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AULA 5 GESTÃO E LIDERANÇA DE PESSOAS EM AMBIENTES COMPETITIVOS Prof. Ademir Bueno 2 CONVERSA INICIAL A presente aula trata dos temas criatividade, inovação e mudança com o objetivo de apresentar os principais conceitos e características de criatividade, inovação e mudança e discutir o papel do líder no processo de inovação e mudança. Iniciaremos pelos principais conceitos sobre criatividade, depois estudaremos as fases do processo criativo, a seguir discutiremos inovação, seus conceitos e tipos e abordaremos o papel e a importância do líder na gestão da mudança. Para concluir, descreveremos um caso de mudança organizacional e a atuação decisiva do líder para alcançar o sucesso. CONTEXTUALIZANDO A criatividade é uma das marcas do ser humano. Graças a ela, chegamos ao patamar de desenvolvimento de nossa sociedade. Ela está ligada ao conceito de inovação, pois algo só se altera se tiver um fim a se alcançar, um resultado a propiciar, uma mudança a se concretizar. Nunca se falou tanto em mudanças, inovação e criatividade – esses temas sempre estiveram em voga, mas ultimamente têm dominado o debate pela velocidade com que as coisas têm se alterado. No passado, quando se tratava do assunto mudança, falava-se em décadas, agora se fala em ano, ou seja, cada dia mais as empresas precisam mudar e chegar a novos patamares, mas só conseguirão esse feito se estimularem as pessoas a disponibilizarem para as organizações seu potencial criativo, e isso só se concretizará com uma gestão de vanguarda e lideranças atualizadas. Em sua empresa, a liderança é promotora e apoiadora de mudanças e inovações? TEMA 1 – CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Criatividade e inovação são a mesma coisa? Não são, porém são complementares. A primeira está relacionada a atitude, ao instante em que se tem a ideia diferente para resolver certo problema ou fazer algo novo ou revolucionário. A inovação é a aplicação daquela ideia, tornando-a realizável e viável economicamente, proporcionando resultados positivos para a empresa ou a sociedade. 3 Para Chiavenato (2003), “A criatividade provém da inconsistência e permite descobrir novas combinações de fenômenos até então separados.” E, ainda, “Criatividade é o desenvolvimento de respostas novas e únicas a problemas ou oportunidades do momento.” (p. 245 e 407). Desta maneira, o ato de pensar em algo inusitado, que não está ligado a algo fenomenal, mas sim novo, está vinculado ao conceito de criatividade. É criar, é deixar a mente livre para fazer associações inesperadas. Com isso, teremos algo diferente do que os outros haviam pensado até então. No artigo Modelos inovadores como diferencial competitivo de negócios (2014), seus autores afirmam que: Criatividade é pensar coisas novas, inovação é fazer coisas novas e valiosas. Nesse sentido, inovar é implementar um novo ou significativamente melhorado produto (bem ou serviço), processo de trabalho, ou prática de relacionamento entre pessoas, grupos ou organizações. Quanto a criatividade é ter a habilidade de gerar ideias originais e úteis, e solucionar os problemas do dia a dia. (...)podemos entender que a criatividade é uma peça-chave na inovação. (Alves; Freitas; Rolon, p. 80-81) Assim, a primeira, criatividade, é o pensar, o estalo mental que permite ao seu autor vislumbrar novas possibilidades, enquanto a inovação vai além, é colocar em prática a ideia tida, de forma que seja rentável produzindo resultados financeiros. Um exemplo da valorização e estimulação da criatividade em seus colaboradores é a empresa 3M: Para melhorar a competitividade, a 3M também investiu pesadamente em tecnologia. As mudanças na empresa se somam a outras estratégias que a 3M mundial mantém para continuar sendo o mais inovadora possível. Como forma de estimular a criatividade, todos os funcionários têm 15% de seu tempo de trabalho livre para fazer o que quiserem, sem precisar apresentar resultados. Mundialmente, a empresa aplica cerca de 6,5% de sua renda total (US$15 bilhões) em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. (Chiavenato, 2003, p. 224) Já Dolabela, numa visão mais inspirada em relação ao termo criatividade, afirma que “A criatividade está presente em quem se dedica com abandono a um tema, algo alcançável somente pelos apaixonados. Apenas o sonhador que busca a realização do seu sonho é protagonista e autor de sua vida.” (2006, p. 3). E para Girardi, Azevedo e Franklin, “As fases da produção de ideias inovadoras começam com a pesquisa do que inovar. Absorvidas as diversas informações pertinentes, exploram-se, através da criatividade, as formas de chegar a algo de interesse coletivo.” (2001, p. 59). 