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A Roupa- Emanuella Scoz (Org ) academia edu

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A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
1 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) 
Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins 
Tatiane Melissa Scoz 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
4 
 
A ROUPA 
A evolução da Roupa em sua 
Relação com a sociedade. 
Do ano 1000 d.C. até o século XX 
 
 
 
 
 
2ª Edição 
 
 
 
Blumenau 
2019 
 
 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
6 
 
Índice 
 
PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO 8 
1.1 ESTÉTICA E LINGUAGEM DAS ROUPAS .......................................... 20 
1.2 REPENSANDO A ROUPA DOS TEMPOS ANTIGOS .......................... 23 
1.3 A ROUPA DAS SOCIEDADES ANTIGAS ............................................ 27 
1.5 A ROUPA NO CORPO ..................................................................... 31 
2. A ROUPA A PARTIR DA IDADE MÉDIA 37 
2.1 Século XI ao XIII .............................................................................. 38 
2.2 Século XIV ...................................................................................... 60 
2.3 Século XV ....................................................................................... 65 
2.4 Século XVI ...................................................................................... 84 
2.5 Século XVII ................................................................................... 101 
2.6 Século XVIII .................................................................................. 119 
2.7 Século XIX .................................................................................... 132 
REFERÊNCIAS ............................................................................ 144 
3. PELADO, PELADO, NU COM A MÃO NO BOLSO: 146 
UM OLHAR PARA A ROUPA INSPIRADO POR QUESTÕES FILOSÓFICAS 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 146 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
7 
4. A MODA E O COLETIVO, A ROUPA E A INDIVIDUALIDADE: 159 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 165 
5. ROUPA PARA MODA “SEM GÊNERO”? 166 
5.1 ROUPA E MODA “SEM GÊNERO”................................................. 172 
Referências: ....................................................................................... 182 
6. Catálogo de obras .......................................................................... 187 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
8 
 
