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CRIMES RACIAIS

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1
CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITO DE RAÇA OU DE COR
(LEI 7.716 / 89)
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS
A CONSTITUIÇÃO ENUNCIA UM ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
DESTINADO A ASSEGURAR A IGUALDADE E A JUSTIÇA COMO VALORES
SUPREMOS DE UMA SOCIEDADE FRATERNA, PLURALISTA e SEM
PRECONCEITOS.
• PLURALISMO: POLÍTICO, CULTURAL, SOCIAL e DE ETINIA.
A Constituição não se restringe apenas, portanto, a estabelecer
limites ao direito de punir do Estado, mas disciplina, também, os nortes
do direito penal.
• CONSTITUIÇÃO SERVE DE PARADIGMA PARA A EDIÇÃO DE QUALQUER
NORMA INFRACONSTITUCIONAL, NÃO APENAS COMO LIMITADORA DO
JUS PUNIENDI;
• O DIREITO PENAL DEVE BUSCAR NORMAS MAIS ADEQUADAS A
DISCIPLINA CONSTITUCIONAL E AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO.
2
ALGUNS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PERTINENTES: CIDADANIA e
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA;
OBJETIVOS FUNDAMENTAIS: A PROMOÇÃO DO BEM DE TODOS, SEM
PRECONCEITO DE ORIGEM, RAÇA, SEXO, COR, IDADE ou QUAISQUER
OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO;
RELAÇÕES INTERNACIONAIS: O BRASIL DEVERÁ PAUTAR PELO
REPÚDIO AO TERRORISMO e AO RACISMO.
TOLERÂNCIA: É a aceitação das diferentes Identidades,
 sem que estas sejam traduzidas em conflitos. É a forma
 de se assegurar a igualdade nos direitos e preservar a
 dignidade humana.
• É O RESPEITO NATURAL À PLURALIDADE DE RAÇA, COR ETNIA,
PROCEDÊNCIA, RELIGIÃO, ETC.
• A INTOLERÂNCIA LEVA A PRÁTICAS SEGREGACIONISTAS, OFENDENDO
O IDEÁRIO IGUALITARISTA E HUMANITÁRIO PREVISTOS NA NOSSA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
3
BEM JURÍDICO: É o direito à igualdade, bem como à dignidade da pessoa
humana.
A CF arrola, no inciso IV de seu art. 3º, entre os objetivos
fundamentais da República: “promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação”.
A seu turno, o inciso XLII do art. 5º estabelece que: “a prática do
racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei”.
• Também constituem fundamentos da incriminação os arts. 215 e 216 da
CF, que tratam da proteção das manifestações culturais das etnias que
formaram o povo brasileiro.
4
No plano internacional, a igualdade racial é preconizada pelo art. 2º da
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Mais especificamente ao
firmar a Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Racial (Decreto n. 65.810/69), o Brasil se comprometeu:
A declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de ideias baseadas
na superioridade ou ódio raciais, qualquer incitamento à discriminação
racial, assim como quaisquer atos de violência ou provocação a tais atos,
dirigidos contra qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor
ou de outra origem étnica, como também qualquer assistência prestada a
atividades racistas, inclusive seu financiamento (art. IV, “a”).
ESCORÇO HISTÓRIO / LEGISLATIVO
LEI DO VENTRE LIVRE: Concedia a liberdade aos filhos de mulher
escrava.
• BAIXA EFETIVIDADE, POIS O FILHO FICAVA JUNTO DA MÃE, QUE
CONTINUAVA NA ESCRAVIDÃO.
5
LEI DO SEXAGENÁRIO: Concedia liberdade aos afro descendentes a
partir dos 60 anos de idade.
• ISENTAVA O SENHOR DE CUIDAR NO ESCRAVO IDOSO.
LEI ÁUREA: Determinou o fim da escravidão no Brasil.
• CRIOU UMA HORDA DE ESCRAVOS INDIGENTES E QUE CAÍAM NO
CRIME.