4 Sendo a criatividade uma atitude, ou seja, uma predisposição para algo, uma intenção para pensar no novo, no original, no exclusivo, no inédito, ela não ocorre de forma mágica e fantástica, embora algumas criações podem, sim, dar- se dessa forma, mas são raras. A criatividade é um processo, com início, meio e fim. A seguir, descrevemos o pré-requisito e as fases presentes no processo criativo (preparação, incubação, iluminação e verificação). Para tanto, vamos nos nortear pelos escritos de Kneller, autor da obra Arte e ciência da criatividade (1978). O pré-requisito que está presente no processo criativo é a apreensão, denominada pelo autor como o primeiro insight, o estalo inicial de que algo precisa de solução, de mudança, de alteração, de novidade, de acréscimos ou retiradas, para que continue oferecendo resultados positivos. É aquele momento em que, ainda que sem muita razão ou racionalidade, o indivíduo se dá conta de que algo pode ser diferente do que se apresenta em sua realidade. A seguir, vem a primeira fase, a preparação. É o momento em que o indivíduo vai se concentrar em obter dados e informações e, com isso, chegar a novos conhecimentos que lhe possibilitem resolver o problema diagnosticado ou detectado que necessita de resolução. Uma vez munido de informações, vem a segunda fase, a incubação, quando ocorre certa pausa de ação para que tudo o que foi buscado e pesquisado possa encontrar seu lugar, fazer os devidos arranjos, sejam conscientes ou não. O próximo momento é designado pelo autor como iluminação. Imagine, para tanto, aquele toque, aquela sensação, aquele súbito pensar inédito em que tudo parece se encaixar, em que as peças caminham sozinhas para se arrumarem, agruparem-se de forma não pensada racionalmente, em que há uma percepção de algo quase sobrenatural, somente quase. O criador pode estar fazendo qualquer atividade – lendo, descansando, trabalhando, estudando, exercitando-se, caminhando, pesquisando, conversando – e, de repente, haverá uma conexão inesperada, e ele terá em sua consciência uma “visão” para resolver o problema ou uma ideia nova, diferente do que existe no mercado. Vencida essa etapa, vem a próxima, denominada por Kneller como verificação. Esta fase é o momento de deixar o inconsciente de lado e utilizar a razão, a fim de que se possa analisar, estudar, entender, perceber qual é o problema, qual é a solução e como elas melhor se encaixam, como se pode operacionalizar 5 a solução, como colocá-la em prática de forma rápida, segura e que propicie inovação, ou seja, produza resultados positivos à empresa. Para que seja executada, a ideia tida durante a iluminação pode ser revista, repensada, reelaborada para que se encontre o melhor e mais rápido meio de vê- la colocada em prática. Às vezes, faz-se necessária autorização de outras áreas ou departamentos, aprovação de superiores hierárquicos, colaboração de outras pessoas para que a solução seja implementada, executada. Aí entra a habilidade de comunicação e negociação do criador. A falta dessa característica desenvolvida pode comprometer todo o processo. TEMA 2 – FATORES LIMITANTES DA CRIATIVIDADE Vamos começar lhefazendo um questionamento: você se considera um profissional criativo e inovador? Com toda certeza, sem medo de errar, a grande maioria responderá que não. As pessoas, de forma geral, não se percebem, não se enxergam, não se definem como criativas e inovadoras. Mas por quê? Abaixo, apresentamos algumas hipóteses para justificar nossa afirmação: Educação familiar: qual é a primeira palavra que uma criança aprende? Os mais entusiasmados – que, geralmente, são os pais – responderão: mamãe. Será? Para a tristeza deles, essa não é a primeira, mas sim a palavra não. De tanto ouvir que não pode, não deve, é proibido, tem que tomar cuidado, aquilo não é coisa de criança etc., muitos pequenos veem no mundo mais proibições do que permissões e, com isso, ao se tornarem jovens e adultos, poderão limitar-se a realizar o que de fato está convencionado como permitido, não sendo ousados nem se lançando a pensar além das possibilidades que se apresentam e, com isso, não são criativos e inovadores. Educação formal: essa é outra fonte para o desenvolvimento das potencialidades da criança, porém a grande maioria fica sujeita a uma