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Magistratura e MP CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Processual Penal Professor: Andre Estefam Aulas: 13 e 14 | Data: 18/04/2016 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO COMPETÊNCIA (Cont). TRIBUNAL DO JURI I. Princípios II. A instituição do Júri III. Rito do Júri COMPETÊNCIA Em nossa última aula demos início ao estudo do tema competência e vimos os seguintes pontos: I. DefiniçãoÉ a quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído por lei a cada órgão ou grupo de órgãos judiciais. (Liebman) II. Etapas na fixação na competência Etapa preliminar: avaliar se há foro por prerrogativa da função. Passa-se, então, aos seguintes passos: 1. Determinar a justiça competente 2. Verificar o foro competente 3. Fixação do juízo competente Encerramos nossa última aula falando sobre foro por prerrogativa de função. Etapa ou critério preliminar: FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. Em nossa última aula, vimos que este não se trata de privilégio, pois a características não é dada em caráter pessoal, mas sim em razão da função exercida. O primeiro ponto trabalhado foi: 1. Fonte normativa Essas regras de foro por prerrogativa de função, dada sua especialidade, devem advir da CF. Poderiam advir de normas estaduais e leis? Quanto a Constituição do Estado, é possível a previsão, desde que haja simetria com a CF. E a lei? Não. Lei não pode ampliar as hipóteses de prerrogativa de foro. O que ela pode ampliar é o rol de autoridades que tem foro especial. Hoje daremos continuidade deste ponto. 2. Rito processual Os casos sujeitos a foro especial seguem o procedimento previsto nas leis 8038/90 e 8658/93, em que há: - uma defesa preliminar etapa anterior ao recebimento da inicial - restrição ao duplo grau de jurisdição não cabe recurso similar à apelação. Página 2 de 14 3. Foro por prerrogativa de função VS. Crime doloso contra à vida Se o foro especial estiver na CF, é ele que prevalece. Se o foro especial estiver previsto EXCLUSIVAMENTE na CE, prevalece a competência do júri. Súmula 721 STF A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALECE SOBRE O FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. 4. Momento do crime em relação ao exercício do cargo ou função Cometido antes Sim, há prerrogativa de foro enquanto durar o exercício do cargo ou função. Praticado durante O foro especial subsiste após o término da função/ cargo? STF (ADIn 2797) entende que não cabe, pois não se trata de privilegio pessoal, mas prerrogativa em função do cargo. Só existe prerrogativa enquanto durar o exercício do cargo ou da função. (professor vai disponibilizar uma tabelinha com as autoridades que tem prerrogativa de função na área do aluno). EMENTA Dados Gerais Processo: ADI 2797 DF Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE Julgamento: 15/09/2005 Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação: DJ 19-12-2006 PP-00037 EMENT VOL-02261-02 PP-00250 DecisãoI. ADIn: legitimidade ativa: "entidade de classe de âmbito nacional" (art. 103, IX, CF): Associação Nacional dos Membros do Ministério Público - CONAMP 1. Ao julgar, a ADIn 3153-AgR, 12.08.04, Pertence, Inf STF 356, o plenário do Supremo Tribunal abandonou o entendimento que excluía as entidades de classe de segundo grau - as chamadas "associações de associações" - do rol dos legitimados à ação direta. 2. De qualquer sorte, no novo estatuto da CONAMP - agora Associação Nacional dos Membros do Ministério Público - a qualidade de "associados efetivos" ficou adstrita às pessoas físicas integrantes da categoria, - o que basta a satisfazer a jurisprudência restritiva-, ainda que o estatuto reserve às associações afiliadas papel relevante na gestão da entidade nacional. II. ADIn: pertinência temática. Presença da relação de pertinência temática entre a finalidade institucional das duas entidades requerentes e os dispositivos legais impugnados: as normas legais questionadas se refletem na distribuição vertical de competência funcional entre os órgãos do Poder Judiciário - e, em conseqüência, entre os do Ministério Público . III. Foro especial por prerrogativa de função: extensão, no tempo, ao momento posterior à cessação da investidura na função dele determinante. Súmula 394/STF (cancelamento pelo Supremo Tribunal Federal). Lei 10.628/2002, que acrescentou os §§ 1º e 2º ao artigo 84 do C. Processo Penal: pretensão inadmissível de interpretação autêntica da Constituição por lei ordinária e usurpação da competência do Supremo Tribunal para interpretar a Constituição: inconstitucionalidade declarada. 1. O novo § 1º do art. 84 CPrPen constitui evidente reação legislativa ao cancelamento da Súmula 394 por decisão tomada pelo Supremo Tribunal no Inq 687-QO, 25.8.97, rel. o em. Ministro Sydney Sanches (RTJ 179/912), cujos fundamentos a lei nova contraria inequivocamente. 2. Tanto a Súmula 394, como a decisão do Supremo Tribunal, que a cancelou, derivaram de interpretação direta e exclusiva da Constituição Federal. Página 3 de 14 3. Não pode a lei ordinária pretender impor, como seu objeto imediato, uma interpretação da Constituição: a questão é de inconstitucionalidade formal, ínsita a toda norma de gradação inferior que se proponha a ditar interpretação da norma de hierarquia superior. 