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ATENDIMENTO AO PACIENTE POLITRAUMATIZADO O trauma é qualquer lesão causada por uma alteração estrutural ou desequilíbrio fisiológico decorrente da exposição aguda a algum tipo de energia: mecânica, térmica, elétrica ou química. O paciente politraumatizado possui lesão em 2 ou mais sistemas. A distribuição trimodal da morte ocorre em 3 picos: o 1º pico: o paciente vai a óbito de segundos a minutos da lesão. A apneia ocorre devido a lesão cerebral grave ou lesão alta da medula espinhal. Há como exemplo a ruptura do coração, aorta ou de grandes vasos. Nesse pico, poucos pacientes podem ser salvos devido a gravidade de seus ferimentos e apenas a prevenção pode reduzir significativamente este pico de mortes relacionadas ao trauma. o 2º pico: óbito de minutos a várias horas após a lesão. É possível realizar o diagnóstico e até tentar o tratamento para evitar o óbito. Possui como exemplos os hematomas epidurais e subdurais, hemopneumotórax, rompimento do baço, lacerações hepáticas, fraturas pélvicas ou fraturas múltiplas associadas a grandes perdas sanguíneas. Possui a hora de ouro que é caracterizada pela necessidade de rápida avaliação e ressuscitação, que são os princípios fundamentais da ATLS. o 3º pico: óbito de vários dias ou semanas após a lesão. Possui como exemplo a sepse, que é a causa principal e a disfunção de múltiplos órgãos. Os cuidados prestados durante cada um dos períodos anteriores afetam os resultados durante esta fase e a primeira e todas as pessoas subsequentes a cuidar do paciente ferido têm um efeito direto no resultado a longo prazo. A Golden Hour enfatiza a urgência necessária para que o tratamento do traumatizado seja bem- sucedido e não representa necessariamente um período fixo de 60 minutos, mas um período de tempo para otimizar o atendimento e evitar a evolução para quadros mais graves. Representa uma janela de oportunidade na qual os profissionais podem causar impacto positivo na morbidade e mortalidade associadas ao trauma. Possui a necessidade de avaliação rápida e a reanimação, que são os princípios fundamentais do ATLS. A preparação é realizada no atendimento pré-hospitalar, sendo indicado notificar o hospital receptor quando o quadro do paciente é mais grave ou com múltiplas vítimas, realizar a manutenção de vias aéreas, controlar o sangramento externo e choque, realizar a imobilização e transporte imediato. No tratamento hospitalar, o local deve estar adequado para receber o paciente, com equipamento para via aérea disponível e testado, soluções de cristaloides aquecidas prontas para infusão e dispositivos para monitorar o paciente. Quando o SAMU chega, realizar o MIST: M: Mecanismo do Trauma I (Injuries): lesões encontradas e suspeitas S: sinais e sintomas T: tratamento iniciado É necessário realizar o ABCDE novamente além de realizar a triagem para a classificação dos pacientes com base nos recursos necessários para o tratamento e os recursos disponíveis. A ordem de tratamento é sempre ABC: gravidade da lesão (risco iminente de morte e lesões em múltiplos sistemas), capacidade de sobreviver, recursos disponíveis quando há disponibilidade suficiente no hospital. Já em casos de múltiplas vítimas, mas com número de pacientes e gravidade maior que a capacidade de prestar assistência, a maior chance de sobrevida, com tratamento com menos tempo e menos equipamentos são as prioridades. 3 conceitos principais do ATLS: Tratar primeiro a maior ameaça a vida A falta de diagnóstico definitivo nunca deve impedir a aplicação do tratamento adequado A história detalhada não é essencial para iniciar a avaliação do politraumatizado As prioridades são estabelecidas de acordo com a avaliação geral do paciente: A. Airway: vias aéreas e proteção da coluna cervical. B. Breathing: respiração e ventilação C. Circulation: circulação e controle de hemorragia D. Disability: exame neurológico E. Exposure: exposição e controle de temperatura É possível avaliar rapidamente os itens A, B, C e D em um paciente de trauma solicitando a identificação do mesmo e questionando o que aconteceu. Quando na presença de uma resposta apropriada, sugere que não há maiores comprometimentos desses itens, enquanto a presença de uma resposta inapropriada sugere anormalidade em A, B, C ou D e é necessário realizar avaliação e cuidados iniciar urgentemente. A - AIRWAY É importante realizar a manutenção da via aérea e restrição de movimento cervical. A presença de resposta apropriada sugere que não há comprometimento importante das vias aéreas enquanto a falta de