LEI AFONSO ARINOS – n.º 1.390 / 51
TIPIFICOU CONDUTAS CONTRAVENCIONAIS DE PRÁTICA
PRECONCEITUOSAS, EM SITUAÇÃO DE RECUSA A ATENDIMENTO ou
ACESSO AOS MAIS DIVERSOS ESTABELECIMENTOS.
• O MOTORISTA DO CONGRESSISTA FOI IMPEDIDO DE INGRESSAR
NUM ESTABELECIMENTO, EM RAZÃO DE SUA COR.
6
RACISMO X GENOCÍDIO X INJÚRIA RACIAL
GENOCÍDIO
ETIMOLOGICAMENTE: GENUS (RAÇA, POVO, NAÇÃO) e EXCIDIUM
(DESTRUIÇÃO, RUÍNA).
NO GENOCÍDIO NÃO SE BUSCA A MORTE DE UMA OU OUTRA
PESSOA, MAS DE UM GRUPO DE INDIVÍDUOS, DE DETERMINADA
RAÇA, COR, RELIGIÃO, ETC. TEM AMPLITUDE BEM MAIOR.
INJÚRIA RACIAL: OFENSA EM RAZÃO DE RAÇA, COR, CREDO, ETC.;
RACISCMO: CONDUTAS DE APARTAÇÃO ÉTNICA, RACIAL e
RELIGIOSA.
A LEI 7.716 / 89
• VEIO ATENDER A EXIGÊNCIA CONSTITUCIONAL;
• OS FATOS NÃO SÃO MAIS MERAS CONTRAVENÇÕES e TODAS AS
PENAS SÃO DE RECLUSÃO, INAFIANÇÁVEIS e IMPRESCRITÍVEIS.
7
A NORMA EXIGE QUE TODOS OS CRIMES SEJAM COMETIDOS COM
PRECONCEITO ou DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA, COR, ETNIA ou
PROCEDÊNCIA NACIONAL.
CONCEITOS
Racismo é a teoria segundo a qual certos povos ou nações são dotados
de qualidades psíquicas e biológicas que os tornam superiores a outros
seres humanos.
Preconceito é o conceito ou opinião formados antecipadamente, sem
levar em conta o fato que os conteste, e, por extensão, suspeita,
intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc.
Mais especificamente, pode ser tido como sentimento em relação a uma
raça ou um povo, decorrente da adoção de crenças racistas.
Discriminação, ao contrário do preconceito, que é estático, consiste em
uma atitude dinâmica de separação, apartação ou segregação, traduzindo
a manifestação fática ou a concretização do preconceito (VICTOR RIOS).
8
O art. 1º, parágrafo único, I, do Estatuto da Igualdade Racial (Lei n.
12.288/2010), na senda do art. I, 1, da Convenção Internacional Sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (Decreto n.
65.810/69), conceitua a discriminação racial ou étnico-racial como:
Toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de
direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada.
A discriminação negativa, que é vedada e visada pela lei penal em
comento, deve ser distinguida da discriminação positiva, manifestada em
ações afirmativas, ou seja: “programas e medidas especiais adotados pelo
Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e
para a promoção da igualdade de oportunidades” (Lei n. 12.288/2010).
• Tais políticas são permitidas, mesmo que adotem critérios baseados em raça,
cor ou etnia, como é o caso do tratamento diferenciado dado a indígenas ou
quilombolas, bem como na reserva por cotas (VICTOR RIOS).
9
RAÇA: É um conceito biológico e está atrelado a biótipos
com características próprias. São pessoas identificadas pela
aparência física, transmissíveis por hereditariedade.
ETNIA: Somam-se aos critério biológicos da raça, caracteres
culturais, sociais, cognitivos / valorativos, que tornam
determinado grupo homogêneo.
RELIGIÃO: Do latim religare (unir, ligar) e consiste em um
sistema de crença abalizado e defendido por um determinado
grupo.