 
1 
PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO 
 
Em 2012, a primeira edição deste livro foi lançada, com ob-
jetivo de refletir sobre a Roupa. Havia como interesse lançar um 
olhar histórico-cultural sobre as transformações na construção da 
Roupa. 
Como docente de Moda, entendia a Roupa como o mais 
simbólico e corriqueiro objeto criado pelo homem. Coloco neste 
livro a perspectiva da Roupa como um instrumento do nosso coti-
diano, simbolicamente construído, e socialmente estruturado. 
Esta segunda edição visa engrandecer as reflexões sobre a 
Roupa, como um produto inerente ao trabalho humano, para o soci-
al, portanto, contextualizado dentro das realidades de cada época, e 
também como um objeto simbólico, que carrega os signos incorpo-
rados da sociedade de seu tempo. 
A Roupa caminhou, durante os séculos, de objeto de utili-
dade cotidiana para objeto comunicante, justamente por, como to-
dos os objetos da nossa atualidade, incorporar elementos significan-
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
9 
tes. Dessa forma, pode ser vista não só como produto consumível, 
mas como produto de estudo da linguagem visual de uma época. 
Neste sentido, o que é trabalhado nesta segunda edição, traz, 
não somente a visão do design sobre a Roupa, na perspectiva histó-
rica e cultural, mas uma reflexão sobre gênero, moda e Roupa, a 
partir da perspectiva antropológica, na autoria de Tatiane Melissa 
Scoz. Traz ainda a perspectiva filosófica na autoria de Albio Fabian 
Melchioretto, e uma introdução sobre a constante Moda, e sua in-
terlocução com a Roupa, de autoria de Cibele Cristina Martins. 
São reflexões que nos permitem conhecer melhor as rela-
ções humanas e sociais com os objetos do cotidiano, em especial a 
Roupa. Na primeira edição alguns esclarecimentos foram feitos 
sobre nossa especial ligação com a Roupa, dentre eles, considera-
mos que ela é objeto cotidiano, nos acompanha em todos os mo-
mentos da vida, por todos os tempos, em nossos diversos afazeres, 
simplifica e exemplifica momentos, desejos, ideias, é fruto de nossa 
concepção de mundo, e, surgindo com as valorações de pudor, pro-
teção e adorno, continua sua simbiose com nossos hábitos e costu-
mes. 
A Roupa inicia sua trajetória social ainda no período paleo-
lítico. Cobrir o corpo era necessário para proteger, adornar e dife-
renciar. A partir dos séculos, com as mudanças sociais, o valor atri-
buído à vestimenta foi se modificando, se tornando mais complexo, 
ao passo que na atualidade a Roupa assume papel de comunicação, 
referenciando interpretações semióticas. 
O psicanalista John Carl Flügel e Pierre Restany, junto com 
Friedensreich Hundertwasser , tratam da Roupa como manifestação 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
10 
da individualidade e como uma segunda pele, pela forma como é 
interligada aos simbolismos das identidades culturais e dos sujeitos. 
A Roupa é vista aqui como utensílio culturalmente constru-
ído. Utensílio porque tem funções que se dividem em funções de 
trabalho, lazer etc., e culturalmente construído porque depende di-
retamente da forma como o ser humano, enquanto sujeito em soci-
edade, se relaciona com tudo que o rodeia, como o clima, os ani-
mais, os outros humanos e consigo. 
As ressignificações da Roupa são parte de um processo so-
cial que pode ser contextualizado a partir de suas transformações ao 
longo dos séculos, motivadas por acontecimentos sociais. A pro-
posta do presente livro é refletir sobre a Roupa em seu contexto 
social, histórico e humano. 
Pensar na Roupa como ferramenta e como produto gerou 
questionamentos acerca das modificações sofridas por ela durante 
os séculos, principalmente nas estruturas de corte e costura. De 
peças amarradas ao corpo, o que aconteceu durante os séculos que 
permitiu a Roupa se tornar tão dinâmica e variada nos tempos atu-
ais? 
A pesquisa bibliográfica buscou responder a esta dúvida, 
trazendo muitas considerações sobre a Roupa em seu longo percur-
so histórico. Essa pesquisa contribuiu para entendermos que as 
transformações sociais acarretaram em rupturas no modo de pensar 
e agir. Tais transformações modificaram a função da Roupa e fo-
ram gradativamente alterando tambémas noções de estética, o as-
pecto e a produção da Roupa. 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
11 
Tanto o aspecto como a produção da Roupa têm relação 
com os avanços da tecnologia e com o trabalho e, como demais 
objetos criados pelo ser humano, possuem utilidades com funda-
mentos culturais e históricos, o que possibilita ver a Roupa como 
um objeto complexo. 
A Roupa representou as construções sociais ao longo dos 
séculos, e continua a fazê-lo. Podemos perceber muitas delas embu-
tidas no significado de determinadas peças. Por exemplo, a saia foi 
classificada como feminina, ao passo que a calça como masculina. 
Muitos adereços receberam traços de gênero, raça, credo e localiza-
ção. 
Esta obra buscou, em livros de história e vestuário, a justa-
posição de movimentos e acontecimentos sociais atrelados às modi-
ficações nas Roupas. Lançou olhar sobre os avanços técnicos e tec-
nológicos ao longo de mil anos de sociedade ocidental, buscando 
acontecimentos marcantes, que mudaram a história da Roupa no 
mundo ocidental. 
Ao analisar a Roupa sob o olhar da filosofia, Albio Fabian 
Melchioretto traz uma crítica sobre o vestir e o nu na sociedade 
contemporânea. O autor lança um olhar sobre a Roupa como sendo 
uma construção política. Nesse aspecto, o autor questiona a regra 
de uso de Roupas, iniciando sua reflexão abordando a Roupa como 
um artefato para cobrir o nu, e conclui propondo pensá-la como um 
objeto de simbolismo político e cultural. 
A partir de um olhar antropológico, Tatiane Melissa Scoz, 
traz uma análise dos trabalhos mais recentes produzidos no campo 
da moda sobre a relação entre gênero, roupa e moda, e propõe re-
flexões sobre a ideia de moda e roupa “sem” gênero. 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
12 
Cibele Cristina Martins nos permite perceber o fenômeno 
moda sobre o produto Roupa, ampliando a visão da Roupa dentro 
da moda, percebendo-a sob a ótica de diversos autores que a consi-
deram desde um sistema de linguagem a um reflexo cultural. A 
Roupa na visão de Martins emana simbolismos da Moda, não difere 
de outros objetos do nosso cotidiano, no entanto, carrega a subjeti-
vidade do sujeito. 
Refletir sobre nossa sujeição à Roupa e demais objetos do 
cotidiano começa ao analisarmos o produto Roupa sobre os três 
elementos principais que objetitificam o surgimento da mesma: 
pudor, proteção e adorno. A função política da Roupa na visão de 
Melchioretto nos faz justamente refletir as questões sociais da Rou-
pa relacionadas ao pudor, ao poder, e a maquinaria social. A função 
diferenciadora da Roupa acontece primeiramente no seu uso como 
adorno, que carrega os simbolismos nas cores, estruturas, modela-
gens, caimentos, texturas selecionadas ao criar um produto de Rou-
pa. De certa forma, essa função aparece no artigo de Scoz, onde 
podemos perceber como os significados de gênero foram atribuídos 
à Roupa ao longo do tempo, ampliando o conhecimento sobre a 
linha do tempo da Roupa. 
No que tange ao elemento “proteção”, imaginamos primei-
ramente a função da Roupa de cobrir o corpo, no entanto, atual-
mente, a proteção pode estar também relacionada ao sujeito, à sub-
jetividade dos sujeitos que a Roupa carrega e emana. Proteger pode 
estar relacionado ao ato de pertencer a um grupo, posicionar-se 
como sujeito, protegendo o self. Como a Roupa acabou sendo inse-
rida neste contexto é o tema de Martins, que ao explicar a Moda e a 
Roupa no permite compreender para além das funções da Roupa 
como ferramenta, mas como individualidade. 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
13 
Esses três autores mencionados acima estudam o momento 
da Roupa a partir do século XX até o contemporâneo, complemen-
tando as análises sobre a Roupa que foram trabalhadas na primeira 
edição. 
Nossa ligação com a Roupa mostrou-se antiga, no entanto, a 
racionalização sobre ela pode ser considerada recente. Ao longo 
dessa nova edição, serão revistos os percursos que levaram a Rou-
pa, antes feita de tecidos rudimentares e amarradas ao corpo, à 
Roupa atual, maleável, flexível e tecnológica. Bem como seu per-
curso de significação ao longo dos séculos. 
Nesse livro, utilizamos o termo “ruptura” para significar o 
rompimento de um ciclo de pensamento sobre a Roupa. Esse termo 
já foi mais amplamente utilizado desde 2012 e tornando-se um 
conceito mais conhecido hoje. A ruptura é compreendida como a 
reestruturação que surge após a desestruturação de um ideal. 
Para a leitura desse livro, é importante questionarmos a 
forma das Roupas, ou seja, cada parte que compõe uma peça de 
Roupa. Esse particionamento é chamado aqui de estrutura. Como 
um prédio que recebe medições e materiais estruturantes, a Roupa é 
vista aqui como uma construção que, diferente dos prédios, um 
corpo de prova. 
É possível perceber que as modificações da Roupa, ao longo 
dos séculos, transitam em volta das necessidades básicas do corpo, 
como movimentos e crescimento. 
A Roupa é aqui tratada como um objeto de utilidade huma-
na, particionado para melhor compreender a relação da Roupa com 
o corpo. É vista também como um objeto que sofre a influência de 
seu tempo histórico pois, no ato de criação de uma Roupa, estão 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
14 
representados a moral, os costumes, os modos de viver, as visões 
de mundo. 
O ato de criar uma Roupa é compatível e entregue ao tem-
po, acompanha e modifica-se, e utiliza de todos os recursos existen-
tes para, de certo modo, ser o objeto principal. Nesse processo, é 
importante salientar que o ser humano depende do que está à sua 
volta para o trabalho, assim sendo, é influenciado pelos valores 
morais, pelos costumes, pela sua visão de sociedade e se utiliza das 
tecnologias e materiais existentes e acessíveis. 
O processo de criação da Roupa está ligado às simbologias 
que ela representa, e nessas simbologias está todo o processo criati-
vo que esconde, muitas vezes, o objeto principal para o aconteci-
mento de uma Roupa: o seu molde. 
Caimento, cortes, comprimentos e volumes podem dizer 
tanto sobre uma pessoa e uma época quanto sobre as cores e os 
adornos utilizados, isso porque para a estruturação desta Roupa 
houve necessidade de técnica, trabalho manual e maquinário, mar-
cas da ação do ser humano. 
Os conceitos subjetivos, os que nossa mente compreende 
sem necessitar ler ou escutar (aparência) são também inerentes ao 
tempo. Tudo acontece ao seu tempo, e na estruturação da Roupa 
tudo aconteceu em momentos próprios, que as tecnologias, a ciên-
cia, ou a religião permitiram. 
A minissaia do século XX, tão comum na atualidade, não 
existiu antes dos anos 1960. Período marcado pelo feminismo e 
juventude. Os ideais se modificam, alguns ficam no passado, outros 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
15 
surgem como novidade, mas a Roupa continua, é ressignificada e 
reinterpretada. 
A Roupa está interligada à tecnologia, ao modelo de traba-
lho, às novas máquinas, recursos e insumos têxteis, ciência, inova-
ções, se associando a um momento; e esse é absolutamente relevan-
te quando analisamos a construção da Roupa. Nesse processo estão 
contidas informações que nos ajudarão a vê-la como um artefato, 
um objeto repleto de significados que comunica um tempo e ideias. 
Penso, logo existo. Já dizia Descartes (1586-1650), em seu 
famoso Cogito Ergo Sum (1637). Da Roupa podemos dizer: Penso, 
logo crio, logo faço com o que tenho em mãos do jeito que me é 
possível! E nessa sociedade tecnológica, podemos dizer que o de-
senvolvimento da vestimenta acontece conforme as necessidades e 
desejoshumanos. 
A Roupa age como um auxílio, uma ferramenta. Mais que 
um simples cobrir o corpo, utilizar uma Roupa ocupa parte signifi-
cativa do nosso tempo de pensar. A estruturação da Roupa, portan-
to, vai além do conjunto de materiais utilizados para a mesma. Ela 
é uma ideia. 
Buscando conforto, estética e principalmente, utilidade prá-
tica, a partir dos nossos objetos cotidianos, a Roupa possivelmente 
é de todos os nossos objetos, o mais importante. Porque limita, ini-
be, ou facilita nossos movimentos. Nos causa desconforto, dores, 
ou conforta e nos mantém bem em qualquer situação. 
Ao nosso lado, todos estão executando tarefas cotidianas e, 
de alguma forma, pensaram em suas Roupas antes de vesti-las. As 
Roupas, assim, racionalizaram o vestir, algo que é tão cotidiano e 
comum. O vestir passa a ser automático, não percebido. 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
16 
 Os conceitos de design para a vestimenta consideram a ca-
pacidade de a Roupa ser vestida e retirada com facilidade, e de a 
Roupa alinhar-se no corpo de tal forma que não apresente empeci-
lhos aos movimentos do corpo humano. Apesar de considerarmos a 
Roupa como uma construção estética, o valor dela está muito mais 
para a sua usabilidade do que para um conjunto de peças combinan-
tes entre si. Adequar-se ao estilo de vida é parte inerente da Roupa 
desde seu surgimento, na antiguidade. As peles amarradas ao corpo 
eram batidas e mordidas, ação feita ainda hoje em algumas socie-
dades esquimós, buscando amaciar o couro para que melhor con-
tornasse o corpo, evitando inibir os movimentos durante uma caça-
da. 
Olhar o passado é a melhor forma de conhecer a trajetória 
desse produto tão antigo que é a Roupa. A partir do estudo da cul-
tura aprendemos sobre desejo, consumo e técnica, pois, ainda as 
Roupas na antiguidade necessitavam de utilidade, e o processo de 
criação dos desejos e da estética antigos pode ser facilmente perce-
bido em tempos atuais. 
Esquecer essa história de estruturas é como esquecer uma 
língua. Há objetivo em toda a parte da Roupa, como um projeto 
arquitetônico, a engenharia do vestir, desvestir, usar, mover-se, agir 
com o meio e receber a interferência dele. Reler as antigas estrutu-
ras é como aprender a reestruturar. Conceito que cai bem nesse 
momento moderno onde tudo é desestruturado e reestruturado para 
a criação de algo novo. 
A partir dessa análise, constituída do conhecimento dos 
atributos de uma estrutura: tempo, sociedade, composição e objeti-
vo, é possível iniciar uma reflexão sobre a ação de dar objetivo para 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
17 
a Roupa. Pensar a Roupa exige pensar a sociedade. As transforma-
ções sociais, a partir de choques culturais, guerras, sucessão de mo-
narca ou presidente impõe ao povo um novo modo de vida. Esse 
estudo proporciona conhecer esses momentos a partir da história da 
Roupa. 
Esses choques culturais e momentos históricos são tratados 
neste estudo como rupturas, pois trouxeram para a estruturação da 
Roupa um novo olhar: transformamos a Roupa para quem a veste, 
logo as transformações na sociedade implicam transformações na 
Roupa. 
Um homem de fraque e cartola durante o século XIX repre-
sentava mais seriedade que um monarca, pois estes vinham desde o 
século XVII mostrando a falta de relacionamento com o povo, e os 
interesses por frivolidades. A Roupa, no primeiro caso, era caracte-
rizada por cortes sóbrios e poucos detalhes marcantes, no segundo, 
caracterizada por volumes, recortes e detalhamento extra. Essas 
manifestações tornaram-se parte do senso comum na medida em 
que os cortes retos foram associados à sobriedade, e os volumes e 
exageros à futilidade. Essas valorações se refletem no modo como a 
Roupa passou a ser percebida pelas gerações seguintes. 
Esse conhecimento nos auxilia a desconstruir não apenas a 
forma da Roupa, mas o signo, a ideia, o modo de ver. O fraque e a 
cartola são hoje artigos de festas de época ou bailes formais, mas a 
sobriedade do preto e dos cortes retos continua agregada a vesti-
menta masculina, delimitando, inclusive, os limites entre masculi-
nidade e feminilidade. 
As rupturas, tanto antigas quanto modernas, tiveram efeito 
sobre a estruturação da Roupa, que é transformada ao longo dos 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
18 
anos seguindo uma série de intuitos gerados do pensamento coleti-
vo, e a cada mudança no pensamento coletivo a Roupa é adaptada. 
A Roupa atual pode ser ligada a uma série de tendências de 
personalidade. Mostra consumidores que buscam por algo novo, 
como compreensão pessoal. A ligação entre as rupturas sociais e a 
estruturação de uma Roupa é o ponto onde uma ideia passa a fazer 
parte de uma Roupa. A exemplo do momento em que a sobriedade 
serviu ao propósito de demonstrar o respeito exigido pelos burgue-
ses, a Roupa foi desestruturada e reconstruída com cortes simples e 
cores neutras. A neutralidade representava o oposto dos exageros 
monárquicos, e os cortes retos vão a desencontro dos cortes exube-
rantes das côrtes. Trata-se da criação de uma imagem que represen-
tava o oposto daquela que se buscava negativar. 
O processo criativo de uma Roupa é complexo e envolve 
uma série de valores, ele é ligado ao espírito humano, pois, este cria 
uma imagem para representar e se envolver com objetos de profun-
do significado particular. Num exercício pleno de comunicação 
visual, embute os preceitos do tempo (valores e signos), e de tama-
nho envolvimento se apega profundamente. 
Em todos os momentos de nossa história, estivemos interli-
gados à Roupa, e esta passou a nos suprir cada vez mais em neces-
sidades físicas e fisiológicas, mas é perceptível que os valores, a 
moral, a cultura interferem tanto quanto as necessidades do corpo. 
Comunicantes, as vestes são por vezes objeto de denúncia, repres-
são e protesto. Continuamos a nos proteger do frio, dos animais, a 
nos embelezar, diferenciar e a cobrir nossas “vergonhas”. Vestir-se 
para nós é mais que cobrir o corpo, nos vestimos com dados que 
achamos importantes. Penso, logo me visto! 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
19 
Flusser (2007) diz que tudo que o ser humano faz está liga-
do ao fato de querer fugir da única certeza da vida, que é a morte! 
Então, vestir, além de proteger, diferenciar e adornar, está repleto 
de sentimentos, moral e condutas, e pode ser o sentido de uma di-
versão, para literalmente curtir a vida. 
Subjetivo ou objetivo, se vivemos para fugir da certeza da 
morte, então nos vestimos para dar sentido à vida. 
 
