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Introdução às Relações de Consumo e aos Direitos Básicos

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INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO 
1. História da Defesa do Consumidor no Brasil 
A sociedade de consumo, ao contrário do que se imagina, não trouxe apenas benefíc ios 
para os seus atores. Muito ao revés, em certos casos a posição do consumidor, dentro desse 
modelo, piorou em vez de melhorar. Se antes fornecedor e consumidor encontram-se em uma 
situação de relativo equilíbrio de poder de barganha (até por que se conheciam), agora é o 
fornecedor (fabricante, produtor, construtor, importador, banqueiro ou comerciante) que, 
inegavelmente, assume a posição de força na relação de consumo e que, por isso mesmo, ‘dita 
as regras’. E o Direito não pode ficar alheio a tal fenômeno. O CDC aplica-se a todos os órgãos 
jurídicos, exceto os de administração pública direta. 
A vulnerabilidade do consumidor é, portanto, frequente, pois não há mecanismos 
suficientes para superá-la no mercado. Dessa forma, a intervenção do Estado torna-se inevitáve l 
nas suas três esferas. Tendo em vista as suas diversas causas possíveis, toda atenção voltou-se 
a essa vulnerabilidade, fato que culminou com a criação do inovador Direito do Consumidor. 
Quanto às causas dessa fragilidade, estas podem ser decorrentes da intervenção de 
grupos econômicos por meios de monopólios e oligopólios, da ausência de informação quanto 
à qualidade, ao preço e ao crédito, assim como da falta de conhecimento a respeito de outras 
características dos produtos e serviços ofertados. Além disso, o consumidor é cercado de 
publicidade sem que tenha a mesma governança que têm os fornecedores. 
2. Modelo Intervencionista Estatal 
A purificação do mercado pode ser feita por meio de dois modelos: 
1. O modelo privado — é meramente “privado”, com os próprios consumidores e 
fornecedores auto compondo-se e encarregando-se de extirpar as práticas 
perniciosas. Seria o modelo da auto-regulamentação, das convenções coletivas de 
consumo e do boicote. Tal regime não se tem demonstrado capaz de suprir a 
vulnerabilidade do consumidor; 
2. O modelo intervencionista estatal — é aquele que, não descartando o primeiro, 
funda-se em normas (aí se incluindo, no sistema da common law, as decisões dos 
tribunais) imperativas de controle do relacionamento consumidor- fornecedor. É o 
modelo do intervencionismo estatal, que se manifesta particularmente em 
sociedades de capitalismo avançado, como os Estados Unidos e países europeus. 
Como afirmam esses respeitados juristas, alguns países, preocupados com o mercado de 
consumo, regularam tal mercado por meio de leis esparsas e específicas para cada atividade 
econômica ligada, diretamente, aos acidentes de consumo que pretendiam tutelar. Esse modelo 
foi aplicado por meio da criação de Códigos, cuja função foi a de reunir um conjunto de regras 
essências à proteção do consumidor. O Brasil também adotou esse modelo e mostrou-se 
pioneiro na codificação do Direito do Consumidor no mundo. 
3. Base Constitucional e Fontes de Inspiração do Código Brasileiro 
No modelo brasileiro, a Constituição Federal determina que, ao cuidar dos direitos e 
garantias fundamentais, “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” (CFC, 
art. 5, inciso XXXII). No entanto, o legislador entendeu que essa disposição não bastaria e, 
mais adiante, por meio do art. 48 do Ato das Disposições Transitórias, determinou que o 
Congresso Nacional, dentro de 120 dias da promulgação da Constituição, deveria elaborar o 
Código de Defesa do Consumidor. Fruto de uma sociedade de consumo e do crescimento 
massificado da oferta e procura de bens de consumo, o Direito do Consumidor foi então 
reconhecido como um princípio constitucional. 
INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO 
A principal influência veio do Projet de Code de la Consommation, redigido sob a 
presidência do professor Jean Calais-Auloy. Outras importantes influências decorrem das leis 
gerais da Espanha (Ley General para la Defesa de los Consumidores y Usuários – Lei 26/1984), 
de Portugal (Lei 29/81, de 22 de agosto), do México (Lei Federal de Protección al Consumidor, 
de 5 de fevereiro de 1976) e de Quebec (Loi sur la Protection du Consommateur, promulgada 
em 1979). 
