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CIRURGIA 261 TRAUMA TR AU MA CI R U R G IA Preparatório para Residência Médica RMED CAPÍTULO 16 RMEDCURSOS.COM.BR 262 TRAUMA CIRURGIA 263 TRAUMA Ao tratar pacientes feridos, o tempo é crucial. Por isso, é essencial uma abordagem sistemática que possa ser aplicada com rapidez e precisão. Essa abordagem, denominada “avaliação inicial”, inclui preparação, triagem, avaliação primária (ABCDE) com ressuscitação imediata de pacientes com lesões que ameaçam a vida, consideração da necessidade de transferência do paciente, avaliação secundária, monitoramento contínuo pós- ressuscitação e reavaliação constante. TRAUMA 1 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA Nesse momento, os pacientes são avaliados e suas prioridades de tratamento são estabelecidas, com base em suas lesões, sinais vitais e mecanismos de lesão. As prioridades de tratamento são estabelecidas com base na avaliação geral do paciente. O manejo nessa etapa do atendimento consiste em uma rápida avaliação primária com ressuscitação simultânea de funções vitais. A avaliação primária abrange o ABCDE de atendimento ao trauma e identifica condições com risco de vida, aderindo a esta sequência: • A (airway): manutenção das vias aéreas pérvias e imobilização da coluna cervical; • B (breathing): avaliação da respiração e ventilação; • C (circulation): avaliação do estado circulatório com controle de hemorragia; • D (disability): avaliação do estado neurológico; • E (exposure/envoirment control): exposição do corpo do paciente e controle do ambiente. Como a sequência priorizada é baseada no grau de ameaça à vida, a anormalidade que representa a maior ameaça à vida é tratada primeiro. Mais recentemente foi adicionado ao início dessa sequência o X, referente à eXanguinação, ou seja, hemorragia exanguinante (hemorragia externa grave), que deve ser cessada rapidamente antes de seguir para a avaliação da via aérea. Sendo assim, a sequência se torna XABCDE. Os médicos podem avaliar rapidamente o A, B, C e D em um paciente traumatizado (avaliação de 10 segundos), identificando-se, pedindo o nome do paciente e perguntando o que aconteceu. Uma resposta apropriada sugere que não há comprometimento As avaliações primária e secundária devem ser repetidas frequentemente para identificar qualquer alteração no status do paciente que indique a necessidade de intervenção adicional. A sequência de avaliação apresentada neste capítulo reflete uma progressão linear ou longitudinal de eventos. Em uma situação clínica real, no entanto, muitas dessas atividades ocorrem simultaneamente. A progressão longitudinal do processo de avaliação permite aos médicos uma oportunidade de revisar mentalmente o progresso da ressuscitação do trauma real. RMEDCURSOS.COM.BR 264 TRAUMA importante das vias aéreas (capacidade de falar com clareza), a respiração não está severamente comprometida (capacidade de gerar movimento do ar para permitir a fala) e o nível de consciência não está diminuído acentuadamente (ou seja, alerta o suficiente para descrever o que aconteceu). A falha em responder a essas perguntas sugere anormalidades em A, B, C ou D que exigem avaliação e gerenciamento urgentes. a) Via aérea e imobilização da coluna cervical O primeiro passo da avaliação primária é verificar a perviedade das vias aéreas. Faz-se isso rapidamente pela inspeção de corpos estranhos; identificação de fraturas faciais, mandibulares e/ou traqueais/laríngeas e outras lesões que podem resultar em obstrução das vias aéreas; e aspiração para limpar o sangue acumulado ou secreções que podem levar ou estar causando obstrução. Se o paciente é capaz de se comunicar verbalmente, é improvável que as vias aéreas estejam em risco imediato; no entanto, a avaliação repetida da perviedade das vias aéreas é prudente. Além disso, pacientes com lesões graves na cabeça que têm um nível de consciência alterado ou uma pontuação na Escala de Coma de Glasgow (GCS) igual ou inferior a 8 requerem a colocação de uma via aérea definitiva (intubação orotraqueal). Inicialmente, a manobra de impulso da mandíbula (jaw-thrust) ou elevação do queixo (chin-lift) é suficiente como conduta inicial. Se o paciente estiver inconsciente e sem reflexo de vômito, a colocação de uma via aérea orofaríngea (cânula de Guedel) pode ser útil temporariamente. Estabeleça uma via aérea definitiva se houver alguma dúvida sobre a capacidade do paciente de manter a integridade das vias aéreas. Ao avaliar e gerenciar as vias aéreas de um paciente, é fundamental o cuidado para evitar movimentos excessivos da coluna cervical. Com base no mecanismo do trauma, deve-se assumir sempre que existe uma lesão na coluna vertebral. O exame neurológico por si só não exclui o diagnóstico. A coluna vertebral deve ser protegida da mobilidade excessiva com um colar cervical para impedir o desenvolvimento ou a progressão de uma lesão. Quando o controle das vias aéreas é necessário, o colar cervical é aberto e um membro da equipe restringe manualmente o movimento da coluna cervical. Embora todo esforço deva ser feito para reconhecer o comprometimento imediato das vias aéreas e garantir uma via aérea definitiva, é igualmente importante reconhecer o potencial de perda progressiva das vias aéreas. A reavaliação frequente da perviedade das vias aéreas é essencial para identificar e tratar pacientes que estão perdendo a capacidade de manter uma via aérea adequada. Estabeleça uma via aérea cirurgicamente se a intubação for contraindicada ou não puder ser realizada. OBSERVAÇÕES CIRURGIA 265 TRAUMA Anexo 1. Fonte: ATLS, 10ª edição. b) Via aérea e imobilização da coluna cervical A perviedade das vias aéreas isoladamente não garante ventilação adequada. A ventilação requer função adequada dos pulmões, parede torácica e diafragma; portanto, os médicos devem examinar e avaliar rapidamente cada componente. Para avaliar adequadamente a distensão venosa jugular, a posição da traqueia e a excursão da parede torácica, o pescoço e o peito do paciente devem ser expostos. A inspeção visual e a palpação podem detectar lesões na parede torácica que podem comprometer a ventilação. A ausculta é necessária para avaliar o fluxo de ar nos pulmões. A percussão do tórax também é fundamental. As etapas a seguir ajudam a identificar sinais objetivos de ventilação inadequada: 1. Assimetria da caixa torácica e de sua expansibilidade. Sugere fratura de costelas, pneumotórax ou tórax instável. 2. Ausculta dos sons respiratórios. Os sons respiratórios diminuídos ou ausentes em um ou ambos os hemitórax devem alertar o examinador para a presença de lesão torácica. Cuidado com a frequência respiratória rápida, pois a taquipneia pode indicar desconforto respiratório. 3. Percussão. Macicez à percussão sugere hemotórax, enquanto timpanismo sugere pneumotórax. 4. Use um oxímetro de pulso para medir a saturação de oxigênio do paciente e medir a perfusão periférica. A baixa saturação de oxigênio pode ser uma indicação de hipoperfusão ou choque. RMEDCURSOS.COM.BR 266 TRAUMA As lesões que prejudicam significativamente a ventilação a curto prazo incluem pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço, pneumotórax aberto e lesões traqueais ou brônquicas. Essas lesões devem ser identificadas durante a avaliação primária e geralmente requerem atenção imediata para garantir uma ventilação eficaz. Como um pneumotórax hipertensivo compromete a ventilação e a circulação de maneira dramática e aguda, a descompressão torácica deve ser feita imediatamente quando houver suspeita de avaliação clínica. Exames complementares não devem atrasar o diagnóstico e o manejo. Anexo 2. Fonte: ATLS, 10ª edição. Todo paciente traumatizado deve receber oxigênio suplementar. Se o paciente não for intubado, o oxigênio deve ser fornecido por um máscara facial com reservatório para obter uma oxigenação ideal. Use um oxímetro de pulso para monitorar a adequação da saturação de oxigênio da hemoglobina. O pneumotórax simples,o hemotórax simples, as costelas fraturadas, o tórax e a contusão pulmonar podem comprometer