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1 CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITO DE RAÇA OU DE COR (LEI 7.716 / 89) ASPECTOS CONSTITUCIONAIS A CONSTITUIÇÃO ENUNCIA UM ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO DESTINADO A ASSEGURAR A IGUALDADE E A JUSTIÇA COMO VALORES SUPREMOS DE UMA SOCIEDADE FRATERNA, PLURALISTA e SEM PRECONCEITOS. • PLURALISMO: POLÍTICO, CULTURAL, SOCIAL e DE ETINIA. A Constituição não se restringe apenas, portanto, a estabelecer limites ao direito de punir do Estado, mas disciplina, também, os nortes do direito penal. • CONSTITUIÇÃO SERVE DE PARADIGMA PARA A EDIÇÃO DE QUALQUER NORMA INFRACONSTITUCIONAL, NÃO APENAS COMO LIMITADORA DO JUS PUNIENDI; • O DIREITO PENAL DEVE BUSCAR NORMAS MAIS ADEQUADAS A DISCIPLINA CONSTITUCIONAL E AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. 2 ALGUNS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PERTINENTES: CIDADANIA e DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA; OBJETIVOS FUNDAMENTAIS: A PROMOÇÃO DO BEM DE TODOS, SEM PRECONCEITO DE ORIGEM, RAÇA, SEXO, COR, IDADE ou QUAISQUER OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO; RELAÇÕES INTERNACIONAIS: O BRASIL DEVERÁ PAUTAR PELO REPÚDIO AO TERRORISMO e AO RACISMO. TOLERÂNCIA: É a aceitação das diferentes Identidades, sem que estas sejam traduzidas em conflitos. É a forma de se assegurar a igualdade nos direitos e preservar a dignidade humana. • É O RESPEITO NATURAL À PLURALIDADE DE RAÇA, COR ETNIA, PROCEDÊNCIA, RELIGIÃO, ETC. • A INTOLERÂNCIA LEVA A PRÁTICAS SEGREGACIONISTAS, OFENDENDO O IDEÁRIO IGUALITARISTA E HUMANITÁRIO PREVISTOS NA NOSSA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 3 BEM JURÍDICO: É o direito à igualdade, bem como à dignidade da pessoa humana. A CF arrola, no inciso IV de seu art. 3º, entre os objetivos fundamentais da República: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. A seu turno, o inciso XLII do art. 5º estabelece que: “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. • Também constituem fundamentos da incriminação os arts. 215 e 216 da CF, que tratam da proteção das manifestações culturais das etnias que formaram o povo brasileiro. 4 No plano internacional, a igualdade racial é preconizada pelo art. 2º da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Mais especificamente ao firmar a Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (Decreto n. 65.810/69), o Brasil se comprometeu: A declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer incitamento à discriminação racial, assim como quaisquer atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem étnica, como também qualquer assistência prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento (art. IV, “a”). ESCORÇO HISTÓRIO / LEGISLATIVO LEI DO VENTRE LIVRE: Concedia a liberdade aos filhos de mulher escrava. • BAIXA EFETIVIDADE, POIS O FILHO FICAVA JUNTO DA MÃE, QUE CONTINUAVA NA ESCRAVIDÃO. 5 LEI DO SEXAGENÁRIO: Concedia liberdade aos afro descendentes a partir dos 60 anos de idade. • ISENTAVA O SENHOR DE CUIDAR NO ESCRAVO IDOSO. LEI ÁUREA: Determinou o fim da escravidão no Brasil. • CRIOU UMA HORDA DE ESCRAVOS INDIGENTES E QUE CAÍAM NO CRIME. LEI AFONSO ARINOS – n.º 1.390 / 51 TIPIFICOU CONDUTAS CONTRAVENCIONAIS DE PRÁTICA PRECONCEITUOSAS, EM SITUAÇÃO DE RECUSA A ATENDIMENTO ou ACESSO AOS MAIS DIVERSOS ESTABELECIMENTOS. • O MOTORISTA DO CONGRESSISTA FOI IMPEDIDO DE INGRESSAR NUM ESTABELECIMENTO, EM RAZÃO DE SUA COR. 6 RACISMO X GENOCÍDIO X INJÚRIA RACIAL GENOCÍDIO ETIMOLOGICAMENTE: GENUS (RAÇA, POVO, NAÇÃO) e EXCIDIUM (DESTRUIÇÃO, RUÍNA). NO GENOCÍDIO NÃO SE BUSCA A MORTE DE UMA OU OUTRA PESSOA, MAS DE UM GRUPO DE INDIVÍDUOS, DE DETERMINADA RAÇA, COR, RELIGIÃO, ETC. TEM AMPLITUDE BEM MAIOR. INJÚRIA RACIAL: OFENSA EM RAZÃO DE RAÇA, COR, CREDO, ETC.; RACISCMO: CONDUTAS DE APARTAÇÃO ÉTNICA, RACIAL e RELIGIOSA. A LEI 7.716 / 89 • VEIO ATENDER A EXIGÊNCIA CONSTITUCIONAL; • OS FATOS NÃO SÃO MAIS MERAS CONTRAVENÇÕES e TODAS AS PENAS SÃO DE RECLUSÃO, INAFIANÇÁVEIS e IMPRESCRITÍVEIS. 