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Cecilia Antonieta 82 A 1 ATENDIMENTO INICIAL AO POLITRAUMA AVALIAÇÃO INICIAL Abordagem sistemática que pode ser aplicada rapidamente e com precisão. 1. Preparação 2. Triagem 3. Avaliação primária (ABCDEs) com reanimação imediata de pacientes com lesões com risco de vida. 4. Adjuntos da avaliação primária e reanimação. 5. Avaliação secundária (avaliação dos pés à cabeça e histórico do paciente). 6. Adjuntos da Avaliação secundária. 7. Monitoramento contínuo e reavaliação pós- reanimação. 8. Cuidado definitivos. As avaliações primária e secundária são repetidas com frequência para identificar qualquer mudança no estado clínico que indique a necessidade de intervenção adicional. Na prática clínica muitas dessas atividades ocorrem simultaneamente. PREPARAÇÃO FASE PRÉ-HOSPITALAR Coordenação com clínicos no hospital receptor agiliza o tratamento no campo. Notificar o hospital receptor antes do transporte permite mobilização de equipe e materiais necessários para a chegada do paciente. DEVE-SE DAR ÊNFASE A Manutenção da via aérea; Controle de sangramento externo e choque; Imobilização do paciente; Transporte imediato para o centro de trauma mais próximo. Deve-se fazer todo o esforço para minimizar o tempo de cena. Obter e reportar informações necessárias para triagem no hospital: ▪ Hora do trauma; ▪ Eventos relacionados ao trauma; ▪ História do paciente. Os mecanismos da lesão podem sugerir o grau da lesão como a lesões específicas que precisam ser tratadas. FASE HOSPITALAR Planejamento antecipado à chegada é essencial. O hand-over entre os criadores pré-hospitalares e o hospital receptor deve ser direcionado pelo líder de trauma e conter todas as informações importantes. ASPECTOS CRÍTICOS DA PREPARAÇÃO. ▪ Área disponível para reanimação; ▪ Equipamento de vias aéreas em funcionamento, disponível, organizado, testado e em lugar estratégico para ser facilmente acessível; ▪ Soluções cristalóides intravenosas aquecidas imediatamente disponíveis para infusão, assim como dispositivos de monitoramento apropriados; ▪ Um protocolo para convocar assistência médica adicional está em vigor, bem como um meio para garantir respostas imediatas por equipe de laboratório e radiologia; ▪ Acordos de transferência com centros de trauma verificados estabelecidos e operacionais. Devido ao perigo de contaminação por doenças transmissíveis (hepatite e AIDS) é recomendado o uso de precauções padrão quando em contato com fluidos corpóreos. TRIAGEM Classificação de pacientes baseada nos recursos necessários para tratamento e os recursos disponíveis. ORDEM DE TRATAMENTO base nas prioridades ABC (via aérea e proteção de coluna cervical, respiração, e circulação com controle de hemorragia). OUTROS FATORES QUE PODEM AFETAR A PRIORIDADE severidade da lesão, habilidade de sobreviver e recursos disponíveis. Também inclui a classificação de pacientes para deter- minar a instalação médica de recebimento apropriada. Cecilia Antonieta 82 A 2 A pontuação pré-hospitalar de trauma é útil para identificar pacientes gravemente feridos que justificam o transporte para centro de trauma. MÚLTIPLAS CASUALIDADES O número de pacientes e severidade de suas lesões não excede a capacidade da instalação de atendimento. Pacientes com problemas ameaçadores de vida e os politraumatizados são tratados primeiro. CASUALIDADES DE MASSA O número de pacientes e severidade de suas lesões excede a capacidade da instalação e da equipe. Pacientes com maior chance de sobrevida e que o aten- dimento implique em menor gasto de tempo, equipa- mentos, suprimentos e pessoal são tratados primeiro. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA (ABCDEs) COM REANIMAÇÃO IMEDIATA DE PACIENTES COM LESÕES DE RISCO DE VIDA Pacientes são avaliados e as prioridades de tratamento são estabelecidas, com base nas lesões, sinais vitais e mecanismo de lesão. Clínicos podem avaliar A, B, C e E rapidamente (10s) se identificando, perguntando ao paciente por seu nome e o que aconteceu. Condições ameaçadoras de vida são identificadas e tratadas com sequência prioritária baseada nos efeitos das lesões na fisiologia do paciente, porque primeiramente não é possível identificar lesões anatômicas específicas. A – MANUTENÇÃO DE VIAS AÉREAS COM RESTRI - ÇÃO DO MOVIMENTO DA COLUNA CERVICAL Primeiramente avaliar as vias aéreas para verificar perviedade. IDENTIFICAÇÃO DE SINAIS DE OBSTRUÇÃO corpos estranhos, identificação de fraturas mandibulares e/ou traqueais/laríngeas e outras lesões. Succionar para