educação de baixa qualidade, com profissionais malformados, por vezes mal-remunerados, em condições de trabalho bastante limitadas, com metodologias de ensino ultrapassadas. Tudo isso não permite que se desenvolva o potencial dos pequenos, o que comprometerá a utilização de 6 sua capacidade criativa e inovadora em seus ambientes familiar e, posteriormente, profissional. Autoconfiança: se não acreditamos que somos capazes de inovar, quem acreditará? Dificilmente alguém dará crédito a uma pessoa que não consegue ver em si mesma uma capacidade de realizar algo além do comum, algo inesperado, que produza resultados excepcionais, e a falta de autoconfiança tem várias causas: educação, ambiente e percepção do mundo que a cerca. Falta de oportunidade: o indivíduo nasce, e seu ambiente familiar não é o mais estimulante para desenvolver seu potencial criativo e inovador. Depois, vai para a escola, que não apresenta nada diferente do que teve em casa, e, por fim, esse indivíduo arruma um trabalho que, em lugar de explorar seu potencial, tolhe-o ainda mais. Mesmo assim, dele se exigem feitos extraordinários que não lhe foram dadas condições para serem realizados. Percepção equivocada: as pessoas, de forma geral, equivocam-se ao pensar que ser criativo é descobrir o fogo ou inventar a roda: não é. Isso foi verdade na época em que ocorreu, mas ser criativo e inovador é somente estar atento ao que pode ser transformado, levando a pessoa ou a empresa a obter ganhos de produtividade, rentabilidade, tempo, melhoria em processos, no atendimento aos clientes e assim por diante. Baixa qualificação técnica/comportamental: não se pode esperar que um engenheiro seja criativo em sua área de desenvolvimento de produtos se ele não tem acesso a novos materiais e insumos necessários a itens inovadores. Não se pode esperar de um assistente comercial que inove no atendimento ao cliente se nunca se submeteu a um treinamento que lhe possibilitasse uma ampliação da visão sobre informações que deem suporte à sua atuação. Logo, a qualificação é um fator decisivo para que os profissionais possam ser mais criativos e inovadores. Ela não é pré- requisito, mas influencia de forma sempre positiva para que algo de novo possa ocorrer na atuação profissional. Compreendido que todos podem ser criativos e inovadores, basta, para tanto, estarem dispostos a usar o potencial na busca de melhorias. 7 Apresentamos, a seguir, as condições necessárias para que a criatividade ocorra. Para tanto, descrevemos o que está presente em Kneller (1978, p. 73): 1. RECEPTIVDADE: o criador deve estar aberto à sua capacidade criativa. Dicas: dê tempo e espaço para sua criatividade aflorar. Anote suas ideias, todas. 2. IMERSÃO: Aprofundar o estudo da área escolhida de atuação consiste num fator decisivo para o quantum criativo. Dicas: estude mais, corra atrás. 3. DEDICAÇÃO/DESPRENDIMENTO: A imersão implica em dedicação. Desprenda-se do detalhe para ver a vida em seu conjunto. Dica: Seja mais aberto. 4. IMAGINAÇÃO: Na criação também deve existir paixão (imaginação). Dicas: deixe seu pensamento voar, coloque suas melhores energias à disposição da sua criatividade. 5. INTERROGAÇÃO: Para pensar criativamente, havemos de olhar de maneira nova o que normalmente consideramos assentado. Dicas: questione, interrogue. 6. USO DE ERROS: Os erros podem ser o início de uma nova etapa, nova abordagem. Dicas: Aprenda com seus erros, vejam para onde eles estão querendo te conduzir. 7. SUBMISSÃO À OBRA: O criador precisa saber quando cessa de dirigir sua obra e permite que ela o dirija. Deve saber, em suma, quando é provável que sua obra seja mais sábia que ele. Dica: deixe-se conduzir pela sua criação. Conhecendo os aspectos que limitam nossa criatividade e as condições que devem ser observadas para que sejamos criativos, com certeza avançaremos e utilizaremos nosso potencial criativo em nossa vida e, com isso, obteremos melhores resultados, seja como executores ou líderes de uma equipe. TEMA 3 – INOVAÇÃO E inovação, do que se trata? Como podemos conceituá-la? Quais aspectos devem ser lembrados ao se pensar nesse termo? Podemos defini-la como ato, ação, busca por novas formas de fazer as coisas. Isso pode resultar em novos produtos, serviços, processos, relacionamento entre empresa e clientes, empresa e fornecedores, formas de gestão etc. Porém, o que definirá se realmente é uma inovação ou apenas uma invenção é se dará ou não resultado financeiro, lucro à empresa. Quadro 1 – Exemplos de inovação