis 
após traumas. Identificar, controlar rapidamente a hemorragia e iniciar a ressuscitação 
são, portanto, etapas cruciais na avaliação e gerenciamento desses pacientes.
Uma vez excluído o pneumotórax hipertensivo como causa de choque, considere que 
a hipotensão após trauma é devida à perda de sangue até que se prove o contrário. A 
avaliação rápida e precisa do status hemodinâmico de um paciente ferido é essencial. Os 
elementos da observação clínica que fornecem informações importantes em segundos 
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• Nível de consciência - quando o volume sanguíneo circulante é reduzido, a perfusão cer-
ebral pode ser gravemente prejudicada, resultando em um nível alterado de consciência;
• Perfusão cutânea - um paciente com pele rosada, especialmente na face e extremidades, 
raramente apresenta hipovolemia crítica após lesão. Por outro lado, um paciente com hi-
povolemia pode se apresentar hipocorado, frio e com extremidades pálidas.
• Pulso - um pulso rápido e rápido é geralmente um sinal de hipovolemia. Avalie um pulso 
central (por exemplo, artéria femoral ou carótida) bilateralmente quanto à qualidade, fre-
quência e regularidade. Pulsos centrais ausentes que não podem ser atribuídos a fatores 
locais significam a necessidade de ação imediata de ressuscitação.
Qualquer paciente ferido que esteja 
frio ao toque e taquicárdico deve ser 
considerado em estado de choque até 
que se prove o contrário. Na maioria dos 
adultos, taquicardia e vasoconstrição 
cutânea são as respostas fisiológicas 
precoces típicas à perda de volume.
O método mais eficaz de restaurar o 
débito cardíaco, a perfusão de órgãos-
alvo e a oxigenação tecidual em um 
paciente em choque é restaurar 
o retorno venoso, localizando e 
interrompendo a fonte do sangramento. 
A reposição do volume permitirá a 
recuperação do estado de choque 
somente quando o sangramento parar.
A administração de uma quantidade 
apropriada de soluções de eletrólitos 
isotônicos, sangue e produtos sanguíneos 
ajuda a combater esse processo. O 
tratamento deve focar na reversão do estado 
de choque, interrompendo o sangramento 
e fornecendo oxigenação, ventilação 
e ressuscitação hídrica adequadas. 
Acesso rápido por via intravenosa 
deve ser obtido. Os vasopressores são 
contraindicados como tratamento de 
primeira linha do choque hemorrágico, 
porque pioram a perfusão tecidual. 
O controle definitivo da hemorragia 
e a restauração do volume circulante 
adequado são os objetivos do tratamento.
A quantidade de líquido e sangue necessária para a ressuscitação é difícil de prever na 
avaliação inicial de um paciente. Administre um bolus aquecido inicial de líquido isotôni-
co. A dose habitual é de 1 litro para adultos e 20 mL/kg para pacientes pediátricos com 
peso inferior a 40 kg. Os volumes absolutos de fluido de ressuscitação devem basear-se na 
resposta do paciente à administração de fluidos, tendo em mente que essa quantidade 
inicial de fluido inclui qualquer fluido administrado no ambiente pré-hospitalar. Avalie a 
resposta do paciente à ressuscitação de fluidos e identifique evidências de perfusão ad-
equada de órgão final e oxigenação do tecido. Observe a resposta do paciente durante 
esta administração inicial de fluido e baseie outras decisões terapêuticas e de diagnóstico 
nessa resposta.
OBSERVAÇÕES
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TRAUMA
Abertura ocular
ESCALA DE COMA DE GLASGOW
VARIÁVEIS ESCORE
Espontânea
À voz
À dor
Nenhuma
Orientada
Confusa
Palavras inapropriadas
Palavras incompreensíveis
Nenhuma
Obedece comandos
Localiza dor
Movimento de retirada
Flexão anormal
Extensão anormal
Nenhuma
Resposta verbal
Resposta motora
4
3
2
1
5
4
3
2
1
6
5
4
3
2
1
TOTAL MÁXIMO TOTAL MÍNIMO INTUBAÇÃO
15 3 B
Uma diminuição no nível de consciência 
de um paciente pode indicar diminuição 
da oxigenação e / ou perfusão cerebral, ou 
pode ser causada por lesão cerebral direta. 