PROCEDÊNCIA NACIONAL: Indica o vínculo jurídico / político de
uma pessoa com um determinado território e, por consequência,
com um determinado ambiente cultural, de costumes, tradições,
língua, tornando-o um dos componentes do próprio Estado.
10
• A lei brasileira não tipifica penalmente a discriminação por orientação
sexual, a qual, de todo modo, é vedada, no plano civil, por violar a
dignidade da pessoa humana e o direito à intimidade (Legislação em
trâmite).
• Não haverá crime em caso de restrição legalmente permitida, como
no fato de deixar de contratar o estrangeiro em situação irregular para
emprego no País. Nessa linha vai a própria Convenção Internacional
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, ao
admitir o tratamento diferenciado entre nacionais e estrangeiros.
MODALIDADES ESPECÍFICAS DE DISCRIMINAÇÃO
 (ARTS. 3º a 14)
Sujeito ativo: Os crimes dos arts. 3º a 14 são comuns, podendo ser
praticados por qualquer pessoa, incluindo outros membros do
próprio grupo discriminado.
Tipo subjetivo: É o dolo, não havendo forma culposa.
11
Tipos objetivos
Os tipos objetivos dos arts. 3º a 14, que tratam, casuisticamente, das
hipóteses de discriminação, devem ser interpretados em conjunto com o
art. 1º.
Desse modo, somente haverá crime se as condutas se derem em
razão de preconceito de raça, cor, etnia,religião ou procedência nacional,
mas não quando a vedação ou impedimento tem outro fundamento, como,
por exemplo, quando é vedado o acesso ao cargo público por falta de
atendimento dos requisitos legais para sua ocupação, ou quando o
estabelecimento comercial deixa de atender o cliente por falta de
disponibilidade de espaço ou vagas (VICTOR RIOS).
Condutas
Verbos nucleares recorrentes nos tipos da Lei n. 7.716/89 são impedir,
obstar, negar e recusar, os quais apresentam certo grau de similaridade.
12
Impedir é negar o acesso, proibir, obstruir.
Obstar é criar obstáculos ou dificuldades, opor-se, causar embaraço.
Negar e recusar, igualmente, consistem em deixar de fornecer serviço ou
entregar bem.
Consumação: Os delitos dos arts. 3º a 14 são formais, dispensando a
ocorrência de resultado naturalístico para sua consumação.
 Acesso ou promoção no serviço público
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a
qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das
concessionárias de serviços públicos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de
Discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar
a promoção funcional.
Pena — reclusão de dois a cinco anos.
13
Alguém é pessoa determinada, não havendo crime no impedimento
coletivo ou dirigido a grupo indeterminado.
Elemento normativo do tipo: consubstanciado no fato de ser o crime
dirigido contra pessoa devidamente habilitada, de modo que não é
criminoso o impedimento se a pessoa não atende aos requisitos previstos
para o exercício do cargo.
Como a lei menciona apenas o cargo, é atípica a conduta que tiver por
objeto emprego ou função pública, que poderão configurar, no entanto, o
crime do art. 20, na modalidade praticar.
A administração direta: “se constitui dos serviços integrados na estrutura
administrativa da Presidência da República e dos Ministérios”, ou seus
congêneres nas administrações estaduais e municipais.
A administração indireta: “compreende as seguintes categorias de
entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: a) Autarquias; b)
Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista; d) fundações
públicas”.
14
Concessionárias de serviços públicos são empresas que exploram
serviços públicos sob regime de concessão.
Promoção funcional é uma das formas de provimento do cargo público
pela qual se ascende a um novo cargo, no caso de quadros organizados
em carreira.
Emprego em empresa privada
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.
Pena — reclusão de dois a cinco anos.
Emprego é a relação jurídica entre empregador e empregado, nos termos
dos arts. 2º e 3º da CLT.
• Não estão abrangidas pelo tipo penal outras relações de trabalho, como a
prestação de serviços eventuais, a empreitada etc., casos nos quais as
práticas discriminatórias poderão configurar o delito do art. 20, na
modalidade praticar (VICTOR RIOS).