Quanto ao seu conteúdo, o Código de Defesa do Consumidor buscou inspiração direta, 
principalmente, no Direito comunitário da Europa, especificamente nas Diretivas 84/450, que 
diz respeito à publicidade, e 85/374, que versa sobre a responsabilidade civil pelos acidentes de 
consumo. Houve também, em alguns casos, a influência do Direito americano, pois as regras 
europeias foram inspiradas em cases e statutes estadunidenses. 
4. Fenômeno do “Consumerismo” e Influência Histórica dos EUA 
O fenômeno do “consumerismo” – ou, como afirmam Gasset e Ortega (2016), a 
“revolução das massas” – é visível tanto nas sociedades industrializadas quanto nas economias 
em desenvolvimento, caracterizando-se sobretudo pela busca da satisfação de necessidades que, 
muitas vezes, demonstram-se irreais ou incorretamente hierarquizadas. Essa contradição ocorre 
em função de um condicionamento psicológico criado por uma estratégia de produção industria l 
extremamente dinâmica quanto à oferta de novidades. 
De certo que a origem histórica do Direito do Consumidor é anterior à sua aplicação e 
ao seu desenvolvimento no Brasil. Tradicionalmente, essa origem é atribuída aos Estados 
Unidos, pois esse foi o primeiro país a sofrer as consequências do agressivo sistema produtivo 
e do marketing, sobretudo no que diz respeito ao consumo em massa e à comercialização de 
produtos e serviços. 
5. Evolução da Proteção ao Consumidor 
Segundo Lucca, existem três fases relativas à evolução da proteção ao consumidor no 
mundo. Vejamos: 
a) Primeira fase — Na primeira fase de evolução, ocorrida após a 2ª Guerra Mundial, 
ainda não se distinguiam os interesses de fornecedores e consumidores. Nessa época, 
o preço, a informação e a rotulação adequada dos produtos eram os pontos de 
preocupação; 
b) Segunda fase — Na segunda fase, iniciou-se o questionamento da atitude de 
menoscabo das empresas para com os consumidores. Nesse momento histórico, 
sobressaiu-se a figura do advogado Ralph Nader; 
c) Terceira fase — A terceira fase de evolução da proteção ao consumidor é marcada 
por uma consciência ética mais intensa. Nessa fase, “interroga-se sobre o destino da 
humanidade, conduzido pelo torvelinho de uma tecnologia absolutamente triunfante 
e pelo consumismo exagerado, desastrado e trêfego, que põe em risco a própria 
morada do homem. 
O marco histórico para o reconhecimento do consumidor como sujeito de direitos 
ocorreu em 1962, quando o presidente estadunidense John Kennedy enumerou quatro direitos 
do consumidor, considerando-os um desafio necessário para o mercado. Em seu discurso, 
Kennedy identificou os aspectos mais importantes na questão da proteção ao consumidor, 
afirmando que os bens e serviços deveriam ser seguros para uso e comercializados a preços 
adequados e justos, oferecendo assim um novo paradigma para uma relação em que, até então, 
somente o fornecedor tinha direito. 
INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO 
Em 5 de março de 1962, Kennedy enumerou quatro direitos fundamentais do 
consumidor, tendo sido essa data reconhecida pelo Congresso estadunidense como o Dia 
Mundial dos Direitos Consumidor. No Brasil, esses direitos também inspiraram a criação do 
Código de Defesa do Consumidor, influenciando o aperfeiçoamento das instituições tanto do 
poder público quanto da iniciativa privada. São eles: 
a) Direito à saúde e à segurança – relacionado à comercialização de produtos perigosos 
à saúde e à vida; 
b) Direito à informação – relacionado à propaganda e à necessidade de o consumido r 
ter informações sobre o produto para garantir uma boa compra; 
c) Direito à escolha – relacionado aos monopólios e às leis antitrustes, incentivando a 
concorrência e a competitividade entre os fornecedores; 
d) Direito a ser ouvido – relativo à necessidade de os interesses dos consumidoresserem considerados no momento da elaboração de políticas governamentais. 
