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ESPIRITO SANTO ANATOMIA, FISIOLOGIA E A FISIOPATOLOGIA NAS DOENÇAS RENAIS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 1 NOÇÕES DE ANATOMIA E FISIOLOGIA RENAL1 Os rins são órgãos pares de coloração marrom avermelhada, que possuem a forma de um grão de feijão e são cobertos por uma cápsula fibromuscular. Eles estão paralelamente posicionados em relação à coluna vertebral, sobre o músculo psoas maior e se situam a altura da 12ª vértebra torácica até a 3ª vértebra lombar. Possuem aproximadamente 11 a 13 cm de comprimento; 5 cm de altura; 2;5 de espessura e pesam cerca de 150 gramas cada. O rim esquerdo é um pouco mais longo e maior que o direito. O rim é composto de um córtex, mais escuro e externo, e de uma medula, mais pálida e mais interna. Cada rim contém um milhão ou mais de túbulos renais epiteliais chamados de néfrons. Fonte: dicassobresaude.com O néfron é a unidade funcional do rim e é composto por um glomérulo e por um túbulo. O glomérulo é composto por um enovelado de aproximadamente 50 capilares que são alimentados por uma arteríola aferentes e drenados pela arteríola eferente. O túbulo é divido em três partes: o túbulo proximal, a alça de Henle e o túbulo distal. 1 Texto extraído do link: http://esteticacurso.com.br/conteudo/artigos/medicina/nocoes-de- anatomia-e-fisiologia-renal/17622 2 Cada néfron é independente e possui a capacidade de formar urina por si só. A urina se forma no interior dos néfrons e então segue para os ductos coletores, que se unem para formar a pelve renal de cada rim. Por sua vez, cada pelve renal origina um ureter. O ureter é um tubo muscular de aproximadamente 25 a 30 cm de comprimento que conecta o rim com a bexiga. A bexiga urinária é uma víscera oca que atua como reservatório para o armazenamento temporário da urina. A forma, o tamanho e a posição da bexiga variam de acordo com a idade, o sexo e a quantidade de urina que ela contém. A bexiga vazia, em um adulto, possui a forma arredondada. Localiza-se no interior da pelve e repousa sobre o púbis. Está situada ligeiramente mais baixa na mulher que no homem. Com o enchimento, a bexiga se eleva no abdome, podendo atingir o nível do umbigo. A parede da bexiga consiste predominantemente em músculo liso, que ao relaxar, permite o esvaziamento da bexiga durante a micção. A uretra é um tubo que permite a passagem da urina que está na bexiga para o exterior do organismo. Possui cerca de 20 cm de comprimento dos homens e 4 cm nas mulheres. A irrigação do rim é feita através da artéria renal e a drenagem, pelas veias renais. As artérias renais têm origem na aorta abdominal e as veias renais transportam o sangue de volta até a veia cava inferior. A função básica do rim é limpar o plasma sanguíneo de substâncias indesejáveis ao organismo. As substâncias que precisam ser eliminadas incluem, sobretudo, os produtos finais do metabolismo, como a ureia, creatinina, ácido úrico e uratos. O mecanismo principal pelo qual o rim limpa o plasma dessas substâncias indesejáveis é a filtração. Outra função do rim é controlar a constituição de água e eletrólitos como potássio, cálcio, fósforo, hidrogênio no organismo. A pressão do sangue no glomérulo provoca a filtração do plasma na cápsula de Bowman. O líquido filtrado pelo glomérulo é chamado de filtrado glomerular. A composição deste filtrado é semelhante à do plasma, com exceção das proteínas e dos elementos do sangue. O filtrado glomerular flui pelo túbulo proximal, alça de Henle, Túbulo distal, túbulo coletor e, finalmente, libera o conteúdo na pelve do rim. À medida que o filtrado glomerular flui pelos túbulos, a maior parte de sua água e seus vários solutos é 3 reabsorvida pelos capilares peritubulares. A água e os solutos que não são reabsorvidos transformam-se em urina. O rim também atua na produção de hormônios. A eritropoetina (EPO) também pode ser chamada de fator estimulante eritropoiético. Esse hormônio age estimulando a medula óssea na eritropoese. O paciente com patologia renal crônica apresenta déficit desse hormônio, tornando sua reposição necessária para quase a totalidade dos pacientes com insuficiência renal crônica. Fonte: ichef-1.bbci.co.uk A principal fonte de cálcio no organismo é a dieta (principalmente o leite e seus derivados). O cálcio é um íon de muita importância para o organismo. Quando a concentração desse íon no sangue cai abaixo dos níveis normais (hipocalcemia), as fibras nervosas tornam-se tão excitáveis que começam a sofrer descargas espontâneas, iniciando impulsos nervosos sobre os músculos esqueléticos, o que causa a contração tetânica. Em geral, a hipocalcemia aguda no ser humano não causa nenhum outro efeito significativo porque o paciente morre antes de outros sintomas aparecerem. Quando os níveis de cálcio no sangue se elevam acima do normal (hipercalcemia), ocorrem depressão do sistema nervoso central e diminuição dos reflexos do sistema nervoso central. O organismo tem de manter os níveis de cálcio 4 no sangue dentro da normalidade; entretanto, esse íon é pouco absorvido pelo trato intestinal em virtude de sua insolubilidade. A vitamina D possui potente efeito no aumento da absorção de cálcio pelo trato intestinal. Contudo, a vitamina D propriamente dita não é a substância ativa responsável por esse efeito. A vitamina D deve ser convertida primeiramente pelo fígado e por último, pelos rins, em uma substância ativa chamada 25- hodroxicolecalciferol. Portanto, a substância ativa responsável pela absorção de cálcio pelo organismo depende muito desses órgãos. Na ausência dos rins a vitamina D é quase que totalmente ineficaz. A desordem desse íon pode acarretar outras patologias secundárias como hiperparatireoidismo. A FISIOLOGIA RENAL2 A circulação extracorpórea é um agente capaz de produzir alterações na função do sistema renal e no equilíbrio dos líquidos e dos eletrólitos do organismo. Os rins são fundamentais na regulação do meio interno, em que estão imersas as células de todos os órgãos. Os rins desempenham duas funções primordiais no organismo: 1. eliminação de produtos terminais do metabolismo orgânico, como ureia, creatinina e ácido úrico e, 2. controle das concentrações da água e da maioria dos constituintes dos líquidos do organismo, tais como sódio, potássio, cloro, bicarbonato e fosfatos. Os principais mecanismos através os quais os rins exercem as suas funções são a filtração glomerular, a reabsorção tubular e a secreção tubular de diversas substâncias. O sistema urinário, encarregado da produção, coleta e eliminação da urina está localizado no espaço retroperitoneal, de cada lado da coluna vertebral dorso-lombar. É constituído pelos rins direito e esquerdo, a pelve renal, que recebe os coletores de urina do parênquima renal, os ureteres, a bexiga e a uretra. Os rins são envolvidos por uma cápsula fibrosa que ao nível do hilo renal se deixa atravessar pela artéria renal, a veia renal e a pelve coletora que se continua com 2 Texto extraído do link: http://www.uff.br/WebQuest/downloads/cap5.pdf 5 o ureter. O parênquima renal apresenta duas regiões bastante distintas: a região periférica, cortical ou córtex renal e a região central, medular ou medula renal. Fonte: escolakids.uol.com.br À semelhança do alvéolo pulmonar na fisiologia respiratória, o rim é constituído de unidades funcionais completas, chamadas néfron. O néfron representa a menor unidade do rim; cada néfron é capaz de filtrar e formar a urina independentemente dos demais. Fonte: 4.bp.blogspot.com 6 A função renal pode, portanto, ser compreendida estudando-se a função de um único néfron. Existem aproximadamente 1.200.000 néfrons em cada rim, que funcionamalternadamente, conforme as necessidades do organismo a cada momento. O néfron é constituído basicamente por um glomérulo e um longo túbulo que desemboca nos tubos coletores de urina. O glomérulo é uma rede ou um novelo de capilares recobertos por células epiteliais. Um glomérulo pode ter até 50 capilares. O sangue penetra no glomérulo pela arteríola aferente e sai através da arteríola eferente. A camada cortical do rim, a mais externa, é constituída principalmente por néfrons corticais, que tem os túbulos coletores menores que os néfrons localizados mais próximos da região medular, chamados néfron justa-medulares. A camada medular é constituída principalmente pelos longos túbulos coletores de urina, que se juntam em túbulos maiores até se constituírem na pelve renal. O glomérulo tem a função de filtrar o sangue enquanto o sistema de túbulos coletores absorve parte do líquido filtrado nos glomérulos. Os túbulos também podem secretar diversas substâncias, conforme as necessidades do organismo. Fonte: s3.amazonaws.com 7 Envolvendo cada glomérulo existe uma cápsula, chamada cápsula de Bowman que se continua com o túbulo proximal. A pressão do sangue nos glomérulos produz a filtração de líquido para o interior da cápsula de Bowman, de onde escoa para o túbulo proximal. Do túbulo proximal o líquido penetra na alça de Henle, que tem uma porção com parede muito fina, chamada segmento fino da alça de Henle. Da alça de Henle, o líquido penetra no túbulo distal que se insere num canal coletor, juntamente com os túbulos distais de diversos outros glomérulos. O canal coletor acumula a urina proveniente de vários néfrons e se lança na pelve renal. O líquido filtrado no glomérulo, chamado filtrado glomerular, é transformado em urina à medida que passa pelos túbulos proximal e distal. As artérias renais são ramos da aorta abdominal. Ao penetrar no hilo do rim, a artéria renal dá origem a diversos ramos, chamados ramos interlobares que mergulham na profundidade do parênquima renal. Desses ramos interlobares, emergem