Emanuella Scoz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
20 
1.1 ESTÉTICA E LINGUAGEM DAS 
ROUPAS 
 
Emanuella Scoz 
 
Aprendemos com imagens, primeiramente, e depois nelas 
codificamos palavras (FLUSSER, 2007). 
A aparência que a Roupa nos transmite pode ser em ponto 
subjetiva, as mensagens que uma vestimenta nos transmite pode 
não ter explicações decorrentes do mesmo período vivido; pode ser 
decorrente de um momento histórico ou de sucessões de fatos, que 
se misturam ao pensamento social dos tempos seguintes. 
Assim como o terno sustenta uma imagem séria, que possi-
velmente surgiu durante a formação da burguesia, ao tornar sóbrias 
as Roupas masculinas, tornando a ostentação algo impróprio ao 
homem. Os signos (significações sociais cotidianas atribuídas em 
imagens) são repassados em filmes e documentários, na Roupa de 
cena; a construção do personagem necessita do estudo de seu tem-
po, bem como de suas particularidades pessoais. 
Atualmente,na chamada sociedade líquida1 os valores se 
dissolvem, são solúveis às novas formulações culturais. As tradi-
ções antigas viram representações folclóricas, deixam de ser hábito. 
As desestruturas semióticas relatam novas estruturas, a própria es-
truturação da Roupa, em seus cortes, demonstra novos signos. 
 