Item Descrição Penicilina A penicilina é um antibiótico natural derivado do bolor produzido pelo fungo Penicillium. Um cientista descobriu isso 8 por acaso, e daí surgiu o medicamento que mudou a história da medicina.1 McDonald’s Lanches feitos de forma rápida/expressa possibilitaram o sucesso da loja, que virou rede e, posteriormente, franquia. Processo – esteira rolante Ford construiu a esteira rolante e, assim, os trabalhadores passaram a ficar parados, e o serviço chegava até ele. Isso diminuiu o tempo de realização das atividades e aumentou a produtividade. Empresa/cliente Para aumentar a fidelização do cliente à marca, muitas lojas oferecem premiação para aqueles que compram sempre com eles, que são fiéis. Exemplo: a cada 10 pizzas, troque os selos por outra. Empresa/fornecedor O processo de just in time na indústria, de acordo com o qual as empresas passaram a receber na hora certa a quantidade adequada de matéria-prima necessária à sua produção, com isso diminuíram estoques e pessoal e aumentaram a rentabilidade. Formas de gestão Desenvolvimento de softwares como SAP, que integram todas as áreas da empresa, o que torna desnecessário o excesso de sistemas, papéis ou controles diversos. Tudo está centralizado em um único sistema. Drucker, ao aproximar o conceito de inovação ao empreendedor, afirma que: Todavia, os empreendedores querem mais. Não se contentam em simplesmente melhorar o que já existe, ou em modificá-lo. Eles procuram criar valores novos e diferentes, e satisfações novas e diferentes, convertendo um ‘material’ em um ‘recurso’, ou combinar recursos existentes em uma nova e mais produtiva configuração. (2008, p. 45) Dessa forma, para ser considerada inovação, a novidade deve produzir resultados, novos recursos aos seus criadores ou às empresas das quais façam parte. Drucker afirma que “É a mudança o que sempre proporciona a oportunidade para o novo e diferente.” (p. 45). A essa busca por mudanças de forma constante e consciente por parte da organização, de seus dirigentes e colaboradores, dá-se o nome de inovação sistemática, a qual, como qualquer sistema, está ligada a fatores internos eexternos. Para Drucker (2008, p. 46), são eles: Internos: o O inesperado – o sucesso inesperado, o fracasso inesperado, o evento externo inesperado. 1 Para conhecer melhor a história da inovação que contou com o acaso para se transformar nesse poderoso antibiótico, acesse o seguinte endereço: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Penicilina>. Acesso em: 6 jun. 2018. 9 o A incongruência – entre a realidade como ela é, de fato, e a realidade como se presume ser ou como “deveria ser”. o Inovação baseada na necessidade de processo. o Mudanças na estrutura do setor industrial ou na estrutura do mercado que apanham a todos desprevenidos. Externos: o Mudanças demográficas (mudanças populacionais). o Mudanças em percepção, disposição e significado. o Conhecimento novo, tanto científico como não científico. Para Alves, Freitas e Rolon (2014, p. 78), “inovação envolve muito mais processos do que a geração de ideias. Ou melhor, a inovação é o resultado de um processo criativo e sua aplicação prática.” Acrescentaríamos que só pode ser inovação se de fato possibilitar ganhos econômicos à empresa, aumentar rentabilidade, diminuir custos, melhorar tempo de fabricação, proporcionar maior integração e motivação de colaboradores e, acima de tudo, se os clientes perceberem a mudança como algo positivo. Por exemplo, diminuir a quantidade de metros de papel nos rolos de papel higiênico não é considerado pela maioria dos consumidores como inovação, pois não lhes possibilita ganho nenhum, pelo contrário, na maior parte das vezes, está mascarando o aumento de preços. Para Alves, Freitas e Rolon, “Muitas inovações provêm de impulsos de genialidade. Porém, a grande maioria delas é o resultado da procura consciente e intencional de oportunidades de inovação.” (2014, p. 79). Isso é altamente relevante, pois a grande maioria dos líderes ou intraempreendedores não se julga, não se classifica como inovadora por meio da criatividade, pois acha que algo só seria considerado inovador se fosse totalmente diferente do que já existe. Isso é verdadeiro, também, mas não é uma verdade absoluta, pois alguém pode ter pensando em algo novo com base em coisas já existentes, só pensou em nova utilidade, só imaginou outra maneira de fazer e utilizar produtos, serviços, equipamentos e/ou ferramentas. A inovação é fruto da genialidade humana, tanto