as artérias arqueadas das quais se originam as arteríolas aferentes. Cada arteríola aferente produz um tofo ou novelo de capilares que constituem o glomérulo; no extremo oposto os capilares se reúnem novamente, formando a via de saída do glomérulo, a arteríola eferente. A arteríola eferente se ramifica em diversos outros capilares, formando a rede capilar peritubular, que se emaranha com os túbulos proximais e distais do sistema coletor. Outros vasos emergem da arteríola eferente e se dirigem às regiões que circundam as alças tubulares, e são conhecidos como vasos retos, que após formarem as alças na medula renal, se lançam nas veias. A arteríola eferente se ramifica em diversos outros capilares, formando a rede capilar peritubular, que se emaranha com os túbulos proximais e distais do sistema coletor. Outros vasos emergem da arteríola eferente e se dirigem às regiões que circundam as alças tubulares, e são conhecidos como vasos retos, que após formarem as alças na medula renal, se lançam nas veias. Função do néfron A função essencial do néfron consiste em depurar o plasma sanguíneo das substâncias que devem ser eliminadas do organismo. O néfron filtra uma grande 8 proporção do plasma sanguíneo através a membrana glomerular. Cerca de 1/5 do volume que atravessa o glomérulo é filtrado para a cápsula de Bowman que coleta o filtrado glomerular. Em seguida, à medida que o filtrado glomerular atravessa os túbulos, as substâncias necessárias, como a água e grande parte dos eletrólitos são reabsorvidas, enquanto as demais substâncias, como ureia, creatinina e outras, não são reabsorvidas. A água e as substâncias reabsorvidas nos túbulos voltam aos capilares peritubulares para a circulação venosa de retorno, sendo lançadas nas veias arqueadas, e finalmente, na veia renal. Uma parte dos produtos eliminados pela urina é constituída de substâncias que são secretadas pelas paredes dos túbulos e lançadas no líquido tubular. A urina formada nos túbulos é constituída por substâncias filtradas do plasma e pequenas quantidades de substâncias secretadas pelas paredes tubulares. O fluxo sanguíneo através dos rins corresponde, em média, à aproximadamente 20% do débito cardíaco, podendo variar, mesmo em condições normais. Em um adulto de 60Kg de peso, o débito cardíaco corresponde a 4.800 ml/min; a fração renal do débito cardíaco será de 960ml. O fluxo sanguíneo renal é muito maior que o necessário para o simples suprimento de oxigênio. Cerca de 90% do fluxo sanguíneo renal são distribuídos pela camada cortical, onde abundam os glomérulos e, apenas 10% se distribuem pela região medular. Os rins possuem um eficiente mecanismo de auto regulação que permite regular o fluxo de sangue e, através dele, a filtração glomerular. Este mecanismo é capaz de manter um fluxo renal relativamente constante com pressões arteriais que variam entre 80 e 180mmHg. Sob determinadas condições, como por exemplo na depleção líquida ou no baixo débito cardíaco, quando o fluxo renal não pode ser mantido, o mecanismo auto regulador preserva a filtração glomerular, produzindo vasoconstrição da arteríola eferente, que mantém o gradiente transglomerular de pressão. A resistência vascular renal se ajusta automaticamente às variações na pressão de perfusão renal. As arteríolas aferente e eferente são influenciadas por muitos dos estímulos nervosos e hormonais vasculares, embora sua resposta dependa das necessidades renais e seja moderada pelos mecanismos auto regulatórios. A membrana glomerular possui três camadas principais: uma camada endotelial, do próprio capilar, uma camada ou membrana basal e uma camada de 9 células epiteliais na face correspondente à cápsula de Bowman. Apesar da presença das três camadas, a permeabilidade da membrana glomerular é cerca de 100 a 1.000 vezes maior do que a permeabilidade do capilar comum. A fração de filtração glomerular é de aproximadamente 125ml/minuto. Em 24 horas são filtrados aproximadamente 180 litros de líquido por todos os glomérulos (filtrado glomerular), para formar de 1 a 1,5 litros de urina, o que demonstra a enorme capacidade de reabsorção dos túbulos renais. O líquido reabsorvido nos túbulos passa para os espaços intersticiais renais e daí para os capilares peritubulares. Para atender à essa enorme necessidade de reabsorção, os capilares peritubulares são extremamente porosos. A grande permeabilidade da membrana glomerular é dependente da estrutura daquela membrana e das numerosas fendas e poros existentes, cujo diâmetro permite a livre passagem das pequenas moléculas e impede a filtração das moléculas maiores, como as proteínas. O filtrado glomerular possui aproximadamente a mesma composição do plasma, exceto em relação às proteínas. Existem no filtrado glomerular, diminutas quantidades de proteínas, principalmente as de baixo peso molecular. Filtração Glomerular A filtração do plasma nos glomérulos, obedece às diferenças de pressão existentes no glomérulo. A pressão nas artérias arqueadas é de aproximadamente 100mmHg. As duas principais áreas de resistência ao fluxo renal através do néfron são as arteríolas aferente e eferente. A pressão de 100mmHg na arteríola aferente, cai para uma pressão média de 60mmHg nos capilares do glomérulo, sendo esta a pressão que favorece a saída do filtrado do plasma para a cápsula de Bowman. A pressão no interior da cápsula de Bowman é de cerca de 18mmHg. Como nos capilares glomerulares 1/5 do plasma filtra para o interior da cápsula, a concentração de proteínas aumenta cerca de 20% à medida que o sangue passa pelos capilares do glomérulo, fazendo com que a pressão coloidosmótica do plasma se eleve de 28 para 36mmHg, com um valor médio de 32mmHg, nos capilares glomerulares. A pressão no interior da cápsula de Bowman e apressão coloidosmótica das proteínas do 10 plasma são as forças que tendem a dificultar a filtração do plasma nos capilares glomerulares. Diversos fatores podem afetar a filtração glomerular. O fluxo sanguíneo renal aumentado, pode aumentar o coeficiente de filtração e a quantidade final de urina produzida. O grau de vasoconstrição das arteríolas aferentes dos glomérulos faz variar a pressão glomerular e consequentemente a fração de filtração glomerular. O mesmo ocorre na estimulação simpática neurogênica ou através de drogas simpáticas como a adrenalina, por exemplo. O estímulo pela adrenalina produz constrição intensa das arteríolas aferentes, com grande redução da pressão nos capilares glomerulares que podem reduzir drasticamente a filtração do plasma e consequente formação de urina. Reabsorção tubular O filtrado glomerular que alcança os túbulos do néfron flui através do túbulo proximal, alça de Henle, túbulo distal e canal coletor, até atingir a pelve renal. Ao longo desse trajeto mais de 99% da água filtrada no glomérulo é reabsorvida, e o líquido que penetra na pelve renal constitui a urina propriamente dita. O túbulo proximal é responsável pela reabsorção de cerca de 65% da quantidade de água filtrada nos capilares glomerulares, sendo o restante reabsorvido na alça de Henle e no túbulo distal. A glicose e os aminoácidos são quase inteiramente reabsorvidos com a água enquanto outras substâncias, por não serem reabsorvidos no túbulos, tem a sua concentração no líquido tubular aumentada em cerca de 99 vezes. A reabsorção da glicose exemplifica bem os mecanismos de reabsorção de determinadas substâncias dentro dos túbulos renais. Normalmente não existe glicose na urina ou no máximo, existem apenas ligeiros traços daquela substância, enquanto no plasma a sua concentração oscila entre 80 e 120mg%. Toda a glicose filtrada é rapidamente reabsorvida nos túbulos. À medida que a concentração plasmática de glicose se aproxima dos 200mg%, o mecanismo reabsortivo é acelerado até atingir o ponto máximo, em que a reabsorção se torna constante, não podendo ser mais aumentada. Esse ponto é chamado limiar de reabsorção da glicose. Acima do valor plasmático de 340mg%, a glicose deixa de ser completamente absorvida no sistema 11 tubular e passa para a urina, podendo ser facilmente detectada pelos testes de glicosúria. Os produtos terminais do metabolismo, como a ureia, creatinina e uratos tem outro tratamento nos túbulos renais. Apenas quantidades moderadas de ureia, aproximadamente 50% do total filtrado, são reabsorvidos nos túbulos enquanto a creatinina não é reabsorvida. Os uratos são reabsorvidos em cerca de 85%, da mesma forma que diversos sulfatos, fosfatos e nitratos. Como todos são reabsorvidos em muito menor proporção que a água, a sua concentração aumenta significativamente na urina formada. A reabsorção nos túbulos renais obedece à diferença de concentração das substâncias entre o espaço intersticial peritubular e os vasos retos peritubulares. A reabsorção de água é dependente da reabsorção de íon sódio, que é o soluto mais reabsorvido nos túbulos renais. Existem ainda dois mecanismos de intercâmbio muito importantes. O primeiro se refere à troca de íon sódio (Na+) pelo íon hidrogênio (H+), nos túbulos, como parte dos mecanismos de regulação renal do equilíbrio acidobásico. Quando há necessidade de eliminar íon hidrogênio, os túbulos secretam ativamente o hidrogênio para a luz, dentro do filtrado e, em troca, para manter equilíbrio iônico absorvem o íon sódio. O outro mecanismo de intercâmbio corresponde à reabsorção de íons cloreto (Cl-) quando há necessidade de se eliminar ácidos orgânicos pelo mecanismo de secreção tubular. Os mecanismos de transporte na reabsorção tubular podem ser ativos ou passivos, dependendo da necessidade de utilizar energia celular para a sua realização. O sódio, a glicose, os fosfatos e os aminoácidos estão entre as substâncias cujo transporte é feito com