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Definição. 673 Epidemiologia. 673 Etlologla. 673 Mecanismos de lesão renal. 673 EstadlamMto. 674 ProgrlÕSIJCO. 674 Avalíação da fihnlção glomcrular, 674 Complicaçõe$ da doença renal crOnlca. 675 e.ames cllnlcos e laboratarill~ 676 ~o do progressalo do doença renal etónlca. 676 causas de descoml*l$3ção aguda do doença rcnol crõniC8. rn Treiamento do doençe renal cronica. ffT7 Manejo do anemia. rn Doença mineral clssoo. ffT7 Hlperten$11o orterlol, m Vodnaç!lo. 678 OisUirl>los hldroelettolllicos. 678 lndla1çõcs de terapia do substitulçao renal, ara Terapias de substituição renal 679 Conllderoções Rnab. 680 RelerOOdas blbliog<8ficas. 680 Definição A doença renal crônica (DRC) se caracteriza pelo con- junto de sinais e sintomas decorrentes da perda progres- siva e irreversível da função renal, acarretando alterações eletroUticas, volêmicas e endócrinas, com impacto sistê- mico. Alterações estrutura.is renais, mesmo sem perda funcional, também caracterizam a DRC. Para se caracte- rizar a cronicidade da síndrome, é necessário que as le- sões estruturais ou funcionais dos rins estejam presentes por um período mínimo de 3 meses. Epidemiologia Estima-se que existam cerca de 15 milhões de pessoas com ritmo de filtração g!omerular (RFG) inferior a 60 mlJmin/1,73 m2 no Brasil. Segundo o Censo Brasileiro Doença Renal Crônica Bruno Caldin da Silva Hugo Abensur de Diálise (2013 ), existem mais de 100 mil pacient.es em diálise, sendo 91% em hemodiálise e os demais em diáli- se peritoneal. Além disso, mais de 5 mil pacientes são sub- metidos a transplante renal anualmente no Brasil. A mortalidade de pacientes em hemodiálise é extre- mamente elevada em todo o mundo, sendo ao redor de 20% ao ano no Brasil. Etiologia Segundo dados nacionais, as principais causas de DRC que levam pacientes para alguma modalidade dialítica são: • Hipertensão arterial sistêmica. • Diabete melito. • Doenças g!omerulares. • Doença renal policfstica. Há ainda diversas outras causas que podem cursar com DRC, segundo o Quadro l. Qulldio 1. e.-do doença ,.., •• crOnlcl Doenças "8$<:Ularet Nefropeda lsquemlca. esclerodermla. slndlOrne hemolaíoo-urêmlca Doenças metebdlleas ~ renal nefrocalelnoto Doenças lúbulo- ·lnlelltlclals Refll.oco vesicollfelerat nelrite ln1entidal cronica. 11m do m1e1oma. df09U \lascuUtes Polialljlefte microscópica. grenulomatoSO de Wegener, anerite de Takayalu Tumores Tumor de Wllrns. linroma renal Doenças heredil4rias Síndrome de AJpon. doença do Fabry Mecanismos de lesão renal A DRC é a via final comum de diversas doenças que acometem o rim e nas fases mais avançadas é caracteri- zada por fibrose de todos os componentes renais: glomé- rulos e túbulos. Nas fases mais iniciais é passivei encon- trar as lesões caracterlsticas das doenças que causaram a DRC. O Quadro 2 apresenta as principais lesões que de- sencadeiam tal processo 6brótico. 674 CLÍNICA MtOICA • DOENÇAS RENAIS Qudia 2. Adiados hlslopetol6glcot à mia ......... ódal - ....._ peCologi9e ..... eau .. .S.DRC OialMlto melilo Hipertando antrial Hipertensão maligna Nefropetla lsqu&mlca Glomerulonelrites prlmáries Glomerulonelrites llOClJlld-'rias Doença de rins pclids!lcos Lello hl11op111ológa con•poodeme (MO) Glomerubscl<!toso oodular (lesão de Kimmelstiel- ·\WSM) e lntercapilar Aru!riolooscleros4 hialina o hiperplasia dll camadll ~ia Necrose fibtinolde de eneriolas e hiperplasia de Intima (aspecto em ·cesce de cebola"); podo haYe< m~boscs e glomerulitO neaotilanlO Atrof1& lsq~lca difusa (glomérulos e tllbulos). associada à fibrose inlOr&llclal Deposição de lmunoc:omploxos ln situ Deposição do enlioo<pos ontla!lulas glomorulares l..es.'les gk>11*Ulares mediadas