para coisas altamente significativas, importantes e rentáveis, como para algo que leve a empresa a utilizar de forma diferente algo que já existe, propiciando ganhos financeiros. TEMA 4 – O PAPEL DA LIDERANÇA NA GESTÃO DA MUDANÇA 10 As mudanças são constantes dentro e fora das organizações e podem ser breves e superficiais ou longas e profundas. Podem também ser localizadas em algum ponto especial ou generalizadas, atingindo toda a organização. Elas podem ser negociadas ou impostas, instituídas de forma autoritária ou por meio da participação dos colaboradores. Várias são as forças que podem impulsionar as mudanças. Abaixo, listamos as que são apresentadas por Robbins (2005, p. 422). Quadro 2 – Forças para a mudança Cada uma dessas forças demanda, por parte da gestão, uma forma de atuação para que possa conseguir o melhor resultado com esse processo de seus colaboradores. As mudanças podem ocorrer de forma planejada ou não. Aquelas que são planejadas visam responder a uma necessidade, seja interna ou externa. Assim, detecta-se que algo precisa ser mudado, reestruturado, e vai-se à busca da melhor solução. Depois de escolhida a melhor saída, parte-se para implementá- la, e é claro que a participação dos colaboradores é essencial. Robbins (2002) aponta que “Esforços para estimular a inovação, programas de autonomia para funcionários e adoção do trabalho em equipes são alguns exemplos de atividades de mudança planejada, voltadas para responder às mudanças ocorridas no ambiente da empresa.” (p. 528). Aqueles que vão conduzir o processo de mudança na organização são os agentes de mudanças, os quais podem ser os administradores ou não, colaboradores da organização ou consultores contratados. A missão maior deles é envolver as pessoas no processo de alteração, reestruturação e mudança. 11 As mudanças podem ser direcionadas para: Estrutura administrativa de uma organização: diz respeito à forma como as tarefas são divididas, agrupadas e coordenadas. A mudança pode passar pela forma como algumas tarefas são feitas, a organização hierárquica, o poder de mando e comando. Tecnologia: essa é uma área que passa por constantes transformações, pois sempre há algo novo, que pode facilitar a vida das pessoas dentro das organizações, que pode alterar o número de pessoas que executam determinada tarefa, conferir maior rapidez em processos e maior rentabilidade. Esses aspectos levam à mudança na tecnologia. Instalações físicas: no passado, elas eram escuras e fechadas e não permitiam aos colaboradores grande interação, mas hoje as instalações físicas são mudadas constantemente com vistas a melhorar o ambiente de trabalho e o fluxo de processos e pessoas, instalar adequadamente novos equipamentos e, principalmente, deixar o ambiente mais adequado às necessidades do trabalho das pessoas. Pessoas: talvez seja esse o maior desafio para o agente de mudança – levar as pessoas a um novo patamar, a uma nova visão e, o mais difícil, a comportarem-se de modo diferente. Esse desafio só será superado se elas forem integradas ao processo de mudança. Existem inúmeros fatores que compõem a resistência à mudança. São eles: Resistência individual: o Hábito: somos seres de hábitos, fazemos na maior parte do tempo coisas parecidas, temos os mesmos comportamentos e, como estamos acostumados com eles, temos grande resistência a alterar nossa rotina, nossa forma de ver as coisas. o Segurança: buscamos segurança o tempo todo, e aquilo que a ameaça se torna algo que queremos evitar. o Fatores econômicos: ninguém quer ganhar menos ou ter seus rendimentos atingidos por mudanças. Assim, a primeira coisa que o colaborador quer sabe é se a nova proposta não vai afetar seus ganhos. 12 o Medo do desconhecido: resistimos sempre, especialmente quando é algo totalmente novo para nós. Sofremos muito com o medo daquilo que não conhecemos e dominamos. o Processamento seletivo de informações: tem gente que só vê e ouve o que quer. Faz uma seleção do que lhe é mais conveniente, mais agradável e, com isso, acaba se relacionando com informações ou visões que, por insegurança, selecionou entre o que havia disponível. Resistência organizacional: o Inércia estrutural: na empresa, as coisas já estão organizadas e funcionando de determinada maneira, as pessoas estão acostumadas à cultura e à forma como as coisas são feitas. Frente às mudanças, o movimento é para não se alterar nada, mas manter as coisas como estão. o Foco limitado de mudança: por vezes, só se faz mudança em um aspecto, em