limpar sangue e secreções acumulados. RESTRIÇÃO DA COLUNA CERVICAL uso de colar cervical. Iniciar medidas para estabelecer perviedade de via aérea durante a restrição. Se o manejo de via aérea é necessário, o colar cervical é aberto e a equipe restringe a coluna cervical manualmente. Ao avaliar e manejar as vias aéreas tomar cuidado, prevenindo movimentos excessivos da coluna cervical. Baseado no mecanismo do trauma, assumir que há lesão na coluna. Se o paciente é capaz de se comunicar verbalmente é improvável que a via aérea esteja em imediato perigo, entretanto a avaliação repetida é prudente. Pacientes com lesão severa na cabeça e nível de consciência alterado ou ECG (Glasgow Coma Scale) < 8 requerem via aérea definitiva. Se houver dúvida de que o paciente é capaz de manter a integridade da via aérea – estabelecer via definitiva. O achado de forte respostas motoras descoordenadas sugere a necessidade via aérea definitiva. Cecilia Antonieta 82 A 3 B – RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO A perviedade a via aérea sozinha não garante ventilação adequada. A adequada troca de gás é necessária para maximizar a oxigenação e eliminar de CO2. EXAME FÍSICO VENTILAÇÃO requer adequada função dos pulmões, parede torácica e diafragma. Cada componente deve ser avaliado rapidamente. Para avaliar adequadamente a distensão venosa jugular, posição da traqueia e excursão da parede respiratória, exponha tórax e pescoço. ASCULTA para garantir o fluxo de ar nos pulmões. INSPEÇÃO VISUAL E PALPAÇÃO detecta lesões à parede torácica que podem comprometer a ventilação. PERCUSSÃO TORÁCICA identifica anormalidades. *Pode ser imprecisa devido à reanimação barulhenta. LESÕES QUE A CURTO PRAZO PREJUDICAM SIGNIFICATIVAMENTE A VENTILAÇÃO pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço, pneumotórax aberto e lesões bronquiais. Devem ser identificadas na pesquisa primária, e muitas vezes requerem atenção imediata para garantir uma ventilação eficaz. PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO quando suspeito na avaliação clínica deve ser seguido de descompressão imediata. Todo o paciente ferido deve receber oxigênio suplementar. Use um oxímetro de pulso para monitorar a adequação da saturação de oxigênio da hemoglobina. LESÕES QUE COMPROMETEM A VENTILAÇÃO EM UM MENOR GRAU pneumotórax simples e hemotórax, fratura de arcos costais e contusão pulmonar. C – CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DE HEMORRAGIA Volume sanguíneo, DC e sangramento são os principais problemas circulatórios a considerar. VOLUME SANGUÍNEO E DÉBITO CARDÍACO hemorragia é causa predominante de mortes preveníveis após lesão. Identificar, controlar rapidamente a hemorragia e iniciar reanimação são passos cruciais na avaliação e manejo desses pacientes. Uma vez que o pneumotórax hipertensivo foi excluído como causa de choque, considerar que hipotensão após lesão é devido à perda de sangue até que se prove o contrário. Avaliação rápida e precisa do estado hemodinâmico é essencial. ELEMENTOS DA OBSERVAÇÃO CLÍNICA QUE RENDEM INFORMAÇÕES IMPORTANTES EM SEGUNDOS . NÍVEL DE CONSCIÊNCIA volume circulante reduzido – perfusão cerebral pode estar criticamente debilitada, resultando em nível de consciência alterado. PERFUSÃO DA PELE paciente com pele rosa, especialmentena face e extremidades raramente tem hipovolemia crítica após lesão. Paciente com hipovolemia pode ter pele facial acinzentada e extremidades pálidas. PULSO rápido e filiforme – típico sinal de hipovolemia. Avalie um pulso central bilateralmente para qualidade, taxa e regularidade. Pulsos centrais ausentes que não podem ser atribuídos a fator local significam a necessidade de ação de reanimação imediata HEMORRAGIA EXTERNA identificada e controlada na avaliação primária. Rápida perda é contida por pressão manual direta na ferida. Torniquetes efetivos em exsanguinação massiva de uma extremidade, mas têm muito risco de lesão por isquemia para essa extremidade. Uso somente quando pressão direta não é efetiva e há risco de vida para o paciente. INTERNA áreas principais – tórax, abdômen, retroperitônio, pélvis e ossos longos. A fonte é identificada por exame físico ou imagem (raio-X de tórax e pelve, FAST e DPL). MANEJO IMEDIATO pode incluir descompressão de tórax e aplicação de dispositivo estabilizador de pelve e/ou tala de extremidade. DEFINITIVO pode requerer tratamento cirúrgico ou radiologia intervencionista e estabilização pélvica e de ossos longos. Iniciar consulta cirúrgica ou procedimentos de transferência