a ventilação em menor grau e geralmente são identificados durante a pesquisa secundária. Um pneumotórax simples pode ser convertido em pneumotórax hipertensivo quando um paciente é intubado e é fornecida ventilação com pressão positiva antes de descomprimir o pneumotórax com um tubo torácico. A maioria das lesões torácicas com risco de vida pode ser tratada com controle das vias aéreas ou descompressão do peito com uma agulha ou tubo. Não atrase a conduta com exames complementares diante de um quadro de suspeição! c) Circulação e controle de hemorragias O comprometimento circulatório em pacientes traumatizados pode resultar de uma variedade de lesões. Volume sanguíneo, débito cardíaco e sangramento são os principais problemas a serem considerados. A hemorragia é a causa predominante de mortes evitáveis após traumas. Identificar, controlar rapidamente a hemorragia e iniciar a ressuscitação são, portanto, etapas cruciais na avaliação e gerenciamento desses pacientes. Uma vez excluído o pneumotórax hipertensivo como causa de choque, considere que a hipotensão após trauma é devida à perda de sangue até que se prove o contrário. A avaliação rápida e precisa do status hemodinâmico de um paciente ferido é essencial. Os elementos da observação clínica que fornecem informações importantes em segundos CIRURGIA 267 TRAUMA • Nível de consciência - quando o volume sanguíneo circulante é reduzido, a perfusão cer- ebral pode ser gravemente prejudicada, resultando em um nível alterado de consciência; • Perfusão cutânea - um paciente com pele rosada, especialmente na face e extremidades, raramente apresenta hipovolemia crítica após lesão. Por outro lado, um paciente com hi- povolemia pode se apresentar hipocorado, frio e com extremidades pálidas. • Pulso - um pulso rápido e rápido é geralmente um sinal de hipovolemia. Avalie um pulso central (por exemplo, artéria femoral ou carótida) bilateralmente quanto à qualidade, fre- quência e regularidade. Pulsos centrais ausentes que não podem ser atribuídos a fatores locais significam a necessidade de ação imediata de ressuscitação. Qualquer paciente ferido que esteja frio ao toque e taquicárdico deve ser considerado em estado de choque até que se prove o contrário. Na maioria dos adultos, taquicardia e vasoconstrição cutânea são as respostas fisiológicas precoces típicas à perda de volume. O método mais eficaz de restaurar o débito cardíaco, a perfusão de órgãos- alvo e a oxigenação tecidual em um paciente em choque é restaurar o retorno venoso, localizando e interrompendo a fonte do sangramento. A reposição do volume permitirá a recuperação do estado de choque somente quando o sangramento parar. A administração de uma quantidade apropriada de soluções de eletrólitos isotônicos, sangue e produtos sanguíneos ajuda a combater esse processo. O tratamento deve focar na reversão do estado de choque, interrompendo o sangramento e fornecendo oxigenação, ventilação e ressuscitação hídrica adequadas. Acesso rápido por via intravenosa deve ser obtido. Os vasopressores são contraindicados como tratamento de primeira linha do choque hemorrágico, porque pioram a perfusão tecidual. O controle definitivo da hemorragia e a restauração do volume circulante adequado são os objetivos do tratamento. A quantidade de líquido e sangue necessária para a ressuscitação é difícil de prever na avaliação inicial de um paciente. Administre um bolus aquecido inicial de líquido isotôni- co. A dose habitual é de 1 litro para adultos e 20 mL/kg para pacientes pediátricos com peso inferior a 40 kg. Os volumes absolutos de fluido de ressuscitação devem basear-se na resposta do paciente à administração de fluidos, tendo em mente que essa quantidade inicial de fluido inclui qualquer fluido administrado no ambiente pré-hospitalar. Avalie a resposta do paciente à ressuscitação de fluidos e identifique evidências de perfusão ad- equada de órgão final e oxigenação do tecido. Observe a resposta do paciente durante esta administração inicial de fluido e baseie outras decisões