7 A NORMA EXIGE QUE TODOS OS CRIMES SEJAM COMETIDOS COM PRECONCEITO ou DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA, COR, ETNIA ou PROCEDÊNCIA NACIONAL. CONCEITOS Racismo é a teoria segundo a qual certos povos ou nações são dotados de qualidades psíquicas e biológicas que os tornam superiores a outros seres humanos. Preconceito é o conceito ou opinião formados antecipadamente, sem levar em conta o fato que os conteste, e, por extensão, suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc. Mais especificamente, pode ser tido como sentimento em relação a uma raça ou um povo, decorrente da adoção de crenças racistas. Discriminação, ao contrário do preconceito, que é estático, consiste em uma atitude dinâmica de separação, apartação ou segregação, traduzindo a manifestação fática ou a concretização do preconceito (VICTOR RIOS). 8 O art. 1º, parágrafo único, I, do Estatuto da Igualdade Racial (Lei n. 12.288/2010), na senda do art. I, 1, da Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (Decreto n. 65.810/69), conceitua a discriminação racial ou étnico-racial como: Toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada. A discriminação negativa, que é vedada e visada pela lei penal em comento, deve ser distinguida da discriminação positiva, manifestada em ações afirmativas, ou seja: “programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades” (Lei n. 12.288/2010). • Tais políticas são permitidas, mesmo que adotem critérios baseados em raça, cor ou etnia, como é o caso do tratamento diferenciado dado a indígenas ou quilombolas, bem como na reserva por cotas (VICTOR RIOS). 9 RAÇA: É um conceito biológico e está atrelado a biótipos com características próprias. São pessoas identificadas pela aparência física, transmissíveis por hereditariedade. ETNIA: Somam-se aos critério biológicos da raça, caracteres culturais, sociais, cognitivos / valorativos, que tornam determinado grupo homogêneo. RELIGIÃO: Do latim religare (unir, ligar) e consiste em um sistema de crença abalizado e defendido por um determinado grupo. PROCEDÊNCIA NACIONAL: Indica o vínculo jurídico / político de uma pessoa com um determinado território e, por consequência, com um determinado ambiente cultural, de costumes, tradições, língua, tornando-o um dos componentes do próprio Estado. 10 • A lei brasileira não tipifica penalmente a discriminação por orientação sexual, a qual, de todo modo, é vedada, no plano civil, por violar a dignidade da pessoa humana e o direito à intimidade (Legislação em trâmite). • Não haverá crime em caso de restrição legalmente permitida, como no fato de deixar de contratar o estrangeiro em situação irregular para emprego no País. Nessa linha vai a própria Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, ao admitir o tratamento diferenciado entre nacionais e estrangeiros. MODALIDADES ESPECÍFICAS DE DISCRIMINAÇÃO (ARTS. 3º a 14) Sujeito ativo: Os crimes dos arts. 3º a 14 são comuns, podendo ser praticados por qualquer pessoa, incluindo outros membros do próprio grupo discriminado. Tipo subjetivo: É o dolo, não havendo forma culposa. 11 Tipos objetivos Os tipos objetivos dos arts. 3º a 14, que tratam, casuisticamente, das hipóteses de discriminação, devem ser interpretados em conjunto com o art. 1º. Desse modo, somente haverá crime se as condutas se derem em razão de preconceito de raça, cor, etnia,religião ou procedência nacional, mas não quando a vedação ou impedimento tem outro fundamento, como, por exemplo, quando é vedado o acesso ao cargo público por falta de atendimento dos requisitos legais para sua ocupação, ou quando o estabelecimento comercial deixa de atender o cliente por falta de disponibilidade de espaço ou vagas (VICTOR RIOS). Condutas Verbos nucleares recorrentes nos tipos da Lei n. 7.716/89 são impedir, obstar, negar e recusar, os quais apresentam certo grau de similaridade. 12 Impedir é negar o acesso, proibir, obstruir. Obstar é criar obstáculos ou dificuldades, opor-se, causar embaraço. Negar e recusar, igualmente, consistem em deixar de fornecer serviço ou entregar bem. Consumação: Os delitos dos arts. 3º a 14 são formais, dispensando a ocorrência de resultado naturalístico para sua consumação. Acesso ou promoção no serviço público Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de Discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional. Pena — reclusão de dois a cinco anos. 13 Alguém é pessoa determinada, não havendo crime no impedimento coletivo ou dirigido a grupo indeterminado. Elemento normativo do tipo: consubstanciado no fato de ser o crime dirigido contra pessoa devidamente habilitada, de modo que não é criminoso o impedimento se a pessoa não atende aos requisitos previstos para o exercício do cargo. Como a lei menciona apenas o cargo, é atípica a conduta que tiver por objeto emprego ou função pública, que poderão configurar, no entanto, o crime do art. 20, na modalidade praticar. A administração direta: “se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios”, ou seus congêneres nas administrações estaduais e municipais. A administração indireta: “compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: a) Autarquias; b) Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista; d) fundações públicas”. 