por cetulas. citocinas. oomplemcnto otc. LES: glomorulonolrite prolttorativa local (com ou som aesoontos). difusa. membranosa. microengiopetia tromb6(ica Vnsculites: lesão neaotlzante segmentar e fooaL com ou sem aesccntes HCV: glomef\llone!rtte membrano-prolKerawa. membranosa. depósito de crioglobuliRas Hepatite 8: glocnerulopatla memtnnosa HIV: GESF do HIV SHUIPTT. ondocanlite. nquistosllomooe. amiloidoso. paraproteínomias. doonça lalcifoone. drOgas<lle. lnflltredo lnRamatório e fibrose in1et11iciais seamdários a drogas. nelropetia de cilindro em mietoma ml)lllplO. outras paraprotei~i8s. anemio falcllom>e, doenças autolmunM. amiloidole. e;nbolla por colesterol Abrose do ~ulma renal pela presença do mílltlplos clstos tubutan)s QESf:~ aegm•wll1r e leal: l.1S: IUpuo e<t-slol.6micoç HCV: '-ileC Estadlamento Recomenda-se estadiamento da DRC com base em dois critérios laboratoriais: a estimativa do RFG (Tabela 1) e albuminúria (Tabela 2). A depender da gravidade dessas duas variáveis, pode-se estimar o prognóstico da DRC . ...... 1. ª' 1ltlceçlo de doençe ...... cn!r*8 eegundo o lltmo de Nnçlo glomerular CMegoNi RFG(mll Denomlneçlo deRFG mln/1,73 m2J Gt :! 90 Normal G2 6()-811 Oisaell!menta recluzida G3a 4S--59 Dita'etamente a modeoldamente reduzida G3b 3o-46 Moderada a gravemente reduzida G4 1 ~29 Gf8YCll1MIO reduzida G5 < 15 r..i.ncia ranal IOMO<~deKDIGO (2013Y. ..... 2. Cluoitlceçlo de olbumin(llil ne doença 181111 aOnlca Calego<te de TEA RAC 0.-lneçlo allumlnollia (mg/2411) ( ....... nl8do) (mglfl) AI <30 <30 Normal& disctetamenlO IYmMtada A2 30-300 30-300 Modetadamente aumentada 113 >300 >300 Muito aumentada RAC>~-,,., ............. _TEA:_dee>ereçtode•--""""'*de KOIGO ~13)'. Prognóstico Função renal de base reduzida e albuminúria eleva- da são os pr incipais preditores de progressão da DRC. Nesse sentido, o grupo KDIGO propôs a o prognótico mostrado na Figura 1 para estimar o risco de progressão da lesão renal, com base no espectro de perda anual de taxa de filtração glomerular, que pode variar de 0,5 mU min/ano até valores superiores a 10 mUmin/ano. Categorias do albuminúria AI A3 GI G2 G3b • Figure 1. ProgncSslloo do progressão da ORC segundo RfG o ca- tegoria ele albumlnúria - vereie: balxo risco; amarelo: rtsco moderado; laranja: alto risco; vumelho: risco muito alto. ÍOOl«-.,.OdadeKOIGO ~13)'. Avaliação da filtração glomerular Conforme mostrado na Figura 2, a creatinina sérica somente apresenta elevação significativa quando o RFG encontra-se abaixo de 50 mlJmin. Desse modo, a dosa- 14 12 ::J ~ .s 10 ·~ ~ 8 ·~ 6 .,, i à 4 2 25 50 75 100 125 150 Ritmo de filttaçao glomerular (fllUmln) • Rgura 2. Curva creatinlna sér!ca x ritmo de filtr&çao glomerular. ron .. , Adaptado de Ou>..., czo 11 >'· gem isolada da creatinina sérica não serve como estima- tiva acurada do RFG, devendo-se utilizar algum dos mé- todos abaixo para adequada avaliação da filtração glomerular. O RFG pode ser medido diretamente por meio de: • Coleta de urina de 24 horas (com dosagem conco- mitante de creatinina na urina e no sangue): como a crea- tinina é secretada nos túbulos, pode ocorrer superestima- ção do RFG. • Infusão de inulina (com dosagem concomitante- mente de inulina na urina e sangue): a inulina é um açú- car que é filtrado nos glomérulos e não sofre ação dos tú- bulos renais (i.c., não é secretada nem absorvida nos túbulos renais e, portanto, estima de maneira acurada a filtração glomerular). Porém, não tem aplicação na prá- tica clínica diária. • Depuração de marcadores exógenos, pela técnica de medicina nuclear: Os principais marcadores utiliza- dos são: o ácido etilenodiaminopenta-acético-Cr (EDTA- ·Cr ), o TC-DTPA (pentetato de Tecnécio) e iotalamato. Atualmente, as