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85 Anuário da Produção Acadêmica Docente Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 Suselei A. Bedin Affonso Faculdade Anhanguera de Campinas unidade 3 suseaffonso@hotmail.com O PROJETO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA INSTITUCIONAL1 RESUMO O presente artigo tem como objetivo discutir o processo de elaboração do projeto político pedagógico de uma instituição como uma construção coletiva, bem como fortalecer a importância do planejamento como ferramenta necessária através do qual a instituição deixa claras suas expectativas e as metas que quer alcançar como resultado social de seu trabalho, definindo propostas de ações, atitudes, regras e rotinas para que esses resultados sejam alcançados. Palavras-Chave: planejamento; projeto pedagógico; gestão participativa. ABSTRACT This article aims to discuss the process of developing the political pedagogical project of an institution as a collective, as well as strengthen the importance of planning as a necessary tool through which the institution makes clear its expectations and goals you want to achieve as a result social work, defining proposed actions, attitudes, rules and routines so that these results are achieved. Keywords: planning; teaching project; participatory management. 1 Material da 1ª. Aula da Disciplina Projeto Pedagógico e Operação Acadêmica, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Didática e Metodologia do Ensino Superior – Programa Permanente de Capacitação Docente. Valinhos, SP: Anhanguera Educacional, 2009. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Informe Técnico Recebido em: 23/5/2009 Avaliado em: 10/2/2010 Publicação: 21 de abril de 2010 ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 85 28/5/2010 09:57:30 86 O projeto pedagógico como ferramenta institucional Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 1. INTRODUÇÃO Na sociedade atual, a educação assume papel cada vez mais imprescindível no processo de desenvolvimento econômico e social. No mundo globalizado e em constantes transformações, o próprio conceito de educação vem sendo revisto e ampliado, assumindo uma perspectiva processual que não se encerra ao final da escolarização, mas se prolonga ao longo da vida do indivíduo para permitir que ele possa responder aos desafios da provisoriedade do conhecimento, num contexto em constante mudança (DELLORS, 1999, p. 50). Singer (1998) aponta que os reflexos das transformações ocorridas na economia mundial e a crescente demanda por profissionais dotados de conhecimentos gerais, flexíveis, com capacidade de assumir diferentes funções e enfrentar problemas inéditos, têm se apresentado como grandes desafios estabelecidos para o ensino, em especial para o ensino superior, gerando a busca de novos paradigmas de qualidade acadêmica e de currículo. Intimamente interligadas às demandas da sociedade e do mercado de trabalho, as expectativas e demandas dos alunos buscam um curso superior para concretizar seu projeto de vida. Segundo Guindani (2006), os que ingressam no ensino superior procuram o diploma de graduação como ponto de partida. No fundo, têm convicção de que sua formação não estará completa, que há um processo contínuo a ser desenvolvido ao longo de toda vida profissional. Diante dessa nova perspectiva, o ensino universitário não pode ser mais entendido como fim em si mesmo, precisa ser rediscutido sob a ótica da complexidade, que exige o rompimento de uma concepção de conhecimento fechado, acabado e especialista, com vistas a uma concepção de produção de conhecimento mais aberta, compartilhada e autônoma (MORIN, 1990). Pensar o ensino universitário nessa perspectiva significa pensar em alternativas na esfera do ensino-aprendizagem que propiciem o desenvolvimento das habilidades e competências, necessárias à inserção social do aluno nos setores profissionais, à participação no desenvolvimento de sua comunidade e à formação continuada. A formação de um profissional apto a enfrentar as novas exigências sociais exige das instituições de ensino superior um novo dinamismo educacional, capaz de estabelecer oportunidades de articulação entre teoria e prática e propostas de currículos, que contribuam para a construção da autonomia intelectual e profissional de seus alunos. ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 86 28/5/2010 09:57:30 Suselei Aparecida Bedin Affonso 87 Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 No campo educacional, tais ideais são importantes na perspectiva do debate e da construção de conhecimentos, porém se não dispusermos de ferramentas necessárias para converter essas reflexões em prática, as transformações necessárias não acontecerão. Segundo Gandin (1999, p.14) para que as instituições de ensino superior possam enfrentar os desafios e contribuir significativamente para que as transformações ocorram, elas precisam ter clareza e bom desempenho em duas dimensões: riqueza e adequação das idéias; instrumentos apropriados para transformar essas idéias em prática. Esses dois aspectos têm igual importância, ”um propondo o rumo, outro propondo caminhos, o que só será possível de maneira digna se ambos forem ligados entre si pelo diagnóstico da prática”. Nesse contexto, é possível compreender a importância de que o trabalho formativo desenvolvido nas instituições de ensino superior esteja pautado em planejamento e em estratégias de ação orientadas, definidos através de uma ferramenta: o projeto pedagógico, que, dentro da perspectiva apontada por Gadotti (2001, p.57) permite: [...] ar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. As promessas se tornam visíveis, os campos de ação possíveis, comprometendo seus atores e autores. Nessa perspectiva, o projeto pedagógico apresenta-se como um instrumento, através do qual a instituição deixa claras suas expectativas e as metas que quer alcançar como resultado social de seu trabalho, definindo propostas de ações, atitudes, regras e rotinas para que esses resultados sejam alcançados. O ensino superior precisa ser compreendido como uma teia de relações, na qual estão o acadêmico, o conteúdo científico e a sociedade, com seus problemas e desafios (GUINDANI, 2006). Os alunos que chegam ao ensino superior, em sua grande maioria, buscam construir identidade profissional. Sendo assim, o Projeto Político Pedagógico da Instituição, e mais especificamente, o projeto de cada um de seus cursos, é que fornecerá, a partir de sua organização curricular e de suas propostas de práticas educativas, os referenciais profissionais a estes alunos. É imprescindível a coordenação do corpo docente em torno da missão da instituição, do curso e das concepções pedagógicas adotadas. Só assim o acadêmico encontra um referencial profissional que seja construído a partir dessa integração e do diálogo interdisciplinar. Além de definir as concepções e finalidades da educação, o projeto pedagógico possibilita um processo de auto-gestão, à medida que se constitui “no meio pelo qual a Instituição dá sentido a sua realização concreta no espaço do ensino–aprendizagem, por meio de ações dinâmicas e históricas” (SANCHES, 2006, p. 106). ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 87 28/5/2010 09:57:30 88 O projeto pedagógico como ferramenta institucional Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 O projeto pedagógico da instituição ou curso não deve ser compreendido apenas como um documento que atenda às exigências administrativas ou burocráticas,mas como um registro, resultado de um processo de reflexão realizado pela instituição como forma de atender às exigências sociais, às diretrizes curriculares nacionais, às necessidades da instituição e de sua comunidade, concretizando a identidade da Instituição. Os projetos [...] são referenciais teóricos metodológicos que auxiliam na superação dos desafios enfrentados. Não são documentos de moda nem de domínio exclusivo dos dirigentes. São norteadores do trabalho que garantem a unidade dos profissionais envolvidos com o mesmo. São balizadores de praticas pedagógicas, ações docentes, discentes e dos gestores. (SANCHES, 2006, p. 107) 2. A FINALIDADE DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO Quando consideramos o projeto pedagógico de uma instituição ou de um curso, estamos nos referindo às concepções e finalidades que norteiam as diferentes atividades e programas de aprendizagem daquela instituição, que em última instância constituem sua identidade. Mais do que um documento sistematizado para circulação, socialização e análise permanente da sua execução e adequação no interior da instituição, o projeto é reflexo de um processo de discussão e planejamento em diferentes níveis, a partir da realidade vivenciada. Segundo Gandin (1999), as instituições educacionais têm tradicionalmente usado alguns instrumentos legais, tais como as leis de diretrizes e bases da educação, pareceres, resoluções de conselhos de educação e regimentos como parâmetros para transformar suas idéias em ações. Tais referenciais acabam por definir e direcionar o trabalho pedagógico a ser desenvolvido, conferindo-lhes caráter predominantemente genérico, uma vez que as especificidades das instituições de ensino nem sempre são contempladas. A atual legislação (LDB 9.394/96), porém, recomenda a utilização de uma ferramenta mais democrática, a proposta pedagógica, mostrando a necessidade de cada instituição construir coletivamente a partir do envolvimento de seus diversos segmentos o seu projeto político-pedagógico que, sem ferir as recomendações e princípios legais, possa conferir à instituição uma autonomia relativa atendendo, assim, suas necessidades, demandas, especificidades e expectativas. O projeto pedagógico da instituição deve estabelecer as diretrizes básicas de sua organização e funcionamento, integradas às normas comuns do sistema nacional e do sistema