Um nível alterado de consciência indica a 
necessidade de reavaliar imediatamente 
o status de oxigenação, ventilação e 
perfusão do paciente. Hipoglicemia, 
álcool, narcóticos e outras drogas também 
podem alterar o nível de consciência do 
paciente. Até que se prove o contrário, 
Anexo 3
sempre presuma que alterações no nível 
de consciência são resultado de lesões 
no sistema nervoso central. Lembre-se 
também que a intoxicação por drogas 
ou álcool pode acompanhar lesões 
cerebrais traumáticas. A lesão cerebral 
primária resulta do efeito estrutural 
da lesão no cérebro. A prevenção de 
lesões cerebrais secundárias, mantendo 
oxigenação e perfusão adequadas, são 
os principais objetivos do manejo inicial.
Como a evidência de lesão cerebral pode estar ausente ou mínima no momento da 
avaliação inicial, é crucial repetir o exame. Pacientes com evidência de lesão cerebral 
devem ser tratados em uma instalação que possua pessoal e recursos para antecipar 
e gerenciar as necessidades desses pacientes. Quando os recursos para cuidar desses
d) Avaliação neurológica
Uma avaliação neurológica rápida estabelece o nível de consciência do paciente, o 
tamanho e a reação pupilar; identifica a presença de sinais de lateralidade; e determina o 
nível de lesão medular, se presente. A Escala de Coma de Glasgow é um método rápido, 
simples e objetivo de determinar o nível de consciência. 
CIRURGIA
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TRAUMA
pacientes não estão disponíveis, os arranjos para a transferência devem começar assim 
que essa condição for reconhecida.
e) Exposição e controle ambiental
Durante a avaliação primária, o paciente deve ser totalmente despido, geralmente 
cortando suas roupas para facilitar um exame e avaliação completos. Depois de concluir 
a avaliação, cubra o paciente com cobertores quentes ou um dispositivo de aquecimento 
externo para impedir que ele desenvolva hipotermia. Aqueça fluidos intravenosos antes 
de administrá-los e mantenha um ambiente quente.
A hipotermia pode estar presente quando o paciente chega, ou pode se desenvolver 
rapidamente no pronto-socorro se o paciente for descoberto e for submetido a uma 
administração rápida de fluidos à temperatura ambiente ou sangue refrigerado. Como a 
hipotermia é uma complicação potencialmente letal em pacientes feridos, tome medidas 
agressivas para evitar a perda de calor corporal e restaurar a temperatura corporal.
Complementares à avaliação primária 
pode-se realizar eletrocardiografia 
contínua, oximetria de pulso, 
monitoramento do dióxido de carbono 
e avaliação da frequência ventilatória e 
gasometria arterial.Além disso, cateteres 
urinários podem ser colocados para 
monitorar o débito urinário e avaliar 
a hematúria. Os cateteres gástricos 
descomprimem a distensão e avaliam 
a evidência de sangue. Outros testes 
úteis incluem lactato sanguíneo, 
exames de raio-x (com destaque 
para tórax e pelve), FAST, avaliação 
e lavado peritoneal diagnóstico.
Parâmetros fisiológicos como frequência 
de pulso, pressão arterial, pressão de pulso, 
frequência ventilatória, temperatura 
corporal e débito urinário são medidas 
avaliadas que refletem a resposta à 
ressuscitação. Os valores desses parâmetros 
devem ser obtidosassim que possível 
durante ou após a conclusão da avaliação 
primária e reavaliados periodicamente.
É também durante a avaliação primária 
que se decide a necessidade de 
transferência do paciente. É importante 
não atrasar a transferência para realizar 
uma avaliação diagnóstica aprofundada. 
Realize apenas testes que aumentem a 
capacidade de ressuscitar, estabilizar e 
garantir a transferência segura do paciente.
2 AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
A avaliação secundária não começa até que a primária (ABCDE) seja concluída, os esforços 
de ressuscitação estejam em andamento e as funções vitais tenham mostrado melhora. 
A avaliação secundária é uma avaliação direta do paciente traumatizado, ou seja, uma 
história completa e exame físico, incluindo a reavaliação de todos os sinais vitais. Cada 
região do corpo é completamente examinada.
História: toda avaliação médica completa inclui uma história do mecanismo da lesão. 