técnicas de medicina nuclear são con- sideradas o padrão-ouro para determinação do RFG na prática clínica, uma vez que frequentemente ocorrem er- ros na coleta do exame de urina de 24h. Pode-se também estimar o RFG por meio de fórmu- las validadas, descritas abaixo: • Cockroft-Gault: RFG = ( 140 idade) x peso (em kg) X 0,85 (se mulher)/ 0,72 X SCr. • MDRD: RFG = 175 X SCr1•1S4 Xidadc-4.0> X 0,742 (se mulher) x 1,212 (se negro). Sendo SCr = "creatinina sé rica". • CKD-EPI: trata-se de uma fórmula mais recente e reconhecidamente melhor que as duas acima para esti- mar o RFG em pacientes com DRC e que foi derivada a 11 DOENÇA RENAL CRONICA 1 675 partir de um grupo de estudos com mais de 8 mil pacien- tes. Tal equação é extremamente complexa para serdes- crita neste capitulo. Recomenda-se utilizar ferramentas 011/i11e para cálculo do RFG a partir desta fórmula. Uma importante observação a ser feita é que a esti· mativa do RFG deve ser normalizada para a supertlcie corpórea, uma vez que o estadiamento da DRC foi reali- zado a partir de uma supertlcie corporal padrão de 1,73 m2• Por exemplo, para uma pessoa com supcrficie corpo· ral de 1,9 m2 e com depuração de creatinina estimada não corrigido = 60 mUmin, teremos, na realidade, um RFG = 54,6 mUmin/1,73 ml. Complicações da doença renal crônica A perda progressiva da função renal acarreta diver- sas alterações sistêmicas, descritas abaixo: • Alteração do controle volemico: de maneira geral, pacientes com DRC têm dificuldade de concentrar ou di- luir a urina. Classicamente, há menor capacidade de ex- creção de sódio e água, com tendéncia à hipervolemia, se não houver adequação da ingestão hldrica e/ou de sal. Um dos primeiros sintomas da DRC, a noctúria, é mani· festação dessa incapacidade de concentração urinária. Por outro lado, certas patologias renais cursam com compro- metimento tubular importante, podendo causar poliú- ria, com tendência à desidratação se houver redução da oferta hldrica. • Desnutrição: um dos sintomas clássicos da uremia, a anorexia, decorre tanto do acúmulo de escórias nitro- genadas quanto do maior estado inflamatório sistêmico, podendo levar a perda ponderai e desnutrição proteico- -calórica. • Anemia: diversas causas contribuem para anemia na DRC, sendo a deficiência relativa de eritropoctina {EPO) a principal causa. A EPO é produzida nos rins, pc· los fibroblastos peritubulares, e atua na medula óssea es- timulando células precursoras de célu.las vermelhas a pro- liferar. Na DRC ocorre perda da massa renal e, portanto, menor produção de EPO. A DRC é também uma situa- ção de inflamação sistêmica, proporcionando o desenvol- vimento da anemia da doença crônica. Citocinas infla- matórias inibem a ação da eritropoetina na medula óssea e estimulam a produção hepática da hepcidina, um pep- tídeo que inibe a absorção intestinal de ferro e a mobili- zação do ferro estocado nos macrófagos do sistema retl- culo endotelial. Portanto, é muito comum na DRC a deficiência de ferro. Além disso, as perdas de ferro são comuns em pacientes com DRC, uma vez que eles fre- quentemente apresentam displasias vasculares na parede intestinal, associadas à enterorragia. Pacientes em hemo- diálise também apresentam perdas sanguíneas relaciona- das ao procedimento. Outro aspecto que contribui para a anemia da DRC é a menor vida média da hemácia. Nos pacientes com função renal normal, a vida média das he- mácias é de cerca de 120 dias, enquanto nos pacientes com DRC a vida média das hemácias é de cerca de 90 dias. Esse aspecto ainda não está bem esclarecido, estando pos- 676 CLÍNICA M!OICA • DOENÇAS RENAIS sivelmente relacionado a certo grau de hiperesplenismo. Os pacientes com DRC, como será