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Filologia Portuguesa - Resumo

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Filologia Portuguesa
Resumo
Unidade 1 – Por que estudar a história da língua?
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
· conhecer as origens e papel na compreensão da história das línguas românicas; 
· compreender a diferença existente entre linguística diacrônica e linguística histórica, bem como a mudança de mentalidade que essa diferença representou;
· reconhecer a existência de aspectos históricos na identidade da língua de hoje; 
· identificar as principais teses por trás do debate sobre as origens do português brasileiro.
Essa unidade está organizada em quatro tópicos. Em cada um deles você encontrará dicas, textos complementares, observações e atividades que lhe darão uma maior compreensão dos temas a serem abordados.
Tópico 1 – Um pouco sobre a história da Filologia
Tópico 2 – Da linguística diacrônica à linguística história: Uma mudança de mentalidade.
Tópico 3 – Aspectos históricos na identidade da língua de hoje.
Tópico 4 – O debate sobre as origens do português brasileiro.
TÓPICO 1
UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DA FILOLOGIA
· Similaridades entre o latim e o grego clássicos.
· Crenças: escolástica cristã latim grego hebraico Falada por Adão.
· Escolástica (1100 a 1500).
· XVII (a chamada revolução científica), cresceu o interesse pelas línguas do Oriente.
· Filólogo Sir William filólogo Sir William Jones (1746-1794). Sânscrito Latim Grego Persa indo-europeu (1786).
· Pedra fundamental da linguística histórico-comparatista.
· A filologia é tradicionalmente considerada “o estudo dos textos antigos”. Para fins de estabelecimento, interpretação e edição, mas na Idade Moderna os filólogos passaram a assumir também a tarefa de descrever e explicar o desenvolvimento histórico das línguas com base nos textos antigos.
· Estabelecer um texto antigo significa organizá-lo, a partir do confronto de manuscritos, comentários ou edições antigas, a fim de oferecer aos leitores e estudiosos do momento atual uma versão o mais completa e fidedigna possível.
· A interpretação de textos antigos, por parte do filólogo, passa principalmente pelas notas e paratextos que complementam o estabelecimento de um texto. Os paratextos envolvem introduções, prefácios, apêndices, estudos complementares etc. que acompanham o texto estabelecido numa edição crítica.
· A edição de textos antigos, por fim, é o trabalho final, posterior ou concomitante ao estabelecimento e à interpretação. Envolve editar de fato o texto, isto é, prepará-lo para ser publicado, definindo-o com base em critérios científicos.
A LINGUÍSTICA HISTÓRICO-COMPARATISTA E O INDO-EUROPEU
· Elos que ligam as línguas do Velho Mundo e do Oriente.
· Essa constatação abriu o caminho para que o termo “indo-europeu” fosse cunhado, em 1813, pelo polímata inglês Thomas Young.
· A linguística nasce, relegando para a filologia um campo de ação mais limitado.
· Quando Saussure fundaria definitivamente a linguística moderna, estabelecendo a divisão entre análise sincrônica e análise diacrônica, a filologia, além de continuar sendo reconhecida como “o estudo dos textos antigos”, passou a se confundir com a disciplina “história da língua” e com a chamada “linguística diacrônica”, mas nunca mais foi reconhecida como a ciência da linguagem em sentido amplo, pois essa atribuição se tornou exclusiva da linguística.
· Análise sincrônica é pontuar no tempo e espaço as configurações adquiridas por determinada língua, ou seja, é fazer uma fotografia.
· Análise diacrônica de uma língua, ao contrário da análise sincrônica, é justamente olhar para a evolução dessa língua no tempo, a fim de encontrar explicações para os processos que a levaram a ser como ela é em determinado momento histórico; ou seja, é fazer um filme daquela língua.