terapêuticas e de diagnóstico nessa resposta. OBSERVAÇÕES RMEDCURSOS.COM.BR 268 TRAUMA Abertura ocular ESCALA DE COMA DE GLASGOW VARIÁVEIS ESCORE Espontânea À voz À dor Nenhuma Orientada Confusa Palavras inapropriadas Palavras incompreensíveis Nenhuma Obedece comandos Localiza dor Movimento de retirada Flexão anormal Extensão anormal Nenhuma Resposta verbal Resposta motora 4 3 2 1 5 4 3 2 1 6 5 4 3 2 1 TOTAL MÁXIMO TOTAL MÍNIMO INTUBAÇÃO 15 3 B Uma diminuição no nível de consciência de um paciente pode indicar diminuição da oxigenação e / ou perfusão cerebral, ou pode ser causada por lesão cerebral direta. Um nível alterado de consciência indica a necessidade de reavaliar imediatamente o status de oxigenação, ventilação e perfusão do paciente. Hipoglicemia, álcool, narcóticos e outras drogas também podem alterar o nível de consciência do paciente. Até que se prove o contrário, Anexo 3 sempre presuma que alterações no nível de consciência são resultado de lesões no sistema nervoso central. Lembre-se também que a intoxicação por drogas ou álcool pode acompanhar lesões cerebrais traumáticas. A lesão cerebral primária resulta do efeito estrutural da lesão no cérebro. A prevenção de lesões cerebrais secundárias, mantendo oxigenação e perfusão adequadas, são os principais objetivos do manejo inicial. Como a evidência de lesão cerebral pode estar ausente ou mínima no momento da avaliação inicial, é crucial repetir o exame. Pacientes com evidência de lesão cerebral devem ser tratados em uma instalação que possua pessoal e recursos para antecipar e gerenciar as necessidades desses pacientes. Quando os recursos para cuidar desses d) Avaliação neurológica Uma avaliação neurológica rápida estabelece o nível de consciência do paciente, o tamanho e a reação pupilar; identifica a presença de sinais de lateralidade; e determina o nível de lesão medular, se presente. A Escala de Coma de Glasgow é um método rápido, simples e objetivo de determinar o nível de consciência. CIRURGIA 269 TRAUMA pacientes não estão disponíveis, os arranjos para a transferência devem começar assim que essa condição for reconhecida. e) Exposição e controle ambiental Durante a avaliação primária, o paciente deve ser totalmente despido, geralmente cortando suas roupas para facilitar um exame e avaliação completos. Depois de concluir a avaliação, cubra o paciente com cobertores quentes ou um dispositivo de aquecimento externo para impedir que ele desenvolva hipotermia. Aqueça fluidos intravenosos antes de administrá-los e mantenha um ambiente quente. A hipotermia pode estar presente quando o paciente chega, ou pode se desenvolver rapidamente no pronto-socorro se o paciente for descoberto e for submetido a uma administração rápida de fluidos à temperatura ambiente ou sangue refrigerado. Como a hipotermia é uma complicação potencialmente letal em pacientes feridos, tome medidas agressivas para evitar a perda de calor corporal e restaurar a temperatura corporal. Complementares à avaliação primária pode-se realizar eletrocardiografia contínua, oximetria de pulso, monitoramento do dióxido de carbono e avaliação da frequência ventilatória e gasometria arterial.Além disso, cateteres urinários podem ser colocados para monitorar o débito urinário e avaliar a hematúria. Os cateteres gástricos descomprimem a distensão e avaliam a evidência de sangue. Outros testes úteis incluem lactato sanguíneo, exames de raio-x (com destaque para tórax e pelve), FAST, avaliação e lavado peritoneal diagnóstico. Parâmetros fisiológicos como frequência de pulso, pressão arterial, pressão de pulso, frequência ventilatória, temperatura corporal e débito urinário são medidas avaliadas que refletem a resposta à ressuscitação. Os valores desses parâmetros devem ser obtidosassim que possível durante ou após a conclusão da avaliação primária e reavaliados periodicamente. É também durante a avaliação primária que se decide a necessidade de transferência do paciente. É importante não atrasar a transferência para realizar uma avaliação diagnóstica aprofundada. Realize apenas testes que aumentem a capacidade de ressuscitar, estabilizar e garantir a transferência segura do paciente. 