utilização de energia celular, transporte ativo, enquanto o transporte da água, ureia e cloretos não necessita consumir a energia das células (transporte passivo). Secreção tubular A secreção tubular atua em direção oposta à reabsorção. As substâncias são transportadas do interior dos capilares para a luz dos túbulos, de onde são eliminadas pela urina. Os mecanismos de secreção tubular, à semelhança dos mecanismos de 12 reabsorção, podem ser ativos ou passivos, quando incluem a utilização de energia pela célula para a sua execução ou não. Os processos de secreção mais importantes estão relacionados à secreção tubular de íon hidrogênio, potássio e amônia. Determinadas substâncias são eliminadas do organismo pelos mecanismos de secreção tubular, após metabolização no fígado. Concentração e diluição da urina Cerca de 1/5 dos néfrons, localizados na região justa-medular, tem as alças de Henle imersas na medula renal e retornam ao córtex. Nestes glomérulos cerca de 65% do filtrado glomerular é reabsorvido no túbulo proximal como solução isotônica. Na porção mais espessa da alça de Henle, em que o epitélio é relativamente impermeável à água, o cloreto de sódio é ativamente transportado do lúmen para o espaço intersticial da medula, criando um ambiente hipertônico e um gradiente osmótico que propicia mecanismos de secreção e reabsorção ditos contracorrente, capazes de permitir aos rins a produção de urina concentrada ou diluída, conforme a necessidade de eliminar substâncias dissolvidas na urina e a necessidade de preservar água. Os mecanismos físico-químicos envolvidos são bastante complexos e são baseados nas diferenças de concentração do sódio entre o interstício e os capilares peritubulares e vasos retos. A filtração e a produção de urina dependem de diversos fatores dentre os quais o mais importantes é a auto regulação do fluxo de sangue através os glomérulos. Dentre de limites fisiológicos a produção diária de urina por um adulto oscila entre 1 e 1,5 litros/dia. A diurese mínima, capaz de manter a adequada eliminação de dejetos do metabolismo, equivale a 0,5 a 1 ml/Kg/ hora em crianças e aproximadamente 30 a 40 ml/hora para os adultos. Os rins são fundamentais na regulação do volume e da composição do líquido extracelular (intersticial), através de mecanismos complexos que incluem variações das pressões vasculares, variações dos volumes filtrados, alterações da osmolaridade e ação de hormônios. Os receptores existentes na parede dos átrios, direito e esquerdo, quando distendidos pela hipervolemia, alteram a frequência dos impulsos emitidos produzindo prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce 13 uma redução da atividade simpática, que resulta em dilatação das arteríolas aferentes e consequente aumento da filtração glomerular. Simultaneamente, na hipófise posterior, é inibida a secreção de hormônio antidiurético, reduzindo a reabsorção de água nos túbulos distais e, portanto, aumentando o volume da urina eliminada. O hormônio antidiurético é responsável pelo aumento da reabsorção de água nos túbulos distais, como parte dos mecanismos reguladores do volume urinário. Um pequeno segmento do túbulo distal, pós alça de Henle, se insinua no ângulo entre as arteríolas aferente e eferente nos glomérulos, formando uma região especial, conhecida como aparelho justa-glomerular. Neste aparelho, as células tem uma densidade maior que as demais, constituindo a região chamada de mácula densa. A mácula densa é capaz de detectar a concentração de sódio no túbulo distal e estimular a produção de renina, pelas células do aparelho justa-glomerular. A renina catalisa a formação de angiotensina I a partir do angiotensinogênio produzido no fígado. A angiotensina I origina a angiotensina II, um potente vasoconstritor das arteríolas renais. A angiotensina II, por seu turno, estimula a produçãoda aldosterona pela glândula suprarrenal, que promove a reabsorção de sódio e a eliminação de potássio nos túbulos distais, conforme demonstra o esquema da figura 5.4. prisc Realce prisc Realce prisc Realce renina enzima regulam a pressão arterial 14 Testes da Função Renal A experiência tem demonstrado que o comprometimento da função renal pré- operatória, aumenta consideravelmente as chances de desenvolvimento de insuficiência renal aguda após a circulação extracorpórea. A avaliação da função renal antes da perfusão é fundamental, para a prevenção de injúria renal induzida pela perfusão. Certas cardiopatias cianóticas de longa duração podem ser associadas à graus leves de insuficiência renal, bem como a aterosclerose, o diabetes e a hipertensão arterial. A história clínica e o exame do paciente poderão mostrar a existência de edema, alterações do volume urinário e a presença de infecção urinária. A insuficiência renal aguda é uma alteração grave, com mortalidade e morbidade elevadas, em que ocorre deterioração súbita da função renal, que causa profunda desordem no equilíbrio do organismo. Há extrema redução da excreção dos produtos nitrogenados, ureia e creatinina; alterações da regulação do volume e da composição dos líquidos do organismo e alterações da síntese de determinados hormônios essenciais. O marco clínico da síndrome é a acumulação rápida de produtos finais nitrogenados, levando à uremia progressiva e à redução marcante da diurese. Ocasionalmente a insuficiência renal aguda pode se acompanhar de diurese abundante. A urina eliminada porém, tem densidade baixa porque os túbulos perdem a capacidade de reabsorver água e, em consequência concentrar a urina. A avaliação pré-operatória da função renal inclui a determinação dos níveis da ureia e da creatinina no plasma sanguíneo e o exame sumário da urina, para a detecção da presença de elementos anormais. A ureia plasmática oscila entre 20 e 60mg% enquanto a creatinina oscila entre 1 e 2mg% nos adultos. Nas crianças os valores normais variam com a idade, sendo, em geral, menores. O exame da urina não deve revelar proteinúria ou hematúria. A normalidade dos valores da ureia e da creatinina equivale à presença de função renal adequada. Quando os valores de ureia ou da creatinina estão elevados ou quando há proteinúria ou hematúria no exame da urina, torna-se necessária uma avaliação mais completa da função renal, na tentativa de quantificar o grau de função renal existente. prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce 15 Ação dos diuréticos Os diuréticos são substâncias que aumentam a formação de urina e sua principal aplicação é reduzir a quantidade total de líquidos no organismo. Durante a circulação extracorpórea alguns diuréticos podem ser utilizados, com aquele objetivo. As diversas substâncias com efeitos diuréticos tem mecanismos de ação diferentes. Ao se administrar um diurético, ocorre a eliminação associada de sódio e água. Se o diurético eliminasse apenas a água dos líquidos orgânicos, haveria um aumento da concentração de sódio nos líquidos, que se tornariam hipertônicos e provocariam uma resposta dos receptores osmóticos, seguida de aumento da secreção do hormônio antidiurético. O excesso desse hormônio promoveria a reabsorção de grande quantidade de água nos túbulos, anulando os efeitos do diurético. Quando o sódio é eliminado junto com a água, a concentração iônica dos líquidos se mantém e não há estimulação antidiurética. Diuréticos osmóticos O manitol é uma substância que quando injetada na circulação, pode atravessar facilmente os poros da membrana glomerular, sendo inteiramente filtrada pelos glomérulos. Suas moléculas, contudo, não são reabsorvidas nos túbulos renais e a sua presença no líquido dos túbulos gera uma sobrecarga osmótica importante. Essa pressão osmótica elevada no interior dos túbulos impede a reabsorção da água, fazendo com que grandes quantidades de filtrado glomerular atravessem os túbulos e sejam eliminados como urina. Níveis muito elevados de glicose no sangue produzem uma diurese osmótica semelhante à do manitol. Diuréticos de alça São substâncias capazes de reduzir os sistemas transportadores nas células tubulares, diminuindo a reabsorção ativa dos solutos tubulares e, portanto, aumentando a pressão osmótica no interior dos túbulos, propiciando grande aumento prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce 16 da eliminação de urina. Os principais diuréticos desse tipo são a furosemida e o ácido etacrínico. A furosemida bloqueia a reabsorção ativa do íon cloro na porção ascendente da alça de Henle e no segmento restante do túbulo distal. Como os íons cloro não são reabsorvidos, os íons positivos absorvidos em conjunto, principalmente o sódio também não são absorvidos. O bloqueio da reabsorção de cloro e sódio determina diurese, porque permite que grandes quantidades de solutos sejam levadas até os túbulos distais onde atuam como agentes osmóticos e impedem a reabsorção da água. Além disso, a incapacidade de reabsorver íons cloro e sódio pela alça de Henle para o interstício medular, diminui a concentração daqueles íons no líquido intersticial medular e a capacidade de concentrar urina fica muito reduzida. Esses dois mecanismos tornam a furosemida um diurético muito eficiente. Existem outros diuréticos que atuam por mecanismos diferentes, mas não são aplicados nas situações agudas, como na circulação extracorpórea. Os rins na circulação extracorpórea Diversas alterações funcionais e orgânicas dos rins tem sido detectadas em relação com a circulação extracorpórea. Esta, pode afetar adversamente a função renal, por diversos mecanismos, tais como: 1. Variações do tônus vascular, produzindo vasodilatação e hipotensão sistêmica; 2. Exacerbação da atividade simpática, com produção e liberação excessiva de catecolaminas na circulação; 3. Exacerbação da