15
O art. 4º abrange somente a empresa privada, ou seja, as sociedades
empresariais e as empresas individuais, de modo que não configura esse
tipo penal a prática da conduta por empregador doméstico, por
profissionais liberais, ou no âmbito de sociedades não empresariais,
entidades sem fins lucrativos, como condomínios de apartamentos,
sindicatos, cooperativas, associações e fundações. Em tais casos, uma
vez mais, poderá ser invocado o art. 20, de aplicação subsidiária.
Discriminação na vigência do contrato
Art. 4º, § 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de
raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou
origem nacional ou étnica:
I — deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em
igualdade de condições com os demais trabalhadores;
II — impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de
benefício profissional;
III — proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de
trabalho, especialmente quanto ao salário.
• incluído pela Lei n. 12.288/2010.
16
O § 1º determina a aplicação de pena para três casos, na vigência do
contrato de trabalho.
Deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em
igualdade de condições com os demais trabalhadores: Cuida-se de crime
omissivo, em que o empregado é prejudicado por não receber
equipamentos, sejam eles para o exercício do trabalho em si ou para a
segurança do trabalhador, nas mesmas condições dos demais
trabalhadores.
Impedimento da ascensão funcional, ou seja, do progresso do
trabalhador dentro do plano de carreira da empresa. Ainda no inciso II, é
vedada a concessão de outra forma de benefício profissional, como cursos
de aprimoramento, participação nos lucros, assistência médica, transporte
etc.
Proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de
trabalho, especialmente quanto ao salário: abrangendo, portanto,
qualquer diferenciação desarrazoada não prevista nos incisos anteriores,
incluindo o pagamento de salários diferentes por motivação preconceituosa.
17
Anúncios e recrutamento
Art. 4º, § 2º - Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços
à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial,
quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de
trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para
emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências.
Elementos do tipo: A modalidade ora comentada é forma especial que,
se inexistente, poderia ser considerada enquadrada no caput, como obstar.
O legislador estabeleceu, porém, um apenamento abrandado, que não
admite pena privativa de liberdade.
Pena: Fugindo à sistemática tradicional da legislação penal brasileira, a
Pena Restritiva de Direitos é cominada originariamente, e não em caráter
substitutivo. O § 2º não estabelece o tempo de duração da Prestação de
Serviços à Comunidade, mas, estando o dispositivo subordinado ao caput,
conclui-se que a pena se subordina aos limites de dois a cinco anos.
18
Acesso a estabelecimento comercial
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-
se a servir, atender ou receber cliente ou comprador.
Pena — reclusão de um a três anos.
Estabelecimento comercial: significa o local físico onde se dá a
exploração da atividade empresarial, ou seja, a loja, oficina, ou fábrica.
Da redação do dispositivo, conclui-se que o tipo é alternativo, de
modo que o crime será reconhecido não só na negativa do acesso, mas
também na negativa do serviço, atendimento ou recebimento, ou seja,
quando permitido o acesso, mas o cliente for discriminado em função do
preconceito
19
Ingresso em instituição de ensino
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em
estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau.
Pena — reclusão de três a cinco anos.
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a
pena é agravada de 1/3 (um terço).
Elementos do tipo
Por inscrição entende-se matrícula em curso oferecido pelo
estabelecimento de ensino, seja ele regular ou eventual, como em caso de
cursos de extensão, oferecidos à comunidade, desde que oferecidos por
estabelecimento de ensino.
Qualquer grau: Termo desatualizado. Tal expressão dá a entender que o
tipo abrange somente estabelecimentos de ensino regular, não os
chamados cursos livres, tais como cursos pré-vestibular, preparatórios
para concursos e assemelhados (VICTOR RIOS).
20
Acesso ou hospedagem em hotéis e similares
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão,
estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.
Pena — reclusão de três a cinco anos.