Frequentemente, essa história não pode ser obtida de um paciente que sofreu trauma; 
portanto, a família e/ou a equipe de atendimento pré-hopsitalar devem fornecer essas 
informações. A história AMPLA é um mnemônico útil: Alergias, Medicamentos usados 
atualmente, Passado médico (história médica pregressa), Líquido e alimentos ingeridos e 
Ambiente relacionados trauma.
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TRAUMA
A condição do paciente é fortemente determinada pelo mecanismo do trauma. O 
conhecimento desse mecanismo pode ajudar na compreensão do estado fisiológico do 
paciente e fornecer pistas sobre lesões esperadas. Os padrões de trauma também são 
influenciados por faixas etárias e atividades.
Exame físico: um exame físico completo 
e cauteloso deve ser realizado dos pés à 
cabeça. Importante lembrar que pacientes 
com trauma maxilofacial ou na cabeça 
podem ter uma lesão na coluna cervical e 
o movimento local deve continuar restrito.
O exame começa com a avaliação da 
cabeça para pesquisar lesões neurológicas 
relacionadas e quaisquer outras lesões 
significativas. Todo o couro cabeludo 
e a cabeça devem ser examinados 
quanto a lacerações, contusões e 
evidências de fraturas. Os olhos, a 
cavidade oral e a cavidade auricular 
devem ser cuidadosamente examinados.
O exame do pescoço inclui inspeção, 
palpação e ausculta. Sensibilidade 
da coluna cervical, enfisema 
subcutâneo, desvio traqueal e fratura da 
laringe podem ser descobertos em um 
exame detalhado. As artérias carótidas 
devem ser palpadas e auscultadas 
para pesquisa de sopros. Um sinal 
comum de lesão potencial de cervical 
é a marca do cinto de segurança. 
A avaliação pode incluir radiografias 
ou tomografia computadorizada.
A avaliação visual do tórax, anterior e 
posterior, pode identificar condições 
como pneumotórax aberto e grandes 
segmentos de mangual. Uma avaliação 
completa da parede torácica requer 
palpação de toda a caixa torácica, 
incluindo clavículas, costelas e esterno. 
Contusões e hematomas alertam 
sobre a possibilidade de lesão oculta.
Trauma torácico significativo pode se manifestar com dor, dispneia e hipóxia. A avaliação 
inclui inspeção, palpação, ausculta e percussão do tórax e radiografia de tórax. A ausculta 
é realizada no alto da parede torácica anterior para pneumotórax e nas bases posteriores 
para hemotórax. Sons cardíacos distantes e pressão de pulso diminuída podem indicar 
tamponamento cardíaco. Além disso, o tamponamento cardíaco e o pneumotórax 
hipertensivo são sugeridos pela presença de veias distendidas no pescoço, embora a 
hipovolemia associada possa minimizar ou eliminar esta descoberta. 
Uma radiografia de tórax ou eFAST (FAST estendido) pode confirmar a presença de um 
hemotórax ou um pneumotórax simples. As fraturas de costelas podem estar presentes, 
mas podem não ser visíveis no raio-x. Um mediastino alargado e outros sinais radiográficos 
podem sugerir uma ruptura da aorta.
OBSERVAÇÕES
CIRURGIA
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TRAUMA
Lesões abdominais devem ser identificadas e tratadas agressivamente. Identificar a 
lesão específica é menos importante do que determinar se a intervenção operatória é 
necessária. A observação cuidadosa e a reavaliação frequente do abdômen, de preferência 
pelo mesmo observador, são importantes no tratamento de trauma abdominal contuso, 
porque, com o tempo, os achados abdominais do paciente podem mudar.
Pode-se suspeitar de fraturas pélvicas pela identificação de equimose sobre as asas ilíacas, 
púbis, lábios vaginais ou escroto. A dor à palpação do anel pélvico é um achado importante 
em pacientes alertas. Além disso, a avaliação dos pulsos periféricos pode identificar lesões 
vasculares. As fraturas pélvicas podem produzir grande perda de sangue. A imobilização da 
pelve com lençol pode limitar essa hemorragia e estabilizar a fratura momentaneamente. 
Não é recomendado manipular repetidamente ou vigorosamente a pelve em pacientes 
com fraturas, pois os coágulos sanguíneos já formados podem se desalojar e aumentar a 
hemorragia.