1 De BAUMAN, Sygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 
2001. 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
21 
A estrutura é envolta por diversos signos, por exemplo: a li-
nha do ombro construída de forma mais ampla sugere domínio, isto 
pode estar ligado ao fato de esta linha de ombro mais amplo ter 
sido utilizada pela realeza, deixando para a sociedade o estigma de 
poder, ou mesmo pela expressão de cansaço ser facilmente vista em 
uma pessoa com ombros caídos. 
Na Roupa feminina, os movimentos feministas da década de 
1930 em Paris, e estilistas como Coco Chanel, ao libertar a mulher 
trouxeram peças do universo masculino, como a calça e o cardigã. 
Representando uma mostra de posse do papel antes masculino. Ao 
mesmo que Christian Dior, ao final da Segunda Guerra Mundial 
"resgata a feminilidade" da mulher ao devolver-lhe a saia rodada, o 
corpete e o salto alto. 
Esta representação de poder a partir de um corte feito na 
Roupa é uma linguagem estética construída por acontecimentos que 
antecedem a sociedade atual. Vivemos uma continuidade semiótica, 
rompendo tradições a cada nova geração. 
Os momentos de modificação da estrutura estão interligados 
aos fatos históricos, momentos de mudança do pensamento coleti-
vo, avanços da ciência, que construíram também a sociedade. A 
Roupa entra neste contexto em total fusão com os propósitos da 
época, por exemplo, um decote poderia dizer muito sobre a pessoa 
que o exibia, num local como a Espanha de 1400 d.C. que financia-
va a Santa Inquisição, onde a fé católica impunha rígida moralida-
de. 
A Roupa, contextualizada historicamente apresenta repre-
sentações simbólicas estéticas diferentes, porém, percebe-se que a 
estrutura inicial da peça rumou por uma única linha, evoluindo em 
volta do corpo, e se aprimora a fim de melhorar a sua integração 
com ele. 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
22 
Na contemporaneidade, o consumidor recria sua vestimenta 
e hábitos, a estrutura da Roupa também reflete os simbolismos des-
ta nova sociedade, em meio a uma ruptura de valores que pede uma 
ruptura no vestir, esta desestrutura antigos conceitos, como regras 
de etiqueta na vestimenta, e une várias culturas, trazendo à tona um 
pouco da comunicação de cada uma, assim, a estrutura recria-se 
também para uma nova comunicação. O hibridismo cultural2, ocor-
rido também na Roupa acaba por democratizar as culturas, ao 
mesmo que amplia identidades. 
Com este hibridismo cultural notam-se tendências de com-
portamento, representando uma ideia ou movimento. Não raro, 
produções independentes de criadores locais caracterizam-se como 
luxo e explodem nos meios midiáticos virtuais. Na atualidade, faz-
se mais importante conhecer o conceito, o simbolismo, a ideia con-
tida na Roupa, do que uma tendência pronta. 
As tendências atuais representam a práxis da vida humana, 
o comportamento. Buscam no cotidiano sua orientação e simulam 
possibilidades futuras. Estão vinculadas às formas sólidas de pes-
quisa que orientam o pesquisador a conceber uma tendência de 
comportamento de massa. A tradução desta em cor, forma e textu-
ra, no entanto, deve ser pertinente ao momento e cultura vigente. O 
que faz que muitas tendências sofram antecipação e não atinjam o 
consumidor por não partilhar do seu momento. 
Moda é cultura, nela estão inseridos os códigos de estética e 
valores culturais sociais. Roupa é um objeto de uso cotidiano, que é 
um de nossos artefatos de ação. Sobre a ação o design toma suas 
 
2 Termo utilizado por Boaventura de Souza Santos em Globalização e as ciência 
sociais, de 2002, explica as influências entre as diferentes culturas mundiais 
em detrimento da globalização. 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
23 
propriedades. Sobre a cultura a moda se vincula. Não sei se é pos-
sível, no entanto, separar ambos. 
Aparentemente, na atualidade, existe uma distinção entre o 
que é útil e o que é estético quando pensamos em Roupas. O que é 
útil, confortável, não necessariamente é construído de forma estéti-
ca. Primeiro, porque o conforto não consegue atingir a estética do 
objeto frívolo, criado em uma época onde o conforto era regido 
pelas imposições morais (lembramo-nos dos espartilhos), ou onde à 
ciência ainda não havia sido permitido estudar o corpo (lembramo-
nos da altura dos sapatos de salto femininos). 
Segundo porque não concebe a possibilidade de recriar uma 
concepção de estética baseada em outra comunicação social, como 
a modificação da própria estrutura da Roupa objetivando conforto, 
compreendendo que este pode adquirir simbolismos estéticos. A 
linguagem para a estética, é objeto de estudo tanto quanto a estrutu-
ra para o design. 
 