explicado a seguir, apresentam hipcrparatircoidismo (i.e., um maior funcio- namento das glândulas paratireoides). Nessa situação ocorre fibrose da medula óssea e menor produção de gló- bulos vermelhos. Ainda concorrem para anemia da DRC as deficiências de vitamina Bl2 e ácido fólico, por conta das restrições alimentares recomendadas para esses pa- cientes. A anemia causa palidez cutânea, indisposição, di- minuição da atenção e insufici~ncia cardíaca. Ela costu- ma aparecer na categoria 3 de DRC e é quase universal nos pacientes nas categorias mais avançadas de DRC. • Imunodeficiência: por redução da imunidade ce- lular e humoral; • Doença mineral óssea da DRC: na DRC ocorrem diversas situações que estão associadas à maior produção de paratormônio (PTH). Sendo elas: a diminuição da eli- minação renal de fósforo, a deficiência de vitamina D ati- va e diminuição do cálcio sérico. Com a perda da função renal ocorre menor eliminação renal de fósforo, que in- duz a produção, nos osteócitos, de FGF23, uma protelna que tem a função de evitar o aumento sérico de fósforo. O FGF23 diminui a reabsorção tubular de fósforo e, por- tanto, aumenta a excreção renal de fósforo. O FGF23 tam· bém inibe a la-hidroxilase, enzima renal que acrescenta uma hidroxila na 25(0H)vitamina D, transformando-a na l,25(0H)2vitamina D, a forma mais ativa da vitami- na D, que já tem sua produção diminuída por conta da perda da massa renal que ocorre na DRC. Em decorrên· cia da deficiência de vitamina D, ocorre menor absorção intestinal de cálcio e, com isso, hipocalccmia. • Distúrbios hidroelctrollticos: notadamcnte acido- sc metabólica e hipcrcalcmia. Insuficiência renal crônica • Figuras. Rslopatologla do hipctparatlreoidismo na ORC. O controle do pH sanguíneo é dependente dos pul- mões, rins e tampões plasmáticos. Nos rins, o excesso de lons H• é eliminado por meio de acidez titulável e au- mento de excreção de amônia. Nos estágios mais avança- dos de DRC, a capacidade de produção de amônia é li- mitada, com predisposição para acidose metabólica. Existem evidências de assoc.iação entre acidosc metabó- lica e progressão da DRC, sendo recomendada a manu- tenção dos níveis de bicarbonato sérico acima de 22 mEq/L. Com relação ao potássio, à medida que ocorre a per- da de função rena.1, existe um aumento de sua fração de excreção pelos seguintes mecanismos: aumento do fluxo intratubular de potássio, aumento da oferta de sódio ao néfron distal, elevação da produção de aldosterona e au- mento dos canais ROMK no néfron distal, com conse- quente aumento tubular das concentrações de potássio. Porém, nas categorias mais avançadas de DRC, tais me- canismos compensatórios tendem a ser insuficientes, com tendência ao acúmulo de potássio. A relevância cllnica disso é de enorme importância, uma vez que a hipcrca- lcmia pode ser fatal na DRC, por estar associada a arrit- mias graves, como a fibrilação ventricular. Exames clínicos e laboratoriais Qumdro s. Prfndpels--. dfnlcoo e labooe10118ia IOllcbdoe ne avalieçlo da ORC A..ilaçlo Avaliaçêo clínica g!Qbal Eu.-. ~aiterial Peso COIJlOl1I Colcmrol tO!All e froçOes Gllcemla de jejumlhernoglobll1' gllcotiada Avalbç&o rel1'1 Urela Oistúttõos hldroelettc>lltloos e ac:idob6slcos Oislúttõos do me«aboli$m0 óssoo-mlnetal Avaliaç&o hematológica Ctoalínll1' Uril1' I Albwnlmlria Ultra5SOllog111fia de rins e vias urirnlrins Sódío FoWslo Gasometria - QllciO ió<liCo 8 IOUll Fósloco 25-0H vlwnlna D Pannonnõnlo Fosfetase elc81ina Hemograma completo Contagem de nlliculócitm Pend de ferro. 