2 AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA A avaliação secundária não começa até que a primária (ABCDE) seja concluída, os esforços de ressuscitação estejam em andamento e as funções vitais tenham mostrado melhora. A avaliação secundária é uma avaliação direta do paciente traumatizado, ou seja, uma história completa e exame físico, incluindo a reavaliação de todos os sinais vitais. Cada região do corpo é completamente examinada. História: toda avaliação médica completa inclui uma história do mecanismo da lesão. Frequentemente, essa história não pode ser obtida de um paciente que sofreu trauma; portanto, a família e/ou a equipe de atendimento pré-hopsitalar devem fornecer essas informações. A história AMPLA é um mnemônico útil: Alergias, Medicamentos usados atualmente, Passado médico (história médica pregressa), Líquido e alimentos ingeridos e Ambiente relacionados trauma. RMEDCURSOS.COM.BR 270 TRAUMA A condição do paciente é fortemente determinada pelo mecanismo do trauma. O conhecimento desse mecanismo pode ajudar na compreensão do estado fisiológico do paciente e fornecer pistas sobre lesões esperadas. Os padrões de trauma também são influenciados por faixas etárias e atividades. Exame físico: um exame físico completo e cauteloso deve ser realizado dos pés à cabeça. Importante lembrar que pacientes com trauma maxilofacial ou na cabeça podem ter uma lesão na coluna cervical e o movimento local deve continuar restrito. O exame começa com a avaliação da cabeça para pesquisar lesões neurológicas relacionadas e quaisquer outras lesões significativas. Todo o couro cabeludo e a cabeça devem ser examinados quanto a lacerações, contusões e evidências de fraturas. Os olhos, a cavidade oral e a cavidade auricular devem ser cuidadosamente examinados. O exame do pescoço inclui inspeção, palpação e ausculta. Sensibilidade da coluna cervical, enfisema subcutâneo, desvio traqueal e fratura da laringe podem ser descobertos em um exame detalhado. As artérias carótidas devem ser palpadas e auscultadas para pesquisa de sopros. Um sinal comum de lesão potencial de cervical é a marca do cinto de segurança. A avaliação pode incluir radiografias ou tomografia computadorizada. A avaliação visual do tórax, anterior e posterior, pode identificar condições como pneumotórax aberto e grandes segmentos de mangual. Uma avaliação completa da parede torácica requer palpação de toda a caixa torácica, incluindo clavículas, costelas e esterno. Contusões e hematomas alertam sobre a possibilidade de lesão oculta. Trauma torácico significativo pode se manifestar com dor, dispneia e hipóxia. A avaliação inclui inspeção, palpação, ausculta e percussão do tórax e radiografia de tórax. A ausculta é realizada no alto da parede torácica anterior para pneumotórax e nas bases posteriores para hemotórax. Sons cardíacos distantes e pressão de pulso diminuída podem indicar tamponamento cardíaco. Além disso, o tamponamento cardíaco e o pneumotórax hipertensivo são sugeridos pela presença de veias distendidas no pescoço, embora a hipovolemia associada possa minimizar ou eliminar esta descoberta. Uma radiografia de tórax ou eFAST (FAST estendido) pode confirmar a presença de um hemotórax ou um pneumotórax simples. As fraturas de costelas podem estar presentes, mas podem não ser visíveis no raio-x. Um mediastino alargado e outros sinais radiográficos podem sugerir uma ruptura da aorta. OBSERVAÇÕES CIRURGIA 271 TRAUMA Lesões abdominais devem ser identificadas e tratadas agressivamente. Identificar a lesão específica é menos importante do que determinar se a intervenção operatória é necessária. A observação cuidadosa e a reavaliação frequente do abdômen, de preferência pelo mesmo observador, são importantes no tratamento de trauma abdominal contuso, porque, com o tempo, os achados abdominais do paciente podem mudar. Pode-se suspeitar de fraturas pélvicas pela identificação de