1.2 REPENSANDO A ROUPA DOS TEMPOS 
ANTIGOS 
Para repensar a Roupa necessitamos repensar a forma de ver 
o antigo. Primitivo vem de primeiro. O fio da seda, ao ser descober-
to, impulsionou modificações nos teares e processos de fiação da 
China. É até hoje um fio de tamanho força e delicadeza, cujas pro-
priedades naturais não foram substituídas por nossos materiais e 
processos tecnológicos mais avançados. 
No minidicionário Luft, a Roupa aparece como: pedaço de 
tecido para agasalho ou cobertura. E vestir como revestir, forrar, 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
24 
usar vestuário, trajar, cobrir com Roupa. Nota-se aqui a relevância 
do termo cobrir. Pode unir-se aos objetivos primitivos da Roupa: 
conceber o pudor, proteger o corpo, ou diferenciar as pessoas por 
suas ações na dinâmica social. 
De qualquer forma, desde a antiguidade a Roupa já tratava 
do corpo. Habitando um corpo, a Roupa passou a ser interligada, de 
modo subjetivo, à classificação da pessoa que habita, assumindo 
representações de suas atitudes, ocupação social e status. 
As leis suntuárias, criadas pelas monarquias absolutistas pa-
ra manter a diferenciação nos códigos sociais, incluía a vestimenta. 
Tecidos e cores eram privilégios de monarcas. 
A Roupa, o traje, identificavam a pessoa antes mesmo de 
seu nome. É importante salientar neste contexto todo, que estrutura 
representa uma parte muito importante para a Roupa, que, além de 
linguagem e estética, é também o processo. 
Atualmente a Roupa é construída a partir de vários proces-
sos entre a concepção do produto e sua fabricação. Para sua estrutu-
ração existe um grande número de técnicas e ferramentas que fa-
zem parte dos processos, não só da modelagem da Roupa, mas 
também da costura e beneficiamento. 
A moulage ou drapping, técnica comum para alta costura, 
que consiste em construir um molde em tecido diretamente no cor-
po de um manequim. Muitos costureiros confeccionam os próprios 
manequins, e também as próprias ferramentas, garantindo sua ex-
clusividade. 
Volumes e silhuetas podem ser desenhados no corpo a partir 
do uso correto de medidas. Esta moulage possivelmente é o primei-
ro ofício provindo da evolução das técnicas de antigos costureiros. 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
25 
Em idos de 1840 já havia uma grande quantidade de instrumentos 
para a elaboração de um molde. 
 A postura tem grande influência na construção da Roupa; 
utilizando linhas de posição para ocorpo é possível analisar a me-
lhor postura, para evitar que a Roupa crie uma má impressão ao ser 
vestida. Todos estes aspectos são importantes e devem ser conside-
rados como parte estimulante para a construção de uma Roupa. O 
bom uso da estrutura será fundamental para seu aspecto final. 
Construir é parte do processo de criação da imagem pessoal. 
Durante a história, muitos fatores influenciavam no corte: 
uma nova descoberta territorial, a descoberta de novos povos, ou a 
sucessão de um reinado, cada um destes eventos trouxe novos ins-
trumentos, novos materiais, e novas ideias. 
A estrutura da Roupa anterior ao século XI, nas comunida-
des europeias era simétrica e geométrica, o calção tinha cortes retos 
da cintura ao joelho, e era amarrado à cintura por um cordão. A 
vestimenta parece ter sido traçada nas formas do corpo, porém sem 
curvas; após certo período as curvas aparecem, e após a construção 
de métodos registrados, passa a evoluir com traços parecidos com 
os atuais. 
Entre os séculos XI e XII a Roupa demonstrava ser constru-
ída com base técnica e muita medição. Entre os séculos XII e XIV a 
Roupa teve uma mudança relevante em seus cortes; surgiram pen-
ces e pregas que retiravam o excesso que se formavam nas curvas 
do corpo; os desconfortos nas junções eram aliviados, sobretudo 
nos cotovelos, com aberturas. A vinda de costureiros do oriente, 
mantidos nas cortes, modificou a estrutura. 
Estes costureiros tinham conhecimentos sobre técnicas de 
corte e costura que contribuíram para a mudança. A tradição, não é 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
26 
de hoje, dissolvida. A sociedade líquida nos demonstra algo ineren-
te a humanidade: a vontade de mudar. 
A partir do início do século XXI a Roupa mais comum foi o 
jeans, antes instrumento de mineradores e trabalhadores do proleta-
riado, o jeans apareceu em filmes como instrumento de revolta en-
trou no gosto popular, chegando aos desfiles de alta costura. Este 
tem profundas transformações em sua estrutura. 
Muitas vezes pences são feitas nos joelhos, pois estes no te-
cido de brim tendem a lacear com o tempo, e ficar com aderência 
nos joelhos, estas pences nas laterais ajudam a curvar a calça na 
altura do joelho, assim, com espaço para movimentação dos joe-
lhos, a calça não deforma. São detalhes que permitem que a Roupa 
tenha melhor caimento e mais qualidade. Até a década de 1940 esta 
construção seria vista como desleixo, porém os valores mudam e à 
procura de conforto submetem-se novos valores. 
A ruptura da vestimenta vem aliada a uma ruptura de con-
ceitos, novamente, do pensamento coletivo, que toma um rumo 
pessoal e individual talvez nunca antes visto, porém comparável à 
busca pela diferenciação que acontecia nas cortes europeias durante 
toda a Idade Média e Renascença. 
Neste novo momento, é possível analisar com mais deta-
lhamento os comportamentos, pois, a ciência cognitiva também 
teve notáveis avanços em relação a comportamento e pensamento 
coletivo. O consumo atualmente manifesta-se em vista de um bem-
estar, funcionalidade e prazer para o consumidor. 
E, apesar de ser uma incessante busca por individualidade, 
mantém todos cada vez mais conectados, discutindo pontos de vista 
e opiniões, e assim criando uma coletividade, marcando este perío-
do como um momento de ruptura. Outro pensamento seria a já ci-
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
27 
tada valorização da cultura, do histórico, do povo, confirmando a 
importância da coletividade cultural. 
1.3 A ROUPA DAS SOCIEDADES ANTIGAS 
Existem registros de ossos no formato de agulhas datados de 
quarenta mil anos (Köhler, 2005). Pode ter se formado ali o modo 
primitivo de costurar, passando o fio pelas peles com uso destas 
agulhas. As peles eram retiradas do animal morto e curtidas à base 
de óleos vegetais e amaciadas por mordidas, técnicas utilizadas até 
hoje pelos esquimós, depois de costuradas, o resultado é o surgi-
mento de uma vestimenta primitiva. 
Além de peles, os materiais eram os que se encontravam na 
natureza, raízes e sementes. O fio, acredita-se, tenha sido feito utili-
zando os tendões dos animais, durante o período primitivo, evolu-
indo até o enroscamento de fibras encontrado já na Antiguidade 
Clássica. 
A Roupa surge por necessidade de proteger o corpo, cobrir 
as partes íntimas e diferenciar posições dentro de uma mesma soci-
edade tribal. Recebe ao longo dos milênios adaptações, incorporan-
do todo tipo de material à sua confecção. 
Por volta de 600 a.C. surge no oriente a tesoura. Instrumen-
to atribuído à confecção da vestimenta, no entanto, apenas durante 
o século XVIII. Em algumas referências de pesquisa, a tesoura é 
citada como criação de Leonardo Da Vinci, já evidenciando seu uso 
durante o século XVI, porém não há registros conhecidos deste 
invento. 
Antes do ano 1000 d.C. muitos povos já tinham formas de 
estruturar suas Roupas, alguns povos apresentavam formas próxi-
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
63 
eram costuradas abaixo do braço até o punho, bem largas até o co-
tovelo, com volume levado à parte de baixo do braço, parte de ci-
ma, na estrutura era cortada reta. 
A partir do cotovelo a manga ajustava-se, fechando a cur-
vatura da manga aos poucos, esta manga é provavelmente cortada 
em duas partes, devido ao franzido encontrado na altura do cotove-
lo. 
A manga presunto é característica por ter a parte bufante 
maior, já a manga bufante pode ter o volume maior localizado entre 
o meio do braço e o cotovelo. 
 
Representação da manga presunto: 
 
Fonte: Da autora. 
O uso de mangas bufantes esconde um pouco a falta de 
caimento do ombro, que era traçado em ângulo reto. Na modelagem 
contemporânea, o ombro tem uma queda, de forma que a peça se 
ajeita no trapézio formado pela musculatura do ombro, porém, se 
 