4. Quando, ao vício de inconstitucionalidade formal, a lei interpretativa da Constituição acresça o de opor-se ao entendimento da jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal - guarda da Constituição -, às razões dogmáticas acentuadas se impõem ao Tribunal razões de alta política institucional para repelir a usurpação pelo legislador de sua missão de intérprete final da Lei Fundamental: admitir pudesse a lei ordinária inverter a leitura pelo Supremo Tribunal da Constituição seria dizer que a interpretação constitucional da Corte estaria sujeita ao referendo do legislador, ou seja, que a Constituição - como entendida pelo órgão que ela própria erigiu em guarda da sua supremacia -, só constituiria o correto entendimento da Lei Suprema na medida da inteligência que lhe desse outro órgão constituído, o legislador ordinário, ao contrário, submetido aos seus ditames. 5. Inconstitucionalidade do § 1º do art. 84 C.Pr.Penal, acrescido pela lei questionada e, por arrastamento, da regra final do § 2º do mesmo artigo, que manda estender a regra à ação de improbidade administrativa. IV. Ação de improbidade administrativa: extensão da competência especial por prerrogativa de função estabelecida para o processo penal condenatório contra o mesmo dignitário (§ 2º do art. 84 do C Pr Penal introduzido pela L. 10.628/2002): declaração, por lei, de competência originária não prevista na Constituição: inconstitucionalidade. 1. No plano federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais da União são as previstas na Constituição da República ou dela implicitamente decorrentes, salvo quando esta mesma remeta à lei a sua fixação. 2. Essa exclusividade constitucional da fonte das competências dos tribunais federais resulta, de logo, de ser a Justiça da União especial em relação às dos Estados, detentores de toda a jurisdição residual. 3. Acresce que a competência originária dos Tribunais é, por definição, derrogação da competência ordinária dos juízos de primeiro grau, do que decorre que, demarcada a última pela Constituição, só a própria Constituição a pode excetuar. 4. Como mera explicitação de competências originárias implícitas na Lei Fundamental, à disposição legal em causa seriam oponíveis as razões já aventadas contra a pretensão de imposição por lei ordinária de uma dada interpretação constitucional. 5. De outro lado, pretende a lei questionada equiparar a ação de improbidade administrativa, de natureza civil (CF, art. 37, § 4º), à ação penal contra os mais altos dignitários da República, para o fim de estabelecer competência origináriado Supremo Tribunal, em relação à qual a jurisprudência do Tribunal sempre estabeleceu nítida distinção entre as duas espécies. 6. Quanto aos Tribunais locais, a Constituição Federal -salvo as hipóteses dos seus arts. 29, X e 96, III -, reservou explicitamente às Constituições dos Estados-membros a definição da competência dos seus tribunais, o que afasta a possibilidade de ser ela alterada por lei federal ordinária. V. Ação de improbidade administrativa e competência constitucional para o julgamento dos crimes de responsabilidade. 1. O eventual acolhimento da tese de que a competência constitucional para julgar os crimes de responsabilidade haveria de estender-se ao processo e julgamento da ação de improbidade, agitada na Rcl 2138, ora pendente de julgamento no Supremo Tribunal, não prejudica nem é prejudicada pela inconstitucionalidade do novo § 2º do art. 84 do C.Pr.Penal. 2. A competência originária dos tribunais para julgar crimes de responsabilidade é bem mais restrita que a de julgar autoridades por crimes comuns: afora o caso dos chefes do Poder Executivo - cujo impeachment é da competência dos órgãos políticos - a cogitada competência dos tribunais não alcançaria, sequer por integração analógica, os membros do Congresso Nacional e das outras casas legislativas, aos quais, segundo a Constituição, não se pode atribuir a prática de crimes de responsabilidade. 3. Por outro lado, ao contrário do que sucede com os crimes comuns, a regra é que cessa a imputabilidade por crimes de responsabilidade com o termo da investidura do dignitário acusado. Cometido após Página 4 de 14 Não há foro especial. Neste sentido, súmula 451, STF SÚMULA 451 - STF A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional. TRIBUNAL DO JURI I. Princípios CF, Art. 5, XXXVIII – É cláusula pétrea. O Constituinte assegura 4 princípios referentes ao tribunal do júri: CF/88 – Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; a) Princípio da plenitude de defesa (plena defesa é mais do que ampla defesa). Plenitude de defesa > ampla defesa. b) Sigilo das votações Diante disso, tem-se que: - O veredicto não é fundamentado - Jurados julgam por íntima convicção (decide sem dever de fundamentação). Há instrumentos legais que garantem esse sigilo, tal como: - incomunicabilidade dos jurados - votação em sala especial (sala secreta) - proibição do veredicto unânime (pois neste caso, seria fácil identificar como os jurados decidiram. Neste caso, o que o juiz faz é: obtendo 4 votos afirmativos ou negativos, ele interrompe a apuração) c) Soberania dos veredictos Trata-se da impossibilidade de juízes togados se substituírem aos jurados