O nascedouro do Código de Defesa do Consumidor no Brasil, reunidas as condições 
necessárias, constituiu-se na construção de uma política nacional de relações de consumo cuja 
legislação é considerada a mais avançada do mundo. Antes da publicação da Lei 8.078/90, no 
entanto, tivemos a criação da Autarquia de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), que 
ocorreu em 1976, e do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), em 1987, instituições ainda 
atuantes nos dias de hoje. 
6. Relações de Consumo: Conceitos de Consumidor e Fornecedor 
6.1. Consumidor 
Consumidor é qualquer pessoa física ou jurídica que, isolada ou coletivamente, contrata 
para consumo final, em benefício próprio ou de outrem, a aquisição ou a locação de bens, bem 
como a prestação de um serviço. 
Devemos, no entanto, buscar analisar o consumidor também do ponto de vista coletivo, 
sobretudo se considerarmos que todos os consumidores podem estar sujeitos a campanhas 
publicitárias enganosas e abusivas, assim como ao consumo de produtos e serviços perigosos. 
Para Claudio Bonato (2004, p. 19), a relação de consumo pode ser definida como “a 
relação jurídica existente entre consumidor e fornecedor, tendo como objeto a aquisição ou a 
utilização de produto ou serviço pelo consumidor”. Com isso, apesar de o Código de Defesa do 
Consumidor não conter norma jurídica conceitual, apresenta conceitos das espécies de sujeito 
e dos objetos da prestação dessa relação, quais sejam, produtos e serviços. 
Conforme afirmam os autores do anteprojeto do CDC, em toda relação de consumo: 
 Estão envolvidas, basicamente, duas partes definidas – de um lado, o adquirente 
de um produto ou serviço (consumidor) e, de outro, o fornecedor ou vendedor 
de um produto ou serviço (produtor/fornecedor); 
 Busca-se a satisfação de uma necessidade privada do consumidor; 
 Arrisca-se a submeter-se ao poder e às condições dos produtores de bens e 
serviços o consumidor que não dispõe, por si só, de controle sobre a produção 
dos bens de consumo ou da prestação de serviços que lhe são destinados. 
Considerando tais aspectos, a partir do movimento consumerista, passou-se a entender 
o consumidor como uma pessoa hipossuficiente e vulnerável. Tais características também 
vieram a ser adotadas pelo movimento sindicalista que, sobretudo a partir da segunda metade 
do século XIX, surgiu para reivindicar melhores condições de trabalho e qualidade de vida, 
sempre com o olhar sobre o binômio maior poder aquisitivo/melhores bens e serviços. 
INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO 
6.2. Pessoa Jurídica 
As pessoas jurídicas são consideradas, igualmente, consumidoras de produtos e 
serviços, desde que destinatárias finais dos produtos ou serviços que adquirem. Em outras 
palavras, os produtos ou serviços adquiridos não podem ser parte necessária ao desempenho da 
sua atividade lucrativa. Podemos entender ainda as pessoas jurídicas consumidoras como 
hipossuficientes, já que tal aspecto é indissociável do conceito de consumidor. 
“Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou 
serviço como destinatário final. ” 
6.3. Coletividade 
No parágrafo único do artigo 2º do CDC, encontrarmos a seguinte definição: “Parágrafo 
único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja 
intervindo nas relações de consumo. ” 
Podemos notar que o referido artigo não trata mais do consumidor determinado e 
individual, mas sim de uma coletividade de consumidores, sobretudo quando indeterminados e 
intervenientes em dada relação de consumo. 
A ideia de coletividade torna-se ainda mais clara se levarmos em conta a classe dos 
chamados interesses difusos (direitos difusos e coletivos), expressamente tratados no inciso I 
do art. 81 do CDC. Vejamos: 
“Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser 
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único: A defesa coletiva será 
exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos 
deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas 
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. ” 
6.4. Fornecedor 
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) assim define o fornecedor: 
“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou 
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, 
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou 
comercialização de produtos ou prestação de serviços. ” 
No referido artigo, devemos entender o termo “atividade” como toda ação efetivada de 
forma habitual – vale dizer, profissional ou comercial – para entregar um produto ou serviço 
prestado. Esse conceito compreende, portanto, dois limites: a atividade deve ser habitual e 
exercida de forma profissional. Ser habitual significa que não basta a prática isolada de atos; 
esses devem ser praticados de maneira reiterada. 