· Ao descrever determinados sons como “oclusivas surdas”, “fricativas surdas”, “oclusivas sonoras”, “oclusivas aspiradas”, “oclusivas sonoras”, estamos usando uma nomenclatura fonética que baseia essa descrição no ponto de articulação e no modo como os sons são produzidos no nosso aparelho fonador. Essas descrições, especificamente, fazem referência ao modo. Por exemplo, “oclusivas” (também chamadas de plosivas) são aquelas consoantes que soam quando nossa boca fecha a passagem do ar (oclusão) e em seguida o som sai explodindo (por isso, plosivas). “Surdo” ou “sonoro” diz respeito ao fato de as cordas vocais vibrarem ou não na produção do som, respectivamente. Fricativas são aquelas consoantes que soam quando o ar passa raspando (fazendo fricção). 
· O indo-europeu, a propósito, é considerado um tronco. E, caso você esteja se perguntando, ele não é o único existente no mundo. Há outros troncos linguísticos, como o semítico, o sino-tibetano e o altaico.
· história interna (a história das suas mudanças estruturais, independentemente das influências sociais, geográficas etc.) quanto da sua história externa (a história dos fatores externos à estrutura da língua, as mudanças sociais, guerras, colonizações, migrações etc. que motivaram a mudança linguística).
· A intenção é formar estudantes aptos a usar as diferentes variedades e registros do português brasileiro, com proficiência e adequação aos diferentes contextos.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
· O latim descende mais especificamente do itálico, uma língua indo-europeia falada na Península Itálica antes de o latim surgir e imperar na região.
· O português descende mais especificamente não do latim, mas do romance – no caso, do romance ibérico.
· A história interna mostra como as regras estruturais da língua foram mudando, e o sistema foi se reorganizando. Essas mudanças estruturais podem acontecer motivadas por possibilidades inerentes ao próprio sistema, ou motivadas por fatores externos que induzem ajustes na estrutura da língua. Muitas vezes podem acontecer por ambas as motivações, isto é, já existe uma motivação interna para a mudança e, além disso, alguma motivação externa “dá mais uma ajudinha” para a mudança acontecer.
EXEMPLOS DE MUDANÇAS POR MOTIVAÇÃO INTERNA E EXTERNA AO SISTEMA
· Latim, mudança estritamente estrutural: Assim como ainda acontece no português brasileiro (PB), no latim arcaico (falado entre os séculos II e V a.C.), havia uma tendência a se apagar o som nasal em final de palavra. Por exemplo, assim como no PB muitas vezes dizemos viagem [viaʒi] ao invés de viagem. Esse fenômeno se tornou mais e mais regular, e fez com que a língua tivesse que se reorganizar. 
· na língua latina, hoje nossa língua é uma analítica, em que a ordem das palavras é fundamental para o significado: temos que dizer “o estudante está lendo o livro”, pois, se dissermos “estudante o está livro o lendo”, a frase ficará incompreensível. Em latim, que era uma língua sintética (pois a palavra sintetizava nela mesma sua função sintática), a ordem das palavras na frase era mais livre.
· Um exemplo de mudança por motivação externa. A Península Ibérica, onde estão Espanha e Portugal, passou por cerca de sete séculos de domínio dos árabes (os mouros), do séc. VIII ao séc. XV. O contato da língua árabe com o romance ibérico (aquela língua da qual derivaria o português) deixou muitas marcas, sobretudo no léxico (no vocabulário da língua). O artigo definido do árabe é a forma al; por isso, todas as palavras iniciadas por al- em português são de origem árabe, já que se lexicalizaram na nossa língua incluindo o artigo no radical. Exemplos são: alface, alfavaca, alfaiate, alfândega, albergue, alecrim, almoço(que é uma arabização do latino admorsus), almoxarife, almanaque, alambrado, entre muitos outros. Muitas vezes, o /l/ do artigo al caía por motivações fonológicas, reduzindo-o apenas a /a/. Por isso temos, na língua, vocábulos como açafrão, acelga, acém, açougue, açúcar, azar, azeite, azeitona, azul, azulejo, atabaque, ataúde, amálgama, andaime, andaluz, anil, anta, arraia, arraial, arroba, arroz etc.