cirúrgica precocemente. Cecilia Antonieta 82 A 4 O controle da hemorragia junto com apropriada reposição de volume intravascular é essencial. Acesso vascular deve ser estabelecido, tipicamente são colocados dois cateteres venosos de grande calibre para administrar fluidos, sangue e plasma. Amostras de sangue para estudos hematológicos são obtidas, incluindo teste de gravidez para todas as mulheres em idade fértil e tipo de sangue e prova cruzada. Reposição volêmica agressiva e continuada não é substituto definitivo para o controle da hemorragia. Iniciar fluidoterapia IV com cristalóides. Todas as soluções IV devem ser aquecidas por armazenamento em ambiente quente (37-40° C) ou administrada por dispositivos de aquecimento. Um bolus de 1L de solução isotônica pode ser necessário para resposta apropriada em adultos. Se o paciente for irresponsivo a terapia cristalóide inicial deve receber transfusão sanguínea. Muitos pacientes de trauma têm risco de coagulopatia que pode ser ainda mais alimentado por medidas de reanimação. Esse pode ser mitigado pelo uso de Proto- colo de Transfusão Maciça com componentes sanguí- neos administrados em proporções baixas predefinidas. D – INCAPACIDADE (DISABILITY) Uma rápida avaliação neurológica estabelece o nível de consciência e tamanho e reação pupilar, identificando a presença de sinais lateralização e determina o nível de lesão da medula espinal, se presentes. ECG método rápido, simples e objetivo de determinar o nível de consciência. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA DIMINUÍDO pode indicar oxigenação e/ou perfusão cerebral reduzida ou pode ser causado por lesão cerebral direta. Nível de consciência alterado indica a necessidade de imediata reavaliação do estado de oxigenação, ventilação e perfusão. Hipoglicemia, álcool, narcóticos e outras drogas podem alterar o nível de consciência. Até que se prove o contrário, sempre presumir que alterações no nível de consciência são resultado de lesão no SNC. LESÃO CEREBRAL PRIMÁRIA resulta de efeito estrutural da lesão no cérebro. SECUNDÁRIA deve ser prevenida mantendo oxigenação e perfusão adequada – principais objetivos do atendimento inicial. Evidência de lesão cerebral pode estar ausente ou ser mínima no momento da avaliação primária, por isso é crucial repetir a avaliação. Quando recursos para cuidar desse paciente não estiverem disponíveis devem ser feitos arranjos para transferência quando a condição for reconhecida. Deve- se sempre consultar um neurocirurgião quando a lesão cerebral for reconhecida. E – EXPOSIÇÃO E CONTROLE DO AMBIENTE ANTES AVALIAÇÃO PRIMÁRIA despir o paciente completamente, cortando vestimentas para facilitar exame minucioso e avaliação. APÓS COMPLETAR A AVALIAÇÃO cobrir o paciente com cobertor quente ou dispositivo de aquecimento externo para prevenir hipotermia. Aquecer fluidos IV antes de infundir e manter o ambiente quente. HIPOTERMIA complicação potencialmente letal. Deve- se tomar medidas agressivas para prevenir perda de sangue e restaurar temperatura corporal ao normal. A temperatura da área de reanimação deve ser aumentada para evitar perda de calor corporal. Quando aquecedores de fluidos não estiverem disponíveis, um micro-ondas pode ser usado para aquecer fluidos cristaloides, mas nunca hemoderivados. ADJUNTOS DA AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO PARÂMETROS FISIOLÓGICOS refletem a adequação da reanimação. Valores devem ser obtidos assim que for prático durante ou após completar a pesquisa primária e reavaliar periodicamente. Cecilia Antonieta 82 A 5 MONITORAMENTO ELETROCARDIOGRÁFICO DISRITMIAS taquicardia inexplicada, fibrilação atrial, contrações ventriculares prematuras e alterações do segmento ST podem indicar lesão por trauma contuso. Hipotermia extrema também produz arritmias. ATIVIDADE ELÉTRICA SEM PULSO (AESP) pode indicar tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo, e/ou hipovolemia profunda. BRADICARDIA, CONDUÇÃO ABERRANTE E EXTRASSÍS- TOLES suspeição de hipóxia e hipoperfusão. OXIMETRIA DE PULSO Valiosa para monitoramento da oxigenação. Um sensor é colocado no dedo da mão ou do pé, ou lóbulo da orelha. A absorção relativa de luz pela oxiemoglobina e deoxiemoglobina são avaliadas medindo a quantidade de luz vermelha e infravermelha emergindo dos tecidos atravessados por raios de luz e processados pelo dispositivo, produzindo o nível de saturação de oxigênio. Não mede a pressão parcial de oxigênio e gás carbônico. A medição ocorre tão rápido quanto prático e é repetida periodicamente para