atividade hormonal, com produção e liberação excessiva de vasopressina e outros hormônios; 4. Traumatismo aos elementos figurados do sangue, com liberação de substâncias vasoconstritoras, como o tromboxano A2 das plaquetas; 5. Redistribuição irregular do fluxo arterial sistêmico, reduzindo a fração renal do débito; 6. Redução do fluxo sanguíneo renal; 7. Alterações do volume e da composição eletrolítica do líquido extracelular; prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce 17 8. Aumento da eliminação renal de sódio e potássio; 9. Hemólise e hemoglobinúria; 10. Produção de microembolia na circulação renal. A hipotensão é bastante comum, no início e após os primeiros momentos da circulação extracorpórea. É causada por uma multiplicidade de fatores que agem em sincronia, como a redução do fluxo de perfusão em relação ao débito cardíaco do paciente, a hemodiluição com redução da viscosidade do sangue e diluição das catecolaminas circulantes, e a redução da remoção de bradicinina pelos pulmões na fase de “bypass” total. A hipotensão estimula a atividade simpática e aumenta a produção de catecolaminas, renina, angiotensina, aldosterona e hormônio antidiurético. Ocasionalmente, a hipotensão produzida pela circulação extracorpórea induz a administração de drogas adrenérgicas ou vasoconstritoras. Os rins participam dos mecanismos de redistribuição protetora do fluxo sanguíneo, na medida em que sacrificam o seu próprio fluxo sanguíneo através da constrição das arteríolas aferentes, para aumentar o afluxo sanguíneo de outros órgãos, como o cérebro e o miocárdio, durante períodos de hipotensão e hipovolemia. O período inicial de hipotensão da circulação extracorpórea é seguido por um período de elevação progressiva da pressão arterial causado pela resposta regulatória do próprio organismoque, com frequência, resulta em hipertensão. A vasoconstrição produzida pela hipotermia, a elevação da resistência vascular sistêmica e a ausência de pulsatilidade na circulação, são também contributivos na gênese da resposta hipertensiva. Os mecanismos dessa resposta hipertensiva, produzem vasoconstrição renal, que reduz o fluxo sanguíneo renal, predispondo os rins à isquemia e injúria. A redução do fluxo sanguíneo renal reduz a energia disponível para os mecanismos da atividade renal normal, inclusive a auto regulação. Algumas das alterações renais durante a circulação extracorpórea podem ser atribuídas à essa redução do suprimento de energia, particularmente a depressão das funções de reabsorção ativa, da secreção renal e da regulação da concentração e diluição. A auto regulação e o balanço tubular dependem da integridade dos mecanismos de reabsorção de sódio. A eliminação excessiva de sódio (natriurese), que ocorre durante a perfusão, estimula a resposta regulatória do aparelho justa- glomerular, que aumenta a produção de renina, angiotensina e aldosterona, que prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce prisc Realce 18 acentuam a vasoconstrição renal. A aldosterona aumenta a eliminação de potássio e reduz a de sódio. Esta diurese eletrolítica, pode causar desequilíbrio eletrolítico durante a circulação extracorpórea. A redistribuição do fluxo sanguíneo, durante a circulação extracorpórea, é uma resposta que objetiva a preservação do cérebro e do coração, às custas dos demais leitos vasculares, inclusive o renal. A redistribuição é o resultado do aumento da atividade simpática; os órgãos mais afetados são os que tem preponderância de inervação simpática e muitos receptores simpáticos, como os rins. A hipotermia também contribui para a vasoconstrição renal e redistribuição do fluxo sanguíneo renal. O fluxo renal reduzido é redistribuído para a periferia da camada cortical. O mecanismo concentrador dos rins (mecanismos de contracorrente), devido à redução de fluxo na camada medular é deprimido. A proteção da hipotermia é menos eficaz para os rins, em relação aos demais órgãos. A vasoconstrição renal é precoce e corre antes que o órgão esteja uniformemente resfriado. Além da vasoconstrição, a hipotermia produz o aumento da viscosidade do sangue, que favorece a aglutinação intravascular que, contudo, pode ser minimizada pelo uso criterioso da hemodiluição. A hemodiluição com soluções cristaloides, quando em excesso, predispõe o paciente à formação de edema, devido à redução da pressão coloidosmótica do plasma e diminui a reabsorção nos capilares peritubulares, que resulta em uma diurese aquosa e rica em eletrólitos. Além de contribuir na formação de microêmbolos de restos celulares, a hemólise produz vasoconstrição pela liberação de produtos vasoativos do interior das células lesadas. A hemoglobina livre é captada pela haptoglobina do plasma e subsequentemente metabolizada no fígado. Quando são atingidos níveis excessivos de hemoglobina livre, ela é filtrada nos glomérulos e excretada na urina. Por ser uma molécula grande, com peso molecular de 68.000, a hemoglobina é filtrada com dificuldade e pode cristalizar nos túbulos renais, causando obstrução e necrose tubular. Uma prática frequente para prevenir esta ocorrência, consiste em alcalinizar a urina e estimular a diurese. A alcalinização da urina dificulta a cristalização da hemoglobina e se obtém pela administração de bicarbonato de sódio. A diurese é estimulada pela administração de manitol, que acelera a eliminação da hemoglobina livre. prisc Realce prisc Realce prisc Realce 19 Há numerosas evidências de que os efeitos deletérios da circulação extracorpórea sobre os rins, incluindo a produção de insuficiência renal aguda, estão relacionados à duração da perfusão. Isso torna imperativa a criteriosa monitorização da função renal, principalmente nas perfusões que se prolongam por duas a três horas. DOENÇAS RENAIS3 O sistema urinário filtra o sangue e elimina do corpo o excesso de água e resíduos na urina. É formado por dois rins, dois ureteres (um para cada rim) que são tubos que conduzem a urina dos rins para a bexiga urinária, e a uretra. Músculos controlam a emissão de urina pela bexiga. Os rins são dois órgãos em forma de feijão localizados abaixo da caixa torácica, nos dois lados das costas. O corpo tem dois rins, mas apenas um é suficiente para manter a função normal, mesmo quando o outro é lesado ou retirado. Os rins filtram o sangue proveniente da aorta e das artérias renais e o devolvem ao sistema venoso. A urina produzida é movida e eliminada através do trato urinário, formado por ureteres, bexiga e uretra. Os rins controlam a quantidade e a composição dos líquidos do corpo. Além disso, produzem hormônios que controlam atividades em outros órgãos: a renina participa do controle da pressão arterial, e a eritropoietina estimula a formação de hemácias. Quando falha a função renal, água e resíduos podem se acumular até níveis perigosos, causando risco de vida. As substâncias que têm níveis sanguíneos controlados pelos rins incluem sódio, potássio, cloretos, bicarbonato, cálcio, fósforo e magnésio. Doenças e estados clínicos que afetam os rins Doenças renais são a nona principal causa de morte nos EUA. Diabetes e hipertensão arterial aumentam o risco de doença renal e são as causas mais comuns 3 Texto extraído do link: http://www.labtestsonline.org.br/understanding/conditions/kidney/start/1 prisc Realce 20 de insuficiência renal. Qualquer doença que afete os vasos sanguíneos, incluindo diabetes, hipertensão arterial e aterosclerose, pode afetar a função renal. Doenças e infecções em outras partes do corpo também apresentam risco de provocar um distúrbio renal. Como lesões renais podem causar risco de vida, qualquer doença ou distúrbio que tem possibilidade de afetar o rim merece atenção imediata. Doenças renais com frequência não causam sintomas até provocarem lesões avançadas, e podem evoluir para insuficiência renal, que é fatal a não ser que o paciente seja submetido a diálise ou a um transplante de rim. Existem mais de 100 distúrbios ou doenças que causam lesão renal progressiva. Alguns dos mais comuns são descritos abaixo, assim como sinais de aviso que não devem ser ignorados. Obstrução Bloqueios do trato urinário por cálculos, tumores, útero aumentado na gravidez ou aumento da próstata, com acúmulo de urina, facilitam infecções ou causam lesão direta dos rins. Os cálculos renais em geral causam dor. Outras obstruções podem não provocar sintomas ou não ser detectadas apenas por exames de sangue ou de urina anormais ou por exames de imagem. Infecção Infecções do trato urinário, como cistite (infecção da bexiga), podem se estender para os rins. Os sintomas incluem febre, micção (ato de urinar) frequente, urgência urinária e dor e queimação durante a micção. É comum a sensação de dor ou de pressão no abdome inferior ou nas costas. Algumas vezes, a urina apresenta mau cheiro ou sangue. Pielonefrite é uma infecção do tecido renal, em geral resultado da extensão de uma infecção urinária baixa. Infecções em outros lugares do corpo, como as estreptocócicas, impetigo ou endocardite bacteriana, também podem causar problemas renais. 