Elementos do tipo
Trata-se de incriminar a recusa no acesso ou hospedagem em locais
de habitação coletiva. Há possibilidade de interpretação analógica em
relação a qualquer estabelecimento similar, de modo que estão
incluídos, também, pousadas, pensionatos, albergues, motéis, etc.
O essencial é que se trate de local aberto ao público. Não haverá
crime na negativa quando baseada em outro critério, como, por exemplo,
caso olocal seja destinado a pouso de empregados de uma determinada
empresa, membros de uma associação ou servidores públicos, etc.
21
Acesso a restaurantes e similares
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares,
confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público.
Pena — reclusão de um a três anos.
Aqui a incriminação se refere a locais públicos destinados à
alimentação, sendo que, uma vez mais, há possibilidade de
interpretação analógica, pela menção a locais semelhantes abertos
ao público.
• Mais uma vez, é essencial que se trate de local aberto ao público.
Acesso a locais de diversão ou clubes sociais
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos
esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público.
Pena — reclusão de um a três anos.
Impedir o acesso abrange tanto as condutas de não permitir o ingresso
quanto aquelas que impeçam o ato de associar-se, a adesão ou compra de
título ou quotas do clube. Contudo, deve haver obediência aos estatutos.
22
Acesso a salões de cabeleireiros e similares
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de
cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou
estabelecimento com as mesmas finalidades.
Pena — reclusão de um a três anos.
Acesso a entrada ou elevador social
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou
residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:
Pena — reclusão de um a três anos.
Não há crime:
) na restrição ao uso do elevador social, com base em outros critérios, como
na vedação para mudanças, carrinhos de compras, animais, etc.;
) em relação a edifícios comerciais, caso em que poderá ser reconhecida,
porém, a forma subsidiária do art. 20.
23
Acesso ou uso de transportes públicos
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões,
navios, barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de
transporte concedido.
Pena — reclusão de um a três anos.
• Há previsão de interpretação analógica para abranger outros meios de
transporte concedido, como táxi e moto táxi.
Acesso ao serviço público militar
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer
ramo das Forças Armadas.
Pena — reclusão de dois a quatro anos.
• Temos que a expressão serviço não foi empregada, aqui, para se referir
estritamente ao serviço militar obrigatório, mas de forma ampla,
abrangendo também o acesso à carreira militar (VICTOR RIOS).
24
Casamento ou convivência familiar e social
Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou
convivência familiar e social.
Pena — reclusão de dois a quatro anos.
Meio é o expediente ou recurso utilizado para atingir um fim ou objetivo,
tais como a separação física, o impedimento de frequência a casa ou a
imposição de condições que impeçam o casamento ou convívio.
Já a forma é o modo, jeito ou maneira, admitindo-se, então, que o
delito poderá ocorrer mediante violência ou ameaça, coação física ou moral,
engodo ou fraude e, mesmo, remoção física, como no caso em que a
vítima é levada por familiares a outro país.
• No conceito de casamento, deve ser abrangido o casamento religioso
com efeitos civis. O dispositivo também tem aplicação em caso de união
estável, seja ela heterossexual ou homoafetiva.
25
TIPO GENÉRICO
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Pena — reclusão de um a três anos e multa.
Bem jurídico: É a “pretensão ao respeito inerente à personalidade
humana, a própria dignidade da pessoa, considerada não só
individualmente, como coletivamente”.
Sujeito ativo: É crime comum.
Sujeito passivo: É a coletividade.
Elementos do tipo
Praticar é “o mais amplo dos verbos, porque reflete qualquer conduta
discriminatória expressa. A ação de praticar possui forma livre, que
abrange qualquer ato, desde que idôneo a produzir a discriminação
prevista no tipo incriminador” (VICTOR RIOS).
26
• Praticar também vem a significar qualquer conduta capaz de
exteriorizar o preconceito ou revelar a discriminação, englobando-se,
por exemplo, os gestos, sinais, expressões, palavras faladas ou
escritas e atos físicos (VICTOR RIOS).