· Mas, engana-se quem pensa que a influência árabe ficou apenas no inventário lexical da língua. O grande influxo de léxico árabe na língua acabou forçando mudanças estruturais nela, particularmentena morfologia e na prosódia. “Sabemos que a maioria dos vocábulos terminados em /i/ tônico, ou ainda /im/ ou /il/, são influências árabes” (SILVA, 1996, p. 150). Por exemplo: javali, anil, cantil, covil, alecrim, carmesim, cetim, gergelim, jasmim. Na morfologia, isso fez com que surgisse uma quarta classe nominal na nossa língua além das outras três herdadas do latim (as de tema em a, o e e); muitas vezes essa classe é chamada de atemática. Na prosódia, isso motivou a criação de um novo padrão acentual. O acento natural do romance ibérico recaía sobre a penúltima sílaba, como é ainda hoje na nossa língua na maioria dos vocábulos – isso explica por que não colocamos um acento gráfico numa palavra quando o acento dela está na penúltima sílaba (como em palavra, casa, parede etc.). Entretanto, a influência árabe fez surgir uma nova regra para palavras terminadas em /i/ ou /l/, nas quais o acento natural recai sobre a última sílaba. Por isso não colocamos acento gráfico nas palavras mencionadas acima, pois ao lê-las reconhecemos que o acento naturalmente está na última sílaba – prova de que se trata de uma regra prosódica.
DO LATIM AO PORTUGUÊS
· O surgimento de uma nova língua é algo muito mais político do que linguístico. Reconhece-se que uma nova língua existe quando as pessoas (em geral, os governos) afirmam que uma nova língua está sendo falada.
· Na Península Itálica, por exemplo, a língua falada na região do Lácio (ou Latio, de onde vem o termo latim) nada mais era do que um dialeto do itálico, que coexistia com outros dialetos dessa língua, como o piceno, o umbro e o osco. Portanto, em determinado momento, embora tivessem uma identidade gramatical própria, um léxico próprio etc., o latim, o piceno, o umbro e o osco nada mais eram do que dialetos do itálico. À medida que os latinos, com a ascensão de Roma, foram ganhando poder e prestígio sobre território italiano, eles também ganharam coragem para afirmar que a variedade do itálico que eles falavam não era só um dialeto, mas era uma língua: a língua latina – isso aconteceu por volta do séc. VII a.C.
· Ao longo da expansão do Império Romano, o latim foi levado para muitas regiões da Europa e nelas imposto.
· Imagine que era um latim falado pelos soldados (muito diferente do latim falado pelos senadores romanos) e, ainda por cima, cheio de influências das línguas nativas com as quais ele entrou em contato e foi influenciado. Não é à toa que os romanos faziam questão de diferenciar o latim falado em Roma (o que eles chamavam de latine loqui) do latim falado nas colônias (o que eles chamavam de romaniceloqui). Esse termo, romaniceloqui (algo como “o falar dos românicos”), era de certa forma pejorativo entre os romanos: significava o jeito (errado) como os colonos falavam.
· A propósito, o termo romance, usado para designar as línguas que derivaram do latim nas diversas regiões colonizadas pelos romanos, vem de romanice (pronunciado românice), resultado da síncope (da queda) do i no meio da palavra.
· Substrato (o estrato que está por baixo, na base), é a língua do colonizador, o latim; apesar disso, permaneciam muitos vocábulos das línguas nativas e certamente resquícios estruturais delas, na morfologia e em eventuais construções sintáticas; essas permanências compunham o seu superstrato (o estrato que está por cima, na superfície).
· Do séc. V, quando cai o Império Romano do Ocidente, até o séc. XII, quando surge a língua portuguesa, muita coisa aconteceu. Os ibéricos não passaram sete séculos em paz falando o romance ibérico como eles bem quisessem. Muito pelo contrário: foram sete séculos de guerra e submissão a novos conquistadores: primeiro os bárbaros e depois os árabes.
· Século XII, Afonso Henriques decidiu que o Condado Portucalense não seria mais um condado do Reino de Leão e passaria a ser um reino independente.
· Estava fundado então o Reino de Portugal, e, naturalmente, esse reino tinha que ter sua própria língua: estava fundada a língua portuguesa.
· O surgimento de novas línguas passa tanto pela mudança linguística propriamente quanto pela mudança política da comunidade que fala uma determinada língua.