estabelecer padrões. O valor da saturação de hemoglobina deve ser compara- do o valor obtido na análise da gasometria arterial. TAXA VENTILATÓRIA, CAPNOGRAFIA E GASOMETRIA ARTERIAL Usadas para monitorar a adequação das respirações do paciente. TAXA VENTILATÓRIA monitorada usando níveis de dió- xido de carbono expirados que podem ser detectados usando colorimetria, capnometria e capnografia. DIÓXIDO DE CARBONO EXPIRADO pode ser usado para controle rígido da ventilação e evitar hipo- e hiperventilação. Reflete o DC e é usado para prever o retorno espontâneo da circulação (ROSC) durante RCP. CAPNOGRAFIA técnica de monitoramento não-invasivo, fornece uma visão sobre a ventilação, circulação e metabolismo do paciente. Pode ser usada para confirmar intubação de via aérea, mas não confirma a posição adequada do tubo dentro na traqueia. GASOMETRIA ARTERIAL valores informações ácido- base. TRAUMA baixo pH e níveis de base em excesso indicam choque. CATETERES URINÁRIOS E GÁSTRICOS Colocação ocorre durante ou após avaliação primária. CATETERES URINÁRIOS o débito urinário é um indicador sensitivo do estado do volume sanguíneo do paciente e reflete a perfusão renal. Monitorização do débito urinário é realizada pela inserção de um cateter vesical permanente. Uma amostra de urina deve ser submetida para análise laboratorial de rotina. Cateterismo transuretral da bexiga é contra-indicado para pacientes que podem ter lesão uretral, suspeitar de lesão na presença de sangue no meato uretral ou equimose perineal. Não inserir cateter urinário sem antes examinar períneo e genitália. Às vezes, anormalidades anatômicas impedem a colocação de cateteres vesicais permanentes, apesar da técnica apropriada. CATETERES GÁSTRICOS indicados para descomprimir a distensão do estômago, diminuir o risco de aspiração e para verificar se há hemorragia GI pelo trauma. DESCOMPRESSÃO DO ESTÔMAGO reduz risco de aspiração, mas não previne completamente. A coloca- ção pode induzirvômito. O tubo só é efetivo se devida- mente posicionado e conectado à sucção apropriada. SANGUE NO ASPIRADO GÁSTRICO pode indicar sangue orofaringeal, inserção traumática ou lesão do trato digestivo superior. Se fratura da placa cribiforme é sabida ou suspeita a inserção do tubo gástrico deve ser oral para evitar passagem intracranial. EXAMES DE RAIO-X E ESTUDOS DIAGNÓSTICOS Devem ser usados com prudência e não devem atrasar a reanimação ou transferência para cuidado definitivo quando requerem um nível superior de atendimento. ANTEROPOSTEIORES (AP) DE TÓRAX E PÉLVICOS fre- quentemente fornecem informações para guiar esfor- ços de reanimação em pacientes com trauma contuso. Cecilia Antonieta 82 A 6 TÓRAX pode mostrar lesões potencialmente fatais que requerem tratamento ou maior investigação. PELVE pode mostrar fraturas que podem indicar a necessidade de transfusão sanguínea precoce. Podem ser obtidos na área de reanimação com unidade de raio-x portátil, mas não quando interromperiam o processo de reanimação FAST, eFAST E LPD úteis para detecção de sangue intra- abdominal, pneumotórax e hemotórax. O uso depende das habilidades e experiência do clínico. LPD pode ser desafiador de realizar em pacientes grávidas, com laparotomia prévia e obesos. FAST obesidade e gás intestinal intraluminal podem prejudicar as imagens. O achado de sangue intra-abdominal indica a necessidade de intervenção cirúrgica em pacientes hemodinamicamente instáveis. A presença de sangue no FAST ou DPL em paciente hemodinamicamente estável requer envolvimento de um cirurgião pois uma mudança na estabilidade pode indicar a necessidade de intervenção. CONSIDERAR A NECESSIDADE DE TRANSFERIR Durante a avaliação primária com reanimação, o médico frequentemente obtém informação suficiente para determinar a necessidade de transferência para outra facilidade para cuidado definitivo. O processo de transferência deve ser iniciado imediatamente pelo administrativo sob direção do líder da equipe de trauma enquanto avaliação adicional e mediadas de reanimação estão sendo performadas. Apenas realizar testes que aumentem a capacidade de reanimação, estabilizar e garantir a transferência segura do paciente. Uma vez que a decisão de transferência for tomada é essencial comunicação entre os médicos que encaminham e os que recebem. POPULAÇÕES ESPECIAIS Exigem consideração especial durante a avaliação primária. As prioridades de cuidado são as mesmas, mas esses podem apresentar respostas fisiológicas que não seguem os padrões esperados e diferenças anatômicas que requerem