Bem por isso, é conduta que se confunde, em muitos casos, com as
práticas já descritas nos demais tipos penais, de modo que somente
restará caracterizado o crime do art. 20 em caso de prática de
preconceito ou discriminação que não esteja prevista nos demais tipos
da lei, aplicando-se, então, de forma subsidiária.
Induzir é sugerir, provocar, de modo a criar em alguém a ideia
discriminatória.
Incitar é instigar, estimular, acoroçoar, fortalecer ou reforçar a ideia
preconceituosa preexistente.
27
Tipo subjetivo : É o dolo, não havendo forma culposa, além da intenção
de menosprezar raça ou etnia, de modo que resta afastado o crime
quando a manifestação estiver contida nos limites da liberdade de
manifestação do pensamento, como, por exemplo, quando o agente
estiver imbuído de mero animus narrandi. Assim também em caso de
pesquisas científicas que levem em conta variáveis étnicas. Não há
exclusão em razão do animus jocandi .
Liberdade de expressão: a exigência de um especial estado de ânimo
para o reconhecimento dos crimes de prática, induzimento e incitação é
importante a fim de preservar o direito fundamental à liberdade de
expressão, que poderá entrar em colisão com a proteção da dignidade
dos grupos ameaçados com a prática criminosa.
Mas, como qualquer outro direito fundamental, a liberdade de
expressão não é ilimitada. Uma forma específica de limitação, baseada
na dignidade da pessoa humana, é a proibição do discurso de ódio ou
hate speech: Discurso que não carrega outro significado que o ódio por um
grupo, como uma raça particular, especialmente em circunstâncias nas
quais a comunicação pode provocar violência (VICTOR RIOS).
28
DIVULGAÇÃO DO NAZISMO
Art. 20.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,
ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou
gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Pena — reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio
dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza:
Pena — reclusão de dois a cinco anos e multa.
Noção
A existência de um delito específico relacionado ao nazismo, ou seja, a
ditadura implementada pelo Partido Nacional Socialista alemão em meados
do século passado, que culminou com a deflagração da Segunda Guerra
Mundial e o holocausto, justifica-se pela dimensão das atrocidades
cometidas naquele período histórico, especialmente contra os judeus
(VICTOR RIOS).
29
Elementos do tipo
Fabricar é produzir, montar, fazer.
Comercializar é vender, oferecer à venda, mediante pagamento.
Distribuir é entregar, fazer circular, remeter, ainda que gratuitamente.
Veicular é transmitir, por meios de comunicação social ou imprensa, tais
como rádio, jornal, ou internet.
Objeto material: são os símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos
ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada. A redação não
é feliz, pois a proibição se limita à utilização da cruz suástica ou gamada,
mas não diz da divulgação do ideário nazista ou de outros símbolos, como
a imagem de Hitler ou a águia nazista.
Tipo subjetivo: É o dolo, aliado ao especial fim de agir, de modo que só
há crime quando a conduta é praticada para fins de divulgação do
nazismo. Não há crime, portanto, se os elementos gráficos são utilizados
para fins de narrativa histórica, bem como para fins artísticos.
30
Injúria racista
(CP, art. 140, § 3º)
Diferenciação:
INJÚRIA: Intenção de ofensa a honra subjetiva.
RACISMO: Atinge a dignidade da pessoa, com a intenção de ofender toda
uma raça, cor, etnia ou religião.
Foi reconhecido o crime de racismo, e não o de injúria:
a) quando evidenciado que “a intenção dos réus, em princípio, não era
precisamente depreciar o passageiro (a vítima), massalientar sua
humilhante condição em virtude de ser brasileiro, ou seja, a ideia foi
exaltar a superioridade do povo americano em contraposição à posição
inferior do povo brasileiro”;
b) quando o contexto fático revelar preconceito dirigido a uma raça ou
etnia, embora as ofensas tenham sido proferidas na presença de uma
única pessoa.
• De todo modo, não há concurso de crimes, restando a injúria absorvida
pelo crime de racismo.

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