21 Doenças glomerulares Doenças glomerulares são as que atingem as unidades de filtração dos rins. A filtração constante do sangue ocorre em glomérulos, grupos de capilares envolvidos por um túbulo que recebe o filtrado. O conjunto do glomérulo com o túbulo correspondente chama-se néfron. As doenças glomerulares são a principal causa de insuficiência renal crônica. Existem muitas causas, incluindo diabetes, hipertensão arterial e reações imunológicas anormais. As reações imunológicas a infecções podem atacartambém os glomérulos. Infecções bacterianas, como estreptococcias da garganta ou da pele (impetigo), endocardites e viroses, como HIV, podem provocar esse tipo de reação. Distúrbios autoimunes como o lúpus eritematoso sistêmico e a síndrome de Goodpasture, também podem causar lesão glomerular. Na glomerulonefrite, também chamada nefrite ou síndrome nefrítica, há inflamação dos glomérulos. Com a filtração sanguínea prejudicada, o fluxo de urina diminui, água e resíduos se acumulam no sangue, e aparece sangue na urina. Como as hemácias se rompem na urina, com frequência ela apresenta cor castanha, e não vermelha. A água em excesso se acumula nos tecidos, causando edema. A evolução varia entre cura espontânea, redução permanente da função renal e insuficiência renal crônica. Na síndrome nefrótica, há aumento da permeabilidade dos glomérulos com eliminação de grandes quantidades de proteínas, especialmente albumina. A diminuição da albumina no sangue reduz a capacidade dos vasos sanguíneos reterem água, que se acumula nos tecidos (edema). Muitas doenças podem causar síndrome nefrótica. Complicações comuns são tromboses venosas e hipercolesterolemia. A síndrome nefrótica em crianças em geral responde bem ao tratamento, mas alguns casos mostram lesão renal permanente. Outros fatores Qualquer situação em que haja grande perda de sangue ou redução do fluxo sanguíneo para os rins prejudica a função renal. Desidratação grave, cirurgias cardíacas ou da aorta, insuficiência cardíaca ou infecções graves podem causar 22 problemas renais agudos. Em geral, a lesão é reversível, mas há possibilidade de ser permanente, especialmente com infecção grave e choque. Alguns medicamentos têm efeitos tóxicos sobre os rins. Anti-inflamatórios não esteroides, como o ibuprofeno, contrastes radiológicos, inibidores da enzima conversora da angiotensina, alguns antibióticos e outras substâncias podem causar lesão renal, incluindo insuficiência renal aguda, que exige tratamento urgente para evitar a morte. Neoplasias do sistema urinário são menos comuns que em outras partes do corpo. O câncer renal tem dois tipos principais. O tumor de Wilms ocorre em crianças pequenas e é detectado como uma massa abdominal firme. O carcinoma renal ocorre em adultos de meia-idade ou idosos, e é diagnosticado, em geral, a partir de um sangramento urinário ou de disseminação para outros órgãos. Neoplasias da bexiga são mais comuns e, em geral, se apresentam como um sangramento urinário sem outros sintomas. Em muitos casos, são detectados em uma urinálise de rotina. Como é possível controlar o câncer de bexiga no início, qualquer sangramento urinário em adultos deve ser investigado por um médico. SINAIS E SINTOMAS As doenças renais com frequência permanecem silenciosas durante muitos anos, sem sinais ou sintomas reconhecíveis ou com sinais muito genéricos. Por isso, é muito importante fazer exames de rotina. Eles podem revelar sangue ou proteínas na urina ou níveis elevados de creatinina e de ureia no sangue, que são sinais precoces de lesão renal. Entretanto, alguns avisos de doença renal não devem ser ignorados. É necessário procurar um médico imediatamente quando ocorrem: Inchação (edema), especialmente em torno dos olhos ou na face, nos pulsos, no abdome, nas coxas e nos tornozelos Urina com espumosa, sanguinolenta ou cor de café Diminuição do volume urinário Problemas durante a micção, como queimação ou secreção anormal, ou alteração da frequência urinária, especialmente à noite 23 Dor no meio das costas (flanco), abaixo das costelas, perto da localização dos rins Hipertensão arterial Com o progresso da doença renal, os sintomas podem incluir: Aumento ou diminuição da frequência urinária Prurido Cansaço, perda da concentração Perda do apetite, náuseas e vômitos Inchação e/ou dormência nas mãos e nos pés Escurecimento da pele Espasmos musculares EXAMES Exames de sangue e de urina detectam problemas renais e permitem minimizar as lesões. Eles mostram a eficiência da remoção de água e de resíduos pelos rins. Além disso, a pressão arterial deve ser medida porque hipertensão arterial pode causar lesão renal, e doenças renais podem causar hipertensão arterial. Quando há suspeita de lesões estruturais, são usados diversos exames de imagem. Uma biópsia renal é útil para diagnosticar problemas específicos. Exames comuns para triagem e diagnóstico Podem ser medidas no sangue a creatinina (e a taxa de filtração glomerular estimada) e a ureia. Os níveis desses resíduos aumentam quando diminui a filtração glomerular. Resultados anormais são, com frequência, os primeiros sinais de uma doença renal. Ao mesmo tempo, é examinada uma amostra de urina (urinálise) como parte da rotina, para verificar se há presença de hemácias, leucócitos ou proteínas. Em pessoas com diabetes ou com hipertensão arterial, pesquisa-se microalbuminúria anualmente para detectar lesão renal inicial. Quando a creatinina é medida ao mesmo tempo, é possível calcular a relação microalbuminúria/ creatinina, recomendada pela 24 American Diabetes Association, dos EUA. Se há suspeita de infecção, ela pode ser confirmada pela cultura de urina. Exames para monitorar a função renal Em pacientes com lesão renal, os níveis sanguíneos de ureia e de creatinina são medidos periodicamente para acompanhar a evolução da doença. Cálcio e fósforo no sangue, e eletrólitos no sangue e na urina podem ser afetados por doenças renais. O hemograma avalia o grau de anemia resultante da falta de eritropoietina, hormônio produzido nos rins que estimula a produção de hemácias. A proteinúria é usada para avaliar o resultado do tratamento na síndrome nefrótica. O paratormônio (PTH) pode estar elevado em doenças renais. A cistatina C é outro exame usado como alternativa à creatinina e ao clearance da creatinina para monitorar a função renal. É útil nos casos em que a medida da creatinina não é adequada, como em pessoas com cirrose hepática, muito obesas, desnutridas ou com massa muscular reduzida. A medida da cistatina C também é utilizada para a detecção precoce de doença renal, quando outros parâmetros ainda estão normais, especialmente em idosos. Fonte: www.labtestsonline.org.br 25 Exames de imagem Quando há suspeita de um problema estrutural ou de um bloqueio, são feitas imagens dos rins. Usam-se ultrassonografia, tomografia computadorizada, cintilografia e diversas técnicas radiológicas, como pielografia, urografia excretora, cistografia e arteriografia renal. Biópsia renal Biópsias são usadas para determinar a causa de proteinúria ou de hematúria e para monitorar o resultado do tratamento. São obtidas com agulhas orientadas usando-se recursos de imagem. Tratamento O tratamento varia com o tipo de doença renal. Em geral, o diagnóstico precoce melhora os resultados. Talvez seja necessário estabelecer restrições na alimentação (restrições dietéticas), prescrever medicamentos e fazer cirurgias. Se os rins não conseguem mais eliminar resíduos e água, faz-se diálise diversas vezes por semana, seguida de transplante renal. O controle do diabetes melito e da hipertensão arterial é muito importante para evitar ou minimizar lesão renal. BIBLIOGRAFIA BARROS, E. et al. Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006. BERNE, R. B, LEVY, M. N. Tratado de Fisiologia Humana. 4 Ed. Rj. Guanabara Koogan, 2000. JUNQUEIRA. L. C. et al. Histologia básica. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. 426p. 26 LAB TESTS ONLINE. Doenças renais. Disponível em: http://www.labtestsonline.org.br/understanding/conditions/kidney/. Acesso em: 20/01/2017. PORTAL EDUCAÇÃO. Noções de Anatomia e Fisiologia Renal. Disponível em: http://esteticacurso.com.br/conteudo/artigos/medicina/nocoes-de-anatomia-e-fisiologia-renal/17622. Acesso em: 20/01/2017. SEELEY, R.; STEPHANS, T.; TATE, P. – Anatomia e Fisiologia. 6ª edição. Loures: Lusociência, 2003. SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana. 5ed. Porto Alegre: ArteMed, 2010. SOBOTTA, J; BECKER. Sobotta – Atlas de anatomia humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 21ª Ed., 2000. LEITURA COMPLEMENTAR Doença renal crônica: importância do diagnóstico precoce, encaminhamento imediato e abordagem interdisciplinar estruturada para melhora do desfecho em pacientes ainda não submetidos à diálise 27 Autores: Marcus Gomes Bastos Gianna Mastroianni Kirsztajn Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 28002011000100013 Acesso em: 20/01/2017. RESUMO Atualmente, é amplamente aceita a definição da doença renal crônica (DRC) que se baseia em alterações na taxa de filtração glomerular e/ou presença de lesão parenquimatosa mantidas por pelo menos três meses. Embora os critérios para diagnóstico de DRC estejam agora bem mais claros, a proporção de pacientes com DRC em estágio avançado vista pela primeira vez por nefrologista imediatamente antes do início de tratamento dialítico ainda é inaceitável. O diagnóstico precoce e o encaminhamento imediato para o nefrologista são etapas essenciais no manuseio desses pacientes, pois possibilitam a educação pré diálise e a implementação de medidas preventivas que retardam ou mesmo interrompem a progressão para os estágios mais avançados da DRC, assim como diminuem morbidade e mortalidade iniciais. Nesta revisão, discutimos a complexidade da DRC, a multiplicidade de intervenções atualmente recomendadas na sua prevenção secundária e diferentes modelos de prestação de cuidados à saúde, além de examinarmos o racional do atendimento interdisciplinar e a evolução dos pacientes seguidos em clínicas que já adotaram esse modelo. Palavras-chave: doença renal crônica, insuficiência renal crônica, taxa de filtração glomerular, referência e consulta, diagnóstico precoce, proteinúria, clínica de atenção interdisciplinar. INTRODUÇÃO A nefrologia tem passado por grandes mudanças desde o início dos anos 60, quando emergiu como especialidade médica. Inicialmente, o foco da nefrologia foi a terapia renal substitutiva (TRS) - diálise e transplante renal - como forma estabelecida de tratamento para os pacientes que evoluíam para doença renal crônica em estágio terminal (DRET) (DRET). Foi quando proliferaram os vários programas de TRS, tanto na rede de saúde pública como na rede privada. A Nefrologia brasileira rapidamente alcançou os níveis de excelência internacionais. Contudo, nesse período, muito pouca atenção foi dada às medidas preventivas de perda da taxa de filtração glomerular (TFG). 