na decisão da causa. Provando que soberania não é poder absoluto, cabe apelação contra decisão do júri (mas neste caso deve-se provar que o veredicto foi manifestamente contrário à prova – art. 593, III, d, CPP). Neste caso, no máximo, réu é submetido a novo júri. Outra prova de que este poder não é absoluto é que cabe revisão criminal. CPP - Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) Página 5 de 14 d) Competência para o julgamento de crimes dolosos contra a vida Crimes contra á vida constam dos art. 121 a 127, CP. CP- Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo futil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, Página 6 de 14 ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Parágrafo único - A penaé duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Infanticídio Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) Pena - detenção, de um a três anos. Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54) Pena - reclusão, de um a quatro anos. Página 7 de 14 Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência Forma qualificada Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Diante disso, têm-se algumas questões: - latrocínio (157, 3º, parte final) e genocídio (Lei 2898/56). Ambos são de competência do juiz singular. No caso do latrocínio temos a súmula STF, 603. Quanto ao genocídio, o STJ entendeu que são de competência do juiz singular, no caso o federal. Tratam-se de crimes complexos, pois além da vida, latrocínio viola também pó patrimônio e o genocídio, antes de ser considerado como crime contra a vida, é considerado um crime contra a humanidade. CP - Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 SÚMULA 603 - STF A COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DE LATROCÍNIO É DO JUIZ SINGULAR E NÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI. Há crimes contra a vida não julgado pelo júri – vamos ver essas exceções: 1- Foro especial prevista pela CF 2- Crime militar doloso contra a vida tanto sujeito ativo quanto passivo devem ser militares e o fato tenha alguma relação com a função que exercem. II. A instituição do Júri Página 8 de 14 O tribunal do Júri é órgão do poder judiciário que se insere como órgão da justiça comum/ordinária. Enquanto órgão do poder judiciário, traz algumas características: a) Órgão colegiado Composto por 26 membros – 1 juiz de direito e 25 jurados Para ser jurado, há alguns requisitos (art. 436) - cidadão - ser maior de 18 anos, - possuir notória idoneidade moral antecedentes criminais Ler no CPP, o art. 436 a 440. CPP - Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) § 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) § 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 437. Estão isentos do serviço do júri: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) I – o Presidente da República e os Ministros de Estado; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) II – os Governadores e seus respectivos Secretários; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) IV – os Prefeitos Municipais; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) VIII – os militares em serviço ativo; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto Página 9 de 14 não prestar o serviço imposto. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) § 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) § 2o O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 440. Constitui também direito do jurado, na condição do art. 439 deste Código, preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional ou remoção voluntária. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) b) Órgão heterogêneo pois possui juiz julgado e juiz leigo (aquele não é magistrado de carreira) c) Órgão horizontal Não há hierarquia entre juiz e jurados. d) Órgão temporário pois os jurados são periodicamente renovados. III. Rito do Júri Ainda que o CPP não diga expressamente, o rito do júri é especial. É chamado por alguns doutrinadores de procedimento soleníssimo / bifásico ou escalonado. Há 2 fases no júri. 1ª fase: sumário da culpa (=judicium accusations) visa verificar a admissibilidade da acusação 2ª fase: juízo da causa (=judicium causae) Faz-se o julgamento do mérito Vamos aprofundar cada uma dessas fases. 1. Sumário da culpa (=judicium accusations) Visa verificar a admissibilidade da acusação a) Oferecimento da denúncia ou queixa b) Prolação do despacho liminar, em que o magistrado irá receber (art. 406, CPP) ou rejeitar a inicial (do qual caberá RESE). c) Citação d) Resposta escrita (em 10 dias) e) Manifestação da acusação (art. 409) – quando houver arguição de preliminar ou juntada de documentos.MP se manifesta em 5 dias f) Despacho saneador Página 10 de 14 g) Designação da data de audiência única de instrução debates e julgamento. (8 testemunhas pra acusação e mais 8 para defesa) Quais são as 4 decisões que podem ser proferidas? 1. Pronúncia (art. 413) 2. Impronúncia (art. 414) 3. Absolvição Sumária (art. 415) 4. Desclassificação (art. 419) Recursos cabíveis: Da pronúncia e da desclassificação cabe RESE – art. 581, II a IV. Da impronúncia e absolvição sumária cabe apelação do art. 416. CPP – Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citação do acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) § 1o O prazo previsto no caput deste artigo será contado a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no caso de citação inválida ou por edital. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) § 2o A acusação deverá arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), na denúncia ou na queixa. § 3o Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) § 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) § 2o Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou manutenção da liberdade provisória. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) § 3o O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Página 11 de 14 Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) I – provada a inexistência do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) III – o fato não constituir infração penal; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: II - que concluir pela incompetência do juízo; IV – que pronunciar o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Vamos estudar cada uma dessas decisões: a) Pronúncia Decisão interlocutória, mista, não terminativa, que julga admissível a acusação perante o júri, reconhecendo haver prova da materialidade e indícios de autoria ou participação. (ela não é sentença! Não trata do mérito) O que essa decisão faz é encerrar uma fase sem por fim ao processo. Pressupostos - Pronuncia requer: Certeza do fato. Não pode haver dúvida a cerca do fato praticado. No caso da autoria e participação basta a probabilidade Página 12 de 14 Qual é o meio processual adequado para se afirmar com certeza de que houve um crime doloso contra a vida? Os crimes dolosos contra a vida deixam vestígios. Crimes que deixam vestígios são os crimes não transeuntes. Via de regra, se prova de o crime por meio do corpo, onde se realiza o exame necroscópico. E quando o corpo não é encontrado? O que se faz quando os vestígios desaparecem? Neste caso, o art. 167 traz a resposta é possível se valer de prova testemunhal. CPP - Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações. Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver. Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. Requisitos A pronúncia deverá ser estruturada contendo: Relatório Fundamentação / motivação Deve ser feita com cautela, pois o juiz não pode usurpar a competência do júri, analisando o mérito. O juiz deve se limitar a dizer o mínimo indispensável. O juiz deve se limitar a indicar a prova da materialidade e indícios de autoria. Juiz deve adotar uma fundamentação com linguagem cometida. Se fizer exame crítico, se houver excesso de linguagem, a decisão será nula. Disposição/ conclusão Juiz deve julgar admissível. Juiz deve indicar o tipo penal, eventuais qualificadoras e as causas de aumento. Qualificadoras e causas de aumento juiz pode tomar 3 atitudes ao analisá-las: a. A manutenção foi descrita na denúncia e juiz apenas a mantém na pronúncia. Para isso, é necessário que haja indícios. b. A exclusão para excluir é necessário que a qualificadora, causa de aumento seja manifestamente descabida, isso é, que não haja indícios ( excesso de acusação) c. A inclusão é aquela causa de aumento/qualificadora que não foi descrita na denuncia. Para que juiz inclua, bastam indícios. Pode o juiz incluir uma qualificadora de ofício? Depende. Se a qualificadora constar narrada na descrição do fato, pode o juiz incluir de ofício, não havendo qualquer prejuízo para a defesa, pois já constava da narração dos fatos. É um caso de emendatio libelli. Lembrar que o acusado se defende dos fatos. E se a prova colhida revelar circunstância não constante da denuncia? Se o juiz incluísse essa qualificadora, haveria uma ofensa ao princípio da plenitude de defesa. Neste caso, haveriauma mutatio libelli. Neste caso, o juiz deverá observar as providencia do art. 384: Página 13 de 14 CPP - Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). § 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). § 2o Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). § 3o Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). § 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). § 5o Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). Aqui deve-se respeitar o princípio da correlação. Efeitos da pronúncia A decisão de pronúncia gera 3 efeitos básicos: 1. Submeter o réu a júri 2. Interrompe a prescrição (art. 117, II, CP e súmula 191, STJ) 3. Fixar a classificação jurídica do fato É possível mudar a classificação fixada? Sim, no caso de circunstância superveniente apta a modificar o enquadramento legal. Ex.: a morte da vida que estava em estado grave. Se alterar a pronuncia, tudo que ocorre a partir disso deve ser readaptado. Até quando é possível que essa alteração ocorra? Até o trânsito em julgado. Originalmente havia uma 4ª consequência: “prisão do réu, salvo quando primário e de bons antecedentes”. Atenção: hoje, a pronúncia não gera como efeito a prisão do réu, mas deverá o magistrado ao proferí-la avaliar o cabimento de eventual prisão preventiva ou cautelar alternativa á prisão. (art. 413, parágrafo 3º) CP - Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; Súmula 191, STJ Página 14 de 14 A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.