equimose sobre as asas ilíacas, púbis, lábios vaginais ou escroto. A dor à palpação do anel pélvico é um achado importante em pacientes alertas. Além disso, a avaliação dos pulsos periféricos pode identificar lesões vasculares. As fraturas pélvicas podem produzir grande perda de sangue. A imobilização da pelve com lençol pode limitar essa hemorragia e estabilizar a fratura momentaneamente. Não é recomendado manipular repetidamente ou vigorosamente a pelve em pacientes com fraturas, pois os coágulos sanguíneos já formados podem se desalojar e aumentar a hemorragia. O períneo deve ser examinado quanto a contusões, hematomas, lacerações e sangramento uretral. Um exame retal pode ser realizado para avaliar a presença de sangue no lúmen intestinal, a integridade da parede retal e a qualidade do tônus do esfíncter. O exame vaginal deve ser realizado em pacientes com risco de lesão vaginal. Além disso, um teste de gravidez deve ser realizado em todas as mulheres em idade fértil. As extremidades devem ser inspecionadas quanto a contusões e deformidades. A palpação dos ossos e o exame de sensibilidade e movimento anormal ajudam na identificação de fraturas ocultas. As rupturas ligamentares produzem instabilidade articular, e as lesões das unidades musculares interferem no movimento ativo das estruturas afetadas. A sensação prejudicada e/ou a perda da força voluntária da contração muscular podem ser causadas por lesão nervosa ou isquemia, incluindo a decorrente da síndrome compartimental. Um exame neurológico abrangente inclui avaliação motora e sensorial das extremidades, bem como reavaliação do nível de consciência do paciente e tamanho e resposta pupilar. A pontuação da Escala de Coma de Glasgow facilita a detecção de mudanças status neurológico do paciente. Se um paciente com um ferimento na cabeça se deteriorar neurologicamente, reavalie a oxigenação, a adequação da ventilação e perfusão do cérebro. As fraturas da coluna torácica e da coluna lombar e/ou lesões neurológicas devem ser consideradas com base nos achados físicos e no mecanismo da lesão. Outras lesões podem mascarar os achados físicos das lesões na coluna vertebral e podem permanecer sem serem detectadas, a menos sejam realizados raios X apropriados. Qualquer evidência de parestesia, paralisia ou fraqueza sugere lesões graves na coluna vertebral ou no sistema nervoso periférico. A proteção da medula espinhal é necessária o tempo todo até que uma lesão na coluna seja excluída. Exames complementares podem ser realizados durante a avaliação secundária para identificar lesões específicas. Isso inclui exames adicionais de raio-x da coluna e extremidades; tomografias computadorizadas da cabeça, tórax, abdômen e coluna vertebral; urografia de contraste e angiografia; ultrassonografia transesofágica; broncoscopia; e outros procedimentos de diagnóstico. RMEDCURSOS.COM.BR 272 TRAUMA 3 REAVALIAÇÃO Os pacientes com trauma devem ser reavaliados constantemente para garantir que novos achados não sejam negligenciados e para descobrir qualquer deterioração nos achados observados anteriormente. À medida que as lesões iniciais com risco de vida são manejadas, outros problemas igualmente fatais e lesões menos graves podem se tornar aparentes, o que pode afetar significativamente o prognóstico final do paciente. O monitoramento contínuo de sinais vitais, saturação de oxigênio e produção urinária é essencial. Para pacientes adultos, é desejável a manutenção do débito urinário a 0,5 mL/ kg/h. Em pacientes pediátricos com mais de 1 ano, um débito de 1 mL/kg/h é normalmente adequado. O alívio da dor intensaé uma parte importante do tratamento para pacientes traumatizados. Muitas lesões, principalmente lesões musculoesqueléticas, produzem dor e ansiedade em pacientes conscientes. A analgesia eficaz geralmente requer a administração de opiáceos ou ansiolíticos por via intravenosa. CIRURGIA 273 TRAUMA QUESTÕES HCPA 2016 – QUESTÃO 73 Paciente de 75 anos deu entrada na Emergência com redução do nível de consciência e rapidamente evoluiu com uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada (CTCG). Ocorreram mais três CTCGs autolimitadas, sem recuperação da consciência nos intervalos (período de 8 minutos). Qual a conduta mais adequada neste momento? A) Solicitar exames laboratoriais e eletroencefalograma para definir a etiologia e estabelecer o diagnóstico. B) Solicitar eletroencefalograma urgente e, após a confirmação do diagnóstico, iniciar benzodiazepínicos e fenitoína intravenosa. C) Avaliar e manejar a via aérea, instituir ventilação e medidas de circulação (ABC), avaliar a ocorrência de hipoglicemia e iniciar benzodiazepínicos e fenitoína intravenosa. D) Avaliar e manejar a via aérea, instituir ventilação e medidas de circulação (ABC) e observar o paciente por 30 minutos antes de iniciar a administração de anticonvulsivantes. E) Tentar obter uma história mais detalhada do paciente e solicitar exames laboratoriais e eletroencefalografia. Gabarito: C A Via aérea B Respiração e ventilação C Circulação e hemorragia D Disfunção neurológica E Exposição e ambiente - Garantir via aérea pérvia; - Ofertar O2; - Imobilização cervical. - Inspeção, palpação, percursão e ausculta do tórax; - Avaliar necessidade de drenagem torácica. - Avaliar perfusão tecidual: coloração da pele, qualidade dos pulsos, núvel de consciência; - Localizar e parar hemorragia e repor volemia. - Avaliar perfusão tecidual: coloração da pele, qualidade dos pulsos, núvel de consciência; - Localizar e parar hemorragia e repor volemia. - Retirada completa das roupas do paciente; - Adotar medidas para evitar hipotermia. MAPA MENTAL “Meu nome é Maria, vou atendê-lo. Qual o seu nome? O que aconteceu?” Avaliação rápida do A, B, C e D (avaliação de 10 segundos). X: enxanguinação! Cessar hemorragia externa importante antes de iniciar a sequência ABCDE. Paciente deve ser reavaliado constante! Exames complementares não devem atrasar conduta! Avaliação secundária: história AMPLA. RMEDCURSOS.COM.BR 274 TRAUMA HCPA 2019 – QUESTÃO 53 Considere as assertivas abaixo sobre trauma em paciente pediátrico. I – Devido às diferenças anatômicas, a intubação orotraqueal é mais difícil na criança do que no adulto, especialmente nas com menos de 3 anos de idade. II – A medida da pressão arterial isoladamente não é adequada para avaliar choque hemorrágico, pois perdas volumosas (até 40% da volemia) podem não ser detectadas. III – Para paciente com trauma abdominal, estável hemodinamicamente, com FAST (ultrassonografia focada para o trauma) positivo, está indicada tomografia computadorizada com contraste intravenoso. Quais estão corretas? A) Apenas I B) Apenas II C) Apenas III D) Apenas I e II E) I, II e III Gabarito: E AMRIGS 2016 – QUESTÃO 37 Um homem de 45 anos, vítima de queda de uma altura de 12m, deu entrada no setor de emergência inconsciente. Foi imediatamente intubado e colocado em ventilação mecânica. Concomitantemente, o tórax foi drenado à esquerda com saída de 1.000 ml de sangue. Foram infundidos dois litros de Ringer lactato aquecido. Seus sinais vitais após essas condutas iniciais foram: FC=140 bat/min; PA=80x40 mmHg; FR=25 mov/min e Sat O2=92%. A ectoscopia revela equimoses na transição toracoabdominal, com maior intensidade à esquerda. Na palpação do hemitórax esquerdo, tem crepitações nos últimos arcos costais, e a ausculta pulmonar evidencia murmúrio vesicular presente e simétrico. A pelve está estável na palpação das cristas ilíacas anteriores, mas há fratura de fêmur esquerdo. Diante do exposto, qual será a melhor avaliação inicial desse traumatizado? A) Focused Assessment with Sonography for Trauma (FAST) e o lavado peritoneal diagnóstico estão indicados. B) Realizar uma tomografia computadorizada. C) Realizar ressonância magnética. D) Fazer uma endoscopia diagnóstica e terapêutica. E) Diante de todas as condutas que já foram tomadas, não há necessidade de exames complementares. Gabarito: A REFERÊNCIAS ATLS Advanced Trauma Life Support. 10th ed. American College of Surgeons.; 2018.
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