ou rede ao qual ela pertence. Sua finalidade deve ser a de permitir o reconhecimento e expressão da identidade da instituição de acordo com sua realidade, ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 88 28/5/2010 09:57:30 Suselei Aparecida Bedin Affonso 89 Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 características próprias e necessidades locais. Segundo Portela e Atta (1999, p. 78) o projeto pedagógico de uma instituição também tem por finalidade: • Estimular o sentido de responsabilidade e de comprometimento da escola na direção do seu próprio crescimento. • Definir o conteúdo do trabalho institucional, tendo em vista as Diretrizes Curriculares Nacionais para ensino, os princípios norteadores do ministério da educação, a realidade da escola e as características do cidadão que se quer formar. • Dar unidade ao processo de ensino, integrando as ações desenvolvidas seja na sala de aula ou na instituição como um todo, seja em suas relações com a comunidade. • Criar parâmetros de acompanhamento e de avaliação do trabalho escolar. • Definir, de forma racional, os recursos necessários ao desenvolvimento da proposta. Nessa perspectiva, o Projeto Pedagógico da instituição é a organização existente no âmbito educacional, concebida e elaborada a partir da reflexão sobre seu cotidiano. De acordo com Veiga (2001), sua construção requer uma ruptura com a centralização de poderes. Portanto, deve ser construído a partir de um processo democrático que permita a participação de todos os segmentos da comunidade educacional (corpo discente e docente, equipes de gestão e funcionários) na tomada de decisões e encaminhamentos, através da criação de canais de participação dos colegiados ou de seus representantes. Embora nenhum segmento tenha importância menor que a do outro nesse trabalho coletivo, é importante definir, com clareza, as responsabilidades que cada um deve assumir, considerando a existência de funções e níveis hierárquicos diferenciados dentro da instituição. Ou seja, todos devem ter seu espaço de participação, mas não se deve confundir o espaço das atribuições, ultrapassando os limites de competência de cada um (PORTELA; ATTA, 1999). Para que a construção do projeto seja viável, não pode ser imposto pelos órgãos superiores, nem basta convencer a equipe educacional, mas sim propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar a respeito do fazer pedagógico, dos indicadores e situações cotidianas, para vislumbrar possibilidades de mudanças para melhorias (VEIGA, 1997). Isso pressupõe a valorização da interação entre as pessoas, priorizando o coletivo e superando dificuldades em busca da educação de qualidade, que deve estar fundamentada nos seguintes princípios: • igualdade de condições de acesso e permanência na escola; • qualidade para todos; • gestão democrática para uma construção coletiva, compreensão dos problemas da prática pedagógica, socialização e participação; ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 89 28/5/2010 09:57:31 90 O projeto pedagógico como ferramenta institucional Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 • valorização do magistério, através da formação continuada. A discussão da proposta pedagógica apresenta-se como exercício que possibilita o crescimento da identidade institucional ou do curso bem como de todos que dela participam, apresentando questões metodológicas e de conteúdo. 3. O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO Em seu processo de construção, os projetos pedagógicos passam por dois momentos importantes e interligados, permeados de ações avaliativas: o de concepção e o da execução (SANCHES, 2006). Gandin (1994) e Gadotti (2001) ao discutirem o planejamento participativo apontam algumas etapas fundamentais desses momentos: estabelecimento de um referencial (marco situacional e doutrinal/filosófico), realização de um diagnóstico da realidade e de uma proposta de ação (marco operativo), todos atravessados por processos de avaliação. O marco situacional (GANDIN, 1994) é construído a partir da percepção do grupo em torno da realidade em geral: como a vê, quais seus traços marcantes, qual a relação do quadro sócio-econômico, político e cultural amplo e o cotidiano da instituição. Sua importância deve-se ao fato de que pode desvelar os elementos estruturais que condicionam a instituição e seus agentes. Neste marco, o que se pretende é a explicitação de uma visão geral da realidade. Para que a fase da concepção de um projeto pedagógico seja executada de maneira adequada é preciso que a equipe educacional compreenda o contexto social, econômico e político no qual a instituição está inserida, a realidade social e cultural de seus alunos e qual o papel ou relação da instituição com a sociedade. Essa reflexão possibilitará o estabelecimento de um referencial (GADOTTI, 2001) expressando a posição que a instituição planeja em relação à sua identidade, visão de