Nesse sentido, podemos concluir que estarão excluídos da tutela prevista no CDC os 
contratos firmados entre consumidores não profissionais, que não atuem em sua atividade-fim, 
uma vez que não existe habitualidade. 
7. Direitos e Deveres Básicos, Garantia de Produtos e Serviços 
O CDC não está restrito unicamente a possíveis reparações de danos causados ou 
provocados ao consumidor, mas visa também à proteção do consumidor contra todos os riscos 
que podem emanar dos produtos e serviços, pela simples expectativa ou possibilidade de 
INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO 
exposição a esses perigos. Em outras palavras, a simples exposição do consumidor aos riscos 
provocados pela colocação desses produtos no mercado de consumo mostra-se suficiente para 
que se lhe outorgue a tutela efetiva. 
Foi fornecida a garantia de prevenção e reparação de todas as espécies de danos 
(patrimoniais e morais) que possam vir a incidir sobre as diversas esferas de interesse e direito 
do consumidor (individuais, coletivos e difusos). A partir desse princípio fundamental, confere -
se ao consumidor a possibilidade de ver-se reparado na sua incolumidade tanto econômica 
quanto físico-psíquica deferida pela comutatividade, ora permissiva, das indenizações 
reparadoras dos danos patrimoniais e morais. 
7.1. CDC e Estado 
O CDC foi idealizado para viabilizar a proteção do consumidor quando este se envolve 
na busca ou aquisição de produtos e serviços. Além disso, visa harmonizar os interesses dos 
participantes das relações de consumo constituídas (art. 4º, inciso III), na medida em que 
reconhece a vulnerabilidade e a hipossuficiência do consumidor, princípios que veremos com 
mais detalhes a seguir: 
a) Vulnerabilidade — A vulnerabilidade decorre da posição de inferioridade do 
consumidor frente ao fornecedor do produto ou serviço. Nesse caso, há previsão 
constitucional de que o cidadão poderá exigir do Estado a promoção dos seus 
interesses. Além disso, a tutela da parte mais fraca está amparada pelo princípio da 
dignidade da pessoa humana, somada à boa-fé do consumidor na relação de 
consumo; 
b) Hipossuficiência — A hipossuficiência é uma condição extremada de 
vulnerabilidade relativa ao consumidor de boa-fé, comprovada pela incapacidade 
probatória do fato alegado, o que está vinculado à sua situação econômica. 
8. Prazos de Reclamação e Práticas Abusivas 
8.1. Modalidades de Garantia 
8.1.1. Garantia Legal 
As garantias legais independem da sua manifestação por contrato, sendo asseguradas ao 
consumidor por meio do Código de Defesa do Consumidor (CDC), de maneira taxativa, com 
relação aos bens duráveis (automóveis e utensílios eletrônicos, pode exemplo) e aos bens não 
duráveis (alimentos perecíveis). Todavia, o início da contagem do prazo do direito de reclamar 
pode ser modificado a depender do tipo de defeito quese mostra ao consumidor. Tratando-se 
de vício oculto, por exemplo, o prazo para a perda do direito começa a contar a partir do 
momento em que ficar evidenciado o defeito. 
8.1.2. Garantia Contratual 
Modernamente, é também oferecida a garantia adicional contratual ao consumido r. 
Nesse caso, o fornecedor faz constar expressamente no seu contrato a garantia, especificando o 
prazo e as condições para conceder tais benesses. Em geral, essas informações constam de um 
documento formal conhecido como “Termo de garantia”. 
8.1.3. Garantia Estendida 
No mercado atual, podemos identificar ainda um produto chamado “garantia estendida”, 
por meio do qual, geralmente, uma entidade seguradora cobre para proteger o capital invest ido 
pelo consumidor por quanto tempo este estiver disposto a pagar. Nessa categoria, identificam-
se três tipos de garantia: 
INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO 
a) A original — cuja cobertura é igual à da garantia oferecida pelo fornecedor; 
b) A original ampliada — que possui acréscimos à original; 
c) A diferenciada — que é menos abrangente que a original, cobrindo somente algumas 
situações específicas. 