· Na passagem para o romance, o latim deixou de ser uma língua sintética, por conta de erosões fonéticas responsáveis por apagar as marcas morfológicas que sustentavam a sintaxe latina, e assim o sistema românico se reorganizou em uma sintaxe analítica;
· Estabelecer um texto antigo significa organizá-lo, a partir do confronto de manuscritos, comentários ou edições antigas, a fim de oferecer aos leitores e estudiosos do momento atual uma versão o mais completa e fidedigna possível. A interpretação de textos antigos, por parte do filólogo, passa principalmente pelas notas e paratextos que complementam o estabelecimento de um texto. A edição de textos antigos é o trabalho final, posterior ou concomitante ao estabelecimento e à interpretação. Envolve editar de fato o texto, isto é, preparálo para ser publicado, definindo-o com base em critérios científicos.
TÓPICO 2
DA LINGUÍSTICA DIACRÔNICA À LINGUÍSTICA HISTÓRICA: UMA MUDANÇA DE MENTALIDADE
· Talvez você esteja se perguntando: ora, se eu aprendi que a linguística diacrônica olha para o desenvolvimento de uma língua de um ponto de vista histórico, analisando sua formação ao longo do tempo, linguística diacrônica e linguística histórica não seriam a mesma coisa? Teoricamente sim, porém na prática existe um debate, de viés teórico-ideológico, acerca dessas duas terminologias, sendo que de fato essa diferença terminológica revela uma mudança de mentalidade ocorrida no último século. Vamos entender melhor que mudança de mentalidade é essa.
LIMITAÇÕES DA LINGUÍSTICA DIACRÔNICA
· Havia uma compreensão limitada sobre o modo como os fatores sociais são determinantes no condicionamento da mudança das línguas.
· Apenas para citar um exemplo do que estamos tratando aqui, na Gramática do Português Antigo, de Joseph Huber, uma obra de excelência na área dos estudos romanistas, publicada em 1933, seu autor dedica, em meio a 420 páginas, apenas 20 páginas a uma seção intitulada “História externa da língua portuguesa”, reservando todo o restante da obra à sua história interna.
A LINGUÍSTICA HISTÓRICA
· No Curso de Linguística Geral, Saussure (1977 [1917]) faz uma série de insinuações relativas à dinâmica das transformações no plano diacrônico, mas trata timidamente dos fatores sociais. Porém, ao final da década de 60, quando Labov, junto de Weinreich e Herzog, publicou os Fundamentos Empíricos para uma Teoria da Mudança Linguística. A abordagem variacionista, fundada por esse trabalho, deu uma nova orientação para os estudos históricos sobre a linguagem, apresentando uma alternativa à abordagem histórico-comparatista em voga desde os séculos XVIII e XIX, que se mostrava cada vez mais incompatível com o estado da arte dos estudos linguísticos.
· Comparando brevemente as ideias de Meillet e de Saussure, podemos dizer que (i) Saussure opõe linguística interna (aquela que se ocupa estritamente da língua) e linguística externa (aquela que se ocupa das relações entre a língua e fatores extralinguísticos), e Meillet as associa; (ii) Saussure distingue abordagem sincrônica (estrutural) de abordagem diacrônica (histórica), e Meillet as une. Em suma, enquanto Saussure elabora um modelo abstrato da langue (sistema de signos), Meillet busca explicar a estrutura linguística por meio de fatores históricos e sociais. Essas ideias de Meillet, como vamos ver adiante, serão retomadas por Labov décadas depois.
· Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968], p. 274) mostraram que, no plano sincrônico, as línguas estão sempre em variação, numa “[...] heterogeneidade ordenada, que é a característica fundamental da linguagem”. Eventualmente, as variações podem resultar em mudanças na língua, as quais só aparecem no plano diacrônico, sendo que o fator decisivo para as motivar não é outro senão o fator social.
· Labov. Influenciados por Meillet, cujos trabalhos salientavam a natureza histórica e social da linguagem, Weinreich,Labov e Herzog (2006 [1968], p. 274) mostraram que, no plano sincrônico, as línguas estão sempre em variação, numa “[...] heterogeneidade ordenada, que é a característica fundamental da linguagem”. Eventualmente, as variações podem resultar em mudanças na língua, as quais só aparecem no plano diacrônico, sendo que o fator decisivo para as motivar não é outro senão o fator social.