equipamento ou consideração especial. CRIANÇAS fisiologia e anatomia única. As quantidades de sangue, fluidos e medicações variam com o tamanho. Padrões de lesão e grau e rapidez de perda de calor diferem. Tipicamente têm reserva fisiológica abundante e muitas vezes têm poucos sinais de hipovolemia, mesmo após severa depleção de volume. Quando a deterioração ocorre, é precitada e catastrófica. GRÁVIDAS mudanças anatômicas e fisiológicas podem modificar a resposta à lesão. Reconhecimento precoce da gravidez por palpação do abdome para útero graví- dico e teste laboratorial, como avaliação fetal precoce são importantes para sobrevivência materna e fetal. IDOSOS reanimação exige atenção especial. O processo de envelhecimento diminui a reserva fisiológica e doen- ças cardiovasculares crônicas, respiratórias e metabóli- cas podem prejudicar a habilidade de resposta à lesão. Comorbidades podem afetar adversamente os resultados após uma lesão. O uso de medicações a longo prazo pode alterar a resposta fisiológica usual e frequentemente leva à super- e sub-reanimação OBESOS anatomia pode tornar procedimentos, como a intubação, difíceis e perigosos. Testes diagnósticos são mais difíceis. Muitos possuem doença cardiopulmonar, que limita a habilidade de compensar lesões e estresse. A reanimação volêmica rápida pode exacerbar suas condições subjacentes. ATLETAS podem não manifestar sinais precoces de cho- que (taquicardia e taquipneia). Possuem normalmente baixa pressão arterial sistólica e diastólica. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Só começa após fim da avaliação primária, esforços de reanimação estão em andamento e há melhora nas funções vitais do paciente. Avaliação dos pés à cabeça, histórico completo e exame físico, incluindo reavaliação dos sinais vitais. HISTÓRIA História do mecanismo da lesão. Frequentemente não pode ser obtida de paciente com trauma portanto, o staff pré-hospitalar e a família devem fornecer essas informações. AMPLA Alergias; Cecilia Antonieta 82 A 7 Medicações usadas atualmente; Passado médico e Prenhez (gravidez); Líquidos e alimentos ingeridos recentemente; Ambientes e eventos relacionados à lesão. As condições do paciente são muito influenciadas pelo mecanismo de lesão, conhecimento desse pode aumen- tar a compreensão do estado fisiológico e fornecer pistas para antecipar lesões. Algumas lesões podem ser preditas com bases na direção e quantidade de energia associada com o mecanismo. Padrões de lesão podem ser influenciados por grupos de idade e atividades. TRAUMA CONTUSO frequentemente resulta de colisões automobilísticas e outras lesões relacionadas a trans- porte, recreação e ocupações, ou violência interpessoal. INFORMAÇÕES IMPORTANTES EM COLISÕES AUTOMOBILÍSTICAS uso de cinto de segurança, deformação do volante, direção do impacto, dano ao automóvel em termos de deformação maior ou intrusão no compartimento do passageiro, e a posição do paciente no veículo. A ejeção do veículo aumenta muito a possibilidade de lesões graves. TRAUMA PENETRANTE fatores que determinam o tipo e extensão da lesão e subsequente manejo incluem região da lesão no corpo, órgãos no caminho do objeto penetrante e velocidade do projétil. VÍTIMAS DE TIRO velocidade, calibre, trajeto presumido da bala e distância da arma ao ferimento podem fornecer pistas importantes em relação à extensão da ferida. LESÃO TÉRMICA pode ocorrer isolada ou em conjunto com trauma contuso e/ou penetrante. Lesão inalatória e envenenamento por CO2 frequente- mente complicam queimaduras. Informações acerca das circunstâncias da queimadura podem aumentar o índice de suspeição de lesão inalatória ou exposição tóxica por combustão de plásticos e químicos. Hipotermia aguda ou crônica sem proteção adequada contra a perda de calor podem produzir lesão genera- lizada ou local. Perda significativa de calor pode ocorrer em temperaturas moderadas (15-20°C) se roupas molhadas, diminuição da atividade e/ou vasodilatação causada por álcool ou drogas, que comprometem a capacidade do paciente de conservar o calor. AMBIENTE PERIGOSO é importante obter história de exposição a químicos, toxinas e radiação, pois esses agentes produzem uma variedade de disfunções pulmonares, cardíacas e em órgãos internos em pacientes feridos, como também podem apresentar um perigo para os prestadores de cuidado. EXAME FÍSICO CABEÇA identificação de todas as lesões neurológicas relacionadas e quaisquer outras lesões significativas. Todo o crânio e a cabeça devem ser examinados por lacerações, contusões e