Não são raras as situações em que o consumidor se vê quase coagido a adquirir tais 
“garantias estendidas” quando adquire um produto ou serviço, uma vez que alguns 
fornecedores, por estratégia comercial, condicionam determinada situação (descontos ou 
brindes, por exemplo) à sua aquisição. Em jargão comercial, essa ação é conhecida como venda 
casada ou GA (por goela abaixo). Tal prática é, no entanto, expressamente vedada pelo CDC. 
8.2. Prazos 
O CDC, estabelece um prazo máximo ao fornecedor (de serviços ou mercadorias) para sanar 
o problema do consumidor. Passados trinta dias da notificação, caso o fornecedor não solucione 
o problema ou defeito do produto ou serviço disponibilizado, o consumidor poderá exigir: 
a) A substituição do produto por outro similar; 
b) A restituição imediata da quantia desembolsada pelo produto ou serviço; 
c) Um abatimento proporcional no preço pago. 
É importante ressaltarmos que a substituição deve ser imediata caso os bens com defeito 
sejam essenciais, como fogões, geladeiras, balões de oxigênio, etc. Ainda a partir da análise do 
artigo 18, podemos notar que há solidariedade entre fabricante e revendedor no tocante à 
reparação do produto, ficando a critério do consumidor a escolha de quem resolverá a sua 
situação por meio de reclamação direcionada. 
Quanto aos demais prazos, o CDC estipula expressamente o seguinte: 
a) Dados e cadastro inexatos — o consumidor terá o direito de, no prazo de 05 (cinco) dias 
úteis, ver corretos dados e cadastro inexatos (art. 43, § 3º do CDC); 
b) Desistência de contrato — consumidor terá o prazo de 07 (sete dias) dias para desistir 
do contrato, a contar da sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, 
sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do 
estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio (art. 49 do CDC); 
c) Vício aparente não sanado — após 30 dias sem que o vício (aparente) seja sanado, o 
consumidor poderá exigir, alternativamente e à sua escolha: 
a. A substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições 
de uso; 
b. A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo 
de eventuais perdas e danos; 
c. O abatimento proporcional do preço (arts. 18, § 1º do CDC). 
d) Vícios aparente ou de fácil constatação em bens não duráveis — o consumidor terá o 
prazo de até 30 (trinta) dias, no caso de bens não duráveis, para reclamar pelos vícios 
aparentes ou de fácil constatação (art. 26, I do CDC); 
e) Vícios aparente ou de fácil constatação em bens duráveis — o consumidor terá o prazo 
de até 90 (noventa) dias, no caso de bens duráveis, para reclamar pelos vícios aparentes 
ou de fácil constatação (art. 26, II do CDC); 
f) Vícios não aparentes — O consumidor terá o prazo de 05 (cinco) anos, no caso de vício 
não aparente, a contar a partir do conhecimento do dano e da sua autoria, para ajuizar 
ação de reparação de danos (art. 27 CDC). 
 
INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO 
8.3. Condições Abusivas 
Os conceitos indeterminados devem ser preenchidos pela concretização mediadora do 
julgador, captando os standards éticos e jurídicos da comunidade no tempo e no espaço. Isso 
ocorre em função de a lista de cláusulas abusivas contida no art. 51 do Código ser meramente 
exemplificativa, configurando uma tipicidade aberta. 
As cláusulas abusivas são nulas ‘de pleno direito’ (art. 51). O regime definido é o da 
nulidade e não qualquer outro, como o da anulabilidade ou o da ineficácia. 
O princípio da conservação do contrato, adotado pelo Código (art. 51, § 2º, CDC), 
permite a validade do contrato na parte que remanescer, salvo se ocorrer ônus excessivo a 
qualquer dos contratantes. Mais uma vez, a regra fundamental é a do equilíbrio das posições 
contratuais. 
O princípio da conservação do contrato indica uma preocupação com a proteção 
contratual, sobretudo quando se refere à fórmula ou ao índice, adotando uma tendência da 
jurisprudência de proibir vários índices alternativos no mesmo contrato, em favor apenas do 
fornecedor e em detrimento de uma relação de consumo harmônica.

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