14 Concessionárias de serviços públicos são empresas que exploram serviços públicos sob regime de concessão. Promoção funcional é uma das formas de provimento do cargo público pela qual se ascende a um novo cargo, no caso de quadros organizados em carreira. Emprego em empresa privada Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. Pena — reclusão de dois a cinco anos. Emprego é a relação jurídica entre empregador e empregado, nos termos dos arts. 2º e 3º da CLT. • Não estão abrangidas pelo tipo penal outras relações de trabalho, como a prestação de serviços eventuais, a empreitada etc., casos nos quais as práticas discriminatórias poderão configurar o delito do art. 20, na modalidade praticar (VICTOR RIOS). 15 O art. 4º abrange somente a empresa privada, ou seja, as sociedades empresariais e as empresas individuais, de modo que não configura esse tipo penal a prática da conduta por empregador doméstico, por profissionais liberais, ou no âmbito de sociedades não empresariais, entidades sem fins lucrativos, como condomínios de apartamentos, sindicatos, cooperativas, associações e fundações. Em tais casos, uma vez mais, poderá ser invocado o art. 20, de aplicação subsidiária. Discriminação na vigência do contrato Art. 4º, § 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: I — deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; II — impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional; III — proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário. • incluído pela Lei n. 12.288/2010. 16 O § 1º determina a aplicação de pena para três casos, na vigência do contrato de trabalho. Deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores: Cuida-se de crime omissivo, em que o empregado é prejudicado por não receber equipamentos, sejam eles para o exercício do trabalho em si ou para a segurança do trabalhador, nas mesmas condições dos demais trabalhadores. Impedimento da ascensão funcional, ou seja, do progresso do trabalhador dentro do plano de carreira da empresa. Ainda no inciso II, é vedada a concessão de outra forma de benefício profissional, como cursos de aprimoramento, participação nos lucros, assistência médica, transporte etc. Proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário: abrangendo, portanto, qualquer diferenciação desarrazoada não prevista nos incisos anteriores, incluindo o pagamento de salários diferentes por motivação preconceituosa. 17 Anúncios e recrutamento Art. 4º, § 2º - Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências. Elementos do tipo: A modalidade ora comentada é forma especial que, se inexistente, poderia ser considerada enquadrada no caput, como obstar. O legislador estabeleceu, porém, um apenamento abrandado, que não admite pena privativa de liberdade. Pena: Fugindo à sistemática tradicional da legislação penal brasileira, a Pena Restritiva de Direitos é cominada originariamente, e não em caráter substitutivo. O § 2º não estabelece o tempo de duração da Prestação de Serviços à Comunidade, mas, estando o dispositivo subordinado ao caput, conclui-se que a pena se subordina aos limites de dois a cinco anos. 18 Acesso a estabelecimento comercial Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando- se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. Pena — reclusão de um a três anos. Estabelecimento comercial: significa o local físico onde se dá a exploração da atividade empresarial, ou seja, a loja, oficina, ou fábrica. Da redação do dispositivo, conclui-se que o tipo é alternativo, de modo que o crime será reconhecido não só na negativa do acesso, mas também na negativa do serviço, atendimento ou recebimento, ou seja, quando permitido o acesso, mas o cliente for discriminado em função do preconceito 19 Ingresso em instituição de ensino Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. Pena — reclusão de três a cinco anos. Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). Elementos do tipo Por inscrição entende-se matrícula em curso oferecido pelo estabelecimento de ensino, seja ele regular ou eventual, como em caso de cursos de extensão, oferecidos à comunidade, desde que oferecidos por estabelecimento de ensino. Qualquer grau: Termo desatualizado. Tal expressão dá a entender que o tipo abrange somente estabelecimentos de ensino regular, não os chamados cursos livres, tais como cursos pré-vestibular, preparatórios para concursos e assemelhados (VICTOR RIOS). 20 Acesso ou hospedagem em hotéis e similares Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. Pena — reclusão de três a cinco anos. Elementos do tipo Trata-se de incriminar a recusa no acesso ou hospedagem em locais de habitação coletiva. Há possibilidade de interpretação analógica em relação a qualquer estabelecimento similar, de modo que estão incluídos, também, pousadas, pensionatos, albergues, motéis, etc. O essencial é que se trate de local aberto ao público. Não haverá crime na negativa quando baseada em outro critério, como, por exemplo, caso olocal seja destinado a pouso de empregados de uma determinada empresa, membros de uma associação ou servidores públicos, etc. 21 Acesso a restaurantes e similares Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. Pena — reclusão de um a três anos. Aqui a incriminação se refere a locais públicos destinados à alimentação, sendo que, uma vez mais, há possibilidade de interpretação analógica, pela menção a locais semelhantes abertos ao público. • Mais uma vez, é essencial que se trate de local aberto ao público. Acesso a locais de diversão ou clubes sociais Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. Pena — reclusão de um a três anos. Impedir o acesso abrange tanto as condutas de não permitir o ingresso quanto aquelas que impeçam o ato de associar-se, a adesão ou compra de título ou quotas do clube. Contudo, deve haver obediência aos estatutos. 22 Acesso a salões de cabeleireiros e similares Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. Pena — reclusão de um a três anos. Acesso a entrada ou elevador social Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos: Pena — reclusão de um a três anos. Não há crime: ) na restrição ao uso do elevador social, com base em outros critérios, como na vedação para mudanças, carrinhos de compras, animais, etc.; ) em relação a edifícios comerciais, caso em que poderá ser reconhecida, porém, a forma subsidiária do art. 20. 23 Acesso ou uso de transportes públicos Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios, barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido. Pena — reclusão de um a três anos. • Há previsão de interpretação analógica para abranger outros meios de transporte concedido, como táxi e moto táxi. Acesso ao serviço público militar Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas. Pena — reclusão de dois a quatro anos. • Temos que a expressão serviço não foi empregada, aqui, para se referir estritamente ao serviço militar obrigatório, mas de forma ampla, abrangendo também o acesso à carreira militar (VICTOR RIOS). 24 Casamento ou convivência familiar e social Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social. Pena — reclusão de dois a quatro anos. Meio é o expediente ou recurso utilizado para atingir um fim ou objetivo, tais como a separação física, o impedimento de frequência a casa ou a imposição de condições que impeçam o casamento ou convívio. Já a forma é o modo, jeito ou maneira, admitindo-se, então, que o delito poderá ocorrer mediante violência ou ameaça, coação física ou moral, engodo ou fraude e, mesmo, remoção física, como no caso em que a vítima é levada por familiares a outro país. • No conceito de casamento, deve ser abrangido o casamento religioso com efeitos civis. O dispositivo também tem aplicação em caso de união estável, seja ela heterossexual ou homoafetiva. 25 TIPO GENÉRICO Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena — reclusão de um a três anos e multa. Bem jurídico: É a “pretensão ao respeito inerente à personalidade humana, a própria dignidade da pessoa, considerada não só individualmente, como coletivamente”. Sujeito ativo: É crime comum. Sujeito passivo: É a coletividade. Elementos do tipo Praticar é “o mais amplo dos verbos, porque reflete qualquer conduta discriminatória expressa. A ação de praticar possui forma livre, que abrange qualquer ato, desde que idôneo a produzir a discriminação prevista no tipo incriminador” (VICTOR RIOS). 