evidência de fraturas. O edema ao redor dos olhos pode impedir mais tarde, exame aprofundado, portanto os olhos devem ser reavaliados para: ▪ Acuidade visual; ▪ Tamanho pupilar; ▪ Hemorragias da conjuntiva e/ou fundo; ▪ Lesão penetrante; ▪ Lentes de contato (remover antes do edema); ▪ Deslocamento da lente; ▪ Compressão ocular (avaliação da mobilidade ocular, excluir compressão de mm. extraoculares devido a fraturas orbitais). ESTRUTURAS MAXILOFACIAIS deve incluir palpação de todas as estruturas ósseas, avaliação de oclusão, exame intraoral e avaliação de tecidos moles. Trauma maxilofacial não associado a obstrução devias aéreas ou grande sangramento só deve ser tratado após estabilização do paciente e tratamento de lesões de risco de vida. Pacientes com fratura no terço médio da face podem ter fratura da placa cribiforme, fazer intubação gástrica pela via oral. COLUNA CERVICAL E PESCOÇO em pacientes com trauma maxilofacial ou na cabeça deve presumir lesão na coluna cervical. A ausência de déficit neurológico não exclui lesão na coluna cervical e ela deve ser presumida até completar avaliação dela, que inclui série de radiografia e/ou TC, que deve ser revisado por médico experiente. Exame do pescoço deve incluir inspeção, palpação e ausculta. Sensibilidade da coluna cervical, enfisema subcutâneo, desvio de traqueia e fratura laríngea podem ser descobertos. Artérias carótidas devem ser palpadas e auscultadas para sopros. Um sinal comum de lesão potencial é marca do cinto de segurança. A maioria das lesões vasculares cervicais são resultado de lesão penetrante, entretanto força bruta no pescoço ou lesão de tração por contenção da alça de ombro pode Cecilia Antonieta 82 A 8 resultar em ruptura da íntima, dissecção e trombose. Angiotomografia, angiografia e US Doppler podem ser necessários para excluir a possibilidade de lesão vascular cervical importante quando o mecanismo da lesão sugere a possibilidade. Proteger de uma lesão da coluna cervical potencialmente instável é imperativo para pacientes em uso de qualquer tipo de capacete protetivo e deve-se tomar extremo cuidado ao removê-lo. Ferimentos penetrativos no pescoço podem potencialmente lesar vários sistemas. O achado de sangramento arterial, hematoma em expansão, sopro arterial ou comprometimento de vias aéreas usualmente requerem avaliação operativa. Paralisia inexplicada ou isolada de uma extremidade superior deve levantar suspeita de uma lesão de raiz de nervo cervical e deve ser documentada com precisão. TÓRAX INSPEÇÃO anterior e posterior – pode identificar condições como pneumotórax e grandes segmentos instáveis. PALPAÇÃO caixa torácica inteira, incluindo clavículas, costelas e esterno. Pressão pode ser dolorosa se o esterno estiver fraturado ou houver separação costocondral. Contusões e hematomas da parede torácica podem indicar lesão oculta. Lesão significativa do tórax pode manifestar com dor, dispneia e hipóxia. AUSCULTA conduzido no alto da parede torácica anterior para pneumotórax nas bases posteriores para hemotórax. Sons cardíacos distantes e pressão de pulso diminuída podem indicar tamponamento cardíaco. Tamponamen- to e pneumotórax hipertensivo sugerem a presença de veias do pescoço distendidas, entretanto a associação com hipovolemia pode minimizar ou eliminar esse achado. PERCUSSÃO demonstra hiperressonância (som timpânico). RAIO-X E eFAST podem confirmar a presença de hemotórax ou pneumotórax. Costelas fraturadas podem estar presentes, mas não estão visíveis no raio- x. Mediastino alargado e outros sinais radiográficos podem sugerir ruptura aórtica. ABDOME E PÉLVIS lesões devem ser identificadas e tratadas agressivamente. Identificar a lesão específica é menos importante que determinar se é necessário intervenção cirúrgica. Um exame inicial normal do abdômen não exclui lesão intra-abdominal significativa. Observação de perto e reavaliação frequente são importantes. Fraturas pélvicas podem ser suspeitas pela identificação de equimose sobre as asas ilíacas, púbis, lábios ou escroto. Dor a palpação do anel pélvico é achado importante de alerta. Avaliação de pulsos periféricos pode identificar lesões vasculares. Pacientes com histórico de hipotensão inexplicada, lesão neurológica, sensório prejudicado secundário a álcool e/ou outras drogas, e achados abdominais ambíguos devem ser considerados candidatos para LPD (lavagem peritoneal diagnóstica), US abdominal, ou, se achados hemodinâmicos normais, TC de abdômen. Fraturas da pélvis ou caixa torácica inferior podem impedir exame de diagnóstico