resposta sugere anormalidades em ABCD. Nessa etapa a oxigenação e ventilação possuem prioridade. Portanto, é preciso: Avaliação de obstrução de vias aéreas através da inspeção de corpos estranhos, sinais de fraturas faciais, manibulares, traqueais ou laríngeas e aspirar secreções acumuladas. Restrição da coluna vertebral mesmo na ausência de déficit neurológico pois isso não exclui lesão em coluna cervical, porque pode ter fratura sem compressão medular até o momento. A ausência de déficit neurológico não exclui lesão em coluna cervical. Para manter a via aérea podem ser utilizadas as duas manobras a seguir: A Manobra de Elevação do queixo (Chin-lift) é realizada colocando-se os dedos de uma das mãos sob a mandíbula e, em seguida, levantando-a suavemente para cima para trazer o queixo anteriormente. Com o polegar da mesma mão, pressionar levemente o lábio inferior para abrir a boca. A Manobra de Impulso da Maxila (Jaw-Thrust) é realizada segurando os ângulos das mandíbulas com uma mão de cada lado e, em seguida, deslocando a mandíbula para frente. É utilizado na tentativa de evitar estender o pescoço do paciente, portanto, deve ser utilizada em pacientes com suspeita de trauma cervical. Cânula orofaríngea pode ser utilizada para manter a via aérea pérvia, mas nesse caso, pode induzir ao vômito. Cânula nasofaríngea não deve ser utilizada em casos de suspeita de fratura de base de crânio. A máscara laríngea pode ser usada em via aérea difícil e não é uma via aérea definitiva, visto que para ser definitiva é necessário que o tubo esteja insuflado na traqueia. A intubação também pode ser realizada na tentativa de manter a via aérea pérvia. Em casos de edema de glote, fratura de laringe, hemorragia orofaríngea grave e demais casos de incapacidade de intubação, manter a via aérea através de opções cirúrgicas como: Cricotireoidistomia: acaba sendo preferível quando compara a traqueostomia por ser mais rápido, mais fácil de ser realizado e com menor chance de hemorragia associada além de poder ser realizada por punção. É realizada na membrana cricotireoidea, localizada entre a cartilagem tireóidea e a cartilagem cricóide. Traqueostomia: não é muito utilizada nos atendimentos de urgência e é considerada uma via aérea definitiva. Por fim, após manter a via aérea, realizar o controle cervical. B – BREATHING Nessa etapa, é importante avaliar a respiração, se há função adequada de pulmões, parede torácica e diafragma. Além disso, realizar a inspeção visual e palpação a fim de detectar lesões na parede torácica que podem comprometer ventilação e auscultar para avaliar o fluxo de ar nos pulmões Os pacientes de trauma devem receber oxigênio suplementar, mesmo que não necessite de intubação. Além disso, deve-se utilizar um oxímetro de pulso para avaliar a saturação de oxigênio. Pneumotórax simples: pode ser convertido em um pneumotórax hipertensivo quando o paciente é intubado e recebe pressão de ventilação positiva antes da descompressão do pneumotórax por drenagem, a qual é realizada no 5º EIC na linha axilar média, segundo o ATLS. Pneumotórax aberto: a lesão possui abertura maior que 2/3 do diâmetro da traqueia e, nesses casos, deve ser realizado o curativo de 3 pontas. Deve-se realizar a drenagem, a qual é realizadano 5º EIC na linha axilar média, segundo o ATLS. Deve-se sempre solicitar raio-x de controle após a drenagem. Pneumotórax hipertensivo: o ar possui grande resistência para sair, aumentando a pressão na caixa torácica e causando o desvio das estruturas do mediastino, com alteração do estado hemodinâmico. Na inspeção o paciente apresenta hemitórax elevado, com desvio traqueal e estase jugular do lado comprometido. Na percussão, há hipertimpanismo e na ausculta, diminuição do murmúrio vesicular. Nesses casos, o tratamento é realizado com punção de alívio, a qual é realizada no 5º EIC na linha axilar média, segundo o ATLS. Hemotórax: durante a inspeção o paciente não apresenta nenhum tipo de desvio traqueal ou estase jugular. Na percussão, há macicez e na ausculta, diminuição do murmúrio vesicular. C – CIRCULATION Nessa etapa, a hemorragia é a principal causa de morte evitável e, por isso, deve ser identificada e controlada o mais rápido possível. O paciente evolui para choque quando há anormalidade do sistema circulatório que resulta em perfusão inadequada de órgãos e oxigenação tecidual e apresenta sinais como: pele pálida e fria, pulso fraco e fino, perfusão diminuída, hemorragia, hipotensão e taquicardia. Portanto, uma vez que o pneumotórax hipertensivo é excluído como causa do choque, considerar