um ambiente, em uma estrutura, e a máquina geral acaba “engolindo” a mudança, e tudo volta a ser como antes. o Inércia de grupo: o grupo suplanta o indivíduo, e, com isso, a força do grupo pode se contrapor às mudanças propostas. o Ameaça às relações de poder estabelecidas: as pessoas são resistentes a perder poder, perder status, a se enquadrarem em uma forma diferente de fazer gestão. Existem algumas saídas para superar a resistência à mudança. Para Robbins (2002, p. 534/535), são elas: Educação e comunicação: aquilo que conhecemos e compreendemos tende a minimizar nossa resistência. Participação: quando somos integrados ao processo de decisão para a mudança e ela em si aumentamos nossa motivação e interesse; Facilitação e apoio: as pessoas quando sentem que não estão só, que podem contar com outras, especialmente, as responsáveispelo processo de mudança leva a menor resistência e maior participação; Negociação: aquilo que é imposto só é seguido quando não há outra saída, e ainda sim, pode-se sabotar o processo, levando mais tempo e gastando mais energia para se chegar ao mesmo ponto. Quando há negociação, participação dos envolvidos no processo de mudança, quando são ouvidos e lhe dado importância as resistências diminuem. Manipulação: seria uma forma não ética de enganar os colaboradores e levá-los a ter uma visão parcial e mesmo equivocada do processo de mudança, os resultados que se desejam alcançar e mesmo onde se pretende chegar. O resultado será maior resistência depois que a verdade aparecer e se gastará mais tempo para se chegar onde se pretende. 13 Coerção: seria o uso de ameaças diretas ou de força sobre os resistentes. É máxima “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. A curto prazo e para situações específicas pode funcionar, mas no médio e longo prazo não se mostra como a melhor tática. Robbins (2002, p. 537) nos apresenta o modelo de três etapas de Lewin da mudança. São elas: Descongelamento: trata-se das ações para determinar o que precisa mudar, garantir o apoio dos gestores, criar a necessidade de mudança e trabalhar com expectativas; Movimento: é momento de comunicar, de atuar para minimizar as fofocas e rumores, orientar os envolvidos e buscar o compromisso de todos com o processo em si, é a etapa que demanda investimentos de energias, pessoal e financeiro. O agente de mudança deve ser bem hábil para fazer a empresa, equipe ou estrutura a se movimentar, a sair da inércia; Recongelamento: é a hora de criar condições para que as mudanças permaneçam, resistam e se incorporem à cultura organizacional. Momento de estabilizar a mudança, capacitar e treinar as pessoas para continuarem firmes aonde chegaram. Essa fase é a mais crítica, pois mudar às vezes é bem fácil, por exemplo, a implantação de um novo sistema, mas usá-lo em sua plenitude, obtendo os melhores resultados é que é a grande questão. Para Dutra (2006), alguns pontos devem ser considerados na relação entre liderança e mudança: O líder deve conhecer a si mesmo. Só sabendo de seu potencial, qualidade e limitações é que conduzirá de forma mais realista o processo de mudança; Também precisa conhecer as pessoas envolvidas no processo de mudança, pois assim terá condições de direcionar esforços aos pontos mais emergentes e resistentes; Deve haver um propósito para ocorrer a mudança. Lembre-se da frase do filme de Alice no país das maravilhas: “para quem não sabe aonde se quer ir, qualquer caminho serve”; Para conhecer o objetivo da mudança, é necessário conhecer onde a empresa está. Aí está a importância do diagnóstico: ele é a base para a tomada de decisão. Se erramos na leitura da situação, erraremos no esforço e no direcionamento para a mudança; A insegurança está sempre presente quando se fala de mudança, e a forma de minimizá-la é atuar com transparência e buscar a participação dos envolvidos; 14 O líder deve estar com sua capacidade de persuadir e convencer afiadas, pois assim terá à sua disposição essas ferramentas essenciais no processo de convencimento do outro; A melhor forma de persuadir e convencer se dá por meio de uma liderança democrática e participativa. Os processos de mudanças nas organizações são constantes. Cabe à liderança sempre encabeçar esse processo, sendo a referência para seus liderados. TEMA 5 – ESTUDO DE CASO – MUDANÇA E LIDERANÇA A seguir, apresentamos um estudo de caso, desenvolvido para este material, que configura um processo de mudança de gestão e cultura, o qual só caminhou por causa da