'iÍ!Bmina 812. éc:ido fólioo Prevenção da progressão da doença renal crônica Existem diversas medidas medicamentosas e com· portamcntais que auxiliam na prevenção da progressão da DRC. As principais recomendações são: 1. Redução da proteinúria. Pode ser obtida por meio das seguintes medidas: redução da ingestão diária de pro· teinas pa.ra < 0,8 g de proteína/kg de peso corporal, uso de inibidores de conversão de angiotensina (JECA) ou bl<><1ueadorcs do receptor de angiotensina (BRA). 2. Controle de pressão arterial. Recomendam-se al- vos< 140/90 mm.Hgsomcnte se não houver microalbu- minúria ( < 30 mg albuminúria em 24h). Para quaisquer outros niveis de albuminúria, recomenda-se pressão ar- terial < 130/80 mmHg. Além de lECA/BRA, diuréticos e bloqueadores de canal de cálcio devem ser inicialmente considerados, mas qualquer outra classe pode ser associa- da com o objetivo de controle da pressão arterial. 3. Restrição de ingestão de sódio. Indicada como ad- juvante no controle vol~mico e pressórico, recomenda-se reduziringestão de cloreto de sódio para nivcis inferiores a 5 g/dia (2 g de sódio elementar). 4. Controle de diabete mclito. Redução de nlveis de hemoglobina glicosilada para valores inferiores a 7% po- dem promover redução de proteinúria e, consequente- mente, da progressão da DRC. 5. Evitar drogas nefrotóxicas. Entre elas destacam-se os anti-inílamatórios não csteroidais e contraste iodado como principais agentes nefrotóxicos. 6. Redução de peso e atividade fisica. Ambos estão associados com menor progressão da DRC. O controle de dislipidemia (colesterol LDL < 100 mg/dL) também é útil nesse contexto. 7. Cessar tabagismo. Adjuvante no controle da pro- gressão da atcrosclerose, que está francamente associada à disfunção renal crónica. 8. Correçào da acidose metabólica. Existem cvid~n cias que sugerem que a manutenção de nlvcis de bicarbo- nato acima de 22 mEq/L diminui a progressão da ORC. Causas de descompensação aguda da doença renal crõnica Durante o curso da DRC, diversas intcrcorrencias po- dem suscitar pioras agudas da função renal. Tais surtos po- dem contribuir para aceleração da evolução da ORC, de- vendo ser prontamente identificados e tratados (Quadro 4). Recentemente, o papel da lesão inflamatória renal tem ganhado espaço como importante causa de descompen- sação aguda da função renal. Pacientes sépticos, mesmo após adequada reposição vol~mica, podem seguir oligú- ricos por disfunção da função tubular. Outra causa rara- mente reconhecida corresponde a quadros de congestão venosa, induzida por excesso de reposição vol~mica ou fal~ncia aguda de venttkulo direito, pela redução da fil- tração glomcrular induzida por hipertensão venosa. Tratamento da doença renal crônica O tratamento de um paciente com DRC deve ser mul- tidisciplinar, com envolvimento de médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos. assistentes sociais e fisiotera- peutas. Pelo caráter sistémico da doença, dividir o trata- mento conforme alie.rações clinicas e laboratoriais auxi- lia seu manejo. 11 DOENÇA RENAL CRÔNICA 1 677 Qwlla .. e.-de delCOmpenMçio de ORC. tegUl1do .... gle C.-p.+twls e.-...,... (leslo C.-p6e ,.,. (llellocNbllo) ....... Ili~ llCeOll (~) 116nsll6ste) Desimtaçêo Sei* Disfunção wnlricolat An1lbl4clool e$(!Uetda aguda (Jmlnoglicosk*s. 1ntlfOfl91c:os. wncomiciM) Sepse (antes do Mioglobina ressusdtaçlo W>IMlica) Excesso de~ ConllaSle Iodado Plgmentoe bol1- And-lnn.m.t6rio nlo homlonal Manejo da anemia O tratamento da anemia é vital nos pacientes com DRC, tanto por evitar desenvolvimento de complicações cardiovasculares, notadamcnte hipertrofia ventriculares- querda, quanto por evi tar transfusões de hemoderivados (que aumentam a exposição a antlgenos populacionais, dificultando um posterior transplante renal do ponto de vista imunológico). O tratamento farmacológico da anemia deve ser fei- to por meio da