malha e mangas curtas) cujo corte evoluiu dos cortes simples das túnicas mas foi repagi-
nada durante a revolução industrial, sendo confeccionada de Jersey, e utilizada como 
roupa de baixo. 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
90 
Não como plissados, mas como pregas simples, tendo o cui-
dado do plissado da barra ficar perfeitamente distribuído. A cava do 
vestido é extremamente pequena, termina logo abaixo do braço, o 
que comprime o busto logo acima, empurrando para baixo. 
Caso a cava fosse um pouco mais abaixo, comprimiria o 
busto na parte central, o que criava a estética do busto saltado, er-
guido para fora do corpete. O resultado era uma nova rigidez e hau-
teur na etiqueta rigorosa da corte, muito religiosa. Acabaram-se as 
linhas fluídas das Roupas do início do século, quando pareciam 
expressar a personalidade do ser humano e até a própria fantasia. 
O aspecto que o rufo representava era de uma pessoa altiva, 
um portador de muitas virtudes, para a época um aristocrata esnobe 
e várias revoltas se iniciam neste momento por parte do povo, re-
voltado, entre alguns dos motivos, com a riqueza não dividida; este 
era o momento das grandes cortes e dos grandes bailes, e também 
da criação das taxas e impostos. 
É um século de luzes, a reforma criada pelo rei Henrique 
VIII aproxima o Renascimento. A física aflora, astronomia e Leo-
nardo da Vinci, com patrocínio do rei Francisco I, da França, pôde 
colocar em prática seus estudos. Neste contexto de grandes refor-
mas e apreciação das artes e ciências, as Roupas tornam-se mais 
irreverentes, muito surge em termos de estruturas. Galileu Galilei 
defende a teoria do heliocentrismo, baseado nos estudos de Nicolau 
Copérnico,mas desiste de sua tese por ameaças da Santa Igreja 
Católica. 
Veludo e peles eram comuns, também pelo clima frio rigo-
roso dos invernos europeus. A Roupa era preciosa, passando como 
herança para as descendentes, era costume em momentos difíceis 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
108 
seda na frente, por vezes tão decotado que cobria o busto a partir 
das auréolas do seio, em formato quadrado. 
A técnica de franzir conhecida até hoje é conseguida pela 
engomagem, com auxílio de ferro quente, e a costura das pregas na 
veste. Já a técnica para mais comum utilizada para plissar o tecido é 
conseguida por meio de um molde onde o tecido é sobreposto, plis-
sado junto com a base do molde e guardado por algumas horas (a 
quantidade de horas depende da tenacidade da fibra). Este método 
na Idade Média utilizava bases de madeira, atualmente pode utilizar 
vapor e prensa para apressar o processo. 
Na imagem, cavalheiro ao centro utiliza a gola caída, o gi-
bão terminado em ponta na frente, apesar de inteiro ainda tem mar-
cação da cintura, conseguida pelo estreitamento da mesma no mol-
de, de forma reta. 
Haviam calções mais longos, na Espanha, juntamente com o 
gibão mais comprido na frente em relação as costas, e as abas, antes 
costuradas separadamente agora eram cortadas no molde, formando 
um traje de peça única. 
Graças aos processos de curtimento da camurça, o gibão fi-
ca mais maleável, a parte traseira passa então a ser inteiriça. As 
abas tinham duas camadas, ficando longas, também para servir co-
mo armadura, protegendo as coxas de golpes. 
Ainda assim era rijo e necessitava ser fechado com fivelas. 
As abas por vezes eram costuradas ao corpo do gibão após ele estar 
todo montado, ou recebia as abas inteiras até os braços, criando 
uma pala superior na frente e costas. 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
132 
portas e escadas. Neste momento a Roupa passa a ser dividida não 
só por estações, mas por ocasiões. 
O comércio toma evidência, muitas monarquias têm fim, a 
burguesia começa a fazer parte da sociedade de forma mais aparen-
te, assim, passam a fazer parte também das rodas da alta sociedade, 
antes mais frequentadas pelos nobres. 
Neste momento os homens utilizam fraque, ao qual é se-
melhante ao casaco, com a fenda atrás e utilizado com o colete sob 
o casaco, e a faixa de cetim na cintura; o casaco tem uma grande 
lapela frontal, assim como o fraque, e recebe caseados falsos, pois 
tem seu fechamento por colchetes, semelhante ao fechamento dos 
casacos de oficiais. Neste momento, o comércio têxtil de tecidos 
era muito rentável. 
2.7 SÉCULO XIX 
O século XIX inicia com a promessa de ser o século das lu-
zes, pela evolução dos maquinários e indústrias do comércio e pelo 
fim de muitas elites monárquicas, que mantinham o poder passan-
do-o de geração em geração. A meritocracia surge como ideal de 
que o pobre, mesmo nascido pobre e sem sobrenome, poderia as-
cender socialmente pelo trabalho. É neste século que nasce as ciên-
cias sociais e o estudo das culturas, pragmatizando o pensamento 
religioso. 
É, no entanto, um momento tenso politicamente, antes de 
Napoleão o diretório reprimia ideias revolucionárias, após a queda 
do diretório eram reprimidas ideias não revolucionárias, e então 
Napoleão perde para a Inglaterra na batalha de Waterloo, e os anti-
gos regimes voltam a reinar. 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
146 
3. PELADO, PELADO, NU COM A MÃO NO BOLSO: 
UM OLHAR PARA A ROUPA INSPIRADO POR 
QUESTÕES FILOSÓFICAS 
 
Prof. Me. Albio Fabian Melchioretto 
 
A proposta deste texto será pensar a questão da roupa ou da 
nudez a partir da filosofia. Para dar conta da provocação recupero a 
letra da música Pelado, interpretada pela banda de rock por Ultraje 
a rigor. Ela faz uma crítica àquilo que nos prende, a censura, a 
moral e ao decoro. Para a música há uma beleza que existe por 
debaixo da etiqueta. A verdadeira indecência não está em mostrar 
as “vergonhas”, mas sim na ausência de conhecimento, de reflexão, 
e daquilo que vulgarmente chamamos de cultura. Da roupa, a 
música pouco fala, mas usa do vestir e do estar nu como metáfora 
para uma crítica social. Mas o refrão dela cabe muito bem para esta 
reflexão e aquilo que o texto quer pensar. O que significa estar 
vestido em nossos dias? 
Pensar a roupa e o permanecer vestido é um desafio, pelo 
objeto em si e pela própria filosofia, com o caminho histórico que 
ela percorre e o intermezzo que forma esta reflexão. As linhas que 
pretendo seguir para pensar este encontro são três. Primeiro, parto 
de uma reflexão do cotidiano; segundo, passo brevemente pela obra 
1984 de George Orwell, e concluo com o terceiro passo onde penso 
a noção de biopolítica – ação política, onde o Estado coloca a vida 
biológica em seu centro, pensado a partir das ideias do filósofo 
italiano Giorgio Agamben (1942). Dito isto e contextualizado, 
vamos ao caminho proposto, mas lembro que esta é apenas uma 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
147 
leitura frente as muitas leituras possíveis sobre o tema da roupa e 
de suas representações no dia a dia. 
Ao primeiro passo, a leitura do cotidiano a partir de uma 
fábula. Ela, ou as reflexões do cotidiano, constituem uma forma de 
saber interessante para considerar a construção cultural. Por 
exemplo, vejamos a discussão da fábula judaica entre a mentira e a 
verdade e a herança conceitual que carregamos deste conto, 
aparentemente, inocente. Contam que em determinada ocasião, a 
Mentira e a Verdade se encontraram a beira de um riacho e 
dialogaram. 
- Bom dia, senhora Verdade, diz a Mentira ao iniciar a 
conversa. 
Antes de responder, a Verdade foi conferir se realmente era 
um bom dia. Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva e percebeu 
até pássaros cantando. Ao constatar que realmente tratava-se de um 
bom dia, respondeu: 
- Bom dia, senhora Mentira. 
A Mentira, sem pestanejar, muito menos conferir, 
respondeu: 
- Sente o calor que está hoje? 
A Verdade percebendo que a Mentira estava certa ficou 
tranquila. A Mentira então a convidou para banhar-se no rio. 
Despiram-se de suas vestes e pularam na água. Sorrateiramente, a 
Mentira saiu da água, vestiu-se com as roupas da verdade e foi 
embora. A Verdade, ao perceber, recusou-se a colocar-se nas 
roupas da Mentira e ficou nua. E por não ter do que se envergonhar, 
saiu sem roupas pelo caminho: a verdade está nua. 
Quero explorar a moral da história subvertendo a lógica 
textual. Não vou pensar a verdade e a mentira em seu sentido, mas 
na virtualidade das vestes. A roupa traz um sentido de mentira? Ela 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
159 
 
 
Agradeço primeiramente a Deus por seu amor e amparo na 
minha vida, à minha querida amiga Emanuella Scoz, pelo convite 
para fazer parte deste momento tão importante em sua vida, mas 
principalmente por seu carinho, dedicação e paciência ao longo de 
todos esses anos, ao meu professor, mentor e amigo, Rafael Haen-
dchen Mendes, bem como à minha amiga Nadine Alves de Siqueira 
e à minha irmã Eliane Gorete Martins. 
 