O períneo deve ser examinado quanto 
a contusões, hematomas, lacerações 
e sangramento uretral. Um exame 
retal pode ser realizado para avaliar a 
presença de sangue no lúmen intestinal, a 
integridade da parede retal e a qualidade 
do tônus do esfíncter. O exame vaginal 
deve ser realizado em pacientes com 
risco de lesão vaginal. Além disso, um 
teste de gravidez deve ser realizado 
em todas as mulheres em idade fértil.
As extremidades devem ser inspecionadas 
quanto a contusões e deformidades. 
A palpação dos ossos e o exame de 
sensibilidade e movimento anormal 
ajudam na identificação de fraturas
ocultas. As rupturas ligamentares 
produzem instabilidade articular, e as 
lesões das unidades musculares interferem 
no movimento ativo das estruturas 
afetadas. A sensação prejudicada e/ou a 
perda da força voluntária da contração 
muscular podem ser causadas por 
lesão nervosa ou isquemia, incluindo a 
decorrente da síndrome compartimental.
Um exame neurológico abrangente 
inclui avaliação motora e sensorial das 
extremidades, bem como reavaliação do 
nível de consciência do paciente e tamanho 
e resposta pupilar. A pontuação da Escala 
de Coma de Glasgow facilita a detecção de 
mudanças status neurológico do paciente. 
Se um paciente com um ferimento na 
cabeça se deteriorar neurologicamente, 
reavalie a oxigenação, a adequação 
da ventilação e perfusão do cérebro.
As fraturas da coluna torácica e da coluna lombar e/ou lesões neurológicas devem ser 
consideradas com base nos achados físicos e no mecanismo da lesão. Outras lesões 
podem mascarar os achados físicos das lesões na coluna vertebral e podem permanecer 
sem serem detectadas, a menos sejam realizados raios X apropriados. Qualquer evidência 
de parestesia, paralisia ou fraqueza sugere lesões graves na coluna vertebral ou no sistema 
nervoso periférico. A proteção da medula espinhal é necessária o tempo todo até que 
uma lesão na coluna seja excluída.
Exames complementares podem ser realizados durante a avaliação secundária para 
identificar lesões específicas. Isso inclui exames adicionais de raio-x da coluna e 
extremidades; tomografias computadorizadas da cabeça, tórax, abdômen e coluna 
vertebral; urografia de contraste e angiografia; ultrassonografia transesofágica; 
broncoscopia; e outros procedimentos de diagnóstico.
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TRAUMA
3 REAVALIAÇÃO
Os pacientes com trauma devem ser reavaliados constantemente para garantir que 
novos achados não sejam negligenciados e para descobrir qualquer deterioração nos 
achados observados anteriormente. À medida que as lesões iniciais com risco de vida são 
manejadas, outros problemas igualmente fatais e lesões menos graves podem se tornar 
aparentes, o que pode afetar significativamente o prognóstico final do paciente. 
O monitoramento contínuo de sinais vitais, saturação de oxigênio e produção urinária é 
essencial. Para pacientes adultos, é desejável a manutenção do débito urinário a 0,5 mL/ 
kg/h. Em pacientes pediátricos com mais de 1 ano, um débito de 1 mL/kg/h é normalmente 
adequado.
O alívio da dor intensaé uma parte importante do tratamento para pacientes traumatizados. 
Muitas lesões, principalmente lesões musculoesqueléticas, produzem dor e ansiedade em 
pacientes conscientes. A analgesia eficaz geralmente requer a administração de opiáceos 
ou ansiolíticos por via intravenosa.
CIRURGIA
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TRAUMA
QUESTÕES 
HCPA 2016 – QUESTÃO 73
Paciente de 75 anos deu entrada na Emergência com redução do nível de consciência 
e rapidamente evoluiu com uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada (CTCG). 
Ocorreram
mais três CTCGs autolimitadas, sem recuperação da consciência nos intervalos (período 
de 8 minutos). Qual a conduta mais adequada neste momento?
A) Solicitar exames laboratoriais e eletroencefalograma para definir a etiologia e estabelecer 
o diagnóstico.
B) Solicitar eletroencefalograma urgente e, após a confirmação do diagnóstico, iniciar 
benzodiazepínicos e fenitoína intravenosa.