reposição de ferro, preferencialmente por via parenteral Considera-se tal reposição quando a satu- ração da transferrina encontra-se inferior a 30%, com va- lores de ferritina abaixo de 500 ng/mL Posteriormente, pode-se associar medicamentos es- timuladores da eritropoese, que são classicamente indi- cados quando nivcis de hemoglobina (Hb) estão abaixo de 10 g/dL cm tratamento conservador de DRC e após a suplementação de ferro. Deve-se evitar correção da Hb para valores similares aos da população geral, pelo risco de eventos tromboembólicos. Doença mineral óssea Controle de fósforo sérico Um dos pilares do tratamento da doença mineral ós- sea (DMO) associada à DRC consiste no controle do fós- foro sérico. Para isso, considera-se restrição alimentar de fósforo (entre 700 a 1.000 mg/dia), com o objetivo de man- ter os niveis de fósforo sérico dentro dos va.lorcs de nor- malidade. Os principais alimentos que devem ter seu con- sumo reduzido estão descritos a ~uir: Alimentos ricos cm fósforo: • Carnes cm geral. • Ovos. • Leite e seus derivados. • Grãos (feijão, amendoim, nous, ervilha, soja). 678 CLINICA M(DICA • DOENÇAS REHAIS • Corantes e conservantes (muitas vezes encontra- dos cm alimentos processados artificialmente). • Refrigerantes (sobretudo os derivados de cola). Uma possibilidade a ser considerada consiste no uso de quelantcs de fósforo, como o carbonato de cálcio ou sevelamer. Tais medicações devem ser ingeridas antes ou junto às refeições, como forma de redução da absorção de fósforo intestinal. ReposlÇ<lo de 25(0H)vitamina D Paralelamente ao controle do fósforo sérico, a suple- mentação de 25(0H)vitamina D é importante no con- trole da DMO da DRC. Com a progressão da DRC, me- nor é a capacidade dos rins em hidroxilar tal substância cm sua forma ativa, a l,25(0H)2vitamina D (calcitriol). Dessa forma, a reposição de 2.S(OH)vitamina D parava- lores acima de 30 nglml é indispensável como tentativa de otimização da gênese de calcitriol. Pode-se usar o er- gocalciferol ou colecalciferol como reposição. Análogos de vítamina D O calcitriol produzido a partir da hidroxilação da 25(0H)vitamina D nos rins inibe a produção de parator- mônio pelas glândulas paratireoides. Se houver hiperpa- ratireoidismo secundário (níveis de 1rrH > 65 pg/mL), a despeito da restrição de fósforo, uso de quelantes de fós- foro e reposição de 25(0H)vitamina D. pode-se utili.zar medicamentos como o calcitriol ou paricalcitol, como forma de supressão de PTII. Calcimimélicos São ativadores alostéricos do receptor de cálcio das glândulas paratireóideas, aumentando a sensibilidade des- sas glândulas ao cálcio extracclular. Devem ser usados so- mente em pacientes dialiticos, quando os níveis de cálcio e fósforo estiverem elevados (i.e., quando o uso de aná- logos de vitamina D deve ser evitado). Pamtireoidcctomia Está indicada em pacientes com DRC nas seguintes situações: • Hiperparatireoidismo secundário, com PTH > 800 pg/mL associado a: - Hipercalcemia ou hiperfosfatemia refratárias ao tratamento dioico. - Calcificações extraósseas ou arteriolopatia ur~mi ca calcificante (calcifilaxia). - Doença óssea avançada e progressiva que não res- ponde ao tratamento dJnico. - Glândulas paratireóideas volumosas à uhrassono- grafia (> t,Ocm'). Hipertensão arterial O tratamento deve ser amplo, abrangendo ta.nto al- terações comportamentais quanto medicamentosas. As principais recomendaçoo são descritas a seguir. Restrição de sódio Limitar ingestão de sódio, conforme preconizado pela dieta Dash, é de fundamental importância para controle prcssórico nessa população. RestriÇ<lo hldrica Deve sempre ser recomendada quando há sinais ou sintomas de sobrecarga hldrica, como presença de ede- ma de