 
4. A MODA E O COLETIVO, A ROUPA E A 
INDIVIDUALIDADE: 
Cibele Cristina Martins 
Teria a Moda apenas um caráter efêmero, sendo um aglo-
merado de superficialidades, cujo único propósito é levar o indiví-
duo a abrir mão de seus recursos financeiros, ou seria o resultado 
do todo, estando intrinsicamente ligada à história, à cultura e a so-
ciedade? 
Vinda da palavra latina modu, podendo ser traduzida como 
modo, significando uso, hábito ou costume, a Moda influencia e é,indubitavelmente, influenciada pelas sociedades e culturas, assim 
como a história tem mostrado. Desta forma, Ela é reflexo do meio 
no qual está inserida. Podendo-se afirmar que a história se baseia 
nos fatos transcorridos ao longo do tempo, enquanto a Moda nos 
fala dos indivíduos que construíram essa história. 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
160 
Sendo o indivíduo o artífice articulador da história, e sendo 
a partir dele que a Moda se expressa, escolhendo o vestuário, a 
Roupa, como a principal forma de traduzir o meio ao qual pertence, 
sua cultura, personalidade e até mesmo seu gênero, é seguro asse-
verar que a Roupa é um símbolo, um ícone, um signo. Para a se-
miótica, que segundo Santaella (2012, p. 19) "é a ciência que tem 
por objeto de investigação todas as linguagens possíveis", e que 
tem como unidade de expressão o signo, tendo por conceito ser 
tudo aquilo que representa algo para alguém, sob quaisquer cir-
cunstâncias ou forma, pode-se dizer que a Roupa é, neste caso, usa-
da como uma forma de linguagem, como um meio de comunicação. 
E transpondo este contexto para a Moda, por conseguinte pode-se 
afirmar que ela, a Moda, é antes de mais nada, comunicação. 
Sendo a moda símbolo na essência, parece certo 
afirmar que a ela se aplica perfeitamente a transfe-
rência de significados, visando à comunicação inte-
grante de sociedades, onde tudo comunica, sendo as-
sim, o vestuário é comunicação. (MIRANDA et al., 
2003, p.3). 
Mas a Moda como conhecemos hoje passou por diversas 
mudanças, tendo surgido no final da Idade Média e começo da Ida-
de Moderna, segundo Braga (VASONE, 2005, s.p.), na França, em 
1492, tem-se a primeira definição da palavra Moda como “maneira 
coletiva de vestir” sendo considerada um fenômeno ocidental ad-
vinda do capitalismo, há séculos vem sendo usada como instrumen-
to de distinção, tanto social quanto economicamente. À exemplo da 
burguesia, que surge por volta dos séculos XII e XIII, enriqueceu a 
partir do comércio e da prestação de serviços, e apesar de possuir 
poder monetário, estava ainda muito longe de desfrutar do prestígio 
da nobreza, que era a classe social dominante daquela época. Por 
esta razão imitava o modo de vestir dos nobres, que logo buscavam 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
166 
5. ROUPA PARA MODA “SEM GÊNERO”? 
Tatiane Melissa Scoz 
 
Nesse texto pretendo colaborar com a discussão empreendida 
nesse livro sobre a Roupa, tratando de uma questão mais específica 
que é sobre o que vem sendo chamada de moda “sem gênero”. O 
que é gênero? Como a ideia de moda “sem gênero” tem sido signi-
ficada pelos profissionais da moda e estudiosos do tema? É possí-
vel a existência do “sem gênero”? Gênero neutro e “sem gênero” 
são a mesma coisa? Essas são algumas questões norteadoras que 
irão acompanhar o leitor nas reflexões que seguem. 
Viver em sociedade significa, entre outras coisas, comparti-
lhar cultura. A cultura é constituída por regras, hábitos, costumes, 
valores morais, etc. O conteúdo disso varia conforme os contextos 
sociais e os períodos históricos. As expressões culturais influenci-
am as visões de mundo e os comportamentos das pessoas. Muitas 
vezes, as pessoas naturalizam elementos culturais, ou seja, os con-
sideram naturais, pois raramente questionam porque as coisas são 
como são. Dito de outro modo, geralmente, as pessoas não perce-
bem que as regras, os hábitos, os costumes, os valores, os compor-
tamentos que possuem, são construídos pela sociedade e apreendi-
dos pelos indivíduos desde a infância, de acordo com o meio social 
em que vivem (LARAIA, 2001). 
As noções do que é tido por feminino e masculino são um 
exemplo de elementos culturais cujos significados foram elabora-
dos ao longo da história. Tais significados se transformaram ao 
longo do tempo, mas foi preservada essa distinção binária para de-
signar homem/macho e mulher/fêmea. Geralmente, as característi-
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
167 
cas e os papéis sociais atribuídos ao que se entende por feminino e 
masculino são considerados como naturais, no entanto, são constru-
ídos socialmente. Essas são constatações obtidas a partir de pesqui-
sas realizadas no campo das Ciências Humanas e que se dedicam a 
estudar as implicações sobre gênero na sociedade. Algumas impor-
tantes contribuições para a construção de um campo de estudos de 
gênero marcaram época, tais como os trabalhos de Margareth Mead 
(1935), Simone de Beauvoir (1980, publicado pela primeira vez em 
1949), Gayle Rubin (1975), Joan Scott (1986), Judith Butler 
(1999). 
Os estudos de Butler se tornaram referência para as pesquisas 
na área, e são bastante utilizados para fundamentar a proposta do 
que tem sido chamado de “moda sem gênero”, que será debatido no 
próximo tópico. Por esse motivo, é importante apresentar aqui, 
mesmo que brevemente, as análises da autora sobre gênero. 
As reflexões de Butler sobre gênero perpassam a noção de 
sexo biológico. Butler (2013) questiona a ideia já estabelecida de 
que o sexo é dado biologicamente, definindo se alguém é homem 
ou mulher, e de que o gênero é o que possui dimensão cultural. 
Para ela, o sexo não pode ser compreendido como sendo natural ou 
definido biologicamente, pois tanto o sexo como o gênero são cons-
truídos socialmente, e a classificação binária masculino/feminino 
ou macho/fêmea também. 
Ocorre que, em nossa sociedade, é feita a distinção masculino 
e feminino que caracteriza os corpos em um ou outro. Tal distinção 
é determinada por causa de um discurso que entende o sexo como 
biológico, natural. Dessa forma, existem normas que imperam co-
mo padrões, definindo os corpos tal como as pessoas aprendem 
como sendo homem ou mulher. Aqueles que fogem ou não se reco-
nhecem nessas normas, são descriminados, colocados à margem 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
174 
unificação do masculino e feminino. Para se encai-
xar na categoria, o produto deve possuir uma lingua-
gem na qual dificilmente se identifiquem caracterís-
ticas de um único gênero, e principalmente, que es-
sas peças possam ser usadas por pessoas de todos os 
gêneros e orientações sexuais” (IDEM, p. 02). 
 