28 A partir da década passada, ficou evidente que a progressão da Doença Renal Crônica (DRC) em pacientes com diferentes patologias renais (e sob cuidado dos nefrologistas) poderia ser retardada ou até interrompida com medidas tais como controle rigoroso da pressão arterial, emprego de medicamentos que bloqueiam o eixo renina-angiotensina-aldosterona (ERAA), só para mencionar algumas. 1 Paralelamente a estas observações, foram publicados estudos populacionais e em grupos de risco para DRC, quando se demonstrou que a prevalência da doença era muito maior do que conhecido anteriormente. Estas observações despertaram a atenção das comunidades nefrológicas internacionais e brasileira que, de diferentes maneiras, iniciaram ações para lidar com o problema da DRC, considerada a grande epidemia deste milênio. EPIDEMIOLOGIA DA DOENÇA RENAL CRÔNICA A DRC tem recebido cada vez mais atenção da comunidade científica internacional, já que sua elevada prevalência vem sendo demonstrada em estudos recentes. Particularmente significante é a análise transversal do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), conduzida entre 1999 e 2004, que envolveu uma amostra representativa da população de adultos não institucionalizados dos EUA, com 20 anos de idade ou mais (n = 13.233). A prevalência da DRC foi determinada com base na presença de albuminúria persistente (> 30 mg/g) e diminuição na TFG estimada usando a equação abreviada do estudo Modification of Diet in Renal Disease (MDRD), reexpressa para creatinina sérica padrão. Essa análise revelou que aproximadamente 13% da população adulta dos EUA tem DRC estágios 1 a 4. No Brasil, estudos epidemiológicos abrangentes sobre DRC que empregam a nova definição da doença ainda não foram realizados. Entretanto, um estudo sobre TRS baseado em dados coletados em janeiro de 2009 revelou que havia 77.589 pacientes em diálise no Brasil e que a prevalência e a incidência de DRET correspondiam a cerca de 405 e 144 por milhão na população, respectivamente. Enquanto o número de brasileiros nos diferentes estágios pré-diálise da DRC não for conhecido com exatidão, uma análise dos dados laboratoriais de adultos utilizando a nova definição de DRC revelou que 2,3% dos indivíduos avaliados tinham TFG < 29 45mL/min/1,73m2 ou DRC estágios 3B, 4 e 5. Extrapolando-se esses resultados para a população adulta brasileira, sugere-se que cerca de 2,9 milhões de brasileiros teriam um terço ou menos da TFG dos indivíduos normais. DEFINIÇÃO DE DOENÇA RENAL CRÔNICA Em 2002, a Kidney Disease Outcome Quality Initiative (KDOQI), patrocinada pela National Kidney Foundation, publicou uma diretriz sobre DRC que compreendia avaliação, classificação e estratificação de risco.1 Nesse importante documento, uma nova estrutura conceitual para o diagnóstico de DRC foi proposta e aceita mundialmente nos anos seguintes. A definição é baseada em três componentes: (1) um componente anatômico ou estrutural (marcadores de dano renal); (2) um componente funcional (baseado na TFG) e (3) um componente temporal.1 Com base nessa definição, seria portador de DRC qualquer indivíduo que, independente da causa, apresentasse TFG < 60 mL/min/1,73m2 ou a TFG > 60 mL/min/1,73m2 associada a pelo menos um marcador de dano renal parenquimatoso (por exemplo, proteinúria) presente há pelo menos 3 meses. A KDOQI também sugeriu que a DRC deveria ser classificada em estágios baseados na TFG, como mostrado na Tabela 1. Proteinúria (ou albuminúria) é apresentada como marcador de dano renal na tabela, já que é mais frequentemente utilizada para esse fim; mas outros marcadores de dano renal também podem ser empregados, tais como outras alterações na urina (por exemplo, hematúria glomerular), imagens ultrassonográficas anormais (por exemplo, cistos na doença 30 renal policística do adulto) ou alterações histopatológicas vistas em biópsias renais (por exemplo, alterações glomerulares com ou sem envolvimento túbulo- intersticial). Esse sistema de classificação da DRC é útil, porque padroniza a terminologia, evitando dessa forma a ambiguidade e a sobreposição dos termos que estão atualmente em uso. Isso por sua vez facilita a comunicação entre os profissionais de saúde envolvidos no cuidado ao paciente. OTIMIZAÇÃO DOS CUIDADOS AO PACIENTE COM DOENÇA RENAL CRÔNICA O tratamento ideal da DRC é baseado em três pilares de apoio: 1) diagnóstico precoce da doença, 2) encaminhamento imediato para tratamento nefrológico e 3) implementação de medidas para preservar a função renal. Diagnóstico precoce da doença A ausência de sintomas nos pacientes que se encontram nos estágios iniciais da DRC exige que os médicos mantenham sempre um nível adequado de suspeição, especialmente naqueles pacientes com fatores de risco médico ou sociodemográfico para DRC. Como mencionado anteriormente, alterações funcionais, principalmente na TFG, são um importante componente no diagnóstico e classificação da DRC. A TFG é a melhor medida geral da função renal e a mais facilmente compreendida pelos médicos e pacientes. Ela é definida como a capacidadedos rins de eliminar uma substância do sangue e é expressa como o volume de sangue que é completamente depurado em uma unidade de tempo. Normalmente, o rim filtra o sangue e elimina os produtos finais do metabolismo proteico, enquanto preserva solutos específicos, proteínas (particularmente albumina) e componentes celulares. Na maioria das doenças renais progressivas, a TFG diminui com o tempo como resultado da diminuição no número total de néfrons ou redução na TFG por néfron, decorrentes de alterações fisiológicas e farmacológicas na hemodinâmica glomerular. A TFG pode estar reduzida bem antes do início dos sintomas e se correlaciona com a gravidade da DRC. A ocorrência do aumento na pressão de filtração ou de hipertrofia glomerular explica a observação de TFG estável ou quase normal, mesmo quando o 31 número de néfrons é reduzido. Isso é algumas vezes observado na nefropatia diabética inicial, quando a TFG pode apresentar um aumento de até 40% acima do valor normal. A melhor, e de fato, a única maneira correta de medir a TFG é determinar o clearance de substâncias exógenas como a inulina, iotalamato-I, EDTA (Ácido etilenodiaminotetracético), DTPA-Tc99m (ácido dietilenotriaminopentácetico marcado com tecnécio99m) ou iohexol. Esses agentes preenchem o critério de marcador ideal de filtração, já que são excretados do corpo via filtração glomerular e não estão sujeitos a secreção e/ou reabsorção quando passam através dos túbulos renais. Como essas substâncias não estão presentes na circulação e, consequentemente, precisam ser infundidas, a medida desses clearances é difícil, requer tempo do paciente e da equipe clínica e tem sido utilizada em geral de forma restrita, para fins de pesquisa ou em condições patológicas específicas nas quais as técnicas de clearance mais simples não oferecem informações suficientes para guiar as decisões médicas. Na prática clínica, a TFG é avaliada por meio da mensuração de níveis de substâncias que são normalmente produzidas pelo corpo. A ureia, o primeiro marcador endógeno utilizado, não é completamente confiável, já que seus níveis são mais vulneráveis a mudanças por razões não relacionadas com a TFG. Uma dieta com alto consumo de proteínas, destruição tecidual, hemorragia gastrointestinal de grande monta e terapia com corticosteroides podem determinar um aumento nos níveis de ureia plasmática, enquanto uma dieta pobre em proteínas e doença hepática podem levar a uma redução. Além disso, 40-50% da ureia filtrada pode ser reabsorvida pelos túbulos, embora a proporção esteja reduzida na insuficiência renal avançada. Até pouco tempo, a creatinina plasmática era considerada o marcador endógeno cujo perfil mais se assemelhava àquele de uma substância endógena ideal para medir a TFG. A creatinina é quase exclusivamente um produto do metabolismo da creatina e da fosfocreatina no músculo esquelético, embora a ingestão de carne também possa contribuir levemente para os níveis dessa substância no sangue. Sua geração é relativamente constante durante o dia e diretamente proporcional à massa muscular. A creatinina é livremente filtrada nos glomérulos e não é reabsorvida, mas até 15% dela são ativamente secretados pelos túbulos. É importante lembrar que 32 cromógenos não creatinina também são detectados quando o método clássico do picrato alcalino é utilizado, o que superestima os níveis séricos de creatinina. As duas maiores limitações para utilizar a creatinina como marcador da TFG são: 1) Como a creatinina é produzida nos músculos, a creatinina sérica depende da massa muscular e deveria ser ajustada para fatores relacionados à massa muscular quando usada como parâmetro para determinação da TFG; e 2) a relação inversa da creatinina com a TFG não é uma relação direta, o que significa que o nível de creatinina só aumentará após a TFG ter decaído para cerca de 50%-60% de seu nível normal. Assim, o uso isolado da creatinina sérica para estimar a TFG é insatisfatório e leva a atrasos no diagnóstico e no tratamento da DRC. Clinicamente, o método mais utilizado para obter informações sobre a