mundo, utopia, valores, objetivos, compromissos. Indica o “rumo”, a direção que a instituição escolheu, fundamentado em elementos teóricos da filosofia, das ciências, da cultura da coletividade envolvida. Implica, portanto, opção e fundamentação. Para Reis (1995), nesse referencial os diversos segmentos da instituição são desafiados a expressar o sentido de seu trabalho pedagógico e as grandes perspectivas da caminhada rumo à concretização. Vários questionamentos precisam ser respondidos, entre eles destacam-se: quais são os fundamentos em relaçãoà instituição? Que profissional se quer formar e para qual sociedade? Que escolhas fazemos em torno das ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 90 28/5/2010 09:57:31 Suselei Aparecida Bedin Affonso 91 Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 concepções de educação, de ensino aprendizagem, de avaliação para atingir os objetivos previstos? As reflexões sobre o marco doutrinal ou filosófico vão permitir o delineamento da concepção de homem, sociedade, educação, currículo e ensino-aprendizagem que subsidiará o projeto pedagógico de um curso ou instituição. Colaboram, ainda, na definição da adequação da formação a ser oferecida em relação a contextos específicos de atuação. Nesse momento inicial, são definidos missão e objetivos da instituição, suas opções de atuação acadêmica (cursos e modalidades de cursos), suas responsabilidades sociais, os princípios filosóficos e teóricos metodológicos que nortearão as práticas acadêmicas da instituição e seus propósitos no campo do ensino, pesquisa e extensão. Segundo Sanches (2006, p. 110), a função maior desse referencial é a de “tensionar a realidade no sentido da sua superação/transformação e, em termos metodológicos, fornecer parâmetros, critérios para a realização do diagnóstico”. Definidos esses referenciais, o momento seguinte é o de confrontá-los com a realidade, estabelecendo a diferença entre aquilo que se pretende e acredita e aquilo que se tem, ou seja, é o instante de um olhar crítico e honesto da instituição em relação às suas possibilidades, limites e resultados formativos que vem obtendo, identificando seus problemas e/ou possibilidades de expansão. A partir das necessidades percebidas no diagnóstico, a instituição irá elaborar um conjunto de ações/operações concretas, no espaço de tempo disponível, com o objetivo de superar ou sanar as necessidades identificadas. A partir dessa percepção serão definidas as ações necessárias, que deverão ser colocadas em prática para transformar a realidade do curso ou instituição. Nesse sentido, deverá ser definido o marco operativo, compatível e coerente com os marcos situacional e filosófico, pois, caso isso não ocorra, pode haver desarticulação entre a realidade geral e as grandes finalidades assumidas. Segundo Salgado (2001, p. 36) o marco operativo é, pois, “o conjunto de diretrizes a serem seguidas na formulação do projeto; define o que vai e o que não vai ser valorizado, o que ficará dentro ou fora do projeto pedagógico”. É a explicitação do ideal da instituição escolar, tendo em vista aquilo que queremos ou devemos ser. Diz respeito à organização das ações da coletividade educacional naqueles campos de atuação compreendidos nas três principais dimensões ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 91 28/5/2010 09:57:31 92 O projeto pedagógico como ferramenta institucional Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 que configuram a práxis educativa, quais sejam: a dimensão pedagógica, a dimensão comunitária e a dimensão administrativa. O Quadro 1, elaborado por Vasconcelos (2004), aponta para algumas questões que podem contribuir para o levantamento de alguns questionamentos que orientem a elaboração do marco operativo do curso ou instituição, o qual subsidiará a elaboração do plano de ação e a programação das operações acadêmicas que possibilitarão a efetivação das metas da instituição. Quadro 1 – Possíveis Perguntas para Elaboração do Marco Operativo. A) Dimensão pedagógica B) Dimensão comunitária C) Dimensão administrativa Como desejamos... Como desejamos... Como desejamos... O Processo de Planejamento? Os Relacionamentos na Escola? A Estrutura e Organização da Escola? O Currículo? O Professor? Os Dirigentes (Direção e Equipe Técnica)? Os Objetivos? O Relacionamento com a Família? Os Serviços (Secretaria, Limpeza, Mecanografia, Audiovisuais etc.)