Nessa definição, moda “sem gênero” seria aquela que busca a 
unificação dos gêneros masculino e feminino, de modo que não 
seja possível identificar as características de um único gênero, e as 
Roupas poderiam ser usadas por pessoas com as mais diversas 
identidades de gênero. 
Em outro estudo (PORTINARI, COUTINHO e OLIVEIRA, 
2018), encontramos os termos “plurissex”, “genderless”, “gender-
bender”, “agênero” para se referir à moda “sem gênero”. De acordo 
com as autoras, é uma proposta “que pretende se desvincular de 
estereótipos sociais sobre masculino e feminino, vestindo homens e 
mulheres de forma igual, de modo que dificilmente serão identifi-
cáveis pelos marcadores normatizados de gênero (idem, p. 145 – 
146). 
Aqui, os autores relacionam moda “sem gênero” com a pro-
posta de desvincular estereótipos, vestir de forma igual. Tal como 
na definição de moda “sem gênero” do estudo de Pereira e Freitas, 
nesse também aparece a ideia de Roupas sem marcadores de gêne-
ro. 
O trabalho de Perlin e Kistmann (2018, p. 10) traz percepção 
semelhante sobre a ideia de moda “sem gênero”. Segundo as auto-
ras, “a moda sem gênero questiona as imposições de cores, formas, 
modelagens, modelos e estruturas das Roupas como determinadas 
pelos sexos, e estimula a mistura e o uso desprendido das peças”. 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
187 
6. CATÁLOGO DE 
OBRAS 
Primavera.1455-60. Cosimi di 
Domenico di Bonaventura Tura. Extraído 
do livro 1000 obras primas da pintura, 
2007. 
 
 
 
 
Virgem e Menino com san-
tos e doador. 1505-10. Gerard Da-
vid. Extraído do livro 1000 Obras 
primas da pintura, 2007. 
 
 
 
Tríptico: Retábulo de São João. 1446-53. 
Rogier van der Weyden. Extraído do livro 1000 
Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
188 
 
São Lucas desenhando a Virgem. 
1440. Rogier van der Weyden. Extraído do 
livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
Retrato de um Jovem. 1517. Andrea del Sarto. 
Extraído do livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
Retrato de Henrique VIII. 
1539. Hans Holbein, o jovem. Extraído 
do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
 
 
Francisco I, rei de 
França. 1530. Jean Clouet. 
Extraído do livro 1000 Obras 
primas da pintura, 2007. 
 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
189 
 
 
Lucrécia. 1530-32. Lorenzo Lotto. Ex-
traído do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
 
 
 
 
O casal Arnolfini. 1434. Jan van Eyck. Extraído do 
livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
Natividade Mística. 1500. Sandro Botti-
celli. Extraído do livro 1000 Obras pri-
mas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
A Escrava Turca. 1530-31. Parmigiani-
no. Extraído do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
190 
 
Maria Madalena. 1530. Jan van Sco-
rel. Extraído do livro 1000 Obras primas da 
pintura, 2007. 
 
 
 
 
O noivado. 1527. Hans Holbein, o 
jovem. Extraído do livro 1000 Obras primas da 
pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
Retrato de Henrique VIII. 1539. Hans Holbein, 
o jovem. Extraído do livro 1000 Obras primas 
da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
191 
 
 
Retrato de Anne de Cleves. 1539. 
Hans Holbein, o jovem. Extraído do livro 
1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
Maria Tudor. 1554. Anthonis Mor van 
Dashorst. Extraído do livro 1000 Obras primas da 
pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
Luís XIII quando criança.1611. Frans 
Pourbus, o Moço. Extraído do livro 1000 Obras 
primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
192 
 
 
 
Retrato de Eleonora da Toledo com seu 
filho Giovanni de Médici. 1545. Agnolo Bronzino. 
Extraído do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
 
 
 
 
 
Elizabeth I,1585. Nicholas Hilliard. 
Extraído do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
 
 
 
 
 
 
 
A Infanta Isabela Clara Eugênia. 1570. 
Alonzo Sánchez Coello. Extraído do livro 1000 
Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
193 
 
 
As Meninas. 1656. Velázquez. Extra-
ído do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
 
 
 
 
 
 
Luíz XIV. 1701. Hyacinthe Rigaud. 
Extraído do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
 
 
 
 
 
O cavalheiro sorridente. 1624. Frans Hals. Extraído 
do livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
A Rendição de Breda. 1634. Diego Velá-
zquez. Extraído do livro 1000 Obras primas da 
pintura, 2007. 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
194 
A Aula de anatomia do Dr. 
Tulp. 1632. Harmensz van Rijn Rem-
brandt. Extraído do livro 1000 Obras 
primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
A Companhia de Frans Banning 
Cocq e Willem van Ruytenburch. 1642. 
Harmensz van Rijn Rembrandt. Extraído do 
livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
O concerto. 1675. Gerard ter 
Borch, o Moço. Extraído do livro 1000 Obras 
primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
Autorretrato. 1622. Antoon van Dyck. Ex-
traído do livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
195 
 
 
Maria Antonieta. 1783. Élisabeth Vigée-
Lebrun. Autorretrato. 1622. Antoon van Dyck. Extraí-
do do livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
A Apresentação. 1740. Pierro Longhi. 
Autorretrato. 1622. Antoon van Dyck. Extraído 
do livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
Condessa Mary Howe. 1760. Thomas 
Gainsborough. Autorretrato. 1622. Antoon van Dyck. 
Extraído do livro 1000 Obras primas da pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
Imperatriz Josefina, 1805. Pierre-Paul 
Prud’hon. Autorretrato. 1622. Antoon van Dyck. 
Extraído do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
196 
 
 
Josef de Jaudenes y Nebot. 1794. 
Gilbert Stuart. Autorretrato. 1622. Antoon van 
Dyck. Extraído do livro 1000 Obras primas da 
pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
Paolo e Francesca. 1864. Anselm 
Feuerbach. Autorretrato. 1622. Antoon van 
Dyck. Extraído do livro 1000 Obras primas da 
pintura, 2007. 
 
 
 
 
 
 
Rua de Paris, dia 
chuvoso. 1877. Gustave 
Caillebote. Extraído do 
livro 1000 Obras primas da 
pintura, 2007. 
 
 
Mulher de Azul. 1874. Jean-Baptiste Camille 
Corot. Extraído do livro 1000 Obras primas da pintura, 
2007. 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
197 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ilustrações do Miolo e ilustração em aquarela da capa: 
Emanuella Scoz 
 
Imagens da capa: 
Sapatos 
Artista: Vincent van Gogh (holandês, 
Zundert 1853–1890 Auvers-sur-Oise) 
Data:1888 
 
Casaco de equitação 
Data: 1760 
Cultura: britânica 
Médio: seda, pêlo de cabra 
 
Lendo as Notícias na Casa dos Tecelões 
Artista:Adriaen van Ostade (holandês, 
Haarlem 1610–1685 Haarlem) 
Data:1673 
 
Colete 
Designer: Têxtil por Anna Maria 
Garthwaite (britânica, 1690–1763) 
Fabricante: Têxtil por Peter Lekeux 
(Britânico, 1716–1768) 
Data:1747 
Cultura: britânica 
Médio: seda, lã, metálico 
 
 
Emanuella Scoz (Org.) Albio Fabian Melchioretto 
Cibele Cristina Martins Tatiane Melissa Scoz 
 
198 
Co 
Nhe 
Ci 
Men 
To 
Li 
Ber 
Ta 
 
 
 
 
 
 
 
A ROUPA. A evolução da Roupa em sua relação com a sociedade. Do 
ano 1000 d.C. até o século XX 
199

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