preciso do abdômen, devido à dor provocada pela palpação dessas áreas. PERÍNEO, RETO E VAGINA PERÍNEO deve ser examinado para contusões, hematomas, lacerações e sangramento uretral. EXAME RETAL deve ser realizado para avaliar a presença de sangue no lúmen intestinal, integridade da parede retal e qualidade do tônus esfincteriano. EXAME VAGINAL deve ser realizado em pacientes com risco de lesão. Avaliar a presença de sangue no canal vaginal e lacerações. SISTEMA MUSCOESQUELÉTICO extremidades devem ser inspecionadas para contusões e deformidades. Palpação dos ossos e exame para sensibilidade e movimentos anormais colaboram na identificação de fraturas ocultas. Lesões significativas de extremidades podem existir sem fraturas evidentes no exame ou raio-x. Rupturas de ligamento produzem instabilidade articular. Lesões da unidade músculo-tendão interferem no movimento ativo das estruturas afetadas. Sensação prejudicada e/ou perda da força de contração voluntária do músculo podem ser causadas por lesão neural ou isquemia, incluindo aquele devido à síndrome compartimental. Exame não está completo sem exame das costas do paciente. SISTEMA NEUROLÓGICO inclui avaliação sensorial e motora das extremidades, como reavaliação do nível de consciência e tamanho e responsividade pupilar. Cecilia Antonieta 82 A 9 Consulta precoce com neurocirurgião é requerida para pacientes com lesão na cabeça. Monitorar frequentemente para deterioração do nível consciência e mudanças no exame neurológico, que podem refletir em piora da lesão intracranial. Se houver deterioração, reavaliar oxigenação, adequação da ventilação e perfusão do cérebro. Podem ser necessárias intervenção cirúrgica ou outras medidas para redução da pressão intracranial. Fraturas da coluna torácica ou lombar e/ou lesões neurológicas devem ser consideradas baseadas nos achados físicos e mecanismos da lesão. Outras lesões podem mascarar achados de lesão espinal, indetectáveis a menos que o clínico obtenha raio-x apropriado. Déficits neurológicos, quando identificados, devem ser documentados. ADJUNTOS DA AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA TESTES DIAGNÓSTICOS ESPECÍFICOS identificação de lesões específicas. Exames adicionais de raio-x da coluna e extremidades; TCs da cabeça, tórax, abdome e coluna; urografia e angiografia; ultrassom transesofágico; broncoscopia; esofagoscopia. Frequentemente requerem transporte para outras áre- as do hospital onde equipamento e equipe para geren- ciar contingências com risco de vida não estão imediata- mente disponíveis, portanto esses só devem ser realizados depois que o paciente foi cuidadosamente examinado e seu estado hemodinâmico, normalizado. MONITORAMENTO CONTÍNUO E REAVALIAÇÃO PÓS-REANIMAÇÃO Pacientes de trauma devem ser constantemente reava- liados para garantir que novas descobertas não sejam negligenciadas e para descobrir qualquer deterioração nas descobertas anteriormes. Um alto índice de suspei- ção facilita o diagnóstico e manejo precoce. O contínuo monitoramento de sinais vitais, saturação de oxigênio e débito urinário é essencial. Adultos 0,5 mL/kg/h. Crianças maiores que um ano 1 mL/kg/h. Análise periódica da gasometria arterial e monitoramento dos níveis de CO2 expirados são úteis em alguns pacientes. O alívio de dor severa é uma parte importante do trata- mento. Muitas lesões, especialmente musculoesquelé- ticas, produzem dor e ansiedade em pacientes conscien- tes. A analgesia efetiva usualmente requer administra- ção de opiáceos e ansiolíticos IV (injeções IM devem ser evitadas), usados com cautela e em pequenas doses atingem o nível desejável de conforto e alívio da ansiedade enquanto evitam estado respiratório ou de- pressão mental e mudanças hemodinâmicas. CUIDADO DEFINITIVOS Quando as necessidades de tratamento dos pacientes excedem acapacidade da instituição receptora, a transferência deve ser considerada. Essa decisão requer avaliação detalhada do paciente e conhecimento das capacidades da instituição, incluindo equipamento, recursos e equipe. REGISTROS E CONSIDERAÇÕES LEGAIS REGISTROS Manutenção meticulosa de registros é crucial durante a avaliação e manejo do paciente, incluindo documentar a hora de todos os eventos. Manutenção de registros precisos durante a reanimação pode ser facilitada atribuindo a um membro da equipe de trauma a responsabilidade primária de registrar e comparar com precisão de todas as informações de atendimento. CONSENTIMENTO E TRATAMENTO O consentimento é solicitado antes do tratamento, se possível. Em emergências