? Os Conteúdos? O Relacionamento com a Comunidade? As Formas de Participação dos Trabalhadores? A Metodologia? A Participação e As Condições Objetivas de Trabalho? A Avaliação? Organização dos Alunos? A Obtenção e Gerenciamento dos Recursos Financeiros [1] A Disciplina? A relação Professor-Aluno? As Atividades Esportivas e Culturais? Nossa relação com o Vestibular? Como nos posicionamos frente aos exames e concursos? A Orientação Vocacional? O Espaço de Trabalho Coletivo Constante (reuniões pedagógicas semanais)? O Relacionamento com os Meios de Comunicação Social? O Ensino Fundamental no nosso Município? Fonte: Vasconcellos (2004, p. 185). O plano de ação é a definição do que vai ser feito e dos meios para a superação dos problemas detectados, em busca da qualidade da educação oferecida pela instituição. Segundo Vasconcellos (2004), dois critérios fundamentais devem nortear a definição da programação das ações a serem desenvolvidas nos diferentes níveis e segmentos: Necessidade e Possibilidade. Ou seja, a partir da analise critica dos limites das possibilidades, define-se o necessário e o possível para diminuir a distância entre o que a instituição é e o que deveria ser. Quanto à periodicidade, a programação ou projeto pode ter abrangência anual, bianual ou outra definida pelo grupo. Define-se nesse momento, portanto, as ações estratégicas a serem empreendidas, tais como: política de gestão; implantação e desenvolvimento de cursos; aumento ou diminuição do número de vagas; organização didático-pedagógica a ser adotada pela ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 92 28/5/2010 09:57:31 Suselei Aparecida Bedin Affonso 93 Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 instituição; seleção de conteúdos, recursos metodológicos e processos de avaliação; concepção de currículo e planejamento de ensino; expansão e qualificação do corpo docente; procedimentos de apoio e atendimento ao corpo discente. Enfim, nesse momento definem-se as operações acadêmicas e programas institucionais que devem ser desenvolvidos para que os objetivos institucionais possam ser alcançados. Na elaboração de um projeto pedagógico, alguns elementos são considerados sua base estrutural, pois serão eles que darão suporte á construção da proposta educacional (LIBÂNEO, 2001, p. 174): a) A organização da vida escolar, relacionada à organização do trabalho escolar em função de sua especificidade de seus objetivos. b) Organização do processo de ensino e aprendizagem – refere-se basicamente, aos aspectos de organização do trabalho do professor e dos alunos na sala de aula. c) Organização das atividades de apoio técnico administrativo – tem a função de fornecer o apoio necessário ao trabalho docente. d) Organização de atividades que vinculam escola e comunidade – refere-se as relações entre a escola e o ambiente externo: com os níveis superiores da gestão de sistemas escolar, pois, com as organizações políticas e comunitárias [...] 4. ESTRUTURA BÁSICA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO Pelo fato de considerarmos o Projeto Político-Pedagógico como um processo e não como um produto acabado, entendemos que sua estrutura básica é sempre indicativa, podendo variar de uma instituição para outra, não ficando presa a modelos tecnicistas que estariam pré-determinando a apresentação formal do projeto “[…] importante é dizer com clareza o que a instituição pretende realizar, a partir de suas condições […]” (PADILHA, 2001, p. 90). Apresentamos aqui, a título de exemplo, uma possibilidade de estruturação formal de registro e organização do Projeto Político-Pedagógico, mas não significa que esta deva ser entendida como uma única e fixa possibilidade, uma vez que podem ser adequadas às realidades vividas pelas instituições. ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 93 28/5/2010 09:57:31 94 O projeto pedagógico como ferramenta institucional Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009• p. 85-96 Quadro 2 – Estrutura Geral do PPP. Estrutura Geral do Projeto Pedagógico: I – Missão /Objetivos da Instituição Consiste no que a Instituição pretende alcançar II – Diagnóstico/Caracterização Consiste no conhecimento do ambiente em que a instituição está inserida e sua conseqüente contextualização na realidade regional necessidades, demandas, perfil de aluno). III – Concepção Filosófica Visão de homem, mundo educação que fundamentarão o trabalho IV – Referencial Teórico da Instituição Refere-se às teorias nas quais se fundamentará para desenvolver o seu planejamento V – Eixos da Instituição: 5.1 – Educacional: políticas de ensino, pesquisa e extensão 5.2 – Pedagógico: concepção dos processos de ensino-aprendizagem 5.3 – Gestão: estrutura organizacional VI – Qualificação do Quadro Docente Relaciona-se a maneira pela qual a escola qualificará seus professores VII – Cronograma das Atividades Onde irá constar todo planejamento IX – Avaliação: 3.1 – Processo avaliativo dos alunos (que tipo de avaliação será utilizada?) 3.2 – Processo de avaliação dos docentes (como avaliar os professores?) 3.3 – Processo de avaliação das atividades “P.P.P.” (estabelecer período de avaliação do projeto) Fonte: (RIBEIRO, 2007). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para que a elaboração e concretização do Projeto Pedagógico de um curso ou instituição possa ter sucesso, Gadotti (2001, p. 25) aponta ainda alguns fatores que devem ser considerados: • Um projeto deve se factível e seu enunciado facilmente compreendido. • A adesão voluntária e consciente ao projeto. Todos precisam estar envolvidos e a co-responsabilidade é um fator decisivo no êxito do projeto. • Bom suporte institucional e financeiro. Que significa vontade política, conhecimento de todos e recursos financeiros claramente definidos. • Controle, acompanhamento e avaliação do projeto para saber se seus objetivos estão sendo atingidos. ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 94 28/5/2010 09:57:31 Suselei Aparecida Bedin Affonso 95 Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 85-96 • Atmosfera e ambiente favorável. • Credibilidade. As idéias podem ser boas, mas se os que as defendem não tem prestígio, comprovada competência e legitimidade, só podem obstaculizar o projeto. • Bom referencial teórico. Diante desses fatores, percebe-se claramente a importância da instituição eleger alguns pilares para dar suporte à edificação do projeto, entre eles: • sensibilização e envolvimento do corpo docente no processo; • construção de uma consciência crítica do corpo discente para que se tornem co-responsáveis por seu aprendizado, comprometendo-se com as metas de formação; • investimento na qualidade do corpo docente, incentivando sua formação continuada e produção acadêmica; • do ponto de vista pedagógico, privilegiar uma organização didática pedagógica moderna que privilegie a relação teoria-prática, que valorize a busca de soluções para os problemas; • desenvolvimento da avaliação como um processo contínuo e constante. Por outro lado, o Projeto Pedagógico, por si mesmo não levará a inovações no ensino superior. Para que se alcance a melhoria da qualidade do ensino oferecido é importante que se tenha vontade política e a convicção de sua importância. Há necessidade de a instituição empreender seu tempo, recursos e esforços em ações de estudo e na avaliação contínua. Essas reflexões implicam que a instituição reveja de forma critica a importância de seu trabalho, suas contribuições e limitações, para buscar uma nova forma de organização do trabalho com vistas à mudança. REFERÊNCIAS DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir? 3. ed. São Paulo: Ed. Cortez. Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1999. GADOTTI, Moacir. Projeto político pedagógico da escola: fundamentos para sua realização. In: GADOTTI, Moacir; EUSTAQUIO, Romão José (Org.). Autonomia da escola: princípios e propostas. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001. GANDIN, Danilo. A prática do planejamento participativo: na educação e em outras instituições, grupos e outros movimentos dos campos cultural, social, político, religioso, governamental. 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Guia de Consulta para o Programa de Apoio aos Secretários Municipais de Educação PRASEM II. Brasília: FUNDESCOLA/MEC, 1999, p. 77-114. REIS, Maria da Conceição. Projeto Político Pedagógico: elementos para uma reflexão. Mimeo, Olinda, Faculdade de Educação - UFPE, 1995. RIBEIRO, Ruy Coelho. Projeto Político-Pedagógico: princípios, dimensões e estrutura. Disponível em: <http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/projeto-politico_pedagogico:- principios,-dimensoes-e-estrutura-4730/artigo/>. Acesso em: 28 abr. 2009. SALGADO, Maria U.C. Projeto Pedagógico: significado e processo. Belo Horizonte: Editau, 2001. SANCHES, Raquel F.; RAPHAEL, Helia. Projeto Pedagógico e Avaliação Institucional: articulação e importância. Avaliação. Revista da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior, Campinas, v. 1, n. 1, p. 103-113, mar. 2006. SINGER, Paul. Globalização e desemprego: diagnósticos e alternativas. São Paulo: Contexto, 1998. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político- pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 5. ed. São Paulo: Libertad Editora, 2004. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto Político da escola uma construção coletiva. In: ______. (Org.). Projeto Pedagógico da escola: uma construção possível. São Paulo: Papirus, 1997. ______. A perspectiva para reflexão em torno do projeto Político–Pedagógico. In: VEIGA, Ilma Passos A.; REZENDES (Orgs.). Escola: Espaço de construção do Projeto Político-Pedagógico. 5. ed. Campinas, SP: Papiros, 2001. Suselei Aparecida Bedin Affonso Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2008). Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2003), especialização em Educação e Psicopedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1997) e graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1985). Experiência na docência de disciplinas relacionadas à formação de professores, em cursos de Pedagogia e Licenciaturas, tendo participado também de projetos relativos à formação continuada de professores em exercício. Desenvolvimento de pesquisas nas áreas de educação continuada, cognição, afetividade e relações de gênero. ANUDO_N5_miolo-v1.pdf 96 28/5/2010 09:57:31
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