liderança. Case Delicadas relações – a Lion Distribuidora Os tempos não são os mesmos, muita coisa mudou nestas últimas duas décadas. No passado, quando falávamos de empresas, estas eram respeitadas e lembradas até por não haver uma significativa concorrência. Elas vendiam pelo nome que tinham no mercado, pela tradição, também por não terem competidores à sua altura ou próximos de si. Por vezes, a qualidade não era o seu ponto forte, mas o nome e a inexistência de concorrência, porém nem tudo continuou assim. Essa é uma história resultante de uma boa administração inicial, mas que sofreu as consequências do tempo e, junto com isso, da concorrência que veio com força total, e assim a empresa não resistiu a essa turbulência e foi adquirida por outra. Nesse processo de mudança de gestão, veremos que o papel da liderança se fez essencial para rearranjar as coisas. Comecemos pela origem: há 22 anos, dois amigos fundaram em Curitiba a Lion Distribuidora de Alimentos. Iniciaram as atividades apenas os sócios e uma secretária, a qual fazia o atendimento telefônico e alguns controles administrativos; os sócios faziam as visitas e as negociações. Os produtos eram entregues diretamente pelas indústrias que representavam. Com trabalho duro, dedicação e um excelente atendimento, a Lion Distribuidora cresceu e, já aos 5 anos de vida, contava com 20 colaboradores, 15 sendo 5 motoristas, 5 pessoas na área administrativa, 7 na área de estoque e expedição e os 2 sócios e 1 gerente – este último era um funcionário da empresa que tinha sido promovido havia 2 anos. O desafio da empresa nessa época era atuar em todo o estado do Paraná, e não apenas na RMC – Região Metropolitana de Curitiba. E assim aconteceu: a empresa contratou um gerente de vendas, que ficou responsável por montar uma equipe comercial que atuaria no interior do estado. Passados seis meses, a equipe de seis vendedores já atuava em pleno vapor, mas esse gerente recebeu uma proposta de uma concorrente e deixou a Lion. Os problemas começaram a aparecer, pois um dos sócios optou em promover um vendedor à vaga deixada pelo gerente, visto que o promovido era líder em resultados. A princípio, a equipe o recebeu bem, mas, após dois meses, a situação havia mudado. Não se sabe por quais motivos o clima mudou, mas as relações entre o novo gerente e a equipe se dilaceraram. Em um mês, um dos vendedores pediu demissão, e outro estava prestes a fazer isso quando um dos diretores – o da área comercial – teve que intervir, pois estava visitando uma regional quando soube da decisão daquele vendedor. Então, ao conversar com este, ficou sabendo do estilo de gerenciar do recém-promovido: sempre muito agressivo em sua fala, focado muito em resultados, nada preocupado com as pessoas e pouco motivador. O diretor, ao retornar à capital, procurou a analista de RH da empresa, relatou suas descobertas e lhe fez a seguinte pergunta: “Como podemos atuar para reverter essa situação?”. A analista disse que refletiria a respeito do caso e proporia algumas medidas. Depois de uma semana, ela sugeriu algumas ações, as quais, em consenso com o diretor, foram aplicadas, e a situação foi resolvida de forma satisfatória. Nos anos seguintes, a empresa continuou a crescer e passou a atuar em todos os estados do Sul, e a equipe total já contava com 135 colaboradores. Por ter obtido excelentes resultados, acabou chamando a atenção de alguns concorrentes, e um grupo forte na distribuição de alimentos de Minas Gerais, que atuava em todo o território nacional, procurou os sócios da Lion e iniciou uma negociação. Depois de dois meses e meio, a Lion foi vendida. A nova diretoria assumiu, então, a Lion, e muitas coisas mudaram. Primeiro, dois gerentes foram desligados, o da área de Logística e o da área Administrativa. Então, implementaram seu sistema de gestão administrativa e 16 de estoque, e toda a equipe acabou sofrendo com a mudança geral pela qual passou a Lion. Para tornar as coisas menos negativas, desceu em Curitiba uma “Tropa de Choque” composta por pessoas das áreas Operacional, de RH e de TI, vindos de Minas Gerais para fazer acontecero que a diretoria havia decidido em relação às alterações. O trabalho foi, inicialmente, marcado por inúmeras reuniões, o que já estava irritando alguns. Numa delas, houve uma acalorada discussão, pois alguns colaboradores da Lion e parte de alguns dos membros da matriz discutiram enfaticamente sobre como as mudanças deveriam ser implementadas. Os da Lion solicitavam mais tempo, enquanto