· A compreensão dos processos de mudança linguística sob uma perspectiva pancrônica (considerando sincronia e diacronia em conjunto).
· A compreensão dos processos de mudança linguística sob uma perspectiva pancrônica (considerando sincronia e diacronia em conjunto).
· Exemplo de como a linguística diacrônica e a linguística histórica tratam diferentemente um mesmo fato linguístico: Pense nas possibilidades existentes para a realização (a pronúncia) do fonema /r/ em português brasileiro em fi nal de sílaba (pense em como se pronunciam as palavras porque e amor, por exemplo). Entre as diferentes possibilidades que lhe devem ter vindo à mente – além do erre forte [R] (o erre de radialistas), do erre tap [ɾ] (o erre do paulistano ou do gaúcho), da fricativa velar [ɣ] (o erre do carioca), da fricativa glotal [h] (o erre do litoral catarinense) – está o retrofl exo [ɻ], também chamado de “r caipira”. Se um linguista diacrônico fosse descrever a história dessa variante no PB, provavelmente ele diria que, no período da colonização, essa forma entrou na língua por conta do contato com línguas indígenas, especialmente o tupinambá e o guarani (já que essa realização do fonema /r/ não existe no português europeu e em nenhuma outra língua latina), e não iria muito além disso. Já um linguista histórico, além de mostrar que essa forma entrou via contato com línguas indígenas brasileiras, iria adiante, mostrando que essa forma é típica de dialetos rurais, que historicamente ela não foi frequente em dialetos urbanos, e que carrega um estigma social por isso, o que condiciona historicamente a sua presença na língua, vinculando-se a outros aspectos, como a escolaridade dos falantes, sua etnicidade, suas comunidades de fala, seu local de residência etc., além de condicionantes estritamente linguísticos.
TÓPICO 3
ASPECTOS HISTÓRICOS NA IDENTIDADE DA LÍNGUA DE HOJE
· Larrosa (2004, p. 34), comentando a obra de Michel Foucault, certa vez afirmou: “O que interessa ao historiador é a história do presente: não a verdade de nosso passado, mas o passado de nossas verdades; não a verdade do que fomos, mas a história do que somos, daquilo que, talvez, já estamos deixando de ser”.
A IDENTIDADE GRAMATICAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO E SUA HISTORICIDADE
· Existem fatos que distinguem, que identificam a língua que falamos, quando a colocamos em contraste, quando a comparamos com outras variedades da mesma língua, ou com outras línguas. Esses fatos distintivos compõem a identidade gramatical da nossa língua e, em última instância, compõem também a nossa identidade pessoal. Afinal, em certa medida, eu sou quem eu sou porque eu falo como eu falo. É ou não é?
IDENTIDADE GRAMATICAL E ASPECTOS DISTINTIVOS
· características que distinguem o português brasileiro do português europeu, às quais nos referimos no exercício acima, são permanências do latim ou do português arcaico no PB, ao passo que as variantes europeias são inovações mais recentes na história da língua.
· a identidade da língua de hoje é carregada de historicidade.
LÍNGUA E IDENTIDADE
· Os estudos sobre identidade especificamente eram pouco comuns até meados da década de 1980,
· Segundo Gleason (1983), a emergência desse tema teve início nos anos 1950 e 1960 com os escritos do neofreudiano Erik Erikson, que naquela época colocou em evidência a questão da crise identitária. Edwards (2009, p. 15), endossando a afirmação de Gleason, afirma que “o trabalho de Erikson situou os fenômenos individuais em seus contextos sociais”.
· A questão identitária foi ganhando novos adeptos nas décadas seguintes, e na década de 1980 começam a surgir os primeiros trabalhos que discutem as imbricações de língua e identidade. Conforme Joseph (2004), essa época viu surgirem importantes estudos sobre os aspectos linguísticos da identidade, entre eles: a coletânea organizada por Gumperz em 1982 sobre língua e identidade social; a monografia publicada por Le Page e Keller em 1985 sobre o sujeito; e o trabalho de Kroskrity sobre língua, história e identidade, de 1993.