C) Avaliar e manejar a via aérea, instituir ventilação e medidas de circulação (ABC), avaliar 
a ocorrência de hipoglicemia e iniciar benzodiazepínicos e fenitoína intravenosa.
D) Avaliar e manejar a via aérea, instituir ventilação e medidas de circulação (ABC) e 
observar o paciente por 30 minutos antes de iniciar a administração de anticonvulsivantes.
E) Tentar obter uma história mais detalhada do paciente e solicitar exames laboratoriais e 
eletroencefalografia.
 
Gabarito: C
A
Via aérea
B
Respiração 
e ventilação
C
Circulação e
hemorragia
D
Disfunção 
neurológica
E
Exposição e 
ambiente
- Garantir via 
aérea pérvia;
- Ofertar O2;
- Imobilização 
cervical.
- Inspeção, 
palpação, 
percursão e 
ausculta do tórax;
- Avaliar 
necessidade de 
drenagem torácica.
- Avaliar perfusão 
tecidual: 
coloração da pele, 
qualidade dos 
pulsos, núvel de 
consciência;
- Localizar e parar 
hemorragia e 
repor volemia.
- Avaliar perfusão 
tecidual: 
coloração da pele, 
qualidade dos 
pulsos, núvel de 
consciência;
- Localizar e parar 
hemorragia e 
repor volemia.
- Retirada 
completa das 
roupas do 
paciente;
- Adotar medidas 
para evitar 
hipotermia.
MAPA MENTAL
“Meu nome é Maria, vou atendê-lo. Qual o seu nome? O que aconteceu?” 
Avaliação rápida do A, B, C e D (avaliação de 10 segundos).
X: enxanguinação! 
Cessar hemorragia 
externa importante 
antes de iniciar a 
sequência ABCDE.
Paciente deve 
ser reavaliado 
constante!
Exames 
complementares 
não devem atrasar 
conduta!
Avaliação 
secundária: 
história AMPLA.
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TRAUMA
HCPA 2019 – QUESTÃO 53
Considere as assertivas abaixo sobre trauma em paciente pediátrico.
I – Devido às diferenças anatômicas, a intubação orotraqueal é mais difícil na criança do 
que no adulto, especialmente nas com menos de 3 anos de idade.
II – A medida da pressão arterial isoladamente não é adequada para avaliar choque 
hemorrágico, pois perdas volumosas (até 40% da volemia) podem não ser detectadas.
III – Para paciente com trauma abdominal, estável hemodinamicamente, com FAST 
(ultrassonografia focada para o trauma) positivo, está indicada tomografia computadorizada 
com contraste intravenoso.
Quais estão corretas?
A) Apenas I
B) Apenas II
C) Apenas III
D) Apenas I e II
E) I, II e III
 
Gabarito: E
AMRIGS 2016 – QUESTÃO 37 
Um homem de 45 anos, vítima de queda de uma altura de 12m, deu entrada no setor 
de emergência inconsciente. Foi imediatamente intubado e colocado em ventilação 
mecânica. Concomitantemente, o tórax foi drenado à esquerda com saída de 1.000 ml 
de sangue. Foram infundidos dois litros de Ringer lactato aquecido. Seus sinais vitais 
após essas condutas iniciais foram: FC=140 bat/min; PA=80x40 mmHg; FR=25 mov/min 
e Sat O2=92%. A ectoscopia revela equimoses na transição toracoabdominal, com maior 
intensidade à esquerda. Na palpação do hemitórax esquerdo, tem crepitações nos últimos 
arcos costais, e a ausculta pulmonar evidencia murmúrio vesicular presente e simétrico. 
A pelve está estável na palpação das cristas ilíacas anteriores, mas há fratura de fêmur 
esquerdo. Diante do exposto, qual será a melhor avaliação inicial desse traumatizado?
A) Focused Assessment with Sonography for Trauma (FAST) e o lavado peritoneal 
diagnóstico estão indicados.
B) Realizar uma tomografia computadorizada.
C) Realizar ressonância magnética.
D) Fazer uma endoscopia diagnóstica e terapêutica.
E) Diante de todas as condutas que já foram tomadas, não há necessidade de exames 
complementares.
 
Gabarito: A
REFERÊNCIAS
ATLS Advanced Trauma Life Support. 10th ed. American College of Surgeons.; 2018.

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