o pessoal da matriz queria que as coisas acontecessem de forma mais rápida. Após muita discussão e negociação, foi proposto um cronograma de atividades, iniciando- se por uma pesquisa de clima organizacional. Depois, seria feita uma programação de treinamento para as áreas operacionais – Administrativa e Estoque/Expedição. O resultado desse trabalho foi que diminuíram os ruídos na comunicação entre a diretoria, a área Administrativa e a Operacional. A área Comercial pareceu motivada no início, com os treinamentos sobre negociação, mas, ao final dos treinamentos, teve uma reunião e recebeu a notícia de que as comissões seriam diminuídas em 30%, pois isso era necessário para atender a política de remuneração da matriz. Resultado: nos dois meses seguintes, as metas não foram alcançadas. Para reverter a situação, o diretor comercial desembarcou em Curitiba para tratar com alguns clientes corporativos e também para participar de várias reuniões com a área Comercial, com a finalidade de mudar a situação de desmotivação. Ao final de três tardes de reuniões e negociações, novos padrões foram estabelecidos, não em termos de comissões, mas de bonificações, as quais foram aumentadas com a finalidade de que os vendedores pudessem alcançar os patamares salariais de antes das mudanças. Hoje, a Lion Distribuidora está prestes a deixar seu nome para ficar apenas com o nome da empresa que a comprou. Assim, as coisas continuam como antes. Mudança: essa é a única certeza que temos. Questões: 17 1. Quais sugestões você daria ao diretor sobre o que fazer com o vendedor que foi promovido a gerente caso você fosse a analista de RH? 2. Descreva as três etapas de Lewin correlacionando-as com as mudanças necessárias depois da venda da Lion Distribuidora. 3. Liste três ações que você realizaria para mudar a cultura organizacional da Lion Distribuidora para a cultura da empresa que a adquiriu. 4. Aponte a importância dos papéis da liderança em todo esse processo de mudança. FINALIZANDO A presente aula tratou dos principais conceitos sobre criatividade, depois discutiu as fases do processo criativo. Em seguida, o enfoque foi inovação, seus conceitos e tipos e, para finalizar, abordamos o papel e a importância do líder na gestão da mudança. A questão inicial colocada era se em sua empresa a liderança é promotora e apoiadora de mudanças. Se sua resposta foi não, repense se é nesse ambiente que você quer continuar desenvolvendo sua carreira, pois a liderança é essencial em todo processo de mudança, inovação e criatividade. LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica Acesse o livro PETER DRUCKER: melhores práticas (COHEN), e leia o item Inovação, abandono, ou, sem mudança, a certeza do fracasso final – capítulo 13. Disponível na Biblioteca Virtual (AVA Univirtus). Pode acessar digitando a palavra-chave “PETER DRUCKER: melhores práticas”. Texto de abordagem prática Sobre inovação. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/caadm/article/view/9014/6623>. Acesso em: 6 jun. 2018. Saiba mais 18 MUZZIO, H. Indivíduo, liderança e cultura: evidências de uma gestão da criatividade. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rac/v21n1/1415-6555-rac- 21-01-00107.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2018. http://www.scielo.br/pdf/rac/v21n1/1415-6555-rac-21-01-00107.pdf http://www.scielo.br/pdf/rac/v21n1/1415-6555-rac-21-01-00107.pdf 19 REFERÊNCIAS ALVES, E. B; FREITAS, R. F; ROLON, V. E. K. Modelos inovadores como diferencial competitivo de negócios. In: Revista Organização Sistêmica, vol. 5, n. 3, jan./jun. 2014. CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. 7. ed. São Paulo: Campus, 2003. DOLABELA, F. O segredo de Luisa: uma paixão e um plano de negócios: como nasce o empreendedor e se cria uma empresa. 12. ed. São Paulo: Cultura, 2006. DRUCKER, P. F. Desafios gerenciais para o século XXI. São Paulo: Pioneira, 2008. DUTRA, S. S. Como liderar mudanças. In: MARINHO, R. M.; OLIVEIRA, J. F.; (Org.). Liderança uma questão de competência. São Paulo: Saraiva, 2006. GIRARDI, B. A; AZEVEDO, L. T; FRANKLIN, T. P. Empreendedorismo e a pequena empresa: riscos e estratégias. In: Cobenge, p. 57-63, 2001. KNELLER, G. F. Arte e ciência da criatividade. São Paulo: IBRASA, 1978. ROBBINS, S. Comportamento organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. ROBBINS, S. Comportamento organizacional. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002.
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