membros inferiores, turgência de veias jugulares, crepitações à ausculta pulmonar, queixa de dispneia, or- topneia e dispncia paroxJstica noturna. Diuréticos Trata-se de uma classe de medicações essencial cm pacientes com DRC, por ajudar no restabelecimento do balanço hídrico. Os mais utilizados são os diuréticos de alça, os diuréticos tiaz.fdicos e os a.ntagonistas da aldost.e- rona (com a ressalva de que esta última classe pode indu- zir hipercalemia). Anti-hipertensivos Qualquer classe de anti-hipertensivos pode ser utili- 1.ada em pacientes com DRC. Preferencialmente, utili1.ar IECA ou BRA (especialmente se proteinúria), por haver evidências de retardo de progressão da DRC, tanto em diabéticos quanto em não diabéticos. O uso combinado dessas medicações é contraindicado cm pacientes com fa- tores de risco cardiovascular adicionais, principalmente pdo risco de hipercalemia. Vacinação Pacientes com DRC devem receber todas as vacinas do calendário vacinai básico, acrescidas de: • Hepatite A (2 doses). • Hepatite B (4 doses: O, 1, 2 e 6 meses). • Influenza anual. • Pneumocócica 23v (2 doses com intervalos de 5 anos entre elas). • Varicela (2 doses). • Haemop/1i/11s i11flue11zae B (dose única). Distúrbios hidroeletrolfticos Existem diversas alterações hidroeletrollticas quepo· dem surgir no curso da DRC, algumas secundárias à própria doença renal, com suas esperadas alterações de função tubular e outras cm virtude do manejo clínico, medicamentoso. A seguir, o Quadro 5 mostra as causas possiveis do distúrbio hidroclctrolltico. Indicações de terapia de substituição renal Considera-se indicação de terapia de substituição re- nal (TSR) para os pacientes com DRC estágio V com, ao menos, um dos sintomas a seguir: ~ li. Pltnc:ipels - do cislÕfblol hidloeleCJolitlool RI DRC e - 1r11ementO amlJuleloriel heblluel DIS1llltilo Pstldpala c:auw n- .. mo hldroelelrolftle ·~ Hipercalemia Uso de IECNBRA. Descontinuar drogas anuigonlsW da queca- eldoslerona. hlperce~lo Progreuão da DRC lnvodulír diuréúcos Restringir lílge$1Ao de alimentos ricos em pcl(énio Hipocalemla Usodediurétlcos Tratar oonlonne Dlaneialllómitoe causa di&gnoellcada Baixa ingestAo da po(ássio Hipom$9N1$8111ialalcalose me111bótica Sfndromes de Bamer. Gltelman ou Uddle Acidose Progressão da DRC RoposlÇ6o de melobõlica J\cidose lubular renal bicarbonato Alcalose Uso cxcesslYo de Ajuste de dose de melobõlica diUltllcos dlutOOcos Slndrorne do Baruer Contldetlr Sfndrome de Glielman Ml!lg0nl$18$ da aJdo$terona Hipematremla Uso de diuréticos de olçe Ajuste da dose de + rellrlçlo hfdrlca diuréticos e adequação da in90$IA<> hldrica Hiponauemla Elevada lngestlo hklrlca Ajuste da dose de (associllde ou nao e dlurédcose diuréticos de alça) adequação de Usodcdiu~ ingestão hklrice dazldicos Uso de antidep<msiYos Hipomegnetemia Uso exteSSNC> de Ajuste de dose de dlurétlcos diuréticos Sfndrome de Gitelman. Reposlçlo de Batttef magn6Sio Hipercaloemla Uso e.c:easNo de Ajuste de medicações 8 base de medicaQões a!lcioMlarnlna D Tra1amento do Hlperpatallrcoldismo hlperparollr0old*'1o Tumores (produçlO do ouca-.- PTHrp) Hipocalcemla Rcduçllo da produçllo de RoposlÇ6o de calcitriol colecalciforol Consldeter reposlçlo decáldo Hipclfoslatemla HiperparaUrcoldismo. oom Reslliçlo 1limen11t disfunção renal 8$$0clllda de fósforo Uso de quelantes de lósfc•o Hipoloslllemla Hipe<paretlreoldlsmo, oom Tratamento de função tubular renal doença de bate preseMlda Reposlçlo de OefldMc:la de '118"*'8 D vilamina D Acldose IUbular renal ReposlÇ6o de fósforo proximal Raquilismo, osteoma1*:ie 11 DOENÇA RENAL CRÔNICA 1 679 • Hipervolemia refratária à restrição de sódio e água e ao uso de diuréticos. • Anorexia ou sintomas gastrintcstinais (náuseas, vô- mitos). • Hipercalemia/acidose refratárias ao tratamento cU- mco. • Pericardite, sangramentos ou encefalopatia atri- bulveis à uremia. Portanto, a indicação de TSR é iminentcmente clíni- ca, associada à determinação do ritmo de filtração glo- merular. Pacientes com DRC podem seguir o tratamen- to conservador mesmo com valores de depuração de creatinina tão baixos quanto S a 10 mUmin/1,73 ml, des- de que permaneçam assintomáticos, sem perda ponderai e sem alterações clinico-laboratoriais relevantes. Terapias de substituição renal Existem quatro possibilidades a serem ponderadas diante da necessidade de indicar TSR ao paciente com DRC: • Hemodiálise. • Diálise peritoneal. • Transplante renal. • Tratamento conservador (paliação). A escolha do método é uma decisão conjunta entre o paciente e toda a equipe que o assiste (especialmente, médicos, enfermeiros e psicólogos). A principio, o trans- plante renal é a melhor opção de TSR, por conferir maior sobrevida em longo prazo em relação aos métodos diali- ticos. No entanto, por conta da escasse-z da oferta de ór- gãos, raramente é posslvel realizar um transplante renal precmptivo (i.e., antes do inicio de outra TSR), a não ser que exista um doador de rim (transplante intervivos). Desse modo, em geral, elege-se entre hemodiálise e diá- lise peritoneal. A primeira é comumente realizada em cen- tros especializados, três vcus por semana. A segunda é realizada em ambiente domiciliar, sendo o paciente - ou o cuidador - responsável pela realização do método. A escolha de uma ou outra modalidade, portanto, depende de uma série de outros fatores, como: idade do paciente, peso corporal, diurese residual, capac.idade de autocui- dado, nlvel de instrução, adesão à terapia medicamento- sa, tipo de residência, entre outros. Para indicação de he- modiálise, não existem contraindicações absolutas. Para diálise peritoneal, existem algumas restrições, como obe- sidade, pouca diurese residual e aus~ncia de suporte fa. miliar adequado. Por fim, em alguns casos, como pacientes debilitados por outros motivos que não pela DRC, como ncoplasias avançadas, outras doenças crónicas avançadas, dem~ncia grave e acamados, especialmente quando houver expecta- tiva de vida inferior a l ano, pode-se optar por não iniciar TSR. Nesses casos, está justificada a manutenção da tera- pia conservadora como parte dos cuidados de fim de vida, por não se acrescentar qualidade de vida ao paciente. 680 CLÍNICA MtDICA • DOCNÇAS R(NAIS Considerações finais A DRC é uma ent idade cuja incid~ncia é crescente, por conta do envelhecimento populacional e do aumen- to da preval~nóa de doenças crônicas como hipertensão arterial e diabete mclito. O diagnóstico precoce da DRC, por meio de exame de crcatinina séric:a, e seu acompa- nhamento adequado, com controle dos fatores de risco para sua progressão e suspensão de medicamentos e pro- cedimentos potencialmente nefrotóxicos, podem alterar a evolução dessa doença e evitar diversas complicações cardiovasculares, ósseas e sisttrnicas. Por 6m, se necessá- rio for, existem opções para substituição renal, que pos- suem o intuito de prolongar a sobrevida e aumentar a qualidade de vida desses pacientes. Referências bibliográficas 1. S...O RC. Lopo M. Thomt l1S. 1._ li\. Wawub< Y,.S.. S""°" OR. I~ oíihe Brat.ilian Ouonk Di.tlysi.s C<n.1u1 2012). I Bra1Ntfrol. 2014 Ja_n• M.,. .J6( 1 }:45· )S. 2.. 13doqDi<n>elmpr<Mngct.IWO..-. (ll>ICO)CXDWorkc-i..KD1· COdinial pncóapaiddin< M< thr<Vll"''""' anel........,_,, ot duonlc W · O<T- IGdocr lnt S.J'l'I. 201l:l: l · ISO. J. l:ld,,..,D!o<ti<.~GlobolOu- (KDICO) CKJ>.MBDWOltC""'1' i:DICO dinial pnctK. guJd<!in< to. 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