TFG é a depuração de creatinina, com coleta de urina ao longo de 24 horas, no qual a excreção de creatinina urinária em 24 horas é dividida pela concentração de creatinina sérica. Infelizmente, depuração de creatinina não preenche o critério de um marcador ideal para TFG, já que, como mencionado anteriormente, a creatinina é excretada não somente via filtração glomerular, mas também via secreção no túbulo proximal. Entretanto, o principal problema com depuração de creatinina é a necessidade de coletar urina por 24 horas, que é inconveniente para os pacientes e, portanto, as coletas são frequentemente imprecisas. Isso é particularmente verdadeiro em algumas situações clínicas (por exemplo, indivíduos muito idosos ou com deficiência cognitiva). Atualmente, a determinação da TFG pela depuração de creatinina é recomendada, quando a TFG for > 60 mL/min, em extremos de idade e tamanho corporal, desnutrição grave, obesidade, doença do aparelho musculoesquelético, paraplegia ou quadriplegia, dieta vegetariana, função renal com alterações rápidas e cálculo de ajuste de dosagem de medicamentos potencialmente nefrotóxicos. Para contornar algumas das limitações encontradas na determinação da TFG através da creatinina sérica ou da depuração de creatinina, várias fórmulas destinadas a estimar a TFG têm sido publicadas. Essas fórmulas usam variáveis demográficas e clínicas conhecidas como substitutos para os fatores fisiológicos não mensurados que afetam o nível de creatinina sérica. As fórmulas mais comumente utilizadas são as de Cockcroft e Gault (CG), MDRD e CKD-EPI. A fórmula CG foi a primeira dessas equações a ganhar aceitação e estima a depuração de creatinina. Em sua descrição original, a equação CG baseou-se na 33 excreção urinária de creatinina em homens caucasianos hospitalizados, com idade de 18 a 92 anos, e com função renal normal. Não foi padronizada para uma área de superfície corporal de 1,73 m2 e uma correção para mulheres foi necessária. Ela sistematicamente superestima a TFG, porque a secreção de creatinina tubular e o aumento no peso devido à obesidade ou sobrecarga de fluidos não são levados em consideração. A equação do MDRD para estimativa da TFG foi originalmente desenvolvida com base nos dados do estudo Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) em pacientes com DRC e não incluiu indivíduos saudáveis. O padrão-ouro usado no desenvolvimento da equação MDRD foi o clearance de iotalamato-I125 e, portanto, ela estima a TFG (em mL/min/1,73m2) e não a depuração de creatinina. Em sua versão original, a equação MDRD requer determinações de albumina e ureia nitrogenada séricas. Atualmente, uma fórmula do MDRD abreviada com "quatro variáveis" tem sido recomendada, porque seu desempenho é tão bom quanto a equação inicial. A TFG calculada com a equação do MDRD e a TFG real são muito próximas para resultados < 60 mL/min/1,73m2, enquanto a TFG excede a taxa estimada por um valor pequeno quando a TFG é > 60 mL/min/1,73m2. O grupo Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration (CKD-EPI) recentemente desenvolveu, a partir de coorte que incluiu indivíduos com e sem DRC, uma nova equação que é uma variação da fórmula do MDRD. A equação, denominada de CKD-EPI usa as mesmas quatro variáveis que a equação do MDRD, mas, comparativamente, apresenta melhor desempenho e previsão de risco. As observações de menor viés e maior acurácia da equação CKD-EPI, particularmente nas faixas de TFG >60 mL/min/1,73 m2, do estudo MDRD para uso clínico de rotina. Atualmente, as fórmulas para avaliação da TFG estão disponíveis em programas para palmtops, computadores e i-phones e estão amplamente disseminadas na internet (por exemplo, em websites da Sociedade Brasileira de Nefrologiae da National Kidney Foundation). Entretanto, a maioria dos profissionais, particularmente aqueles que trabalham em clínicas de atenção primária à saúde ainda não tem acesso imediato a esses equipamentos de computação e precisa calcular a TFG manualmente. Esse processo de certa forma tedioso e que demanda tempo desencoraja os profissionais da saúde, particularmente aqueles que não são nefrologistas, em avaliar a TFG de forma rotineira e, assim, pode atrasar o diagnóstico 34 e o encaminhamento nefrológico. Para contornar essa situação, recentemente desenvolvemos duas tabelas, uma para mulheres e outra para homens, que permitem que os profissionais de saúde estimem a TFG imediatamente assim que tiverem em mãos o nível de creatinina sérica e a idade do paciente. Essas tabelas são baseadas na fórmula do estudo MDRD de quatro variáveis, na qual o componente etnia negra (importante para estimar a TFG na população negra dos EUA, mas sem impacto na população brasileira) foi excluída. As tabelas mostram os valores de TFG que correspondem a valores específicos de creatinina sérica nos limites 0,5-5,0 mg/dL e nas faixas etárias de 18 a 80 anos. Além disso, os diferentes estágios da DRC são indicados por cores diferentes, facilitando, assim, o estadiamento da DRC. Embora reconheçamos que a equação do estudo MDRD ainda não foi validada de forma definitiva no Brasil, sugerimos o uso dessas tabelas no atendimento primário à saúde e entre os não nefrologistas, como ferramenta para facilitar o diagnóstico precoce da DRC. Finalmente, é importante mencionar o interesse recente pela cistatina C como marcador endógeno da TFG. A cistatina C é uma proteína básica não glicosilada, com baixa massa molecular (13 kD) que faz parte da superfamília de inibidores de protease de cisteína. Ela é produzida por todas as células nucleadas, é livremente filtrada no glomérulo e é reabsorvida e catabolizada pelas células epiteliais tubulares; somente pequenas quantidades são excretadas na urina. Consequentemente, embora a cistatina C seja filtrada pelos glomérulos, seu clearance urinário não pode ser medido, o que torna o estudo dos fatores que afetam seu clearance e geração difíceis de realizar. Além disso, há evidência preliminar de que os níveis séricos de cistatina C são influenciados pelo uso de corticosteroides e estão relacionados a idade, sexo, peso, altura, tabagismo e nível de proteína C reativa, mesmo após o ajuste para a depuração da creatinina. No momento, o papel clínico para a mensuração da cistatina C ainda não foi elucidado, mas ainda existe a possibilidade de que ela venha a ser um marcador útil de disfunção renal precoce, como parte de programas de rastreamento. Devido ao fato de a cistatina C não depender da massa muscular, ela parece ser mais sensível do que a equação do estudo MDRD no diagnóstico precoce da DRC, particularmente na população de idosos. Além disso, tem-se sugerido que a cistatina C pode ter um papel na previsão de pacientes com DRC com maior risco de complicações. 35 A definição de DRC também é baseada na documentação do dano renal parenquimatoso. Como mencionado anteriormente, a albuminúria é o principal marcador do dano renal parenquimatoso. A albuminúria ou a proteinúria (albuminúria > 300 mg/dia) pode ser determinada pelo teste com fitas reagentes, que é de baixo custo e de fácil aplicação, embora seja importante reconhecer que o teste é não específico, semiquantitativo e não se mostra sensível o suficiente para detectar níveis de albumina < 300 mg/L. Quando a proteinúria é detectada, o próximo passo é a sua quantificação, o que pode ser feito na urina de 24 horas ou em uma amostra de urina isolada (nesse caso, a concentração de proteinúria ou albuminúria é dividida pela concentração de creatinina urinária, a fim de corrigir para a variação no volume urinário). Os indivíduos que pertencem ao grupo de risco para DRC, mas apresentam resultado negativo para proteinúria no teste com fita reagente, deveriam ser testados com relação à presença de microalbuminúria, o que pode ser feito com vários métodos, atualmente disponíveis, que utilizam anticorpos (radioimunoensaio, turbidimetria, nefelometria e ELISA) ou cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC), que medem não somente a albumina imunorreativa, mas também a albumina intacta não imunoreativa. Na Figura 1, propomos um procedimento de triagem baseado na TFG estimada e na medida de albuminúria. 36 O teste com fita reagente também pode detectar outras anormalidades na urina. Por exemplo, um teste positivo para sangue oculto pode ser devido à presença de hematúria e impõe um estudo confirmatório, preferivelmente com microscopia de contraste de fase. Outras anormalidades, tais como bacteriúria, piúria e glicosúria podem dar indícios de qual seria a causa subjacente da DRC. ENCAMINHAMENTO PRECOCE PARA TRATAMENTO NEFROLÓGICO O segundo pilar de apoio do tratamento ideal para a DRC é o encaminhamento imediato de pacientes para acompanhamento pelo nefrologista ou pela equipe de nefrologia. A literatura tem muitos exemplos de cuidados sub-ótimos à DRC fornecidos por outros especialistas médicos antes do encaminhamento para o atendimento nefrológico. Por exemplo, Roubicek et al. compararam pacientes com DRC que haviam sido encaminhados precocemente (EP) ao nefrologista, definido por período > 16 semanas antes do início da diálise, e aqueles com encaminhamento tardio (ET), definido por < 16 semanas e seguimento antes do início da diálise. Foi observado que, comparados aos pacientes com ET, os pacientes com EP passavam menos dias no hospital após a diálise ser iniciada, tinham menor probabilidade de necessitar de diálise de urgência, melhor controle da pressão arterial e menos edema agudo de pulmão. Eles também apresentavam maior probabilidade de iniciar a diálise com um acesso vascular permanente e, sendo assim, tinham menor probabilidade de necessitar de um acesso venoso central temporário. Além disso, os pacientes