· Por essas razões, cabe especificar o que se entenderá por identidade aqui. Como afirma Edwards (2009, p. 19), “a essência da identidade é a similaridade”: coisas que são idênticas são, em última instância, as mesmas coisas, e esse sentido básico é o que está por trás do conceito de identidade aplicado à personalidade. A identidade, nesse sentido, significa a “mesmidade” de um indivíduo em todos os momentos ou em todas as circunstâncias, ou seja, o fato de que uma pessoa é ela mesma e não qualquer outra. Por isso, também significa a continuidade de alguém no tempo, “um fio inquebrável que atravessa o longo e variado tapete da sua vida” (EDWARDS, 2009, p. 19).
· A identidade pessoal, ou personalidade, é a afirmação de todos os nossos traços individuais, daquilo que define a unicidade de um ser humano. Entretanto, é importante deixar claro que essa unicidade não significa a posse de características que não podemos encontrar em outras pessoas, mas sim uma combinação única de características disponíveis a todo um conjunto de seres humanos. Todas as personalidades são compostas a partir de uma gama finita de possibilidades oferecidas pelo meio social e pelas inerências biológicas de cada um.
· Uma vez que a língua faz parte do universo humano, é possível afirmar que língua e identidade são fenômenos intimamente ligados e, “em última instância, inseparáveis”, como observou Joseph (2004, p. 13).
· A língua pode ser considerada como um marcador no nível individual. O detalhe e a nuance dos padrões de aquisição, por exemplo, levam à formação do idioleto – aquela particular combinação prosódica e dialetal, aquela mescla de registros formais e informais inerente a uma única pessoa, aquele padrão muito particular de acentuação e entonação que, se olharmos bem de perto e atentamente, veremos que é único daquele falante. No entanto, a relação língua-identidade passa a ficar mais interessante à medida que passamos desse olhar microscópico (indivíduo) para um olhar mais macroscópico (grupo ou coletividade).
· Entretanto, a importância da língua como um marcador identitário no nível coletivo é ainda mais evidente: qualquer um está acostumado ao sotaque, ao dialeto e às variações linguísticas que revelam o pertencimento dos falantes a comunidades de fala específicas, classes sociais, grupos étnicos ou nacionais. Essas variações são ainda mais óbvias quando a classificação se baseia em gênero ou idade, ou ainda em profissão, associação civil (como clubes ou “tribos urbanas”), filiação política, religião etc. No mundo social real, nenhuma dessas associações existe senão em combinação com outras, mesmo considerando que o contexto e as demandas de um grupo possam colocá-lo em evidência e deixar os outros em segundo plano. “Na prática, a computação de todas as combinações e permutações possíveis dessas alegações de grupo e circunstâncias sociais nos levariam de volta ao nível pessoal do idioleto”
· Portanto, quando um falante, involuntariamente ou voluntariamente, assume formas típicas do PB (e não do PE, por exemplo), ou ainda de alguma variedade do PB, ele está compondo a sua identidade pessoal.
IDENTIDADE GRAMATICAL E ASPECTOS DISTINTIVOS
· Identidade não significa exclusividade, mas sim uma combinação única composta a partir de um conjunto de possibilidades finitas.
RESUMO DO TÓPICO 3 
· Neste tópico vimos que:
· 
· Existem fatos que distinguem a língua que falamos quando a colocamos em contraste com outras variedades da mesma língua, ou com outras línguas. Esses fatos distintivos compõem a identidade gramatical da nossa língua e, em última instância, compõem também anossa identidade pessoal.  
· Parte das características que distinguem o português brasileiro do português europeu são permanências do latim ou do português arcaico no PB, ao passo que as variantes europeias são inovações mais recentes na história da língua.  
· Existem muitos fatos distintivos que caracterizam o PB que também são inovações, porém não menos históricas. Essas variantes são inovações tipicamente brasileiras, carregadas de historicidade.
TÓPICO 4
O DEBATE SOBRE AS ORIGENS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
· A língua portuguesa se formou e se consolidou na Europa, na Península Ibérica, ela foi levada a outras partes do mundo pelas navegações ultramarinas colonizatórias, entre elas, para a África, a Ásia e a América do Sul.

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