que a hipotensão após a lesão está ocorrendo devido a perda de sangue. Nesses casos, os sinais clínicos são alteração do nível de consciência, perfusão cutânea e pulso. Tamponamento cardíaco: é diagnosticado na presença da tríade de Beck: hipotensão, abafamento de bulhas e turgência jugular. Deve ser tratado através da pericardiocentese (Punção de Marfan). Quando identificar sangramento externo, realizar a compressão manual direta na ferida ou realizar os torniquetes em caso de sangue maciço em extremidades com cuidado para isquemia. Classe I: há restauração do volume de sangue em 24 horas e geralmente sem a necessidade de transfusão de sangue. Classe II: alguns pacientes podem precisar de transfusão de sangue, mas a maioria é estabilizada inicialmente com soluções cristaloides Classe III: deve-se interromper a hemorragia através de cirurgia de emergência ou embolização. A maioria precisará de transfusão para reverter o choque. Classe IV: transfusão rápida e intervenção cirúrgica imediata Na identificação de um sangramento externo, deve-se realizar a compressão manual direta na ferida ou através de torniquetes quando há sangue maciço em extremidades. Nesse último caso, é preciso ter cuidado com a isquemia e só é indicado caso a compressão direta não seja efetiva e exista risco de morte. Quando há hemorragia interna em tórax, abdome, retroperitônio, pelve ou ossos longos deve-se realizar o controle definitivo da hemorragia, a qual deve ser identificada através do exame físico ou de imagem. Na sala de emergência, também é possível utilizar a lavagem peritoneal e o FAST, que é um aparelho ultrassom utilizado para investigar hemorragia em saco pericárdico, fossa hepatorenal, esplenorrenal e pelve. O manejo pode incluir descompressão torácica e aplicação de um dispositivo de estabilização pélvica e/ou tala nas extremidades. O controle definitivo do sangramento é essencial e deve ser associado a uma reposição de volume intravascular adequada. O acesso vascular pode ser estabelecido com 2 cateteres venosos periféricos de grande calibre para administração de fluido e/ou sangue. Quando o acesso não é possível, a infusão intraóssea, acesso venoso central ou corte venoso podem ser usados, dependendo das lesões do paciente e do nível de habilidade do médico. Em traumas abdominais contusos, os órgãos mais afetados são baço (40-55%), fígado (35-45%), intestino delgado (5-10%) e 15% são casos retroperitoneais. Já no trauma abdominal penetrante por faca, pode ocorrer acometimento do fígago (40%), intestino delgado (30%), diafragma (20%) e cólon (15%) enquanto os ferimentos por arma de fogo podem comprometer intestino delgado (50%), cólon (40%), fígado (30%) e estruturas vasculares abdominais (25%). D- DISABILITY Realizar a avaliação rápida do estado neurológico e estabelecer o nível de consciência, tamanho e reatividade de pupilas e nível de lesão espinhal. A rebaixamento do nível de consciência está diretamente relacionada com a baixa oxigenação e/ou perfusão cerebral ou pode possuir relação direta com trauma cerebral. A avaliação do estado neurológico deve ser realizada através da Escala de Coma de Glasgow e sempre que menor ou igual a 8 sempre realizar a intubação. o Menor ou igual a 8: intubação o 9-12: lesão moderada o 13-15: lesão leve Essa escala possui alterações em pacientes etilistas, com hipoglicemia, narcóticos ou outras drogas que causem a alteração do nível de consciência. Em casos de rebaixamento do nível de consciência deve-se reavaliar imediatamente o paciente desde a letra A(airway), seguindo o protocolo do ATLS a fim de verificar a oxigenação, ventilação e perfusão. E- EXPOSURE É necessário despir completamente o paciente para avaliar e, em seguida, cobrir o paciente para evitar hipotermia com soro para infusão aquecido, entre 37ºC a 40ºC. Após completar o ABCDE, pode-se iniciar a pesquisa secundária com a história clínica completa, exame física e reavaliações, bem como o mecanismo do trauma. Sempre questionar o AMPLA: o A: alergias o M: medicamentos em uso o P: passado médico, comorbidades, gravidez o L: líquidos e alimentos (última refeição) o A: ambiente e eventos relacionados ao trauma Sempre evitar a tríade da morte: Acidose: evitar com ventilação adequada + normovolemia Hipotermia: evitar com manta térmica, cristaloide e HMC aquecidos Coagulopatia: protocolo de transfusão maciça. Na pesquisa secundária, também deve-se solicitar exames complementares, avaliação de especialistas e avaliar a necessidade de transferência quando necessário.
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