26 • Praticar também vem a significar qualquer conduta capaz de exteriorizar o preconceito ou revelar a discriminação, englobando-se, por exemplo, os gestos, sinais, expressões, palavras faladas ou escritas e atos físicos (VICTOR RIOS). Bem por isso, é conduta que se confunde, em muitos casos, com as práticas já descritas nos demais tipos penais, de modo que somente restará caracterizado o crime do art. 20 em caso de prática de preconceito ou discriminação que não esteja prevista nos demais tipos da lei, aplicando-se, então, de forma subsidiária. Induzir é sugerir, provocar, de modo a criar em alguém a ideia discriminatória. Incitar é instigar, estimular, acoroçoar, fortalecer ou reforçar a ideia preconceituosa preexistente. 27 Tipo subjetivo : É o dolo, não havendo forma culposa, além da intenção de menosprezar raça ou etnia, de modo que resta afastado o crime quando a manifestação estiver contida nos limites da liberdade de manifestação do pensamento, como, por exemplo, quando o agente estiver imbuído de mero animus narrandi. Assim também em caso de pesquisas científicas que levem em conta variáveis étnicas. Não há exclusão em razão do animus jocandi . Liberdade de expressão: a exigência de um especial estado de ânimo para o reconhecimento dos crimes de prática, induzimento e incitação é importante a fim de preservar o direito fundamental à liberdade de expressão, que poderá entrar em colisão com a proteção da dignidade dos grupos ameaçados com a prática criminosa. Mas, como qualquer outro direito fundamental, a liberdade de expressão não é ilimitada. Uma forma específica de limitação, baseada na dignidade da pessoa humana, é a proibição do discurso de ódio ou hate speech: Discurso que não carrega outro significado que o ódio por um grupo, como uma raça particular, especialmente em circunstâncias nas quais a comunicação pode provocar violência (VICTOR RIOS). 28 DIVULGAÇÃO DO NAZISMO Art. 20. § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena — reclusão de dois a cinco anos e multa. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena — reclusão de dois a cinco anos e multa. Noção A existência de um delito específico relacionado ao nazismo, ou seja, a ditadura implementada pelo Partido Nacional Socialista alemão em meados do século passado, que culminou com a deflagração da Segunda Guerra Mundial e o holocausto, justifica-se pela dimensão das atrocidades cometidas naquele período histórico, especialmente contra os judeus (VICTOR RIOS). 29 Elementos do tipo Fabricar é produzir, montar, fazer. Comercializar é vender, oferecer à venda, mediante pagamento. Distribuir é entregar, fazer circular, remeter, ainda que gratuitamente. Veicular é transmitir, por meios de comunicação social ou imprensa, tais como rádio, jornal, ou internet. Objeto material: são os símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada. A redação não é feliz, pois a proibição se limita à utilização da cruz suástica ou gamada, mas não diz da divulgação do ideário nazista ou de outros símbolos, como a imagem de Hitler ou a águia nazista. Tipo subjetivo: É o dolo, aliado ao especial fim de agir, de modo que só há crime quando a conduta é praticada para fins de divulgação do nazismo. Não há crime, portanto, se os elementos gráficos são utilizados para fins de narrativa histórica, bem como para fins artísticos. 30 Injúria racista (CP, art. 140, § 3º) Diferenciação: INJÚRIA: Intenção de ofensa a honra subjetiva. RACISMO: Atinge a dignidade da pessoa, com a intenção de ofender toda uma raça, cor, etnia ou religião. Foi reconhecido o crime de racismo, e não o de injúria: a) quando evidenciado que “a intenção dos réus, em princípio, não era precisamente depreciar o passageiro (a vítima), massalientar sua humilhante condição em virtude de ser brasileiro, ou seja, a ideia foi exaltar a superioridade do povo americano em contraposição à posição inferior do povo brasileiro”; b) quando o contexto fático revelar preconceito dirigido a uma raça ou etnia, embora as ofensas tenham sido proferidas na presença de uma única pessoa. • De todo modo, não há concurso de crimes, restando a injúria absorvida pelo crime de racismo.
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