com risco de vida, frequente- mente não é possível obtê-lo, fornece-se então trata- mento primeiro e obtém consentimento formal depois. EVIDÊNCIA FORENSE Se há atividade criminal suspeita em conjunto com a lesão, a equipe cuidando do paciente deve preservar a evidência. Todos os itens, como roupas e projéteis, são salvos para as autoridades policiais. Determinações laboratoriais de concentrações de álcool e outras drogas no sangue podem ser particularmente pertinentes e têm implicações legais substanciais. EQUIPE DE TRAUMA Tipicamente inclui: líder, gerenciador de via aérea, enfermeira de trauma e técnico de trauma, além vários residentes e estudantes de medicina. Cecilia Antonieta 82 A 10 LÍDER supervisiona, verifica e direciona a avaliação; idealmente não está envolvido diretamente com a avaliação. Não necessariamente é a pessoa mais velha/experiente, entretanto deve ser treinado em ATLS e em noções básicas de gestão de equipe médica. Supervisiona a preparação para a chegada do paciente para garantir transição suave. Delega papeis e tarefas para a equipe, garantindo que cada participante tenha treinamento necessário para assumir a função. Na chegada do paciente o líder supervisiona o hand over, garantindo que nenhum membro da equipe começará a trabalhar no paciente a menos que as condições de risco de vida sejam óbvias. MIST – MLST Mecanismo (e tempo) do trauma; Lesões encontradas e suspeitas; Sinais e sintomas; Tratamento iniciado. Conforme a avaliação do ABC procede, é vital que cada membro da equipe saiba o que os outros encontraram e/ou estão fazendo. Esse processo é facilitado pela verbalização de cada ação e achado em voz alta sem que mais de um membro fale ao mesmo tempo. Pedidos e ordens não são declarados em termos gerais, em vez disso, são direcionados a um indivíduo, pelo nome, esse deve repetir e posteriormente confirmar a conclusão e, se aplicável, o resultado. O líder verifica o progresso da avaliação, periodicamente resume os achados e a condição do paciente e chama consultores se necessário, além de solicitar exames adicionais, quando necessário e sugerir/direcioanis a transferência do paciente. Quando o paciente deixa o departamento de emergência, o líder conduz uma revisão pós- atendimento, onde a equipe aborda aspectos técnicos e emocionais da reanimação e identifica oportunidades para melhoria do desempenho da equipe. OBJETIVOS DO CAPÍTULO 1. Explicar a importância da preparação pré-hospitalar e hospitalar para facilitar rápida reanimação. 2. Identificar a sequência correta de prioridades para avaliação. 3. Explicar os princípios da avaliação primária e como aplicar as avaliações. 4. Explicar de que maneira a história médica e o mecanismo de trauma contribuem para identificação das lesões. 5. Explicar a necessidade reanimação imediata durante a avaliação primária. 6. Descrever a avaliação inicial utilizando a sequência correta de prioridades. 7. Identificar as armadilhas associadas à avaliação inicial e ao atendimento e descrever etapas para minimizar seu impacto. 8. Explicar as técnicas de manejo usadas durante avaliação primária e estabilização. 9. Identificar adjuntos da avaliação e manejo como parte da avaliação inicial, e reconhecer contradições ao seu uso. 10. Reconhecer pacientes que necessitam de transferência. 11. Identificar componentes da avaliação secundária, incluindo adjuntos que podem ser apropriados. 12. Discutir a importância de reavaliar o doente que não está respondendo apropriadamente às manobras de reanimação e tratamento. 13. Explicar a importância do trabalho em equipe na avaliação inicial do traumatizado. REFERÊNCIAS ATLS 10ª edição Resumo do capítulo 1.Sequência de prioridades na avaliação: Preparação, triagem, avaliação primária, adjuntos da avaliação primária e reanimação, considerar transferência, segunda avaliação, adjuntos da segunda avaliação, reavaliação, cuidado definitivo e considerar necessidade de transferência. 2. Princípios da primeira e segunda avaliação e guidelines e técnicas aplicam-se a todos pacientes lesados. 3. O histórico médico e mecanismos de lesão são críticos para identificar lesões. 4. Armadilhas associadas à avaliação primária e manejo devem ser antecipadas e geridas para minimizar o impacto. 5. A avaliação primária deve ser repetida frequentemente e qualquer anormalidade exigirá uma avaliação completa. 6. Identificação precoce de pacientes que requerem transferência para níveis mais altos de atendimento melhoram os resultados.
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