com ET tinham maior probabilidade de morrer no primeiro ano de diálise do que os pacientes com EP. Em um estudo mais recente, McLaughlin et al. avaliaram o custo financeiro do tratamento da DRC em pacientes que foram encaminhados precoce ou tardiamente ao nefrologista. Os desfechos desse estudo foram custo total do atendimento ao paciente, anos de vida dos pacientes, anos de vida livre de TRS e dias de hospitalização. Para os grupos com encaminhamento precoce e tardio, os custos médios totais em cinco anos foram US$87.711,00 e US$110.056,00, respectivamente; as médias dos anos de vida dos pacientes foram 3,53 e 3,36 anos, respectivamente, e os anos de vida dos pacientes livres de TRS foram 2,18 e 1,76 anos, 37 respectivamente. Além disso, pacientes com acompanhamento nefrológico precoce passaram metade do tempo no hospital (25 dias) quando comparados àqueles encaminhados tardiamente (41 dias). Finalmente, tem-se mostrado que os pacientes apresentam maior probabilidade de progredir para óbito durante o primeiro ano de diálise quando são encaminhados tardiamente ao nefrologista. Esses achados enfatizam a importância de lembrar e encorajar outros profissionais da saúde, especialmente cardiologistas, endocrinologistas, clínicos gerais, urologistas e geriatras, que frequentemente lidam com pacientes em risco para DRC, de encaminhar pacientes para acompanhamento conjunto com um nefrologista ou equipe especializada em nefrologia o mais rápido possível. Isso é particularmente importante nos casos em que déficit de função renal e proteinúria de grande monta (> 1 g/dia) já estão presentes. Os benefícios potenciais do encaminhamento precoce incluem a identificação e o tratamento das causas reversíveis da insuficiência renal; o diagnóstico e correção de fatores que pioram a função renal (por exemplo, o uso deagentes nefrotóxicos); a estabilização da TFG; a identificação e a correção de grandes complicações e as morbidades mais prevalentes na DRC; e a obtenção de melhores parâmetros bioquímicos, psicológicos e físicos no início da TRS. IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS PARA PRESERVAR A FUNÇÃO RENAL O terceiro pilar de apoio do tratamento ideal da DRC é a implementação de medidas nefroprotetoras. O curso da DRC é frequentemente assintomático, até que a doença atinge seu estágio avançado, o que resulta na busca de cuidados médicos por parte do paciente quando ele ou ela já apresenta uma ou mais complicações da doença e/ou comorbidades. Não se sabe ainda quantos pacientes com DRC evoluirão para DRET e quais pacientes apresentam maior risco de necessitar de TRS. Entretanto, é razoável concluir que as intervenções que diminuem ou estabilizam a progressão da DRC e previnem a ocorrência de DRET terão maior impacto se forem implementadas precocemente. Além disso, é sempre importante enfatizar que o tratamento bem-sucedido da doença de base também é muito importante na prevenção de DRET. 38 Claramente, a probabilidade de progressão da DRC é determinada por interações complexas que envolvem vários fatores clínicos, ambientais e genéticos. Os principais fatores clínicos são idade, sexo, diabetes, hipertensão, proteinúria, anemia, complicações metabólicas, obesidade, tabagismo e dislipidemia. Sabe-se, por exemplo, que as etiologias mais comuns das nefropatias que determinam DRC e DRET têm tendências familiares. Assim, é imperativo que os nefrologistas e médicos da atenção primária à saúde identifiquem esses indivíduos que têm na família um parente com DRC avançada, particularmente aqueles que precisam de diálise ou transplante renal, já que esses indivíduos são particularmente propensos a desenvolver doenças do parênquima renal. De fato, um estudo de pacientes dialisados incidentes mostrou que 20% deles relataram ter um parente de primeiro ou segundo grau com DRET, e histórico familiar positivo foi mais comum em pacientes com doença renal diabética ou DRC decorrente de glomerulonefrite do que naqueles com DRC associada à hipertensão ou outras causas. Assim, enquanto os genes para insuficiência renal não forem identificados, é razoável que o histórico familiar possa servir como marcador de risco para futura doença renal. Atualmente, há tratamentos efetivos que reduzem a perda da função renal e podem servir para a prevenção primária da DRC. Por exemplo, um estudo de pacientes hipertensos com diabetes tipo 2 sem nefropatia revelou que, comparados com outros medicamentos anti-hipertensivos, o tratamento com inibidor de enzima conversora da angiotensina (IECA), ao longo de um período de seguimento de 48 meses, diminuiu em 50%a ocorrência de microalbuminúria, um marcador de DRC. Mas a realidade do dia a dia do nefrologista no que tange a mudar o curso natural da DRC ainda está no nível de prevenção secundária. É de grande importância que a pressão arterial (PA) de pacientes com DRC seja controlada de forma rigorosa, pois isso minimizará a progressão da DRC e reduzirá o risco de doença cardiovascular. O estudo Multiple Risk Factor Intervention Trial respaldou essa observação ao mostrar que a PA mais alta era um fator de risco independente para a progressão para DRET. Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o KDOQI37 recomendam, de um modo geral, valores de PA < 130/85 mmHg (< 140/90 mmHg em pacientes com mais de 60 anos de idade) como ideais para pacientes com DRC. A Tabela 2 sumariza as recomendações sobre as medidas de PA e medicamentos anti-hipertensivos na DRC. 39 Atualmente, a hipertensão na DRC pode ser tratada com vários tipos de medicamentos e não é raro que dois ou mais agentes anti-hipertensivos sejam necessários para se atingir o controle ideal da PA. A classe de medicamentos bloqueadores do SRAA é considerada especialmente importante da redução da velocidade de progressão da DRC, com vários estudos recentes mostrando que os inibidores de SRAA efetivamente diminuem a progressão da DRC diabética e não diabética. Outro importante aspecto da progressão da DRC é a ocorrência de proteinúria, ou, mais especificamente, albuminúria. Inicialmente interpretada como simplesmente um indicador de dano glomerular, a albuminúria é atualmente vista como prejudicial ao rim, constituindo-se em um dos principais fatores de risco para a progressão da DRC e doenças cardiovasculares. O grau de proteinúria correlaciona-se com a magnitude do dano renal em diferentes modelos animais e humanos, e sua redução está associada com a estabilização da TFG. Atualmente, os bloqueadores do SRAA são preferidos a outros medicamentos para tratar DRC diabética e não diabética, porque eles conciliam a redução da proteinúria com um controle muito bom da PA, melhora na inflamação e estabilização da função renal. Ainda não está claro se um controle glicêmico rigoroso é protetor em pacientes com nefropatia diabética, embora valha a pena mencionar que, no estudo de Fioretto et al., alcançar euglicemia após o transplante de pâncreas se associou com a regressão da glomeruloesclerose diabética. De qualquer forma, a maioria dos autores recomenda controle glicêmico adequado como uma estratégia para evitar ou diminuir 40 as complicações macro e microvasculares do diabetes. Em particular, tanto para o diabetes tipo 1, como para o tipo 2, o controle glicêmico intensivo tem sido recomendado para a prevenção primária de microalbuminúria e para diminuir a progressão da microalbuminúria para macroalbuminúria. Por muitos anos, tem-se reconhecido o efeito adverso da obesidade nos desfechos renais em pacientes com doenças renais primárias em geral, bem como em pacientes com hipertensão e diabetes tipo 2, as duas causas mais comuns de DRC. A obesidade pode determinar aumento no tamanho glomerular e anormalidades na função glomerular; também pode causar uma forma especial de glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF), com grave proteinúria e é frequentemente acompanhada por rápida perda da função renal. A reversão da obesidade melhora a albuminúria e a hiperfiltração glomerular em pacientes com obesidade mórbida. Além disso, um estudo que avaliou o impacto da obesidade na TFG durante 25 anos de acompanhamento revelou que pacientes obesos submetidos à nefrectomia unilateral apresentavam maior perda da função renal do que pacientes não obesos. A anemia é uma complicação comum em pacientes com DRC e baseado nas evidências, os pacientes com os valores mais baixos de hemoglobina têm desfechos piores do que aqueles com valores mais altos de hemoglobina. A natureza aparentemente robusta dessa associação, apoiada por consequências fisiológicas conhecidas da anemia (incluindo fadiga, intolerância ao exercício, deficiência cognitiva e exacerbação da doença cardiovascular) tem levado a maior parte dos médicos a tratar a anemia em pacientes com DRC. As diretrizes da KDOQI recomendam avaliar os pacientes com relação à anemia se os níveis de hemoglobina (Hb) forem < 13,5 g/dL em homens adultos ou < 12,0 g/dL em mulheres adultas. 59 As diretrizes brasileiras recomendam a avaliação se os níveis de Hb forem < 13 g/dL em homens adultos e < 12 g/dL em mulheres e homens com idade > 65 anos. Ambas diretrizes recomendam avaliar as reservas de ferro, vitamina B12 e os níveis de folato antes de considerar terapia com agentes estimuladores da eritropoiese (AEE). As reservas de ferro são consideradas adequadas se os níveis de ferritina sérica forem > 100 ng/mL e a saturação da transferrina (SATT) > 20% em pacientes pré-diálise com DRC. O uso de AEE e os níveis-alvo de Hb têm sido o objeto de muitos estudos e debates. Nos estudos clínicos iniciais, realizados em pacientes em diálise, AEE eram 41 administrados aos pacientes que frequentemente
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